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Modulares 
Direito Processual Penal 
Apostila 
Emerson Castelo Branco 
1. NOÇÕES INICIAIS 
 
 
1.1 SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS 
 
 
1.1.1. Sistema inquisitório 
 
Trata-se de sistema processual essencialmente autoritário, possuindo 
como característica mais destacada a concentração dos poderes de 
investigar, de acusar e de julgar no mesmo órgão do Estado. 
Principais características: a) produção de provas de ofício; b) ausência 
de interferência do acusado; c) sigilo absoluto (investigação secreta); 
d) ausência de contraprova; e) acusado é presumido culpado; f) 
ausência de fundamentação das decisões; g) acusado visto como 
objeto, e não como sujeito de direitos; h) busca ilimitada da verdade, 
independentemente dos meios utilizados (ex.: tortura). 
Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró observa que “o sistema inquisitório 
baseia-se em um princípio de autoridade, segundo o qual a verdade é 
tanto melhor acertada, quanto maiores forem os poderes conferidos ao 
investigador.”1 
Mesma linha de raciocínio desenvolve Jorge de Figueiredo Dias, 
observando que o processo penal inquisitório é “dominado, 
exclusivamente, pelo interesse do Estado, que não concede ao 
interesse das pessoas qualquer consideração autônoma.”2 
 
 
1.1.2 Sistema misto (ou híbrido) 
 
 
1
 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da prova no processo penal. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2003, p. 105. 
2 FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Direito processual penal. Coimbra: Almedina, 1988, p. 37-40 
O sistema processual penal misto (ou híbrido) foi constituído a partir dos 
ideais iluministas, com o propósito de combater o sistema inquisitório. 
Caracteriza-se pela divisão do processo em duas fases: fase inquisitiva e 
fase acusatória. 
Principais características: a) primeira forma de proteção do acusado; b) 
na primeira fase processual, a instrução é realizada pelo Juiz ou pelo 
Ministério Público, com o intuito de colher as provas necessárias para a 
acusação; c) acusado passa a ser visto como sujeito de direitos; d) 
garantias mínimas do acusado; e) destaque para a presunção de 
inocência. 
O sistema misto é criticado porque, na primeira fase processual, a 
investigação pelo membro do Ministério Público ou pelo Juiz da 
Instrução prejudica o acusado, principalmente por causa do perigo de 
lesão à imparcialidade do julgamento. 
 
1.1.3 Sistema acusatório 
 
Pode-se chamar acusatório, conforme Luigi Ferrajoli, “todo sistema 
processual que configura o juiz como um sujeito passivo rigidamente 
separado das partes e o processo como iniciativa da acusação, a 
quem compete provar o alegado, garantindo-se o contraditório.”3 
Principais características: a) sistema garantista; b) rígida separação das 
funções de investigar, acusar e julgar; c) acusado como sujeito de 
direitos; d) posição de igualdade com órgão acusador; d) publicidade 
plena dos atos processuais; e) oralidade; f) contraditório; g) direito 
subjetivo à prova; h) adoção do sistema do livre convencimento 
 
3 FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão – Teoria do Garantismo Penal, 3.ª ed., São Paulo: RT, 
2010, pág. 34 
motivado; i) a iniciativa da colheita das provas não parte do juiz; j) em 
regra, o juiz não age de ofício; 
Atualmente, discorre Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró, “não existem 
sistemas acusatórios ou inquisitórios ‘puros’. Nenhum legislador estrutura 
o processo penal de forma totalmente acusatória ou inteiramente 
inquisitória.”4 
NOTE! A polícia judiciária exerce a função investigatória. Não lesa o 
sistema acusatório o controle externo do Ministério Público, nos termos 
do inc. VII, do at. 129, da CF/88: “São funções institucionais do Ministério 
Público: VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma 
da lei complementar mencionada no artigo anterior.” 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! A Lei n.° 11.690/2008 fixou nova 
redação ao art. 156, do CPP, prevendo a possibilidade de o juiz 
determinar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção 
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando 
a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida (inc. I). E 
ainda determinar, antes de proferir sentença, a realização de 
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante (inc. II). A partir daí, 
surgiu a seguinte questão: É inconstitucional a prova produzida de ofício 
pelo juiz? Não, porque a atividade probatória desenvolvida pelo juiz é 
exceção, e não regra. 
 
1.1.4 Modelo adotado no Brasil 
 
O sistema acusatório foi adotado no processo penal brasileiro, 
destacadamente a partir da CF/88, apesar de possuir algumas 
 
4 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da prova no processo penal. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2003, p. 101-102. 
reminiscências do sistema inquisitório, como a produção de provas de 
ofício prevista no art. 156, do CP. 
NOTE! Se o inquérito policial é inquisitório, porque o sistema brasileiro não 
é considerado misto, mas sim acusatório? Simplesmente porque o 
sistema brasileiro não possui fase processual inquisitória. Cumpre 
esclarecer que o inquérito policial não é fase do processo judicial, 
constituindo apenas procedimento administrativo. Em outras palavras, o 
inquérito policial é uma fase pré-processual. 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Conforme decidiu o STJ, é acusatório o 
sistema brasileiro, sendo vedado ao juiz o poder de investigação. Pode 
ouvir outras testemunhas (art. 209, CPP), desde que não substitua a 
acusação. São diferentes iniciativa probatória e iniciativa acusatória, 
aquela é lícita, claro é, ao juiz em atitude complementar – por exemplo, 
tratando-se de diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias 
ou fatos apurados na instrução (atual art. 402). Já a iniciativa acusatória 
– o desempenho das funções que competem a outrem – bate de frente 
com princípios outros, entre os quais o da imparcialidade do julgador, e 
o da presunção de inocência do réu, e o do contraditório, e o da 
isonomia.5 
 
5
 STJ HC 143889/SP 21/06/2010 
 
1.2 FONTES DO PROCESSO PENAL 
1.2.1 Fontes materiais (ou substanciais) 
Sinteticamente, é o Estado. São as fontes denominadas de “produção”, 
isto é, aquelas de onde se originam as normas do processo penal. Nos 
termos do inc. I, do art. 22, do CPP, compete à União legislar 
privativamente sobre processo penal: “Compete privativamente à 
União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, 
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.” 
1.2.2 Fontes formais (ou de cognição) 
São aquelas, na exata observação de Julio Fabbrini Mirabete, “que 
revelam o direito, que são os seus modos de expressão.”6 
As fontes formais dividem-se da seguinte forma: 
- Imediatas (ou direta): Constituição Federal e as leis que compõem a 
legislação processual penal federal infraconstitucional. Parte da 
doutrina acrescenta as convenções e os tratados de direito 
internacional e mais recentemente as súmulas vinculantes. 
- Mediatas (ou indiretas, ou supletivas): Analogia, costume e princípios 
gerais do direito. 
NOTE! A doutrina, a jurisprudência e o direito comparado não são 
fontes, mas sim formas de interpretação da Lei. Contudo, alguns autores 
consideram que são espécies de fontes mediatas. 
 
6
 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal, 18.ª ed., São Paulo: Atlas, 2006, pág. 32 
 
 
1.3 PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1.3.1 Princípio do devido processo legal 
Cândido Rangel Dinamarco identifica o devido processo legal como 
princípio constitucional, expressando o conjunto de garantias “que de 
um lado asseguram às partes o exercício de suas faculdades e poderes 
de natureza processual e, de outro, legitimam a própria função 
jurisdicional”.7 Por essa razão, esclarece José de Albuquerque Rocha, 
“não basta às partes terem o direito de acesso ao Judiciário. Para que o 
socorro jurisdicional seja efetivo é preciso que o órgão jurisdicional 
observe um processo que assegure o respeito aos direitos 
fundamentais”.8 
Enunciado no inciso LIV, do art. 5.º, da CF/88, sob o postulado de que 
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal”, deste decorre o denominado devido processo penal, 
com uma série de peculiaridades observadas por Rogério Lauria Tucci: 
“a) acesso à Justiça Penal; b) do juiz natural em matéria penal; c) de 
tratamento paritário dos sujeitos parciais do processo penal; d) da 
plenitude de defesa do indiciado, acusado, ou condenado, com todos 
os meios e recursos a ela inerentes; e) da publicidade dos autos 
processuais penais; f) da motivação dos atos decisórios penais; e g) da 
fixação de prazo razoável de duração do processo penal”.9 
 
7 DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini; CINTRA, Antonio Carlos de. 
Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 82. 
8 ROCHA, José de Albuquerque. Teoria geral do processo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 
46. 
9 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2. ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 69. 
 
