Buscar

Art 138 Cpc Amicus Curiae

Prévia do material em texto

Universidade do Vale do Itajaí 
CEJURPS-Curso de Direito 
Campus Balneário Camboriú/SC 
Disciplina:Direito Processual Civil 
Professor: Marcelo Petermann 
Acadêmica: Rosana Leite da Silva 
 
 
 
ART. 138 CPC AMICUS CURIAE 
 
 
 
 
 
Balneário Camboriú, junho de 2016 
ART. 138 CPC AMICUS CURIAE 
1-Resumo: Amicus Curiae, expressão latina que significa “amigo da corte” ou 
“amigo do tribunal”, é a pessoa ou entidade estranha à causa, que vem auxiliar 
o tribunal, provocada ou voluntariamente, oferecendo esclarecimentos sobre 
questões essenciais ao processo. Deve demonstrar interesse na causa, em 
virtude da relevância da matéria e de sua representatividade quanto à questão 
discutida, requerendo ao tribunal permissão para ingressar no feito.O objetivo 
dessa figura processual é proteger direitos sociais lato sensu, sustentando 
teses fáticas ou jurídicas em defesa de interesses públicos ou privados, que 
serão reflexamente atingidos com o desfecho do processo. 
 
Palavras chaves: amigo da corte, tribunal, figura processual, interesses 
públicos ou privados. 
 
2- Conceito: 
De acordo com a lição de Elisabetta Silvestri [1] sobre o tema, a origem do 
amicus curiae estaria no direito penal inglês da época medieval. Esse sujeito 
tinha papel meramente informativo no processo, trazendo à Corte matérias de 
fato desconhecidas. Tratava-se um sujeito imparcial e desinteressado, e a 
discricionariedade do juiz em aceitá-lo, assemelhava-se, de certa forma, ao 
atual poder instrutório do juiz. 
Posteriormente, o direito norte-americano importou do direito inglês essa figura 
processual, e implantou-a no ambiente do common law, onde o instituto virou 
símbolo de referência. O amicus curiae hoje é frequentemente (utilizado) no 
cotidiano dos tribunais americanos, havendo circunstâncias de mais de uma 
centena de amici num mesmo processo. 
Por fim, pode-se afirmar que o direito brasileiro “importou” também o amicus 
curiae do sistema norte-americano, e várias leis passaram a regular essa figura 
em diversas situações. A título de ilustração: 
1. art. 7º, § 2º, da Lei 9.868/99, que regula a Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI) e a Ação Declaratória de Constitucionalidade 
(ADC) no processo de controle de constitucionalidade. 
2. art. 14, § 7º, da Lei 10.259/2001 (Lei dos Juizados Especiais 
Federais), no que concerne ao incidente de uniformização de 
Jurisprudência; 
3. art. 3º, § 2º, da Lei 11.417/2006, que trata da edição, revisão e 
cancelamento das súmulas vinculantes do Supremo Tribunal Federal 
Todavia, além de serem leis específicas, tratam todas elas de processos com 
caráter objetivo, demonstrando que não há, por enquanto, nenhuma 
regulamentação ampla do amicus curiae no ordenamento jurídico brasileiro. 
No CPC projetado, há previsão expressa da figura do amicus curiae, algo 
revolucionário no direito brasileiro, que somente a previa em legislações 
específicas. O art. 138 do novo CPC tem a seguinte redação: 
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a 
especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da 
controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das 
partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a manifestação 
de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com 
representatividade adequada, no prazo de qquinze dias da sua intimação. 
 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de 
competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a 
oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º. 
 
 2º Caberá ao juiz ou relator, na decisão que solicitar ou admitir a 
intervenção, definir os poderes do amicus curiae. 
 
