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A Justiça Militar E A Reforma Do Judiciário

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Por: Luiz Augusto de Santana 
	
	 Luiz Augusto de Santana 
As profundas e expressivas modificações que a promulgação da Emenda Constitucional nº 45, de 08 de dezembro do ano de 2004 p. passado, trouxe ao Poder Judiciário, notadamente ao ramo especializado da Justiça Militar, obrigarão, obviamente, todos que junto a ela oficiam ou atuam (juízes, promotores, advogados, serventuários, auxiliares), à atualização e reciclagem funcional necessárias à compreensão e prática das mudanças cometidas. 
Já em busca dessa atualização, dispus-me a estudá-las, e na análise procedida, detectei, de logo, substancial aumento dos encargos hoje cometidos à Justiça Militar Estadual, já que a novel norma lhe ampliou, substancialmente, a esfera de competência, considerando que além de obrigação de continuar julgando os crimes militares definidos em lei praticados por integrantes das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares (CF, Art. 125, Parág. 4º, primeira parte), agora, cabe-lhe, também, o julgamento das ações impetradas contra atos de natureza disciplinar praticados nas referidas corporações (EC nº 45, de 08/12/2004). Destarte, quando recebeu o juízo militar estadual a incumbência constitucional de julgar atos administrativos de natureza punitivo-disciplinar de comandantes, chefes e diretores de Organizações Policiais Militares, passou ele a ter, também, jurisdição civil, posto que investido de competência até então adstrita às Varas de Fazenda Pública. Em outras palavras, a jurisdição do juízo militar agora é híbrida: criminal e cível. 
Mas não ficaram por aí as mudanças e muito menos o crescimento dos encargos adstritos à Justiça Militar Estadual. É que além da competência híbrida a que foi cometido o “juiz togado” nela atuando, pelas modificações inseridas, ele, agora juiz de Direito e não mais juiz-auditor1, também presidirá os Conselhos de Justiça em substituição ao oficial superior da Corporação que antes o presidia, competindo-lhe ainda, solitariamente, julgar os “crimes militares” cujas vítimas sejam civis. 
Destarte, o juízo criminal militar até então representado por um colegiado formado pelo juiz-auditor e quatro oficiais da Corporação, os Conselhos de Justiça (Permanente para praças e Especial para oficiais), e que nessa qualidade julgava todo e qualquer delito considerado militar 2, com as reformas passou a ser misto, vale dizer, permaneceu plural para julgar delitos nos quais agente e vítima tenham qualidade de militar em situação de atividade, ou os chamados “crimes militares próprios”3, aqueles que somente quem exerce a profissão de soldado pode praticar, como bem alerta Edgard Chaves Britto, e monocrático para conhecer, processar e julgar aquel'outros cujo agente ativo pode ser qualquer do povo, mas que se tornaram militares em razão de certas circunstâncias em torno do ato, alertando-se para o fato de que na condução dos processos inerentes a esses últimos, as normas a serem aplicadas serão as do Código de Processo Penal comum, substituindo, assim, as do Código de Processo Penal Militar que doravante só poderão ser observadas nos processos cuja competência permaneceu com os Conselhos de Justiça (Especial ou Permanente).
Indubitavelmente essas novas atribuições assumem especial gravidade e preocupam, não pela necessária reciclagem da qual falei, porque ela é prazerosa na vida de qualquer profissional do Direito, em razão do cambiar mutante das normas jurídicas pelas adaptações a que são obrigadas para acompanhar a inquietação social, tão comum em tempos hodiernos, já que visam elas regrar as relações humanas. 
Ocorre que as ações mandamentais e os habeas corpus virão “aos montes”, já que virou moda o questionamento de atos disciplinares, justos ou não, junto as Varas da Fazenda Pública, isso sem contar com o obrigatório encaminhamento dos atuais processos em curso nas referidas varas judiciais à Auditoria da Justiça Militar Estadual em razão da entrada em vigor das novas normas constitucionais, de aplicação imediata, obviamente, e que tornaram aqueles juízos absolutamente incompetentes ratione materiae para julgar as ações dessa natureza. 
Por isso, por tais razões, essa nova realidade da Justiça Militar no Estado agravará o que já era grave: a nunca resolvida questão da sua morosidade, obrigando-nos à pergunta: se quando mantinha sua competência exclusivamente restrita às hostes dos “crimes militares”, mais de 40% (quarenta por cento) dos processos em curso na Justiça Militar Estadual eram atingidos pela prescrição, como ficará, então, o quadro preocupante dessa impunidade com as mudanças implementadas e a soma dos processos novos? Gravíssima, apresso-me a responder, alertando para a extrema necessidade de serem tomadas medidas urgentes e graves para prepará-la para sua nova realidade porque não haverá meio-termo: ou se ajusta a Justiça Militar Estadual para atender a seus novos encargos, ou ela, sem qualquer exagero, tornar-se-á, de vez, um caos, isso sem contar com o atual índice de impunidade que grassa seus processos, fato já documentado em relatório de minha lavra, cujas cópias encaminhei às autoridades competentes. 
