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CINEMÁTICA DO TRAUMA

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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● SUPORTE BÁSICO DE VIDA 
1 
 
www.medresumos.com.br 
 
 
CINEMÁTICA DO TRAUMA 
 
 Todos os dias, em vários momentos, recebemos pequenas energias, de formas simples, e nada de mal nos 
acontece. Baseado nos princípios da prevenção de lesões, o atendimento do doente traumatizado pode ser dividido em 
três fases: pré-colisão, colisão e pós-colisão. O termo colisão não se refere necessariamente à colisão de veículo 
automotor. A colisão de um auto com um pedestre, de um projétil no abdome, ou de um trabalhador da construção no 
asfalto pós-queda são outros exemplos. Em cada caso, ocorre transferência de energia entre objeto e o tecido da vítima 
traumatizada ou entre a vítima em movimento e o objeto em repouso. 
 Pré-colisão (pré-evento): inclui todos os eventos que precedem o incidente, como a ingestão de álcool ou 
drogas, as possíveis medidas preventivas, estado mental antes do evento. 
 Fase de colisão (evento): começa no momento do impacto entre um objeto em movimento e um segundo 
objeto, que pode se dar da seguinte maneira: (1) o impacto dos dois objetos, (2) impacto dos ocupantes, e (3) o 
impacto dos órgãos vitais dentro dos ocupantes. Esta fase engloba todos os tipos de eventos: uma queda de 
grandes alturas, um projétil lançado contra a vítima, etc. 
 Fase pós-colisão (pós-evento): são as medidas realizadas pelo socorrista, o qual usa informações colhidas 
durante as fases pré-evento e evento para tratar a vítima. Esta fase começa tão logo que a energia da colisão é 
absorvida e o doente traumatizado. O pós-evento engloba, portanto, os processos de socorro de atendimento na 
cena do trauma (atendimento pré-hospitalar), o atendimento intra-hospitalar e a reabilitação da vítima. Atuando 
mais precocemente possível nesta fase, o grau de morbidade diminui consideravelmente. 
 
 É preciso saber que cerca de 50% envolvidas no trauma morrem ainda na cena do evento, 30% morrem ainda 
nas primeiras horas pós-evento (como durante o transporte ao atendimento hospitalar ou no próprio hospital) e cerca de 
20% morrem mais tardiamente devido a outras complicações (insuficiência renal, complicações metabólicas, etc.), 
geralmente na UTI. 
 A biomecânica ou cinemática do trauma é o ramo da Medicina de Urgência que estuda as transferências de 
energia que foram convertidas em lesões. Para compreender os efeitos das forças que produzem lesões corporais, o 
socorrista pré-hospitalar deve entender dos componentes (energia e anatomia). As variantes mais importantes que 
interferem no processo da cinemática são: quantidade, densidade, forma, velocidade, temperatura, superfície de contato, 
reserva fisiológica da vítima, etc. 
 Ci.ne.má.ti.ca (cinemato+ica). Ciência que estuda os movimentos dos corpos, independentemente das forças 
que os produzem. 
 Bio+me.câ.ni.ca. 1 Ciência que trata das leis do movimento e do equilíbrio. 2 O conjunto das leis do movimento 
e do equilíbrio. 
 
 A cinemática do trauma é, portanto, o processo que permite analisar o evento traumático, quais as forças físicas 
e movimentos envolvidos na ocorrência, primordialmente com vistas e determinar os possíveis danos à pessoa envolvida 
(vítima) no intuito de, durante o pós-evento, aumentar a chance de sobrevida da mesma. Há duas maneiras de aumentar 
a sobrevida de indivíduos: (1) agindo preventivamente e evitando os eventos que seguem, e (2) agindo rapidamente e 
adequadamente no pós-evento. 
 O trauma varia entre várias etiologias: acidentes automobilísticos (150 mil mortos e 450 mil sequelados nos EUA; 
no Brasil, o número de mortes de AVM é cerca de 35 a 45 mil por ano), explosões (terrorismo, bombas, etc.), agressões 
(armas de fogo, físicas), quedas, esportes radicais, eventos fortuitos, etc. 
 
