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Apostila - Criminologia para Concurso Público

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CRIMINOLOGIA PARA 
DEFENSOR PÚBLICO
- PARANÁ -
EXTRAÍDO DA APOSTILA DE DEFENSOR PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
MATERIAL EXCLUSIVO PARA DOWNLOAD NO SITE DA EDITORA APROVARE:
www.editoraaprovare.com.br
TODOS OS DIREITOS DESTE MATERIAL SÃO RESERVADOS. Nenhuma parte desta publicação poderá 
ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Aprovare. A viola-
ção dos direitos autorais é crime previsto na Lei 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
① INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA
② ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS
③ EXPOENTES DA CRIMINOLOGIA
④ VITIMOLOGIA
⑤ PENOLOGIA
⑥ GARANTISMO PENAL
⑦ PROCESSO DE CRIMINALIZAÇÃO
⑧ DIREITO PENAL DO INIMIGO
CRIMINOLOGIA
Criminologia
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01 INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA
DELIMITAÇÃO INICAL E CONCEITUAÇÃO
O fenômeno da criminalidade acompanha - pari 
passo - o desenvolvimento da humanidade desde os 
primórdios, e o tema, inegavelmente, desperta a curio-
sidade, a atenção e a preocupação de toda a sociedade.
As mais variadas pessoas, nos mais variados locais 
e épocas, constantemente buscam meios de entender, 
explicar e coibir o crime no seio social. Assim, ao longo 
da história, diversas noções surgiram e se superaram, 
conformando então uma ciência distinta e exclusiva-
mente focada no estudo deste fenômeno: a criminolo-
gia.
Etimologicamente, criminologia origina-se do la-
tim “crimen” (delito/crime) e do grego “logo” (trata-
do). É comum encontrar nos manuais de criminolo-
gia a indicação de que foi o antropólogo francês Paul 
Topinard o primeiro a utilizar esta terminologia para 
designar este ramo do saber, em meados de 1879. Mas 
é também certo que a palavra só se firmou em defini-
tivo com Raffaele Garofalo, que em 1885 publicou o a 
obra intitulada “Criminologia”.
Segundo usual conceituação doutrinária, a crimino-
logia é a ciência autônoma, empírica e interdisciplinar, 
que tem por objeto o estudo do crime, do delinquente, 
da vítima e do controle social do comportamento de-
litivo. É ela também quem nos oferta uma informação 
válida sobre a gênese, a dinâmica e as variáveis do cri-
me, enquanto fenômeno individual e social, possibi-
litando ainda firmar parâmetros para uma prevenção 
eficaz, bem como para delimitar as formas, técnicas e 
estratégias de reação contra o fato criminoso.
Com isso, é possível concluir que a criminologia 
não almeja o estudo do crime enquanto fenômeno ju-
rídico (como ilícito penal), mas sim o estudo de sua 
natureza, das suas origens e do seu processo de reali-
zação e contenção, como fato humano e social.
Ou seja, o saber criminológico possibilita ao ope-
rador do direito um conhecimento mais apropriado e 
próximo da realidade fática que o cerca, pois lhe oferta 
dados que demonstram a extensão, a adequação e a 
eficiência das leis penais e processuais que disciplinam 
o crime.
CIÊNCIA AUTÔNOMA
Por todo o exposto, é possível observar que a crimi-
nologia não é apenas uma “sub-disciplina” de algum 
ramo do direito, mas sim uma ciência autônoma, que 
oferta conhecimento válido e útil à ciência jurídica em 
vários parâmetros. 
Trata-se de verdadeiro saber científico, e não mera 
impressão ou construção do “saber popular”, sem 
base técnica alguma (estes saberes populares, inclusi-
ve, que estão via de regra ligados a experiências prá-
ticas e particulares de alguns agentes públicos que 
atuam na área do direito penal, acabam propagando 
situações generalizadas e indevidas como verdades 
absolutas, totalmente desprovidas de cientificidade, e 
que não conformam o verdadeiro conhecimento crimi-
nológico). Por isso, inclusive, é possível dizer que a in-
vestigação criminológica reduz ao máximo a intuição e 
o subjetivismo, exatamente por submeter o fenômeno 
criminal a uma análise rigorosa, com técnicas adequa-
das e próprias para cada situação.
Ademais, a criminologia traz em si todo um ar-
cabouço de conhecimentos próprios, os quais não se 
confundem com os conhecimentos de nenhuma das 
ciências jurídico-repressivas, como o direito penal, o 
processo penal e a política criminal.
Inclusive, dentro desta perspectiva, é plenamente 
possível traçar uma breve distinção entre estas três 
ciências - a criminologia, o direito penal e a política 
criminal. Vejamos:
Enquanto a criminologia busca dados e demonstra-
ções fáticas sobre o crime, o criminoso e a criminali-
dade em geral, o direito penal apresenta-se como um 
conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a de-
terminação de infrações de natureza penal e suas res-
pectivas sanções (penas e medidas de segurança). Ou 
seja, o direito penal vê o crime exclusivamente como 
fenômeno jurídico (ilícito penal), não sendo objeto de 
seus estudos a origem, as causas e as consequências 
sociais deste fato.
Ao seu turno, a política criminal disciplina as me-
didas que devem (ou podem) ser implementadas pelo 
Estado no combate à criminalidade. Ou seja, está di-
retamente ligada ao controle social do desviante, ao 
poder que o Estado oficial possui de definir um confli-
to social como criminalidade e tomar as medidas ade-
quadas para combatê-lo. Assim, é possível perceber 
que os postulados da política criminal servirão como 
critério de decisão a respeito dos sistemas dogmáticos 
para a aplicação do direito e processo penal.
São, enfim, ciências autônomas e que não se con-
fundem, seja quanto ao objeto de estudo, quanto ao 
método empregado, ou mesmo em relação as finalida-
des perquiridas.
O MÉTODO DA CRIMINOLOGIA
Consoante anotado, a criminologia é uma ciência 
empírica, de observação, anotação e conclusão. Falar 
de empirismo é o mesmo que falar de método experi-
mental, ou seja, aquele que evolui a partir da observa-
ção do mundo fenomênico. 
Tanto é assim que a metodologia empírica também 
pode ser chamada de analítica ou indutiva, pois parte 
de um objeto para chegar a uma constatação, parte da 
“coisa” para chegar à ideia.
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Portanto, é imperioso concluir que a criminologia 
não é uma ciência formal, não é uma ciência silogística 
ou mesmo dedutiva, mas sim uma ciência de análise e 
experimentação.
INTERDISCIPLINARIDADE
Interessante firmar que a criminologia é também 
uma ciência interdisciplinar, porque conjuga o conhe-
cimento de várias outras ciências, muitas delas (inclu-
sive) não jurídicas, como por exemplo: a biologia, a 
antropologia, a psicologia, a psiquiatria e a sociologia.
A interdisciplinaridade surge como uma necessi-
dade prática de articulação de conhecimentos, e cons-
titui um dos efeitos ideológicos mais importantes so-
bre o qual se constrói esta ciência, exatamente porque 
permite romper barreiras estanques e conformar um 
saber conjugado. Os fenômenos surgem exatamente 
da integração das partes constitutivas de cada ciência.
Até porque, tendo em vista que a criminologia en-
tende o crime apenas como uma das várias formas de 
comportamento humano (um episódio de desajusta-
mento do homem às condições fundamentais da convi-
vência social), é certo que sua estruturação dependerá 
dos conhecimentos oriundos de outros ramos do saber.
OBJETOS DE ESTUDO
Como visto, os objetos sobre os quais a criminolo-
gia se debruça são os seguintes: o crime, o criminoso, a 
vítima e o controle social do delito.
Destaca-se que alguns destes temas serão particu-
larmente explorados adiante, consoante sua importân-
cia para os concursos públicos. Todavia, segue aqui 
breve explanação elucidativa sobre cada um deles.
a) O delito: 
É o primeiro objeto de estudo da criminologia, e tal-
vez o tema central dos debates.Afinal, é em torno dele 
que gira todas as construções teóricas desta ciência. 
Vale destacar que o termo “delito” (aqui trabalha-
do enquanto sinônimo de crime/infração penal) não é 
unívoco, não possui um só significado. Suas variantes 
dependem do ramo do conhecimento que o utiliza e 
o contexto que o emprega. Basta ver que para o direi-
to penal, a palavra delito possui um conteúdo formal 
técnico (o qual pode variar de acordo com a corrente: 
se bipartida, tripartite, quadripartite). Para a filosofia e 
para a ética, o delito possui um conteúdo estritamen-
te moral e principiológico. Já a sociologia o enxerga 
como um fato social. 
Ao seu turno, a criminologia vê o delito como fe-
nômeno humano geral, como algo a ser decifrado e 
compreendido. E ao longo de sua evolução teórica, vá-
rias foram as formas utilizadas pela criminologia para 
explicar e delimitar o crime.
b) O criminoso: 
O segundo objeto de análise da criminologia foi 
percebido de formas variadas pelas correntes teóricas. 
Para os clássicos, o homem nasce bom por nature-
za, e criminoso é aquele que optou pelo caminho do 
mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Dentro 
dessa ótica, que baseia toda a construção do “contrato 
social” (J.Rousseau), a pessoa teria o livre arbítrio para 
decidir se quer ser bom ou mal. 
Para os positivistas, o livre arbítrio é um mito, e o 
homem não tem a opção de escolher entre o caminho 
do bem ou do mal. Fundam suas construções no de-
terminismo, razão pela qual o criminoso passa a ser 
visto como alguém doente, prisioneiro de sua própria 
patologia ou de processos causais alheios.
Já para os correicionalistas o criminoso é um fraco, 
um ser inferior, inapto ao convívio social, incapaz de 
dirigir - por si mesmo - sua vida. Assim, a sua debili-
dade requer uma eficaz e desinteressada intervenção 
estatal. 
