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1 ESTÁCIO DE SÁ DIREITO COSNTITUCIONAL III AULA 01 - A Constituição brasileira de 1988 como texto programático e compromissório 1- O surgimento do constitucionalismo e do conceito de Estado de Direito O Constitucionalismo é definido por Celso de Bastos como o movimento político e ideológico surgido nos séculos XVII e XVIII contra a monarquia absolutista, visando à implementação de normas jurídicas e racionais para governantes e governados.1 Já J.J. Gomes Canotilho diz que o Constitucionalismo é a teoria (ou a ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade.2 Atualmente, o constitucionalismo é associado a, pelo menos uma das 3 ideias: 1) Garantia de Direitos; 2) Separação de Poderes; 3) Princípios e Governo Limitado O constitucionalismo, geralmente, se contrapõe ao absolutismo. É uma busca do homem político pela limitação do poder, uma busca contra o arbítrio do poder do Estado. 1) Constitucionalismo ANTIGO A experiência entre os Hebreus – o constitucionalismo está ligado ao Estado teocrático. O constitucionalismo está sempre ligado a uma das 3 ideias supracitadas. Entre os hebreus, o governo era limitado através de dogmas consagrados na Bíblia. A experiência na Grécia antiga – ocorreu a mais avançada forma de governo de que já se teve notícia até hoje, a chamada democracia constitucional. As pessoas participavam diretamente das decisões políticas do Estado (Cidade- Estado de Antenas). A experiência em Roma – À Roma deve-se associar a ideia de liberdade. A experiência ocorrida na Inglaterra - o governo das leis surgiu em substituição ao “governo dos homens”. Esta experiência constitucional inglesa contribuiu com duas ideias fundamentais: 1) governo limitado e 2) igualdade dos cidadãos ingleses perante a lei. Essas são as duas ideias principais do 1 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1996. p.39 2 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Livraria Almedina, 1997. p.45. 2 “rule of law”. Essas ideias do constitucionalismo inglês surgiram na Idade Média. Na Inglaterra, não existe uma Constituição escrita. 2) Constitucionalismo CLÁSSICO ou LIBERAL - Liberté Surgiu a partir do final do século XVIII. Um fator, ocorrido nessa época, foi muito importante: as chamadas revoluções liberais (revoluções Francesa e Americana), feitas pela burguesia em busca de direitos libertários. Com essas revoluções ocorreu o surgimento das primeiras constituições escritas. * Revolução Norte-americana: Surgiu, nesse cenário, a primeira constituição escrita de que se tem notícia, a “Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia” (Virginia Bill of Rights, de 1776). Logo depois dela, em 1787, a Constituição Americana surgiu e até hoje está em vigor. As duas principais ideias com as quais os americanos contribuíram para o constitucionalismo são: a) A ideia de supremacia da Constituição – a Constituição é a norma suprema porque estabelece as regras do jogo; b) A garantia jurisdicional– é o Judiciário o principal encarregado de garantir a supremacia da Constituição, pois é o mais neutro politicamente. Democracia não é só vontade da maioria, senão vira ditadura da maioria, mas inclui também a garantia de direitos. O Judiciário vai proteger o direito das minorias. * Experiência Francesa – Na França, surgiu a primeira constituição escrita da Europa, em 1791. A experiência francesa contribuiu com duas ideias principais: a) Garantia de direitos e b) Separação dos Poderes. A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão é de 1789 e serviu de preâmbulo para a Constituição Francesa de 1791. 3) Constitucionalismo MODERNO – Egalité Enquanto o clássico é o liberal, o moderno é chamado de constitucionalismo social. O constitucionalismo moderno surgiu a partir do fim da I Grande Guerra. Começou-se a perceber um certo esgotamento da ideia liberal (que protegia os direitos de liberdade, mas não os sociais). Impossibilidade do constitucionalismo liberal de atender as demandas sociais que abalavam o século XIX. A primeira geração dos direitos fundamentais, surgiu no constitucionalismo clássico (dos EUA e França), e consagrou a liberdade. A segunda geração dos direitos fundamentais, o social, o econômico, o cultural, consagrou a igualdade material. De nada valeria a liberdade, sem a igualdade substancial. 