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Anthony Giddens - As consequencias da modernidade - resumo

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1 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO. 
PROGRAMA DE DOUTORADO. 
 
DISCIPLINA: OS PERIGOS DA BOMBA INFORMÁTICA. 
PROFESSOR: AIRES ROVER. 
 
RESUMO. 
 
OBRA: GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São 
Paulo: Unesp, 1991. 
REALIZADORA: Carolina Medeiros Bahia. 
 
I. INTRODUÇÃO. 
Na introdução, Giddens destaca que realizará durante a obra uma analise institucional da 
modernidade com ênfases cultural e epistemológica, afastando-se da maior parte das abordagens 
normalmente realizadas (p.11). 
Tenta, de antemão, definir o que seria modernidade, afirmando que: “modernidade refere-
se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na 
Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua 
influencia” (p. 11). 
Estaríamos, assim, no limiar de uma nova época. Alguns autores destacam a emergência 
de um novo sistema social, mas a maioria chama a atenção para um estado de coisas que está 
chegando ao fim. 
Neste sentido, para Jean-François Lyotard, a pós-modernidade representa “um 
deslocamento das tentativas de fundamentar a epistemologia, e da fé no progresso planejado 
humanamente” (p. 12). Ela seria caracterizada pelo desaparecimento da grande narrativa, através 
da qual somos inseridos na historia como seres tendo um passado definitivo e um futuro 
predizível. 
A sensação de que vivemos diante de um universo de fatos que não podem ser 
inteiramente compreendidos e que estão fora do nosso controle gera a idéia de que não se pode 
obter um conhecimento sistemático sobre a organização social (p.12). Para analisar o fenômeno, 
não basta inventar novos termos, deve-se olhar novamente para a natureza própria da 
modernidade. 
Para tanto, Giddens desenvolve suas concepções em torno do que ele chama de uma 
interpretação descontinuísta do desenvolvimento social moderno, que compreende que as 
instituições sociais modernas são, em alguns aspectos, diferentes de outros tipos da ordem 
tradicional (p.13). 
 
AS DESCONTINUIDADES DA MODERNIDADE. 
Segundo Giddens, os modos de vida produzidos pela modernidade nos afastam de todos 
os tipos tradicionais da ordem social de uma maneira sem precedentes. As transformações 
produzidas pela modernidade seriam mais profundas tanto em seu aspecto vertical quanto do 
ponto de vista horizontal (p. 14). Em virtude da radicalidade dessas transformações, há uma 
limitação de nosso conhecimento de períodos anteriores para interpretá-las. 
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O caráter descontinuísta da modernidade não tem sido tão enfocado, sobretudo, por 
influencia do evolucionismo social. Por isso, deve-se deslocar a narrativa evolucionaria ou 
desconstruir seu enredo tanto para melhor elucidar a modernidade quanto para alterar o enfoque 
de parte do debate pós-moderno. 
As descontinuidades que afastam as instituições sociais modernas das tradicionais teriam 
como características: 
o O ritmo da mudança 
o O escopo da mudança – “as ondas de transformação social penetram através de 
virtualmente toda a superfície da Terra”. 
o A natureza intrínseca das instituições modernas – algumas não encontram 
correspondência em períodos históricos precedentes como o sistema político do 
estado-nação, a dependência por atacado da produção de fontes de energia 
inanimadas, ou a completa transformação em mercadoria de produtos e trabalho 
assalariado. 
 
SEGURANÇA E PERIGO, CONFIANÇA E RISCO. 
Giddens entende que a modernidade é um fenômeno de dois gumes. As instituições 
sociais modernas criaram a oportunidade para os seres humanos de desfrutarem de uma vida 
segura e confortável e este aspecto de oportunidade sempre foi mais fortemente enfatizado pelos 
fundadores clássicos da sociológica, como Marx, Durkheim e Max Weber. Contudo, gerou 
diversos efeitos indesejáveis, como: 
o O trabalho industrial moderno, para além de submeter os homens a disciplina de 
um trabalho maçante e repetitivo, apresenta um potencial destrutivo de larga 
escala em relação ao meio ambiente; 
o Os totalitarismos, que pareciam ser pertencentes ao passado, estão contidos nos 
parâmetros da modernidade, como demonstram os episódios do Holocausto, do 
fascismo e do stalinismo; 
o A industrialização da guerra refuta a tese durheimiana de que o industrialismo 
geraria uma ordem industrial pacifica e integrada. Os pensadores sociais também 
não puderam prever a invenção do armamento nuclear. 
O mundo moderno é, assim, repleto de perigos. Essa constatação tem contribuído para 
a perda da crença no progresso e, por conseqüência, para a dissolução de narrativas da 
história. 
 
SOCIOLOGIA E MODERNIDADE. 
Giddens destaca que se pode encontrar na sociologia três concepções que impedem a 
realização de uma analise adequada das instituições modernas: 
o O diagnóstico institucional da modernidade: para os autores influenciados por 
Marx, a força que amolda a sociedade moderna é o capitalismo. Segundo 
Durkheim, a modernidade seria resultado do industrialismo. Já Weber, embora 
fale de capitalismo, sem se referir à existência de uma ordem industrial, tem uma 
concepção mais próxima de Durkheim do que de Marx. 
Analisando essas concepções, Giddens entende que essas caracterizações da 
modernidade não podem ser compreendidas como mutuamente excludentes, pois a 
modernidade, no âmbito das instituições, seria multidimensional (p. 21). 
o A sociedade: deve-se ter reservas à noção de sociedade utilizada ordinariamente 
pelo pensamento sociológico. Primeiro, porque os autores que vêem a sociologia 
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como o estudo das sociedades levam em consideração apenas as sociedades 
modernas e, entendidas desta forma, as sociedades seriam simplesmente estados-
nação. Segundo, porque, frequentemente, entende-se que o principal objetivo da 
sociologia seria soluciona o problema da ordem, compreendida aqui como a forca 
que mantém a integração do sistema em face das divisões de interesses. 
Para Giddens, o problema da ordem não deve ser enfocado dessa maneira, mas 
como um problema de distanciamento tempo-espaço, pois as sociedades modernas 
“são também entrelaçadas com conexões que perpassam o sistema sóciopolítico 
do Estado e a ordem cultural da ‘nação’” (p. 23) e apresentam um distanciamento 
de tempo-espaço muito maior que o das mais desenvolvidas civilizações agrárias. 
o Conexões entre conhecimento sociológico e as características da 
modernidade: em várias formas de pensamento, a sociologia tem sido encarada 
como a ciência produtora de conhecimento sobre a vida social moderna, que pode 
ser empregado a serviço da previsão e do controle. 
Giddens compreende que essas concepções são insuficientes porque uma visão de 
reflexividade extremamente simples. Para ele, “o conhecimento sociológico 
espirala dentro e fora do universo da vida social, reconstituindo tanto este universo 
como a si mesmo como uma parte integral deste processo” (p. 24). Complementa 
afirmando que “este é um modelo de reflexividade, mas não um modelo em que há 
uma sucessão paralela entre a acumulação de conhecimento sociológico, por um 
lado, e o controle firmemente mais extensivo do desenvolvimento social, por 
outro” (p. 24). 
 
