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Aula 06 Direito Civil p/ TCU-2015 - Auditoria Governamental Professores: Jacson Panichi, Aline Santiago Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 78 AULA 06: Contratos. Contratos em geral. Preliminares e formação dos contratos. Transmissão das obrigações. Adimplemento das obrigações. Olá aluna(o)! Chegamos hoje ao final do nosso curso, mas devemos deixar bem claro que ficamos à sua disposição no fórum de dúvidas. Não deixe de nos contatar! - Obviamente estamos torcendo pela sua aprovação, mas, caso ela não ocorra, sempre que você tiver alguma dúvida não hesite em nos enviar um e-mail. O primeiro passo você já deu. Agora basta não desistir! Na aula de hoje veremos, então, o direito das obrigações. Primeiramente abortaremos o assunto de uma forma geral, isto será importante para a compreensão do tema como um todo, no entanto você deve dedicar mais tempo do seu estudo à transmissão e ao adimplemento das obrigações. Posteriormente vamos aos Contratos mais especificamente aos assuntos: dos contratos em geral, preliminares e formação dos contratos. Novamente nos colocamos à sua disposição, para ajudá-lo(a) em caso de dúvidas, por meio dos nossos e-mails ou do fórum. OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente através do site Estratégia Concursos ;-) Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 78 Sumário -Teoria Geral das Obrigações. ................................................................................................................. 3 - Transmissão das obrigações (arts. 286 a 303). ..................................................................................... 4 - Adimplemento das obrigações: .......................................................................................................... 15 Pagamento. ....................................................................................................................................... 15 -Do Lugar do Pagamento (arts. 327 a 330). ...................................................................................... 23 -Do Tempo do Pagamento (arts. 331 a 333). .................................................................................... 25 Do Pagamento em Consignação ....................................................................................................... 27 Do Pagamento com Sub-Rogação ..................................................................................................... 29 Da Imputação do Pagamento ........................................................................................................... 31 Da Dação em Pagamento .................................................................................................................. 31 Da Novação ....................................................................................................................................... 32 Da Compensação .............................................................................................................................. 34 Da Confusão ...................................................................................................................................... 35 Da Remissão das Dívidas ................................................................................................................... 35 - Teoria Geral dos Contratos. ................................................................................................................ 36 - Disposições Gerais (art.421 a 471) ..................................................................................................... 36 QUESTÕES DO CESPE E SEUS RESPECTIVOS COMENTÁRIOS ................................................................ 49 LISTA DAS QUESTÕES E GABARITO. ...................................................................................................... 71 Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 78 -Teoria Geral das Obrigações. Não cabe, em um curso preparatório para um concurso público, se não for algo específico de um concurso da área jurídica, ficar divagando sobre a teoria geral das obrigações. O assunto é extenso e permite uma ampla discussão doutrinária. Deste modo, falaremos o básico, aquilo que julgamos necessário para uma boa compreensão da matéria, focando o estudo nas obrigações jurídicas encontradas no código civil. A obrigação, objeto do nosso estudo, é a obrigação jurídica, aquela que encontra respaldo em uma lei e que estará, também, relacionada a um negócio jurídico, como, por exemplo, um contrato. Por ter respaldo legal, esta obrigação está protegida pelo direito e tem garantia do Estado, por isto, se não for cumprida, em caso de inexecução, haverá consequências de cunho jurídico, trata-se da chamada responsabilidade contratual (que foi vista na aula passada dentro do assunto responsabilidade civil). A obrigação estabelece um vínculo jurídico entre sujeitos (pessoas) e objeto. É, portanto, uma relação jurídica. Diz-se que esta relação tem caráter transitório, uma vez que já nasce com a finalidade de se extinguir (normalmente pelo seu cumprimento, pelo seu adimplemento). ³0DV o que é afinal XPD�REULJDomR�SDUD�R�PXQGR�MXUtGLFR"´� Segundo Carlos Roberto Gonçalves1 a obrigação, no estudo do direito das obrigações, é empregada em seu sentido mais restrito, pois apenas os vínculos de conteúdo patrimonial estarão em sua abrangência, trata-se daquela relação direta entre as pessoas (que tem como objeto direitos de natureza pessoal), onde uma pessoa é credora (aquela que pode exigir a prestação) e a outra é devedora (aquela que tem a incumbência de cumprir a prestação). E, segundo Flávio Tartuce2: ³$�REULJDomR�SRGH�VHU�FRQFHLWXDGD�FRPR� a relação jurídica transitória existente entre um sujeito ativo (credor) e um sujeito passivo (dHYHGRU���WHQGR�FRPR�REMHWR�LPHGLDWR�D�SUHVWDomR�´ Deste modo, direitos de natureza pessoal, também denominados direitos de crédito, são aqueles em que há um vínculo entre o chamado 1 Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Esquematizado, Saraiva 2012, 2ª ed., pág. 441. 2 Em, Costa Machado, Código Civil Interpretado, Manole 2012, 5ª ed., pág. 236. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 78 sujeito ativo (que pode exigir a prestação) e o sujeito passivo (de quem se pode exigir o cumprimento da prestação). Vamos começar agora no conteúdo específico de seu edital: a transmissão das obrigações. - Transmissão das obrigações (arts. 286 a 303). A transmissão, seja ela de direitos ou de obrigações, podeverificar- se tanto por causa de morte, como por atos entre vivos. A transmissão que se dá com a morte é disciplinada e mais bem estudada no direito das sucessões. A transmissão que julgamos ser mais importante para analisarmos, neste momento, é aquela realizada pela vontade das partes. Veja que a obrigação faz parte do patrimônio do credor, por consequência, este credor, se quiser, poderá transmiti-la. A mudança da figura do credor é o que se chama cessão de crédito. Elementos que constituem uma obrigação: (elemento subjetivo) sujeitos Ativo (é para quem a prestação é devida) Passivo (é quem deve cumprir a obrigação) (elemento objetivo) objeto é o elemento material (é a própria prestação) vínculo obrigacional Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 78 ³0DV�R�TXH�YHP�D�VHU�FHVVmR"´� De acordo com Maria Helena Diniz3: ³2� ato determinante de transmissibilidade das obrigações designa-se cessão, que vem a ser a transferência negocial, a título gratuito ou oneroso, de um direito, de um dever, de uma ação ou de um complexo de direitos, deveres e bens, com conteúdo predominantemente obrigatório, de modo que o adquirente �FHVVLRQiULR��H[HUoD�SRVLomR�MXUtGLFD�LGrQWLFD�j�GR�DQWHFHVVRU��FHGHQWH�´� Cessão é, então, transferência negocial. Neste tipo de negócio teremos a presença de três envolvidos: o cedente; o cessionário; e aquele que é cedido. Como espécies de cessão temos: a ¹cessão de crédito; a ²cessão de débito; e a ³cessão de contrato (este último tipo de cessão é menos cobrado em concursos). Vamos analisar cada uma delas: A cessão de crédito (arts. 286 a 298) enfoca a substituição, por ato entre vivos, da figura do credor e isto independentemente do consenso do devedor. O crédito, como parte integrante de um patrimônio, possui um valor econômico e, sendo assim, é algo que pode ser transmitido, tanto de forma onerosa como gratuita. Na cessão de crédito temos como figuras do negócio (ou partes envolvidas): o cedente (aquele que vende o direito), o cessionário (que adquire o direito) e o cedido (que é o devedor original, que deve cumprir com a obrigação de pagar a dívida, agora para outra pessoa). O cedido não participa ativamente do negócio, mas, como você verá logo a frente, ele precisa ser notificado. Na cessão de crédito, este é transferido tal como foi contratado, o que se modifica é a pessoa que irá cobrar a obrigação. De um modo geral a cessão de crédito é permitida, mas atente para o art. 286: Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser ¹a natureza da obrigação, ²a lei, ou ³a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. 3 Maria Helena Diniz, Manual de direito Civil, Saraiva 2011. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 78 O próprio contrato pode proibir a cessão de crédito (cláusula proibitiva da cessão), mas para que isso se torne eficaz perante terceiros de boa-fé, a cláusula deve constar no instrumento de obrigação, ou seja, no próprio contrato. Em todos os casos, deve-se verificar se o terceiro, que está comprando o crédito, teve conhecimento da cláusula impeditiva. Se não teve conhecimento, a cessão de crédito poderá ser válida, mesmo perante a cláusula impeditiva. Também, é importante destacar que deve estar presente a possibilidade jurídica para a transmissão do crédito, pois as obrigações personalíssimas, por sua natureza, não admitem cessão. Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem- se todos os seus acessórios. Veja então que, em regra, a cessão de um crédito abrange todos os seus acessórios, mas esta regra comporta exceção. Basta que exista disposição a esse respeito. A cessão de crédito pode ser ainda: x ¹Gratuita ou ²onerosa, conforme ela se realize com ou sem pagamento por parte do cessionário. x ¹Total ou ²parcial, pois o cedente pode transferir todo o crédito ou, então, somente uma parte, resguardando para si o resto. x ¹Convencional, ²legal ou ³judicial. Convencional é quando decorre da vontade livre e espontânea entre o cedente e o cessionário. Legal é decorrente de lei, pois existem casos em que a própria lei prevê esta cessão. Judicial é a que decorre de sentença judicial, como por exemplo, nos casos de sucessão onde haverá a partilha dos bens. Como os créditos também são bens, estes vão ser transferidos para os herdeiros. x Pode ser ¹pro soluto, quando, com a transferência, o cedente deixa de ter responsabilidade pelo pagamento do crédito, pela solvência do devedor, mas continua responsável pela sua existência; ou ²pro solvendo, quando o cedente continua responsável pelo pagamento, caso o cedido ou devedor não o faça. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 78 Já foi afirmação de prova, mas de outra banca: ³1D�FHVVão pro soluto do crédito, o cedente não responde pela solvência do devedor, mas apenas pela existência do crédito´. Embora a cessão de crédito seja um negócio jurídico não solene (ou consensual), pois não depende de forma determinada, convém que a cessão seja feita por escrito, pois assim terá validade contra terceiros4, conforme vemos no art. 288. Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1o do art. 654. ($UW�����������³2�LQVWUXPHQWR�SDUWLFXODU�GHYH�FRQWHU�D�LQGLFDomR�GR�OXJDU� onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes confHULGRV´). Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel. Trata-se de garantia para o cessionário, pois com esta atitude ± de averbação na escritura do imóvel no registro de imóveis, o ato de cessão gera efeitos contra todos (erga omnes). No art. 290 temos a informação quanto à necessidade de notificação do devedor. Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. Assim, a cessão de crédito não está condicionada a aceitação do devedor, mas ele deve ser notificado de quem é o credor da obrigação, para poder efetuar o pagamento. Esta notificação ao devedor pode ser feita tanto pelo cedente (aquele que está cedendo) como pelo cessionário (aquele que está adquirindo o direito). 4 (VVHV�³WHUFHLURV´�FLWDGRV�QR�WH[WR�GD�OHL�GHYHP�WHU�interesse no patrimônio das partes. Não podendo ser qualquer pessoa. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 78 Como dito anteriormente, a cessão prescinde (não precisa) de autorização do devedor,que dela, apenas, deve ter ciência. O devedor não faz parte diretamente do negócio jurídico que é a cessão de crédito. Se a cessão foi desmembrada, e existirem vários credores, o devedor deve ser informado de tal situação e esta não deve lhe gerar maiores gastos, ou seja, sua situação não poderá ser agravada sem sua concordância. Veja o art. 291 que já foi objeto de cobrança em prova (CESPE 2008/TJ-DFT). Art.291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido. Esta situação irá ocorrer, quando o crédito for cedido várias vezes, para diferentes pessoas. Nestes casos não está obrigado o devedor a procurar o último cessionário para fazer o pagamento. De acordo com o artigo, ele pagará ao cessionário que lhe apresentar o título do crédito cedido. Se isso vier a causar algum dano para os demais cessionários, será resolvido entre eles. O art. 294 fala das exceções (das defesas que dispõe o devedor), e diz assim: Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. Desse modo, se o devedor podia em sua defesa, por exemplo, alegar erro ou, então, dolo contra o cedente, também poderá fazê-lo contra o cessionário. Isso se dá, porque o crédito se transfere com as mesmas características que possuía originariamente. A responsabilidade do cedido é cumprir com a obrigação. Já a reponsabilidade do cedente, nas cessões a título oneroso, ainda que não se responsabilize pelo cumprimento da obrigação, está na existência do crédito ao tempo da cessão. Isto também é valido nas cessões a título gratuito, se o cedente agiu de má-fé. É o que diz o art. 295: Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 78 Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé. Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência5 do devedor. O cedente, em regra, assume apenas obrigação de garantia e existência do crédito, mas vHMD� TXH� p� YHUGDGHLUD� D� LQIRUPDomR�� ³2� FHGHQWH� SRGH� UHVSRQGHU� SHOD� VROYrQFLD� GR� GHYHGRU´�� basta que haja estipulação neste sentido (convencionada entre as partes). O artigo 297 continua: Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. Se as partes convencionaram a responsabilidade do cedente, este não pode ser responsabilizado por mais do recebeu, respeitando o que foi dito no art. 297. Finalizando o assunto cessão de crédito, temos o art. 298: Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro. A cessão de débito (ou assunção de dívida), que não ocorre sem a anuência do credor, de acordo com Maria Helena Diniz é um negócio jurídico bilateral, pelo qual o devedor será o cedente e, com anuência expressa do credor (será o cedido), transfere a um terceiro (assuntor ou cessionário) os encargos obrigacionais, de modo que este assume sua posição na relação obrigacional, substituindo-o, responsabilizando-se pela dívida, que subsiste com todos os seus acessórios. Vamos colocar na prática, veja o exemplo abaixo: 5 Solvência é a situação econômica positiva, quando os haveres superam, em valores, às dívidas. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 78 ¹João deve pra ²Otávio. Surge, na relação obrigacional, a figura de ³Paulo, um terceiro, que será o assuntor ou cessionário. ³Paulo assume a obrigação, que era de ¹João (devedor primitivo), perante ²Otávio (credor). No código civil, o conceito para a assunção de dívida está no art. 299. Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. Do que foi dito acima, podemos extrair os pressupostos da cessão de débito: x Existência e validade da obrigação transferida. x Substituição do devedor sem alteração na substância do vínculo obrigacional, salvo se o novo devedor, ao tempo da assunção da dívida, era insolvente e o credor ignorava. x Concordância expressa do credor. x Observância dos requisitos relacionados para os negócios jurídicos. A assunção pode ¹liberar o devedor primitivo, ou ²mantê-lo ligado ainda à obrigação. Trata-se de uma opção das partes, uma escolha do credor. Entretanto, temos o art. 300. Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. ³2�TXH�LVWR expresso no art. 300 TXHU�GL]HU"´ O fiador, por exemplo, não é obrigado a garantir um devedor que não conhece, que não confie. A ideia é no sentido de que as garantias ditas especiais não permanecerão com a assunção se não houver menção expressa a este respeito. No entanto, permanecem as garantias dadas pelo devedor primitivo ligadas a sua pessoa. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 78 Quanto as suas características a cessão de débito: ¹possui natureza contratual; ²se o negócio exigir forma especial, assim deverá ser feito, caso contrário à forma é livre; ³os vícios possíveis são os dos negócios jurídicos em geral. Importante A assunção de dívida (cessão de débito) pode se dar através de dois modos: ¹por acordo entre o terceiro e o credor (expromissão); ou ²por acordo entre o terceiro e o devedor (delegação). x Expromissão é quando o terceiro contrai perante o credor a obrigação de liquidar o débito. O acordo é entre o terceiro e o credor. Esta expromissão pode ocorrer com a liberação do devedor ± assunção perfeita, ou manter-se o devedor cumulativamente responsável pela obrigação ± assunção de débito imperfeita. x Delegação, se o devedor transferir a terceiro, com a anuência do credor, o débito com este contraído. Subdivide-se em: primitiva, se o terceiro assumir toda a dívida, excluído o devedor original; e simples ou cumulativa, se o terceiro entrar na relação obrigacional unindo-se ao devedor primitivo, que continuará vinculado. De todo modo, o principal efeito da assunção é a substituição do devedor na relação obrigacional. Os artigos 301 e 302 apresentam outros efeitos da assunção: Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todasas suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação. Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo. Assim, na falta de estipulação expressa, as exceções (defesas) oponíveis pelo primitivo transferem-se ao terceiro, salvo as exceções pessoais. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 78 Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento. Pois quem adquire um imóvel que está hipotecado, na maioria das vezes, absorve no preço o valor da hipoteca e se assume a dívida a partir daquele momento. Se o credor, notificado da mudança e da assunção da dívida, não se manifestar no prazo estabelecido pela lei, dá-se o seu assentimento. A cessão da posição contratual (próximo ponto que será visto) não tem sido muito cobrada. Priorize a cessão de crédito e a cessão de débito, no entanto, é bom que você tenha uma visão geral acerca do assunto, por isto incluímos na aula. A cessão de posição contratual é a transferência da inteira posição ativa e passiva, do conjunto de direitos e obrigações de que é titular uma pessoa, derivados de contrato bilateral já ultimado, mas de execução ainda não concluída. Nesse negócio, vamos ver que uma das partes (cedente), com o consentimento do outro contratante (cedido), transfere sua posição no contrato a um terceiro (cessionário). Para que não ocorra confusão com a terminologia, chama-se o contrato original de contrato base. Vimos que na cessão de crédito substitui-se uma das partes na obrigação, apenas do lado ativo e em um único aspecto da relação jurídica. O mesmo acontecendo na assunção de dívida. Entretanto, ao transferir uma posição contratual, transfere-se todo um conjunto de direitos e deveres, consequentemente, transfere-se o crédito e também o débito, isto não como contrato principal, mas como parte, como elemento do negócio jurídico. A cessão de posição contratual possui como objeto a substituição de uma das partes no contrato, o qual objetivamente permanecerá o mesmo. Assim, a cessão de todos os créditos e de todas as pretensões presentes e futuras e a assunção de todas as dívidas não esgota o conteúdo jurídico do tema em estudo. Ou seja, o negócio jurídico básico, ultrapassa o somatório dos direitos transferidos. O que se transfere é uma relação jurídica fundamental, e não a soma de créditos e débitos. A cessão de posição contratual situa-se basicamente nas relações a prazo, duradouras, mas não está por elas limitada. Portanto, enquanto um contrato não estiver completamente exaurido, o que não se confunde com contrato cumprido, haverá possibilidade de cessão de posição contratual, dependendo sempre da necessidade econômica das partes. O caso concreto é que mostrará a necessidade. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 78 A concordância do terceiro-cedido é de suma importância para a formação da cessão de posição contratual. Essa concordância, embora necessária, pode ser simultânea, prévia ou posterior ao negócio jurídico. x Haverá concordância contemporânea ou simultânea quando uma das partes manda a proposta de cessão diretamente às outras duas. x Haverá concordância posterior se a concordância do cedido ocorrer após o acerto da cessão entre cedente e cessionário. x Haverá concordância prévia quando no contrato base já houver previsão e autorização para uma futura cessão. A falta de consentimento do cedido impede o aperfeiçoamento da cessão e o relacionamento entre cedente e cessionário permanece no campo da responsabilidade pré-contratual. O principal efeito da cessão de contrato é a substituição de uma das partes de contrato±base, permanecendo este íntegro em suas disposições. Todo complexo contratual, direitos e obrigações provenientes do contrato transferem-se ao cessionário. Na cessão de posição contratual, o cedente é responsável pela existência do contrato, por sua validade e pela posição que está cedendo. Caso não ocorram tais circunstâncias, a solução será uma indenização por perdas e danos, com ressarcimento da quantia acordada para a transferência da posição contratual. Ainda que o negócio seja gratuito, poderá gerar direito à indenização. Em se tratando de cessão onerosa, a responsabilização independe de culpa. A culpa funcionará, talvez, como um reforço para o quantum indenizatório. Na hipótese de inexistir o contrato cedido, ou de não existir de forma que permita a eficácia da cessão, há, na verdade, uma impossibilidade do negócio por inexistência de objeto. O cedente não se responsabiliza pelo adimplemento6 do contrato. Pode, no entanto, assumir perante o cessionário uma garantia, maior ou menor, dependendo das cláusulas do negócio, pelo adimplemento das obrigações contratuais do cedido. Porém, se não houver expressado 6 Pelo cumprimento do contrato. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 78 menção do tipo de garantia, existirá uma caução fidejussória7, nada impedindo, no entanto, que as partes coloquem a responsabilidade solidária total ou parcial, restrita a determinado valor, ou mesmo restrita a uma só assunção de dívida do contrato base. Na transferência de posição contratual, devem as partes identificar claramente o objeto do negócio, sempre que possível avisando o cedente ao cessionário de todas as cláusulas do contrato cedido. É muito importante, que no mesmo instrumento ou em instrumento à parte, em cópia fiel, conste o contrato base. Deste modo, estará o cessionário plenamente ciente da situação contratual que está assumindo. Como também deve o cedente dar todas as informações necessárias ao cessionário, para que ele tenha condições de cumprir com seu novo acordo. O acordo preparatório entre cedente e cessionário não produz qualquer efeito quanto ao cedido sem sua anuência, ainda que posterior. Com a transferência de sua posição contratual, ausenta-se o cedente da relação jurídica. Neste tipo de negócio, podem as partes estipular que há uma cessão de posição contratual, mas que o cedido pode agir contra o cedente em caso de inadimplemento do cessionário. Entretanto, as partes devem manifestar-se expressamente quanto a isso, caso não o façam haverá total liberação do cedente. Quanto ao cessionário e o cedido, ambos passam a ser partes no contrato-base. O cessionário toma o lugar do cedente nos direitos e obrigações. O cedido só se libertará de suas obrigações contratuais com pagamento ao cessionário após tomar conhecimento e anuir na cessão. O contrato pode ser cedido em trânsito, isto é, parcialmente cumprido. Lembrem-se: só se transferem as relações jurídicas ainda existentes. Transfere-se a posição contratual no estado em que se encontra para o cedente. Todos os acessórios dos direitos conferidos pelo contrato também se transmite ao cessionário, inclusive sua posição subjetiva de parte processual. As garantias para o contrato, fiança, hipoteca, penhor, prestadas por terceiro,necessitam do consentimento deste para permanecerem íntegras. 7 As garantias contratuais se dividem em reais e fidejussórias. Nas reais é oferecido um bem para assegurar o cumprimento da obrigação, através de hipoteca, penhor ou anticrese. Já nas garantias fidejussórias é uma pessoa quem vai assegurar o cumprimento da obrigação, através de aval ou fiança. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 78 Resumindo: Efetivar-se-á a cessão de contrato somente se: 1. O contrato transferido for bilateral. 2. O contrato for suscetível de ser cedido de maneira global. 3. Houver transferência ao cessionário não só dos direitos como também dos deveres do cedente. 4. O cedido consentir, prévia ou posteriormente, uma vez que a cessão de contrato implica, concomitantemente, uma cessão de crédito e uma cessão de débito. 5. Houver observância dos requisitos do negócio jurídico. 6. A obrigação não for personalíssima, nem houver cláusula vedando a cessão. A cessão de contrato produz as seguintes consequências jurídicas: 1. Transferência do crédito e do débito de um dos contraentes a um terceiro. 2. Subsistência da obrigação. 3. Liberação do cedente do liame contratual se houver consentimento do credor ou se se configurar hipótese em que a lei dispensa tal concordância. Atenção: a falta de texto expresso em lei, não inibe o negócio de cessão de posição contratual. Este contrato entra no campo dos contratos atípicos e situa-se no direito dispositivo das partes. O vigente CC faz referência H[SUHVVD�D�HVVD�SRVVLELOLGDGH��HP�VHX�DUW�������³É lícito as partes estipular contratRV�DWtSLFRV��REVHUYDGDV�DV�QRUPDV�JHUDLV�IL[DGDV�QHVWH�FyGLJR´� - Adimplemento das obrigações: Pagamento. A obrigação tem papel fundamental na nossa sociedade, faz circular a riqueza. Mas uma vez cumprida à obrigação, ocorre o seu adimplemento Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 78 e o sujeito passivo fica liberado da obrigação. Exaure-se esta obrigação, ainda que outra obrigação idêntica venha a surgir posteriormente entre as mesmas partes. Normalmente a obrigação se extingue pelo pagamento, o meio normal ou ordinário de extinção das obrigações. E neste sentido, entende-se por