4) Constitucionalismo CONTEMPORÂNEO - Fraternité O constitucionalismo contemporâneo vem sendo chamado por alguns autores de Neoconstitucionalismo. Vai surgir no fim da II Grande Guerra. 3 Atrocidades foram cometidas durante a II Guerra, notadamente pelos nazistas e todas elas com base no ordenamento jurídico, na lei. O direito não é apenas forma, não é apenas norma jurídica, ele tem que ter um conteúdo moral para ser válido. A essa nova ideia de constitucionalismo no direito Paulo Bonavides dá o nome de pós-positivismo. Com o fim da II Grande Guerra, as constituições começaram a consagrar, expressamente, a dignidade da pessoa humana. Passou a ser considerada um valor constitucional supremo. A dignidade é um atributo que todo ser humano tem. O Estado existe para o cidadão e não o contrário. O cidadão é um fim em si mesmo, não pode ser entendido como um meio para atingir o Estado. A partir da dignidade da pessoa humana, como núcleo da constituição, aconteceu a chamada rematerialização constitucional. E aí vem a terceira causa do surgimento desse novo constitucionalismo, que é o reconhecimento da força normativa da Constituição. Há, pois, três causas: 1ª – Consagração da dignidade da pessoa humana como valor supremo 2ª – Rematerialização das constituições, com rol extenso de direitos fundamentais. 3ª – Força normativa da Constituição. 5) Constitucionalismo FUTURO Houve um congresso onde vários constitucionalistas do mundo inteiro se reuniram para discutir o futuro das constituições. Um deles, um autor argentino, José Roberto Dromi, disse o seguinte: “no futuro haverá um equilíbrio entre os valores marcantes do constitucionalismo moderno e os excessos praticados pelo constitucionalismo contemporâneo.” É a famosa Teoria Mista. Nem o excesso de Constituição e nem a falta de Constituição, nem a fraqueza do Judiciário e nem o excesso de Judiciário. Nem a ausência de normatividade dos princípios e nem a aplicação só dos princípios. Valores fundamentais que as constituições do futuro devem consagrar: verdade, solidariedade, consenso, continuidade, participação, integração e universalização. 1.1 Conceito de Estado de Direito A expressão Estado de Direito foi cunhada pelo jurista alemão Robert von Mohl, no século XIX, ao procurar sintetizar a relação estreita que deve haver entre Estado e Direito ou entre política e lei. Segundo Canotilho, por oposição a Estado de não-Direito, podemos entender o Estado de Direito como o Estado propenso ao Direito: "Estado de direito é um Estado ou uma forma de organização político-estatal cuja atividade é determinada e limitada pelo direito. 4 ‘Estado de não direito’ será, pelo contrário, aquele em que o poder político se proclama desvinculado de limites jurídicos e não reconhece aos indivíduos uma esfera de liberdade ante o poder protegida pelo direito" (Canotilho, 1999, p. 11). Assim, define-se o Estado de Direito a partir da estrutura estatal em que o poder público é definido/limitado/controlado por uma Constituição. Portanto, há uma maior judicialização do poder político. No entendimento de Miguel Reale: entende-se aqueleque, constituído livremente com base na lei, regula por esta todas as suas decisões. Os constituintes de 1988, que deliberaram ora como iluministas, ora como iluminados, não se contentaram com a juridicidade formal, preferindo falar em Estado Democrático de Direito que se caracteriza por levar em conta também os valores concretos da igualdade (Reale, 2000, p. 37) 2- A natureza jurídica e os diferentes sentidos de Constituição: sentido sociológico (Ferdinand Lassale), político (carl Schimit), e jurídico (Hans Kelsen) Constituição em sentido material/sociológico – Constituição no qualificativo material de um Estado corresponde àquela voltada à realidade do povo e como apresenta a organização e estrutura do próprio Estado, valendo, neste caso, o que se vê, o que se sente e o que se impõe à sociedade. Celso Bastos define como “(...) conjunto de forças políticas, econômicas, ideológicas etc., que conforma a realidade social de um determinado Estado, configurando a sua particular maneira de ser. Embora mantenha relações com o ordenamento jurídico a ela aplicável, esta realidade com ele não se confunde. Ela é do universo do ser (como é algo), e não do dever ser (como deve-ser algo), do qual o direito faz parte”. Com preciosidade, o professor Celso também reporta-se à teoria de Hans kelsen (Teoria Pura do Direito), quando a utiliza em sua definição de Constituição em sentido material, precisamente no