MODERNIDADE, TEMPO E ESPAÇO. 
A partir de uma retrospectiva histórica, Giddens lembraque todas as culturas pré-
modernas tinham suas formas de calcular o tempo. Contudo, esse cálculo de tempo sempre 
vinculou tempo e lugar. A determinação da hora do dia sempre esteve ligada a outros fatores 
sócio-espaciais. Ele atribui à descoberta o relógio mecânico o fator crucial para a separação entre 
o tempo e o espaço (p.26). 
Essa descoberta coincidiu com a expansão da modernidade e trouxe, como efeitos, a 
padronização em escala mundial dos calendários e a padronização do tempo através das regiões. 
Isso que ele define como esvaziamento do tempo seria pré-condição para o esvaziamento do 
espaço, pois “a coordenação através do tempo é a base do controle do espaço” (p. 26). 
O autor define o espaço vazio como a separação entre espaço e lugar (cenário físico da 
atividade social). Se para as sociedades pré-modernas havia coincidência entre espaço e lugar, a 
modernidade separa o espaço do tempo, estimulando relações entre “ausentes”, distantes de 
qualquer situação dada (p. 27). Os locais passam a ser penetrados e moldados por influencias 
sociais bem distantes. 
A separação entre tempo e espaço para o sociólogo, é crucial para o dinamismo da 
modernidade por variadas razões: 
o Ela é condição do processo de desencaixe; 
o Ela proporciona os mecanismos de engrenagem para aquele traço distintivo da 
vida social moderna, a organização racionalizada. As organizações modernas, para 
Giddens, apresentam uma capacidade de conectar o local e o global que seriam 
impensáveis nas sociedades tradicionais; 
o A historicidade radical que caracteriza a modernidade depende de inserções no 
tempo e no espaço que não eram acessíveis às sociedades pré-modernas. 
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DESENCAIXE. 
Giddens conceitua desencaixe como o “‘deslocamento’ das relações sociais de contextos 
locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço” (p. 
29). 
Ele destaca a existência de dois tipos de mecanismos de desencaixe presentes nas 
instituições modernas: 
o Fichas simbólicas: seriam “os meios de intercâmbio que podem ser ‘circulados’ 
sem ter em vista as características especificas dos indivíduos ou grupos que lidam 
com eles em qualquer conjuntura particular” (p.30). Ele exemplifica essas fichas 
simbólicas com o dinheiro. Denominado por Marx de “prostituta universal”, o 
dinheiro é um meio de troca que substitui os bens e serviços por um padrão 
universal. 
Giddens acrescenta, porém, que as condições de desencaixe proporcionadas pelos 
economias modernas são muito mais amplas do que ocorria com as civilizações 
pré-modernas onde já havia dinheiro, pois hoje, o dinheiro independe de qualquer 
modo de representação, consistindo numa informação pura, armazenada como 
números num computador. 
o Sistemas peritos: são conceituados como “sistemas de excelência técnica ou 
competência profissional que organizam grandes áreas dos ambiente material e 
social em que vivemos hoje” (p. 35). Para Giddens, os sistemas nos quais está 
integrado o conhecimento dos peritos influenciam diversos aspectos do que 
fazemos continuamente. Ele exemplifica: ao permanecer em casa, também 
estamos envolvidos num sistema perito, pois não temos medo de subir as escadas 
da moradia esmo sabendo que em tese a estrutura pode desabar. Eles seriam um 
mecanismo de desencaixe porque, do mesmo modo que as fichas simbólicas, 
retiram as relações sociais das imediações do contexto. 
Para o autor todos os mecanismos de desencaixe dependem da confiança, considerada 
como artigo de fé, que se baseia na experiência que estes sistemas geralmente funcionam 
conforme as nossas expectativas. 
 
CONFIANÇA. 
A confiança, como definida pelo Oxford English Dictionary seria compreendida como 
“crença ou crédito em alguma qualidade ou atributo de uma pessoa ou coisa, ou a verdade de uma 
afirmação” (p.38). Tanto crença como crédito estariam vinculados de algum modo à fé. Luhmann 
distingue fé e confiança, ressaltando que esta deve ser compreendida especificamente em relação 
ao risco, um termo originado a partir da época moderna. 
Para Luhmann, a noção de confiança desponta a partir da compreensão de que as nossas 
atividades e decisões podem gerar resultados inesperados. O risco, em grande medida, substitui a 
idéia de fortuna e está apartado das cosmologias. Embora crença e confiança se relacionem a 
expectativas que podem ser frustradas ou desencorajadas, a confiança pressupõe consciência das 
circunstâncias de risco. Dessa forma, “um individuo que não considera alternativas está numa 
situação de crença; enquanto que alguém que reconhece essas alternativas e tenta calcular os 
riscos assim reconhecidos, engaja-se em confiança” (p. 39). 
Giddens critica a concepção de Luhmann porque entende que a confiança é geralmente 
um estado mais continuo do que a sua teoria implica. Além disso, discorda de Luhmann quando 
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ele conclui que quem se abstém de agir não incorre em risco, pois a inação seria frequentemente 
arriscada. 
Feitas essas objeções, ele tenta conceituar o que ele entende por confiança: 
1. a confiança estaria relacionada à ausência de tempo e espaço: não haveria 
necessidade de se confiar em alguém ou num sistema cujas atividades ou 
procedimentos fossem plenamente conhecidos e compreendidos; 
2. a confiança está vinculada não ao risco, mas à contingência: a confiança resulta da 
credibilidade em face de conseqüências contingentes, não importando se esses 
resultados decorram das ações humanas ou das operações de sistemas; 
3. a confiança não se confunde com a fé na credibilidade de uma pessoa ou de um 
sistema; ela deriva dessa fé. Seria uma espécie de elo que liga fé e crença. 
4. quando se fala em confiança em sistemas peritos ou em fichas simbólicas, não nos 
referimos à fé na probidade moral dos outros, mas na fé na correção de 
princípios dos quais se é ignorante; 
5. por isso, confiança seria a “crença na credibilidade de uma pessoa ou sistema, 
tendo em vista um dado conjunto de resultados ou eventos, em que essa crença 
expressa uma fé na probidade ou amor de um outro, ou na correção de 
princípios abstratos”. 
 
A REFLEXIVIDADE DA MODERNIDADE. 
Embora a reflexividade seja uma característica de toda ação humana, a modernidade dá 
origem a uma nova forma de reflexividade. Para Giddens, “ela é introduzida na própria base da 
reprodução do sistema, de forma que o pensamento e a ação estão constantemente retratados em 
si” (p. 45). 
Dessa forma, a reflexividade consistiria no fato de que as praticas sociais são 
constantemente examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre estas próprias 
praticas, alterando constitutivamente seu caráter. 
Neste sentido, destaca que em todas as culturas, as práticas sociais são modificadas por 
conta de descobertas sucessivas que passam a informa-las, mas somente na era moderna, a 
revisão da convenção é radicalizada para se aplicar a todos os aspetos da vida humana, inclusive 
à intervenção tecnológica no mundo material. 
 
