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CONSTITUCIONAL AULA 1

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1 
 
ESTÁCIO DE SÁ 
DIREITO COSNTITUCIONAL III 
AULA 01 - A Constituição brasileira de 1988 como texto 
programático e compromissório 
1- O surgimento do constitucionalismo e do conceito de Estado de 
Direito 
O Constitucionalismo é definido por Celso de Bastos como o movimento 
político e ideológico surgido nos séculos XVII e XVIII contra a monarquia 
absolutista, visando à implementação de normas jurídicas e racionais para 
governantes e governados.1 
Já J.J. Gomes Canotilho diz que o Constitucionalismo é a teoria (ou a 
ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia 
dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma 
comunidade.2 
Atualmente, o constitucionalismo é associado a, pelo menos uma das 3 ideias: 
1) Garantia de Direitos; 
2) Separação de Poderes; 
3) Princípios e Governo Limitado 
 
O constitucionalismo, geralmente, se contrapõe ao absolutismo. É uma busca 
do homem político pela limitação do poder, uma busca contra o arbítrio do 
poder do Estado. 
 
1) Constitucionalismo ANTIGO 
A experiência entre os Hebreus – o constitucionalismo está ligado ao Estado 
teocrático. O constitucionalismo está sempre ligado a uma das 3 ideias 
supracitadas. Entre os hebreus, o governo era limitado através de dogmas 
consagrados na Bíblia. 
 
A experiência na Grécia antiga – ocorreu a mais avançada forma de governo 
de que já se teve notícia até hoje, a chamada democracia constitucional. As 
pessoas participavam diretamente das decisões políticas do Estado (Cidade-
Estado de Antenas). 
 
A experiência em Roma – À Roma deve-se associar a ideia de liberdade. 
 
A experiência ocorrida na Inglaterra - o governo das leis surgiu em 
substituição ao “governo dos homens”. Esta experiência constitucional inglesa 
contribuiu com duas ideias fundamentais: 1) governo limitado e 2) igualdade 
dos cidadãos ingleses perante a lei. Essas são as duas ideias principais do 
 
1
 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1996. p.39 
2
 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Livraria Almedina, 
1997. p.45. 
 
2 
 
“rule of law”. Essas ideias do constitucionalismo inglês surgiram na Idade 
Média. Na Inglaterra, não existe uma Constituição escrita. 
 
2) Constitucionalismo CLÁSSICO ou LIBERAL - Liberté 
 
Surgiu a partir do final do século XVIII. Um fator, ocorrido nessa época, foi 
muito importante: as chamadas revoluções liberais (revoluções Francesa e 
Americana), feitas pela burguesia em busca de direitos libertários. Com essas 
revoluções ocorreu o surgimento das primeiras constituições escritas. 
 
* Revolução Norte-americana: Surgiu, nesse cenário, a primeira constituição 
escrita de que se tem notícia, a “Declaração de Direitos do Bom Povo da 
Virgínia” (Virginia Bill of Rights, de 1776). Logo depois dela, em 1787, a 
Constituição Americana surgiu e até hoje está em vigor. As duas principais 
ideias com as quais os americanos contribuíram para o constitucionalismo são: 
 
a) A ideia de supremacia da Constituição – a Constituição é a norma suprema 
porque estabelece as regras do jogo; b) A garantia jurisdicional– é o Judiciário 
o principal encarregado de garantir a supremacia da Constituição, pois é o mais 
neutro politicamente. Democracia não é só vontade da maioria, senão vira 
ditadura da maioria, mas inclui também a garantia de direitos. O Judiciário vai 
proteger o direito das minorias. 
 
* Experiência Francesa – Na França, surgiu a primeira constituição escrita da 
Europa, em 1791. A experiência francesa contribuiu com duas ideias principais: 
a) Garantia de direitos e b) Separação dos Poderes. A Declaração Universal 
dos Direitos do Homem e do Cidadão é de 1789 e serviu de preâmbulo para a 
Constituição Francesa de 1791. 
 
