Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FESV GRADUAÇÃO EM DIREITO DIREITO CIVIL IV COISAS CCJ 0015 Edwar Felix Especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil pela Faculdade de Direito de Vitória – FDV/ES Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo Professor da Faculdade Estácio de Sá Vitória. Advogado e parecerista. edwarfelix@gmail.com 2 POSSE – Semana 2 1) Conceito Posse é uma situação de fato protegida juridicamente, pois é possuidor todo aquele que tem o exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade (Art. 1.196 do CC). Propriedade é uma situação de direito (art. 1.228 do CC). A posse pode ser considerada a exteriorização da propriedade, seu aspecto visível e palpável no mundo fenomênico (falamos da posse direta), pois cria uma espécie presunção de propriedade, daí a tutela jurídica. Propriedade - arts. 5º, inc. XXIII; 182, §§ 2º e 4º; 184 e 186, dentre outros, todos da CR/88 Posse - arts. 183 e 191 da CF/88 3 POSSE Objeto da posse: A posse pode incidir tanto sobre bens corpóreos quanto sobre bens incorpóreos (quase-posse). A chamada posse de direitos é admitida, desde que tais direitos possam ser apropriáveis e exteriorizáveis. Ex: direitos do autor (Lei 9.610/1998), propriedade industrial (Lei 6.279/1996), propriedade intelectual (Lei 9.609/1998). Sujeitos da posse: São as pessoas, sejam elas naturais ou jurídicas, de direito público ou de direito privado. A natureza da posse gerou muito dissenso doutrinário. Basicamente, duas principais teorias e seus autores disputaram a hegemonia da matéria: a teoria subjetiva, de Savigny, e a teoria objetiva, de Ihering. 4 TEORIA SUBJETIVA DA POSSE Savigny expôs suas ideias no Tratado da Posse, de 1803. Segundo o autor, a posse resultaria da conjunção de dois elementos: o corpus e o animus. O primeiro seria o elemento material, traduzindo-se no poder físico da pessoa sobre a coisa. O corpus, sendo o poder de fato sobre a coisa, supõe a apreensão, sendo fundamental a relação exterior da pessoa com a coisa. O animus, por seu turno, representaria o elemento intelectual, a vontade de ter essa coisa como sua. O destaque dado ao elemento intencional que sua teoria é qualificada de subjetiva. CRÍTICA: É extremamente difícil precisar um estado íntimo concretamente e, ao exigir o elemento subjetivo (animus domini), considera-se simples detentores o locatário, o comodatário, o depositário, o mandatário e outros que possuiriam apenas o poder físico sobre a coisa. 5 TEORIA OBJETIVA DA POSSE A teoria de Ihering foi desenvolvida em obras como O Fundamento dos Interditos Possessórios e O Papel da Vontade na Posse. A posse, segundo Ihering, é a exteriorização da propriedade e, por isso, para caracterizar a posse basta o exercício em nome próprio do poder de fato sobre a coisa. É dizer, para que exista a posse, é necessário somente o corpus. Silvio Venosa afirma que, ainda na teoria objetiva, há o animus, mas, neste caso, o elemento volitivo consiste na utilização da coisa tal qual faria o proprietário (animus tenendi). O Código Civil de 2002 consagra a teoria objetiva da posse. Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de alguns dos poderes inerentes à propriedade. 6 DISTINÇÃO ENTRE POSSE E DETENÇÃO Posse: exercício do poder de fato em nome próprio, exteriorizando a propriedade e fazendo uso econômico da coisa (animus tenendi – intenção de usar a coisa tal qual o proprietário). Detenção (posse natural – possessio naturalis): exercício do poder de fato sobre a coisa em nome alheio. O fâmulo da posse ou detentor é servo da posse, pois mantém uma relação de dependência com o verdadeiro possuidor, obedecendo às suas ordens e orientações. A detenção é também chamada de posse degradada pela lei. O art. 1.198, CC, define o detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva-se a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Enunciado n° 301, Jornada de Direito Civil, STJ: É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE E SUAS CARACTERÍSTICAS A) Posse direta e indireta - Desdobramento da relação possessória. Art. 1.197, CC/2002. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o possuidor indireto. Posse direta (imediata): exercício direto e imediato do poder sobre a coisa (corpus), decorrente de contrato. O possuidor direto pode defender sua posse contra o possuidor indireto. Posse indireta (mediata): apenas o animus (entendido esse como a vontade de utilizar a coisa como faria o proprietário). O possuidor indireto pode defender sua posse perante terceiros. 7 CLASSIFICAÇÃO DA POSSE E SUAS CARACTERÍSTICAS B) Posse justa e injusta – Vícios na aquisição da posse. Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. Posse justa: posse desprovida dos vícios específicos do art. 1.200, CC. A posse justa é mansa, pacífica, pública e adquirida sem violência. Posse injusta: posse maculada por pelo menos um dos vícios da posse (violência, clandestinidade ou precariedade). Posse violenta: adquirida através do emprego de violência contra a pessoa. Posse clandestina: adquirida às escondidas. Posse precária: decorrente da violação de uma obrigação de restituir (abuso de confiança). 8 9 CLASSIFICAÇÃO DA POSSE E SUAS CARACTERÍSTICAS A posse injusta não deve ser considerada posse jurídica, não produzindo efeitos contra o legítimo possuidor (para quem esta situação jurídica não passa de detenção), muito embora o possuidor injusto possa fazer manejo dos interditos possessórios contra atos de terceiros. Continuidade do caráter da posse (art. 1.203, CC): a posse que se inicia justa permanece justa; a posse que se inicia injusta, permanece injusta ao longo do tempo, a menos que se opere a interversão do caráter da posse. Inversão do título da posse: Violência e clandestinidade são vícios relativos, enquanto que a precariedade é vício absoluto. Cessada a violência ou a clandestinidade a posse deixa de ser injusta e passa a ser justa (art. 1.208, CC). Jurisprudência – prazo de ano e dia após a cessação do vício Enunciado 237, da III Jornada de Direito Civil. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE E SUAS CARACTERÍSTICAS C) Posse de boa-fé e de má-fé - Quanto à subjetividade, a posse pode ser de boa-fé ou de má-fé. Art. 1.201, CC: é de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Decorre da consciência de ter adquirido a coisa por meios legítimos. O seu conceito, portanto, funda-se em dados psicológicos, em critério subjetivo. A boa-fé não é essencial para o uso das ações possessórias. Basta que a posse seja justa. A boa-fé é relevante, em tema de posse, para a usucapião, a disputa dos frutos e benfeitorias da coisa possuída ou para a definição da responsabilidade pela sua perda ou deterioração. A posse de boa-fé pode se transfigurar em posse de má-fé (art. 1.202 do CC). 10 CLASSIFICAÇÃO DA POSSE E SUAS CARACTERÍSTICAS D) Posse originária e posse derivada Originária quando não há vínculo entre o sucessor e o antecessor da posse, de modo que a causa da possenão é negocial. Derivada quando há um ato de transferência (da posse, e não necessariamente da propriedade) entre o antecessor e o sucessor. Na posse derivada haverá sempre tradição. E) Posse ad interdicta e ad usucapionem Ad interdicta: posse que pode ser protegida através dos interditos possessórios. Ad usucapionem: posse que pode ser pressuposto de usucapião. 11 COMPOSSE Posse exclusiva é aquela de um único possuidor, pessoa natural ou jurídica, que possui sobre a coisa posse direta ou indireta. A posse exclusiva se contrapõe à composse, quando vários possuidores têm, sobre a coisa, posse direta ou posse indireta. Composse é, assim, a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a coisa. Nos termos do art. 1.199 do CC: Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. 12 CASO CONCRETO 1 Leandro emprestou uma casa para Esmeralda, sem fixar prazo para devolução. Durante o tempo em que esteve no imóvel, Esmeralda fez todos os reparos necessários, além de ter construído um cômodo a mais para um de seus filhos morarem com ela. Após 20 anos, Leandro solicitou de volta a casa, mas Esmeralda recusou-se a devolver, alegando que não teria outro lugar para ir e que, após 20 anos de utilização mansa, pacífica e sem oposição, já teria tempo suficiente para usucapir o bem. Considerando as informações acima, responda JUSTIFICADA E FUNDAMENTADAMENTE: A) Qual a classificação da posse de Esmeralda, antes de Leandro pedir o imóvel de volta? (justa/injusta; boa-fé/má-fé; originária/derivada; direta/indireta) B) A posse de Esmeralda é ad usucapionem? 13 OBJETIVA 1 (TJSP/Magistratura – 170° adaptada) Diz o art. 1.196 do Código Civil que “considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. O Código Civil adotou a teoria de quem? Como se define? (A) De Ihering, com sua teoria objetiva. A posse é a conduta de dono. É, então, a exteriorização da propriedade, visibilidade do domínio, uso econômico da coisa. (B) de Ihering, com sua teoria subjetiva. A posse caracteriza- se pela conjugação de dois elementos: o corpus e o animus. (C) De Savigny, com sua teoria objetiva. A posse consiste na detenção física da coisa. (D) De Savigny, com sua teoria subjetiva. A posse consiste na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio. 14 OBJETIVA 2 (TRF 1ª Região/Magistratura – 2001) Pela teoria objetiva da posse: (A) a posse e a detenção são noções equivalentes, pois ambas exteriorizam a propriedade. (B) a posse é um fato e, ao mesmo tempo, um direito. (C) a posse é uma relação de apropriação econômica. (D) a detenção é uma posse degradada pela lei. 15
Compartilhar