MODERNIDADE OU PÓS-MODERNIDADE? 
Giddens inicia o tópico distinguindo pós- modernidade e pós-modernismo, enfatizando 
que este último termo é mais apropriado para se referir a estilos ou movimentos na literatura, 
artes plásticas e arquitetura. Já quando nos referimos que estamos caminhando para a pós-
modernidade, isto significa estamos saindo das instituições da modernidade rumo a um novo e 
diferente tipo de ordem social (p. 51). Além disso, o termo assume outros significados: 
o que nada pode ser conhecido com alguma certeza; 
o que a história é destituída de teleologia e que nenhuma versão do progresso pode 
ser plausivelmente defendida.o que uma nova agenda social e política surgiu com a crescente projeção das 
questões ambientais e de novos movimentos sociais. 
II. AS DIMENSÕES INSTITUCIONAIS DA MODERNIDADE. 
Giddens retoma a idéia de que existe uma tendência nas teorias sociológicas de buscar 
apenas um nexo institucional dominante nas sociedades modernas. Explica que o prolongado 
debate sobre o caráter industrial ou capitalista das sociedades modernas é baseado em premissas 
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equivocadas, pois em ambos os casos há um reducionismo envolvido. Propõe, então, que o 
industrialismo e o capitalismo sejam vistos como “‘feixes organizacionais’ ou dimensões 
diferentes envolvidos nas instituições da modernidade” (p. 61). 
Em seguida, o autor passa a definir capitalismo e industrialismo: 
o Capitalismo: “um sistema de produção de mercadorias, centrado sobre a relação entre 
propriedade privada do capital e o trabalho assalariado sem posse de propriedade, esta relação 
formando um eixo principal de um sistema de classes”; 
o Industrialismo: tem como característica principal o uso de fontes inanimadas de 
energia material na produção de bens, combinado ao papel central da maquinaria no processo de 
produção. A maquina seria um artefato que realiza tarefas empregando tais fontes de energia 
como os meios de suas operações. Ele pressupõe a organização social regularizada da produção 
no sentido de coordenar a atividade humana, as maquinas e as aplicações e produções de matéria-
prima e bens. 
Neste contexto, as sociedades capitalistas seriam um subtipo das sociedades modernas em 
geral e que tem como características específicas: 
- o fato de sua ordem econômica apresentar as características já destacadas; 
- a economia é razoavelmente distinta (ou insulada) das outras arenas sociais, sobretudo, 
as instituições políticas; 
- a insulação do estado e da economia tem como fundamento a preeminência da 
propriedade privada dos meios de produção. 
- a autonomia do estado é condicionada pela sua dependência da acumulação do capital. 
Reconhece a dificuldade de se classificar a sociedade capitalista como instituição 
moderna, dadas as suas características expansionistas e o seu escopo internacional. Entende que 
a sociedade capitalista só pode ser compreendida como sociedade moderna porque é um 
estado-nação. Destaca também que nenhum dos estados pré-modernos foi capaz de se aproximar 
do nível de coordenação administrativa desenvolvido no estado-nação. 
À sua analise da modernidade, o autor acrescenta duas outras dimensões: 
o O aparato de vigilância. Giddens compreende vigilância como a supervisão das 
atividades da população súdita na esfera política. Acrescenta que essa vigilância pode ser direta 
(como em muitas instancias discutidas por Foucalt), mas é, de modo mais característico, indireta 
e baseada no controle da informação. 
o O controle dos meios de violência. Embora o poder militar seja um traço das 
civilizações pré-modernas, o monopólio dos meios de violência dentro de fronteiras territoriais 
precisas seria outro traço da sociedade moderna, assim como a sua relação com o industrialismo 
(industrialização da guerra). 
 7 
Em seguida, o autor cria uma figura, por meio da qual demonstra os vínculos existentes 
entre as quatro dimensões da modernidade: o capitalismo, a vigilância, o poder militar e o 
industrialismo. 
 
Observando as linhas circulares, Giddens destaca a existência de relações entre: 
o Capitalismo e vigilância: “O capitalismo envolve a insulação do econômico em 
relação ao político contra a tela de fundo do trabalho e mercados de produtos competitivos. A 
vigilância, por sua vez, é fundamental a todos os tipos de organização associados à ascensão da 
modernidade, em particular o estado-nação, que se entrelaça historicamente com o capitalismo 
em seu desenvolvimento mútuo” (p. 64). 
o Vigilância e poder militar: “Da mesma forma, há vínculos substantivos íntimos entre 
as operações de vigilância dos estados-nação e a natureza alterada do poder militar o período 
moderno” (p. 64). O monopólio dos meios de violência por parte dos estados modernos estaria 
vinculado à manutenção de novos códigos de lei criminal e ao controle de “desvios”. 
o Poder militar e industrialismo: uma evidencia dessa relação seria a industrialização da 
guerra. 
o Industrialismo e capitalismo: o industrialismo transformou-se no principal eixo da 
interação dos seres humanos com a natureza em condições de modernidade. Nos locais 
industrializados do globo, as pessoas vivem numa ambiente criado – um ambiente físico, mas que 
não é apenas natural. 
Além das linhas circulares, as linhas retas também trazem conexões que podem ser 
estabelecidas. Giddens exemplifica demonstrando o vinculo existente entre vigilância e 
industrialismo, destacando que a vigilância anda de braços dados com o industrialismo, 
fortalecendo o poder administrativo no interior das fábricas, usinas e oficinas. 
Ressalta que o empreendimento capitalista teve um importante papel no distanciamento 
entre a vida social moderna das instituições do mundo tradicional. O surgimento do capitalismo 
causou o desenvolvimento do industrialismo e forneceu muito ímpeto para a sua emergência. 
Um elo que para o autor é muito importante entre o capitalismo, o industrialismo e o 
controle dos meios de violência é o desenvolvimento da força de trabalho abstrato. Essa realidade 
distancia a modernidade dos sistemas pré-modernos: “o contrato de trabalho não repousa sobre a 
posse direta dos maiôs de violência e o trabalho é nominalmente livre” (p. 67). 
 8 
Outro fator capaz de acelerar a expansão das instituições modernas (além do capitalismo) 
foi o estado-nação. O estado-nação surgiu da junção de uma serie de eventos contingentes. Eles 
concentravam o poder administrativo de modo muito mais efetivo que os estados tradicionais. 
 
Globalização da modernidade. 
 
Para Giddens, a modernidade é inerentemente globalizante. O autor entende a 
globalização como “a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam 
localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos 
ocorrendo a muitas milhas de distancia e vice-versa” (p. 69). Destaca tratar-se de um processo 
dialético, pois “os acontecimentos locais podem se deslocar numa direção anversa às relações 
muito distanciadas que os modelam” (p. 70). 
Exemplificando: 
o O autor esclarece que quem se voltar ao estudo das cidades hoje em dia deve estar 
ciente de que o que ocorre numa vizinhança local tende a ser influenciado por fatores que se 
operam a uma distancia indefinida da vizinhança em questão. 
o A ascensão dos nacionalismos locais na Europa e em outros lugares. No processo de 
globalização acelerada o estado-nação torna-se muito pequeno para os grandes problemas e muito 
grande para os pequenos. Isso estimula o aparecimento de pressões para a autonomia local e para 
a identidade cultural regional. 
 
Duas perspectivas teóricas. 
 
O sociólogo destaca que as discussões da globalização tendem a aparecer em dois corpos 
de literatura: 
o A literatura das relações internacionais: encaram os estados-nação como atores, 
envolvendo-se entre si na ordem internacional. Para a maior parte dos autores que se filiam a essa 
abordagem, os estados soberanos emergem primeiro como entidades amplamente separadas, 
tendo controle administrativo mais ou menos completo no interior de suas fronteiras. A medida 
em que o estado europeu amadurece, vai se transformando num sistema global de estado-nação, 
desenvolvendo cada vez mais padrões de interdependência. Estes processos estariam a assinalar 
um movimento em direção a um mundo. Muitos antecipam para o futuro próximo o surgimento 
de um estado mundial. 
 Giddens faz algumas reservas a essa concepção: 
- entende que ela cobreapenas uma dimensão geral da globalização: a coordenação geral 
dos estados. 
- critica esses teóricos por registrarem estes estados como atores, o que eles não fazem 
quando se referem aos estados pré-modernos. Acrescenta que a imagem do estada-nação como 
ator não é condizente com as relações sociais que não estão entre ou fora de estados, mas lhes são 
transversais. 
- também questiona o retrato da crescente unificação do sistema de estados-nação. O 
desenvolvimento da soberania não foi anterior, mas concomitante, a sua inserção no sistema de 
estados-nação – “a soberania do estado moderno foi desde o inicio dependente das relações entre 
estados” (p. 72). 
o A teoria do “sistema mundial”: essa doutrina também parte de uma distinção entre a 
era moderna e a pré-moderna. Compreende que as economias mundiais existiam antes do tempo 
moderno. Contudo, estavam centradas em grandes estados imperiais e não cobriam mais do que 
 9 
certas regiões. O advento do capitalismo gera uma ordem genuinamente global em seu objetivo, 
baseada mais no poder econômico que no político. Reconhece a existência de uma multiplicidade 
de centro políticos no sistema mundial moderno: o centro, a semi-periferia e a periferia. 
Embora avance em alguns pontos, essa teoria também merece criticas do autor: 
- ela continua a ver apenas um nexo institucional dominante como responsvelpelas 
transformações modernas: o capitalismo; 
- por se concentrar nas influências econômicas, não explica de modo satisfatório questões 
como a ascensão do estado-nação e do sistema de estados-nação. 
 