3) Constitucionalismo MODERNO – Egalité 
 
Enquanto o clássico é o liberal, o moderno é chamado de constitucionalismo 
social. O constitucionalismo moderno surgiu a partir do fim da I Grande Guerra. 
 
Começou-se a perceber um certo esgotamento da ideia liberal (que protegia os 
direitos de liberdade, mas não os sociais). Impossibilidade do 
constitucionalismo liberal de atender as demandas sociais que abalavam o 
século XIX. 
 
A primeira geração dos direitos fundamentais, surgiu no constitucionalismo 
clássico (dos EUA e França), e consagrou a liberdade. 
 
A segunda geração dos direitos fundamentais, o social, o econômico, o cultural, 
consagrou a igualdade material. De nada valeria a liberdade, sem a igualdade 
substancial. 
 
4) Constitucionalismo CONTEMPORÂNEO - Fraternité 
 
O constitucionalismo contemporâneo vem sendo chamado por alguns autores 
de Neoconstitucionalismo. Vai surgir no fim da II Grande Guerra. 
 
3 
 
 
Atrocidades foram cometidas durante a II Guerra, notadamente pelos nazistas 
e todas elas com base no ordenamento jurídico, na lei. O direito não é apenas 
forma, não é apenas norma jurídica, ele tem que ter um conteúdo moral para 
ser válido. A essa nova ideia de constitucionalismo no direito Paulo Bonavides 
dá o nome de pós-positivismo. 
 
Com o fim da II Grande Guerra, as constituições começaram a consagrar, 
expressamente, a dignidade da pessoa humana. Passou a ser considerada um 
valor constitucional supremo. A dignidade é um atributo que todo ser humano 
tem. O Estado existe para o cidadão e não o contrário. O cidadão é um fim em 
si mesmo, não pode ser entendido como um meio para atingir o Estado. 
 
A partir da dignidade da pessoa humana, como núcleo da constituição, 
aconteceu a chamada rematerialização constitucional. 
 
E aí vem a terceira causa do surgimento desse novo constitucionalismo, que é 
o reconhecimento da força normativa da Constituição. Há, pois, três causas: 
 
1ª – Consagração da dignidade da pessoa humana como valor supremo 
 
2ª – Rematerialização das constituições, com rol extenso de direitos 
fundamentais. 
 
3ª – Força normativa da Constituição. 
 
5) Constitucionalismo FUTURO 
 
Houve um congresso onde vários constitucionalistas do mundo inteiro se 
reuniram para discutir o futuro das constituições. Um deles, um autor argentino, 
José Roberto Dromi, disse o seguinte: “no futuro haverá um equilíbrio entre os 
valores marcantes do constitucionalismo moderno e os excessos praticados 
pelo constitucionalismo contemporâneo.” 
 
É a famosa Teoria Mista. Nem o excesso de Constituição e nem a falta de 
Constituição, nem a fraqueza do Judiciário e nem o excesso de Judiciário. Nem 
a ausência de normatividade dos princípios e nem a aplicação só dos 
princípios. 
 
Valores fundamentais que as constituições do futuro devem consagrar: 
verdade, solidariedade, consenso, continuidade, participação, integração e 
universalização. 
 
1.1 Conceito de Estado de Direito 
A expressão Estado de Direito foi cunhada pelo jurista alemão Robert von 
Mohl, no século XIX, ao procurar sintetizar a relação estreita que deve haver 
entre Estado e Direito ou entre política e lei. Segundo Canotilho, por oposição a 
Estado de não-Direito, podemos entender o Estado de Direito como o Estado 
propenso ao Direito: "Estado de direito é um Estado ou uma forma de 
organização político-estatal cuja atividade é determinada e limitada pelo direito. 
 
4 
 
‘Estado de não direito’ será, pelo contrário, aquele em que o poder político se 
proclama desvinculado de limites jurídicos e não reconhece aos indivíduos uma 
esfera de liberdade ante o poder protegida pelo direito" (Canotilho, 1999, p. 
11). 
 
Assim, define-se o Estado de Direito a partir da estrutura estatal em que o 
poder público é definido/limitado/controlado por uma Constituição. Portanto, há 
uma maior judicialização do poder político. 
 
