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CRIMINOLOGIA PARA DEFENSOR PÚBLICO - PARANÁ - EXTRAÍDO DA APOSTILA DE DEFENSOR PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ MATERIAL EXCLUSIVO PARA DOWNLOAD NO SITE DA EDITORA APROVARE: www.editoraaprovare.com.br TODOS OS DIREITOS DESTE MATERIAL SÃO RESERVADOS. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Aprovare. A viola- ção dos direitos autorais é crime previsto na Lei 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. ① INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA ② ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS ③ EXPOENTES DA CRIMINOLOGIA ④ VITIMOLOGIA ⑤ PENOLOGIA ⑥ GARANTISMO PENAL ⑦ PROCESSO DE CRIMINALIZAÇÃO ⑧ DIREITO PENAL DO INIMIGO CRIMINOLOGIA Criminologia 3 www.editoraaprovare.com.br w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r 01 INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA DELIMITAÇÃO INICAL E CONCEITUAÇÃO O fenômeno da criminalidade acompanha - pari passo - o desenvolvimento da humanidade desde os primórdios, e o tema, inegavelmente, desperta a curio- sidade, a atenção e a preocupação de toda a sociedade. As mais variadas pessoas, nos mais variados locais e épocas, constantemente buscam meios de entender, explicar e coibir o crime no seio social. Assim, ao longo da história, diversas noções surgiram e se superaram, conformando então uma ciência distinta e exclusiva- mente focada no estudo deste fenômeno: a criminolo- gia. Etimologicamente, criminologia origina-se do la- tim “crimen” (delito/crime) e do grego “logo” (trata- do). É comum encontrar nos manuais de criminolo- gia a indicação de que foi o antropólogo francês Paul Topinard o primeiro a utilizar esta terminologia para designar este ramo do saber, em meados de 1879. Mas é também certo que a palavra só se firmou em defini- tivo com Raffaele Garofalo, que em 1885 publicou o a obra intitulada “Criminologia”. Segundo usual conceituação doutrinária, a crimino- logia é a ciência autônoma, empírica e interdisciplinar, que tem por objeto o estudo do crime, do delinquente, da vítima e do controle social do comportamento de- litivo. É ela também quem nos oferta uma informação válida sobre a gênese, a dinâmica e as variáveis do cri- me, enquanto fenômeno individual e social, possibi- litando ainda firmar parâmetros para uma prevenção eficaz, bem como para delimitar as formas, técnicas e estratégias de reação contra o fato criminoso. Com isso, é possível concluir que a criminologia não almeja o estudo do crime enquanto fenômeno ju- rídico (como ilícito penal), mas sim o estudo de sua natureza, das suas origens e do seu processo de reali- zação e contenção, como fato humano e social. Ou seja, o saber criminológico possibilita ao ope- rador do direito um conhecimento mais apropriado e próximo da realidade fática que o cerca, pois lhe oferta dados que demonstram a extensão, a adequação e a eficiência das leis penais e processuais que disciplinam o crime. CIÊNCIA AUTÔNOMA Por todo o exposto, é possível observar que a crimi- nologia não é apenas uma “sub-disciplina” de algum ramo do direito, mas sim uma ciência autônoma, que oferta conhecimento válido e útil à ciência jurídica em vários parâmetros. Trata-se de verdadeiro saber científico, e não mera impressão ou construção do “saber popular”, sem base técnica alguma (estes saberes populares, inclusi- ve, que estão via de regra ligados a experiências prá- ticas e particulares de alguns agentes públicos que atuam na área do direito penal, acabam propagando situações generalizadas e indevidas como verdades absolutas, totalmente desprovidas de cientificidade, e que não conformam o verdadeiro conhecimento crimi- nológico). Por isso, inclusive, é possível dizer que a in- vestigação criminológica reduz ao máximo a intuição e o subjetivismo, exatamente por submeter o fenômeno criminal a uma análise rigorosa, com técnicas adequa- das e próprias para cada situação. Ademais, a criminologia traz em si todo um ar- cabouço de conhecimentos próprios, os quais não se confundem com os conhecimentos de nenhuma das ciências jurídico-repressivas, como o direito penal, o processo penal e a política criminal. Inclusive, dentro desta perspectiva, é plenamente possível traçar uma breve distinção entre estas três ciências - a criminologia, o direito penal e a política criminal. Vejamos: Enquanto a criminologia busca dados e demonstra- ções fáticas sobre o crime, o criminoso e a criminali- dade em geral, o direito penal apresenta-se como um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a de- terminação de infrações de natureza penal e suas res- pectivas sanções (penas e medidas de segurança). Ou seja, o direito penal vê o crime exclusivamente como fenômeno jurídico (ilícito penal), não sendo objeto de seus estudos a origem, as causas e as consequências sociais deste fato. Ao seu turno, a política criminal disciplina as me- didas que devem (ou podem) ser implementadas pelo Estado no combate à criminalidade. Ou seja, está di- retamente ligada ao controle social do desviante, ao poder que o Estado oficial possui de definir um confli- to social como criminalidade e tomar as medidas ade- quadas para combatê-lo. Assim, é possível perceber que os postulados da política criminal servirão como critério de decisão a respeito dos sistemas dogmáticos para a aplicação do direito e processo penal. São, enfim, ciências autônomas e que não se con- fundem, seja quanto ao objeto de estudo, quanto ao método empregado, ou mesmo em relação as finalida- des perquiridas. O MÉTODO DA CRIMINOLOGIA Consoante anotado, a criminologia é uma ciência empírica, de observação, anotação e conclusão. Falar de empirismo é o mesmo que falar de método experi- mental, ou seja, aquele que evolui a partir da observa- ção do mundo fenomênico. Tanto é assim que a metodologia empírica também pode ser chamada de analítica ou indutiva, pois parte de um objeto para chegar a uma constatação, parte da “coisa” para chegar à ideia. DPE/PR 4 www.editoraaprovare.com.br w w w .editoraaprovare.com .br w w w .editoraaprovare.com .br Portanto, é imperioso concluir que a criminologia não é uma ciência formal, não é uma ciência silogística ou mesmo dedutiva, mas sim uma ciência de análise e experimentação. INTERDISCIPLINARIDADE Interessante firmar que a criminologia é também uma ciência interdisciplinar, porque conjuga o conhe- cimento de várias outras ciências, muitas delas (inclu- sive) não jurídicas, como por exemplo: a biologia, a antropologia, a psicologia, a psiquiatria e a sociologia. A interdisciplinaridade surge como uma necessi- dade prática de articulação de conhecimentos, e cons- titui um dos efeitos ideológicos mais importantes so- bre o qual se constrói esta ciência, exatamente porque permite romper barreiras estanques e conformar um saber conjugado. Os fenômenos surgem exatamente da integração das partes constitutivas de cada ciência. Até porque, tendo em vista que a criminologia en- tende o crime apenas como uma das várias formas de comportamento humano (um episódio de desajusta- mento do homem às condições fundamentais da convi- vência social), é certo que sua estruturação dependerá dos conhecimentos oriundos de outros ramos do saber. OBJETOS DE ESTUDO Como visto, os objetos sobre os quais a criminolo- gia se debruça são os seguintes: o crime, o criminoso, a vítima e o controle social do delito. Destaca-se que alguns destes temas serão particu- larmente explorados adiante, consoante sua importân- cia para os concursos públicos. Todavia, segue aqui breve explanação elucidativa sobre cada um deles. a) O delito: É o primeiro objeto de estudo da criminologia, e tal- vez o tema central dos debates.Afinal, é em torno dele que gira todas as construções teóricas desta ciência. Vale destacar que o termo “delito” (aqui trabalha- do enquanto sinônimo de crime/infração penal) não é unívoco, não possui um só significado. Suas variantes dependem do ramo do conhecimento que o utiliza e o contexto que o emprega. Basta ver que para o direi- to penal, a palavra delito possui um conteúdo formal técnico (o qual pode variar de acordo com a corrente: se bipartida, tripartite, quadripartite). Para a filosofia e para a ética, o delito possui um conteúdo estritamen- te moral e principiológico. Já a sociologia o enxerga como um fato social. Ao seu turno, a criminologia vê o delito como fe- nômeno humano geral, como algo a ser decifrado e compreendido. E ao longo de sua evolução teórica, vá- rias foram as formas utilizadas pela criminologia para explicar e delimitar o crime. b) O criminoso: O segundo objeto de análise da criminologia foi percebido de formas variadas pelas correntes teóricas. Para os clássicos, o homem nasce bom por nature- za, e criminoso é aquele que optou pelo caminho do mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Dentro dessa ótica, que baseia toda a construção do “contrato social” (J.Rousseau), a pessoa teria o livre arbítrio para decidir se quer ser bom ou mal. Para os positivistas, o livre arbítrio é um mito, e o homem não tem a opção de escolher entre o caminho do bem ou do mal. Fundam suas construções no de- terminismo, razão pela qual o criminoso passa a ser visto como alguém doente, prisioneiro de sua própria patologia ou de processos causais alheios. Já para os correicionalistas o criminoso é um fraco, um ser inferior, inapto ao convívio social, incapaz de dirigir - por si mesmo - sua vida. Assim, a sua debili- dade requer uma eficaz e desinteressada intervenção estatal. Por fim, para os marxistas, o criminoso