Dimensões da globalização. 
 
o Economia capitalista mundial: Giddens destaca que se os estados-nação são os atores 
principais dentro da ordem política global, as corporações sãos os agentes dominantes dentro da 
economia mundial. Como essas companhias dependem da produção para ter lucro, a 
disseminação de sua influencia acarreta uma extensão global de mercados de bens e capitais. 
Contudo, a economia mundial capitalista não é apenas um mercado de bens e serviços: ela 
também envolve a transformação da força de trabalho em mercadoria. Esse processo é repleto de 
desigualdades globais. 
o Sistemas de estados-nação: todos os estados-nação, nos setores desenvolvidos do 
mundo, apostam na produção industrial para a geração da riqueza na qual se baseiam seus 
ganhos. A influência dos estados na ordem política global está fortemente condicionada ao nível 
de sua riqueza, mas seu poder deriva das capacidades de soberania. 
o Ordem militar mundial: para analisá-la, é necessário verificar as conexões entre a 
industrialização da guerra, o fluxo de armamentos e técnicas de organização militar de 
certas partes do mundo para outras, e as alianças que os estados estabelecem entre si; 
- as alianças militares não comprometem necessariamente o monopólio sobre os meios 
de violência que um estado mantém sobre seus territórios, embora isso possa ocorrer em algumas 
circunstâncias. 
- fluxo de armamentos e técnicas de organização militar: “como resultado do poder 
destrutivo maciço do armamento moderno, quase todos os estados modernos força militar muito 
mais excessiva do que mesmo as maiores civilizações pré-modernas” (p.79). Muitos países 
economicamente fracos são militarmente poderosos. 
- a globalização milita, para Giddens, também tem a ver com a guerra: a emergência de 
duas guerras mundial pôde demonstrar como os conflitos locais tornaram-se questões de 
envolvimento global. 
o Divisão global do trabalho (industrialismo): a expansão da divisão internacional do 
trabalho envolve as distinções entre as áreas mais e menos industrializadas no mundo. Pode-se 
verificar uma dupla divisão de trabalho: uma relacionada à divisão de tarefas propriamente dita e 
outra referente à especialização regional de indústria, capacitação e produção de matérias-primas. 
Para Giddens um dos traços marcantes do industrialismo é a difusão das tecnologias de 
máquina. Essa difusão afeta, inclusive, os estados primordialmente agrícolas e foi responsável 
pela criação de um mundo no qual há mudanças ecológicas reais ou potenciais de um tipo 
daninho que afeta a todos no planeta. 
Por outro lado, o industrialismo também alterou a nossa forma de ver o mundo, porque 
transformou as tecnologias de comunicação. 
 
III. CONFIANÇA E MODERNIDADE. 
 10 
 
O autor inicia o capítulo chamando atenção para o fato de que, com a modernidade, um 
número cada vez maior de pessoas vive em situações onde instituições desencaixadas organizam 
os aspectos essenciais da vida cotidiana. 
 
Confiança e modernidade. 
 
Nesta passagem, Giddens introduz o conceito de reencaixe, definido como: “a 
reapropriação ou remodelação de relações sociais desencaixadas de forma a comprometê-las 
(embora parcial ou transitoriamente) a condições locais de tempo e lugar” (p. 83). 
Também diferencia os chamados: 
o Compromissos com rosto: seriam as relações verdadeiras, mantidas por conexões 
sociais de co-presença. 
Exemplo: desatenção civil - duas pessoas se aproximam e se cruzam numa calçada. 
Giddens ressalta que a desatenção, neste caso, não pode ser compreendida como indiferença. 
Seria antes uma exibição do que ele denomina de estranhamento polido. Ela é uma demonstração 
da confiança presumida em encontros regulares com estranhos em lugares públicos. 
Giddens entende que a chamada “desatenção civil” é a forma mais elementar de 
compromisso com rosto envolvido em encontros com estranhos em circunstancias da 
modernidade. Ela envolve o uso do rosto e o emprego de uma postura corporal que quer dizer 
“você pode confiar que estou sem intenções hostis”. 
o Compromissos sem rosto: é o desenvolvimento da fé nas fichas simbólicas e nos 
sistemas peritos (que o autor denomina de sistemas abstratos). 
 
Confiança em sistemas abstratos. 
 
O autor diferencia duas modalidades de confiabilidade: 
o “Aquela estabelecida entre indivíduos que se conhecem bem e que, baseados num 
relacionamento de longo prazo, substanciaram as credenciais que tornam cada um fidedigno aos 
olhos do outro”. 
o Aquela proveniente dos mecanismos de desencaixe. Em certas circunstancias, ela não 
pressupõe encontro algum com indivíduos ou grupos responsáveis. 
 
O encontro de atores leigos com indivíduos ou grupos responsáveis é o que Giddens 
chama de “pontos de acesso”. 
 
A fidedignidade conferida pelos atores leigos aos sistemas peritos não decorre apenas do 
desejo por uma sensação de segurança, mas, antes de tudo, uma questão de cálculo de vantagem e 
risco. O sociólogo esclarece que um dos significados disso é que niguem opta por sair 
completamente dos sistemas abstratos envolvidos nas instituições modernas, como ocorre nos 
casos de guerra nuclear ou de catástrofe ecológica. 
Por isso, contatos com peritos ou seus representantes e delegados seriam conseqüentes nas 
sociedades modernas. Esses encontros podem ser regulares e assumir a forma de confiabilidade 
associada com amizade ou intimidade. Contudo, na maior parte das vezes são periódicos e 
transitórios. 
 11 
Giddens destaca que embora todos saibam que o verdadeiro alvo da confiança são os 
sistemas abstratos, os pontos de acesso recordam que as pessoas de carne-e-osso é que são os 
seus operadores. 
Mais adiante, o autor indaga porque os peritos mantêm oculta boa parte do que eles 
fazem. Apresenta, a seguir, as possíveis razões: 
o A necessidade de ambientes especializados e de concentração mental para o exercício 
da perícia: o que é difícil de conseguir a vista do público. 
o Aqueles que trabalham nos pontos de acesso procuram minimizar o mais possível. Ex: 
os pacientes não poderiam confiar de modo suficiente na equipe medica se conhecessem os 
enganos cometidos nas enfermarias e nos centro cirúrgicos. 
 
Confiança e perícia. 
 
Giddens ocupa-se em esclarecerporque a maioria das pessoas, a maior parte do tempo, 
confia em praticas e mecanismos sociais sobre os quais seu próprio conhecimento técnico é 
superficial ou inexiste. 
Para tanto, destaca varias respostas possíveis: 
o As crianças na escola não aprendem apenas as descobertas cientificas, mas a 
respeitar o conhecimento técnico de todos os tipos. Dessa forma, a ciência mantém 
uma imagem de conhecimento fidedigno. 
 
Giddens acrescenta que as atitudes leigas em relação à ciência e ao conhecimento 
técnico são tipicamente ambivalentes: só se exige confiança onde há ignorância. 
No entanto, a ignorância sempre fornece terreno para o ceticismo e a cautela. 
 
o Na modernidade, atitudes de confiança para com os sistemas abstratos são via de 
regra incorporadas à continuidade das atividades cotidianas e reforçadas pelas 
circunstâncias do dia-a-dia. 
 
O texto destaca que as atitudes de confiança ou de falta de confiança em relação 
aos sistemas abstratos são muito influenciadas pelas experiências de pontos de 
acesso. 
 