momento em que posiciona essa definição no mundo do ser e não do dever ser, do qual o Direito faz parte. Prosseguindo, no que tange à vida social, equipara as influências econômicas, políticas, ideológicas etc., às Leis Naturais, já que as primeiras, como as últimas, não estão sempre sujeitas à vontade do homem legislador e, inobstante, correspondem ao que Ferdinand Lassale denomina de “fatores reais do poder”. Para Lassale, a Constituição de um país traduz-se na soma dos fatores reais do poder que regem uma nação. Extrai-se que “os fatores reais do poder” correspondem aos entes públicos ou privados, autoridades, nobreza, classes diversas, partidos políticos, grupos ou movimentos sociais, militares, massa popular ou mesmo líder etc., que possuem força e parcela do poder capazes de influenciar ou determinar os rumos do Estado. 5 A Constituição de um Estado é, necessariamente, um fenômeno jurídico e como tal admite tanto a análise zetética (deriva de zetein – perquirir, terminologia de Viehweg, 1969) quanto a análise dogmática (deriva de dokein – ensinar, doutrinar). Contudo, neste qualificativo, a ótica preponderante é o da zetética jurídica, em todas as suas modalidades (zetética empírica pura e aplicada; e zetética analítica pura e aplicada), pois as premissas correspondentes são questionadas e o cientista não despreza os ditames das espécies normativas postas, porém não está adstrito a elas. O estudo em questão tem amparo na Sociologia, na Antropologia, na Psicologia, na História, na Filosofia, na Ciência Política etc., ou seja, não se ampara em disciplinas especificamente jurídicas, o que não impõe qualquer preocupação em criar meios adequados para as decisões e soluções dos conflitos da sociedade, mas, apenas, busca ampliar os questionamentos e contornos do fenômeno à luz da realidade imposta, como já mencionado, pelos “fatores reais de poder”. Assevera Tercio Sampaio Ferraz Júnior , que “no plano das investigações zetéticas, pode-se dizer, em geral, que elas são constituídas de um conjunto de enunciados que visa a transmitir, de modo altamente adequado, informações verdadeiras sobre o que existe, existiu ou existirá. Estes enunciados são, pois, basicamente, constatações”. Afirma, ainda, o mestre, que as verificações mencionadas são extraídas de um dado momento histórico e, portanto, podem produzir resultados bem diferentes de uma época para outra. O presente qualificativo coincide e engloba o qualificativo Sociológico, uma vez que ambos buscam a realidade que se pode ver e sentir e não o que está imposto por textos escritos em folhas de papel. Só concede validade ao texto escrito quando este refletir a realidade social e individual do povo (Constituição legítima); caso contrário não reconhece a validade do Texto Maior (Constituição ilegítima). Constituição em sentido substancial/político – mediante uma análise substancial, procura-se alcançar o âmago (o objeto) das normas constitucionais e, por consequente, extrai-se a substância do Estado (estrutura, competência de seus órgãos superiores, metas de atuação, manutenção de existência, limites etc.). Permite apenas o entendimento de que Constituição, propriamente dita, é aquela cujo conteúdo diz respeito à forma de Estado, à de governo, aos órgãos do poder e à declaração dos direitos individuais, sendo que qualquer outra matéria não é considerada constitucional, e se porventura for inserida no Texto Maior, figurará como mera lei constitucional. Por seu turno, esse qualificativo encampa o qualificativo político, devido à concepção equivalente e à igualdade de elementos constitutivos entre eles, principalmente em relação à diferença entre Constituição e lei constitucional. Constituição em sentido formal/jurídico – o qualificativo formal tem por finalidade evidenciar o resultado previsto no texto constitucional (constituição escrita) e o processo legislativo que o criou. Caracteriza-se por dispor de um conjunto de normas que têm como peculiaridade o fato de serem oriundas de um processo legislativo ordinariamente mais árduo, mais difícil e mais solene que o processo legislativo das espécies normativas infraconstitucionais. A 6 definição formal exige que a Constituição, necessariamente, seja reduzida à forma escrita e, ainda, só pode ser modificada mediante processos e formalidades especiais, nela própria prescritos. Dessa forma, opõe-se ao conceito material de Constituição, tornando-se, por sua