Por fim, para os marxistas, o criminoso é visto 
como vítima do processo econômico de exploração do 
homem pelo homem (trata-se de uma explicação ca-
pitalista para o fenômeno, o qual tem na sociedade os 
fatores de criminalização do agente). 
c) A vítima: 
O terceiro objeto de estudo recebeu um trato bas-
tante variado ao longo das construções históricas da 
criminologia e suas ciências correlatas, e estas altera-
ções podem ser identificadas em três momentos es-
peciais (que nasce com sua valorização, passa por um 
período de neutralização e, por fim, de revalorização).
Num primeiro momento, que se operou desde os 
primórdios da civilização até a Alta Idade Média, a ví-
tima possuía um papel bastante importante na gêne-
se do delito, até porque vivíamos um período em que 
reinava a lógica da vingança privada, da autotutela e 
da lógica do talião. Esta fase ficou conhecida como “ví-
tima de ouro”.
Após, ela passa por um período de neutralização, 
em que ela é totalmente descartada do processo crimi-
nológico. A vítima deixa de ter o poder de reação ao 
fato delituoso, que é assumido e monopolizado pelo 
Estado soberano. A pena passa a ser uma garantia de 
ordem coletiva e não mais particular. 
Esta perspectiva de neutralização nasceu ao final 
da idade média e perdura até o início do período mo-
derno, quando então se passou a revalorizar o papel 
da vítima, inclusive no âmbito jurídico-penal; basta 
ver que surgiram, após, inúmeros institutos no âmbito 
do direito e processo penal que demandam a interven-
ção do ofendido (como, por exemplo: nas ações penais 
de iniciativa privada, que dependem da queixa-crime; 
nas públicas condicionadas que dependem da repre-
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sentação; a possibilidade de composição civil dos da-
nos trazida pela Lei do Juizado Especial; etc.). Foi a 
partir daí, inclusive, que nasceu o estudo da vitimolo-
gia, enquanto braço específico da criminologia.
d) Controle social do delito: 
Por fim, o último dos objetos da criminologia con-
sagra o conjunto de mecanismos e de sanções sociais 
que pretendem submeter o indivíduo aos modelos 
sociais comunitários. Fala-se então, dos controles for-
mais e informais da criminalidade.
Os primeiros (controles formais) são aqueles 
pertinentes ao Estado repressor, legítimo detentor do 
jus puniendi. Já os segundos (controles informais) são 
aqueles pertinentes à família, aos amigos, a igreja, 
etc., ou mesmo aos sistemas paralelos de repressão 
(como, por exemplo, o crime organizado e as milícias 
particulares). 
ü Nesta toada, vale observar que a criminologia 
busca também uma justificação para o próprio Di-
reito Penal (que é ciência correlata).
FINALIDADE DA CRIMINOLOGIA
Com o resultado de suas investigações, a crimi-
nologia preocupa-se em fornecer explicações válidas 
para o fenômeno do crime e, com isso, auxiliar a de-
senvolver métodos para a redução da criminalidade.
 Ou seja, por não ser uma ciência estanque, a cri-
minologia visa apontar um núcleo seguro de conheci-
mentos sobre cada um dos seus objetos de estudo.
Assim, é possível concluir que as duas perguntas 
fundamentais da criminologia são as seguintes: Por 
que alguém delinquiu? O que se pode fazer para minimizar 
a delinquência?
CARACTERÍSTICAS DA MODERNA 
CRIMINOLOGIA
Veremos adiante que a criminologia modificou 
muito seu âmbito de estudo e seus objetivos ao longo 
dos anos. E hoje, é certo que ela conclama as seguintes 
premissas centrais:
a) Acentua a orientação “prevencionista” do sa-
ber criminológico, diante da obsessão repressi-
va explícita de outros modelos convencionais. 
b) Destaca a análise e a avaliação dos modelos 
de reação ao delito como um dos seus objetos 
de estudo.
c) Substitui o conceito de “tratamento” (cono-
tação clínica e individual) por “intervenção” 
(conotação dinâmica, complexa e pluridimen-
sional).
d) Parte da caracterização do crime como “pro-
blema” (face humana e dolorosa do delito), e 
não como patologia do indivíduo.
e) Por fim, tenta reduzir o âmbito tradicional 
dos seus objetos de estudo: antes, muito focado 
no crime de no criminoso; e hoje, mais focada no 
controle social da criminalidade.
CONCLUSÕES PRELIMINARES
ü Conceito: a criminologia é uma ciência autô-
noma, empírica e interdisciplinar, que cuida do 
crime, do infrator, da vítima e do controle social 
do delito, gerando informações válidas sobre a 
gênese, a dinâmica e as variantes do fato delitivo, 
orientando a sua prevenção e repressão. 
ü Quanto ao método: a criminologia é uma ci-
ência empírica (é uma ciência de investigação, de 
análise) e interdisciplinar (pois se vale do conheci-
mento de outros ramos do saber, como a sociolo-
gia, biologia e psicologia). 
ü Objeto da criminologia: o crime, o criminoso, a 
vítima e o controle social do delito.
ü Função (objetivo possível): orientar uma res-
posta para delimitação e para o controle do fenô-
meno da criminalidade. 
01 ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS
Ao longo da história, várias teorias procuraram es-
tudar o crime e o criminoso, as quais acabaram con-
formando verdadeiras correntes doutrinárias dentro 
da criminologia, ao que se pode batizar de “escolas 
criminológicas” – cada qual com suas premissas, suas 
bases teóricas (ou filosóficas) e seus defensores e crí-
ticos. Dentre estas, é possível destacar três momentos 
em especial: o da Escola clássica, da Escola positivista, 
e das Escolas pós-positivistas.
Façamos agora breve análise das premissas centrais 
de cada uma delas, bem como de seus maiores expoen-
tes doutrinários.
ESCOLA CLÁSSICA
Entende-se que durante todo o período da 
Antiguidade Clássica (mesmo com nomes como 
Homero, Hipócrates, Platão e Aristóteles) e da Idade 
Média (com São Tomás de Aquino, por exemplo) ain-
da não se podia falar verdadeiramente em criminolo-
gia - nãoao menos enquanto ciência -, posto que não 
havia construções sólidas ou teorias devidamente ela-
boradas para delimitação efetiva dos objetos por ela 
tratados.
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Assim, é usual afirmar que a criminologia é fru-
to do pensamento iluminista, que nasceu no século 
XVIII (o “Século das Luzes”) com os ensaios científicos 
de Baruch Spinoza (1632-1677), John Locke (1632-
1704), Pierre Bayle (1647-1706), Isaac Newton (1643-
1727), Voltaire (1694-1778), Montesquieu (1689-1755), 
e acabou culminando na Revolução francesa tempos 
depois. Entende-se que este movimento filosófico-cul-
tural encampado pela elite de intelectuais europeus, 
o qual procurou mobilizar o poder da razão a fim de 
reformar a sociedade e promover uma revolução inte-
lectual contra a intolerância e os abusos da Igreja e do 
Estado, foi o grande responsável pelo efetivo estopim 
da ciência criminológica.
Os iluministas entendiam que os seres humanos 
detinham plenas condições de melhorar o mundo, 
mediante a introspecção, o livre exercício das capaci-
dades e do engajamento político-social de todos. Para 
tanto, partiam de um pressuposto básico e interessan-
te, qual seja: o de que todos os seres humanos gozam 
do livre arbítrio, de modo que cada um pode escolher o 
caminho que deseja seguir.
Estes pensamentos acabaram enraizando nos ide-
ais dos doutrinadores que se debruçavam sobre o es-
tudo do crime e do criminoso à época, dentre os quais 
se destacou a figura de Cesare Bonesana, o conhecido 
“Marquês de Beccaria”, que nasceu em Milão e viveu 
entre os anos de 1738 a 1794.
Cesare Beccaria foi um aguerrido crítico das arbi-
trariedades cometidas pela justiça da época, a qual ain-
da se valia de vários métodos herdados das práticas 
comuns na Idade média e no período absolutista que 
a seguiu (com as penas corporais, torturas, ordálias e 
“santas punições”). Assim, inspirado pelo ideal de li-
bertação e auto-responsabilidade do ser humano, ele 
escreveu a sua grande obra clássica, “Dos Delitos e das 
Penas”, um verdadeiro manifesto da abordagem libe-
ral do direito criminal, no qual defendia as seguintes 
premissas centrais:
a) que somente as leis poderiam fixar as penas 
para os crimes; 
b) que somente os magistrados poderiam julgar 
os criminosos, nunca interpretando, mas apenas 
aplicando as leis penais vigentes;
c) que as acusações não devem ser secretas, e 
que o réu não pode ser considerado culpado até 
o final de seu justo julgamento;
d) que a tortura não deve ser validade como 
meio de prova no processo;
e) que deve haver uma proporção entre os deli-
tos e as penas aplicáveis;
f) que a pena não deve ter por finalidade, a ideia 
de atormentar o culpado, mas sim de impedi-lo 
de agredir novamente a sociedade;
g) e que as penas devem ser iguais para todos 
(sem distinção de classes).
Em suma, Beccaria entendia que as arbitrariedades 
se opunham aos interesses do bem público e da socie-
dade, razão pela qual as penas deveriam ser mais jus-
tas, moderadas e humanizadas. Ou seja, ele procurou 
fundamentar toda a legitimidade do poder de punir a 
partir dos postulados que embasavam o nascente ide-
al do “contrato social” (seriam tidas como ilegítimas 
as penas que não respeitassem este postulado). E vale 
anotar que estas premissas acaram então balizando a 
nascente criminologia, agora sim enquanto verdadeira 
ciência.
Os clássicos, que utilizavam o método abstrato e 
dedutivo (baseado no silogismo) partiam do pressu-
posto que a responsabilidade penal do criminoso ba-
seava-se sempre em sua responsabilidade moral, e se 
sustentava basicamente pelo livre arbítrio. Entendiam 
que o livre arbítrio era inerente ao ser humano, razão 
pela qual o criminoso seria aquele indivíduo que teve 
a opção de escolher o caminho correto (do bem), mas 
fez uma opção diversa (pelo caminho do mal), razão 
pela qual poderia ser moralmente responsabilizado 
por suas escolhas equivocadas.