O autor vê nos pontos de contato uma fonte de vulnerabilidade para os sistemas 
abstratos: uma pessoa que te uma experiência desagradável em relação a um ponto 
de acesso pode abandonar o relacionamento leigo-cliente. 
 
Confiança e segurança ontológica. 
 
A segurança ontológica seria uma forma de sentimentos de segurança. Trata-se da crença 
que a maioria dos seres humanos têm na continuidade de sua auto-identidade e na constância dos 
ambientes de ação social e material circundante. 
Giddens considera a segurança ontológica como um fenômeno mais emocional que 
cognitivo. Diversas questões como “eu realmente existo?”e “eu sou hoje a mesma pessoa que eu 
era ontem”não podem ser respondidas de modo inequívoco por um argumento racional. 
Enfatiza que quando filósofos enfrentam essas questões não estão ontologicamente 
inseguros em suas ações comuns, diferente do que ocorre com uma minoria da população que não 
 12 
considera a ausência de certeza sobre tais assuntos como uma preocupação intelectual, mas como 
uma intranqüilidade profunda. É o que ocorre com alguns mentalmente enfermos, especialmente 
com os esquizofrênicos. 
A maior parte das pessoas não se encontra em estados de alta-inseguranca ontológica em 
face dos diversos problemas existenciais por conta de certas experiências na primeira infância. 
Nessa fase, há uma certa inoculação emocional que nos protege contra as ansiedades ontológicas 
às quais todos os seres humanos estão potencialmente sujeitos. O agente promotor dessa 
inoculação é normalmente a mãe. 
Para Erick Erickson, citado pelo autor, a esquizofrenia infantil seria um resultado possível 
da ausência de estabelecimento dessa confiança básica entre a criança e seus provedores. 
Giddens complementa que “a fé no amor de seus protetores é a essência daquele salto ao 
compromisso que a confiança básica - e todas as formas de confiança, portanto – pressupõe” (p. 
98). 
Desenvolvendo o pensamento de Winnicott, enfatiza que o que faz uma criança sentir que 
a vida é real e que é digna de ser vivida é a sua relação com o seu protetor e a existência de um 
“espaço potencial” entre ambos. Este espaço seria a separação criada entre a criança e seu 
proteror, que corresponderia a uma autonomia de ação, uma identidade e um da realidade das 
coisas. 
Neste passo, demonstra a importância da ausência. Segundo ele, “um traço fundamental 
da formação inicial da confiança é a confiança na volta do protetor” (p. 99). Desse modo,é 
possível vislumbrar uma equiparação da confiança com a distancia no tempo e no espaço que 
bloqueia ansiedades existenciais que poderiam se manifestar. 
Na idade adulta, verifica-se a existência de um elo entre confiança, segurança ontológica e 
o sentimento de continuidade das coisas. Há uma clara vinculação entre rotina e segurança 
ontológica: “a previsibilidade das rotinas (aparentemente) sem importância da vida cotidiana está 
profundamente envolvida com um sentimento de segurança psicológica” (p. 100). 
Por isso, quando a rotina sofre alteração, a ansiedade pode “transbordar” e traços da 
personalidade do sujeito podem ser afetados. 
Outro paradoxo é apresentado pelo autor: “a rotina é psicologicamente relaxante, mas 
num sentido importante ela não é algo a respeito do qual se possa estar relaxado” (p. 101). Além 
disso, a rotina só pode ser mantida com base na vigilância das partes envolvidas. 
Uma questão levantada é qual seria o oposto da confiança. Para responder à indagação, 
Giddens salienta que a “desconfiança” é um termo muito fraco para expressar o oposto da 
confiança básica e que a sua antítese seria algo como angst ou pavor existencial. 
 
O pré-moderno e o moderno. 
 
Embora alguns traços da psicologia da confiança sejam comuns às culturas pré-modernas 
e modernas, também é possível encontrar diferenciações nas condições das relações de confiança 
nessas sociedades. 
Quatro contextos tendem a predominar nas culturas pré-modernas: 
o Sistema de parentesco: as relações de parentesco são um foco de tenso e conflito, 
mas, apesar disso, são, normalmente, ligações em que se pode confiar na 
estruturação de ações nos campos do tempo-espaço. Ademais, o parentesco 
proporciona uma rede de relações amigáveis ou intimas que a travessam tempo e 
espaço. 
 13 
o Comunidade local: “o meio local é o lugar de feixes de relações sociais 
entrelaçadas, cuja pequena extensão espacial garante sua solidez no tempo” (p. 
105). Por isso, no contexto pós-moderno, a localidade contribui ara a segurança 
ontológica. 
o Cosmologia religiosa: se, por um lado, a cosmologia religiosa pode ser fonte de 
grande ansiedade, em outros aspectos, proporciona interpretações morais e 
práticas da vida pessoal e social e do mundo natural que geram um ambiente de 
segurança para o crente. Neste sentido, Giddens acrescenta que a religião “gera 
um senso da fidedignidade dos eventos sociais e naturais, e assim contribui para a 
vinculação do tempo-espaço” (p.106). 
o Tradição: para o sociólogo a tradição difere da religião porque enquanto esta se 
refere a um corpo particular de crenças e práticas, aquela se preocupa com a 
maneira como as crenças e práticas são organizadas, principalmente em relação ao 
tempo. Releva a importância da tradição para a manutenção da segurança 
ontológica na medida em que gera a confiança na continuidade do passado, 
presente e futuro, atrelando essa confiança a praticas sociais rotinizadas. 
 
Em seguida, Giddens traça um panorama dos riscos nas culturas tradicionais: 
 
RISCOS NAS CULTURAS TRADICIONAIS 
Ambiente de risco dominado pelas vicissitudes do mundo físico como 
inconstâncias climáticas, inundações, tormentas, chuva excessiva, seca 
etc. 
Preponderância da violência humana. Na população, poucos grupos 
podiam sentir-se seguros em virtude da violência dos exércitos invasores, 
senhores da guerra local, salteadores, ladrões ou piratas. 
Contribuição dual da religião, que, a um só tempo, garantia proteção 
contra as tribulações da vida e era fonte de ansiedade e apreensão mental. 
 
 
Os quatro principais focos de confiança não têm a mesma importância no contexto 
moderno: 
o Sistema de parentesco: as relações de parentesco continuam importantes para a 
maior parte da população, mas já não se apresentam como veículos de laços 
sociais intensamente organizados através do tempo-espaço. 
o Comunidade local: o primado do lugar tem sido destruído pelas operações de 
desencaixe e pelo distanciamento espaço-tempo. 
o Tradição e religião: ambas têm tido um impacto decrescente. Para Giddens, a 
cosmologia religiosa tem sido substituída pelo conhecimento reflexivamente 
organizado. 
 
Panorama do ambiente de risco nas sociedades modernas: 
 
RISCO NAS CULTURAS MODERNAS 
Os perigos que enfrentamos derivam mais do mundo que da natureza.É o 
que ocorre, por exemplo, com o risco ecológico. 
 14 
A ameaça de violência militar permanece, mas seu caráter foi alterado 
substancialmente. A ameaça de um conflito nuclear acarreta perigos 
nunca antes enfrentados. 
O risco e o perigo também se tornaram secularizados, deixando pouco 
espaço para as influencias divinas, forças mágicas ou espíritos cósmicos. 
 
 
IV. SISTEMAS ABSTRATOS E A TRANSFORMAÇÃO DA INTIMIDADE. 
 
O autor enfatiza que os sistemas abstratos propiciaram um grande nível de segurança na 
vida cotidiana que estava ausente nas ordens pré-modernas. 
É possível constatar que esses sistemas operam com grande eficácia, embora situações de 
pane ou obstáculo possam surgir, originando atitudes de ceticismo ou antagonismo nos 
indivíduos. 
A confiança nesses sistemas é a condição para o distanciamento espaço-tempo e para as 
áreas de segurança na vida cotidiana. 
 