 
LEIS DA FÍSICA QUE REGEM O TRAUMA 
 Isaac Newton, em 1687, publicou suas três leis que regem a mecânica clássica: 1ª Lei – Inércia, 2ª Lei – Força 
e 3ª Lei – Ação e Reação. A primeira Lei do movimento de Newton afirma que um corpo em repouso permanecerá em 
repouso, a menos que uma força externa atue sobre ele, assim como um corpo em movimento, quando induzido a parar, 
tende a continuar em movimento. 
O mesmo é verdadeiro, por exemplo, para uma pessoa sentada no assento de um automóvel que colidiu: 
quando o carro para, a pessoa continua em movimento até colidir com instrumentos do próprio veículo (para-brisa, 
volante, o próprio cinto quando mal colocado); o impacto com esses objetos interrompe o movimento para a frente do 
tronco ou da cabeça; os órgãos internos do indivíduo permanecem, pois, em movimento até que colidam com as 
paredes corporais. 
 Albert Einstein provou por meio da Lei da conservação da Energia que a energia não se cria nem se destrói, mas 
sim, ela é transformada: um veículo em movimento, por exemplo, apresenta uma energia cinética que pode, pois, 
transformar-se e assumir a forma de energia mecânica, térmica, elétrica ou química, convertendo-se, enfim, no trauma. 
Segundo Einstein, a energia cinética obedece à seguinte relação: 
Arlindo Ugulino Netto. 
SUPORTE BÁSICO DE VIDA (SBV) 2016 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● SUPORTE BÁSICO DE VIDA 
2 
 
www.medresumos.com.br 
Ec = m.v² 
 2 
 
A fórmula indica que a energia cinética depende da massa de um veículo, por exemplo, e da velocidade (na 
segunda potência) do mesmo dividido por dois. É por isso que, quanto maior a velocidade (principalmente) ou a massa 
do objeto envolvido no trauma, maior os danos causados ao organismo. 
 
OBS
1
: Fato curioso é o peso aparente que o corpo da vítima apresenta durante uma colisão: a depender da velocidade 
do veículo, o corpo chega a ser lançado com cerca de 10 vezes a massa corporal do indivíduo. 
 
 A colisão, regida por estas leis, pode acontecer segundo os seguintes eventos: 
1. Dois objetos, sendo um móvel quanto um fixo (carro + poste); 
2. Ocupantes contra o veículo (motorista com instrumentos carro ou com o próprio cinto); 
3. Órgãos internos com paredes corporais (cérebro na calota craniana, vísceras contra a parede do abdome e do 
tórax); 
4. Outros elementos: projétil contra um corpo, corpo com uma superfície plana e rígida (chão), mão com a face, 
etc. 
 
 A cinemática do trauma vai depender de fatores como: a velocidade dos elementos envolvidos, desaceleração, 
meios de contenção, mecanismos especiais de proteção (airbags, cintos, capacetes), compressibilidade das superfícies, 
rigidez molecular, etc. 
 
 
CAVITAÇÃO 
 A mecânica básica da transferência de energia é relativamente simples. Quando o corpo humano em movimento 
atinge um objeto parado (ou vice-versa), o tecido do corpo humano é arremessado para longe de sua posição original 
criando uma cavidade. Esse processo é chamado de cavitação. 
 Durante este processo, são criados dois tipos de cavidades: 
 Cavidade temporária: uma cavidade temporária que se forma no momento do impacto, mas dependendo da 
elasticidade do tecido (como a do corpo humano), pode retorna à sua posição prévia (esta cavidade pode não 
ser visível quando o socorrista ou médico examinam o doente no pós-evento, mas ela pode refletir danos 
internos que podem culminar na morte do indivíduo). Uma cavidade temporária é causada por estiramento. 
 Cavidade permanente: uma cavidade permanente também se forma no momento do impacto e é causada por 
compressão ou laceração de tecidos. Também é causada por estiramento, porém como não retorna à sua 
forma original, pode ser vista mais tarde. 
 
 A diferença de tamanho entre as duas cavidades está relacionada com a elasticidade dos tecidos envolvidos. 
Golpes diretos ao corpo humano geralmente causam cavidades temporárias devido ao caráter elástico dos tecidos 
humanos. Ao golpear com um taco de beisebol o abdome de outra pessoa, o mesmo chega a comprimir a parede 
abdominal, mas esta deixará entalhes. Porém, por cavitação, a onda mecânica é propagada para estruturas internas que 
pode, enfim, romper-se. 
 O número de partículas do tecido atingidas édeterminado pela densidade do tecido e pela área de superfície do 
impacto e sua elasticidade. 
 