Tomei essa iniciativa em razão do sentimento de dever que orna meu atuar funcional, e pela minha condição de “fiscal da Lei” junto a Auditoria da Justiça Militar Estadual, fatos que me convenceram da obrigação de denunciar esse descalabro, fazendo-o em minucioso relatório no qual escrevi a triste realidade da Justiça castrense em nosso Estado, cujas cópias encaminhei ao Procurador-Geral de Justiça e ao então presidente do Tribunal de Justiça do Estado, inclusive sugerindo-lhes medidas para minorar o grave problema. 
Ambos, sensibilizados com o diagnóstico apresentado, adotaram medidas profiláticas emergentes de suas respectivas alçadas, o primeiro criando, instalando e preenchendo outra Promotoria de Justiça junto a Auditoria da Justiça Militar, o segundo acrescentando ao projeto da nova Lei de Organização Judiciária do Estado apresentado à Assembléia Legislativa do Estado, mais quatro Auditorias de Justiça Militar, cujas sedes, atendendo à peculiaridade da atuação da Polícia Militar, seriam distribuídas em regiões estratégicas do território baiano. 
Lamentavelmente, a lei referida ainda não foi votada pela Assembléia Legislativa, e a situação judicial permanece como d'antes, contando a AJME com um único juiz de Direito, enquanto que com a divisão dos trabalhos afetos ao Ministério Público, com a nova Promotoria de Justiça, mesmo com o aumento dos encargos aqui comentados, os prazos ministeriais serão cumpridos rigorosamente. Para minorar o problema, então, sugiro, a criação de um cargo de juiz-auxiliar junto a AJME, pele menos até a solução da criação das referidas Auditorias.
É obvio que tal medida seria um arremedo da solução definitiva porque, em atendimento à realidade da nossa Polícia Militar, que estende sua atividade por todo o território estadual, como já vimos, e pelo seu atual efetivo que hoje está em torno de mais de 32.000 (trinta e dois mil) homens, a solução efetiva e séria seria a criação das mencionadas Auditorias Militares, e com a existência de cinco Auditorias Militares, pode-se até falar em criar no Estado o Tribunal de Justiça Militar, a exemplo de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, considerando que essa criação está autorizada pela Constituição Federal em todo Estado no qual o efetivo policial militar ultrapasse o número de 20.000 (vinte mil) homens.
E a Bahia já merece o seu Tribunal de Justiça Militar de há muito, não só pela sua tendência histórica de sempre sair na frente em termos de Justiça, como também por ser uma decisão coerente e justa, que espero não demore, porque um Tribunal Militar no Estado resolveria dois problemas cruciais da Justiça Militar Estadual: a demora no julgamento dos recursos dirigidos ao Tribunal de Justiça, sua segunda instância, e a judicialidade desse julgamento ad quem. 
Quanto à falada demora, ela, sem dúvida, é fruto da distribuição dos recursos oriundosda Justiça Militar em igualdade de condições com aqueles advindos da Justiça Criminal comum. Juntos, sem atentar o setor de distribuição para o caráter da especialidade do Direito neles discutidos, jogam-nos na “vala comum”, e nessa qualidade são julgados como se processos comuns fossem, gerando, daí, o segundo problema da Justiça Militar Estadual: a incontestável falta da especialidade dos julgadores de segundo grau, que pelo indiscutível desconhecimento do Direito Militar, proferem decisões equivocadas e, por consequência, causam sérios prejuízos à Corporação e à sociedade. 
O exemplo melhor que posso dar de tais decisões são os provimentos de recursos nos quais a defesa do acusado pede a aplicação de normas da Lei dos Juizados Especiais Criminais em processos militares, e que é negada por falta de amparo legal, mas julgando recurso em sentido estrito, o Tribunal manda aplicá-las, embora norma específica a proíba (Lei 9.099, Art. 90-A). 
Outro exemplo de decisão equivocada em razão da inobservância do Direito Judiciário Militar são as reintegrações liminares de desertores por não terem sido reincluídos em razão de reprovação em inspeção de saúde ou pela extinção da punibilidade pelo advento da prescrição. Tal decisão afronta as normas do Art. 457, Parág. 1º do CPPM, que manda sejam as reintegrações de desertores sem estabilidade somente feitas quando considerados aptos em exame de saúde por Junta de Saúde Militar. Caso contrário, eles ficam livre do processo e são dispensados da reinclusão.