Como decorrência do princípio do devido processo penal, impõe-se 
como regra a independência das instâncias administrativa e penal, 
conforme orientação do STJ.10 
1.3.2 Princípio da ampla defesa 
O princípio da ampla defesa encontra-se, juntamente com o 
contraditório, no inciso LV, do art. 5.º, da CF/88, preceituando que “aos 
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em 
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e 
recursos a ela inerentes”. 
A defesa não é uma generosidade, ressalta Rui Portanova, “mas um 
interesse público. Para além de uma garantia constitucional de 
qualquer país, o direito de defender-se é essencial a todo e qualquer 
Estado que se pretenda minimamente democrático”.11 
A ampla defesa pressupõe a garantia do contraditório, porque somente 
existirá quando se possibilitar ao réu o direito à informação e a 
oportunidade de reação. 
José Frederico Marques leciona que “o direito de defesa, em sua 
significação mais ampla, está latente em todos os preceitos emanados 
do Estado, como substractum da ordem legal, por ser o fundamento 
primário da segurança jurídica na vida social organizada.”12 
Principais consequências do princípio da ampla defesa: a) a defesa 
deve se manifestar após a acusação, justamente para ter condição de 
contraditar as imputações; b) a imprescindibilidade da defesa técnica; 
 
10
 STJ HC 77228 / RS 13/11/2007 
11 PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 
2005, p. 125. 
12 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2. ed. Campinas: 
Millennium, 2000. Vol. II, p. 301. 
c) somente serão consideradas válidas as provas produzidas sob o pálio 
da ampla defesa. 
A ampla defesa divide-se em autodefesa (exercida pelo próprio 
acusado) e defesa técnica (exercida pelo advogado constituído ou 
pelo Defensor Público). A autodefesa não é obrigatória, podendo o 
acusado deixar de exercê-la. Entretanto, a defesa técnica é 
imprescindível, sob pena de nulidade absoluta do processo. 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O STJ julgou recentemente caso em 
que o advogado de um réu deixou de apresentar três peças 
processuais, mesmo tendo sido devidamente intimado. A não 
apresentação de uma peça processual, por si só, não acarreta 
nulidade. Todavia, caso seja provado efetivamente prejuízo para a 
defesa o processo será nulo. Nesse sentido, súmula 523 do STF: “No 
processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua 
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.” 
 
1.3.3 Princípio do contraditório 
 
O princípio do contraditório, previsto no inc. LX, da CF/88, constitui um 
dos traços característicos da tendência garantista do sistema 
acusatório.13 
Direito subjetivo público constitucional de natureza processual do 
acusado, é definido por Joaquim Canuto Mendes de Almeida como a 
“ciência bilateral dos atos e termos processuais e possibilidade de 
contrariá-los”.14 
 
13
 FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão – Teoria do Garantismo Penal, 3.ª ed., São Paulo: RT, 
2010, pág. 32 
14 ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes de. Princípios fundamentais do processo penal. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p. 81. 
Traduz-se no binômio informação/reação: a informação é necessária, a 
reação possível15. Para ser pleno, envolve a fase de conhecimento e 
fase de reação. 
Somente a prova penal produzida em juízo pelo órgão da acusação 
penal, sob a égide da garantia constitucional do contraditório, pode 
revestir-se de eficácia jurídica bastante para legitimar a prolação de um 
decreto condenatório.16 
Por isso, considera Leonardo Greco, “ninguém pode ser atingido por 
uma decisão judicial na sua esfera de interesses sem ter tido ampla 
possibilidade de influir eficazmente na sua formação”.17 
A maior ou menor idoneidade de uma prova, considerada no momento 
de sua avaliação pelo juiz, observa Paulo Tonini, depende da forma 
como a mesma foi elaborada, isto é, saber se passou por um 
procedimento controlado ou não.18 
Exemplo disso são as provas colhidas no inquérito policial, somente 
válidas depois de confirmação em juízo, com a oportunidade de 
manifestação das partes.19 
Alguns desdobramentos do princípio do contraditório: a) direito de 
obter todas as informações do processo; b) direito de contraditar as 
 
15 Neste sentido, vide: FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 73. 
16
 STF HC 73.338, 1.ª Turma, DJ 19.12.1996 
17 GRECO, Leonardo. Garantias fundamentais do processo: o processo justo. Revista Jurídica, 
ano 51, n. 305, mar. 2003, p. 72 -73. 
18 TONINI, Paolo. A prova no processo penal italiano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, 
p. 70. 
19 Neste sentido, vide: SUANNES, Adauto e COSTA, Vagner da. Procedimento investigatório 
realizado pelo Ministério Público e o devido processo penal. Revista Jurídica, ano 52, n. 318, 
abril de 2004, p. 93. 
imputações atribuídas ao acusado; c) direito de requerer e de 
acompanhar a produção das provas; d) direito de se manifestar em 
relação às provas. 
NOTE! A defesa pode apresentar reperguntas? Sim. Trata-se de uma 
decorrência do princípio do contraditório, conforme julgado do STJ: “O 
interrogatório é essencialmente meio de defesa. No entanto, se do 
interrogatório exsurgir delação de outro acusado, sobrevém para a 
defesa deste o direito de apresentar reperguntas. Tal decorre de um 
modelo processual penal garantista, marcado pelo devido processo 
legal, generoso feixe de garantias. A vedação do exercício de tal direito 
macula o contraditório e revela nulidade irresgatável.”20 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Excepcionalmente, o contraditório 
poderá ser postergado ou diferido,como acontece em relação às 
provas colhidas na fase de investigação criminal, porque não existe 
ainda acusação formal. 
1.3.4 Princípio da dignidade da pessoa humana 
Todos os princípios do devido processo penal constitucional são 
inspirados pelo princípio da dignidade da pessoa humana. 
Ingo Wolfgang Sarlet conceitua a dignidade da pessoa humana como 
“a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz 
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e 
da comunidade, implicando, neste sentido, um com plexo de direitos e 
deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e 
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe 
garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável.”21 
 
20
 STJ HC 83875 / GO 04/08/2008 
21 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. 3. ed. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p. 60. 
A tutela constitucional da dignidade da pessoa humana concede ao 
suspeito ou ao acusado a recusa em submeterem-se a situações 
degradantes, como, por exemplo, exames de partes íntimas indevidos.22 
Tratando-se de princípio estruturante, deve orientar toda a 
interpretação do direito processual penal, evitando práticas que 
deixam de lado o sistema constitucional em vigor. 
1.3.5 Princípio da duração razoável do processo 
Contemplada na Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
(Pacto de São José da Costa Rica) e no inc. LXXXVIII, do art. 5.°, da 
CF/88, acrescentado pela Emenda Constitucional 45 (Reforma do Poder 
Judiciário), o princípio da duração razoável do processo pode ser 
conceituado como o direito assegurado a todas as pessoas, no âmbito 
judicial e administrativo, a um prazo razoável de duração do processo e 
aos meios que garantam a sua celeridade. 
De acordo com o STJ, em situações excepcionais, o excesso de prazo 
pode ser justificado em razão da complexidade do processo: “Assim, a 
visão do excesso de prazo não se submete apenas à análise de 
parâmetros aritméticos, mas depende das complexas circunstâncias do 
procedimento, justificadoras, muitas vezes, de eventual demora no 
julgamento. Portanto, razoável se mostra a dilação do término do 
processo, pela natureza da persecutio criminis, para a perquirição da 
verdade real e exercício tanto da ampla defesa quanto do 
contraditório em caso de processos complexos.”23 
1.3.6 Princípio da proporcionalidade 
 
22 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Exame de DNA e o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Notícia do direito brasileiro, n. 7, Brasília, 2000, p. 363-372. 
23
 STJ HC 111215 / SP 13/04/2009 
O princípio da proporcionalidade é depreendido do disposto no §2.º, 
do art. 5.º, da CF/88, preceituando que os direitos e garantias expressos 
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios a ela 
inerentes. 
Por ser considerado harmonizador dos princípios constitucionais que 
regem direitos fundamentais dentro do Estado Democrático de Direito, 
costuma-se, na exata colocação de Willis Santiago Guerra Filho, 
identificar o princípio da proporcionalidade como um “princípio dos 
princípios”, na medida em que busca uma “solução de compromisso”, 
prestando-se a resolver o grande dilema da interpretação 
constitucional.24 
Destaca-se como a forma mais eficaz de interpretar os direitos 
fundamentais à luz dos valores inseridos na Constituição e arraigados na 
história e na cultura de uma sociedade; ou seja, insere-se numa nova 
fase da hermenêutica constitucional, na qual se busca o resgate dos 
valores 25. 
1.3.7 Principio do silêncio (da não produção de provas contra si mesmo, 
da não auto incriminação, ou ainda nemo tenetur se detegere) 
Concebido a partir das críticas históricas ao sistema de obtenção de 
provas por meio de tortura, consiste no direito assegurado ao acusado 
de não contribuir para a sua própria condenação, decorrente da 
própria dignidade da pessoa humana. 
Trata-se ainda de legítimo meio de defesa, inserido no inc. LXIII, do art. 
5.°, da CF/88: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o 
 