 
TIPOS DE TRAUMA 
 Em geral, o trauma pode ser classificado como fechado (ou contuso) e penetrante. Entretanto, a transferência 
de energia e a lesão produzida são semelhantes em ambos os tipos de trauma. A única diferença real é a penetração da 
pele. 
 A transferência de energia está diretamente relacionada com a densidade e o tamanho da área frontal no ponto 
de contato entre o objeto e o corpo da vítima. No trama contuso, as lesões são produzidas à medida que os tecidos são 
comprimidos, desacelerados ou acelerados. No trauma penetrante, as lesões são produzidas à medida que os tecidos 
são esmagados e separados ao longo do caminho do objeto penetrante. 
 O trauma contuso cria tanto lacerações por cisalhamento quanto cavitação. Cavitação é frequentemente apenas 
uma cavidade temporária e é afastada do ponto de impacto. O trauma penetrante cria tanto uma cavidade permanente 
quanto uma temporária. A energia de um objeto em movimento rápido com área de superfície frontal pequena será 
concentrada numa única área e poderá exercer a força extensível do tecido e penetrar nele. A cavidade temporária que 
é criada se dispersa afastando-se do caminho deste míssil nas direções frontal e lateral. 
 
TRAUMA CONTUSO 
 Duas forças estão envolvidas no impacto do trauma contuso: cisalhamento e compressão. 
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 O cisalhamento é o resultado da mudança súbita da velocidade de um órgão ou estrutura (ou parte de um órgão 
ou estrutura) móvel do que de outros órgãos ou estruturas fixas mas conectados aos primeiros, como por exemplo, 
durante uma colisão, o coração (por estar flutuando no mediastino) pode se desconectar da aorta (a qual é fixa à 
coluna), gerando um cisalhamento. A compressão é resultado de um órgão ou estrutura ser comprimido diretamente por 
outros órgãos ou estruturas. 
 A lesão pode ser o resultado de qualquer tipo de impacto, como colisões automobilísticas (automóvel ou 
motocicleta), colisões de pedestres com veículos, quedas, lesões por esportes, ou lesões por explosões. 
 
1. Colisões automobilísticas: podem ser divididas em cinco tipos: impacto frontal, impacto traseiro, impacto 
lateral, impacto angular e capotamento (roll-over). 
 Impacto frontal (53% das colisões): o indivíduo, neste caso, é jogado contra o painel do veículo. 
Embora em impacto frontal o veículo pare de mover-se para frente de repente, o ocupante, se não 
estiver contido (por cinto ou por airbag) e, portanto, não diminuir a sua velocidade junto com o carro, 
continua a mover-se e segue um dos caminhos possíveis: por cima ou por baixo. 
 Trajetória por cima: o movimento do corpo para frente carrega o indivíduo para cima e sobre o 
volante. A cabeça é frequentemente a porção da frente do corpo que colide com o pára-brisa. O 
tórax ou o abdome colidem diretamente com o volante. Se o tórax colide com o volante, lesões 
graves podem ocorrer nos órgãos da caixa torácica. Geralmente, neste caso, as costelas 
tendem a quebrar e o pulmão a ser perfurado superiormente devido a menor densidade do ar. 
Se é o abdome que colide, lesões por compressão podem ocorrer mais frequentemente nos 
órgãos abdominais sólidos (rins, fígado, pâncreas e baço) e também com vísceras ocas. Muito 
frequentemente, os rins, o baço e o fígado sofrem cisalhamento quando o abdome colide com o 
volante e para subitamente. O aumento súbito da pressão abdominal pode gerar uma protrusão 
de vísceras abdominais contra o diafragma, gerando hérnias diafragmáticas. A cabeça também 
é um ponto de impacto direto. Umas das partes mais facilmente dobráveis ou fraturáveis do 
corpo é a coluna cervical. 
 Trajetória por baixo: o ocupante continua a mover-se para baixo em direção ao assento e para 
frente em direção ao painel ou à coluna da direção. Geralmente acontece com pessoas de 
baixa estatura. A parte do corpo mais facilmente acometida é o dimídio superior (metade 
superior do corpo), a pelve e os membros inferiores. O pé pode torcer se estiver apoiado sobre 
o assoalho ou no pedal e os joelhos se dobram e colidem diretamente com o painel. Este 
impacto pode resultar tanto em fratura da tíbia ou da fíbula como em avulsão da cabeça do 
fêmur com relação ao acetábulo do osso do quadril. Como a artéria poplítea está intimamente 
ligada à articulação do joelho, luxação da articulação está com frequência associada com lesão 
do vaso. Pode gerar um coágulo sanguíneo no vaso lesado, resultando em fluxo sanguíneo 
significativamente reduzido nos tecidos da perna abaixo do joelho (se esta lesão não for 
identificada rapidamente e se a perfusão dos tecidos da perna não for restabelecida dentro de 
cerca de 6 horas, frequentemente será necessária a amputação). Após o impacto dos joelhos, a 
parte superior do corpo gira para frente em direção à coluna da direção ao painel. A vítima pode 
então sofrer muitas das lesões anteriormente descritas para a trajetória por cima. 
 