Confiança e relações pessoais. 
 
Para Giddens, a confiança em sistemas abstratos contribui para a confiabilidade da se 
segurança cotidiana, mas não pode fornecer a mutualidade e a intimidade que as relações de 
confiança pessoal oferecem. 
A esse processo, o autor denomina de transformações na intimidade, enfatizando que, em 
muitas explicações sociológicas, ela é resultado da mudança do caráter comunal das ordens 
tradicionais para a impessoalidade da vida social moderna e que esse contraste tem sido retomado 
por três maneiras principais: 
o Numa primeira concepção, o desenvolvimento da modernidade rompe as velhas 
formas de “comunidade” em detrimento das relações pessoais nas sociedades 
modernas. Haveria, assim, uma desinstitucionalização da esfera privada, como 
efeito da precedência das organizações burocráticas e da influência da sociedade 
de massas; 
o As instituições modernas são vistas como tendo assumido grandes áreas da vida 
social, libertando-se do conteúdo que já possuíram. A esfera privada desponta 
como enfraquecida e amorfa; 
o Por fim, a concepção do declínio da comunidade tem sido criticada com base em 
pesquisas que têm sido desenvolvidas em áreas urbanas. Neste sentido, diversos 
autores tentam demonstrar que as cidades modernas fornecem mecanismos para 
gerar formas de vida comunal, muitos deles não disponíveis no período pré-
moderno. 
 
Giddens concorda que a comunidade, no sentido de uma afinidade encaixada ao lugar, 
tem sido destruída em parte na modernidade, embora se possa discutir a extensão desse processo 
em contextos específicos. 
Exemplifica que a constatação de que alguns laços de parentesco permanecem fortes no 
contexto moderno não pode significar que o parentesco desempenha o mesmo papel que 
desempenhou na estruturação da vida cotidiana para a maioria das pessoas. 
 15 
Mais adiante, ele questiona a maneira como essas mudanças afetam as relações de 
intimidade pessoal e sexual, tomando parâmetro as relações de amizade. 
A amizade que nas culturas pré-modernas era institucionalizada com freqüência e vista 
como meio de criar alianças com contragrupos externos potencialmente hostis, na cultura 
moderna aparece como um modo de reencaixe. Nesse sentido, Giddens torna claro que “o oposto 
de ‘amigo’ já não é mais ‘inimigo’, nem mesmo ‘estranho’; ao invés disso, é ‘conhecido’, 
‘colega’, ou ‘alguém que não conheço’” (p. 121). Neste mesmo caminho, a honra é substituída 
pela lealdade, que tem como única base o afeto pessoal e sinceridade é substituída pela 
autenticidade, que se resume a exigência de que o outro seja aberto e bem-intencionado.. 
 
Confiança e identidade pessoal 
Com a evolução dos sistemas abstratos, a confiança em princípios impessoais e em outros 
anônimos é indispensável à existência social. As rotinas organizadas pos sistemas abstratos são 
vazias, amoralizadas. Contudo, para o autor, não se trata de uma simples diminuição da vida 
pessoal em prol de sistemas impessoalmente organizados, “mas numa transformação genuína da 
própria natureza do pessoal” (p. 122). 
Dessa forma, não é correto realçar a impessoalidade dos sistemas abstratos contra as 
intimidades da vida pessoal, pois a vida pessoal e os laços sociais estão muito conectados aos 
sistemas abstratos de longo alcance. Exemplifica-se com a constatação de que as dietas ocidentais 
refletem intercâmbios econômicos globais (“cada xícara de café contem em si toda a historia do 
imperialismo colonial”). 
Nesse contexto, a confiança em pessoas não é enfocada por “conexões personalizadas no 
interior da comunidade local e das relações de parentesco” (p. 123). Ela se torna um projeto a ser 
trabalhado pelas partes envolvidas e “requer a abertura do individuo para o outro” (p. 123). 
Em seguida, Giddens passa a analisar a transição das relações eróticas, associando-as à 
formação do denominado ethos do amor romântico ou individualismo afetivo. O autor 
compreende que, ao invés de estar associado à ascensão das instituições modernas, esse ethos 
mais parece ser uma transição associada à dissolução das formas mais antigas de casamento 
arranjado. 
Nesse contexto, “a confiança pessoal, por conseguinte, tem que ser estabelecida através 
do processo de autoquestionamento: a descoberta de si torna-se um projeto diretamente envolvido 
com a reflexidade da modernidade” (p. 124). 
 
Risco e perigo no mundo moderno 
 
O risco característico da modernidade tem como traços principais: 
 
o A globalização do risco no sentido de intensidade. Ex: a ameaça nuclear pode 
atingir toda a humanidade; 
o A globalização do risco no sentido da expansão da quantidade de eventos que 
afetam todos ou uma grande quantidade de pessoas no planeta; 
o O risco derivado do meio ambiente criado ou da natureza socializada; 
o O desenvolvimento de riscos ambientais institucionalizados. Ex: mercado de 
investimentos; 
o A consciência do risco como risco 
o A consciência bem distribuída do risco; 
 16 
o Consciência da limitação da perícia. 
IV. SISTEMAS ABSTRATOS E A TRANSFORMAÇÃO DA INTIMIDADE (continuação). 
 
Riscos e segurança ontológica 
Giddens inicia o tópico questionando de que maneira os riscos modernos interferem na 
confiança leiga em sistemas peritos e nos sentimentos de segurança ontológica e enfatizando que 
a análise tem que levar em conta que os perigos atuais são inevitáveis, longe de controle (pelos 
indivíduos e pelas organizações), de alta intensidade e que podem ameaçar a vida de milhões de 
pessoas. 
Em seguida indaga como é possível mantermos no primeiro plano dos nossos 
pensamentos a visão de perigos tão assustadores e incontroláveis. A essa questão ele responde 
que a maior parte das pessoas não pode manter esses pensamentos, com exceção daquelas que 
tendem a ser mentalmente perturbadas. Isso ocorre porque esta perspectiva paralisaria a vida 
cotidiana comum. Acrescente que existe a necessidade de seguir com as coisas praticas do dia-a-
dia e que um senso de “destino” retira do individuo o fardo do engajamento numa situação 
existencial que poderia ser perturbadora. 
Contudo, se, por um lado, os riscos de alta-conseqüência e de baixa probabilidade podem 
ser minimizados dentro de uma perspectiva otimista, por outro, eles não podem ser extintos. Para 
demonstrara idéia, o autor traz o exemplo da bomba atômica: mesmo que todas elas fossem 
destruídas, ainda assim, o risco não estaria extinto, pois remanescendo o conhecimento em torno 
da bomba, ela sempre poderá serre construída. 
Noutro diapasão, a invisibilidade que alguns riscos tendem a promover seria a justificativa 
para o seu caráter “acentuadamente contrafatual” (p. 135). E mais... quanto maior o perigo, não 
mensurado em termos de probabilidade, mas de dimensão da ameaça, mais contrafatual ele é. 
Isso ocorre também pela impossibilidade desses riscos serem traduzidos para situações de teste 
empírico. 
 