E tal exigência tem lógica porque a reintegração do desertor é exclusivamente para se ver processar, não um direito seu de retornar à ativa da PM, e nem poderia porque o cargo não lhe é vitalício, e uma vez vago por tempo indeterminado e sem qualquer motivo justo, deve ser ele preenchido em nome do princípio da continuidade do serviço público. 
Ademais, quem virou as costas à instituição e à sociedade não pode alegar direitos, especialmente quando apenas lhe cabe a reintegração, na forma da lei, para responder criminalmente pelo seu desvio e disciplinarmente pela sua desídia, e sem esquecer a velha lição de Rui que manda o juiz ser escravo da Lei, exceto se imoral, ilegal, injusta ou inconstitucional, lembro mesmo que, seguindo Beccaria, ele decida afastá-la do caso que está julgando, sua decisão deve ser motivada pela negação de vigência à norma legal, principal fonte do Direito, anote-se.
É de se registrar, também, que independente dos fatos aqui narrados, tais decisões implicam em sérios reflexos na Instituição Policial Militar e na sociedade. Esta porque desprotegida, já que quem se desviou do caminho do dever institucional não pode se autodenominar defensor seja lá do que, e muito menos continuar usando farda, distintivo e arma, símbolos de quem se dedica, mediante compromisso, a seguir o caminho da retidão pessoal e funcional. 
Para concluir esse despretensioso bosquejo, e até justificar alguns excessos que, porventura, tenha cometido na sua redação, peço vênia para lembrar que a Justiça Militar existe nos Estados em virtude de a Constituição Federal ter dado aos membros das milícias estaduais status de militar, nominando-os “servidores públicos militares estaduais” (CF, Art. 42), e aplicando a eles, quando praticantes de delitos em razão da função ou nas condições descritas no Art. 9º e 10º, ambos do Código Penal Militar (Dec-Lei nº 1.001, de 2110/1969), as normas do referido diploma repressivo.
Mas foram mais longe os constituintes pátrios quando deram às praças milicianas garantias até então de oficiais, já que condicionaram a perda de suas graduações a uma decisão de segundo grau da Justiça Estadual (CF, Art. 125, Parág. 4º), criando mais um protecionismo no âmbito do serviço público, considerando que nivelou graduação, posto e patente, mas tornando seus detentores praticamente inatingíveis, já que embora alguns oficiais e graduados tenham sido condenados a penas de reclusão superiores a dois anos, com sentenças transitadas em julgado, e que representações nesse sentido (perda do posto e da patente, e da graduação) foram postas, ainda não se viu decisão que os expurgasse de vez da Corporação, e hoje temos o paradoxo de ver oficiais e sargentos cumprindo penas, mas mantendo postos e graduações, obviamente que regiamente mantidos com os impostos que a sociedade paga, uma impunidade odiosa e incentivadora dos maus, além dos reflexos negativos que geram na Corporação, que por força dessa realidade se vê obrigada a conviver com desviados pela impossibilidade de expurgá-los.
Lógico que esses fatos também constituem péssimo exemplo aos bons, até com perigo de contaminá-los, deixando-nos, tais constatações, a seguinte pergunta: que Polícia Militar se quer sem uma Justiça célere e eficiente a controlar os integrantes que se desviaram do cumprimento do dever, já que a Justiça Militar existe exatamente para proteger a Corporação policial Militar de suas nocivas presenças, posto ter sido ela criada em razão de existir uma Polícia Militar? Pensemos nisso. 
1 Na Bahia e na maioria dos Estados da Federação já era assim mas, em alguns Estados como Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, eles constituíam carreira própria, com cargo inicial de juiz auditor-substituto
2 Para Loureiro Neto, “crime militar” é aquele que a lei assim define, vale dizer, os que somente estão tipificados no Código Penal Militar.
3 Assis, Jorge César. Comentários ao Código Penal Militar, Parte Geral, pág. 38 e 39, Vol 1- 3a. Ed. Revista e Atualizada, 2004, Ed. Juruá. Diz o autor, copiando lições de Ramagem Badaró e seguindo conceitos de Sílvio Martins Teixeira, que são chamados de “militares próprios” aqueles delitos cuja prática é própria da profissão de soldado, porque essa qualidade do agente é essencial para que fato delituoso se verifique, a exemplo do motim e da revolta, da violência contra superior ou militar em serviço, a insubordinação, os delitos contra o dever e a disciplina militar, a recusa de obediência, reunião ilícita, omissão de oficial, usurpação de comando, abandono.
(*) Luiz Augusto de Santana é Promotor de Justiça de entrância especial na Bahia, professor da Academia da Polícia Militar do Estado e da Faculdade 2 de Julho, especializado latu sensu pela UNEB em Gestão Estratégica em Segurança Pública e membro da Academia Mineira de Direito Militar

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