OBS²: É necessário o socorrista ter atenção aos seguintes perigos: sangramentos internos ocultos (hemorragias 
internas), lesões vasculares, perda de membros ou de funções, sequelas definitivas e mortalidade tardia. 
OBS³: Outra lesão visceral de difícil diagnóstico é a causada pelo aumento súbito da pressão abdominal que é a ruptura 
da valva aórtica, como resultado de fluxo sanguíneo retrógrado. Essa lesão ocorre quando a colisão com a coluna na 
direção ou envolvimento com outro tipo de incidente (como desmoronamentos de túnel) produz rápido aumento da 
pressão abdominal. Esse aumento rápido da pressão abdominal produz um aumento da pressão sanguínea da aorta 
torácica, fazendo com que o sangue retorne ao coração (quando deveria ser ejetado deste órgão). A partir do momento 
que o sangue é jogado contra a valva aórtica no momento da diástole (quando ela se encontra fechada), ele causa 
ruptura das válvulas semilunares que ocluíam a base da aorta. Este fato gera uma insuficiência aórtica aguda, em que o 
coração não consegue bombear sangue adequadamente. 
OBS
4
: Outros órgãos também podem sofrer cisalhamento, rompendo-se dos seus pontos de fixação na parede 
abdominal. O baço, os rins e o intestino delgado são particularmente suscetíveis a esses tipos de forças de 
cisalhamento. O cisalhamento acontece principalmente com crianças. 
 
 Impacto posterior (10% das colisões): é considerado um dos mais perigosos por acometer, 
principalmente, a coluna cervical. As colisões com impacto traseiro ocorrem quando um objeto em 
movimento lento ou parado é atingido por um veículo com velocidade maior. Neste tipo de colisão, se o 
encosto de cabeça não estiver posicionado para corretamente mover a cabeça com o tronco, então o 
corpo em contato com o carro é acelerado abaixo da cabeça. Isto resulta em uma hiperextensão do 
pescoço sobre o topo do encosto de cabeça e depois, a cabeça retorna para frente, caracterizando o 
chamado “efeito chicote”. Este movimento pode resultar em ruptura dos ligamentos e das estruturas 
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anteriores do pescoço ou até mesmo em secção da medula espinhal (trazendo consequências como 
paraplegia ou perda do controle do diafragma via nervo frênico). 
 
 Impacto lateral (30% das colisões): as colisões com impacto lateral ocorrem quando o veículo é 
atingindo de lado. A lateral do veículo é pressionada contra o lado do ocupante, o qual pode então sofrer 
lesões de três formas: (1) pelo impacto do carro, (2) pelo impacto de outros passageiros não contidos, e 
(3) pela projeção da porta para dentro do compartimento do passageiro à medida que ela se dobra pra 
dentro. Quatro regiões podem sofrer lesão no impacto lateral: pescoço (hiperflexão lateral e rotação que 
podem luxar ou fraturar as vértebras cervicais), cabeça (impacto contra a estrutura da porta), tórax 
(compressão da parede torácicalateral que resulta em costelas fraturadas no lado do impacto, contusão 
pulmonar, cisalhamento da aorta ou lesões de outros órgãos sólidos, a clavícula pode ser comprimida e 
fraturada) e abdome/pelve (fratura do quadril ou da cabeça do fêmur, lesões diretas no baço, etc.). 
 