24 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Processo constitucional e direitos fundamentais. 2. ed. São 
Paulo: Celso Bastos Editor, 2001, p. 61. 
25 LIMA, Francisco Meton Marques de. O resgate dos valores na interpretação constitucional. 
Fortaleza-CE: ABC Editora, 2001, p. 22. 
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e 
de advogado”. 
O direito ao silêncio, define João Cláudio Couceiro, é “um direito 
genérico da pessoa a não colaborar na produção de prova que venha 
a prejudicá-la”26. 
Consoante o pensamento de Maria Elizabeth Queijo, “o fundamento do 
privilégio contra a auto-incriminação é a dignidade do ser humano e a 
proteção de certo âmbito de sua privacidade — a qual deve ser 
garantida por um Estado de Direito — prevalecendo sobre a finalidade 
de averiguar a verdade em um procedimento investigatório, ainda que 
ninguém possa conhecer melhor esta verdade que o próprio 
investigado”.27 
Em verdade, o princípio da não auto-incriminação deriva justamente do 
direito ao silêncio. Por outro lado, o direito ao silêncio se presta para 
assegurar a não auto-incriminação de um acusado28. 
NOTE! O direito ao silêncio do acusado obstaculiza normas que 
incentivam o acusado a colaborar na colheita de provas? Não. Diversos 
dispositivos prevêem a colaboração como causa de diminuição de 
pena, como é o caso das figuras do arrependimento posterior e da 
delação premiada, ou mesmo como circunstância atenuante de pena. 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O direito ao silêncio é assegurado ao 
acusado, não se estendendo à testemunha. Em verdade, a testemunha 
 
26 COUCEIRO, João Cláudio. A garantia constitucional do direito ao silêncio. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2004, p. 148. 
27 QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo. São Paulo: 
Saraiva, 2003, p. 81. 
28 ESPINOLA FILHO, Eduardo. Código de processo penal brasileiro anotado. São Paulo: 
Bookseller, 2000. Vol. 3, p. 16-18. 
 
somente pode alegar o direito ao silêncio, quando a informação que 
possui lhe auto-incrimina. Afora essa hipótese, não pode se recusar a 
prestar as informações necessárias, assumindo o compromisso de dizer a 
verdade. 
1.3.8 Princípio da verdade real 
É o princípio segundo o qual o juiz não pode exercer a função de mero 
condutor da atividade probatória desenvolvida pelas partes, podendo 
em determinadas situações agir de ofício para complementar o 
conjunto probatório e dirimir dúvidas. 
Obviamente, em regra, a iniciativa da perquirição probatória cabe às 
partes. Contudo, em face da necessidade de se aproximar da verdade 
dos fatos, reconstruindo os acontecimentos, o juiz não estará obrigado a 
esperar a iniciativa das partes, como frequentemente procede no 
direito processual civil. No processo penal, o juiz faz a história do 
processo.29 
Algumas decorrências do princípio da verdade real, de acordo com o 
STJ: 
1.ª. O órgão do Ministério Público, assim como a Autoridade Policial, 
indubitavelmente, podem realizar diligências investigatórias a fim de 
elucidar a materialidade de crime e indícios de autoria, mediante a 
colheita de elementos de convicção, na busca da verdade real, 
observados os limites legais e constitucionais.30 
2.ª Com base no princípio da verdade real, o juiz poderá indeferir as 
diligências manifestamente procrastinatórias: “Caracterizadoo intuito 
procrastinatório da defesa, eis que a oitiva das testemunhas 
 
29
 CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. São Paulo: Conan, 1995, p. 43 
30
 STJ RMS 22050 / RS 24/09/2007 
domiciliadas em outros países em nada influenciaria na busca da 
verdade real, pois inexiste referência de que, à época dos supostos 
delitos, as referidas testemunhas estivessem no local dos fatos, ou sequer 
no Brasil.”31 
3.ª A necessidade de oitiva extemporânea de testemunha no processo 
penal tem como base o princípio da verdade real. 
4.ª A readequação da denúncia à realidade dos fatos tem como 
fundamento o princípio da verdade real, não havendo de se falar em 
lesão ao princípio da ampla defesa se foi concedido ao acusado a 
oportunidade de produzir provas em relação ao fato novo, bem como 
contraditá-lo amplamente. 
Em busca da verdade real, o juiz pode determinar, inclusive de ofício, a 
realização de um novo interrogatório do acusado, nos termos do art. 
196, do CPP: “A todo tempo o juiz poderá proceder a novo 
interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das 
partes”. 
NOTE! Se uma testemunha não for elencada pela parte, o juiz poderá 
ouvi-la? Sim. Guiado pelo princípio da verdade real, buscando dirimir 
alguma dúvida, o juiz pode determinar de ofício a ouvida da 
testemunha, conforme dispõe o art. 209, do CPP: “O juiz, quando julgar 
necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas 
partes”. 
NOTE! O juiz pode requisitar de ofício documentos? Em outras palavras, 
poderá determinar apresentação de documentos, ainda que as partes 
não demonstrem interesse? Sim. Está autorizado, sob a égide do 
princípio da verdade real, pelo art. 234, do CPP: “Se o juiz tiver notícia 
 
31
 STJ HC 62751 / PB 04/06/2007 
da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação 
ou da defesa, providenciará, independentemente de requerimento de 
qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se possível.” Mesmo 
raciocínio aplica-se em relação à busca e apreensão, conforme dispõe 
o art. 242, do CPP: “A busca poderá ser determinada de ofício ou a 
requerimento de qualquer das partes”. 
No âmbito do processo civil, prevalece a verdade formal. Por isso 
mesmo, se uma parte não contesta o alegado pela outra, o fato não 
contestado é tido como verdadeiro. No processo penal, isso é 
inadmissível, justamente por causa do princípio da verdade real, 
corolário do estado de inocência. 
Nem mesmo o princípio da verdade real é considerado absoluto. Assim, 
não se admite prova ilícita, salvo para provar a inocência do acusado. 
Também não se admite, nos termos do art. 479, do CPP, no Tribunal do 
Júri, a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido 
juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis. 
Outro exemplo é a revisão criminal, exclusiva da defesa, não podendo 
ser proposta contra o réu, nem mesmo diante de novas provas. 
1.3.9 Princípio da audiência bilateral. 
Decorrente do princípio do contraditório, estabelece que toda prova 
admite uma contraprova, sob pena de não vir a ser admitida, conforme 
reiterados julgados do STJ: “O princípio do contraditório traduz a 
bilateralidade do processo, ou seja, assegura às partes a isonomia 
processual e a igualdade de condições, de modo que, como o órgão 
acusatório e a defesa não tiveram, até o momento da audiência de 
inquirição das testemunhas da acusação, em decorrência da natureza 
sigilosa da diligência (art. 8.º, da Lei n.º 9.296/1996), acesso ao teor da 
degravação da interceptação telefônica licitamente obtida, o 
equilíbrio processual, pilar do citado corolário, foi mantido. Não tendo 
sido a instrução criminal encerrada, caberá à defesa, após a ciência 
bilateral do teor da diligência, intervir no processo e contraditar o laudo 
de degravação de interceptação telefônica.”32 
1.3.10 Princípio da regularidade procedimental 
A justiça processual requer regularidade procedimental, igualdade 
entre as partes, imparcialidade do julgador, contraditório e 
impugnabilidade das decisões.33 
1.3.11 Princípio da proibição de provas ilícitas 
A garantia da proibição das provas ilícitas tutela o direito constitucional 
à licitude da prova, decorrente da nova ordem constitucional, guiada 
por um sistema de garantias fundamentais segundo o qual o Estado 
deve imprimir em todas as suas atividades a força normativa da 
Constituição34. 
A vedação constitucional de provas ilícitas insere-se ainda na esfera de 
proteção à intimidade como direito que constitui atributo da 
personalidade; processualmente, relaciona-se com o devido processo 
legal.35 
Em sentido estrito, entende-se por prova ilícita “aquela prova colhida 
infringindo-se normas ou princípios colocados pela Constituição e pelas 
leis, freqüentemente para a proteção das liberdades públicas e dos 
 