No entendimento de Miguel Reale: entende-se aqueleque, constituído 
livremente com base na lei, regula por esta todas as suas decisões. Os 
constituintes de 1988, que deliberaram ora como iluministas, ora como 
iluminados, não se contentaram com a juridicidade formal, preferindo falar em 
Estado Democrático de Direito que se caracteriza por levar em conta também 
os valores concretos da igualdade (Reale, 2000, p. 37) 
 
 
2- A natureza jurídica e os diferentes sentidos de Constituição: 
sentido sociológico (Ferdinand Lassale), político (carl Schimit), e 
jurídico (Hans Kelsen) 
 
Constituição em sentido material/sociológico – Constituição no qualificativo 
material de um Estado corresponde àquela voltada à realidade do povo e como 
apresenta a organização e estrutura do próprio Estado, valendo, neste caso, o 
que se vê, o que se sente e o que se impõe à sociedade. Celso Bastos define 
como “(...) conjunto de forças políticas, econômicas, ideológicas etc., que 
conforma a realidade social de um determinado Estado, configurando a sua 
particular maneira de ser. Embora mantenha relações com o ordenamento 
jurídico a ela aplicável, esta realidade com ele não se confunde. Ela é do 
universo do ser (como é algo), e não do dever ser (como deve-ser algo), do 
qual o direito faz parte”. 
 
Com preciosidade, o professor Celso também reporta-se à teoria de Hans 
kelsen (Teoria Pura do Direito), quando a utiliza em sua definição de 
Constituição em sentido material, precisamente no momento em que posiciona 
essa definição no mundo do ser e não do dever ser, do qual o Direito faz parte. 
Prosseguindo, no que tange à vida social, equipara as influências econômicas, 
políticas, ideológicas etc., às Leis Naturais, já que as primeiras, como as 
últimas, não estão sempre sujeitas à vontade do homem legislador e, 
inobstante, correspondem ao que Ferdinand Lassale denomina de “fatores 
reais do poder”. 
 
Para Lassale, a Constituição de um país traduz-se na soma dos fatores reais 
do poder que regem uma nação. Extrai-se que “os fatores reais do poder” 
correspondem aos entes públicos ou privados, autoridades, nobreza, classes 
diversas, partidos políticos, grupos ou movimentos sociais, militares, massa 
popular ou mesmo líder etc., que possuem força e parcela do poder capazes 
de influenciar ou determinar os rumos do Estado. 
 
 
5 
 
A Constituição de um Estado é, necessariamente, um fenômeno jurídico e 
como tal admite tanto a análise zetética (deriva de zetein – perquirir, 
terminologia de Viehweg, 1969) quanto a análise dogmática (deriva de dokein – 
ensinar, doutrinar). Contudo, neste qualificativo, a ótica preponderante é o da 
zetética jurídica, em todas as suas modalidades (zetética empírica pura e 
aplicada; e zetética analítica pura e aplicada), pois as premissas 
correspondentes são questionadas e o cientista não despreza os ditames das 
espécies normativas postas, porém não está adstrito a elas. O estudo em 
questão tem amparo na Sociologia, na Antropologia, na Psicologia, na História, 
na Filosofia, na Ciência Política etc., ou seja, não se ampara em disciplinas 
especificamente jurídicas, o que não impõe qualquer preocupação em criar 
meios adequados para as decisões e soluções dos conflitos da sociedade, 
mas, apenas, busca ampliar os questionamentos e contornos do fenômeno à 
luz da realidade imposta, como já mencionado, pelos “fatores reais de poder”. 
 
Assevera Tercio Sampaio Ferraz Júnior , que “no plano das investigações 
zetéticas, pode-se dizer, em geral, que elas são constituídas de um conjunto de 
enunciados que visa a transmitir, de modo altamente adequado, informações 
verdadeiras sobre o que existe, existiu ou existirá. Estes enunciados são, pois, 
basicamente, constatações”. Afirma, ainda, o mestre, que as verificações 
mencionadas são extraídas de um dado momento histórico e, portanto, podem 
produzir resultados bem diferentes de uma época para outra. 
 
O presente qualificativo coincide e engloba o qualificativo Sociológico, uma vez 
que ambos buscam a realidade que se pode ver e sentir e não o que está 
imposto por textos escritos em folhas de papel. Só concede validade ao texto 
escrito quando este refletir a realidade social e individual do povo (Constituição 
legítima); caso contrário não reconhece a validade do Texto Maior 
(Constituição ilegítima). 
 
Constituição em sentido substancial/político – mediante uma análise 
substancial, procura-se alcançar o âmago (o objeto) das normas constitucionais 
e, por consequente, extrai-se a substância do Estado (estrutura, competência 
de seus órgãos superiores, metas de atuação, manutenção de existência, 
limites etc.). Permite apenas o entendimento de que Constituição, propriamente 
dita, é aquela cujo conteúdo diz respeito à forma de Estado, à de governo, aos 
órgãos do poder e à declaração dos direitos individuais, sendo que qualquer 
outra matéria não é considerada constitucional, e se porventura for inserida no 
Texto Maior, figurará como mera lei constitucional. 
 
Por seu turno, esse qualificativo encampa o qualificativo político, devido à 
concepção equivalente e à igualdade de elementos constitutivos entre eles, 
principalmente em relação à diferença entre Constituição e lei constitucional. 
 
Constituição em sentido formal/jurídico – o qualificativo formal tem por 
finalidade evidenciar o resultado previsto no texto constitucional (constituição 
escrita) e o processo legislativo que o criou. Caracteriza-se por dispor de um 
conjunto de normas que têm como peculiaridade o fato de serem oriundas de 
um processo legislativo ordinariamente mais árduo, mais difícil e mais solene 
que o processo legislativo das espécies normativas infraconstitucionais. A 
 
6 
 
definição formal exige que a Constituição, necessariamente, seja reduzida à 
forma escrita e, ainda, só pode ser modificada mediante processos e 
formalidades especiais, nela própria prescritos. Dessa forma, opõe-se ao 
conceito material de Constituição, tornando-se, por sua especificidade, o 
qualificativo mais relevante para o direito. 
Por sua vez, a ótica preponderante neste qualificativo é a do dogmático jurídico 
(paradoxo da zetética), já que realça o aspecto resposta (a zetética realça o 
aspecto pergunta). O investigador define Constituição no sentido Formal de 
forma vinculada aos comandos normativos, jamais podendo desprezá-los. As 
respostas estão prontas e são ofertadas pelo texto constitucional, 
independentemente se são harmônicas ou não com a realidade vivida pelo 
povo. 
 
A dogmática jurídica possui função diretiva e é finita (a zetética possui função 
especulativa explícita e é infinita). Dessa forma, preocupa-se com a questão da 
ação ou de como agir para solucionar um problema social, ao passo que a 
zetética não se preocupa com isso. Para atingir este fim, in casu, as premissas 
partem do texto escrito da Constituição em sentido formal, sendo seus 
dispositivos inquestionáveis devido a sua origem ser de poder constituído e 
legítimo (Princípio da Proibição da Negação ou, conforme referência de Tercio 
Sampaio ao entendimento de Luhmann, inegabilidade dos pontos de partida). 
Diante do qualificativo formal encontramos, em regra, a vontade expressa do 
Poder Constituinte Originário e as modificações de sua vontade primeira 
formalizada em um texto escrito, que incidem com o passar do tempo e, 
quando e como, por ele autorizadas à atividade do Poder Constituinte 
Reformador. O mestre Jorge Miranda, assim, profere: “Não se circunscrevem 
as normas constitucionais às decretadas pelo poder constituinte ou por ele 
recebidas. São também normas formalmente constitucionais, como é óbvio, as 
que venham a ser estabelecidas por revisão constitucional ou por outra 
vicissitude da Constituição”. 
 
Sob uma concepção leiga, aqui encontramos a Constituição que o povo da 
maioria dos Estados no mundo comumente conhece, ou seja, em regra, aquela 
em forma de livro e dispostasistematicamente em um texto codificado. Cabe-
nos ressaltar que o qualificativo jurídico tem um contorno de definição 
semelhante ao qualificativo formal. 
 