 Impacto angular: colisões com impacto angular ocorrem quando um canto do carro atinge um objeto 
imóvel, o canto de outro veículo, ou um veículo em movimento mais lento ou na direção oposto ao 
primeiro veículo. Este tipo de colisão resulta em lesões que são uma combinação daquelas vistas em 
colisões com impacto frontal e lateral. Lesões mais graves são vistas na vítima mais próxima do ponto 
de impacto. 
 
 Capotamento (5% das colisões): o carro pode sofrer múltiplos impactos em vários ângulos diferentes, 
assim como o corpo e os órgãos dos ocupantes. Podem ocorrer traumatismos e leões em cada um dos 
impactos. Embora os ocupantes possam estar seguros por dispositivos de contenção, os órgãos internos 
ainda se movem e podem ser lacerados nas áreas de tecido conjuntivo ou sofrer cisalhamento. Lesões 
mais graves ocorrem como resultado da falta de contenção, em que o ocupante geralmente é ejetado do 
veículo ou mesmo esmagado por estruturas internas do meio de transporte. 
 
2. Colisões de motocicletas: são responsáveis por um número significativo de mortes provocadas por veículos 
automotores que ocorrem nos EUA a cada ano. No Brasil, 73% dos doadores de órgãos são motociclistas 
envolvidos em acidentes. Aproximadamente 85% das indenizações do DPVAT são para motociclistas. Alguns 
tipos de colisões fazem do motoqueiro um verdadeiro projétil, no qual todos os tipos de energia do trauma 
convergem sobre o mesmo. Os modos de colisão envolvendo motocicletas são: impacto frontal, angular ou 
ejeção. As soluções para reduzir a incidência de traumas nestes usuários são: uso de equipamentos de proteção 
(como o capacete: o não uso deste equipamento aumenta em 300 vezes a chance de se ter uma lesão séria), 
uso de roupas de couro rígidas, botas e luvas resistentes e manter sempre a atenção. 
 Impacto frontal: a colisão frontal contra um objeto sólido interrompe o movimento anterior da 
motocicleta porque seu centro de gravidade se encontra acima e atrás do eixo da frente, que é o ponto 
fixo nessa colisão. A motocicleta tomba pra frente e o motociclista colide com o guidão, fazendo com que 
o mesmo possa sofrer lesões no crânio, tórax, abdome ou pelve. 
 Impacto angular: neste caso, a motocicleta atinge o objeto em ângulo. Podem ocorrer lesões nos 
membros superiores ou inferiores, resultando em fraturas e/ou lesão extensa de partes moles, além de 
lesões de órgãos da cavidade abdominal. 
 Impacto com ejeção: o motociclista é lançado da motocicleta como um míssil. Ele continua voando no 
ar até que sua cabeça, membros, tórax ou abdome atinjam outro objeto, como um veículo motorizado, 
um poste ou o chão da estrada. 
 
3. Atropelamentos (lesões em pedestres): dois tipos de colisões entre pedestres e veículos frequentemente 
observados apresentam padrões diferentes de lesão. A diferença está na faixa etária da vítima: adulto (lesões 
laterais ou posteriores) ou criança (lesões anteriores). O atropelamento passa por algumas etapas distintas: 
a) O impacto inicial é nas pernas e às vezes nos quadris 
b) O tronco rola sobre o capô do carro: lesão de tórax, abdome e coluna vertebral sobre o capô. 
c) A vítima cai do carro no pavimento (geralmente com a cabeça, com possível trauma da 
coluna cervical) ou segundo veículo. 
Devido à altura, há diferenças entre os atropelamentos envolvendo adultos e crianças. Estas podem sofrer o 
primeiro impacto direto sobre o tronco e membros inferiores, o segundo impacto quando o crânio e a face da 
criança atingem a frente ou parte de cima do capô e, na terceira etapa, a criança pode ser arremessada para 
longe do carro ou ir para baixo do veículo e ser arrastada. À semelhança dos adultos, qualquer criança 
atropelada por um carro, em geral, sofre trauma cranioencefálico. 
 