32
 STJ RHC 15134/SP 07/03/2005 
33
 Neste sentido, vide: MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. A interpretação da ampla defesa 
no processo penal conforme a Constituição. Revista Jurídica, ano 49, n. 289, nov. 2001, p. 89. 
34 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra, 
Portugal: Almedina, 2003, p. 347. 
35 AZEVEDO, David Teixeira de. O interrogatório do réu e o direito ao silêncio. Revista dos 
Tribunais. São Paulo: RT, vol. 682, p. 288, ago. 1992). No mesmo sentido: ROSSETTO, Enio 
Luiz. A confissão no processo penal. São Paulo: Atlas, 2001. p. 154. 
direitos da personalidade e daquela sua manifestação que é o direito à 
intimidade” 36. Neste sentido, constituiriam provas ilícitas aquelas 
colhidas através de violação de domicílio, de interceptação telefônica 
ilegal, de lesão ao sigilo profissional, de prática de tortura, dentre outras 
práticas que lesam diretamente direitos e garantias de natureza 
constitucional. 
Cabe observar que a prova “proibida” é o gênero, dividindo-se, 
doutrinariamente, em prova ilícita, quando é ofendida norma de direito 
material; e prova ilegítima, quando norma de direito processual. 
Em sentido amplo, o conceito de prova ilícita abrange as provas ilícitas 
em sentido estrito (violação de direito material) e as provas ilegítimas 
(violação de direito processual). 
1.3.12 Princípio da presunção de inocência (ou estado de inocência, ou 
ainda da não-culpabilidade) 
A presunção de inocência constitui um dos pilares do sistema 
processual penal denominado “garantista”. E por que “garantista”? 
Porque assegura que as pessoas não serão condenadas com base em 
suspeitas, ou em meras conjecturas, ou mesmo provas insuficientes para 
a formação de um juízo de certeza. 
Esse “estado de inocência” somente pode ser afastado após o trânsito 
em julgado da sentença penal condenatória. Justamente por isso 
decorre da presunção de inocência a proibição de prisões 
automáticas, isto é, sem séria fundamentação legal, bem como a 
antecipação da sanção penal por meio da execução provisória, 
 
36 GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antônio Scarance; GOMES FILHO, Antônio 
Magalhães. As nulidades no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 8.ª ed., 2004, 
p. 156. 
conforme, inclusive, já decidiu em reiteradas decisões o Supremo 
Tribunal Federal. 
A Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto 
de San José da Costa Rica, prevê expressamente, no art. 8.2, entre as 
garantias processuais mínimas que “toda pessoa acusada de um delito 
tem o direito quese presuma sua inocência, enquanto não se 
comprove legalmente a sua culpa.”37 
O inciso LVII, do art. 5.º, da CF/88 preceitua: “ninguém será considerado 
culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.” 
Gustavo Badaró analisa o princípio da presunção de inocência sobre 
vários enfoques: “a) como garantia política do estado de inocência; b) 
como regra de julgamento no caso de dúvida: in dubio pro reo; c) 
como regra de tratamento do acusado ao longo do processo”.38 
1.3.13 Princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais 
A motivação das decisões judiciais, incorporada na Constituição 
Federal, observa Suzana de Toledo Barros, é assegurada pelo princípio 
do devido processo legal.39 
É o princípio segundo o qual o juiz tem a obrigação de explicar sua 
decisão. Em outras palavras, trata-se da obrigatoriedade de 
fundamentação das decisões judiciais, prevista expressamente no inc. 
IX, do art. 93, da CF/88: “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder 
 
37 STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. A Convenção Americana: sobre Direitos Humanos e 
sua integração ao processo penal brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 90. 
38 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró. Ônus da prova no processo penal. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 280. 
39
 BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da proporcionalidade e o controle de 
constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, 
p 61. 
 
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena 
de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, 
às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos 
nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo 
não prejudique o interesse público à informação”. 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! A antiga e sólida orientação dos 
tribunais superiores era no sentido de que o princípio da 
obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais sofria uma 
exceção na hipótese do recebimento da denúncia ou da queixa, 
porque esta decisão não precisaria de fundamentação. Contudo, a 
partir da reforma do CPP (Lei n.° 11.719/2008), o referido ato de 
recebimento da denúncia ou da queixa passou a exigir 
fundamentação, ainda que sucinta.40 Ainda assim, continua sendo uma 
mitigação ao princípio da obrigação de motivação das decisões 
judiciais, porque o STJ entende que a fundamentação pode ser sucinta. 
1.3.14 Princípio da publicidade 
O princípio constitucional da publicidade é característico do modelo 
processual “acusatório”, refletindo, inclusive, na consecução de outros 
princípios como o contraditório e a ampla defesa, na medida em que 
se traduz em qualidade de informações, necessária para assegurar a 
“paridade de armas” e a mais ampla defesa. 
Destaca-se por proclamar a plena publicidade dos atos processuais. 
Isso não significa que seja absoluto, porque obviamente comporta 
exceções, nos termos do inc. LX, do art. 5.°, da CF/88: “a lei só poderá 
restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da 
intimidade ou o interesse social o exigirem”. 
 
40
 STJ RHC 23709/RS 14/06/2010 
Apregoa-se a existência do princípio da publicidade como extensão do 
devido processo legal.41 Na verdade, guarda relevância também na 
própria fiscalização do Estado na persecução penal, quando se 
procura averiguar o cumprimento dos preceitos do devido processo 
legal. 
NOTE! Exceções previstas no CPP ao princípio da publicidade: 1.ª - O juiz 
tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida 
privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar 
o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras 
informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua 
exposição aos meios de comunicação (§6.°,do art. 201); 2.ª - O juiz 
presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer 
intervenção que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e 
fará retirar da sala quem se portar inconvenientemente (§ 2o, do 485); 
3.ª - Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, 
puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de 
perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, 
de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, 
determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o 
número de pessoas que possam estar presentes (§ 1o , do art. 792). 
1.3.15 Princípio da oralidade 
Conforme decidiu o STJ, o princípio da oralidade relaciona-se 
diretamente com o princípio da verdade real, constituindo uma das 
formas de assegurar o último: “Titulariza, pois, o Juiz o poder-dever legal 
 
41 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2. ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 69. 
 
de proteger a produção da prova oral, assegurando, em obséquio da 
verdade real, a liberdade subjetiva das testemunhas e vítimas.”42 
O princípio da oralidade terminou ganhando mais relevância com a 
recente reforma do CPP, objetivando a celeridade processual e a 
duração razoável do processo. 
1.3.16 Princípio da não hierarquia das provas 
Não existe hierarquia de provas, isto é, as provas devem ser 
consideradas em seu conjunto, sem preponderância predefinida de 
qualquer delas. Na valoração das provas, o juiz deve analisar as 
circunstâncias concretas reveladas na instrução.43 
1.3.17 Princípio da voluntariedade dos recursos 
Trata-se do princípio, previsto no art. 574, do CPP, segundo o qual, se a 
defesa foi intimada da sentença de pronúncia e não manifestou a 
pretensão de recorrer, é aplicável a regra processual da voluntariedade 
dos recursos. Em síntese, como os recursos, em regra, são voluntários, 
cabe à parte analisar a necessidade de recorrer. 
1.3.18 Princípio da iniciativa das partes 
Também denominado princípio da demanda (ou ne procedat iudex ex 
officio, ou não há processo sem ação, ou ainda nemo iudex sine 
actore), trata-se do princípio segundo o qual a instauração do processo 
precisa da iniciativa da parte, no caso o Ministério Público, nos crimes 
de ação penal pública; e o querelante (ofendido), nos crimes de ação 
penal privada. 
 
42
 STJ HC 41233/SP 06/02/2006 
43
 STJ HC 40280 / MG 12/04/2005 
 
NOTE! O art. 26, do CPP (antigo procedimento judicialiforme), não foi 
recepcionado pela CF/88. 
1.3.19 Princípio da economia processual 
Relacionando-se com os princípios da eficiência e da duração razoável 
do processo, consiste na busca de alternativas processuais com o intuito 
de tornar o procedimento mais simples e mais célere. Destaca-se 
particularmente na Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei n.° 9.099). 
1.3.20 Princípio in dubio pro reu (ou da dúvida razoável, ou do favor rei) 
Trata-se do princípio segundo o qual, havendo uma dúvida razoável, a 
interpretação deve ser a mais favorável ao réu. Relaciona-se 
diretamente com o princípio da presunção de não culpabilidade. Possui 
vários efeitos, como, por exemplo, a necessidade da sentença 
condenatória se basear em juízo de certeza. 
NOTE! O princípio in dubio pro reu é a regra. Em determinadas situações, 
vigora o princípio inverso in dubio pro societatis (exceção). Nesse 
sentido, conforme já decidiu o STF, “a ação penal, na fase do 
oferecimento da denúncia, é regida pelo princípio in dubio pro 
societatis.”44 Outra exceçãoé o in dubio pro societatis adotado na 
pronúncia no âmbito do Tribunal do Júri. 
1.3.21 Princípio da imparcialidade do juiz 
O princípio da imparcialidade, típico do sistema acusatório e do 
modelo garantista de processo, encontra-se como garantia no inc. 
XXXVII, do art.5.°, da CF/88: “não haverá juízo ou tribunal de exceção”. 
A CF/88 assegura um feixe de garantias necessárias para assegurar a 
imparcialidade do juiz. Assim, dispõe em seu art. 95 que os juízes gozam 
 