pagamento, como toda forma de cumprimento da obrigação. Portanto, há pagamento, para ambas as partes: na compra e venda, R�FRPSUDGRU�GHYH�SDJDU� ³GLQKHLUR´��H�R�YHQGHGRU�GHYH�SDJDU�D� ³FRLVD´�� entregando-a ou colocando-a a disposição do comprador. Justamente por poder o pagamento assumir as mais variadas formas, se torna difícil sua classificação quanto à natureza jurídica, pois é impossível compreender o pagamento como sendo de natureza unitária. Um dos requisitos essenciais do pagamento é a intenção, daquele que paga, de extinguir a obrigação assumida. O que importa no pagamento é a realização real da prestação. Normalmente, quem paga é o próprio devedor. Porém, pode acontecer de outros fazerem o pagamento e o credor deve aceitar o pagamento ainda que provenha de terceiros. É neste sentido o art. 304: Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Deste modo, temos três categorias de pessoas aptas a figurar como solvens (termo jurídico que designa aquele que paga). O primeiro, como vimos, é ¹o próprio devedor, por si mesmo, ou seu representante. Pode também pagar, o terceiro, interessado ou não. ²O terceiro interessado é o que está no caput do art. 304, e como exemplo temos o fiador. O art.304 §único, fala em ³terceiro não interessado, que também tem o direito de pagar se o fizer em nome e por conta do devedor (como exemplo, temos um pai que paga a dívida de seu filho). Neste último caso não há representação, autorização ou mesmo ciência do devedor. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 78 O pagamento deve ser aceito e o solvens tem a mesma legitimidade de consignar8, que tinha o devedor original, se houver resistência por parte do credor em receber o pagamento. Se o terceiro não interessado pagar em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar, mas não adquire os direitos do credor. Há somente direito a uma ação simples de cobrança. Deste modo está no art. 305: Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor. Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento. Se, porém, o terceiro pagar sem que o devedor tome conhecimento ou diante de sua oposição, sendo que havia meios para que o devedor pudesse ilidir (impedir) a ação de cobrança do credor, não caberá reembolso do pagamento ao terceiro. Neste sentido temos o art. 306. Art. 306. O pagamento feito por terceiro, ¹com desconhecimento ou ²oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação. Apenas fixando o assunto, quem pode pagar? Qualquer pessoa pode pagar. Seja o devedor, o terceiro interessado ou, até mesmo, o não interessado. O art.307 trata do pagamento que importe em transmissão de propriedade: Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la. 8 O termo consignar vem de uma medida chamada consignação em pagamento, que ocorre quando o credor se recusa a receber o pagamento, e o devedor, para não ficar inadimplente, faz esta consignação em pagamento, ou seja, deposita em juízo o valor. O devedor não ficará inadimplente até que se decida a questão. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 78 Para a transmissão do domínio deverão estar presentes todos os requisitos do negócio jurídico. Se porém tratar-se de coisa fungível9, já consumida pelo credor de boa-fé, não se pode mais reclamar a coisa. O assunto se resolverá por indenização. Para que se configure a situação do art. 307 § único são necessárias três condições: ¹que o pagamento seja de coisa fungível; ²que tenha havido boa-fé por parte do accipiens (termo jurídico para designar quem recebe); e ³que tenha sido consumida a coisa. Enquanto não consumida, haverá direito à repetição, no todo ou em parte da coisa. A regra geral sobre quem recebe é a do art. 308. Art. 308. O pagamento deve ser feito ¹ao credor ou ²a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.No entanto, podem ocorrer exceções. Tanto o credor poderá estar inibido de receber, como o devedor poderá, em certas situações especiais, pagar validamente a quem não seja credor. Como também podem os contraentes, no momento de fazer o contrato, estipular que o accipiens seja um terceiro, que não tenha nenhuma relação material com a dívida, mas está intitulado para recebê-la. Atenção: Em regra, se o pagamento não for efetuado ao credor ou ao seu representante, será ineficaz. Entretanto, da leitura do art. 308, vimos que o pagamento pode ser feito a pessoa não intitulada e mesmo assim valer se houver ratificação do credor ou de seu representante. No art. 311 temos outro caso de pagamento à pessoa que não o credor, trata-se do portador de recibo de quitação. Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante. A presunção é a de que quem se apresenta com um recibo firmado por terceiro possui mandato específico para receber, é portador de quitação. 9 Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. FUNGISUBI Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 78 Já no art. 309 temos a figura do credor putativo, que é a pessoa que tenha a mera aparência de credor ou de pessoa autorizada a receber. Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. A lei condiciona a validade do pagamento ao fato de o accipiens ter a aparência de credor e estar o solvens de boa-fé. Restará ao verdadeiro credor haver o pagamento do falso accipiens. Há casos em que o devedor pode ver-se livre da obrigação, mesmo tendo pagado a terceiro não intitulado. Isso ocorrerá em três situações: 1. Na hipótese que estudamos em que ocorre a ratificação, pelo credor, do pagamento recebido (art. 309). 2. Na hipótese em que o pagamento reverterá em benefício do credor (art. 308, visto acima, a prova será do solvens). 3. E, por fim, na hipótese do credor putativo. O art. 310 refere-se ao pagamento feito à pessoa incapaz de quitar. Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu. Outra situação que inibe o credor de receber é a do art. 312. Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor. Quanto ao pagamento, este deve compreender quanto ao seu objeto àquilo que foi acordado. Não sendo obrigado a receber nem mais, e nem menos que o acordado. Quanto ao objeto do pagamento, começaremos com o art. 313. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 78 Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Como regra geral, só existirá solução da dívida, com a entrega do objeto. Se a prestação é complexa, constantes de vários itens, não se cumprirá a obrigação enquanto não atendidos todos. Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes. E o artigo 317 admite a intervenção judicial para a correção do valor QR� SDJDPHQWR� GR� SUHoR� TXDQGR� ³por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação´��Neste caso temos a aplicação da Teoria da Imprevisão10, que traz exceção ao tema quanto ao objeto do pagamento, é a correção judicial do contrato. Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. Este artigo está relacionado aos índices de correção monetária, portanto cláusula móvel das prestações, algo que, sem dúvida, converte- se em terreno acidentado para o interessado. Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. Assim, negócios em moeda estrangeira somente são permitidos, por exceção, nos contratos de importação e exportação; nos contratos de compra e venda de câmbio e nos contratos celebrados com pessoa residente e domiciliados no exterior. Trata também da proibição da chamada cláusula de ouro, que está mais relacionada à legislação especial de natureza financeira. Os pagamentos contratados em medida ou peso devem obedecer aos costumes do lugar. Os termos arroba, braças, alqueires 10 Quando imprevistos alheios ao contrato e vontade das partes autorizam a revisão do contrato pelo juiz. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 78 podem variar de acordo com as regiões em que as obrigações houverem de ser cumpridas. Este é o teor do art. 326. Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se- á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. A prova do pagamento é a demonstração material, é manifestação externa de um acontecimento. Quem paga tem direito a prova desse pagamento, que é a quitação. Vamos ver os artigos 319 e 320 conjuntamente: Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida. Aí estão os requisitos do recibo, instrumento da quitação. Trata-se de prova cabal de pagamento, porque em juízo não se aceitará prova exclusivamente testemunhal para provar o pagamento, se o valor exceder ao teto legal. Este é o conteúdo do art. 227: Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. A quitação, contendo os requisitos do art. 320, não necessita ter a mesma forma do contrato. É dever do credor dar a quitação, uma vez recebido o pagamento. Se o credor se recusar a conceder a quitação ou não a der na forma devida, pode o devedor acioná-lo, e a sentença substituirá a regular quitação. Há débitos literais, isto é, representados por um título. DireitoCivil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 78 Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido. A posse do título pelo credor é presunção de que o título não foi pago. Daí a necessidade da declaração. A partir do art. 322 o código civil trata das presunções de pagamento, que são relativas, admitindo, portanto, prova em contrário. Já foi questão do CESPE: Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. Pois seria lógico que se entendesse que o credor não receberia a última prestação se as anteriores não houvessem sido pagas. Porém, admite-se prova em contrário. Um exemplo desta situação são nossas FRQWDV�GH�OX]��JiV��WHOHIRQH��HP�TXH�VH�Or��³D�TXLWDomR�GD�~OWLPD�FRQWD�QmR� ID]�SUHVXPLU�D�TXLWDomR�GH�GpELWRV�DQWHULRUHV´� Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. A presunção é relativa porque o título pode ter sido obtido com violência, ou a remessa do título pode ter sido efetuada por engano, por exemplo. Art. 324. Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento. Esse prazo é decadencial. Qualquer que seja o meio, o instrumento de quitação, nesse prazo decadencial, pode o credor provar a falta de pagamento. As despesas com o pagamento e a quitação correm por conta do devedor, salvo estipulação em contrário, como vemos no art. 325. Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 78 Deste modo, qualquer fato imputável ao credor que gere acréscimo de despesa deverá ser a ele imputado. A regra geral é a de que não é justo que o devedor arque com as despesas por fatos supervenientes para os quais não concorreu. Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender- se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. Deste modo, se as partes acordaram o pagamento de terra em alqueires no Mato Grosso, entende-se que a medida utilizada será a daquela região, se não houver ressalva expressa. -Do Lugar do Pagamento (arts. 327 a 330). A regra geral, quanto ao lugar do pagamento, está no art. 327: Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. A regra geral, portanto, é ser a dívida quérable ± ou seja, quando o credor procurar o devedor para pagamento da dívida. MACETE: quéMrable devedor (QUEM DEVE) Em caso de disposição contratual em contrário, quando o devedor é quem deve procurar o credor em seu domicílio, ou em outro local por ele indicado, para o pagamento da dívida, diz-se que a dívida é portable. As regras deste art. 327 são supletivas a vontade das partes. Quanto à regra do parágrafo único, deve o credor, notificar em tempo hábil ao devedor sua escolha, para que este possa fazer o pagamento. Se ocorrer de o devedor mudar de endereço, e o pagamento tiver, necessariamente, de ser feito em outro lugar, arcará o devedor com as custas acarretadas ao credor, como por exemplo, as taxas de remessa bancária. A importância de se estipular um lugar para ser realizado o pagamento ± se quérable ou portable, reside na ocorrência da mora. Pois pode acontecer de o devedor achar que o credor virá cobrar a dívida ± quérable, mas na verdade é o devedor quem deve procurar o credor para Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 78 realizar o pagamento ± portable. Assim, um fica na espera do outro, e o credor pode concluir que o devedor não irá realizar o pagamento, constituindo-o em mora. O art. 328 trata de pagamento consistente na tradição11 de um imóvel. Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. $�H[SUHVVmR�³SUHVWDo}HV�UHODWLYDV�D�LPyYHO´, não significam aluguéis, são referentes a serviços a serem realizados no local do imóvel, como reparos por exemplo. Agora, imaginemos que o local estipulado, em contrato, para pagamento da dívida, se encontre isolado ou em estado de calamidade pública. Tendo em vista tal fato, o pagamento terá de ser realizado em outro local, estranho ao contrato. Este pagamento deverá ser feito sem prejuízos para o credor. Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Em regra o caso fortuito e a força maior não autorizam indenizações. Outra situação que pode ocorrer é quando no contrato conste um local de pagamento, mas este ocorre reiteradamente em local diverso, presume-se a renúncia do credor ao local previsto no contrato, é o que encontramos no art. 330. Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. Entenda, no entanto, que esta presunção é relativa. 11 Termo jurídico que quer dizer entrega. Entrega de bem imóvel. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 78 -Do Tempo do Pagamento (arts. 331 a 333). O momento em que uma obrigação deve ser cumprida é muito importante para a identificação do inadimplemento total e da mora. Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. Este artigo se aplica as chamadas obrigações puras, pois as obrigações ditas a termo são aquelas que, por sua própria natureza, não podem ser exigidas de imediato, como, por exemplo, os empréstimos. Quando existe um prazo, a obrigação só pode ser exigida pelo credor com o advento do termo desse prazo. Entre nós o prazo presume- se estipulado em benefício do devedor. Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes. Se a obrigação consistir em prestações periódicas, cada prestação deve ser estudada isoladamente. Se por um lado a prestação pode ser cumprida antecipadamente, por outro lado não pode ser cumprida além do prazo marcado. Se de um lado, o devedor pode antecipar o cumprimento, inclusive com medida judicial, não pode pedir dilação de prazo ao juiz, ressalvadaas situações de caso fortuito ou de força maior. O credor não pode exigir o pagamento antes do vencimento, sob pena de ficar obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento; a descontar os juros correspondentes, embora estipulados; e a pagar as custas em dobro. Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro. Já o devedor que se antecipa e paga antes do termo, o faz por sua conta e risco. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 78 Quando a obrigação não possui termo certo, o credor pode interpelar o devedor para que cumpra a obrigação num prazo razoável, que poderá ser fixado pelo juiz. No dia de pagar a dívida, esta pode ser paga até a expiração das 24h. Mas tem que se ter atenção quanto aos horários bancários, de comércio, ou forense. Art. 332. As obrigações condicionais12 cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor. Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Como vimos o credor não pode exigir a dívida antes do prazo estipulado, mas o art. 333, em determinados situações, autoriza esta cobrança antecipada. Vamos a ele: Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes. Portanto, este artigo autoriza a cobrança antecipada pelo credor em três situações: 1. A primeira é no caso de falência do devedor, e no concurso creditório, que é caracterizado pela insolvência civil, semelhante à falência da pessoa jurídica. Essa insolvência ocorrerá quando as dívidas do devedor forem maiores que seu patrimônio hábil para pagamento, e não tenha condições de mudar esta situação. 12 As obrigações condicionais são aquelas que ficam suspensas até o implemento desta condição. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 78 2. O segundo caso é quando há garantia real representado por hipoteca ou penhor, os bens dados em garantia sofram penhora por outro credor. Presume-se, pela ocorrência deste fato, que se este outro credor não encontrou outros bens livres e desembaraçados é porque a situação do devedor não é boa. 3. O terceiro caso é quando há uma diminuição na garantia pessoal ou real ou mesmo sua perda. Por exemplo, quando morre o fiador. Neste caso o devedor deve ser intimado a reforçar sua garantia, em prazo razoável. Se assim não o fizer, a lei autoriza como nos demais casos, a cobrança antecipada da dívida. Estes casos são taxativos. Não há outros dentro do ordenamento civil. O pagamento direto é, sem dúvida, a forma mais importante de adimplemento de obrigações, porém este pagamento pode ser realizado de forma indireta. A seguir traremos, então, os demais artigos (arts. 334 a 388) que também tratam do adimplemento das obrigações, das regras especiais de pagamento e das formas de pagamento indireto. Atenção: o assunto é bastante extenso, e de certo modo sua cobrança em provas acaba sendo literal. Para você não ter que ficar consultando o código civil, faremos o seguinte: daremos a definição conceitual de cada forma de adimplemento e transcreveremos todos os artigos, comentando os mais importantes. Do Pagamento em Consignação A primeira regra especial sobre o pagamento que aparece no CC/2002 é o do pagamento feito em consignação. Nas palavras de Flávio Tartuce13: ³2�SDJDPHQWR�HP consignação, regra especial de pagamento, pode ser conceituado como o depósito feito pelo devedor, da coisa devida, para liberar-se de uma obrigação assumida em face de um credor determinado´� O art. 334 nos informa que tal depósito pode ocorrer de forma judicial ou extrajudicial. 13 Manual de Direito Civil, pg.356. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 78 Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais. Atenção: A consignação em pagamento está relacionada a uma obrigação de dar (o pagamento). Não pode estar relacionada a obrigações de fazer ou não fazer. O artigo seguinte (art.335) normatiza em quais situações que poderá ser feito este tipo especial de pagamento ± a consignação. Art. 335. A consignação tem lugar: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar ¹receber o pagamento, ou ²dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for ¹incapaz de receber, ²for desconhecido, ³declarado ausente, ou 4residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. Para que a consignação tenha força de pagamento, ou seja, para que seja válida e eficaz para o adimplemento da obrigação, esta consignação deverá respeitar todas as condições do pagamento direto. Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento. Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente. A consignação é um meio oferecido pela lei, para que se cumpra uma obrigação e assim se evite as consequências de um inadimplemento. Se a consignação for realizada de forma extrajudicial, através de um depósito bancário, o credor será notificado deste depósito para, no prazo de dez dias, impugná-lo ou declarar sua aceitação. Assim, enquanto o credor não se manifestar poderá o devedor levantar o depósito, de acordo com o art. 338: Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 78 Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito. Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, emborao credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores. Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os codevedores e fiadores que não tenham anuído. Aquiescer é consentir. Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada. Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente. Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor. Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento. Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação. Do Pagamento com Sub-Rogação O pagamento feito com sub-rogação é aquele em que o credor originário será pago por devedor estranho a relação obrigacional originária. Ou seja, terceira pessoa efetuará o pagamento perante o credor originário. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 78 Observem que a obrigação neste tipo especial de pagamento não será extinta. Somente haverá uma mudança no polo ativo, uma vez que o credor originário será substituído pelo terceiro que pagou a dívida, pois o devedor originário continuará a dever, agora para o terceiro. Existe a sub-rogação legal ± que é aquela determinada por lei, caso do art. 346, e a sub-rogação convencional, art. 347, que são os pagamentos realizados por pessoas que não possuem um interesse direto na dívida. Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. Art. 347. A sub-rogação é convencional: I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. Art. 348. Na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito. Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Art. 351. O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 78 Da Imputação do Pagamento Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. Do artigo acima podemos concluir, que a imputação do pagamento, é uma faculdade atribuída ao devedor que possui vários débitos, na qual, este poderá escolher dentre os diversos débitos, a obrigação que será extinta através do pagamento. Desde que estes débitos sejam perante o mesmo credor, de mesma natureza, líquidos14 e vencidos. Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo. Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa. O artigo 355 será utilizado, quando o devedor não indicar a qual das dívidas quer imputar o pagamento, e nem o credor indicar na hora da quitação. Assim sendo a lei ordena que a imputação seja feita nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Da Dação em Pagamento Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida. Da leitura do art. 356 já podemos intuir o que seja a dação em pagamento. Assim, ocorre a dação em pagamento quando o devedor, com a anuência do credor, entrega, como pagamento, prestação diversa da que foi acordada. 14 Obrigação líquida é aquela sobre a qual não existem dúvidas sobre sua existência, e que é determinada quanto ao seu objeto. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 78 CESPE 2008/MPE-AM/Agente Técnico: ³A dação em pagamento pode ser corretamente definida como um acordo entre o credor e o devedor, com o objetivo de extinguir a obrigação, no qual consente o credor em receber coisa diversa da devida, em substituição à prestação que lhe era originalmente objeto do pacto´. Se a coisa oferecida em pagamento tiver seu preço especificado, as relações entre as partes serão reguladas pelas normas do contrato de compra e venda, de acordo com o art. 357: Art. 357. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda. Agora, se o valor da coisa dada em pagamento não for especificado, as relações serão reguladas pela dação. Art. 358. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão. Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer- se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros. Evicção é a perda total ou parcial de uma coisa, através de sentença judicial que atribui a terceiro sua propriedade. Se isto vier a acontecer com uma coisa que foi dada em pagamento, a dação ficará sem efeito restaurando-se a obrigação primitiva. Da Novação A novação é uma das formas de pagamento indireto, em que há a substituição de uma obrigação anterior por uma obrigação nova, que é diferente da anterior. Por este motivo, a novação não produza satisfação imediata do crédito. É considerada novo negócio jurídico, que possui os seguintes requisitos: ¹a existência de uma obrigação anterior; ²que exista uma nova obrigação; e ³que exista a intenção de fazer a novação. Existem três espécies de novação: a novação objetiva onde se altera o objeto da obrigação; a novação subjetiva onde serão alterados os sujeitos, Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 78 ou seja, as pessoas da relação obrigacional; e novação mista onde serão alterados o objeto e as pessoas ao mesmo tempo. Art. 360. Dá-se a novação: I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este. Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira. Deste modo, podemos observar que o ânimo de novar pode ser expresso ou tácito, mas deve ser sempre inequívoco, ou seja, que sobre ele não restem dúvidas. Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste. Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição. Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação. Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados. Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal. Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 78 Da Compensação Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem. Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato. Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado. Art. 372. Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação. Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: I - se provier de esbulho, furto ou roubo; II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma for de coisa não suscetível de penhora. Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas. Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever. Art. 377. O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente. Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação. Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 78 Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exequente a compensação, de que contra o próprio credor disporia. Da Confusão Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor. Portanto, ocorrerá a confusão quando na mesma pessoa se confundirem as qualidades de credor e devedor, em decorrência de um ato inter vivos ou mortis causa15. Assim, a obrigação também poderá ser extinta na mesma pessoa, quando através de um fato jurídico estranho à relação obrigacional, as figuras do devedor e do credor se reúnem na mesma pessoa. Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade. Deste modo, a confusão não possui o poder de acabar com a solidariedade. Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior. Da Remissão das Dívidas Na remissão de dívidas, o credor por sua vontade abre mão do seu direito de crédito, com o objetivo de extinguir a relação obrigacional (É o perdão da dívida). Ainda sobre este assunto, nas palavras de Flávio TartucH��³$�UHPLVVmR�p�R�SHUGmR�GH�XPD�GtYLGD��FRQVWLWXLQGR�XP�GLUHLWR� exclusivo dR�FUHGRU�GH�H[RQHUDU�R�GHYHGRU´16. 15 Flavio Tartuce, Manual de Direito Civil, ed. Método, 2ª ed., pag. 377. 16 Flavio Tartuce, Manual de Direito Civil, ed. Método, 2ª ed., pág. 378. Direito Civil para o TCU. Professores: Aline Santiago e Jacson Panichi. Aula - 06 Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 78 Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro. Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir. Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida. Art. 388. A remissão concedida a um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida. - Teoria Geral dos Contratos. O Contrato é o acordo de duas ou mais vontades, negócio jurídico bilateral ou plurilateral, em conformidade com a ordem jurídica, que tem por finalidade estabelecer uma relação entre a vontade das partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial. Sendo o contrato
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