Também eram adeptos do pensamento clássico, 
Francesco Carrara (com o clássico “Programa de di-
reito criminal”), Filangieri, Carmignani, Romagnosi, 
Ortolan, Rossi, Pessina, dentre outros. 
ESCOLA POSITIVISTA
O positivismo criminológico surge em meados 
do século XIX, sob a batuta de Garófalo, Lombroso e 
Ferri, como crítica e alternativa à criminologia clássica 
então reinante.
Apegados a um rigorismo empírico, entendiam 
que todos os fenômenos (até mesmo o da criminali-
dade) poderiam ser entendidos, teorizados e compro-
vados experimentalmente. Assim, abandonavam o 
método abstrato-dedutivo dos clássicos para operar 
sua construção na observação dos fatos e análise dos 
dados colhidos para chegar às suas conclusões.
Com isso, os positivistas acabaram também aban-
donando as ideias de livre-arbítrio e responsabilidade 
moral dos indivíduos, passando então a conceber um 
rígido determinismo nas ações humanas. Entendiam 
que todos estavam sujeitos à lei da causalidade (ato-
-efeito), e que nossos atos eram consequências inter-
nas ou externas, os quais independem da vontade do 
agente. 
A Escola de criminologia positivista italiana teve 
entre os seus grandes nomes as figuras de Lombroso 
e Ferri, os quais partiam exatamente destas premissas 
basilares para definir o crime e o criminoso, embora 
o tenham feito sob perspectivas distintas (o que, in-
clusive, nos permite dizer que a Escola positivista ita-
liana apresentou duas diretrizes opostas): enquanto 
Lombroso defendia a “antropologia criminal”, Ferri 
defendia a “sociologia criminal”.
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(I) A antropologia criminal: 
Cesare Lombroso (1835-1909), médico bastante in-
fluente e respeitado à época, um estudioso da freno-
logia e fisionomia, propôs sistematizar e organizar a 
antropologia criminal após estudar aspectos compor-
tamentais e físicos de soldados veteranos de guerra, 
enfermos mentais e criminosos de diversas localidades 
da Europa, vivos e mortos. 
Lançou então sua obra primordial, “L`Uomo de-
linquente” (O homem delinquente), na qual traçava 
uma análise dos criminosos e dos delitos cometidos, 
considerando-os fruto do atavismo, herança genética 
da idade primitiva e selvagem dos homens, o que se 
podia perceber na própria compleição estrutural do 
sujeito. 
Lombroso encontrou no criminoso uma variedade 
especial que seria caracterizada por sinais físicos e psí-
quicos. Verdadeiros estigmas que constavam de parti-
cularidades perceptíveis na calota craniana e na face, 
bem como em detalhes do maxilar inferior, nas fartas 
sobrancelhas, molares proeminentes, orelhas grandes 
e deformadas, dessimetria corporal, grande enverga-
dura de braços, mãos e pés.
Os sinais psíquicos que o caracterizavam eram a 
insensibilidade à dor (o que, segundo ele, também ex-
plicava o porquê dos criminosos comumente se tatua-
rem), a crueldade, a leviandade, a aversão ao trabalho, 
a instabilidade, a vaidade, bem como as tendências a 
superstições e precocidade sexual. 
Assim, construiu a ideia de que os criminosos for-
mavam um tipo antropológico unitário, facilmente 
perceptível por suas características físicas e psíquicas: 
nascia a figura do “criminoso nato”. De acordo com 
Lombroso, criminoso e não-criminoso se diferenciam 
entre si em virtude de uma rica gama de anomalias e 
estigmas de origem atávica ou degenerativa.
Sua teoria foi tão aceita - especialmente porque go-
zava de ares de cientificidade empírica (visto que ele 
tinha dados catalogados dos crânios e corpos de vários 
criminosos condenados) -, que influenciou fortemente 
a política criminal da época, permitindo inclusive uma 
atuaçãoprévia do Estado contra aquele que era um cri-
minoso em potencial (afinal, estava comprovada por 
sua teoria que alguns indivíduos possuíam efetiva-
mente uma predisposição à criminalidade...!). 
Portanto, o crime seria resultante de forças incitan-
tes que superavam as forças repulsivas existentes em 
cada indivíduo. Ou seja: o criminoso era visto como 
um doente (alguém que tem uma patologia), o crime 
era algo inevitável em seu comportamento, e a pena 
deveria ser o remédio aplicado pelo Estado para tentar 
curá-lo e resguardar a sociedade.
É certo que Lombroso sofreu várias críticas (espe-
cialmente por acreditar na possibilidade de se desco-
brir uma causa biológica para o fenômeno criminal), 
mas é igualmente certo que ele também firmou novas 
bases para o pensamento criminológico, e influen-
ciou o trabalho de vários outros pensadores como 
Marro, Sergi, Virgílio, Kurella, Corre, Zucarelli, Nina 
Rodrigues, dentre outros.
(II) A sociologia criminal:
Enrico Ferri (1856-1929) em sua obra “Sociologia 
Criminal” deu relevo não só aos fatores biológicos, 
como também aos mesológicos e sociológicos na etio-
logia da criminalidade.
 É sua também a denominada “Lei de Saturação 
Criminal”, onde constata que as condições sociais in-
fluenciam nos delitos praticados.
Considerava três causas possíveis de um delito, ao 
que batizou de trinômio causal: a) fatores biológicos 
(herança e constituição); b) fatores físicos (influência 
do clima); c) e fatores sociais (referentes às condições 
ambientais em que o indivíduo estava engajado). Ou 
seja, havia fatores endógenos e exógenos determinan-
tes na prática de crimes.
Veja que Ferri também não acreditava na liberda-
de da vontade psíquica do homem, e defendia a teoria 
jurídica da responsabilidade pessoal. Assim, recomen-
dava que a legislação penal devesse ser construída 
com base na periculosidade do infrator, o qual pode-
ria ser classificado em cinco variantes: os delinquentes 
natos, os loucos, o ocasional, o habitual e o passional.
ESCOLAS PÓS-POSITIVISTAS
Após toda esta movimentação teórica, o século XX 
se inicia sob o signo do ecletismo, exatamente por con-
ta dos vários caminhos que haviam sido abertos nos 
séculos passados neste ramo do saber.
No campo específico das explicações sobre o delin-
quente e a delinquência, as teorias de matriz antropo-
lógico-etiológica começaram a ser abandonas em defi-
nitivo, sendo substituídas num primeiro momento por 
teorias explicativas de índole psicológica, psicanalítica 
e psiquiatra 
Mas foi em momento posterior que se assistiu ao 
efetivo nascimento de uma nova fase na criminolo-
gia, a qual é fruto de dois eventos significativos: em 
primeiro lugar, ao aparecimento da sociologia criminal 
americana; em segundo lugar, a consolidação da crimi-
nologia socialista (em sentido estrito).
O estudo do crime e da criminalidade a partir dos 
princípios do marxismo-leninismo deu nova feição aos 
temas da criminologia, inaugurando um novo momen-
to teórico, batizado pós-positivista. Assim, a natureza 
e a estrutura das sociedades capitalistas, segundo esta 
nova Escola que surgia, era fator influente na análise 
da criminalidade e suas causas. 
Há neste momento, verdadeira ruptura de para-
digmas, pois as atenções deixam de estar focadas na 
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figura do criminoso individualmente considerado, e 
passam a atentar à figura do crime (do fato em si), en-
quanto ato biossocial. Ademais, o estudo da “microcri-
minalidade” perde fôlego, dando lugar ao estudo da 
“macrocriminalidade”. Ou seja: de um estudo focado 
no indivíduo ou em pequenos grupos, a criminologia 
passa a se preocupar com a abordagem dos fatores que 
levam a sociedade como um todo a praticar ou não 
uma infração penal.
Mas é importante destacar que com o surgimento 
destas teorias socialistas da criminalidade, houve uma 
bifurcação das pesquisas em dois grupos distintos. E 
vale notar que esta divisão leva em conta a forma pela 
qual os doutrinadores encaram a composição da socie-
dade, se consensual ou conflitiva. Surgem, assim, as 
“Teorias do consenso” (também conhecidas como teoria 
da integração ou funcionalistas) e as “Teorias do conflito 
social”.
Vejamos agora algumas premissas e concepções de 
cada uma delas.
(I) Teorias do consenso:
Para os adeptos desta teoria, a finalidade da socie-
dade só é atingida quando há um perfeito funciona-
mento de suas instituições, de modo que os indivídu-
os compartilhem os objetivos comuns a todos os cida-
dãos, aceitando todas as normatizações impostas em 
dada época.
Dentro deste grupo, podemos identificar algumas 
teorias, dentre as quais se destacam as seguintes: a 
Escola de Chicago; a Teoria da associação diferencial; a 
Teoria da anomia; e a Teoria da subcultura delinquente.
a) A Escola de Chicago (1930):
Pode-se dizer que foi uma das responsáveis por 
inaugurar a criminologia americana, em meados das 
décadas de 1920 e 1930. Partiu das construções teóricas 
de Robert Park e Ernest Burguess (especialmente com 
as obras “Introduction to the Science of Sociology” e “The 
City”), que pugnavam pela observação do homem em 
seu habitat natural – ao que, inclusive, se batizou de 
“método da observação participante”, pois ia-se até 
um local específico para observar os fenômenos cri-
minais a partir das circunstâncias que a própria socie-
dade local lhe fornecia; ou seja, o observador tomava 
parte do fenômeno social que estudava, in loco. 
Esta escola criminológica encarava o crime como 
um fenômeno intimamente ligado a uma área, a uma 
região (por isso, inclusive, alguns chamam a constru-
ção de Park e Burguess de “Teoria ecológica”).