44
 STF HC 93341/SP 05/08/2008 
das garantias da vitaliciedade, da inamovibilidade e da irredutibilidade 
de subsídio. 
NOTE! Alguns autores confundem imparcialidade com neutralidade. O 
juiz deve ser imparcial, mas não neutro. A neutralidade seria impossível. 
A doutrina contemporânea do processo penal não admite mais a visão 
tradicional do Poder Judiciário como órgão “neutro”. A sua atividade, 
especificamente na instrução probatória, deve ser impelida pela força 
vinculante da Constituição e dos valores nela proclamados. Nas 
palavras de José de Albuquerque Rocha, deve deixar de ser “o fiel 
aplicador de normas ordinárias, garantidoras da sociedade que temos 
hoje, para transformar-se em concretizador de normas constitucionais 
promotoras de um novo modelo de sociedade”45. 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! O art. 3.º, da Lei 9.034/95, dispõe sobre 
a criticável figura do “juiz investigador”: “Nas hipóteses do inciso III 
(acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, 
financeiras e eleitorais) do art. 2.º desta lei, ocorrendo possibilidade de 
violação de sigilo preservado pela Constituição ou por lei, a diligência 
será realizada pessoalmente pelo juiz, adotado o mais rigoroso segredo 
de justiça”. Claramente o dispositivo fere o princípio da imparcialidade 
e da inércia do juiz, garantias fundamentais para o devido processo 
penal constitucional. No momento em que passa a exercer atividades 
investigatórias, o juiz passa a ser parcial. Afora isso, assume posição de 
“parte”, completamente estranha às suas atribuições funcionais. Na 
ADI/DF 1.570, o STF declarou a inconstitucionalidade do referido 
dispositivo: “Busca e apreensão de documentos relacionados ao 
pedido de quebra de sigilo realizadas pessoalmente pelo magistrado. 
Comprometimento do princípio da imparcialidade e conseqüente 
 
45 ROCHA, José de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judiciário. São Paulo: Malheiros, 
1995, p. 112. 
violação ao devido processo legal. 3. Funções de investigador e 
inquisidor. Atribuições conferidas ao Ministério Público e às Polícias 
Federal e Civil (CF, artigo 129, I e VIII e § 2.º; e 144, § 1.º, I e IV, e § 4.º). A 
realização de inquérito é função que a Constituição reserva à 
polícia.”.46 
1.3.22 Princípio da isonomia processual (ou da igualdade processual) 
O princípio da isonomia vela pelo equilíbrio na relação processual, 
distribuindo entre as partes (defesa e acusação) as mesmas 
oportunidades, de forma a alcançar um processo justo. Por isso mesmo, 
possui uma relação de proximidade com o princípio do contraditório, 
porque a denominada “paridade de armas” decorre da isonomia 
processual. 
Em síntese, trata-se do princípio segundo o qual se deve assegurar às 
partes a possibilidade de participação na produção de prova em 
igualdade. 
NOTE! O princípio da isonomia deve levar em conta não apenas a 
igualdade no plano formal, mas essencialmente no plano material. A 
igualdade material é o desafio principal para a efetivação do princípio 
da isonomia no processo penal, evitando que pessoas inocentes sejam 
condenadas, porque não tiveram condições de equilibrar forças com o 
Estado no curso da persecução criminal. Liga-se o contraditório, na 
exata observação de Antônio Scarance Fernandes, “ao princípio da 
paridade de armas, sendo mister, para um contraditório efetivo, 
estarem as partes munidas de forças similares.”47 
 
46 STF ADI/DF 1.570, j. 12.02.2004, Tribunal Pleno. 
 
47
 FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2003, p. 73. 
1.3.23 Princípio do duplo grau de jurisdição 
A maioria da doutrina e as decisões jurisprudenciais mais recentes 
orientam-se no sentido da constitucionalidade do princípio do duplo 
grau de jurisdição: A garantia do devido processo legal engloba o 
direito ao duplo grau de jurisdição, sobrepondo-se à regra do art. 594 
do CPP, de forma que o regular processamento do recurso de 
apelação interposto pela defesa independe do recolhimento do 
condenado à prisão. O dever judicial de motivação das decisões é 
corolário do devido processo legal, que viabiliza às partes o exercício 
do duplo grau de jurisdição, além de permitir, a todos, a fiscalização da 
atuação do Poder Judiciário.48 Em síntese, trata-se de princípio 
constitucional implícito. 
1.3.24 Princípio do Juiz natural 
O princípio do juiz natural decorre do devido processo legal.49 A 
cláusula do devido processo legal é comumente conceituada como 
uma garantia constitucional pela qual ficam assegurados aos sujeitos 
processuais parciais o estabelecimento e o respeito a um processo 
judicial instituído legitimamente por lei e conduzido por um juiz natural, 
independente e imparcial.50 
Na Constituição Federal de 1988, encontra-se no inc. LIII, do art. 5.°, 
assim disposto: “ninguém será processado nem sentenciado senão pela 
autoridade competente”. 
 
48
 STJ HC 82757 / RJ 21/06/2010 
49
 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2. ed. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 69. 
50
 BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da proporcionalidade e o controle de 
constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, 
p 61. 
NOTE! Conforme orientação do STJ, “em respeito ao princípio do juiz 
natural, somente é cabível a exclusão das qualificadoras na sentença 
de pronúncia quando manifestamente improcedentes e descabidas, 
porquanto a decisão acerca da sua caracterização ou não deve ficar 
a cargo do Conselho de Sentença, conforme já decidido por esta 
Corte.”51 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Súmula 704 do STF: “Não viola as 
garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a 
atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por 
prerrogativa de função de um dos denunciados”. 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! De acordo com a mais recente 
orientação do STJ, “os julgamentos de recursos proferidos por Câmara 
composta, majoritariamente, por juízes de primeiro grau não são nulos, 
eis que não violam o princípio do juiz natural.”52 No mesmo sentido: A 
composição majoritária do órgão julgador de Tribunal por juízes de 
primeiro grau, desde que observada a lei de regência, como se deu no 
caso, não malfere o princípio constitucional do juiz natural.53 
1.3.25 Princípio do promotor natural (ou legal) 
O princípio do promotor natural encontra sua previsão no inc. LIII, do art. 
5.°, da CF/88, fazendo parte do conjunto de garantias que compõem o 
devido processo legal. Nos termos do § 2º, do art. 129, da CF/88, as 
funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da 
carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo 
autorização do chefe da instituição. 
 
51 STJ HC 111552/MG 26/04/2010 
52
 STJ HC 154376/SP 17/12/2010 
53
 STJ HC 117537/DF 02/08/2010Diante do princípio do promotor natural e da atual configuração 
constitucional do Ministério Público, observa Eugênio Pacelli de Oliveira, 
“torna-se absolutamente impensável a figura do promotor ad hoc, isto 
é, a nomeação de advogado para o exercício temporário e precário 
das funções ministeriais.”54 
O STJ e o STF consagram o princípio constitucional do promotor natural: 
“Inocorrendo lesão ao exercício pleno e independente das atribuições 
do Ministério Público, não há como reconhecer violação ao princípio do 
Promotor Natural.”55 
1.3.26 Princípio do defensor natural 
Parte da doutrina não inclui o princípio do defensor natural entre os 
princípios do processo penal. Outra corrente defende a sua existência 
justamente para evitar a nomeação do “advogado dativo” para 
cumprimento de formalidades do processo, sem o compromisso de uma 
defesa qualificada e eficiente. O “defensor natural” constituiria uma 
garantia a favor da mais ampla defesa. 
Trata-se do princípio segundo o qual não se pode nomear defensor 
público diverso daquele que possui atribuição legal para atuar na 
causa, como bem observam Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar: 
“Trata-se de uma proteção contra o arbítrio em razão da possibilidade 
de nomeação de defensor dativo por parte do juiz ou contra 
designações do defensor público geral que desatendam as normas que 
 
54
 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal, 13.ª ed. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2010, pág. 443 
55
 STJ REsp 945556/MG 29/11/2010 
traçam as atribuições das defensorias públicas, cujos membros são 
revestidos de inamovibilidade.”56 
1.3. 27 Princípio da obrigatoriedade (ou da legalidade) 
Trata-se do princípio segundo o qual caberia ao representante 
ministerial oferecer denúncia caso sua opinio delicti apontasse para a 
ocorrência do delito.57 Dessa forma, sua ação é guiada pelo 
cumprimento do dever legal, e não pela oportunidade e conveniência, 
como acontece na ação penal privada. Em outras palavras, nos crimes 
de ação penal pública, o interesse na persecução penal é publico, e 
não discricionário do Ministério Público. 
Dessa forma, por exemplo, se no curso de determinada investigação, o 
Ministério Público verificar a ocorrência de ilícito penal, “com 
fundamento no princípio da obrigatoriedade, deve iniciar a persecução 
penal.”58 
Nos termos do art. 39, § 5º, do CPP, o órgão ministerial deve promover a 
ação penal se estiver munido de elementos necessários ao 
oferecimento da denúncia: “O órgão do Ministério Público dispensará o 
inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o 
habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a 
denúncia no prazo de quinze dias”. 
O princípio da obrigatoriedade, destaca Guilherme de Sousa Nucci, 
“significa não ter o órgão acusatório, nem tampouco o encarregado 
 