 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o 
incidente de resolução de demandas repetitivas. 
Verifica-se, de pronto, uma substancial modificação, que aproxima o direito 
brasileiro do direito italiano, possibilitando a intervenção do amicus curiae já em 
primeiro grau, em qualquer tipo de processo, não apenas naqueles de caráter 
objetivo. 
Além disso, o diploma processual também deixa claro que a intervenção pode 
se dar de ofício ou a requerimento da parte, dinâmica essa que já era 
autorizada pelo STF ao se utilizar dessa figura processual. 
Outra novidade é a especificação dos sujeitos passíveis de ingressar no 
processo como amigo da corte. Diferentemente do modelo atual, que não 
esclarece quem pode requerer a admissão, o texto projetado dispõe que 
podem pleitear o ingresso a “pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade 
especializada”. Nesse ponto, a norma ainda faz uma ressalva, afirmando que 
deve haver “representatividade adequada”[2] dos sujeitos legitimados. Em 
outras palavras, tal representatividade é entendida como uma qualidade do 
sujeito aferida pela capacidade de defender de forma eficiente os interesses 
em jogo da sociedade ou do grupo específico que ele representa. 
O novo CPC, ainda, acolheu entendimento jurisprudencial pacificado do STF, 
afirmando que a intervenção do amicus curiae não autoriza a interposição de 
recursos, ressalvados os embargos declaratórios. De outra banda, trouxe uma 
hipótese nova, ao regulamentar que, da decisão que julgar o incidente de 
resolução de demandas repetitivas, cabe recurso pelo amicus curiae. 
Por fim, a novel legislação processual trouxe norma intrigante, que possibilita 
ao juiz ou relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os 
poderes do amigo da corte. 
Expostas as principais características do amicus curiae no novo CPC, cabem 
algumas observações sobre alguns aspectos inseridos pelo Código projetado. 
No direito italiano, a título de ilustração, a admissão da intervenção do amicus 
curiae no processo segue a mesma linha de fundamento do direito francês. O 
art. 68 do Código de Processo Civil italiano [3] atribui ao magistrado a liberdade 
para valer-se de auxiliares para a realização de seu convencimento. O 
dispositivo é genérico, e não há referência a um rol de figuras as quais o juiz 
pode valer-se, o que acaba por legitimar a figura do amicus curiae, entre os 
“outros auxiliares”, como denomina a lei. Tampouco há na lei italiana restrição 
ao grau de jurisdição ou tipo de processo no qual é admitido o ingresso do 
amigo da corte. 
O novo CPC aproxima o direito brasileiro do direito italiano, possibilitando a 
intervenção do amicus curiae já em primeiro grau, em qualquer tipo de 
processo, não apenas naqueles de caráter objetivo. 
Jorge Amaury Maia Nunes [4] há tempos afirmava que “o amicus curiae deve 
ser admitido, inclusive, nos processos subjetivos, pois se vale o exemplo do 
direito comparado, respeitadas as notórias diferenças entre os sistemas de civil 
e common law, não custa lembrar que, na origem, o amicus curiae atuava 
justamente nos processos individuais, de parte”. 
Há que se atentar, contudo, para o problema disposto no § 2º do art. 138 do 
CPC projetado, que possibilita ao juiz ou relator, na decisão que solicitar ou 
admitir a intervenção, definir os poderes do amigo da corte. 
 O art. 138 já trouxe regulamentação ampla para as hipóteses de cabimento, 
definindo que o amicus curiae pode se manifestar no processo, e ainda que 
não pode recorrer (exceto opor embargos declaratórios e recorrer da decisão 
que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas), o que mais 
poderia o juiz deliberar acerca da sua participação? Pode o magistrado 
determinar que o amigo da corte produza provas, participe de audiências, e se 
manifeste oralmente durante tais audiências? Parece que sim. 
Ademais, manifestação por escrito é certoque o amicus curiae pode, e de 
outro lado, recorrer é certo que ele não pode e parte é certo que ele não é. O 
que sobrou? Somente os poderes acima citados. 
Veja-se que o amicus curiae está regulamentado no título do novo CPC 
referente à intervenção de terceiros. E, para todas as demais intervenções, não 
há diferenciação de tratamento, de acordo com a vontade do juiz. De outra 
banda, para o amigo da corte há. Certamente essa subjetividade judicial no 
tratamento trará descompassos inexplicáveis, possibilitando, por exemplo, que 
em determinado processo um amicus curiae participe da audiência, enquanto 
em outro não, tudo a depender da boa vontade do juiz. 
Talvez fosse muito melhor que o CPC tivesse disciplinado todos os poderes do 
amigo da corte, sem discricionariedade judicial, para que não houvesse uma 
insegurança daquele que pede o ingresso, nem uma diferença de tratamento 