4. Quedas: vítimas de queda também podem sofrer lesões causadas por impactos múltiplos. A fim de avaliar 
adequadamente a vítima de queda, o socorrista deve estimar a altura da queda, avaliar a superfície sobre a qual 
a vítima caiu, determinar que parte do corpo bateu em primeiro lugar e saber avaliar a gravidade desta queda 
com relação ao fisiológico da vítima (determinar a faixa etária e o sexo). De modo geral, quedas de altura 
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superior a três vezes a altura da vítima já são consideradas graves. A queda da própria altura é a mais comum 
das quedas e, ao contrário do que se pensa, é um grande fator de risco e de morte nas estatísticas. A energia 
convertida em trauma neste caso é a energia potencial gravitacional. 20% do número de quedas de alturas 
maiores que 5 metros geraram fratura lombar. 
A determinação de qual parte do corpo colidiu primeiro é importante porque auxilia o socorrista a prever o tipo de 
lesão. O padrão mais frequente ocorre quando a vítima cai, ou pula de uma altura e cai em pé, chamado de 
Síndrome de Don Juan (em alusão ao personagem literário que pulava muros para encontrar-se com a amada), 
caracterizada pela fratura bilateral de calcanhar (osso calcâneo), fraturas de tornozelo ou fraturas distais de tíbia 
e fíbula estão associados a esta síndrome. Podem ocorre fraturas de joelho, de fêmur e de quadril. Se a vítima 
cai para frente sobre as mãos espalmadas, o resultado pode ser fratura bilateral de Colles nos punhos. Se a 
vítima cai de cabeça com o corpo quase alinhado (como em mergulhos em água rasa), toda a força e o peso do 
tronco, pelve e pernas em movimento são aplicados para comprimir a cabeça e a coluna cervical. 
 
5. Explosões: a incidência de lesões por explosão aumenta durante guerras, porém tais lesões também têm se 
tornado mais comuns no ambiente civil, à medida que atividades terroristas e incidentes com materiais perigosos 
têm aumentando. Explosões podem ferir 70% das pessoas que se encontram nas vizinhanças, ao passo em que 
uma arma automática, usada contra um grupo semelhante de pessoas, pode ferir somente 30%. O efeito 
traumático da explosão acontece devido a súbita onda de pressão (via gases e artefatos da bomba) gerada pela 
liberação de uma energia armazenada na forma de bomba. A explosão pode ser divididas em três fases: 
 Lesões primárias: são causadas pela onda de pressão da explosão. Ocorrem em geral com os órgãos 
que contêm gás (devido à propagação vibratória do ar em contato com o foco explosivo com relação ao 
ar presente em vísceras), tais como os pulmões, tímpanos e o tubo digestivo. As lesões primárias 
incluem sangramento pulmonar, pneumotórax, embolia gasosa ou perfuração dos órgãos 
gastrintestinais. 
 Lesões secundárias: ocorrem quando a vítima é atingida por pedaços de vidro, reboque ou outros 
detritos da explosão. Essas lesões incluem lacerações, fraturas e queimaduras. Deve-se observar 
traumas fechados e penetrantes. 
 Lesões terciárias: ocorrem quando a vítima se torna um míssil e é atirada contra um objeto. As lesões 
que ocorrem na fase terciária são semelhantes àquelas sofridas pela vítima na ejeção do automóvel e 
em quedas de alturas significativas. 
 