56
 TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal, 4.ª 
ed., Salvador: Juspodium, 2010, pág. 38 
 
57
 STJ REsp 1059368/SC 19/12/2008 
58
 STJ REsp 681612/GO 19/10/2009 
da investigação, a faculdade de investigar e buscar a punição do autor 
da infração penal, mas o dever de fazê-lo”.59 
NOTE! O princípio da obrigatoriedade, presente nos crimes de ação 
penal pública, comporta exceções, como, por exemplo, a transação 
penal (art. 76, da Lei n.° 9.099/95). No caso desta, aplica-se o princípio 
da oportunidade. 
1.3.28 Princípio da plenitude de defesa 
O princípio da plenitude de defesa é peculiar do Tribunal do Júri, 
encontrando previsão no inc. XXXVIII, do art. 5.°, da CF/88. 
Francisco Dirceu Barros identifica a plenitude de defesa como o direito 
à defesa técnica, à publicidade do processo, à citação, de produção 
ampla de provas, de ser processado e julgado pelo juiz competente, 
aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal.60 
Contudo, não é o suficiente para distinguir ampla defesa de plenitude 
de defesa. 
Afinal, qual seria a exata diferença? A plenitude de defesa é definida 
por Guilherme de Souza Nucci não somente como uma defesa ampla, 
mas completa, a mais próxima possível do perfeito, daí porque vários 
efeitos podem ser extraídos: “a) o juiz, no júri, deve preocupar-se, de 
modo particularizado, com a qualidade da defesa produzida em 
plenário, não arriscando a sorte do réu e, sendo preciso, declarando o 
acusado indefeso, dissolvendo o Conselho e redesignando a sessão (art. 
 
59 NUCCI, Guilherme de Sousa. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 6.ª ed., São 
Paulo: RT, 2010, pág. 49 
 
60
 BARROS, Francisco Dirceu. Direito Processual Penal – V. I, 2.ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 
pág. 30 
497, do CPP); b) havendo possibilidade de tréplica, pode a defesa 
inovar nas suas teses, não representando tal ponto qualquer ofensa ao 
contraditório, princípio que deve ceder espaço à consagrada plenitude 
de defesa; c) caso a defesa necessite de maior tempo para expor sua 
tese, sentindo-se limitada pelo período estabelecido na lei ordinária, 
poderá pedir dilação ao magistrado presidente, sem que isso implique 
igual concessão ao representante do Ministério.” 61 
1.3.29 Princípio da oficiosidade 
O princípio da oficiosidade, decorrente do princípio da obrigatoriedade 
(ou da legalidade), consiste no dever de atuação de ofício (ex officio) 
de autoridades em determinadas hipóteses. Trata-se, por exemplo, na 
instauração de ofício do inquérito policial, ou ainda da atuação de 
ofício do membro do Ministério Público na persecução criminal. 
NOTE! O princípio da oficiosidade não se aplica em determinadas 
situações (exceções), em que existe a necessidade de iniciativa do 
ofendido, como, por exemplo, nos crimes de ação penal privada e de 
ação penal pública condicionada à representação. Por exemplo, no 
crime de ação penal pública condicionada à representação, a 
autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial, nem o 
Ministério Público oferecer a denúncia, sem a representação da vítima. 
1.3.30 Princípio do impulso oficial 
Trata-se de princípio específico da atividade do juiz no curso do 
processo. O juiz deve desenvolver a atividade necessária para passar 
de uma fase a outra do processo. 
1.3.31 Princípio da oficialidade 
 
61 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 6.ª ed.,São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, pág. 30 
 
As atividades do Estado devem ser desenvolvidas por órgãos com 
atribuições legais. Dessa forma, os órgãos de Polícia Judiciária possuem 
a atribuição para proceder às investigações criminais, instaurando 
inquérito policial. O órgão do Ministério Público possui atribuição para 
ingressar com as ações cabíveis, quando da prática de infrações 
penais, buscando do Estado a aplicação da tutela penal para o caso. 
Existe exceção ao princípio da oficialidade? Sim. No caso da ação 
penal privada, a persecução penal é provocada pelo próprio ofendido, 
e não pelo Ministério Público. Outra hipótese é ação por crime de 
responsabilidade, prevista no art. 41, da Lei n.° 1079/50: “É permitido a 
todo cidadão denunciar perante o Senado Federal, os Ministros do 
Supremo Tribunal Federal e o Procurador Geral da República, pelos 
crimes de responsabilidade que cometerem”. 
1.3.32 Princípio da autoritariedade 
É o princípio segundo o qual, anota Fernando Capez, “os órgãos 
investigantes e processantes devem ser autoridades públicas.”62 Como 
se observa, referido princípio termina se confundido como princípio da 
oficialidade. Inclusive, parte da doutrina considera que são expressões 
sinônimas. 
1.3.33 Princípio da indisponibilidade 
É o princípio segundo o qual o Ministério Público não pode desistir da 
ação penal pública, previsto no art. 42, do CPP: “O Ministério Público 
não poderá desistir da ação penal”. Incide ainda na atuação da 
autoridade policial, proibindo-a de arquivar o inquérito policial, nos 
termos do art. 17, do CPP: “A autoridade policial não poderá mandar 
arquivar autos de inquérito”. 
 
62
 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 18.ª ed., São Paulo: Saraiva, 2011, pág. 34. 
 
NOTE! O princípio da indisponibilidade comporta exceções, justamente 
nas hipóteses de ação penal privada e de transação penal (art. 76, da 
Lei n.° 9.099/95). 
1.3.34 Princípio da imediatidade. 
Trata-se do princípio segundo o qual, em regra, os atos do processo, 
essencialmente aqueles relacionados à instrução probatória, devem se 
desenvolver na presença do juiz, para que este possa extrair da melhor 
maneira possível impressões acerca do fato. 
1.3.35 Princípio da concentração 
Em regra, a instrução probatória deve se concentrar numa única 
audiência, otimizando o procedimento probatório, com o intuito de 
promover o princípio constitucional da duração razoável do processo. 
Consiste em outro princípio que mereceu destaque na recente reforma 
do CPP. Dessa forma, no procedimento comum, a audiência de 
instrução e julgamento deverá ser realizada no prazo máximo de 60 
(sessenta) dias, procedendo-se à tomada de declarações do ofendido, 
à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, 
nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às 
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, 
em seguida, o acusado, sendo as provas produzidas numa só audiência 
(art. 400, do CPP). 
1.3.36 Princípio da identidade física do juiz 
O princípio da identidade física do juiz, em sintonia direta com a 
garantia do juiz natural, é aquele segundo o qual o juiz que conduziu 
toda a instrução, na fase da persecução penal em juízo, deve ser o 
mesmo que irá proferir a sentença, justamente por conhecer todo o 
histórico do conjunto probatório, bem como ter tido a oportunidade de 
extrair impressões do contato mais próximo com as provas. 
Antes da recente reforma do CPP, em regra, referido princípio não 
estava presente no processo penal. A antiga lacuna, alvo de muitas 
críticas, foi corrigida a partir da lei 11.719/2008, consagrando o princípio 
da identidade física do juiz no §2.°, do art. 399, do CPP: “O juiz que 
presidiu a instrução deverá proferir a sentença”. 
NOTE! O princípio da identidade física do juiz é a regra. Obviamente, 
existem situações em que não será possível aplicá-lo, como, por 
exemplo, no caso de morte do magistrado, ou aposentadoria, ou ainda 
promoção. Conforme dispõe o art.3.°, do CPP, será admitida a 
aplicação analógica, quando for preciso. Portanto, aplicam-se as 
mesmas exceções do art. 132, do CPC: “O juiz, titular ou substituto, que 
concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, 
licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, 
casos em que passará os autos ao seu sucessor”. As exceções, inclusive, 
são importantes para garantir o princípio da duração razoável do 
processo, evitando todos os danos que a demora processual pode 
ocasionar. 
1.3.37 Princípio da suficiência 
De acordo com o princípio da suficiência, a pena precisa ser 
adequada à lesividade do delito, não se admitindo a sua fixação de 
forma excessiva. O juiz deve aplicar a pena em concreto de forma 
justa, proporcional ao fato cometido. Em outras palavras, nem mais nem 
menos, somente o necessário. Não pode incorrer no erro do rigor 
excessivo, ou da benevolência geradora de impunidade. 
Conforme orientação do STJ, o princípio da suficiência deve ser 
adotado em toda e qualquer resposta penal, inclusive na aplicação de 
penas restritivas de direitos: “A substituição da pena privativa de 
liberdade pela sanção restritiva de direitos, prevista no artigo 44 do CP, 
enquanto resposta penal em natureza, está subordinada, 
inarredavelmente, ao princípio da suficiência.”63 
1.3.38 Princípio da audiência 
O princípio constitucional da ampla defesa divide-se em defesa técnica 
(específica) e a autodefesa (genérica). Conforme orientação do STJ, a 
autodefesa é exercida exclusiva e pessoalmente pelo acusado, 
consubstanciando-se nos direitos de presença e de audiência. 
Assim, o princípio da audiência consagra o direito de presença, 
considerado como a oportunidade “de o acusado acompanhar, ao 
lado de seu defensor, todos os atos do processo, assegurando a sua 
maior proximidade com o juiz, as razões e as provas. O direito de 
audiência, por sua vez, traduz a possibilidade de o acusado influir, 
pessoalmente, na formação do convencimento do magistrado, o que 
ocorre no momento do interrogatório judicial, já que poderá oferecer a 
sua versão dos fatos, invocar o direito ao silêncio etc.”64 
1.4 APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL 
1.4.1Lei processual penal no tempo 
O CPP adotou o princípio da imediata aplicação da lei processual 
penal (tempus regit actum), previsto no art. 2.°: “A lei processual penal 
aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados 
sob a vigência da lei anterior”. 
De fato, a lei processual penal aplicar-se-á de imediato. Contudo, os 
atos praticados sob a vigência de lei anterior não serão renovados, isto 
 