Reações de adaptação 
Com relação àsreações de adaptação, Giddens entende que não há uma distinção 
significativa entre os indivíduos peritos e os leigos. Elas seriam de quatro espécies: 
o Aceitação pragmática: essa reação envolve uma concentração em “sobreviver”. O 
enfoque não é sair do mundo exterior, mas se concentrar nas tarefas do dia-a-dia. 
Essa posição não está livre de custos psicológicos, pois o entorpecimento por ela 
gerado reflete uma “profunda ansiedade subjacente, que em alguns indivíduos 
emerge conscientemente repetidas vezes” (p. 137). 
o Otimismo sustentado: consiste na permanência das atitudes do iluminismo - na 
manutenção de uma fé na razão providencial a despeito de todos os perigos. É a 
postura daquele que acredita que podem ser encontradas soluções sociais e 
tecnológicas para os problemas globais. Essa perspectiva tem muito prestigio no 
ambiente leigo porque oferece uma convicção de que a ciência traz fontes de 
segurança a longo prazo. 
o Pessimismo cínico: para Giddens, essa reação pressupõe um envolvimento direto 
com as ansiedades provocadas pelos perigos de altas-conseqüências. Ele não 
significa indiferença nem o mau agouro. Seria mais “um modo de amortecer o 
impacto emocional das ansiedades através de uma resposta ou humorística ou 
enfastiada do mundo” (p. 138). O pessimismo é criticado pelo autor, para quem, 
 17 
“o pessimismo não é uma formula para a ação, e numa forma extrema leva apenas 
à depressão paralisante” (p. 138). No entanto, se combinado com uma atitude de 
cinismo, teria a sua aspereza aliviada. 
o Engajamento radical: seria uma atitude de contestação prática em relação às 
fontes de perigo. Os seus adeptos defendem que embora estejamos circundados de 
problemas graves e globais, devemos tentar ultrapassa-los ou, pelo menos, 
diminuir o seu impacto. O principal veiculo dessa concepção é o movimento 
social. 
 
Uma fenomenologia da modernidade 
De acordo com a obra, duas abordagens sociológicas têm dominado quando o assunto é 
como viver no mundo da modernidade: 
o Análise de Weber: para esse autor: os laços da racionalidade tendem a ficar cada 
vez mais forte, aprisionando-nos numa gaiola anódica de rotina burocrática. O 
colorido e a espontaneidade da vida moderna estariam aprisionados numa gaiola 
de aço rígido que seria a racionalidade burocrática. Giddens critica a concepção de 
Weber, compreendendo que, embora as instituições modernas sejam marcadas por 
uma rigidez burocrática em diversos contextos, eles estão longe de ser difusos, por 
isso, essa teoria seria inadequada mesmo para explicar as organizações de grande 
escala. Acresce que, ao contrário de produzir uma rigidez, essas organizações 
produzem áreas de autonomia e espontaneidade. 
o Análise de Marx: a modernidade é vista como um monstro. Ela se apresenta como 
um projeto inacabado, mas, como qualquer produto da criação humana, esse 
monstro poderia ser domado. Contudo, o capitalismo seria uma via inadequada 
para conduzir o mundo moderno. 
 
Aproveitando um pouco da construção marxista, Giddens opta pela imagem do “carro 
Jagrená” – “uma máquina em movimento de enorme potência que, coletivamente como seres 
humanos, podemos guiar até certo ponto, mas que também ameaça escapar do nosso controle e 
poderia se espatifar” (p. 140). Esse carro esmaga aqueles que lhe resistem, às vezes parece ter 
um rumo determinado, mas pode mudar repentinamente para direções imprevisíveis. A viagem 
pode ser estimulante, mas, para Giddens, enquanto durar a modernidade, nunca seremos capazes 
de controlar o rumo e a velocidade da viagem. Por isso, também nunca nos sentiremos seguros, 
em face da potencialidade de riscos de alta – conseqüência. 
O autor então, passa a desenhar quatro estruturas de vivencia dialeticamente relacionadas, 
que compõem uma fenomenologia da modernidade: 
o Deslocamento e reencaixe: “a intersecção de estranhamento e familiaridade” (p. 
140). 
o Intimidade e impessoalidade: “a intersecção de confiança pessoal e laços 
impessoais” (p. 140). 
o Perícia e reapropriação: “a intersecção de sistemas abstratos e cognoscibilidade 
cotidiana” (p. 141). 
o Privatismo e engajamento: “a intersecção de aceitação pragmática e ativismo” (p. 
141). 
 
 18 
Desabilitação e reabilitação da vida cotidiana 
Consoante o pensamento de Giddens, a perícia é parte da intimidade no contexto da 
modernidade. Isso pode ser exemplificado com as diversas formas de psicoterapia e 
aconselhamento e com o grande numero de obras e de programas de televisão a nosso alcance, 
que tentam passar “informações técnicas” sobre relacionamentos. 
Contudo, ele discorda da tese habermasiana no sentido de que essa integração entre 
perícia e intimidade significa uma colonização dos sistemas abstratos sobre o mundo da vida 
preexistente. Para tanto, apresenta duas razões: 
o “As instituições modernas não se implantam no mundo da vida, cujos 
resíduos permanecem muito semelhantes ao que sempre foram” (p.144). as 
alterações na natureza da vida cotidiana também interferem nos mecanismos de 
desencaixe. 
o A perícia técnica é constantemente reapropriada por agentes leigos como 
parte da sua atuação cotidiana com os sistemas abstratos. Se nós não podemos 
nos tornar peritos em todo o conhecimento existente na atualidade, por outro lado, 
ao travarmos contato com os sistemas abstratos, terminamos dominando alguns 
princípios sobre os quais eles se baseiam. 
 
O sociólogo também critica a suposição de alguns sociólogos de que, diversamente do 
que ocorria nas culturas tradicionais, o mistério não existe e o modo como o mundo funciona 
pode ser inteiramente conhecido. Ele exemplifica: “quantos de nós hoje em dia, ao ascendermos 
o comutador de luz, sabemos de onde vem o fornecimento de energia elétrica ou mesmo, num 
sentido técnico, o que é realmente a eletricidade” (p. 145). 
O autor nota, porém, que esse processo de reapropriação da perícia técnica não aumenta o 
sentimento de controle seguro para o indivíduo comum sobre as circunstancias da vida cotidiana 
e somos nós, pessoas leigas na maior parte dos sistemas peritos, que devemos conduzir o carro do 
Jagrená. 
Dentro deste contexto, ele considera que um senso de sobrevivência não pode estar 
ausente de nosso pensamento. Contra as profundas ansiedades que esses riscos de alta-
conseqüência podem produzir, o agir-como-de-hábito atua como mecanismo estabilizador da 
confiança e da segurança ontológica. 
Contudo, os riscos de alta-conseqüência não são apenas contingências remotas. Alguns 
deles se impõem no âmago das atividades cotidianas. Para Giddens, “a mistura de risco e 
oportunidade é tão complexa e muitas circunstancias envolvidas que é extremamente difícil para 
os indivíduos saberem até onde atribuir confiança a prescrições ou sistemas específicos e em que 
medida suspendê-la” (p. 148). Isso ocorre frequentemente com os alimentos. 
 
V. CONDUZINDO O CARRO DE JAGRENÁ. 
No início desse capítulo, Giddens traz algumas questões de capital importância: 
o Como é possível para a humanidade atrelar o carro de Jagrená ou, pelo menos, 
conduzi-lo, de forma a diminuir os perigos e ampliar as oportunidades que a 
modernidade nos oferece? 
o Por que vivemos hoje num mundo tão descontrolado e diferente daquele 
imaginado pelos iluministas? 
o Por que a razão não gerou para nós a previsão e o controle? 
 19 
Em seguida, o autor aponta alguns fatores, já advertindo que nenhum deles relaciona-se 
com a idéia de que não temos mais métodos aptos para sustentar as reivindicações de 
conhecimento: 
o Defeitos de projeto: será que existem defeitos de projeto nos sistemas abstrato que 
nos joga para fora do desenvolvimento que foi projetado? 
o Falha do operador: qualquer sistema abstrato pode falhar em seu funcionamento 
porque quem o opera comete enganos. Ex: acidente de Chernobyl. 
 