é visto como vítima do processo econômico de exploração do homem pelo homem (trata-se de uma explicação ca- pitalista para o fenômeno, o qual tem na sociedade os fatores de criminalização do agente). c) A vítima: O terceiro objeto de estudo recebeu um trato bas- tante variado ao longo das construções históricas da criminologia e suas ciências correlatas, e estas altera- ções podem ser identificadas em três momentos es- peciais (que nasce com sua valorização, passa por um período de neutralização e, por fim, de revalorização). Num primeiro momento, que se operou desde os primórdios da civilização até a Alta Idade Média, a ví- tima possuía um papel bastante importante na gêne- se do delito, até porque vivíamos um período em que reinava a lógica da vingança privada, da autotutela e da lógica do talião. Esta fase ficou conhecida como “ví- tima de ouro”. Após, ela passa por um período de neutralização, em que ela é totalmente descartada do processo crimi- nológico. A vítima deixa de ter o poder de reação ao fato delituoso, que é assumido e monopolizado pelo Estado soberano. A pena passa a ser uma garantia de ordem coletiva e não mais particular. Esta perspectiva de neutralização nasceu ao final da idade média e perdura até o início do período mo- derno, quando então se passou a revalorizar o papel da vítima, inclusive no âmbito jurídico-penal; basta ver que surgiram, após, inúmeros institutos no âmbito do direito e processo penal que demandam a interven- ção do ofendido (como, por exemplo: nas ações penais de iniciativa privada, que dependem da queixa-crime; nas públicas condicionadas que dependem da repre- Criminologia 5 www.editoraaprovare.com.br w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r sentação; a possibilidade de composição civil dos da- nos trazida pela Lei do Juizado Especial; etc.). Foi a partir daí, inclusive, que nasceu o estudo da vitimolo- gia, enquanto braço específico da criminologia. d) Controle social do delito: Por fim, o último dos objetos da criminologia con- sagra o conjunto de mecanismos e de sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos sociais comunitários. Fala-se então, dos controles for- mais e informais da criminalidade. Os primeiros (controles formais) são aqueles pertinentes ao Estado repressor, legítimo detentor do jus puniendi. Já os segundos (controles informais) são aqueles pertinentes à família, aos amigos, a igreja, etc., ou mesmo aos sistemas paralelos de repressão (como, por exemplo, o crime organizado e as milícias particulares). ü Nesta toada, vale observar que a criminologia busca também uma justificação para o próprio Di- reito Penal (que é ciência correlata). FINALIDADE DA CRIMINOLOGIA Com o resultado de suas investigações, a crimi- nologia preocupa-se em fornecer explicações válidas para o fenômeno do crime e, com isso, auxiliar a de- senvolver métodos para a redução da criminalidade. Ou seja, por não ser uma ciência estanque, a cri- minologia visa apontar um núcleo seguro de conheci- mentos sobre cada um dos seus objetos de estudo. Assim, é possível concluir que as duas perguntas fundamentais da criminologia são as seguintes: Por que alguém delinquiu? O que se pode fazer para minimizar a delinquência? CARACTERÍSTICAS DA MODERNA CRIMINOLOGIA Veremos adiante que a criminologia modificou muito seu âmbito de estudo e seus objetivos ao longo dos anos. E hoje, é certo que ela conclama as seguintes premissas centrais: a) Acentua a orientação “prevencionista” do sa- ber criminológico, diante da obsessão repressi- va explícita de outros modelos convencionais. b) Destaca a análise e a avaliação dos modelos de reação ao delito como um dos seus objetos de estudo. c) Substitui o conceito de “tratamento” (cono- tação clínica e individual) por “intervenção” (conotação dinâmica, complexa e pluridimen- sional). d) Parte da caracterização do crime como “pro- blema” (face humana e dolorosa do delito), e não como patologia do indivíduo. e) Por fim, tenta reduzir o âmbito tradicional dos seus objetos de estudo: antes, muito focado no crime de no criminoso; e hoje, mais focada no controle social da criminalidade. CONCLUSÕES PRELIMINARES ü Conceito: a criminologia é uma ciência autô- noma, empírica e interdisciplinar, que cuida do crime, do infrator, da vítima e do controle social do delito, gerando informações válidas sobre a gênese, a dinâmica e as variantes do fato delitivo, orientando a sua prevenção e repressão. ü Quanto ao método: a criminologia é uma ci- ência empírica (é uma ciência de investigação, de análise) e interdisciplinar (pois se vale do conheci- mento de outros ramos do saber, como a sociolo- gia, biologia e psicologia). ü Objeto da criminologia: o crime, o criminoso, a vítima e o controle social do delito. ü Função (objetivo possível): orientar uma res- posta para delimitação e para o controle do fenô- meno da criminalidade. 01 ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS Ao longo da história, várias teorias procuraram es- tudar o crime e o criminoso, as quais acabaram con- formando verdadeiras correntes doutrinárias dentro da criminologia, ao que se pode batizar de “escolas criminológicas” – cada qual com suas premissas, suas bases teóricas (ou filosóficas) e seus defensores e crí- ticos. Dentre estas, é possível destacar três momentos em especial: o da Escola clássica, da Escola positivista, e das Escolas pós-positivistas. Façamos agora breve análise das premissas centrais de cada uma delas, bem como de seus maiores expoen- tes doutrinários. ESCOLA CLÁSSICA Entende-se que durante todo o período da Antiguidade Clássica (mesmo com nomes como Homero, Hipócrates, Platão e Aristóteles) e da Idade Média (com São Tomás de Aquino, por exemplo) ain- da não se podia falar verdadeiramente em criminolo- gia - nãoao menos enquanto ciência -, posto que não havia construções sólidas ou teorias devidamente ela- boradas para delimitação efetiva dos objetos por ela tratados. DPE/PR 6 www.editoraaprovare.com.br w w w .editoraaprovare.com .br w w w .editoraaprovare.com .br Assim, é usual afirmar que a criminologia é fru- to do pensamento iluminista, que nasceu no século XVIII (o “Século das Luzes”) com os ensaios científicos de Baruch Spinoza (1632-1677), John Locke (1632- 1704), Pierre Bayle (1647-1706), Isaac Newton (1643- 1727), Voltaire (1694-1778), Montesquieu (1689-1755), e acabou culminando na Revolução francesa tempos depois. Entende-se que este movimento filosófico-cul- tural encampado pela elite de intelectuais europeus, o qual procurou mobilizar o poder da razão a fim de reformar a sociedade e promover uma revolução inte- lectual contra a intolerância e os abusos da Igreja e do Estado, foi o grande responsável pelo efetivo estopim da ciência criminológica. Os iluministas entendiam que os seres humanos detinham plenas condições de melhorar o mundo, mediante a introspecção, o livre exercício das capaci- dades e do engajamento político-social de todos. Para tanto, partiam de um pressuposto básico e interessan- te, qual seja: o de que todos os seres humanos gozam do livre arbítrio, de modo que cada um pode escolher o caminho que deseja seguir. Estes pensamentos acabaram enraizando nos ide- ais dos doutrinadores que se debruçavam sobre o es- tudo do crime e do criminoso à época, dentre os quais se destacou a figura de Cesare Bonesana, o conhecido “Marquês de Beccaria”, que nasceu em Milão e viveu entre os anos de 1738 a 1794. Cesare Beccaria foi um aguerrido crítico das arbi- trariedades cometidas pela justiça da época, a qual ain- da se valia de vários métodos herdados das práticas comuns na Idade média e no período absolutista que a seguiu (com as penas corporais, torturas, ordálias e “santas punições”). Assim, inspirado pelo ideal de li- bertação e auto-responsabilidade do ser humano, ele escreveu a sua grande obra clássica, “Dos Delitos e das Penas”, um verdadeiro manifesto da abordagem libe- ral do direito criminal, no qual defendia as seguintes premissas centrais: a) que somente as leis poderiam fixar as penas para os crimes; b) que somente os magistrados poderiam julgar os criminosos, nunca interpretando, mas apenas aplicando as leis penais vigentes; c) que as acusações não devem ser secretas, e que o réu não pode ser considerado culpado até o final de seu justo julgamento; d) que a tortura não deve ser validade como meio de prova no processo; e) que deve haver uma proporção entre os deli- tos e as penas aplicáveis; f) que a pena não deve ter por finalidade, a ideia de atormentar o culpado, mas sim de impedi-lo de agredir novamente a sociedade; g) e que as penas devem ser iguais para todos (sem distinção de classes). Em suma, Beccaria entendia que as arbitrariedades se opunham aos interesses do bem público e da socie- dade, razão pela qual as penas deveriam ser mais jus- tas, moderadas e humanizadas. Ou seja, ele procurou fundamentar toda a legitimidade do poder de punir a partir dos postulados que embasavam o nascente ide- al do “contrato social” (seriam tidas como ilegítimas as penas que não respeitassem este postulado). E vale anotar que estas premissas acaram então balizando a nascente criminologia, agora sim enquanto verdadeira ciência. Os clássicos, que utilizavam o método abstrato e dedutivo (baseado no silogismo) partiam do pressu- posto que a responsabilidade penal do criminoso ba- seava-se sempre em sua responsabilidade moral, e se sustentava basicamente pelo livre arbítrio. Entendiam que o livre arbítrio era inerente ao ser humano, razão pela qual o criminoso seria aquele indivíduo que teve a opção de escolher