63
 STJ HC 76290/DF DJe 22/09/2008 
64
 STJ HC 114225/SP 02/03/2009 
é, aplica-se a nova lei sem prejuízo da validade dos atos realizados sob 
a vigência da lei anterior. 
Foi adotado o denominado “sistema do isolamento dos atos 
processuais”, segundo o qual, se uma lei processual penal passa a 
vigorar estando o processo em curso, ela será imediatamente aplicada, 
sem prejuízo dos atos já realizados sob a vigência da lei anterior. Em 
outras palavras, cada ato processual será considerado isoladamente, 
como uma unidade, não atingindo a lei processual penal nova os atos 
processuais anteriores. 
NOTE! Não confundir as leis processuais com as leis penais. As 
processuais não se submetem ao princípio da retroatividade da lei 
penal mais benéfica, conforme prevê o art. 2.°, do CPP. A lei processual 
é aplicada imediatamente no processo em andamento, não 
importando se o crime foi cometido antes ou após sua entrada em 
vigor, ou se é ou não mais benéfica. 
1.4.2 Lei processual penal no espaço 
O CPP, em seu art. 1.°, adotou como regra o princípio da 
territorialidade, sendo o qual a lei processual será aplicada aos crimes 
cometidos em território brasileiro. 
O mesmo dispositivo estabelece as seguintes exceções à regra da 
territorialidade: I – Tratados, convenções e regras de direito 
internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da 
República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do 
Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, 
nos crimes de responsabilidade; III - os processos da competência da 
Justiça Militar. 
NOTE! Cabe observar que o inc. IV (os processos da competência do 
tribunal especial) não se aplica mais, por não estar recepcionado pela 
CF/88, que consagra o juiz natural e veda juízos de exceção. O mesmo 
ocorre em relação ao inc. V (os processos por crimes de imprensa), em 
face de arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF 
130/DF), em que o STF declarou a não recepção da Lei de Imprensapela CF/88. Dessa forma, as lesões contra a honra cometidas por meio 
da imprensa devem ser responsabilizadas criminalmente com base nas 
figuras típicas (calúnia, injúria e difamação) do Código Penal. 
Ainda em relação à lei processual penal no espaço, o legislador 
estabeleceu como lugar do crime o local onde aconteceu a ação (ou 
omissão) e onde aconteceu o resultado (teoria da ubiquidade), nos 
termos do art. 6.°, do CP. 
1.4.3 Interpretação extensiva, analogia e princípios gerais do direito. 
A lei processual penal admite interpretação extensiva e o suplemento 
dos princípios gerais de direito, por expressa disposição legal, do art. 3.°, 
do CPP: “A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e 
aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de 
direito”. 
A lei processual admite interpretação analógica (analogia legis). Dessa 
forma, determinada norma pode perfeitamente ser utilizada em 
situações de lacuna no ordenamento processual, desde que a hipótese 
seja semelhante. 
1.5 Dicas imprescindíveis 
1. Como decorrência da evolução do pensamento acerca do princípio 
da presunção de inocência, não existe mais a necessidade de o 
acusado se recolher à prisão para apelar, tendo sido revogado o art. 
594, do CPP, pela Lei n.° 11.719/2008. O STJ, em reiteradas decisões, 
homenageando o primado do estado de inocência, não vem mais 
aplicando a sua antiga súmula 9 (“A exigência da prisão provisória, 
para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de 
inocência”). E mais: A aceitação da proposta de transação penal (art. 
76, da Lei n.° 9.099/95) não configura maus antecedentes, não 
produzindo efeitos penais. Entendimento contrário acarretaria lesão ao 
princípio da presunção de inocência. 
2. Em caso de normas processuais penais híbridas, o juiz deve cindir o 
conteúdo das regras, aplicando, imediatamente, o conteúdo 
processual penal e fazendo retroagir o conteúdo de direito material, 
desde que mais benéfico ao acusado? Não. As normas híbridas (ou 
mistas) são aquelas em que uma parte do conteúdo é penal, enquanto 
a outra é processual. Conforme orientação doutrinária e jurisprudencial 
majoritária, a lei processual penal híbrida não pode ser cindida: 
“Reiterada jurisprudência desta Corte no sentido de que as disposições 
do art. 366 do CPP, com a sua nova redação dada pela Lei 9.271/96, 
sendo norma de natureza híbrida, processual (suspensão do processo) e 
material (suspensão da prescrição), não podem ser cindidas, sendo 
inaplicável por inteiro o citado dispositivo legal às infrações cometidas 
antes da vigência da Lei 9.271/96.”65 
3. A regressão de regime (ex.: semi-aberto para fechado), prevista no 
art. 118, da Lei de Execuções Penais (LEP), quando o condenado 
pratica fato definido como crime doloso, fere o princípio da presunção 
de inocência na medida em que não espera o transito em julgado em 
relação a este fato novo? Não. Trata-se da orientação amplamente 
majoritária: “O cometimento de delito pelo apenado, durante o resgate 
da reprimenda, justifica a regressão de regime, sendo desnecessário, 
para tanto, o trânsito em julgado da nova condenação, inocorrendo, 
na espécie, ofensa ao princípio da presunção de inocência.”66 No 
 
65
 STJ REsp 280656 / RJ 04/06/2001 
66
 STJ REsp 1021662/SP 30/11/2009 
mesmo sentido: “Não há falar em violação à presunção de inocência, 
pois a regressão de regime decorre da conduta indisciplinar do 
apenado – que não faz jus ao benefício proporcionado pelo regime 
mais brando. Não implica discussão a respeito da culpabilidade; 
apenas desmerecimento pela falta grave praticada.”67 A mesma linha 
de raciocínio é adotada em relação à revogação da suspensão 
condicional do processo (“sursis processual”), previsto no art. 89, da Lei 
n.° 9.099/95. 
4. As decisões judiciais ainda na investigação criminal (ex.: decretação 
de interceptação telefônica) terão como base os elementos de prova 
colhidos nesta fase, não desobrigando o juiz de fundamentar 
suficientemente suas posições. E mais: não se pode alegar ofensa aos 
princípios do contraditório e da ampla defesa, porque o juiz não pode 
proceder de outra forma. 
5. A publicidade dos atos processuais não é absoluta, mas sim restrita, 
justamente porque comporta exceções (ex.: resguardar a imagem da 
vítima). Ainda nessas hipóteses de restrição, importante destacar que a 
restrição se refere a terceiros, não podendo atingir o acusado e as 
partes, porque ofenderia os princípios do contraditório e da ampla 
defesa. Nesse sentido, dispõe o inc. IX, do art. 93, da CF/88: “todos os 
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e 
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a 
lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus 
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do 
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse 
público à informação”. 
 
67
 STJ REsp 1064427/RS 28/09/2009 
6. Conforme orientação do STF, “nenhuma afronta ao princípio do 
promotor natural há no pedido de arquivamento dos autos do inquérito 
policial por um promotor de justiça e na oferta da denúncia por outro, 
indicado pelo Procurador-Geral de Justiça, após o Juízo local ter 
considerado improcedente o pedido de arquivamento.”68 
7. O princípio da iniciativa das partes não impede a concessão de 
habeas corpus de ofício por juiz ou por Tribunal. 
8. O princípio da indisponibilidade no processo penal incide ainda na 
fase recursal, nos termos do art. 576, do CPP: “O Ministério Público não 
poderá desistir de recurso que haja interposto”. 
9. Parte da doutrina considera que o princípio in dubio pro reu não é 
levado em conta no âmbito do Tribunal do Júri, porque os jurados 
julgam de acordo com a íntima convicção de cada um. Já outra 
parcela dos autores considera que o princípio da íntima convicção não 
é uma exceção ao princípio in dubio pro reu, porque o julgamento 
deveria ocorrer de acordo com a prova dos autos. 
10. Como decorrência do princípio da presunção de inocência, 
processos criminais sem trânsito em julgado pelos quais responde o 
acusado, ou mesmo inquéritos policiais, não podem ser considerados 
como maus antecedentes na dosimetria da pena, conforme reiteradas 
decisões do STJ e do STF. 
11. Qual a diferença entre “proteção vertical” e “proteção horizontal”? 
Vertical é aquela contra o Estado, enquanto horizontal é aquela contra 
terceiros. Assim, o Estado deve garantir proteção contra si mesmo 
(abusos ou excessos na sua atividade) e contra terceiros (agressão de 
outrem). 
 