3. O significado hermenêutico da força normativa da Constituição (Konrad 
Hesse) e sua influência sobre a doutrina brasileira da efetividade. 
 
O princípio da força normativa, formulado por Konrad Hesse, “considera que se 
a realidade social influi sobre o direito, por outro lado o direito também 
influencia e condiciona a realidade social, operando comandos normativos com 
força de concretização plena em situações específicas. Ao reconhecer a 
vontade constitucional de uma nação, é exigível ao Estado dotar a ordem 
jurídica de mecanismos que assegurem concreta aplicação dos preceitos 
constitucionais”. Ainda segundo a teoria de Hesse, na interpretação 
constitucional, deve-se dar primazia às soluções ou pontos de vista que, 
levando em conta os limites e pressupostos do texto constitucional, possibilitem 
a atualização de suas normas, garantindo-lhes eficácia e permanência. A 
 
7 
 
Constituição não configura apenas a expressão de um ser, mas também de um 
dever ser. 
 
Para o professor alemão Konrad Hesse “a força normativa da Constituição não 
depende apenas de seu conteúdo, mas também de sua prática”. 
 
O princípio da máxima efetividade ou da eficiência orienta os aplicadores da 
Constituição de forma a interpretar as suas normas em ordem a otimizar-lhes a 
eficácia, mas sem alterar o seu conteúdo. Esse princípio consiste em atribuir na 
interpretação das normas da Constituição o sentido de maior eficácia, 
utilizando todas as suas potencialidades. Sendo utilizado com maior incidência 
no âmbito dos direitos fundamentais, sugerem os doutrinadores que deve ser 
aplicado a todas as normas constitucionais. 
 
4. O Conceito de comunidade aberta de intérpretes da Constituição (Peter 
Häberle). 
 
Prepondera na doutrina uma grave restrição de ingresso no grupo daqueles 
autorizados a realizar a interpretação de normas jurídicas. Nesse sentido 
restritivo, observamos corrente doutrinária indicando que somente serão 
autorizados a proceder à interpretação os seguintes agentes: os experts 
doutrinários (interpretação particular), os juízes (interpretação judicial) e os 
legisladores (interpretação legislativa, legal ou autêntica). Por outro lado, há 
corrente que exclui desse rol o último mencionado; e, ainda, é possível 
encontrar uma terceira corrente doutrinária, de cunho mais restritivo, que 
defende serem os experts doutrinários os únicos com permissão verdadeira e 
própria para proceder à interpretação. 
 
Peter Häberle , ao discorrer acerca da visão restritiva, vale-se da expressão 
proferida por Ehmkeé, que a denominou de “sociedade fechada”. Entretanto, 
Häberle não coaduna com essa limitação de competência para proceder à 
interpretação; defende ser interpretação toda aquela realizada pelos que vivem 
a norma (“sociedade aberta”), independente de serem estes capazes de 
proceder a uma análise interpretativa sem paixões ou tendências e com 
observância de todos os preceitos e processos hermenêuticos e, ainda, se são 
legitimados ou não para aplicá-la ao fato. Denomina essa categoria de 
“intérpretes constitucionais em sentido lato”, e define as suas atuações como 
de, pelo menos, “pré-intérpretes” (Vorinterpreten). 
 
Dessa forma, quanto ao processo de interpretação constitucional, observa-se o 
posicionamento do supra citado autor: “Propõe-se, pois, a seguinte tese: no 
processo de interpretação constitucional estão potencialmente vinculados todos 
os órgãos estatais, todas as potências públicas, todos os cidadãos e grupos, 
não sendo possível estabelecer-se um elemento cerrado ou fixado com 
numerus clausus de intérpretes da Constituição. 
 