o caminho correto (do bem), mas fez uma opção diversa (pelo caminho do mal), razão pela qual poderia ser moralmente responsabilizado por suas escolhas equivocadas. Também eram adeptos do pensamento clássico, Francesco Carrara (com o clássico “Programa de di- reito criminal”), Filangieri, Carmignani, Romagnosi, Ortolan, Rossi, Pessina, dentre outros. ESCOLA POSITIVISTA O positivismo criminológico surge em meados do século XIX, sob a batuta de Garófalo, Lombroso e Ferri, como crítica e alternativa à criminologia clássica então reinante. Apegados a um rigorismo empírico, entendiam que todos os fenômenos (até mesmo o da criminali- dade) poderiam ser entendidos, teorizados e compro- vados experimentalmente. Assim, abandonavam o método abstrato-dedutivo dos clássicos para operar sua construção na observação dos fatos e análise dos dados colhidos para chegar às suas conclusões. Com isso, os positivistas acabaram também aban- donando as ideias de livre-arbítrio e responsabilidade moral dos indivíduos, passando então a conceber um rígido determinismo nas ações humanas. Entendiam que todos estavam sujeitos à lei da causalidade (ato- -efeito), e que nossos atos eram consequências inter- nas ou externas, os quais independem da vontade do agente. A Escola de criminologia positivista italiana teve entre os seus grandes nomes as figuras de Lombroso e Ferri, os quais partiam exatamente destas premissas basilares para definir o crime e o criminoso, embora o tenham feito sob perspectivas distintas (o que, in- clusive, nos permite dizer que a Escola positivista ita- liana apresentou duas diretrizes opostas): enquanto Lombroso defendia a “antropologia criminal”, Ferri defendia a “sociologia criminal”. Criminologia 7 www.editoraaprovare.com.br w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r (I) A antropologia criminal: Cesare Lombroso (1835-1909), médico bastante in- fluente e respeitado à época, um estudioso da freno- logia e fisionomia, propôs sistematizar e organizar a antropologia criminal após estudar aspectos compor- tamentais e físicos de soldados veteranos de guerra, enfermos mentais e criminosos de diversas localidades da Europa, vivos e mortos. Lançou então sua obra primordial, “L`Uomo de- linquente” (O homem delinquente), na qual traçava uma análise dos criminosos e dos delitos cometidos, considerando-os fruto do atavismo, herança genética da idade primitiva e selvagem dos homens, o que se podia perceber na própria compleição estrutural do sujeito. Lombroso encontrou no criminoso uma variedade especial que seria caracterizada por sinais físicos e psí- quicos. Verdadeiros estigmas que constavam de parti- cularidades perceptíveis na calota craniana e na face, bem como em detalhes do maxilar inferior, nas fartas sobrancelhas, molares proeminentes, orelhas grandes e deformadas, dessimetria corporal, grande enverga- dura de braços, mãos e pés. Os sinais psíquicos que o caracterizavam eram a insensibilidade à dor (o que, segundo ele, também ex- plicava o porquê dos criminosos comumente se tatua- rem), a crueldade, a leviandade, a aversão ao trabalho, a instabilidade, a vaidade, bem como as tendências a superstições e precocidade sexual. Assim, construiu a ideia de que os criminosos for- mavam um tipo antropológico unitário, facilmente perceptível por suas características físicas e psíquicas: nascia a figura do “criminoso nato”. De acordo com Lombroso, criminoso e não-criminoso se diferenciam entre si em virtude de uma rica gama de anomalias e estigmas de origem atávica ou degenerativa. Sua teoria foi tão aceita - especialmente porque go- zava de ares de cientificidade empírica (visto que ele tinha dados catalogados dos crânios e corpos de vários criminosos condenados) -, que influenciou fortemente a política criminal da época, permitindo inclusive uma atuaçãoprévia do Estado contra aquele que era um cri- minoso em potencial (afinal, estava comprovada por sua teoria que alguns indivíduos possuíam efetiva- mente uma predisposição à criminalidade...!). Portanto, o crime seria resultante de forças incitan- tes que superavam as forças repulsivas existentes em cada indivíduo. Ou seja: o criminoso era visto como um doente (alguém que tem uma patologia), o crime era algo inevitável em seu comportamento, e a pena deveria ser o remédio aplicado pelo Estado para tentar curá-lo e resguardar a sociedade. É certo que Lombroso sofreu várias críticas (espe- cialmente por acreditar na possibilidade de se desco- brir uma causa biológica para o fenômeno criminal), mas é igualmente certo que ele também firmou novas bases para o pensamento criminológico, e influen- ciou o trabalho de vários outros pensadores como Marro, Sergi, Virgílio, Kurella, Corre, Zucarelli, Nina Rodrigues, dentre outros. (II) A sociologia criminal: Enrico Ferri (1856-1929) em sua obra “Sociologia Criminal” deu relevo não só aos fatores biológicos, como também aos mesológicos e sociológicos na etio- logia da criminalidade. É sua também a denominada “Lei de Saturação Criminal”, onde constata que as condições sociais in- fluenciam nos delitos praticados. Considerava três causas possíveis de um delito, ao que batizou de trinômio causal: a) fatores biológicos (herança e constituição); b) fatores físicos (influência do clima); c) e fatores sociais (referentes às condições ambientais em que o indivíduo estava engajado). Ou seja, havia fatores endógenos e exógenos determinan- tes na prática de crimes. Veja que Ferri também não acreditava na liberda- de da vontade psíquica do homem, e defendia a teoria jurídica da responsabilidade pessoal. Assim, recomen- dava que a legislação penal devesse ser construída com base na periculosidade do infrator, o qual pode- ria ser classificado em cinco variantes: os delinquentes natos, os loucos, o ocasional, o habitual e o passional. ESCOLAS PÓS-POSITIVISTAS Após toda esta movimentação teórica, o século XX se inicia sob o signo do ecletismo, exatamente por con- ta dos vários caminhos que haviam sido abertos nos séculos passados neste ramo do saber. No campo específico das explicações sobre o delin- quente e a delinquência, as teorias de matriz antropo- lógico-etiológica começaram a ser abandonas em defi- nitivo, sendo substituídas num primeiro momento por teorias explicativas de índole psicológica, psicanalítica e psiquiatra Mas foi em momento posterior que se assistiu ao efetivo nascimento de uma nova fase na criminolo- gia, a qual é fruto de dois eventos significativos: em primeiro lugar, ao aparecimento da sociologia criminal americana; em segundo lugar, a consolidação da crimi- nologia socialista (em sentido estrito). O estudo do crime e da criminalidade a partir dos princípios do marxismo-leninismo deu nova feição aos temas da criminologia, inaugurando um novo momen- to teórico, batizado pós-positivista. Assim, a natureza e a estrutura das sociedades capitalistas, segundo esta nova Escola que surgia, era fator influente na análise da criminalidade e suas causas. Há neste momento, verdadeira ruptura de para- digmas, pois as atenções deixam de estar focadas na DPE/PR 8 www.editoraaprovare.com.br w w w .editoraaprovare.com .br w w w .editoraaprovare.com .br figura do criminoso individualmente considerado, e passam a atentar à figura do crime (do fato em si), en- quanto ato biossocial. Ademais, o estudo da “microcri- minalidade” perde fôlego, dando lugar ao estudo da “macrocriminalidade”. Ou seja: de um estudo focado no indivíduo ou em pequenos grupos, a criminologia passa a se preocupar com a abordagem dos fatores que levam a sociedade como um todo a praticar ou não uma infração penal. Mas é importante destacar que com o surgimento destas teorias socialistas da criminalidade, houve uma bifurcação das pesquisas em dois grupos distintos. E vale notar que esta divisão leva em conta a forma pela qual os doutrinadores encaram a composição da socie- dade, se consensual ou conflitiva. Surgem, assim, as “Teorias do consenso” (também conhecidas como teoria da integração ou funcionalistas) e as “Teorias do conflito social”. Vejamos agora algumas premissas e concepções de cada uma delas. (I) Teorias do consenso: Para os adeptos desta teoria, a finalidade da socie- dade só é atingida quando há um perfeito funciona- mento de suas instituições, de modo que os indivídu- os compartilhem os objetivos comuns a todos os cida- dãos, aceitando todas as normatizações impostas em dada época. Dentro deste grupo, podemos identificar algumas teorias, dentre as quais se destacam as seguintes: a Escola de Chicago; a Teoria da associação diferencial; a Teoria da anomia; e a Teoria da subcultura delinquente. a) A Escola de Chicago (1930): Pode-se dizer que foi uma das responsáveis por inaugurar a criminologia americana, em meados das décadas de 1920 e 1930. Partiu das construções teóricas de Robert Park e Ernest Burguess (especialmente com as obras “Introduction to the Science of Sociology” e “The City”), que pugnavam pela observação do homem em seu habitat natural – ao que, inclusive, se batizou de “método da observação participante”, pois ia-se até um local específico para observar os fenômenos cri- minais a partir das circunstâncias que a própria socie- dade local lhe fornecia; ou seja, o observador tomava parte do fenômeno social que estudava, in loco. Esta escola criminológica encarava o crime como um fenômeno intimamente ligado a uma área, a uma região (por isso, inclusive, alguns chamam a constru- ção de Park e Burguess de “Teoria ecológica”). Vale lembrar que os Estados Unidos vivam neste momento um período de grandes migrações