68
 STF HC 92885/CE 29/04/2008 
12. Se por impedimento ou suspeição, o juiz pode comprometer sua 
imparcialidade, não deve atuar no processo sob pena de nulidade. Os 
impedimentos ocasionam presunção absoluta de lesão à 
imparcialidade; enquanto a suspeição, apenas presunção relativa. 
13. Se o Ministério Público pedir a absolvição, isso é o suficiente para por 
fim ao processo? Não. Diante da indisponibilidade da pretensão em 
discussão no processo, o juiz deve dar seguimento ao processo com o 
intuito de formar seu convencimento, nada impedindo, inclusive, a 
sentença condenatória. 
14. O que é o princípio pro homine? Em conflitos relacionados a direitos 
humanos, na dúvida, deve-se adotar a interpretação mais benéfica à 
promoção dos direitos humanos. 
15. Qual a diferença entre “norma híbrida” e “heterotopia”? 
Heterotopia é a situação da normaque apresenta um conteúdo que 
não corresponde à sua localização sistemática no ordenamento, como 
uma lei processual que apresenta conteúdo penal (ex.: vários 
dispositivos da LEP). Já a norma híbrida possui conteúdo penal e 
processual. A norma com heterotopia possui apenas conteúdo único. 
16. A perda de prazo pode não acarretar preclusão, quando o 
cumprimento de determinado ato for indispensável para a efetivação 
da ampla defesa, como acontece com a não apresentação da 
resposta à acusação, hipótese em que o juiz intimará a Defensoria 
Pública para fazê-lo. 
 
1.6 Jurisprudência Atualizada 
1. De acordo com recente orientação do STJ, em face do princípio da 
identidade física do juiz, em regra, o interrogatório do acusado não 
deve ser realizado via carta precatória. Contudo, excepcionalmente, 
verificando-se a necessidade e as peculiaridades do caso concreto, 
ainda será possível a realização via carta precatória: “Com a 
introdução do princípio da identidade física do Juiz no processo penal 
pela Lei 11.719/08 (art. 399, § 2o. do CPP), o Magistrado que presidir os 
atos instrutórios, agora condensados em audiência una, deverá proferir 
a sentença, descabendo, em regra, que o interrogatório do acusado, 
visto expressamente como autêntico meio de defesa e deslocado para 
o final da colheita da prova, seja realizado por meio de carta 
precatória, mormente no caso de réu preso, que, em princípio, deverá 
ser conduzido pelo Poder Público (art. 399, § 1o. do CPP); todavia, não 
está eliminada essa forma de cooperação entre os Juízos, conforme 
recomendarem as dificuldades e as peculiaridades do caso concreto, 
devendo, em todo o caso, o Juiz justificar a opção por essa forma de 
realização do ato. A adoção do princípio da identidade física do Juiz 
no processo penal não pode conduzir ao raciocínio simplista de 
dispensar totalmente e em todas as situações a colaboração de outro 
juízo na realização de atos judiciais, inclusive do interrogatório do 
acusado, sob pena de subverter a finalidade da reforma do processo 
penal, criando entraves à realização da Jurisdição Penal que somente 
interessam aos que pretendem se furtar à aplicação da Lei.”69 
2. Conforme recente orientação do STJ, “não se verifica nulidade pela 
ausência de aplicação do princípio da identidade física do juiz (art. 399, 
§2º, do CPP - com as alterações promovidas pela lei 11.719/08) em 
processamento de adolescente pela prática de ato infracional, pois o 
ECA estabelece rito fracionado.70 
 
69
 STJ CC 99023/PR DJE 28/08/2009 
70
 STJ HC 154740 / DF DJe 26/04/2010 
3. “A defesa é de ordem pública primária (Carrara); sua função consiste 
em ser a voz dos direitos legais – inocente ou criminoso o acusado. 
Norteou-se o Cód. de Pr. Penal ‘no sentido de obter equilíbrio entre o 
interesse social e o da defesa individual, entre o direito do Estado à 
punição dos criminosos e o direito do indivíduo às garantias e 
seguranças de sua liberdade’ (Exposição de Motivos). Tal a missão 
reservada à defesa – de ordem pública primária e de caráter sagrado – 
e tal o equilíbrio a ser observado entre os dois interesses – o social e o da 
defesa –, outra compreensão não há do presente caso senão a de que 
o titular do direito de defesa é o acusado, e não propriamente o 
defensor. Assim, constitui nulidade a oitiva de testemunha de acusação 
sem a presença dos réus, devendo-se, pois, anular o processo a partir 
do momento em que foi ouvida testemunha na presença de defensores 
ad hoc, os quais anuíram à tomada do depoimento sem que os ora 
pacientes estivessem presentes.”71 
1.7 Questões Comentadas 
1. (PROCURADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO CESPE/UNB 2009) A CF 
assegura o sistema inquisitivo misto no processo penal. 
Resposta: Errado. Afirmação absurda. O sistema processual penal 
brasileiro é o acusatório, e não o inquisitivo. 
2. (POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL CESPE/UNB 2009) No processo 
acusatório, a acusação encontra-se em posição hierarquicamente 
superior à defesa, e o juiz pode dar início ao processo por sua própria 
vontade. 
Resposta: Errado. No sistema acusatório, destaca-se o princípio do 
contraditório, do qual decorre a paridade de “armas” entre as partes. 
 
71
 STJ HC 89301/MS 25/05/2009 
Rege-se ainda pela separação rigorosa das funções de investigar, de 
acusar e de julgar, não podendo o juiz dar início ao processo por sua 
própria vontade. 
3. (DEFENSOR PÚBLICO DA UNIÃO CESPE/UNB 2010) Parte da doutrina 
manifesta-se contrariamente à expressa previsão legal de cabimento 
da condução coercitiva determinada para simples interrogatório do 
acusado, como corolário do direito ao silêncio. 
Resposta: Correto. O comparecimento do acusado é um direito, e não 
um dever. Nesse sentido, manifestou-se o próprio STJ: “O 
comparecimento do réu aos atos processuais, em princípio, é um direito 
e não um dever, sem embargo da possibilidade de sua condução 
coercitiva, caso necessário, por exemplo, para audiência de 
reconhecimento. Nem mesmo ao interrogatório estará obrigado a 
comparecer, mesmo porque as respostas às perguntas formuladas fica 
ao seu alvedrio. Já a presença do defensor à audiência de instrução é 
necessária e obrigatória, seja defensor constituído, defensor público, 
dativo ou nomeado para o ato.”72 
4. (PROCURADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO CESPE/UNB 2009) Em 
razão do princípio da presunção de inocência, não é possível haver 
prisão antes da sentença condenatória transitada em julgado. 
Resposta: Errado. O princípio da presunção de inocência não é 
absoluto. Dessa forma, excepcionalmente, desde que atendidos os 
requisitos legais, será cabível a prisão provisória do acusado. Nesta 
perspectiva, Afrânio Silva Jardim anota que “a eleição por parte do 
sistema processual penal de um ou outro princípio dependerá do 
desenvolvimento político e social, dos valores éticos e democráticos 
cultuados pela sociedade. Por outro lado, sempre haverá uma posição 
 
72
 STJ REsp 346677/RJ 10/09/2002 
de compromisso entre as idéias em choque, não se encontrando, em 
sistema jurídico algum, a adoção pura e absoluta de um determinado 
princípio, pois o seu antitético tem sempre guarida como fator de 
mitigação do princípio prevalente. Vale dizer, o critério é mais de 
preponderância do que de exclusividade.”73 
5. (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL SERGIPE CESPE/UNB 2006) Nos termos da 
lei processual penal, a exigência da presença de defensor, prevista 
para o interrogatório judicial, não se aplica ao interrogatório policial, por 
ser o inquérito procedimento de natureza inquisitiva, ao qual não se 
impõe a observância do contraditório. 
Resposta: Correto. A presença do defensor somente é obrigatória no 
processo judicial. 
6. (DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL TOCANTINS CESPE/UNB 2008) Impera no 
processo penal o princípio da verdade real e não da verdade formal, 
próprio do processo civil, em que, se o réu não se defender, presumem-
se verdadeiros os fatos alegados pelo autor. 
Resposta: Correto. No processo penal, não se admite presunção de 
verdade dos fatos pela confissão do acusado, ou mesmo quando este 
não se defende. 
7. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL TOCANTINS CESPE/UNB 2003) Prevê a 
Constituição Federal o princípio de que ninguém será considerado 
culpado senão após o trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória. No processo penal, a aplicação desse princípio é 
absoluta, pois busca-se a verdade real. 
 
73 JARDIM,

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