especificidade, o qualificativo mais relevante para o direito. Por sua vez, a ótica preponderante neste qualificativo é a do dogmático jurídico (paradoxo da zetética), já que realça o aspecto resposta (a zetética realça o aspecto pergunta). O investigador define Constituição no sentido Formal de forma vinculada aos comandos normativos, jamais podendo desprezá-los. As respostas estão prontas e são ofertadas pelo texto constitucional, independentemente se são harmônicas ou não com a realidade vivida pelo povo. A dogmática jurídica possui função diretiva e é finita (a zetética possui função especulativa explícita e é infinita). Dessa forma, preocupa-se com a questão da ação ou de como agir para solucionar um problema social, ao passo que a zetética não se preocupa com isso. Para atingir este fim, in casu, as premissas partem do texto escrito da Constituição em sentido formal, sendo seus dispositivos inquestionáveis devido a sua origem ser de poder constituído e legítimo (Princípio da Proibição da Negação ou, conforme referência de Tercio Sampaio ao entendimento de Luhmann, inegabilidade dos pontos de partida). Diante do qualificativo formal encontramos, em regra, a vontade expressa do Poder Constituinte Originário e as modificações de sua vontade primeira formalizada em um texto escrito, que incidem com o passar do tempo e, quando e como, por ele autorizadas à atividade do Poder Constituinte Reformador. O mestre Jorge Miranda, assim, profere: “Não se circunscrevem as normas constitucionais às decretadas pelo poder constituinte ou por ele recebidas. São também normas formalmente constitucionais, como é óbvio, as que venham a ser estabelecidas por revisão constitucional ou por outra vicissitude da Constituição”. Sob uma concepção leiga, aqui encontramos a Constituição que o povo da maioria dos Estados no mundo comumente conhece, ou seja, em regra, aquela em forma de livro e dispostasistematicamente em um texto codificado. Cabe- nos ressaltar que o qualificativo jurídico tem um contorno de definição semelhante ao qualificativo formal. 3. O significado hermenêutico da força normativa da Constituição (Konrad Hesse) e sua influência sobre a doutrina brasileira da efetividade. O princípio da força normativa, formulado por Konrad Hesse, “considera que se a realidade social influi sobre o direito, por outro lado o direito também influencia e condiciona a realidade social, operando comandos normativos com força de concretização plena em situações específicas. Ao reconhecer a vontade constitucional de uma nação, é exigível ao Estado dotar a ordem jurídica de mecanismos que assegurem concreta aplicação dos preceitos constitucionais”. Ainda segundo a teoria de Hesse, na interpretação constitucional, deve-se dar primazia às soluções ou pontos de vista que, levando em conta os limites e pressupostos do texto constitucional, possibilitem a atualização de suas normas, garantindo-lhes eficácia e permanência. A 7 Constituição não configura apenas a expressão de um ser, mas também de um dever ser. Para o professor alemão Konrad Hesse “a força normativa da Constituição não depende apenas de seu conteúdo, mas também de sua prática”. O princípio da máxima efetividade ou da eficiência orienta os aplicadores da Constituição de forma a interpretar as suas normas em ordem a otimizar-lhes a eficácia, mas sem alterar o seu conteúdo. Esse princípio consiste em atribuir na interpretação das normas da Constituição o sentido de maior eficácia, utilizando todas as suas potencialidades. Sendo utilizado com maior incidência no âmbito dos direitos fundamentais, sugerem os doutrinadores que deve ser aplicado a todas as normas constitucionais. 4. O Conceito de comunidade aberta de intérpretes da Constituição (Peter Häberle). Prepondera na doutrina uma grave restrição de ingresso no grupo daqueles autorizados a realizar a interpretação de normas jurídicas. Nesse sentido restritivo, observamos corrente doutrinária indicando que somente serão autorizados a proceder à interpretação os seguintes agentes: os experts doutrinários (interpretação particular), os juízes (interpretação judicial) e os legisladores (interpretação legislativa, legal ou autêntica). Por outro lado, há corrente que exclui desse rol o último mencionado; e, ainda, é possível encontrar uma terceira corrente doutrinária, de cunho mais restritivo, que defende serem os experts doutrinários os únicos com permissão verdadeira e própria