Vale lembrar que os Estados Unidos vivam neste 
momento um período de grandes migrações e de for-
mação das grandes metrópoles. E foi focando a aten-
ção para os agrupamentos humanos que se formavam 
nos centros urbanos (os “ghettos”) que os teóricos da 
Escola de Chicago traçaram sua teoria. Diziam que as 
sucessivas ondas de imigrantes se aglutinavam segun-
do critérios rigidamente étnicos, o que deu origem a 
comunidades distintas e estanques (bairros chineses, 
bairros mexicanos, bairros mulçumanos, bairros ne-
gros, etc.).
Após seus estudos, concluíram que as grandes ci-
dades são geratrizes de crime, especialmente por con-
ta dos seguintes fatores: os controles sociais informais 
não funcionais, especialmente nos dias modernos em 
que as pessoas têm vínculos familiares e sociais mais 
reduzidos; os grupos familiares se deterioram nas 
grandes cidades; há uma alta mobilidade populacio-
nal, o que enfraquece ainda mais os vínculos pesso-
ais; há um estímulo ao consumo excessivo; há também 
uma proximidade tentadora aos centros comerciais; 
por fim, há uma superpopulação nas metrópoles. 
Em suma, o grande mérito do trabalho desenvol-
vido por esta escola criminológica foi o de explorar a 
relação entre a ocupação do espaço urbano e a crimi-
nalidade.
b) A teoria da associação diferencial (1924):
Desenvolvida inicialmente pelo sociólogo Edwin 
Sutherland, procurou observar a criminalidade sob 
uma perspectiva distinta: não mais focada nos cha-
mados crimes comuns (homicídios, furtos e estupros), 
mas sim num tipo de comportamento desviante que 
requeria conhecimento especializado e/ou habilidade, 
bem como a inclinação de alguns indivíduos para tirar 
proveito de oportunidades para usá-las de maneira 
desviante.
Captou que este comportamento diferencial é 
aprendido e promovido dentro de grupos variados, 
que vão desde gangues urbanas até grandes grupos 
empresariais (onde há fraudes mercantis, sonegações 
fiscais ou utilização de informações privilegiadas de 
maneira indevida). Foi neste contexto, inclusive, que 
se cunhou a famosa expressão“White collar crimes” 
(crimes do colarinho branco), exatamente para desig-
nar os autores destes crimes diferenciados. 
Sutherland afirmava que o homem é capaz de 
aprender a conduta desviada e associar-se a ela. Ou 
seja, o indivíduo observa e copia aquele que se con-
seguiu alguma vantagem, mesmo que de maneira cri-
minosa.
Em suma, defendia que a complexidade dos crimes, 
aliada a seus efeitos difusos na sociedade, a tolerância 
das autoridades e à impunidade usual, gerariam as 
condições ideais para a delinquência do indivíduo. 
Portanto, a teoria da associação diferencial tinha 
em mente que o crime não pode ser definido simples-
mente como uma disfunção ou inadaptação das pesso-
as pertencentes a certas classes sociais menos favoreci-
das. Afinal, sendo o crime um fenômeno social, é certo 
que se pode encontrá-lo em todos os seguimentos e 
classes.
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c) A teoria da anomia (1938):
Segundo seus doutrinadores, cujos expoentes fo-
ram Emile Durkheim e Robert Merton, a anomia é 
uma situação social onde falta coesão e ordem, espe-
cialmente no tocante a normas e valores. 
Partem da ideia de que se uma norma é definida de 
maneira demasiado abstrata, subjetiva, ambígua, ou 
então se ela é arbitrária e de ocasião (feita para tutelar 
situações caóticas de momento), esta norma gerará o 
isolamento e a autonomia do indivíduo, a ponto inclu-
sive das pessoas se identificarem muito mais com seus 
próprios interesses do que com os interesses coletivos, 
o que acaba resultando na situação de “falta (inobser-
vância) de normas”. 
A própria ideia de bem e mal perde sentido dentro 
desta perspectiva, pois o indivíduo passa a defender 
valores bastante particulares destas duas facetas (ele 
preferirá o que é bom para ele, individualmente, in-
dependente de ser o melhor para a comunidade). Há 
um enfraquecimento na consciência coletiva do que é 
certo e do é errado, ao que se chama de fragilização do 
consciente coletivo.
Em suma, entendem que o problema está no fato de 
que as normas não têm efetividade, e que esta ausên-
cia de regras para a regular as situações sociais gera os 
conflitos e os desvios.
Mas encaram que o crime é um fenômeno normal 
e comum em toda a sociedade, mas que deixa de sê-lo 
quando ultrapassa os seus limites e passa a agredir a 
própria sociedade. Assim, até mesmo a punição seria 
saudável, pois reafirma no consciente coletivo do que 
é certo e do que é errado, reafirma os valores que são 
caros à sociedade: família, propriedade, ética, etc.
ü Veja que, por esta teoria, o crime não é um fe-
nômeno exclusivo de uma classe social. Ao con-
trário, pois qualquer um pode, diante deste en-
fraquecimento do coletivo e exacerbação do “eu” 
(individualismo), tornar-se um infrator da norma. 
ü A própria nomenclatura explica a situação: ano-
mia, como o próprio nome quer dizer, é um estado 
de falta de objetivos e perda de identidade, provo-
cado pelas intensas transformações ocorrentes no 
mundo social moderno.
c) A teoria da subcultura delinquente (1950):
Foi inaugurada pelo sociólogo norte-americano 
Albert K. Cohen, com o lançamento do livro “Deliquent 
boys”. Sua teoria sustenta três ideias fundamentais: o 
caráter pluralista e atomizado da ordem social; a co-
bertura normativa da conduta desviada; e a semelhan-
ça estrutural, em sua gênese, do comportamento regu-
lar e irregular.
Assim, consagrava que “subcultura” não podia ser 
confundida com “contracultura”, pois os movimentos 
de subcultura reproduzem os valores tradicionais, mas 
com sinal invertido, com sinal negativo, sob o signo da 
intolerância com quem é diferente (ex.: como ocorreu 
com o movimento nazista); já a contracultura renega 
os valores tradicionais e propõe algo para ficar no seu 
lugar (ex: como ocorreu com o movimento hippie). 
Cohen observou o comportamento da juventude 
americana ao final dos anos 1950 e constatou a frus-
tração do “american dreams”, o sonho da prosperidade 
econômica. Ele percebeu que junto com essa frustração 
veio uma forte onda de segregação racial, de desagre-
gação familiar e criminalidade. Tudo isso fez nascer 
novos padrões de comportamento, a partir das afini-
dades inerentes a cada grupo, e a violência firmou-se 
como marco característicos desde os grupos mais no-
vos. As gangues (movimento de subcultura) surgiram 
então como uma reação à inacessibilidade aos bens da 
vida. 
(II) Teorias do conflito social:
Diferente do que ocorria com as teorias do consen-
so, para os adeptos desta teoria do conflito, a coesão e 
a ordem na sociedade são fundadas na força e na coer-
ção, na dominação de alguns e na sujeição de outros. 
Ou seja, ignora-se a existência de acordos em torno de 
valores de que depende o próprio estabelecimento da 
força.
Dentro deste grupo, podemos identificar algumas 
teorias, dentre as quais se destacam: a Teoria do labe-
ling approach e a Teoria crítica.
a) Labeling Approach (1960):
Também conhecida como “Teoria do etiquetamen-
to”, foi inicialmente firmada por Howard Becker e 
Erving Goffman, que entendiam que a criminalidade 
não devia ser lida como a qualidade de determinada 
conduta, mas sim como o resultado de um processo 
através do qual se atribui esta qualidade (um proces-
so de estigmatização). Em outras palavras, criminoso 
é apenas um rótulo, uma etiqueta que a sociedade dá a 
alguém, e que por este é recebia e incorporada. 
A teoria do “labeling approach” se insere no contex-
to das teorias do processo social, ao lado das teorias 
de aprendizagem social e de controle social. Para ela, 
o crime é uma função das interações psicosociais do 
indivíduo e dos diversos processos da sociedade. Ou 
seja, não lhes interessa as causas do desvio, mas sim os 
processos de criminalização que o gerara.
É uma corrente criminológica próxima à 
criminologia radical de cunho marxista, mas sem 
compartilhar, ao menos necessariamente, o modelo de 
sociedade configurado por esta. 
Insere-se na dogmática como uma teoria crítica, 
pois desloca a atenção (antes focada no criminoso) 
para o sistema penal e suas interações, tomando este 
sistema como o autêntico fundamento do desvio. Por 
isso, inclusive, Alessandro Baratta a define como “o 
novo paradigma criminológico”. 
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Fala-se de delito e delinquentes como consequência 
de um processo de incriminação que é levado a cabo 
por aqueles que exercem poder, e que é voltado contra 
aqueles que são menos favorecidos, que por não terem 
representação ou voz ativa, e que acabam sendo taxa-
dos de delinquentes.
Mas vale também destacar que dentro do “labeling 
approach” coexiste duas perspectivas: uma radical e 
outra moderada. A tendência radical exacerba a fun-
ção constitutiva ou criadora de criminalidade exercida 
pelo controle social: o crime é uma etiqueta que a po-
lícia, os promotores e os juízes (instâncias do controle 
social formal) colocam sobre infrator, independente 
de sua conduta ou merecimento. Já para a tendência 
moderada, somente se pode asseverar que a justiça pe-
nal se integra na mecânica do controle social geral da 
conduta desviada. 
Também foram representantes desta teoria: 
Garfinkel, Erikson, Cicourel, Becker, Schur e Sack. 
Em conclusão, os principais postulados e méritos 
do “labeling approach” foram os seguintes: deslocar o 
problema criminal da ação para a repressão (enten-
diam que o problema não estava na conduta, mas sim 
na forma em que se punia a conduta); a intervenção 
da justiça criminal gera ainda mais criminalidade, exa-
tamente porque ela estigmatiza o desviante e impedeque ele retorne à sociedade; pessoas que sofrem com 
os mesmos estigmas tendem a agrupar-se para reagir 
a esse processo; por fim, o controle social do crime é 
seletivo e discriminatório.