dessa figura, de processo para processo. 
Outro ponto interessante na disciplina dessa figura é a delimitação de que 
qualquer sujeito, incluindo aí pessoa física [5], que pretenda ingressar no 
processo nessa qualidade, deve demonstrar a “representatividade adequada”. 
Nesse ponto, andou bem o projeto, impedindo que se banalize o amicus curiae, 
a ponto de qualquer pessoa poder ingressar nos processos judiciais. Por meio 
da “representatividade adequada”, o juiz avaliará se aquele sujeito, de fato, tem 
capacidade de defender de forma eficiente os interesses em jogo da sociedade 
ou de um grupo específico. 
No tocante aos poderes do amigo da corte, sobretudo os recursais, chama a 
atenção a desarmonia na redação do artigo 138, que seja corrigida quando da 
sanção presidencial. Tanto o § 1º quanto o § 3º do mesmo artigo tratam de 
recursos que podem ser interpostos pelo amicus, não havendo explicação 
lógica para que isso conste em dois parágrafos distintos e intercalados, ainda 
mais com remissão de um parágrafo a outro. 
Essa desarmonia foi, inclusive, observada pelo Senador Vital do Rêgo, no seu 
parecer final, ao afirmar que “é de todo recomendável que, ao ser feita a 
ressalva sobre a possibilidade de recurso a ser interposto pelo amicus curiae, 
que também haja menção ao outro caso tratado no mesmo artigo”. 
Por fim, vale aplaudir a inserção da figura do amicus curiae no projeto do novo 
CPC, ressaltando que essa possibilidade decorre do princípio do pluralismo 
jurídico, desenvolvido por Peter Haberle, em que se defende a participação, no 
meio jurídico, das potências públicas, grupos sociais e cidadãos que, direta ou 
indiretamente, sofram os efeitos da prerrogativa exercida pelos intérpretes 
lídimos na letra da lei [6]. 
Considerações finais: 
O amicus curiae deve ser encarado como mais um importante mecanismo de 
concretização e realização do abstrato princípio da democracia, permitindo a 
direta interferência cidadã na formação dos atos estatais e despontando “com 
mais nitidez a ideia de participação, não tanto a individualista e isolada do 
eleitor no só momento da eleição, mas a coletiva organizada” [7]. A mudança 
legislativa igualmente se fundamenta no moderno princípio da cooperação, 
ótimo produto das diretrizes da boa-fé objetiva e do contraditório. O processo 
não mais se resume à clássica visão que apenas cabe às partes o rompimento 
da inércia jurisdicional, através da petição inicial e da formulação dos 
requerimentos cabíveis e ao Estado-juiz o burocrático impulsionamento da 
demanda por atos ordinatórios e pela resolução das questões postas. Por 
todas as razões expostas, espera-se a confirmação da proposta a legislativa 
para que este importante instrumento de legitimação das decisões judiciais 
igualmente se consolide no ordenamento jurídico pátrio, viabilizando um novo 
mecanismo de pacificação e desenvolvimento social com justiça e através da 
ampla participação de todos os interessados no melhor deslinde da demanda. 
Elementar que não será o amicus curiae ou qualquer outra mudança legislativa 
que, isoladamente, resolverá o dilema sobre a melhor forma de atuação 
jurisdicional e a correção das decisões judiciais. 
 [1] – SILVESTRI, Elisabetta. L’amicus curiae: uno strumento per la tutela degli 
interessi non rappresentati, p. 679/680. apud BUENO, Cassio Scarpinella. 
Amicus curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático. São 
Paulo: Saraiva, 2006. p. 87/88. 
[2] – A representação adequada (ou adequacy of representation) é oriunda do 
direito americano, prevista na Rule 23 (a) (4), segundo a qual “o representante 
protegerá honesta e adequadamente os interesses da classe” (“The 
representative parties will fairly and adequately protect the interests of the 
class”). 
[3] – Art. 68: (Altri ausiliari) Nei casi previsti dalla legge o quando ne sorge 
necessità, il giudice, il cancelliere o l’ufficiale giudiziario si può fare assistere da 
esperti in una determinata arte o professione e, in generale, da persona idonea 
al compimento di atti che egli non è in grado di compiere da sé solo. Em DEL 
PRÁ, Carlos Gustavo Rodrigues. Amicus Curiae: instrumento de participação 
democrática e de aperfeiçoamento da prestação jurisdicional. Curitiba: Juruá, 
2008, p. 33 
[4] – Mandado de Injunção e Amicus Curiae in Mandado de Injunção. Estudos 
sobre sua regulamentação. Editora Saraiva, 2013, p. 539. 
[5] – O STF admitiu o ingresso de pessoa física, como amicus curiae, ao 
resolver questão de ordem no MS 32033. 
[6] – MEDEIROS, Daniela Brasil. Amicus Curiae: um panorama do do terceiro 
colaborador. Revista da Escola Superior de Magistratura do Rio Grande Norte, 
vol. 56. 
[7] SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23. ed. 
São Paulo: Malheiros, 2004, p. 141.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes