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NOTA DE AULA 1 PLATAO

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NOTA DE AULA 1 
Profa. Cristiane Aquino 
Filosofia do Direito
PLATAO (427-347 a.C.)
- Nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados. A partir dos vinte anos, Platão conheceu seu mestre Sócrates, tornando-se seu discípulo. 
Com a morte de Sócrates, Platão deu início a uma série de viagens pelo mundo, para se instruir (390 –388 a. C.). Visitou o Egito, a região que hoje ocupa a Itália meridional, a Sicília e outros locais onde travou diversos debates filosóficos importantes. Nesta época chegou a ser vendido como escravo e, depois de libertado, voltou a Atenas. 
-Fundou a Academia - Atenas, pelo ano de 387 a. C., Platão fundava a sua célebre escola a partir dos modelos pitagóricos que tomou o nome famoso de Academia. Adquiriu, perto de Colona, povoado da Ática, um terreno, onde levantou um templo às Musas, que se tornou propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada durante quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano (529 d.C.). 
-Descendia de familia nobre e aristocrática de Atenas. 
- Utiliza-se dos diálogos como meio de expressão de seu pensamento.Os diálogos relatam conversas que têm por principal interlocutor Sócrates, travando palestras com inúmeros personagens. A história da filosofia dedicou-se, sempre com muita controvérsia, a saber a veracidade de tais diálogos. É possível que, em vários casos, tenha mesmo Sócrates desenvolvido tais ideias. Mas, também, é certo que, principalmente nos diálogos escritos em sua maturidade, Platao utiliza Sócrates muito mais como mote para o desenvolvimento de suas próprias ideias do que propriamente como personagens de quem se relate finalmente seus fatos havidos. 
O mundo das idéias
- Mundo das ideias (essências): plano superior da realidadex Mundo dos sentidos (aparências): cópia imperfeita das idéias. Para Platão, a realidade se divide entre o mundo dos sentidos e no mundo das idéias. O mundo dos sentidos é uma cópia imperfeita e perecível das idéias. Neste as coisas surgem e desaparecem. O mundo das idéias é a possibilidade de existência de um plano superior de realidade que pode ser percebido através do uso da razão. Neste plano as idéias são eternas e imutáveis e o efêmero e o contigente não importam
Livro VII da República 
Mito da caverna: Símbolo da contraposição entre as essências e as aparências. 
Na narrativa dada a Platão a tal mito, havia presos agrilhoados que, de dentro de uma caverna e de costas à luminosidade exterior, observavam a movimentação da realidade externa e, a partir das sombras dos objetos e seres que estavam no exterior da caverna, faziam juízo a seu respeito, sobre sua forma, sua aparência, seu tamanho. Na verdade, no entanto, viam apenas as sombras desses seres projetadas no interior da caverna. Em certa ocasião, libertando-se dos grilhões que os prendiam, um daqueles que se situavam na caverna sobe ao alto. Ao chegar ao exterior cega-se, num primeiro momento, com a luz solar que brilhava. Mas, após se acostumar a enxergar sob a claridade da luz, passa a compreender que as sombras que viam projetadas na caverna, na verdade, eram imagens distorcidas. A verdade não estava naquilo que suas percepções corrompidas viam a partir das sombras. A luminosidade do ser só brilhou quando da libertação das imagens dos conceitos imperfeitos. 
No mito proposto pela boca de Sócrates na República, há ainda a incompreensão daqueles que, de dentro da caverna, ouvem daquele que subiu, em sua volta, o relato da verdade do mundo exterior. Suas imagens distorcidas que sempre viram não correspondem ao relato tido por fantasioso e absurdo do homem que se libertou. A luz que brilhou e possibilitou que o liberto da caverna visse a plena verdade não é bem aceita pelos seus, que passam a persegui-lo e o matam, numa simbologia muito forte, da parte de Platão, a respeito do próprio destino que os atenienses deram à Sócrates. 
Nos diálogos, o método dialético alcança a plenitude da essência, por meio de uma condução firme e segura dos mestres, como é o caso de Sócrates, que demonstra o limite das opiniões comuns e leva a outro patamar de entendimento filosófico. 
- A alma morava no mundo das ideias: reminiscência 
Segundo Platão, há outras formas de alcance das ideias. Valendo-se de mitos, Platão considera que a alma, antes de habitar o mundo terreno, morava no mundo das ideias. Ao beber a água do rio do esquecimento e encarnar em corpos terrenos, a alma esquece as ideias. Platão aponta como método de apreensão das ideias a reminiscência, ou seja, a recordação da vida anterior. 
- Método de alcance das ideias: dialética ou reminiscência
Por meio da dialética ou da reminiscência, aquele que alcança a plena ideia é o filósofo. Por isso, é o filósofo que deve governar. 
Política, direito e justiça em Platão 
- A República: Primeiro importante sistema de reflexão sobre o direito e o justo na filosofia
Na sua principal obra, A República, Platão expõe o primeiro importante sistema de reflexão sobre o direito e o justo da história da filosofia. Sobre o próprio direito, ainda, há um outro grande tratado platônico, As leis, que foi o último escrito na sua vida, e também, sua obra mais extensa. Além disso, questões jurídicas e sobre o justo encontram-se presentes em muitos outros diálogos, como, por exemplo, em O político. 
O sofista, que argumentava para conseguir a aprovação de uma lei do interesse daquele que pagava, ou mesmo que atuava numa função próxima à do advogado moderno, sofre censura por parte de Platão, pelo seu debate que não se fixa em torno do justo, mas apenas nos quadrantes do desenvolvimento da maioria.
Por isso, se se quiser pensar no direito e no alcance do justo, devido à inabilidade e à falta de conhecimento filosófico e dialético do povo, dever-se-á afastar a busca do justo do debate sofista e descompromissado.
- Quem pode alcançar o justo? O filósofo, o sábio ao qual a idéia se revela na alma. Por isso, Platão afirma que o Direito deve ser buscado pelo sábio, pelo filósofo, que deverá legislar ao alcançar o nível das idéias.
- Em A República, Platão expõe, pela boca de Sócrates, as mais variadas opiniões comuns a respeito da justiça, como a de Polemarco e a de Trasímaco, o sofista, que imagina que justiça é o proveito que se dá ao mais forte. Platão faz Sócrates rejeitar todas essas opiniões. Em A República, Platão expõe, pela boca de Sócrates, as mais variadas opiniões comuns a respeito da justiça
Para Platão, não há homem justo numa sociedade injusta, porque a medida da justiça é social.
- A paidéia (educação) é o meio apropriado para a busca das aptidões mais apropriadas para cada pessoa na sociedade. É por meio da educação que se descobre as variadas classes sociais dos artesãos, dos guerreiros e dos filósofos, ás quais correspondem as virtudes da educação, da coragem e da sabedoria.
- justiça: consiste em fazer o trabalho para o qual tem mais aptidão e não interferir no trabalho dos outros
Sócrates: Agora, pois, vê se tenho razão. O princípio que estabelecemos de início, ao fundarmos a cidade, e que devia ser sempre observado, esse princípio ou uma das suas formas é, creio, a justiça. Nós estabelecemos, e repeti-mo-lo muitas vezes, que cada um deve ocupar-se na cidade apenas de uma tarefa, aquela para a qual é mais apto por natureza. 
Glauco: Foi o que estabelecemos
Sócrates: Mais ainda: que a justiça consiste em fazer seu próprio trabalho e não interferir no dos outros. Muitos disseram isto e nós própios o dissemos muitas vezes. 
Glauco: Efetivamente dissemos
Sócrates: Assim, esse princípio que ordena a cada um que desempenhe a sua função poderia ser, de certo modo, a justiça.
- há três classes sociais: o povo, que produz; os guardiões, que protegem a cidade, defendendo-a de seus inimigos, de dentro e de fora; os governantes, que são por natureza os melhores homens: sábios, corajosos, temperantes e justos. A temperança é a excelência (areté) comum a todos os cidadãos; a coragem, comum aos guardiões e aos chefes; a sabedoria, exclusivadestes últimos. As pessoas estão assim distribuídas em função de sua natureza e do nível de sua educação
A possibilidade de igual educação a todos é que demonstrará as melhores aptidões de alguns em relação aos demais.
Pela educação há de se revelar o sábio, o filósofo. Esse é o homem justo, e portanto é ele que deverá tornar-se legislador. O filósofo conhece a idéia do justo e pode criar boas legislações.
Sócrates: Enquanto os filósofos não forem reis nas cidades, ou aqueles que hoje denominamos reis e soberanos não forem verdadeiramente e seriamente filósofos, enquanto o poder político e a filosofia não convergirem num mesmo indivíduo, enquanto os muitos caracteres que atualmente perseguem um ao outro destes objetivos de modo exclusivo não forem impedidos de agir assim, não terão fim, meu caro Glauco, os males da cidade...
- O filósofo deve ser rei. Que o filósofo seja rei, nisso reside uma fórmula surpreendente para um ateniense que viveu uma experiência democrática. Mas tal idéia se revela, no sistema platônico, uma decorrência necessária de suas amarras gerais.
- Platão: Um totalitário?
A leitura que os tempos históricos fizeram de Platão reconheceu nele um totalitário, cuja proposta de um governo do melhor é, na verdade, um modelo acabado de ditadura. Mas mitigando a leitura totalitária, é também fundamental lembrar que, para Platão, a medida do justo está na pólis. Assim sendo, não é o soberano legislador o momento mais institucionalizante da filosofia platônica. É a sua sabedoria -ou seja, a sua justiça concretizada na justa pólis, que lhe é espelho- a âncora do poder. O governante não sábio, que torna uma sociedade injusta ou a conserva como tal, não deve permanecer no poder.
Tal é o modelo ideal de política, direito e justiça proposto por Platão em A República. Sua confrontação com as práticas e os costumes sociais sempre foi muito grande. Na fase de sua velhice, no seu último livro, As leis, Platão mitiga de algum modo as suas posições. Reconhecendo a dificuldade real de que, na prática, o filósofo venha a se tornar rei, e que haja além disso uma sucessão de reis filósofos, e tendo mesmo enfrentado perseguições graves por conta de sua legislação revolucionária e radical, Platão propõe um certo resgate da experiência jurídica e normativa.
O rei-filósofo ou o juiz ao qual se atribui o poder de julgar conforme a idéia do justo normatizados acabam por conformar um pernicioso juspositivismo da autoridade jurídica que não pode macular o mando normativo superior.
As Leis: A legislação e o seu julgamento seria realizado por um corpo de legisladores e magistrados
Em As leis, talvez seja possível verificar uma espécie de direito natural em Platão. Nessa obra, Platão rebaixa as exigências ideais propostas em A República. Ao invés do rei-filósofo que preside a legislação e seu julgamento, entra em cena o corpo de legisladores e magistrados que, recrutados pela educação dentre os virtuosos e superiores da pólis, estão preparados para entender a natureza da lei e a sua relação com a divindade. Em As Leis, uma espécie de caráter religioso do direito toma um maior relevo.
 
AS MULHERES NA FILOSOFIA DE PLATAO
A REPÚBLICA 
Mas todo esse processo de aprendizagem supõe uma observação atenta da índole e do temperamento das crianças, que deverão, quando adultas, estar no lugar certo, executando a tarefa adequada à sua natureza. Ora, como se verá, esse princípio aplica-se também às meninas. Isso quer dizer que a natureza de cada um, suas aptidões e desempenho é que indicarão o seu lugar e o seu papel na cidade, sendo a educação (Paidéia) decisiva para se chegar a essa determinação.[2: Rep. 453a. Nesse ponto Platão é fiel ao princípio da justiça que deve reger toda a vida da polis perfeita, antes estabelecido: cada qual deve fazer o trabalho para o qual é naturalmente apto, e só ele. Rep. 369e-370c.]
Ocorre que o modelo da cidade perfeita está muito distante da realidade; fundamentam-no três princípios que os regimes políticos existentes não reconhecem facilmente. 
1º As mulheres devem cuidar de tudo em comum, com os guardiões. Rep. V 457b-c;
2º Todas as guardiãs serão comuns aos guardiões e nenhuma coabitará em particular com nenhum deles; e, por sua vez, os filhos serão comuns, e nem os pais saberão quem são os seus próprios filhos, nem os filhos, os pais." Rep. V 457c-d;
3º Não haverá tréguas dos males para as cidades e para o gênero humano enquanto os filósofos não forem reis ou os que agora se chamam reis e soberanos não forem filósofos genuínos e capazes, e se der a coalescência entre o poder político e a filosofia." Rep. V 473c-e; cf. tb. 499a-c
As considerações feitas levam-no a concluir que "aptidão natural, tanto do homem como da mulher, para guardar a cidade é, por conseguinte, a mesma, excepto na medida em que a desta é mais débil, e a daquele mais robusta." V 456 a-b
A partir daqui, justifica-se a tese segundo a qual mesma educação deve ser dada a ambos os sexos: "Demos, por conseguinte, uma volta que os trouxe ao nosso ponto de partida e concordamos em que não é contra a natureza atribuir o aprendizado da música e da ginástica às mulheres dos guardiões." V 456b
Conclusão definitiva:
"A educação para a mulher, para ser guardiã, não será uma para preparar os homens, e outra para as mulheres, sobretudo porque toma a seu cargo uma natureza idêntica." Rep. V. 456 c-d
Muito se escreveu e discutiu sobre esse diálogo de Platão, em especial sobre o livro V, em torno do qual se tem levantado esta pergunta instigante: justificaria, o que aí é dito, aproximar Platão dos defensores dos direitos da mulher, ou agrupá-lo com os feministas? Como veremos, os críticos não entram num acordo.
As dificuldades em torno desse problema não se referem apenas à compreensão do livro V em si, mas à árdua tarefa de conciliar as suas teses com as de outros diálogos. 
TIMEU
Nessa obra um interlocutor apresenta um relato verossímil da formação do cosmos e dos seres que o compõem. A variedade das espécies é nele justificada pela crença na metempsicose: os seres vivos enfileiram-se numa escala no topo do qual está o homem; essa escala é qualitativamente descendente, marcada pela degeneração das espécies: o lugar da mulher é o segundo na ordem decrescente.
Senão, vejamos:
"Dos homens nascidos, os que se revelaram pusilânimes ou durante a vida só praticaram injustiças, com toda a probabilidade foram transformados em mulheres na segunda geração. Por tal motivo, nessa época foi que os deuses construíram o desejo a conjunção carnal, modelando um ser animado em nós e outro nas mulheres" Timeu 90 e-91ª[3: Trad. de Carlos Alberto Nunes. Timeu, in Platão. Diálogos XI, col. Amazônica, Universidade do Pará, . ]
Como se vê, estamos longe dos fundamentos da República; aqui, o sexo feminino está associado à queda do homem e ao advento da sexualidade entre nós. Na verdade, a mulher é o homem decaído, aquele que na vida anterior nem foi justo nem corajoso; não pôde, por isso, retornar à sua estrela nativa, sendo obrigado a reencarnar como mulher (Timeu 90e-91a).
AS LEIS 
Para aumentar nossas dificuldades, Platão compôs, no fim da vida, um outro diálogo, em que investiga qual seria o segundo melhor modelo de cidade, após o da República; nessa obra, As Leis, Platão introduz algumas alterações na orientação que defendera na República. 
e onde a classe dos guardiões vivem num regime de comunidade de bens, mulheres e filhos, e a cidade é governada por filósofos, que eventualmente podem ser mulheres (......), Platão julga que uma segunda melhor forma de cidade, não a perfeita da República, mas a mais próxima dela, pode ser a das Leis. Nela, retornam instituições e práticas que deixara de lado no primeiro modelo: a propriedade particular e a instituição da família com o casamento monogâmico; a politeia é mistura de elementos aristocráticos e democraticos. 
Qual será nessa polis, a segunda na ordem de perfeição, o lugar e o papel da mulher e a educaçãoque lhe é conveniente? 
Nas Leis há algumas mudanças em relação ao regime de vida da mulher. o casamento é monogâmico e obrigatório, o adultério e o homossexualismo são crimes; em caso de divórcio, quem representa a mulher é o guardião da lei e inspetor dos casamentos (930 a). 