e de for- mação das grandes metrópoles. E foi focando a aten- ção para os agrupamentos humanos que se formavam nos centros urbanos (os “ghettos”) que os teóricos da Escola de Chicago traçaram sua teoria. Diziam que as sucessivas ondas de imigrantes se aglutinavam segun- do critérios rigidamente étnicos, o que deu origem a comunidades distintas e estanques (bairros chineses, bairros mexicanos, bairros mulçumanos, bairros ne- gros, etc.). Após seus estudos, concluíram que as grandes ci- dades são geratrizes de crime, especialmente por con- ta dos seguintes fatores: os controles sociais informais não funcionais, especialmente nos dias modernos em que as pessoas têm vínculos familiares e sociais mais reduzidos; os grupos familiares se deterioram nas grandes cidades; há uma alta mobilidade populacio- nal, o que enfraquece ainda mais os vínculos pesso- ais; há um estímulo ao consumo excessivo; há também uma proximidade tentadora aos centros comerciais; por fim, há uma superpopulação nas metrópoles. Em suma, o grande mérito do trabalho desenvol- vido por esta escola criminológica foi o de explorar a relação entre a ocupação do espaço urbano e a crimi- nalidade. b) A teoria da associação diferencial (1924): Desenvolvida inicialmente pelo sociólogo Edwin Sutherland, procurou observar a criminalidade sob uma perspectiva distinta: não mais focada nos cha- mados crimes comuns (homicídios, furtos e estupros), mas sim num tipo de comportamento desviante que requeria conhecimento especializado e/ou habilidade, bem como a inclinação de alguns indivíduos para tirar proveito de oportunidades para usá-las de maneira desviante. Captou que este comportamento diferencial é aprendido e promovido dentro de grupos variados, que vão desde gangues urbanas até grandes grupos empresariais (onde há fraudes mercantis, sonegações fiscais ou utilização de informações privilegiadas de maneira indevida). Foi neste contexto, inclusive, que se cunhou a famosa expressão“White collar crimes” (crimes do colarinho branco), exatamente para desig- nar os autores destes crimes diferenciados. Sutherland afirmava que o homem é capaz de aprender a conduta desviada e associar-se a ela. Ou seja, o indivíduo observa e copia aquele que se con- seguiu alguma vantagem, mesmo que de maneira cri- minosa. Em suma, defendia que a complexidade dos crimes, aliada a seus efeitos difusos na sociedade, a tolerância das autoridades e à impunidade usual, gerariam as condições ideais para a delinquência do indivíduo. Portanto, a teoria da associação diferencial tinha em mente que o crime não pode ser definido simples- mente como uma disfunção ou inadaptação das pesso- as pertencentes a certas classes sociais menos favoreci- das. Afinal, sendo o crime um fenômeno social, é certo que se pode encontrá-lo em todos os seguimentos e classes. Criminologia 9 www.editoraaprovare.com.br w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r c) A teoria da anomia (1938): Segundo seus doutrinadores, cujos expoentes fo- ram Emile Durkheim e Robert Merton, a anomia é uma situação social onde falta coesão e ordem, espe- cialmente no tocante a normas e valores. Partem da ideia de que se uma norma é definida de maneira demasiado abstrata, subjetiva, ambígua, ou então se ela é arbitrária e de ocasião (feita para tutelar situações caóticas de momento), esta norma gerará o isolamento e a autonomia do indivíduo, a ponto inclu- sive das pessoas se identificarem muito mais com seus próprios interesses do que com os interesses coletivos, o que acaba resultando na situação de “falta (inobser- vância) de normas”. A própria ideia de bem e mal perde sentido dentro desta perspectiva, pois o indivíduo passa a defender valores bastante particulares destas duas facetas (ele preferirá o que é bom para ele, individualmente, in- dependente de ser o melhor para a comunidade). Há um enfraquecimento na consciência coletiva do que é certo e do é errado, ao que se chama de fragilização do consciente coletivo. Em suma, entendem que o problema está no fato de que as normas não têm efetividade, e que esta ausên- cia de regras para a regular as situações sociais gera os conflitos e os desvios. Mas encaram que o crime é um fenômeno normal e comum em toda a sociedade, mas que deixa de sê-lo quando ultrapassa os seus limites e passa a agredir a própria sociedade. Assim, até mesmo a punição seria saudável, pois reafirma no consciente coletivo do que é certo e do que é errado, reafirma os valores que são caros à sociedade: família, propriedade, ética, etc. ü Veja que, por esta teoria, o crime não é um fe- nômeno exclusivo de uma classe social. Ao con- trário, pois qualquer um pode, diante deste en- fraquecimento do coletivo e exacerbação do “eu” (individualismo), tornar-se um infrator da norma. ü A própria nomenclatura explica a situação: ano- mia, como o próprio nome quer dizer, é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provo- cado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno. c) A teoria da subcultura delinquente (1950): Foi inaugurada pelo sociólogo norte-americano Albert K. Cohen, com o lançamento do livro “Deliquent boys”. Sua teoria sustenta três ideias fundamentais: o caráter pluralista e atomizado da ordem social; a co- bertura normativa da conduta desviada; e a semelhan- ça estrutural, em sua gênese, do comportamento regu- lar e irregular. Assim, consagrava que “subcultura” não podia ser confundida com “contracultura”, pois os movimentos de subcultura reproduzem os valores tradicionais, mas com sinal invertido, com sinal negativo, sob o signo da intolerância com quem é diferente (ex.: como ocorreu com o movimento nazista); já a contracultura renega os valores tradicionais e propõe algo para ficar no seu lugar (ex: como ocorreu com o movimento hippie). Cohen observou o comportamento da juventude americana ao final dos anos 1950 e constatou a frus- tração do “american dreams”, o sonho da prosperidade econômica. Ele percebeu que junto com essa frustração veio uma forte onda de segregação racial, de desagre- gação familiar e criminalidade. Tudo isso fez nascer novos padrões de comportamento, a partir das afini- dades inerentes a cada grupo, e a violência firmou-se como marco característicos desde os grupos mais no- vos. As gangues (movimento de subcultura) surgiram então como uma reação à inacessibilidade aos bens da vida. (II) Teorias do conflito social: Diferente do que ocorria com as teorias do consen- so, para os adeptos desta teoria do conflito, a coesão e a ordem na sociedade são fundadas na força e na coer- ção, na dominação de alguns e na sujeição de outros. Ou seja, ignora-se a existência de acordos em torno de valores de que depende o próprio estabelecimento da força. Dentro deste grupo, podemos identificar algumas teorias, dentre as quais se destacam: a Teoria do labe- ling approach e a Teoria crítica. a) Labeling Approach (1960): Também conhecida como “Teoria do etiquetamen- to”, foi inicialmente firmada por Howard Becker e Erving Goffman, que entendiam que a criminalidade não devia ser lida como a qualidade de determinada conduta, mas sim como o resultado de um processo através do qual se atribui esta qualidade (um proces- so de estigmatização). Em outras palavras, criminoso é apenas um rótulo, uma etiqueta que a sociedade dá a alguém, e que por este é recebia e incorporada. A teoria do “labeling approach” se insere no contex- to das teorias do processo social, ao lado das teorias de aprendizagem social e de controle social. Para ela, o crime é uma função das interações psicosociais do indivíduo e dos diversos processos da sociedade. Ou seja, não lhes interessa as causas do desvio, mas sim os processos de criminalização que o gerara. É uma corrente criminológica próxima à criminologia radical de cunho marxista, mas sem compartilhar, ao menos necessariamente, o modelo de sociedade configurado por esta. Insere-se na dogmática como uma teoria crítica, pois desloca a atenção (antes focada no criminoso) para o sistema penal e suas interações, tomando este sistema como o autêntico fundamento do desvio. Por isso, inclusive, Alessandro Baratta a define como “o novo paradigma criminológico”. DPE/PR 10 www.editoraaprovare.com.br w w w .editoraaprovare.com .br w w w .editoraaprovare.com .br Fala-se de delito e delinquentes como consequência de um processo de incriminação que é levado a cabo por aqueles que exercem poder, e que é voltado contra aqueles que são menos favorecidos, que por não terem representação ou voz ativa, e que acabam sendo taxa- dos de delinquentes. Mas vale também destacar que dentro do “labeling approach” coexiste duas perspectivas: uma radical e outra moderada. A tendência radical exacerba a fun- ção constitutiva ou criadora de criminalidade exercida pelo controle social: o crime é uma etiqueta que a po- lícia, os promotores e os juízes (instâncias do controle social formal) colocam sobre infrator, independente de sua conduta ou merecimento. Já para a tendência moderada, somente se pode asseverar que a justiça pe- nal se integra na mecânica do controle social geral da conduta desviada. Também foram representantes desta teoria: Garfinkel, Erikson, Cicourel, Becker, Schur e Sack. Em conclusão, os principais postulados e méritos do “labeling approach” foram os seguintes: deslocar o problema criminal da ação para a repressão (enten- diam que o problema não estava na conduta, mas sim na forma em que se punia a conduta); a intervenção da justiça criminal gera ainda mais criminalidade, exa- tamente porque ela estigmatiza o desviante e impedeque ele