para proceder à interpretação. Peter Häberle , ao discorrer acerca da visão restritiva, vale-se da expressão proferida por Ehmkeé, que a denominou de “sociedade fechada”. Entretanto, Häberle não coaduna com essa limitação de competência para proceder à interpretação; defende ser interpretação toda aquela realizada pelos que vivem a norma (“sociedade aberta”), independente de serem estes capazes de proceder a uma análise interpretativa sem paixões ou tendências e com observância de todos os preceitos e processos hermenêuticos e, ainda, se são legitimados ou não para aplicá-la ao fato. Denomina essa categoria de “intérpretes constitucionais em sentido lato”, e define as suas atuações como de, pelo menos, “pré-intérpretes” (Vorinterpreten). Dessa forma, quanto ao processo de interpretação constitucional, observa-se o posicionamento do supra citado autor: “Propõe-se, pois, a seguinte tese: no processo de interpretação constitucional estão potencialmente vinculados todos os órgãos estatais, todas as potências públicas, todos os cidadãos e grupos, não sendo possível estabelecer-se um elemento cerrado ou fixado com numerus clausus de intérpretes da Constituição. Interpretação constitucional tem sido, até agora, conscientemente, coisa de uma sociedade fechada. Dela tomam parte apenas os intérpretes jurídicos ‘vinculados às corporações’ (zünftmässige Interpreten) e aqueles participantes formais do processo constitucional. A interpretação constitucional é, em 8 realidade, mais um elemento da sociedade aberta. Todas as potências públicas, participantes materiais do processo social, estão nela envolvidas, sendo ela, a um só tempo, elemento resultante da sociedade aberta e um elemento formador ou constituinte dessa sociedade (...weil Verfassungsinterpretation diese offene Gesellschaft immer von neuem mitkonstituiert und von ihr konstituiert wird). Os critérios de interpretação constitucional hão de ser tanto mais abertos quanto mais pluralista for a sociedade”. Häberle reafirma ainda que há amplitude do elenco de intérpretes constitucionais: “Todo aquele que vive no contexto regulado por uma norma e que vive com este contexto é, indireta ou, até mesmo diretamente, um intérprete dessa norma. O destinatário da norma é participante ativo, muito mais ativo do que se pode supor tradicionalmente, do processo hermenêutico. Como não são apenas os intérpretes jurídicos da Constituição que vivem a norma, não detêm eles o monopólio da interpretação da Constituição”. Em especial nos Estados democráticos, não deve existir vedação à práxis de interpretação exercida por qualquer cidadão. O cuidado que se deve ter é com o resultado dessas interpretações “leigas”, ou seja, a conclusão de interpretação de norma jurídica eivada de paixões e tendências ou realizada fora dos bons métodos hermenêuticos não poderá prevalecer em detrimento da conclusão técnica, oriunda da imparcialidade e realizada conforme os processos hermenêuticos. A doutrina dominante defende a restrição do número daqueles autorizados a interpretar as normas jurídicas, para, destarte, garantir uma aplicabilidade mais justa, técnica e harmônica das interpretações aos fatos, resultando proteção tanto ao ordenamento jurídico quanto à ordem social. 5. Classificação das Constituições quanto à ideologia e quanto à finalidade. Quanto à Ideologia (dogmática) Ecléticas (Complexas) – adotam ideologias conciliatórias, de modo a instituir um conjunto de ideias bastante diversificado, sem que, logicamente, acarrete alguma disparidade entre eles. Essa adoção de variadas linhas de pensamento, onde os sistemas de ideias possuem as mais diversas bases de sustentação (bases política, econômica, religiosa, racial etc.), faz com que impere, em suas disposições, uma diversidade de matérias constitucionalmente regulamentadas, ocasionando um agigantamento de conteúdo normativo. Exemplo: Constituição do Brasil de 1988. Ortodoxas (Simples) – adotam uma única ideologia, ensejando um sistema estritamente centrado em uma única concepção. Exemplo: Constituição do Irã (ideologia religiosa); Constituição da China (ideologia comunista). Quanto à finalidade 9 Garantias – visam à consagração de direitos e garantias fundamentais, bem como à proteção de certas liberdades. Seus dispositivos estão postos de tal modo que, além de assegurar e proporcionar tais garantias, esse tipo de texto constitucional busca restringir a atuação do poder estatal, limitando-o. Seu