ü Veja então que a teoria do labelling approach 
dispõe-se a estudar, dentre outros aspectos do 
sistema punitivo, os mecanismos de reação social 
ao delito e a influência destes na reprodução da 
criminalidade.
b) Teorias críticas (1970):
Foi assim batizada exatamente por se opor rigo-
rosamente aos postulados da criminologia clássica e 
positivista. Também conhecida como “teoria radical” 
(ou “nova criminologia”), foi fortemente influenciados 
pela doutrina marxista, exatamente porque entende 
que o processo de criminalização de determinadas 
condutas se relaciona com a disciplina da mão de obra 
no interesse do capital e com a contenção dos movi-
mentos sociais.
Defende que a construção do delito depende estri-
tamente do modo de produção capitalista, e que a lei 
penal, ao seu turno, deriva e justifica esse modelo (é a 
famosa relação: cárcere e fábrica). 
Para os críticos, o Direito não é verdadeira ciência, 
mas sim ideologia. Fortemente inspirada pelas cons-
truções de Michel Foucault, concebia que o Direito é 
apenas uma forma de dominação, do forte pelo fraco. 
Assim, acaba-se criminalizando uma série de condutas 
apenas para justificar o monopólio do Estado sobre a 
violência. 
Esta lógica foi especialmente defendida por consa-
grados autores como Georg Rusche e Otto Kirchheimer 
(“Punição e estrutura social”), Loïc Wacquant (“Punir os 
pobres” e “Prisões das misérias”), bem como por Dario 
Melossi e Massimo Pavarini (“Cárcere e fábrica”).
Seguindo estas mesmas premissas da criminologia 
críticas, acabaram se destacam outras construções teó-
ricas pós-positivas, como por exemplo:
b.1) O Neorealismo de Jock Young (“A socie-
dade excludente”): que propugnava pela análise 
de novos aspectos como desemprego maciço, o 
contraste entre a riqueza e a pobreza, bem como 
o surgimento de novas vítimas até então invisí-
veis, como mulheres e crianças. Young propõe 
uma reação ao marxismo exacerbado, dizendo 
que nem tudo tem a ver com a relação econô-
mica. 
b.2) O Minimalistas de Martin Sanches: que 
propõe uma contração (redução) do sistema 
penal em certas áreas. Entendia que a crimina-
lização de certas condutas não eram relevantes 
para a sociedade, lembrando ainda que o Direi-
to penal deveria ser visto, nestes casos, como 
a última ratio. Por outro lado, também propôs 
uma maior efetividade do Direito penal em ou-
tras áreas, especialmente naquelas de interesse 
supraindividual. 
b.3) O Abolicionismos de Thomas Mathiesen: 
que fez uma crítica arrasadora ao sistema penal, 
aduzindo que ele não resolve nada, que não ser-
ve para nada, e que apenas gera maiores proble-
mas. Trouxe em primeira mão a ideia de que as 
pessoas saem da cadeia pior do que entraram, e 
que se a aplicação da pena ao infrator, visando 
a redução da criminalidade, é o fundamento da 
própria existência do Direito penal, este ramo 
do saber jurídico é falho e não cumpre sua mis-
são oficial. Conclui sua tese aduzindo que, uma 
vez constatado que o Direito penal não cumpre 
sua missão, não há razão para sua existência, ra-
zão pela qual deve o mesmo ser abolido.
03 EXPOENTES DA CRIMINOLOGIA
Além dos já citados Beccaria, Lombroso, Ferri, etc., 
outros nomes se destacaram ao longo das construções 
teóricas da criminologia. Sejam eles médicos, antropó-
logos, sociólogos ou psiquiatras, de uma forma ou de 
outra contribuíram para o desenvolvimento teórico da 
matéria. 
Assim, a título de anotação, optou-se por trazer a 
lume breves considerações sobre alguns deles, de acor-
do com as perspectivas almejadas em seus trabalhos e 
estudos.
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OS PENÓLOGOS
Foram os primeiros a estudar o fenômeno da pena 
e o nascente direito penitenciário. Fizeram estudos 
sobre o comportamento penitenciário, a influência do 
clima na prática dos crimes, e as consequências desas-
trosas de um sistema punitivo abusivo. Dentre eles, 
destacaram-se:
a) Jeremy Bentham (1748-1832): juntamente com 
Beccaria e outros, teve uma importante participação 
no trabalho de reforma penal que nasceu no período 
iluminista. Ele é considerado o criador da Filosofia 
utilitarista, que alicerça seu fundamento no seguinte 
postulado: “O maior bem-estar para o maior número 
de pessoas”. Nesta doutrina estaria inserida toda uma 
estratégia de profilaxia ou prevenção de criminalida-
de. Entendia que o interesse é o único móvel das ações 
humanas.
Foi ele também que desenvolve toda a teoria en-
torno da estrutura do “panóptico”. Bentham estudou 
racionalmente o sistema penitenciário e criou então 
um projeto de prisão circular, onde um observador 
poderia ver todos os locais onde houvesse presos e 
controlá-los pela vigilância constante. Foi este projeto, 
inclusive, que possibilitou a disseminação de disposi-
tivos disciplinares, a exemplo do próprio panóptico; 
ou seja, de um conjunto de dispositivos que permitiam 
vigilância e controle social cada vez mais eficientes e 
menos custoso.
b) John Howard (1726-1790): se revelou um exce-
lente penitenciarista e se dedicou à melhoria das pri-
sões. Foi o responsável pela abolição de uma prática 
comum, que era a de manter encarcerados os que já 
haviam cumprido pena, ou daqueles que, mesmo ab-
solvidos, não podiam pagar a “hospedagem” (visto 
que as prisões eram exploradas por particulares). Ele 
escreveu a obra “The State of Prisions”, traçando um 
sistema penitenciário que conseguia favorecer os en-
carcerados. Por isso, é comum encontrar menções no 
sentido de que ele foi o verdadeiro criador do sistema 
penitenciário moderno.
c) Adolphe Quetelet (1796-1874): foi um matemá-
tico belga, e escreveu célebre a obra “Física social”, no 
qual trazia alguns conceitos penais, aduzindo que o 
crime era um fenômeno social influenciado pela mi-
séria, analfabetismo, e especialmente pelo clima. Foi o 
criador da estatística científica.
Baseando-se em três princípios, estabeleceu as cha-
madas “Leis térmicas de Quetelet”, na qual procurou 
demonstrar que no inverno se praticam mais crimes 
contra a propriedade, que no verão são cometidos 
mais crimes contra a pessoa, e na primavera acontece 
mais crimes sexuais.
Quetelet também distinguiu a criminalidade femi-
nina da masculina, tentou correlacionar o crime à ida-
de cronológica do criminoso, observando que a inci-
dência delitiva é maior entre os 14 e 25 anos no homem 
e, na mulher, entre 16 e 17 anos.
OS FISIOGNOMISTAS E FRENÓLOGOS
Os primeiros estudaram o caráter das pessoas de 
forma naturalista, especialmente pela análise dos tra-
ços do rosto. Os segundos estudaram a configuração 
do crânio com suas preponderâncias e depressões. 
Indicavam traços característicos na fisionomia e no 
crânio dos criminosos, e inspiraram a futura crimino-
logia positivista. Neste campo, destacaram-se:
a) João Batista Della Porta (1535-1615): escreveu a 
obra “Fisionomia humana”, no qual dizia que o ho-
mem se caracteriza pela escassez de sinais. Assim, o 
ladrão teria orelhas pequenas, sobrancelhas juntas e 
espessas, olhos móveis; o epilético se caracteriza pela 
exoftalmina, os ombros agudos e delgados; os violentos 
pela fronte circular, com rugas e unidas no centro; etc.
Relacionava a semelhança fisionômica dos crimino-
sos com os animais selvagens (por exemplo, destacou 
a semelhança do ministro francês Talleyrand com a 
raposa; ou a semelhança de outro francês, o general 
Kleber, com um leão).
b) Kaspar Lavater (1741-1801): desenvolveu a teoria 
da “expressão da alma nos traços do rosto”, baseando-
-se nacrença de que o criminoso traz os sinais escritos 
em seu rosto. Valia-se do método indutivo, examinan-
do o perfil do rosto e gestos para traçar um perfil do 
indivíduo.
c) Brocca (1824-1888): era médico cirurgião, e foi 
ele quem descobriu o centro da linguagem no cérebro 
humano, bem como a assimetria funcional dos dois 
hemisférios: o esquerdo correspondendo à inteligên-
cia, linguagem e cultura, o direito aos baixos instintos. 
Dizia que, em razão disso, predominada nos crimi-
nosos o desenvolvimento do hemisfério direito. Para 
ele, havia uma relação entre a personalidade do delin-
quente e o ato delitivo.
d) Franz Gall (1758-1828): é considerado o criador 
da frenologia. É dele também a teoria sobre vultos cra-
nianos, que posteriormente veio a influenciar a teoria 
lombrosiana. Gall organizou um mapa dessas saliên-
cias a indicarem a conduta predominante no indiví-
duo, desde a passividade absoluta à rebeldia incontro-
lável, a bondade ou a maldade, a honestidade e sua 
inteligência maior ou menor.
Dizia que os delitos de sangue aconteciam mais co-
mumente entre os indivíduos com instinto carnívoro; 
o instinto da vagabundagem se manifestava por acen-
tuadas rugas frontais; os larápios tinham uma proe-
minência da fossa temporal do osso frontal; os crimi-
nosos sexuais tinham um desenvolvimento maior na 
parte posterior da cabeça, com grande crescimento do 
crânio; etc. 
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e) Jean Lauvergne (1797-1859): estudou os conde-
nados a trabalhos forçados nas prisões francesas, che-
gando a conclusões semelhantes às de Gall.
f) P. Lucas (1805-1885): estudou as inclinações para 
o crime em alguns indivíduos, e chegou a conclusões 
de que os mesmos tinham uma base congênita e here-
ditária.
OS PSIQUIATRAS
Vale anotar que a psiquiatria (em sentido amplo) 
influenciou muito a construção da criminologia en-
quanto ciência, e durante certo tempo ditou tendência 
na seara penal. Dentre os psiquiatras, destacam-se:
a) Felipe Pinel (1745-1826): criador da moderna 
psiquiatria, foi o responsável pelo desacorrentar dos 
alienados mentais, que até então eram tratados com 
rigorismo, segregação e sem tratamento adequado. 