De fato, ao estipular a participação da mulher na vida da polis, Platão lhe restringe o campo de oportunidades: legalmente, não podem ter propriedade; só pode ir à justiça depois dos quarenta e se não for casada. A partir dos quarenta anos ela é elegível para cargos, enquanto isso é permitido aos homens a partir dos trinta. Nem todas as funções lhe são acessíveis; em geral, cabem-lhe as tarefas tradicionais referidas ao oikos (casa). Ela participa da supervisão dos casamentos, da educação das crianças pequenas e lhe é cobrada uma vigilância para com as crianças que é maior do que a solicitada à guardiã da República. Mas o cargo que corresponderia à superintendência geral da educação é para o homem. Em relação à participação política, não há referência às magistratura ou ao Conselho Noturno, órgão que lhe daria papel análogo ao do filósofo que governa a República. A mulher pode participar da defesa da polis, mas descontados certos períodos - gestação, aleitamento, gestão do oikos, o tempo para isso é muito pequeno e está liberada depois dos cinqüenta. De serviço militar, ela cumpre, ao todo, um período de cinco anos, solicitada que é por sua condição de "esposa privada". Co-educação, só na primeira infância; a nudez atlética, valorizada na República, desaparece nas Leis, as refeições comunitárias excluem os homens. Ao final, devolvida ao lar e à família, a mulher assoma como mãe, esposa respeitável e recatada. [4: A expressão é de Susan Moller Okin. Philosopher queens and private wives: Plato on women and the family. Philosophy and Public Affairs, n. 6, 1977. ][5: "Por conseguinte, terão de depor as suas vestes as mulheres dos guardiões, uma vez que se revestirão de virtude em vez de roupa, e tomarão parte na guerra e em tudo o mais que respeite à guarda da cidade, sem fazerem uma outra coisa. Dentre esses trabalhos serão atribuídos os mais leves às mulheres, e não aos homens, devido à debilidade do seu sexo. E o homem que se rir das mulheres nuas quando fazem ginástica para alcançar a perfeição, "colhe imaturo o fruto da sabedoria", que é o riso, sem saber ao que parece, de que se ri nem o que faz. Pois diz-se e há de dizer-se sempre com razão que o que é útil é belo e o que é vergonhoso é prejudicial." Rep. V. 457a-b (itálico nosso).]
Assim, se cotejarmos o regime das Leis com o da República, vamos perceber que a situação da mulher mudou.
Mas o que encontramos nas Leis é uma ruptura nesse esquema: aí a areté da mulher é desqualificada, como inferior à do homem. 
A referência a essa inferioridade feminina está na parte do diálogo que trata das refeições comunitárias, quando então o Ateniense (personagem cujas idéias se supõe poderiam ser as defendidas por Platão) ressalta a importância de se legislar para as mulheres, pois ignorá-las significa abandonar meia cidade à desordem....:
"Em virtude da fraqueza ingênita, o sexo feminino é naturalmente mais dissimulado e artificial, como também difícil de dirigir. Por isso, erradamente o legislador negligenciou nessa parte e o entregou à sua desordem muito própria. Dessa negligência muitos abusos se insinuaram entre vós outros, que em grande parte não teriam chegado até nosso tempo, se a lei a isso se opusesse. De fato, não é um descuido apenas pela metade, como se poderia crer, deixar de regulamentar a vida das mulheres. Quanto à mulher, em relação à virtude, é naturalmente inferior ao homem, tanto a diferença nesse ponto atinge mais do dobro. Para o bem da cidade, só fora de proveito reconsiderar essa parte e regulamentar, de uma vez, todas as práticas comuns aos homens e às mulheres." Leis 781a-b (itálico nosso).
Que nas Leis a areté deve ser diferenciada conforme o sexo vemos, por exemplo, nessa passagem relativa à educação musical: 
"Será oportuno, também, distinguir os cantos de acordo com a maior ou menor conveniência para homens ou para mulheres, segundo características próprias, para o que teremos de adaptá-los ao ritmo e à melodia...(...) É preciso, também, conferir a cada sexo que a necessidade impõe: mas, no que toca às mulheres, importa distinguir de acordo com as características naturais do sexo. Assim, teremos de considerar como mais indicado para o sexo masculino o que tender para a magnanimidade e a coragem, e deixar para a mulher o que sugere modéstia e temperança, tanto na lei como em nossa exposição."Leis 802d-803a (itálico nosso).

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