Embora esses fatorestenham a sua relevância, para Giddens, as duas influencias mais 
significativas são: as conseqüências involuntárias e a reflexividade ou circularidade do 
conhecimento social. Os defeitos de projeto e a falha do operador integram a categoria das 
conseqüências inesperadas, mas ela é muito mais abrangente. 
o As conseqüências involuntárias: não importa o grau de eficiência do projeto e o 
quanto seus operadores são preparados: as conseqüências da introdução da 
modernidade e do seu funcionamento não podem ser inteiramente previstas, por 
conta da complexidade dos sistemas e ações que constituem a sociedade. 
o A reflexividade ou circularidade do conhecimento social: a razão dessas 
conseqüências involuntárias está na circularidade do conhecimento social. “Em 
condições de modernidade, o mundo social nunca pode formar um meio ambiente 
estável em termos de entrada de conhecimento novo sobre seu caráter e 
funcionamento” (p. 153). O conhecimento novo é reflexivo, porque altera a 
natureza do mundo social, “projetando-o para novas direções” (p. 153). 
Dessa forma, o autor conclui que “não podemos controlar a vida social completamente, 
mesmo considerando que nós mesmos a produzimos e reproduzimos em nossas ações” (p.153). 
 
 
Realismo utópico 
Uma mensagem de otimismo: o texto ressalta que isso não significa que devemos desistir 
das tentativas de governar o carro de Jagrená. Para Giddens, é necessário criar modelos de 
realismo utópico. 
O autor constrói as bases do seu realismo utópico a partir da teoria marxista: 
 
o Assinala, inicialmente, que devemos abandonar a concepção de Marx de que a 
historia tem uma direção geral e converge para um agente revolucionário, o 
proletariado, pois “os interesses dos oprimidos não são uniformes e 
frequentemente colidem entre si” e “as mudanças sociais benéficas com 
freqüência exigem o uso de poder diferencial mantido apenas pelos privilegiados” 
(p. 154); 
o Contudo, o principio marxista de que os caminhos para a mudança social não 
serão viáveis se não estiverem atrelados a possibilidades institucionalmente 
imanentes deve ser mantido. 
 
Prossegue, destacando que uma teoria critica sem garantias no fim do século XX deve: 
o Ser sensível sociologicamente: deve estar atenta às transformações institucionais 
imanentes que a modernidade abre constantemente para o futuro; 
 20 
o Ser geopoliticamente tática: deve reconhecer que compromissos morais e boa-fé 
podem ser perigosos num mundo de riscos de alta – conseqüência; 
o Criar modelos da sociedade boa; 
o Reconhecer que a política emancipatória tem que estar vinculada apolítica da 
vida, ou uma política de auto-realização. 
 
Orientações futuras: o papel dos movimentos sociais 
Giddens reconhece que, como modalidades de engajamento radical com importância 
difusa, os movimentos sociais fornecem elementos para as transformações futuras. Esse papel 
não deve estar restrito ao movimento trabalhista. 
Ele complementa que os movimentos sociais oferecem visões de futuros possíveis, 
mostrando-se como veículos para a sua realização. Contudo, da perspectiva do realismo utópico, 
não são a única base de mudança que pode levar a um mundo melhor. Ele reconhece outras 
forças importantes como: a força da opinião pública, as políticas das corporações de negócios e 
dos governos nacionais e as atividades de organizações internacionais. 
 
Pós-modernidade 
Nesta etapa, o autor tenta identificar os contornos de uma ordem pós-moderna, afirmando 
que ela deve ser institucionalmente complexa, consistindo num movimento para além da 
modernidade. Novamente, o autor distingue quatro dimensões para a mudança: 
o Sistema pós-escassez: segundo Giddens, ir além do capitalismo implica na 
transcendência das divisões de classes produzidas pelos mercados capitalistas. 
Haveria um potencial para um sistema pós- escassez, coordenado mundialmente. Esse 
novo sistema deve passar a largo do dilema entre a liberdade dos mercados (que leva a grandes 
disparidades entre grupos e regiões) e o seu controle centralizado por uma agencia totalmente 
abrangente (que leva ao autoritarismo político). De acordo com o autor: “quando os bens 
principais da vida já não são mais escassos, os critérios do mercado podem funcionar apenas 
como dispositivos de sinalização, ao invés de serem também meios de manutenção da privação 
em larga escala”. 
Giddens observa que a busca pela acumulação capitalista não pode durar eternamente 
porque não é auto-suficiente em termos de recursos. Por isso, essa ordem pós-escassez deve 
trazer alterações significativas nos modos de vida social. As expectativas de crescimento 
econômico contínuo deveriam ser modificadas, além de ser imperativa uma redistribuição global 
deriquezas. 
Esse sistema, mesmo que inicialmente esteja concentrado em algumas áreas do mundo, 
teria que ser coordenado mundialmente. 
o Participação democrática de múltiplas camadas: o sociólogo percebe que “no 
interior dos estados-nação, a intensificação das atividades de vigilância leva a 
pressões crescentes para a participação democrática” (p. 166). Isso seria um 
reflexo da mudança na posição do estado-nação na ordem mundial, com a 
proliferação de novas formas de organização local e de um tipo internacional. 
o Desmilitarização: o autor identifica um certo realismo na previsão de um mundo 
sem guerra. Essa tendência decorreria do processo de industrialização da guerra e 
da posição alterada dos estados-nação na arena mundial. Alem disso, o aumento 
da interdependência global amplia as situações em que interesses semelhantes são 
partilhados por todos os estados. 
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o Humanização da tecnologia: embora os processos de inovação tecnológica e de 
desenvolvimento industrial ainda estejam em aceleração, Giddens percebe 
algumas contracorrentes parcialmente expressas nos movimentos ecológicos e em 
outras esferas. A questão ambiental ingressou na agenda política dos governos e 
deverá confrontar o desenvolvimento para evitar danos sérios e irreversíveis. 
Também entende que como o desafio ambiental é global, as formas de intervenção 
deverão ter base planetária. Deve ser criado um sistema geral de cuidado 
planetário. 
 
Noutro passo, Giddens tenta inventariar os riscos de alta-conseqüência existentes hoje: 
o Crescimento do poder totalitário: as possibilidades para a criação de poder 
totalitário seria o lado sombrio das tendências para um crescente envolvimento 
democrático. 
o Conflito nuclear ou guerra de grande escala: é o único risco de alta 
conseqüência que a humanidade enfrenta num futuro de médio prazo no que tange 
à guerra industrializada. 
o Deterioração ou desastre ecológico: embora apresente um risco menos imediato 
tem conseqüências igualmente perturbadoras 
o Colapso dos mecanismos de crescimento econômico 
 
VI. É A MODERNIDADE UM PROJETO OCIDENTAL? 
No último capitulo, Giddens tenta discutir porque a modernidade seria um projeto 
ocidental. Para responder a essa indagação, afirma que dois complexos organizacionais são 
significativos para o desenvolvimento da modernidade: 
o O estado-nação 
o Produção capitalista sistemática 
Ambos têm suas raízes em características especificas da historia européia e não se 
vinculam a outros períodos históricos ou contextos culturais. Por isso, em termos do modo de 
vida forjado por essas agencias transformadoras, a modernidade seria um projeto ocidental. 
Uma conseqüência fundamental da modernidade é a globalização que, para além de 
representar a difusão das instituições ocidentais através do mundo, trata-se de “um processo de 
desenvolvimento desigual que tanto fragmenta quando coordena – introduz novas forams de 
interdependência mundial, nas quais, mais uma vez, não há ‘outros’” (p. 174). 
Para o autor, contudo, do ponto de vista das suas tendências globalizantes, a modernidade 
não seriapeculiarmente ocidental, pois existe a emergência de uma interdependência mundial e 
de uma consciência planetária. 
Complementa ainda que a modernidade é universalizante não apenas sob o ponto de vista 
de seu impacto global, mas “em termos do conhecimento reflexivamente fundamental a seu 
caráter dinâmico” (p. 174). Sob esse ponto de vista, a modernidade também seria distintivamente 
ocidental.

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