Ele passou a tratá-los como doentes, e não mais como 
objetos indesejados pela sociedade. Influenciou muito 
na estruturação dos manicômios judiciários e futuras 
medidas penais de segurança.
Pinel recomendava que o louco deveria ser adequa-
damente tratado e não sofrer violências que só contri-
buíam para o agravamento de sua doença. É célebre 
o episódio ligado ao paciente Chevigné, um soldado 
encarcerado na La Sante, que segundo Pinel, quando 
foi desacorrentado “chorava como uma criança ao se 
ver tratado como uma criatura humana”.
b) Domingo Esquirol (1772-1840): estudou um ele-
vado número de criminosos doentes mentais, e tentou 
estabelecer uma ligação entre a loucura e o crime.
Foi o criador do conceito de monomania, que gerou 
uma nova concepção psiquiátrica da loucura moral, e 
acabou sendo definida ao final do século XVII pelo 
médico Thomas Abercromby, como sendo característi-
ca de alguém com bom nível de inteligência, mas com 
graves defeitos ou transtornos morais.
c) Próspero Despine (1812-1892): mostrou as taras 
degenerativas de crianças perversas e criminosas, fir-
mando também uma ligação entre loucura e crime.
OUTROS NOMES
a) Raphael Garófalo (1852-1934): foi quem inaugu-
rou a utilização do termo “criminologia” para desig-
nar essa ciência. Para Garófalo, a criminologia tinha 
uma tríplice preocupação: o estudo da criminalidade, 
do delito e da pena. Mas é de se ver que ele elaborou 
sua concepção de delito natural partindo da ideia lom-
brosiana do criminoso nato.
O Direito Penal não era monopólio dos juristas, 
mas também de interesses dos sociólogos. Apregoava 
que os verdadeiros delitos ofendiam a moralidade ele-
mentar e revelavam anomalias nos que os praticam.
Entendia que existem duas espécies de delitos: os 
legais e os naturais, sendo que os primeiros eram va-
riáveis de país para país, e não eram necessariamente 
fruto de anomalias do indivíduo. Já os delitos naturais 
seriam aqueles que ofendem os sentimentos altruístas 
fundamentais de piedade e probidade, sendo portan-
do frequente a presença de anomalias patológicas.
Para Garófalo, era possível identificar quatro ca-
tegorias de criminosos: 1ª) os assassinos (aqueles que 
agridem os sentimentos de piedade); 2ª) os ladrões 
(que agridem os sentimentos de probidade); 3ª) os vio-
lentos ou energéticos (que infringem ambos os senti-
mentos); 4ª) e os cínicos (que são aqueles que cometem 
os crimes sexuais).
b) Augusto Comte (1798 - 1857): é considerado o 
fundador da sociologia moderna, uma ciência abstrata 
que tem por fim a investigação das leis gerais que re-
gem os fenômenos sociais.
Sua ideia foi baseou-se no estudo do ser social, e 
tem como método a observação e a indução. 
O alicerce fundamental da sua obra é, indiscutivel-
mente, a «Lei dos Três Estados», segundo a qual a hu-
manidade avança de uma época bárbara e mística para 
outra civilizada e esclarecida, em melhoramentos con-
tínuos e, em princípio, infindáveis - sendo essa marcha 
o que explicaria a marcha da história.
c) Lacassagne (1843 - 1924): também médico, opôs-
-se à tese de Lombroso, pois via três zonas diversas no 
cérebro humano, cada uma com uma função diversa 
- as quais seriam responsáveis por reger as faculdades 
do indivíduo: a zona frontal (responsável pelos as-
pectos intelectuais); a zona parental (responsável por 
questões volitivas); e a zona occipital (que cuida de 
questões afetivas).
Dizia que quando há perturbações na zona frontal 
aparece o louco; na zona parietal advém a debilidade 
de vontade, o que permite o aparecimento do delin-
quente ocasional; e na zona occipital, quando faculda-
des afetivas ficam perturbadas, aparece o verdadeiro 
delinquente - ou seja, o indivíduo predisposto para o 
crime, o qual, quando as condições do meio e/ou seu 
próprio egoísmo o movam, desandará para o caminho 
da criminalidade.
Entendia também que quanto maior fosse a desor-
ganização social, maior seria a criminalidade. Dizia 
que a sociedade é como um meio de cultivo, e afirma-
va que abriga em seu seio uma série de micróbios (que 
são os delinquentes e que estes, não se desenvolverão, 
se o meio não lhes for propício).
Em suma, para Lacassagne, os fatores sociais atu-
ando sobre um indivíduo predisposto, é o que pode 
dar origem ao fenômeno do crime. 
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d) Jean-Gabriel de Tarde (1843 — 1904) não acei-
tava as ideias de Ferri sobre o trinômio criminogenéti-
co (fatores físicos, sociais e biológicos), e acrescentava 
que a influência do clima não está comprovada como 
fator criminal.
Tarde começa a sua carreira teórica primeiro na 
Criminologia, publicando vários artigos e ensaios, nos 
quais entra em polêmica com Lombroso. Para além da 
Criminologia, publica também artigos nas áreas da 
Sociologia, Filosofia, Psicologia Social e Economia.
e) Franz Von Liszt (1851– 1919): é considerado o 
pai da política criminal, e sua obra foi “Princípios de 
Política Criminal”, publicada em 1889. Entendia que a 
política criminal seria o conjunto sistemático de prin-
cípios segundo os quais o Estado e a sociedade devem 
organizar a luta contra o crime. Por isso, muitos dou-
trinadores entendem a política criminal como ciência 
e a arte dos meios preventivos e repressivos de que 
o Estado, no seu tríplice papel de Poder - Legislativo, 
Executivo e Judiciário - dispõe para consecução de 
seus objetivos na luta contra o crime.04 VITIMOLOGIA
DELIMITAÇÃO DO TEMA
A vitimologia é o ramo da criminologia que estuda 
o comportamento da vítima de um crime, com a ava-
liação das causas e dos efeitos da ação delitiva sobre 
ela e o incremento do risco da ocorrência do delito. 
É um braço da ciência criminológica (embora al-
guns digam que é uma ciência autônoma) que foca 
suas atenções exclusivamente nas vítimas de um crime 
e nos processos de vitimização.
Há quem diga nesta seara, que muitos delitos só 
são provocados pela atuação da própria vítima. E esta 
ideia de que o comportamento da vítima muitas vezes 
pode até chamar a existência de um crime, fez surgir 
uma ciência paralela, batizada de “vitimo-dogmática”, 
a qual se ocupa especificamente da análise minuciosa 
da participação do ofendido no incremento do risco da 
ocorrência do delito. 
Alguns nomes importantes no estudo da vitimo-
logia foram: o professor alemão de criminologia Von 
Hentig (que escreveu, em 1948, a obra “O criminoso e suas 
vítimas”), o mestre israelita Benjamin Mendelsohn, e os 
criminólogos mexicanos Luiz Rodriguez Manzanera e 
Maria de La Luz Lima.
Quanto aos objetivos, pode-se dizer que a vitimo-
logia procura alcançar três perspectivas essenciais: 1ª) 
analisar e compreender a magnitude do problema que 
envolve a vítima de um crime; 2ª) explicar as causas 
de vitimização; 3ª) desenvolver um sistema que possa 
reduzir a vitimização e dar assistência às vitimas. 
Em suma: a vitimologia deve ter como meta a 
orientação para a maior proteção dos indivíduos, con-
tribuindo para tornar a vida em sociedade mais segura 
e menos violenta. 
ü Por “vítima”, deve-se entender qualquer pessoa 
que tenha sofrido, física ou moralmente, alguma 
violação a bem jurídico seu provocado por ato de 
terceiro.
ü Por “vitimização”, deve-se entender o processo 
pelo qual alguém (indivíduo ou grupo) se autoviti-
miza ou vitimiza outrem.
Ao final, vale observar que a doutrina fala de uma 
tríplice esfera no processo de vitimização, a qual pode 
ser: primária, secundária e terciária. 
a) Vitimização primária: são as consequências 
do delito que atingem diretamente o ofendido. 
É aquela provocada pela conduta violadora dos 
direitos da vítima – pode causar danos mate-
riais, físicos, psicológicos, dentre outros.
b) Vitimização secundária: também conhecida 
como “sobrevitimização”, dizem respeito aos 
ônus da burocracia; aquela causada pelas ins-
tâncias formais de controle social, no decorrer 
do processo de registro e apuração do crime. Ou 
seja, é a vitimização gerada pelo próprio Estado, 
inclusive quando demora a dar uma resposta ao 
crime (casos dos longos processos criminais, 
muitos quase infindáveis no tempo). 
c) Vitimização terciária: é levada a cabo no 
âmbito dos controles sociais, mediante o 
contato da vítima com o grupo familiar ou em 
seu meio ambiente social, como no trabalho, 
na escola, nas associações comunitárias, na 
igreja ou no convívio social. Por outro lado, há 
autores que entendem que esta também pode 
referir-se ao próprio autor do fato criminoso 
(seria a hipótese em que o criminoso se torna 
vítima de uma punição desproporcional face as 
sevícias no cárcere, cárcere lotado, etc.).
TRAÇOS HISTÓRICOS NO TRATO DA VÍTIMA
Como visto no início deste material, a vítima do cri-
me recebeu trato bastante variado ao longo das cons-
truções históricas da criminologia e suas ciências corre-
latas (direito penal e processo penal), e essas alterações 
podem ser identificadas em três momentos especiais: 
uma primeira fase em que a vítima era valorizada, em 
que estava no centro das atenções; uma segunda fase 
de latência, onde ela é deixada totalmente de lado; e 
um terceiro momento, atual, de revalorização.
a) Primeira fase: a “vítima de ouro”.