retorne à sociedade; pessoas que sofrem com os mesmos estigmas tendem a agrupar-se para reagir a esse processo; por fim, o controle social do crime é seletivo e discriminatório. ü Veja então que a teoria do labelling approach dispõe-se a estudar, dentre outros aspectos do sistema punitivo, os mecanismos de reação social ao delito e a influência destes na reprodução da criminalidade. b) Teorias críticas (1970): Foi assim batizada exatamente por se opor rigo- rosamente aos postulados da criminologia clássica e positivista. Também conhecida como “teoria radical” (ou “nova criminologia”), foi fortemente influenciados pela doutrina marxista, exatamente porque entende que o processo de criminalização de determinadas condutas se relaciona com a disciplina da mão de obra no interesse do capital e com a contenção dos movi- mentos sociais. Defende que a construção do delito depende estri- tamente do modo de produção capitalista, e que a lei penal, ao seu turno, deriva e justifica esse modelo (é a famosa relação: cárcere e fábrica). Para os críticos, o Direito não é verdadeira ciência, mas sim ideologia. Fortemente inspirada pelas cons- truções de Michel Foucault, concebia que o Direito é apenas uma forma de dominação, do forte pelo fraco. Assim, acaba-se criminalizando uma série de condutas apenas para justificar o monopólio do Estado sobre a violência. Esta lógica foi especialmente defendida por consa- grados autores como Georg Rusche e Otto Kirchheimer (“Punição e estrutura social”), Loïc Wacquant (“Punir os pobres” e “Prisões das misérias”), bem como por Dario Melossi e Massimo Pavarini (“Cárcere e fábrica”). Seguindo estas mesmas premissas da criminologia críticas, acabaram se destacam outras construções teó- ricas pós-positivas, como por exemplo: b.1) O Neorealismo de Jock Young (“A socie- dade excludente”): que propugnava pela análise de novos aspectos como desemprego maciço, o contraste entre a riqueza e a pobreza, bem como o surgimento de novas vítimas até então invisí- veis, como mulheres e crianças. Young propõe uma reação ao marxismo exacerbado, dizendo que nem tudo tem a ver com a relação econô- mica. b.2) O Minimalistas de Martin Sanches: que propõe uma contração (redução) do sistema penal em certas áreas. Entendia que a crimina- lização de certas condutas não eram relevantes para a sociedade, lembrando ainda que o Direi- to penal deveria ser visto, nestes casos, como a última ratio. Por outro lado, também propôs uma maior efetividade do Direito penal em ou- tras áreas, especialmente naquelas de interesse supraindividual. b.3) O Abolicionismos de Thomas Mathiesen: que fez uma crítica arrasadora ao sistema penal, aduzindo que ele não resolve nada, que não ser- ve para nada, e que apenas gera maiores proble- mas. Trouxe em primeira mão a ideia de que as pessoas saem da cadeia pior do que entraram, e que se a aplicação da pena ao infrator, visando a redução da criminalidade, é o fundamento da própria existência do Direito penal, este ramo do saber jurídico é falho e não cumpre sua mis- são oficial. Conclui sua tese aduzindo que, uma vez constatado que o Direito penal não cumpre sua missão, não há razão para sua existência, ra- zão pela qual deve o mesmo ser abolido. 03 EXPOENTES DA CRIMINOLOGIA Além dos já citados Beccaria, Lombroso, Ferri, etc., outros nomes se destacaram ao longo das construções teóricas da criminologia. Sejam eles médicos, antropó- logos, sociólogos ou psiquiatras, de uma forma ou de outra contribuíram para o desenvolvimento teórico da matéria. Assim, a título de anotação, optou-se por trazer a lume breves considerações sobre alguns deles, de acor- do com as perspectivas almejadas em seus trabalhos e estudos. Criminologia 11 www.editoraaprovare.com.br w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r OS PENÓLOGOS Foram os primeiros a estudar o fenômeno da pena e o nascente direito penitenciário. Fizeram estudos sobre o comportamento penitenciário, a influência do clima na prática dos crimes, e as consequências desas- trosas de um sistema punitivo abusivo. Dentre eles, destacaram-se: a) Jeremy Bentham (1748-1832): juntamente com Beccaria e outros, teve uma importante participação no trabalho de reforma penal que nasceu no período iluminista. Ele é considerado o criador da Filosofia utilitarista, que alicerça seu fundamento no seguinte postulado: “O maior bem-estar para o maior número de pessoas”. Nesta doutrina estaria inserida toda uma estratégia de profilaxia ou prevenção de criminalida- de. Entendia que o interesse é o único móvel das ações humanas. Foi ele também que desenvolve toda a teoria en- torno da estrutura do “panóptico”. Bentham estudou racionalmente o sistema penitenciário e criou então um projeto de prisão circular, onde um observador poderia ver todos os locais onde houvesse presos e controlá-los pela vigilância constante. Foi este projeto, inclusive, que possibilitou a disseminação de disposi- tivos disciplinares, a exemplo do próprio panóptico; ou seja, de um conjunto de dispositivos que permitiam vigilância e controle social cada vez mais eficientes e menos custoso. b) John Howard (1726-1790): se revelou um exce- lente penitenciarista e se dedicou à melhoria das pri- sões. Foi o responsável pela abolição de uma prática comum, que era a de manter encarcerados os que já haviam cumprido pena, ou daqueles que, mesmo ab- solvidos, não podiam pagar a “hospedagem” (visto que as prisões eram exploradas por particulares). Ele escreveu a obra “The State of Prisions”, traçando um sistema penitenciário que conseguia favorecer os en- carcerados. Por isso, é comum encontrar menções no sentido de que ele foi o verdadeiro criador do sistema penitenciário moderno. c) Adolphe Quetelet (1796-1874): foi um matemá- tico belga, e escreveu célebre a obra “Física social”, no qual trazia alguns conceitos penais, aduzindo que o crime era um fenômeno social influenciado pela mi- séria, analfabetismo, e especialmente pelo clima. Foi o criador da estatística científica. Baseando-se em três princípios, estabeleceu as cha- madas “Leis térmicas de Quetelet”, na qual procurou demonstrar que no inverno se praticam mais crimes contra a propriedade, que no verão são cometidos mais crimes contra a pessoa, e na primavera acontece mais crimes sexuais. Quetelet também distinguiu a criminalidade femi- nina da masculina, tentou correlacionar o crime à ida- de cronológica do criminoso, observando que a inci- dência delitiva é maior entre os 14 e 25 anos no homem e, na mulher, entre 16 e 17 anos. OS FISIOGNOMISTAS E FRENÓLOGOS Os primeiros estudaram o caráter das pessoas de forma naturalista, especialmente pela análise dos tra- ços do rosto. Os segundos estudaram a configuração do crânio com suas preponderâncias e depressões. Indicavam traços característicos na fisionomia e no crânio dos criminosos, e inspiraram a futura crimino- logia positivista. Neste campo, destacaram-se: a) João Batista Della Porta (1535-1615): escreveu a obra “Fisionomia humana”, no qual dizia que o ho- mem se caracteriza pela escassez de sinais. Assim, o ladrão teria orelhas pequenas, sobrancelhas juntas e espessas, olhos móveis; o epilético se caracteriza pela exoftalmina, os ombros agudos e delgados; os violentos pela fronte circular, com rugas e unidas no centro; etc. Relacionava a semelhança fisionômica dos crimino- sos com os animais selvagens (por exemplo, destacou a semelhança do ministro francês Talleyrand com a raposa; ou a semelhança de outro francês, o general Kleber, com um leão). b) Kaspar Lavater (1741-1801): desenvolveu a teoria da “expressão da alma nos traços do rosto”, baseando- -se nacrença de que o criminoso traz os sinais escritos em seu rosto. Valia-se do método indutivo, examinan- do o perfil do rosto e gestos para traçar um perfil do indivíduo. c) Brocca (1824-1888): era médico cirurgião, e foi ele quem descobriu o centro da linguagem no cérebro humano, bem como a assimetria funcional dos dois hemisférios: o esquerdo correspondendo à inteligên- cia, linguagem e cultura, o direito aos baixos instintos. Dizia que, em razão disso, predominada nos crimi- nosos o desenvolvimento do hemisfério direito. Para ele, havia uma relação entre a personalidade do delin- quente e o ato delitivo. d) Franz Gall (1758-1828): é considerado o criador da frenologia. É dele também a teoria sobre vultos cra- nianos, que posteriormente veio a influenciar a teoria lombrosiana. Gall organizou um mapa dessas saliên- cias a indicarem a conduta predominante no indiví- duo, desde a passividade absoluta à rebeldia incontro- lável, a bondade ou a maldade, a honestidade e sua inteligência maior ou menor. Dizia que os delitos de sangue aconteciam mais co- mumente entre os indivíduos com instinto carnívoro; o instinto da vagabundagem se manifestava por acen- tuadas rugas frontais; os larápios tinham uma proe- minência da fossa temporal do osso frontal; os crimi- nosos sexuais tinham um desenvolvimento maior na parte posterior da cabeça, com grande crescimento do crânio; etc. DPE/PR 12 www.editoraaprovare.com.br w w w .editoraaprovare.com .br w w w .editoraaprovare.com .br e) Jean Lauvergne (1797-1859): estudou os conde- nados a trabalhos forçados nas prisões francesas, che- gando a conclusões semelhantes às de Gall. f) P. Lucas (1805-1885): estudou as inclinações para o crime em alguns indivíduos, e chegou a conclusões de que os mesmos tinham uma base congênita e here- ditária. OS PSIQUIATRAS Vale anotar que a psiquiatria (em sentido amplo) influenciou muito a construção da criminologia en- quanto ciência, e durante certo