elemento constitucional principal é o limitativo, já que o texto constitucional conterá, somente ou principalmente, elementos inibidores das ações estatais que objetivarem ferir direitos consagrados, por ele, como fundamentais aos que constituem o seu povo. Nessa modalidade, verifica-se que da finalidade objetivada pelo Poder Constituinte decorre uma constituição enxuta (sintética, negativa) composta quase em sua totalidade por normas constitucionais pertencentes aos elementos orgânicos e limitativos. Balanços – são aquelas Constituições que registram e descrevem a organização política estabelecida. Decorrem de ato histórico em que a posição ideológica passa a ter valor axiológico constitucional tão relevante para o titular do PoderConstituinte Originário que o seu registro e a organização política decorrente tornam-se a própria constituição formal, propriamente dita. Exemplos históricos: As Constituições da URSS de 1924, 1936 e 1977. Nelas, contemplam-se, expressivamente, o marco ideológico propulsor do rompimento da ordem anterior. Manoel Gonçalves indica que, “(...) na linha de Lassale, os socialistas sempre conceberam a Constituição como um reflexo da realidade. Na antiga União Soviética, a Constituição veio a ser concebida como um balanço, o registro do alcançado numa etapa.” Dirigentes – são aquelas constituições que estabelecem principalmente planos e metas e um ideal a ser concretizado para dirigir uma evolução política. Caracterizam-se por dispor, em especial, de normas programáticas, ou seja, normas que dependem de condições institucionais ou de fato para surtirem efeito e se concretizarem. Não obstante, há que se destacar que pode ocorrer aglutinação de cláusulas constitucionais versando tanto sobre normas que visam a assegurar direitos de liberdade como normas programáticas. Exemplo: a Constituição portuguesa de 1976. Os seus textos (positivo) prevêem toda e qualquer matéria elevada à categoria de constitucional pelo Poder Constituinte. Todas essas matérias formalizam programas para as ações de governo, os exercícios jurisdicionais e legiferantes, bem como para o comportamento do cidadão e da sociedade como um todo. A avaliação dessa classificação não cria, para os textos constitucionais, restrição de abordarem somente um ou outro elemento; tendo em vista que poderá, ao mesmo tempo, dispor de normas de caráter garantia, balanço e dirigente, configurando como diferencial o tipo de elemento que prepondera (prevalece) no seu texto. No que diz respeito às classificações quanto à extensão de seu texto e a sua finalidade, insta frisar que alguns doutrinadores, como Alexandre de Moraes, correlacionam as Constituições prolixas com as dirigentes, e as concisas com as de garantia. No entanto, isso não quer dizer que um texto constitucional prolixo dispõe somente de dispositivos dirigentes, visto que também poderá conter, por exemplo, dispositivos que consagram os direitos e garantias fundamentais (ótica axiológica), todavia, in casu, preponderarão aqueles. De 10 igual modo, há, nas constituições concisas, a possibilidade de existência, apesar de não prevalecer, de normas programáticas ou de qualquer outra matéria lá alçada. 6- Classificação da Constituição Federal de 1988 A - Quanto ao Conteúdo: Formal (Procedimental) B - Quanto à Forma: Escrita (Instrumental) – em tese, pois o Decreto- Legislativo n.º 186/2008 c/c o Decreto 6.949/2009 (Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007) permite a forma não-escrita. C - Quanto ao Modo de Elaboração: Dogmática D - Quanto à Origem: Popular (Democrática, Votada ou Promulgada) E - Quanto ao Processo de Mudança (Estabilidade / Mutabilidade): Rígida (classificação dominante). Para alguns autores ela é Super-Rígida. Para outros, Transitoriamente Flexível, pois no ano de 1993 foi Flexível (art. 3º do ADCT) F - Quanto à extensão de seu texto: Analítica (Prolixa) G - Quanto à Finalidade: Dirigente H - Quanto à Ideologia (Dogmática): Eclética (Complexa) I - Quanto à Sistemática: Codificada (Unitárias, Unitextuais ou Reduzidas) em tese, pois o Decreto-Legislativo n.º 186/2008 c/c o Decreto 6.949/2009 (Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007) permite a sustentação da tese de Documentos Esparsos (Variadas, Pluritextuais ou Não Codificadas). J - Quanto à Ideologia (Dogmática): Eclética (Complexa) L - Quanto à Essência: Nominal
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