TRAUMA PENETRANTE 
 Para que um objeto (como um projétil) seja capaz de causar uma lesão penetrante, é necessário que o mesmo 
apresente não só velocidade, mas fatores como uma pequena área frontal, de forma que a energia cinética com a qual 
o projétil chega ao corpo da vítima seja minimamente dissipada na forma de atrito: como a aerodinâmica de um projétil 
geralmente apresenta um bico fino e pontiagudo faz com que este aparelho seja capaz o bastante (dependendo ainda de 
sua velocidade) de penetrar sem perder muita energia com a superfície corporal. A energia (velocidade e massa) do 
movimento do projétil é transformada em energia que esmaga as células da superfície tecidualafastando-as (cavitação) 
do caminha da bala. 
 Quanto maior o tamanho da área frontal do projétil em movimento, maior o número de partículas atingidas; 
portanto, maior a troca de energia que ocorre e maior a cavidade criada. O tamanho da área de superfície frontal do 
projétil é influenciado por três fatores: perfil, rolamento e fragmentação. Transferência de energia potencial pode ser 
analisada com base nestes fatores: 
 Perfil: descreve o tamanho inicial de um objeto e se esse tamanho muda no momento do impacto. A bala com 
ponta oca, por exemplo, achata-se e espalha-se ao impacto. Esta modificação alarga a área frontal fazendo com 
que ela atinja mais partículas de tecido e produza maior transferência de energia. Forma-se uma cavidade maior 
resultando em mais lesão. 
 Rolamento: descreve se o objeto rola e assume dentro do corpo um ângulo diferente assumido ao entrar no 
corpo. À medida que a bala rola, seus lados normalmente em posição horizontal, tornam-se a extremidade da 
frente, portanto, colidindo com muito mais partículas do que quando sua ponta ficava na frente. Ocorre, com 
isso, mais lesão tecidual. 
 Fragmentação: descreve se o objeto depois de entrar no corpo se rompe. A massa de fragmentos produzidos 
abrange área frontal maior do que a da bala individualmente, e a energia é rapidamente dispersa no tecido. Se o 
projétil se fragmenta, ele se espalha sobre uma área maior produzindo dois resultados: (1) maior número de 
partículas de tecidos é atingido pela projeção frontal maior e (2) as lesões são distribuídas sobre uma porção 
maior do corpo, porque mais órgãos são atingidos. 
 
 O trauma causado pelo ferimento penetrante pode ser estimado pelo socorrista, classificando os objetos 
penetrantes em três categorias, de acordo com a capacidade de energia que possuem: armas de baixa, média e alta 
energia. 
 Armas de baixa energia: incluem aquelas conduzidas pela mão, como faca, punhal, picador de gelo ou o 
próprio murro. Esses mísseis produzem lesão apenas utilizando pontas afiadas ou com bordas cortantes. 
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Entretanto, o agressor pode esfaquear uma vitima e girar a faca dentro de seu corpo, fazendo com que o 
ferimento de entrada possa ser pequeno, mas a lesão interna ser bem mais extensa. É importante a avaliação 
do doente à procura de lesões associadas. 
 Armas de média e alta energia: as armas de fogo dividem-se em dois grupos: média e alta energia. Armas de 
média energia incluem revólveres e rifles. À medida que a quantidade de pólvora contida no cartucho aumenta, 
a velocidade da bala e, portanto, a sua energia cinética aumentam. Em geral, armas de média e alta energia 
lesam o tecido não somente diretamente no seu trajeto como também os tecidos de cada lado do trajeto. As 
variáveis de perfil, rolamento e fragmentação influenciam na extensão e direção da lesão. Armas de alta energia 
incluem armas de combate, rifles de caça e outras armas que disparam projéteis com alta velocidade. O vácuo e 
o deslocamento de ar criado pela cavidade aspiram roupas, bactérias e outros fragmentos de áreas próximas 
para o interior da ferida. É preciso avaliar neste tipo de lesão os seguintes parâmetros: orifícios gerados pelo 
projétil, trajeto e quais órgãos provavelmente foram atingidos. Outra consideração na previsão de lesões 
oriundas de ferimento de arma de fogo é o raio ou distância de onde a arma (tanto de média como de alta 
energia) é disparada. A resistência do ar diminui a velocidade da bala; portanto, aumentando-se a distância, 
diminui-se a velocidade no momento do impacto, o que produz menos lesão. A maioria dos disparos de revolver 
ocorre a curta distância, de tal forma que existe grande probabilidade de provocar lesões graves. 
 
OBS
5
: O tiro de espingarda consiste em pequenos fragmentos de chumbos que se dispersam facilmente à medida que 
se afastam do cano da arma. Quanto mais longe chegar o disparo, menos energia estes fragmentos apresentarão, 
podendo causar apenas pequenas escoriações na vítima. Quanto mais perto, mais lesivo o efeito da espingarda. E 
quanto mais longe, portanto, menor seu pode letal. Cerrar o cano da espingarda garante que o espalhamento do chumbo 
se dê com maior energia cinética, fazendo da arma um instrumento mais letal.

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