Interpretação constitucional tem sido, até agora, conscientemente, coisa de 
uma sociedade fechada. Dela tomam parte apenas os intérpretes jurídicos 
‘vinculados às corporações’ (zünftmässige Interpreten) e aqueles participantes 
formais do processo constitucional. A interpretação constitucional é, em 
 
8 
 
realidade, mais um elemento da sociedade aberta. Todas as potências 
públicas, participantes materiais do processo social, estão nela envolvidas, 
sendo ela, a um só tempo, elemento resultante da sociedade aberta e um 
elemento formador ou constituinte dessa sociedade (...weil 
Verfassungsinterpretation diese offene Gesellschaft immer von neuem 
mitkonstituiert und von ihr konstituiert wird). Os critérios de interpretação 
constitucional hão de ser tanto mais abertos quanto mais pluralista for a 
sociedade”. 
 
Häberle reafirma ainda que há amplitude do elenco de intérpretes 
constitucionais: “Todo aquele que vive no contexto regulado por uma norma e 
que vive com este contexto é, indireta ou, até mesmo diretamente, um 
intérprete dessa norma. O destinatário da norma é participante ativo, muito 
mais ativo do que se pode supor tradicionalmente, do processo hermenêutico. 
Como não são apenas os intérpretes jurídicos da Constituição que vivem a 
norma, não detêm eles o monopólio da interpretação da Constituição”. 
 
Em especial nos Estados democráticos, não deve existir vedação à práxis de 
interpretação exercida por qualquer cidadão. O cuidado que se deve ter é com 
o resultado dessas interpretações “leigas”, ou seja, a conclusão de 
interpretação de norma jurídica eivada de paixões e tendências ou realizada 
fora dos bons métodos hermenêuticos não poderá prevalecer em detrimento da 
conclusão técnica, oriunda da imparcialidade e realizada conforme os 
processos hermenêuticos. A doutrina dominante defende a restrição do número 
daqueles autorizados a interpretar as normas jurídicas, para, destarte, garantir 
uma aplicabilidade mais justa, técnica e harmônica das interpretações aos 
fatos, resultando proteção tanto ao ordenamento jurídico quanto à ordem 
social. 
 
5. Classificação das Constituições quanto à ideologia e quanto à 
finalidade. 
 
Quanto à Ideologia (dogmática) 
 
Ecléticas (Complexas) – adotam ideologias conciliatórias, de modo a instituir 
um conjunto de ideias bastante diversificado, sem que, logicamente, acarrete 
alguma disparidade entre eles. Essa adoção de variadas linhas de 
pensamento, onde os sistemas de ideias possuem as mais diversas bases de 
sustentação (bases política, econômica, religiosa, racial etc.), faz com que 
impere, em suas disposições, uma diversidade de matérias constitucionalmente 
regulamentadas, ocasionando um agigantamento de conteúdo normativo. 
Exemplo: Constituição do Brasil de 1988. 
 
Ortodoxas (Simples) – adotam uma única ideologia, ensejando um sistema 
estritamente centrado em uma única concepção. Exemplo: Constituição do Irã 
(ideologia religiosa); Constituição da China (ideologia comunista). 
 
 
Quanto à finalidade 
 
 
9 
 
Garantias – visam à consagração de direitos e garantias fundamentais, bem 
como à proteção de certas liberdades. Seus dispositivos estão postos de tal 
modo que, além de assegurar e proporcionar tais garantias, esse tipo de texto 
constitucional busca restringir a atuação do poder estatal, limitando-o. Seu 
elemento constitucional principal é o limitativo, já que o texto constitucional 
conterá, somente ou principalmente, elementos inibidores das ações estatais 
que objetivarem ferir direitos consagrados, por ele, como fundamentais aos que 
constituem o seu povo. Nessa modalidade, verifica-se que da finalidade 
objetivada pelo Poder Constituinte decorre uma constituição enxuta (sintética, 
negativa) composta quase em sua totalidade por normas constitucionais 
pertencentes aos elementos orgânicos e limitativos. 
 