tempo ditou tendência na seara penal. Dentre os psiquiatras, destacam-se: a) Felipe Pinel (1745-1826): criador da moderna psiquiatria, foi o responsável pelo desacorrentar dos alienados mentais, que até então eram tratados com rigorismo, segregação e sem tratamento adequado. Ele passou a tratá-los como doentes, e não mais como objetos indesejados pela sociedade. Influenciou muito na estruturação dos manicômios judiciários e futuras medidas penais de segurança. Pinel recomendava que o louco deveria ser adequa- damente tratado e não sofrer violências que só contri- buíam para o agravamento de sua doença. É célebre o episódio ligado ao paciente Chevigné, um soldado encarcerado na La Sante, que segundo Pinel, quando foi desacorrentado “chorava como uma criança ao se ver tratado como uma criatura humana”. b) Domingo Esquirol (1772-1840): estudou um ele- vado número de criminosos doentes mentais, e tentou estabelecer uma ligação entre a loucura e o crime. Foi o criador do conceito de monomania, que gerou uma nova concepção psiquiátrica da loucura moral, e acabou sendo definida ao final do século XVII pelo médico Thomas Abercromby, como sendo característi- ca de alguém com bom nível de inteligência, mas com graves defeitos ou transtornos morais. c) Próspero Despine (1812-1892): mostrou as taras degenerativas de crianças perversas e criminosas, fir- mando também uma ligação entre loucura e crime. OUTROS NOMES a) Raphael Garófalo (1852-1934): foi quem inaugu- rou a utilização do termo “criminologia” para desig- nar essa ciência. Para Garófalo, a criminologia tinha uma tríplice preocupação: o estudo da criminalidade, do delito e da pena. Mas é de se ver que ele elaborou sua concepção de delito natural partindo da ideia lom- brosiana do criminoso nato. O Direito Penal não era monopólio dos juristas, mas também de interesses dos sociólogos. Apregoava que os verdadeiros delitos ofendiam a moralidade ele- mentar e revelavam anomalias nos que os praticam. Entendia que existem duas espécies de delitos: os legais e os naturais, sendo que os primeiros eram va- riáveis de país para país, e não eram necessariamente fruto de anomalias do indivíduo. Já os delitos naturais seriam aqueles que ofendem os sentimentos altruístas fundamentais de piedade e probidade, sendo portan- do frequente a presença de anomalias patológicas. Para Garófalo, era possível identificar quatro ca- tegorias de criminosos: 1ª) os assassinos (aqueles que agridem os sentimentos de piedade); 2ª) os ladrões (que agridem os sentimentos de probidade); 3ª) os vio- lentos ou energéticos (que infringem ambos os senti- mentos); 4ª) e os cínicos (que são aqueles que cometem os crimes sexuais). b) Augusto Comte (1798 - 1857): é considerado o fundador da sociologia moderna, uma ciência abstrata que tem por fim a investigação das leis gerais que re- gem os fenômenos sociais. Sua ideia foi baseou-se no estudo do ser social, e tem como método a observação e a indução. O alicerce fundamental da sua obra é, indiscutivel- mente, a «Lei dos Três Estados», segundo a qual a hu- manidade avança de uma época bárbara e mística para outra civilizada e esclarecida, em melhoramentos con- tínuos e, em princípio, infindáveis - sendo essa marcha o que explicaria a marcha da história. c) Lacassagne (1843 - 1924): também médico, opôs- -se à tese de Lombroso, pois via três zonas diversas no cérebro humano, cada uma com uma função diversa - as quais seriam responsáveis por reger as faculdades do indivíduo: a zona frontal (responsável pelos as- pectos intelectuais); a zona parental (responsável por questões volitivas); e a zona occipital (que cuida de questões afetivas). Dizia que quando há perturbações na zona frontal aparece o louco; na zona parietal advém a debilidade de vontade, o que permite o aparecimento do delin- quente ocasional; e na zona occipital, quando faculda- des afetivas ficam perturbadas, aparece o verdadeiro delinquente - ou seja, o indivíduo predisposto para o crime, o qual, quando as condições do meio e/ou seu próprio egoísmo o movam, desandará para o caminho da criminalidade. Entendia também que quanto maior fosse a desor- ganização social, maior seria a criminalidade. Dizia que a sociedade é como um meio de cultivo, e afirma- va que abriga em seu seio uma série de micróbios (que são os delinquentes e que estes, não se desenvolverão, se o meio não lhes for propício). Em suma, para Lacassagne, os fatores sociais atu- ando sobre um indivíduo predisposto, é o que pode dar origem ao fenômeno do crime. Criminologia 13 www.editoraaprovare.com.br w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r d) Jean-Gabriel de Tarde (1843 — 1904) não acei- tava as ideias de Ferri sobre o trinômio criminogenéti- co (fatores físicos, sociais e biológicos), e acrescentava que a influência do clima não está comprovada como fator criminal. Tarde começa a sua carreira teórica primeiro na Criminologia, publicando vários artigos e ensaios, nos quais entra em polêmica com Lombroso. Para além da Criminologia, publica também artigos nas áreas da Sociologia, Filosofia, Psicologia Social e Economia. e) Franz Von Liszt (1851– 1919): é considerado o pai da política criminal, e sua obra foi “Princípios de Política Criminal”, publicada em 1889. Entendia que a política criminal seria o conjunto sistemático de prin- cípios segundo os quais o Estado e a sociedade devem organizar a luta contra o crime. Por isso, muitos dou- trinadores entendem a política criminal como ciência e a arte dos meios preventivos e repressivos de que o Estado, no seu tríplice papel de Poder - Legislativo, Executivo e Judiciário - dispõe para consecução de seus objetivos na luta contra o crime.04 VITIMOLOGIA DELIMITAÇÃO DO TEMA A vitimologia é o ramo da criminologia que estuda o comportamento da vítima de um crime, com a ava- liação das causas e dos efeitos da ação delitiva sobre ela e o incremento do risco da ocorrência do delito. É um braço da ciência criminológica (embora al- guns digam que é uma ciência autônoma) que foca suas atenções exclusivamente nas vítimas de um crime e nos processos de vitimização. Há quem diga nesta seara, que muitos delitos só são provocados pela atuação da própria vítima. E esta ideia de que o comportamento da vítima muitas vezes pode até chamar a existência de um crime, fez surgir uma ciência paralela, batizada de “vitimo-dogmática”, a qual se ocupa especificamente da análise minuciosa da participação do ofendido no incremento do risco da ocorrência do delito. Alguns nomes importantes no estudo da vitimo- logia foram: o professor alemão de criminologia Von Hentig (que escreveu, em 1948, a obra “O criminoso e suas vítimas”), o mestre israelita Benjamin Mendelsohn, e os criminólogos mexicanos Luiz Rodriguez Manzanera e Maria de La Luz Lima. Quanto aos objetivos, pode-se dizer que a vitimo- logia procura alcançar três perspectivas essenciais: 1ª) analisar e compreender a magnitude do problema que envolve a vítima de um crime; 2ª) explicar as causas de vitimização; 3ª) desenvolver um sistema que possa reduzir a vitimização e dar assistência às vitimas. Em suma: a vitimologia deve ter como meta a orientação para a maior proteção dos indivíduos, con- tribuindo para tornar a vida em sociedade mais segura e menos violenta. ü Por “vítima”, deve-se entender qualquer pessoa que tenha sofrido, física ou moralmente, alguma violação a bem jurídico seu provocado por ato de terceiro. ü Por “vitimização”, deve-se entender o processo pelo qual alguém (indivíduo ou grupo) se autoviti- miza ou vitimiza outrem. Ao final, vale observar que a doutrina fala de uma tríplice esfera no processo de vitimização, a qual pode ser: primária, secundária e terciária. a) Vitimização primária: são as consequências do delito que atingem diretamente o ofendido. É aquela provocada pela conduta violadora dos direitos da vítima – pode causar danos mate- riais, físicos, psicológicos, dentre outros. b) Vitimização secundária: também conhecida como “sobrevitimização”, dizem respeito aos ônus da burocracia; aquela causada pelas ins- tâncias formais de controle social, no decorrer do processo de registro e apuração do crime. Ou seja, é a vitimização gerada pelo próprio Estado, inclusive quando demora a dar uma resposta ao crime (casos dos longos processos criminais, muitos quase infindáveis no tempo). c) Vitimização terciária: é levada a cabo no âmbito dos controles sociais, mediante o contato da vítima com o grupo familiar ou em seu meio ambiente social, como no trabalho, na escola, nas associações comunitárias, na igreja ou no convívio social. Por outro lado, há autores que entendem que esta também pode referir-se ao próprio autor do fato criminoso (seria a hipótese em que o criminoso se torna vítima de uma punição desproporcional face as sevícias no cárcere, cárcere lotado, etc.). TRAÇOS HISTÓRICOS NO TRATO DA VÍTIMA Como visto no início deste material, a vítima do cri- me recebeu trato bastante variado ao longo das cons- truções históricas da criminologia e suas ciências corre- latas (direito penal e processo penal), e essas alterações podem ser identificadas em três momentos especiais: uma primeira fase em que a vítima era valorizada, em que estava no centro das atenções; uma segunda fase de latência, onde ela é deixada totalmente de lado; e um terceiro momento, atual, de revalorização. a) Primeira fase: a “vítima de ouro”. Em um primeiro momento, que se operou des- de os primórdios da civilização até a Idade Média, é possível observar que a vítima possuía um papel bas- DPE/PR 14 www.editoraaprovare.com.br w w