Em um primeiro momento, que se operou des-
de os primórdios da civilização até a Idade Média, é 
possível observar que a vítima possuía um papel bas-
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tante importante na gênese do delito, até porque viví-
amos um período em que reinava a lógica da vingança 
privada, da autotutela e do talião (“olho por olho, den-
te por dente”).
Neste momento, o Estado ainda não estava estru-
turado como o concebemos hoje, razão pela qual era o 
próprio particular o responsável por tutelar seus inte-
resses. Assim, se fosse vítima de um fato delitivo, com-
petia-lhe (ou a algum de seus familiares) perquirir a res-
ponsabilidade do infrator e sancioná-lo, se fosse o caso.
 Esta fase ficou conhecida como “vítima de ouro”, 
dado o papel de destaque e relevância em que ela se 
encontrava neste processo.
b) Segunda fase: “período de latência”.
Ao término da Idade Média, com o advento dos 
Estados modernos, a vítima passa por uma fase de to-
tal neutralização. Ela deixa de ter o poder de reação so-
bre o fato delituoso, que é assumido e monopolizado 
pelo Estado soberano. 
É também o momento em que a sanção penal 
ganha nova feição: a pena passa a ser uma garantia 
para a ordem coletiva e não mais para o particular. Ou 
seja, a sanção não era mais aplicada para proteção da 
vítima, mas do Estado e da sociedade.
Assim, uma vez que a vítima não era mais a respon-
sável por realizar a persecução criminal e sancionar o 
infrator (o que, inclusive, lhe passou a ser proibido), 
ela acaba sendo renegada a um plano de indiferença 
sob a perspectiva jurídico-penal. Anota-se, inclusive, 
que muitas vezes ela sequer era chamada ao processo 
para prestar o seu depoimento.
c) Terceira fase: “revalorização da vítima”.
Eis que a vítima passa, tempos depois, a retomar 
parte do lugar de destaque que ocupava antes. Não em 
todos os casos e crimes, mas ao menos em alguns.
De início, ela começa a ser presença marcante nos 
atos de instrução, trazendo ao Juiz a sua versão dos 
fatos (mesmo sem o compromisso de dizer a verdade 
destes). Após, com a criação de institutos que depende 
ou mesmo que autorizam a vítima a decidir pela reali-
zação e continuidade da persecução criminal.
A título de exemplo, podemos anotar os seguintes 
institutos: a necessária representação do ofendido nos 
casos de ação penal pública condicionada; a necessida-
de de ofertar queixa-crime nos casos de ação penal de 
iniciativa privada; a possibilidade de composição civil 
dos danos nos crimes de menor potencial ofensivo; a 
desistência do direito de queixa/representação e o per-
dão do ofendido; etc.
Diz-se, inclusive, que foi a partir deste momento 
que nasceu o estudo da vitimologia, enquanto braço 
específico da criminologia.
05 PENOLOGIA
DELIMITAÇÃO DO TEMA
A sanção penal, como já observado, constitui um 
dos objetos de estudo das ciências criminológicas, e 
por possuir toda uma série de particularidades, é pos-
sível trabalhá-la com uma abordagem própria e indivi-
dualizada, por meio da “penologia” – o estudo da pena 
(em sentido amplo).
MOMENTOS HISTÓRICOS
É possível traçar breve digressão acerca do trato 
das penas nos vários ordenamentos jurídicos e 
nações ao longo dos tempos. Em suma, verifica-se que 
partimos de um período de “vingança privada” para 
chegar a um período que se pode batizar de “nova defe-
sa social”. Vejamos alguns dos principais traços desses 
momentos:
a) Período da vingança privada: 
Desde os primórdios da humanidade até o início 
da Idade Média, figurou de maneira preponderante a 
lógica da vingança privada – a qual, inclusive, chegou 
a estar expressamente institucionalizada em diplomas 
legislativos, como o Código de Hammurabi.
Neste primeiro momento histórico, o Estado ainda 
não estava devidamente estruturado, e a aplicação do 
Direito estava centrada nas mãos do próprio particu-
lar, que era o responsável por realizar a persecução 
criminal e aplicar a sanção contra o infrator (consoantejá observado).
Mas é de se anotar que não havia grande raciona-
lidade na aplicação do Direito neste momento, tanto 
é assim que passou a valer a lei do mais forte, afinal, 
somente estes conseguiam efetivamente resgatar seus 
débitos perante um infrator.
b) Período da vingança divina:
Quando a Igreja medieval ascendeu ao poder (não 
apenas religioso, mas também político, jurídico e eco-
nômico), o Direito passou a ser aplicado não mais em 
nome dos particulares, mas sim da própria Igreja. 
Nesta toada, o particular é deixado de lado na seara 
penal, encerrando-se o período da vingança privada e 
inaugurando-se o período da vingança divina.
Quem passa a ditar as regras jurídicas é Igreja, e a 
pena passa a ter como fundamento uma entidade su-
perior: a divindade. A partir deste momento, a puni-
ção passa a ser aplicada não mais para recuperar um 
débito da vítima, mas sim para aplacar a ira divina e 
purificar a alma do criminoso perante Deus.
Foi o período da Inquisição, onde se confun-
diam os interesses da Igreja com os jurídico-penais. 
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Instauraram-se os “Tribunais do Santo Ofício” e as 
penas ficaram demasiado cruéis: torturas ao longo do 
processo em busca de confissões, ordálias, provas de 
fogo, forca e esquartejamento eram práticas comuns e 
regulamentadas pelo Direito da época. 
c) Período da vingança pública:
Eis que então se iniciam revoltas contra os abusos 
da Igreja, e isso acaba desencadeando uma separação 
entre ela e o Estado, o qual avoca para si a responsabi-
lidade de ditar o Direito e exercer – com exclusividade 
– o poder. Nascem assim os Estados soberanos e uma 
nova ideia: a pena não mais serviria para atender aos 
interesses dos particulares ou da Igreja, mas sim os in-
teresses do próprio Estado, como forma de manter sua 
hegemonia e estrutura.
É o que a doutrina batiza de período da vingança 
pública, pois a pena ainda não era aplicada para 
atender efetivamente aos clamores sociais, mas sim 
os desejos particulares do soberano - o que ainda 
legitimava a prática de certas penas cruéis.
d) Período da humanização:
Com o advento do Iluminismo, nasceu também a 
criminologia enquanto ciência (Escola clássica), cla-
mando então por uma humanização nas sanções pe-
nais. 
Inspirados pelo pensamento filosófico da época, os 
doutrinadores do direito penal passaram a defender 
que uma pena só seria justa se fosse necessária e pro-
porcional.
Esta preocupação com o indivíduo passou a estar 
no centro das atenções, o que fez surgir o período hu-
manitário das penas.
e) Período científico:
Ocorre que logo após, houve grande retrocesso no 
trato da pena, especialmente firmado com o advento 
da Escola positivista, que passou a ver o crime como 
uma doença, e a pena como o remédio para tal.
Assim, a busca por uma pretensão “cura” acabou 
legitimando uma série de intervenções diretas no cor-
po do acusado, resgatando-se perspectivas cruéis de 
punição, como - por exemplo - a prática de lobotomia 
nos presos.
f) Período da nova defesa social:
Encerrado o apogeu do período científico, passou-
-se a propugnar por novos valores à pena, e até mesmo 
numa forma de resgatar os valores centrais nascido ao 
longo do período humanitário.
A partir de então, não mais se aplicaria a pena para 
vingança pessoal, da Igreja ou do Estado, e nem mes-
mo para tentar curar o indivíduo. Deste momento em 
diante, a pena deveria ser aplicada apenas em prol e 
na defesa da coletividade. O Estado e o Direito só se 
legitimam para a proteção dos interesses coletivos, e a 
pena deve ter o mesmo viés e finalidade.
Três são os postulados básicos deste novo mo-
mento histórico: 1º) a pena não tem o caráter apenas 
expiatório, pois interessa também para a proteção da 
sociedade; 2º) a pena, além de ser exemplar e retribu-
tiva, tem o escopo de melhorar o delinquente, de ree-
ducá-lo; 3º) a justiça penal deve ter sempre em mente 
a pessoa humana e sua dignidade, a qual não pode ser 
desrespeitada.
MODELOS DE JUSTIFICAÇÃO
Várias foram as propostas apresentadas ao longo 
da história para justificar a existência e legitimar apli-
cação de uma pena. Assim, é possível verificar que os 
códigos e constituições propagaram discursos varia-
dos para tentar responder à seguinte questão: Qual a 
finalidade da pena?
Neste afã, o discurso oficial produziu três grandes 
discursos (teorias) sobre o tema: teorias absolutas, teo-
rias relativas e teorias mistas. Vejamos alguns detalhes 
de cada uma delas.
a) Teorias Absolutas: 
Para os adeptos dessa teoria, a pena é um instru-
mento de retribuição ao crime. Ou seja, ela traduz a 
ideia de expiação, de reparação, de compensação do 
mal que é um crime. Assim, a pena é algo que serve 
exclusivamente para castigar o agente que infringiu 
uma norma penal.
As primeiras aparições desta lógica remontam a 
Protágoras e Platão, que seguiam a máxima: “punitur, 
quia peccatum est” (pune-se quem pecou...!). E veja que 
esta ideia encontrava respaldo também na Lei taliôni-
ca: “olho por olho, dente por dente”. Nesta toada, a pena 
seria a justa paga do mal que o crime concretizou. 
Vale destacar que alguns doutrinadores foram 
expoentes deste modelo de justificação. Entre eles, 
Immanuel KANT (“A metafísica dos costumes”), que 
qualificava a pena como um imperativo categórico 
(algo que tem em si mesmo sua justificação; no sen-
tido de que ela existe porque deve existir); e também 
Georg W. Friedrich HEGEL (“Princípios da filosofia do 
Direito”), que dizia que o crime é a negação do Direito 
(o qual, por sua vez, deve ser visto como a expressão 
racional do pensamento de uma sociedade), e que a 
pena serviria como forma de negação do crime, resta-
belecendo a ordem jurídica abalada.
Mas estas teorias foram alvos de várias críticas, 
dentre as quais se destaca: o fato delas confundirem 
a noção de Justiça com a noção de Direito (lembre-se 
que o primeiro conceito, diferente do segundo, não é 
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variável no tempo; razão pela qual não é válido defen-
der que a pena serve para fazer justiça). Ademais, não 
há um alegado direito natural de se aplicar uma pena 
ao criminoso, como querem os adeptos da teoria abso-
luta; e mesmo que houvesse, tal seria um conceito in-
seguro (pois dependeria de quem exercer o poder em 
dado momento). Por fim, as perspectivas que dizem 
que a pena figura como imperativo categórico, acabam 
por não delinear uma verdadeira função à pena. Ou 
seja, a pena não teria uma verdadeira finalidade sob 
este ponto de vista.
b) Teorias Relativas: 
Para os adeptos desta teoria, a pena serve como ins-
trumento de prevenção delitiva. Essas teorias buscam 
um sentido social-positivo para a pena, partindo sem-
pre do pressuposto que ela é um instrumento de polí-
tica criminal destinado a atuar no mundo real. Assim, 
ela sempre terá um fim maior a cumprir: a de profila-
xia criminal.
Tais teorias surgiram com a decadência do Estado 
liberal e o advento do Estado social, onde novos enfo-
ques foram propugnados para o Direito penal e para 
sua reprimenda. Neste modelo, passou-se a questionar 
a pena fundada unicamente na ideia de retribuição, e 
o argumento principal era o de que ela estaria carente 
de uma finalidade social. Assim, a ideia de utilidade 
passou a acompanhar a construções jurídicas sobre a 
pena, e tudo isso começou com o trabalho de Beccaria 
(defensor do contratualismo, o qual entendia que a 
pena serviria exatamente para manter o “contrato so-
cial” entre os cidadãos e o Estado). Ou seja, a pena, 
antes de castigar, deveria evitar arealização de novos 
delitos.
Mas é de se destacar que existem duas perspectivas 
distintas de prevenção: a prevenção poderia ser geral 
ou especial. Vejamos.
(b.1) Prevenção geral: a pena é vista como ins-
trumento político-criminal destinado a atuar 
(psiquicamente) sobre a generalidade dos mem-
bros da comunidade, afastando-os da prática de 
crimes através da ameaça penal instituída pela 
lei, da realidade da aplicação judicial das penas 
e da efetividade da sua execução. Ou seja, é tida 
como “prevenção geral” porque está voltada 
para toda a coletividade.
Foi com Anselm Von Feuerbach que esta teoria 
se firmou cientificamente, com base na intitulada 
“Doutrina da coação psicológica”. Dizia o jusfilósofo 
que a finalidade precípua da pena seria a de criar no 
espírito dos potenciais criminosos um motivador con-
trário forte o bastante para afastá-lo do crime. Dizia 
também que a alma do criminoso potencial funciona-
ria tal qual a arena, onde se digladiam as motivações 
conducentes ao crime e as contra-motivações deriva-
das do conhecimento do mal da pena.
E esta prevenção geral pode ser identificada em 
duas frentes: (b.1.1) prevenção geral negativa, tradu-
zindo a ideia de intimidação (a pena seria uma forma 
de intimidar a coletividade, para que as outras pes-
soas, através do mal que ela impõe, não cometessem 
delitos); (b.1.2) prevenção geral positiva, traduzindo a 
ideia de integração (como defende Günther Jakobs, a 
pena seria a forma pela qual o Estado mantém e refor-
ça a confiança da sociedade na validade e na vigência 
de suas normas).
ü Veja então que é com base na teoria da preven-
ção geral negativa que o legislador aumenta penas 
na crença de conter a criminalidade com a ajuda 
do Código Penal.
(b.2) Prevenção especial: aqui, a pena é vista 
como instrumento de atuação preventiva sobre 
a pessoa do infrator propriamente dito, com o 
fim de evitar que ele, no futuro, cometa novas 
infrações (seria, pois, uma verdadeira “preven-
ção de reincidência”, nas palavras de Eser). Ou 
seja, não se volta para a coletividade, mas sim 
para o próprio indivíduo.
Tal ideia surge na segunda metade do século XIX, 
com a Escola correcionista Ibérica (especialmente com 
Krause e Roeder, que se baseavam nas ideias de que 
todo homem pode ser corrigido, e a pena serviria para 
dar este auxilio). Todavia, elas ganham expressão por 
força das Escolas positivo-sociológicas (especialmente 
as de origem italiana e alemã, com Ferri e Von Liszt). 
Em suma, a ideia era de que a pena se mede com cri-
térios preventivo-especiais, segundo os quais a aplica-
ção da reprimenda deve sempre obedecer a uma ideia 
de ressocialização e reeducação do infrator, à intimi-
dação daqueles que não necessitem ressocializar-se, e 
também para neutralizar os incorrigíveis.
E a prevenção especial, a seu turno, se divide em: 
(b.2.1.) Prevenção especial negativa, tradu-
zindo a ideia de neutralização (leia-se: de se-
gregação individual - a pena teria um efeito 
de pura defesa social, através da separação 
do delinquente da sociedade); 
(b.2.2) Prevenção especial positiva, traduzin-
do a Idea de ressocialização do preso (a pena 
deve alcançar a reforma interior do infrator; 
emendando o criminoso para que incorpore 
valores conforme a ordem social, para só de-
pois ser reintegrado à sociedade livre).
Mas essas teorias também foram alvo de críticas, 
em especial porque: ao aplicar a pena em nome de fins 
utilitários ou pragmáticos, o ser humano estaria se tor-
nando mero objeto de expiação (e isso afronta o prima-
do da dignidade). Uma segunda crítica aduz que apli-
car a pena para defender a norma, em si considerada, 
poderia legitimar Estados totalitários (como ocorreu 
no período do nazismo). Por fim, os críticos aduzem 
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que os fins de prevenção são falsos, pois os índices de 
criminalidade só tendem a crescer (até porque, não se 
pode crer que o sistema penitenciário tenha a possibi-
lidade de tornar o infrator um sujeito sociável).
ü Veja então que, além de atribuir à pena priva-
tiva de liberdade a finalidade reeducadora (algo 
inalcançável segundo os críticos), atrás das ideias 
utilitárias da prevenção especial sempre há uma 
confusão entre direito e moral e entre crime e pe-
cado.
c) Teorias Mistas:
Também conhecidas como teorias unificadoras, 
conciliatórias ou ecléticas, buscam uma conciliação 
entre as perspectiva anteriores, o que se dá de duas 
formas: de uma pena preventiva, por meio da justa re-
tribuição; ou então, de uma pena retributiva, no seio 
da qual se procura realizar as ideias de prevenção (ou 
seja, hora dando ênfase à prevenção e hora a repres-
são).
O primeiro grande expoente desta lógica foi Merkel, 
ao aduzir que prevenção e retribuição são aspectos 
distintos de um mesmo e complexo fenômeno: a pena. 
Também Maurach, ao defender que a pena deve ser 
vista como retribuição da culpabilidade e como forma 
de ressocializar o infrator. E a mesma lógica é defendi-
da por Figueiredo Dias e por Claus Roxin (que intitu-
lou sua tese de “Doutrina dicrônica dos fins da pena”, 
dizendo que no momento da cominação legal, estaria 
ela exercendo a função de prevenção geral; no momen-
to de sua aplicação no caso concreto, seria retributiva; 
por fim, no momento de sua execução, estaria cum-
prindo o papel de prevenção especial.
Mas como ocorre com as anteriores, as teorias mis-
tas também foram criticadas: a principal crítica segue 
no sentido de que tais teorias tentam conciliar postula-
dos eminentemente opostos (o que causa uma contra-
dição). Ademais, aduzem os críticos que, quando não 
há um princípio unificador, não se pode sequer falar 
em verdadeiro sistema de penas.
ü Não obstante às críticas, é de se ver que a teo-
ria mista foi formalmente adotada pela legislação 
penal brasileira – conforme se verifica da parte fi-
nal do art. 59 do CP. Então, no Brasil, a pena serve 
para “reprimir e prevenir delitos”.
DISCURSOS CRÍTICOS DA PENA
Por outro lado, vale observar que as teorias su-
pramencionadas traduzem apenas o discurso oficial 
(aquele que é propagado pelo Estado sua legislação). 
Ocorre que a doutrina crítica, especialmente baseada 
em estudos criminológicos, aduz que tais discursos 
não se prestam a traduzir a real função da pena. E 
dentre os vários discursos críticos, vale anotar os se-
guintes.
a) Crítica agnóstica da pena: 
Desenvolvida por Zaffaroni e Nilo Batsita, parte do 
pressuposto que a pena criminal é um ato de poder po-
lítico correspondente ao mesmo fundamento de uma 
guerra: a vingança (consoante nota histórica de Tobias 
Barreto). Aduz que nem a pena e nem o Direito pe-
nal se prestam à resolver problemas sociais, razão pela 
qual não há sentido em sua existência, que não o argu-
mento da vingança (do Estado e da sociedade contra o 
infrator). E se este é o fim da pena, torna-se imperioso 
conceber que a pena é baseada em um argumento ir-
racional, contrários aos clamores de um Estado demo-
crático de Direito.
b) Crítica dialética da pena:
Teve como expoentes, Pasukanis, Rusche e 
Kirchheimer, Michel Foucault, Melossi, Pavarini e 
Alessandro Barata. Estes doutrinadores partem do 
pressuposto que a estrutura material das relações eco-
nômicas do capitalismo se baseia no princípio da “re-
tribuição equivalente”, e isso ocorre em todos os níveis 
da vida social: do trabalho pelo salário, na produção 
de bens e serviços; da mercadoria pelo preço, na dis-
tribuição dos bens e serviços; etc. Logo, as formas jurí-
dicas também acabam se calcando nesta relação de re-
tribuição equivalente, inclusive a pena. Assim, quando 
há carência de mão-de-obra, é necessária uma menor 
intervenção punitiva

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