Balanços – são aquelas Constituições que registram e descrevem a 
organização política estabelecida. Decorrem de ato histórico em que a posição 
ideológica passa a ter valor axiológico constitucional tão relevante para o titular 
do PoderConstituinte Originário que o seu registro e a organização política 
decorrente tornam-se a própria constituição formal, propriamente dita. 
Exemplos históricos: As Constituições da URSS de 1924, 1936 e 1977. Nelas, 
contemplam-se, expressivamente, o marco ideológico propulsor do rompimento 
da ordem anterior. Manoel Gonçalves indica que, “(...) na linha de Lassale, os 
socialistas sempre conceberam a Constituição como um reflexo da realidade. 
Na antiga União Soviética, a Constituição veio a ser concebida como um 
balanço, o registro do alcançado numa etapa.” 
 
Dirigentes – são aquelas constituições que estabelecem principalmente planos 
e metas e um ideal a ser concretizado para dirigir uma evolução política. 
Caracterizam-se por dispor, em especial, de normas programáticas, ou seja, 
normas que dependem de condições institucionais ou de fato para surtirem 
efeito e se concretizarem. Não obstante, há que se destacar que pode ocorrer 
aglutinação de cláusulas constitucionais versando tanto sobre normas que 
visam a assegurar direitos de liberdade como normas programáticas. Exemplo: 
a Constituição portuguesa de 1976. Os seus textos (positivo) prevêem toda e 
qualquer matéria elevada à categoria de constitucional pelo Poder Constituinte. 
Todas essas matérias formalizam programas para as ações de governo, os 
exercícios jurisdicionais e legiferantes, bem como para o comportamento do 
cidadão e da sociedade como um todo. 
 
A avaliação dessa classificação não cria, para os textos constitucionais, 
restrição de abordarem somente um ou outro elemento; tendo em vista que 
poderá, ao mesmo tempo, dispor de normas de caráter garantia, balanço e 
dirigente, configurando como diferencial o tipo de elemento que prepondera 
(prevalece) no seu texto. 
 
No que diz respeito às classificações quanto à extensão de seu texto e a sua 
finalidade, insta frisar que alguns doutrinadores, como Alexandre de Moraes, 
correlacionam as Constituições prolixas com as dirigentes, e as concisas com 
as de garantia. No entanto, isso não quer dizer que um texto constitucional 
prolixo dispõe somente de dispositivos dirigentes, visto que também poderá 
conter, por exemplo, dispositivos que consagram os direitos e garantias 
fundamentais (ótica axiológica), todavia, in casu, preponderarão aqueles. De 
 
10 
 
igual modo, há, nas constituições concisas, a possibilidade de existência, 
apesar de não prevalecer, de normas programáticas ou de qualquer outra 
matéria lá alçada. 
 
 
6- Classificação da Constituição Federal de 1988 
 
A - Quanto ao Conteúdo: Formal (Procedimental) 
 
B - Quanto à Forma: Escrita (Instrumental) – em tese, pois o Decreto-
Legislativo n.º 186/2008 c/c o Decreto 6.949/2009 (Promulga a Convenção 
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo 
Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007) permite a 
forma não-escrita. 
 
C - Quanto ao Modo de Elaboração: Dogmática 
 
D - Quanto à Origem: Popular (Democrática, Votada ou Promulgada) 
 
E - Quanto ao Processo de Mudança (Estabilidade / Mutabilidade): Rígida 
(classificação dominante). Para alguns autores ela é Super-Rígida. Para outros, 
Transitoriamente Flexível, pois no ano de 1993 foi Flexível (art. 3º do ADCT) 
 
F - Quanto à extensão de seu texto: Analítica (Prolixa) 
 
G - Quanto à Finalidade: Dirigente 
 
H - Quanto à Ideologia (Dogmática): Eclética (Complexa) 
 
I - Quanto à Sistemática: Codificada (Unitárias, Unitextuais ou Reduzidas) em 
tese, pois o Decreto-Legislativo n.º 186/2008 c/c o Decreto 6.949/2009 
(Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de 
março de 2007) permite a sustentação da tese de Documentos Esparsos 
(Variadas, Pluritextuais ou Não Codificadas). 
 
J - Quanto à Ideologia (Dogmática): Eclética (Complexa) 
 
L - Quanto à Essência: Nominal

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