w .editoraaprovare.com .br w w w .editoraaprovare.com .br tante importante na gênese do delito, até porque viví- amos um período em que reinava a lógica da vingança privada, da autotutela e do talião (“olho por olho, den- te por dente”). Neste momento, o Estado ainda não estava estru- turado como o concebemos hoje, razão pela qual era o próprio particular o responsável por tutelar seus inte- resses. Assim, se fosse vítima de um fato delitivo, com- petia-lhe (ou a algum de seus familiares) perquirir a res- ponsabilidade do infrator e sancioná-lo, se fosse o caso. Esta fase ficou conhecida como “vítima de ouro”, dado o papel de destaque e relevância em que ela se encontrava neste processo. b) Segunda fase: “período de latência”. Ao término da Idade Média, com o advento dos Estados modernos, a vítima passa por uma fase de to- tal neutralização. Ela deixa de ter o poder de reação so- bre o fato delituoso, que é assumido e monopolizado pelo Estado soberano. É também o momento em que a sanção penal ganha nova feição: a pena passa a ser uma garantia para a ordem coletiva e não mais para o particular. Ou seja, a sanção não era mais aplicada para proteção da vítima, mas do Estado e da sociedade. Assim, uma vez que a vítima não era mais a respon- sável por realizar a persecução criminal e sancionar o infrator (o que, inclusive, lhe passou a ser proibido), ela acaba sendo renegada a um plano de indiferença sob a perspectiva jurídico-penal. Anota-se, inclusive, que muitas vezes ela sequer era chamada ao processo para prestar o seu depoimento. c) Terceira fase: “revalorização da vítima”. Eis que a vítima passa, tempos depois, a retomar parte do lugar de destaque que ocupava antes. Não em todos os casos e crimes, mas ao menos em alguns. De início, ela começa a ser presença marcante nos atos de instrução, trazendo ao Juiz a sua versão dos fatos (mesmo sem o compromisso de dizer a verdade destes). Após, com a criação de institutos que depende ou mesmo que autorizam a vítima a decidir pela reali- zação e continuidade da persecução criminal. A título de exemplo, podemos anotar os seguintes institutos: a necessária representação do ofendido nos casos de ação penal pública condicionada; a necessida- de de ofertar queixa-crime nos casos de ação penal de iniciativa privada; a possibilidade de composição civil dos danos nos crimes de menor potencial ofensivo; a desistência do direito de queixa/representação e o per- dão do ofendido; etc. Diz-se, inclusive, que foi a partir deste momento que nasceu o estudo da vitimologia, enquanto braço específico da criminologia. 05 PENOLOGIA DELIMITAÇÃO DO TEMA A sanção penal, como já observado, constitui um dos objetos de estudo das ciências criminológicas, e por possuir toda uma série de particularidades, é pos- sível trabalhá-la com uma abordagem própria e indivi- dualizada, por meio da “penologia” – o estudo da pena (em sentido amplo). MOMENTOS HISTÓRICOS É possível traçar breve digressão acerca do trato das penas nos vários ordenamentos jurídicos e nações ao longo dos tempos. Em suma, verifica-se que partimos de um período de “vingança privada” para chegar a um período que se pode batizar de “nova defe- sa social”. Vejamos alguns dos principais traços desses momentos: a) Período da vingança privada: Desde os primórdios da humanidade até o início da Idade Média, figurou de maneira preponderante a lógica da vingança privada – a qual, inclusive, chegou a estar expressamente institucionalizada em diplomas legislativos, como o Código de Hammurabi. Neste primeiro momento histórico, o Estado ainda não estava devidamente estruturado, e a aplicação do Direito estava centrada nas mãos do próprio particu- lar, que era o responsável por realizar a persecução criminal e aplicar a sanção contra o infrator (consoantejá observado). Mas é de se anotar que não havia grande raciona- lidade na aplicação do Direito neste momento, tanto é assim que passou a valer a lei do mais forte, afinal, somente estes conseguiam efetivamente resgatar seus débitos perante um infrator. b) Período da vingança divina: Quando a Igreja medieval ascendeu ao poder (não apenas religioso, mas também político, jurídico e eco- nômico), o Direito passou a ser aplicado não mais em nome dos particulares, mas sim da própria Igreja. Nesta toada, o particular é deixado de lado na seara penal, encerrando-se o período da vingança privada e inaugurando-se o período da vingança divina. Quem passa a ditar as regras jurídicas é Igreja, e a pena passa a ter como fundamento uma entidade su- perior: a divindade. A partir deste momento, a puni- ção passa a ser aplicada não mais para recuperar um débito da vítima, mas sim para aplacar a ira divina e purificar a alma do criminoso perante Deus. Foi o período da Inquisição, onde se confun- diam os interesses da Igreja com os jurídico-penais. Criminologia 15 www.editoraaprovare.com.br w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r Instauraram-se os “Tribunais do Santo Ofício” e as penas ficaram demasiado cruéis: torturas ao longo do processo em busca de confissões, ordálias, provas de fogo, forca e esquartejamento eram práticas comuns e regulamentadas pelo Direito da época. c) Período da vingança pública: Eis que então se iniciam revoltas contra os abusos da Igreja, e isso acaba desencadeando uma separação entre ela e o Estado, o qual avoca para si a responsabi- lidade de ditar o Direito e exercer – com exclusividade – o poder. Nascem assim os Estados soberanos e uma nova ideia: a pena não mais serviria para atender aos interesses dos particulares ou da Igreja, mas sim os in- teresses do próprio Estado, como forma de manter sua hegemonia e estrutura. É o que a doutrina batiza de período da vingança pública, pois a pena ainda não era aplicada para atender efetivamente aos clamores sociais, mas sim os desejos particulares do soberano - o que ainda legitimava a prática de certas penas cruéis. d) Período da humanização: Com o advento do Iluminismo, nasceu também a criminologia enquanto ciência (Escola clássica), cla- mando então por uma humanização nas sanções pe- nais. Inspirados pelo pensamento filosófico da época, os doutrinadores do direito penal passaram a defender que uma pena só seria justa se fosse necessária e pro- porcional. Esta preocupação com o indivíduo passou a estar no centro das atenções, o que fez surgir o período hu- manitário das penas. e) Período científico: Ocorre que logo após, houve grande retrocesso no trato da pena, especialmente firmado com o advento da Escola positivista, que passou a ver o crime como uma doença, e a pena como o remédio para tal. Assim, a busca por uma pretensão “cura” acabou legitimando uma série de intervenções diretas no cor- po do acusado, resgatando-se perspectivas cruéis de punição, como - por exemplo - a prática de lobotomia nos presos. f) Período da nova defesa social: Encerrado o apogeu do período científico, passou- -se a propugnar por novos valores à pena, e até mesmo numa forma de resgatar os valores centrais nascido ao longo do período humanitário. A partir de então, não mais se aplicaria a pena para vingança pessoal, da Igreja ou do Estado, e nem mes- mo para tentar curar o indivíduo. Deste momento em diante, a pena deveria ser aplicada apenas em prol e na defesa da coletividade. O Estado e o Direito só se legitimam para a proteção dos interesses coletivos, e a pena deve ter o mesmo viés e finalidade. Três são os postulados básicos deste novo mo- mento histórico: 1º) a pena não tem o caráter apenas expiatório, pois interessa também para a proteção da sociedade; 2º) a pena, além de ser exemplar e retribu- tiva, tem o escopo de melhorar o delinquente, de ree- ducá-lo; 3º) a justiça penal deve ter sempre em mente a pessoa humana e sua dignidade, a qual não pode ser desrespeitada. MODELOS DE JUSTIFICAÇÃO Várias foram as propostas apresentadas ao longo da história para justificar a existência e legitimar apli- cação de uma pena. Assim, é possível verificar que os códigos e constituições propagaram discursos varia- dos para tentar responder à seguinte questão: Qual a finalidade da pena? Neste afã, o discurso oficial produziu três grandes discursos (teorias) sobre o tema: teorias absolutas, teo- rias relativas e teorias mistas. Vejamos alguns detalhes de cada uma delas. a) Teorias Absolutas: Para os adeptos dessa teoria, a pena é um instru- mento de retribuição ao crime. Ou seja, ela traduz a ideia de expiação, de reparação, de compensação do mal que é um crime. Assim, a pena é algo que serve exclusivamente para castigar o agente que infringiu uma norma penal. As primeiras aparições desta lógica remontam a Protágoras e Platão, que seguiam a máxima: “punitur, quia peccatum est” (pune-se quem pecou...!). E veja que esta ideia encontrava respaldo também na Lei taliôni- ca: “olho por olho, dente por dente”. Nesta toada, a pena seria a justa paga do mal que o crime concretizou. Vale destacar que alguns doutrinadores foram expoentes deste modelo de justificação. Entre eles, Immanuel KANT (“A metafísica dos costumes”), que qualificava a pena como um imperativo categórico (algo que tem em si mesmo sua justificação; no sen- tido de que ela existe porque deve existir); e também Georg W. Friedrich HEGEL (“Princípios da filosofia do Direito”), que dizia que o crime é a negação do Direito (o qual, por sua vez, deve ser visto como a expressão racional do pensamento de uma sociedade), e que a pena serviria como forma de negação do crime, resta- belecendo a ordem jurídica abalada. Mas estas teorias foram alvos de várias críticas, dentre as quais se destaca: o fato delas confundirem a noção de Justiça com a noção de Direito (lembre-se que o primeiro conceito, diferente do segundo, não é DPE/PR 16 www.editoraaprovare.com.br w w w .editoraaprovare.com .br w w w .editoraaprovare.com .br variável no tempo; razão pela qual não é válido defen- der que a pena serve para fazer justiça). Ademais, não há um alegado direito natural de se aplicar uma pena ao criminoso, como querem os adeptos da teoria abso- luta; e mesmo que houvesse, tal seria um conceito in- seguro (pois dependeria de quem exercer o poder em dado momento). Por fim, as perspectivas que dizem que a pena figura como imperativo categórico, acabam por não delinear uma verdadeira função à pena. Ou seja, a pena não teria uma verdadeira finalidade sob este ponto de vista. b) Teorias Relativas: Para os adeptos desta teoria, a pena serve como ins- trumento de prevenção delitiva. Essas teorias buscam um sentido social-positivo para a pena, partindo sem- pre do pressuposto que ela é um instrumento de polí- tica criminal destinado a atuar no mundo real. Assim, ela sempre terá um fim maior a cumprir: a de profila- xia criminal. Tais teorias surgiram com a decadência do Estado liberal e o advento do Estado social, onde novos enfo- ques foram propugnados para o Direito penal e para sua reprimenda. Neste modelo, passou-se a questionar a pena fundada unicamente na ideia de retribuição, e o argumento principal era o de que ela estaria carente de uma finalidade social. Assim, a ideia de utilidade passou a acompanhar a construções jurídicas sobre a pena, e tudo isso começou com o trabalho de Beccaria (defensor do contratualismo, o qual entendia que a pena serviria exatamente para manter o “contrato so- cial” entre os cidadãos e o Estado). Ou seja, a pena, antes de castigar, deveria evitar arealização de novos delitos. Mas é de se destacar que existem duas perspectivas distintas de prevenção: a prevenção poderia ser geral ou especial. Vejamos. (b.1) Prevenção geral: a pena é vista como ins- trumento político-criminal destinado a atuar (psiquicamente) sobre a generalidade dos mem- bros da comunidade, afastando-os da prática de crimes através da ameaça penal instituída pela lei, da realidade da aplicação judicial das penas e da efetividade da sua execução. Ou seja, é tida como “prevenção geral” porque está voltada para toda a coletividade. Foi com Anselm Von Feuerbach que esta teoria se firmou cientificamente, com base na intitulada “Doutrina da coação psicológica”. Dizia o jusfilósofo que a finalidade precípua da pena seria a de criar no espírito dos potenciais criminosos um motivador con- trário forte o bastante para afastá-lo do crime. Dizia também que a alma do criminoso potencial funciona- ria tal qual a arena, onde se digladiam as motivações conducentes ao crime e as contra-motivações deriva- das do conhecimento do mal da pena. E esta prevenção geral pode ser identificada em duas frentes: (b.1.1) prevenção geral negativa, tradu- zindo a ideia de intimidação (a pena seria uma forma de intimidar a coletividade, para que as outras pes- soas, através do mal que ela impõe, não cometessem delitos); (b.1.2) prevenção geral positiva, traduzindo a ideia de integração (como defende Günther Jakobs, a pena seria a forma pela qual o Estado mantém e refor- ça a confiança da sociedade na validade e na vigência de suas normas). ü Veja então que é com base na teoria da preven- ção geral negativa que o legislador aumenta penas na crença de conter a criminalidade com a ajuda do Código Penal. (b.2) Prevenção especial: aqui, a pena é vista como instrumento de atuação preventiva sobre a pessoa do infrator propriamente dito, com o fim de evitar que ele, no futuro, cometa novas infrações (seria, pois, uma verdadeira “preven- ção de reincidência”, nas palavras de Eser). Ou seja, não se volta para a coletividade, mas sim para o próprio indivíduo. Tal ideia surge na segunda metade do século XIX, com a Escola correcionista Ibérica (especialmente com Krause e Roeder, que se baseavam nas ideias de que todo homem pode ser corrigido, e a pena serviria para dar este auxilio). Todavia, elas ganham expressão por força das Escolas positivo-sociológicas (especialmente as de origem italiana e alemã, com Ferri e Von Liszt). Em suma, a ideia era de que a pena se mede com cri- térios preventivo-especiais, segundo os quais a aplica- ção da reprimenda deve sempre obedecer a uma ideia de ressocialização e reeducação do infrator, à intimi- dação daqueles que não necessitem ressocializar-se, e também para neutralizar os incorrigíveis. E a prevenção especial, a seu turno, se divide em: (b.2.1.) Prevenção especial negativa, tradu- zindo a ideia de neutralização (leia-se: de se- gregação individual - a pena teria um efeito de pura defesa social, através da separação do delinquente da sociedade); (b.2.2) Prevenção especial positiva, traduzin- do a Idea de ressocialização do preso (a pena deve alcançar a reforma interior do infrator; emendando o criminoso para que incorpore valores conforme a ordem social, para só de- pois ser reintegrado à sociedade livre). Mas essas teorias também foram alvo de críticas, em especial porque: ao aplicar a pena em nome de fins utilitários ou pragmáticos, o ser humano estaria se tor- nando mero objeto de expiação (e isso afronta o prima- do da dignidade). Uma segunda crítica aduz que apli- car a pena para defender a norma, em si considerada, poderia legitimar Estados totalitários (como ocorreu no período do nazismo). Por fim, os críticos aduzem Criminologia 17 www.editoraaprovare.com.br w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r w w w .e di to ra ap ro va re .c om .b r que os fins de prevenção são falsos, pois os índices de criminalidade só tendem a crescer (até porque, não se pode crer que o sistema penitenciário tenha a possibi- lidade de tornar o infrator um sujeito sociável). ü Veja então que, além de atribuir à pena priva- tiva de liberdade a finalidade reeducadora (algo inalcançável segundo os críticos), atrás das ideias utilitárias da prevenção especial sempre há uma confusão entre direito e moral e entre crime e pe- cado. c) Teorias Mistas: Também conhecidas como teorias unificadoras, conciliatórias ou ecléticas, buscam uma conciliação entre as perspectiva anteriores, o que se dá de duas formas: de uma pena preventiva, por meio da justa re- tribuição; ou então, de uma pena retributiva, no seio da qual se procura realizar as ideias de prevenção (ou seja, hora dando ênfase à prevenção e hora a repres- são). O primeiro grande expoente desta lógica foi Merkel, ao aduzir que prevenção e retribuição são aspectos distintos de um mesmo e complexo fenômeno: a pena. Também Maurach, ao defender que a pena deve ser vista como retribuição da culpabilidade e como forma de ressocializar o infrator. E a mesma lógica é defendi- da por Figueiredo Dias e por Claus Roxin (que intitu- lou sua tese de “Doutrina dicrônica dos fins da pena”, dizendo que no momento da cominação legal, estaria ela exercendo a função de prevenção geral; no momen- to de sua aplicação no caso concreto, seria retributiva; por fim, no momento de sua execução, estaria cum- prindo o papel de prevenção especial. Mas como ocorre com as anteriores, as teorias mis- tas também foram criticadas: a principal crítica segue no sentido de que tais teorias tentam conciliar postula- dos eminentemente opostos (o que causa uma contra- dição). Ademais, aduzem os críticos que, quando não há um princípio unificador, não se pode sequer falar em verdadeiro sistema de penas. ü Não obstante às críticas, é de se ver que a teo- ria mista foi formalmente adotada pela legislação penal brasileira – conforme se verifica da parte fi- nal do art. 59 do CP. Então, no Brasil, a pena serve para “reprimir e prevenir delitos”. DISCURSOS CRÍTICOS DA PENA Por outro lado, vale observar que as teorias su- pramencionadas traduzem apenas o discurso oficial (aquele que é propagado pelo Estado sua legislação). Ocorre que a doutrina crítica, especialmente baseada em estudos criminológicos, aduz que tais discursos não se prestam a traduzir a real função da pena. E dentre os vários discursos críticos, vale anotar os se- guintes. a) Crítica agnóstica da pena: Desenvolvida por Zaffaroni e Nilo Batsita, parte do pressuposto que a pena criminal é um ato de poder po- lítico correspondente ao mesmo fundamento de uma guerra: a vingança (consoante nota histórica de Tobias Barreto). Aduz que nem a pena e nem o Direito pe- nal se prestam à resolver problemas sociais, razão pela qual não há sentido em sua existência, que não o argu- mento da vingança (do Estado e da sociedade contra o infrator). E se este é o fim da pena, torna-se imperioso conceber que a pena é baseada em um argumento ir- racional, contrários aos clamores de um Estado demo- crático de Direito. b) Crítica dialética da pena: Teve como expoentes, Pasukanis, Rusche e Kirchheimer, Michel Foucault, Melossi, Pavarini e Alessandro Barata. Estes doutrinadores partem do pressuposto que a estrutura material das relações eco- nômicas do capitalismo se baseia no princípio da “re- tribuição equivalente”, e isso ocorre em todos os níveis da vida social: do trabalho pelo salário, na produção de bens e serviços; da mercadoria pelo preço, na dis- tribuição dos bens e serviços; etc. Logo, as formas jurí- dicas também acabam se calcando nesta relação de re- tribuição equivalente, inclusive a pena. Assim, quando há carência de mão-de-obra, é necessária uma menor intervenção punitiva
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