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o poder do verde Está estressado? Olhe para o céu, pise a grama, observe árvores, flores e pássaros. A sugestão parece ingênua, mas é eficiente: vários estudos revelam que o contato com a natureza provoca alterações no humor, melhora a capacidade de concentração e ainda pode aumentar a expectativa de vida por KlausWilhelm O interior de um escâner cerebral não pare-ce o lugar mais adequado para meditar. Otubo do aparelho exala frieza e austeridade,além de ser muito estreito, pode ser até mesmo c1austrofóbico. Por isso, qualquer tentativa científica de verificar as características neurológicas associadas ao estado de paz interior e profundo rela- xamento parece, em princípio, incompatível com o uso do aparelho. Uma equipe de pesquisadores britâ- nicos e alemães, porém, se propôs a verificar até que ponto elementos da natureza propiciam sensações de bem-estar. Os cientistas mostraram a pacientes que estavam em um escâner dois filmes diferentes. Num deles era apresentada a imagem de praia com som de ondas quebrando e, no outro, a de uma estrada movimentada, com ruído de veículos. Aressonância magnética revelou diferenças funcionais na atividade cerebral dos voluntários, de acordo com cada cena. Os 12 participantes que tinham observado a o AUTOR KLAUSWILHELM é biólogo e jornalista científico. 6 I ment érebro I Descinsar é terapêutico filmagem da paisagem natural (praia) apresentaram um aumento marcante na atividade do córtex auditivo, no córtex pré-frontal mediai e no cingulado posterior (as duas últimas estruturas ativadas, entre outras situações, quan- do a pessoa se concentra em si mesma). Ou seja, apesar das condições adversas e inóspitas, o cenário projetado ajudou os pacientes na introspecção. "Ambientes como edifícios ou estradas de concreto dificilmente podem causar esse estado", diz o neurocientista Simon Eickhoff, do Centro de Pesquisa de Jülich. O coordenador do estudo, o neurocientista Peter Woodruff, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, acredita que os exames de imagem usados em neuroci- ência podem contribuir para fornecer informações sobre como criar os parques e jardins de forma que favoreçam o equilíbrio mental. Os resultados da investigação de Woodruff explicam um fenômeno registrado pelo governo dos Estados Unidos em parques nacionais após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Nos dias que se seguiram à tragédia, o número de visitantes de espaços naturais disparou. As pessoas se reuniam nesses lugares para caminhar e refletir. 7 "Os resultados são consistentes com a hipótese de biofilia", diz o cientista Michael Hunter, que também participou do estudo. Segundo a teoria do biólogo Edward O. Wilson, da Universidade Har- vard, temos afinidade inata com todas as coisas vivas. Alguns pesquisadores chegam a propor que precisamos de experiências sensoriais que nos aproximem da terra e do verde da mesma forma que necessita- mos de relações sociais. "O contato com a natureza melhora nossa saúde em todos os sentidos", diz a socióloga lolanda Maas, pesquisadora do Instituto de Saúde e As- sistência Médica em Amsterdã. Ela e seus colegas analisaram dados médicos de uma amostra de 350 mil holandeses e arquivos médicos com 195 diagnósticos clínicos. Com medições de 25 por 25 metros, foi determinado o percentual de áreas verdes dentro de 2 km de cada casa e catalogados como praças os espaços em que a vegeta- ção cobria mais de 50% da superfície. Uma das principais conclusões do es- tudo foi que, quanto mais verde fosse o entorno, menos frequentes eram as doenças cardiovasculares e pulmonares, diabetes, depressão e transtornos de ansiedade entre os habitantes. Ao contrário disso, a pouca percentagem de ambiente natural acelerava o processo de envelhecimento em aproxi- madamente um ano. O efeito é ainda mais visível entre crianças e adultos de baixa renda, provavelmente porque esses grupos são afetados por outros fatores estressantes ou têm poucos recursos para férias e fins de semana longe de casa. Mas o que está por trás dessa estatística? Da amostra de dados não pode ser deduzida uma relação de causa e efeito, embora seja concebível que o ar do campo fortaleça a saúde. Mas é preciso considerar que pessoas em diferentes locais podem ser influenciadas por aspectos que afetam sua condição física, como número de relações sociais e prática de esportes. As relações sociais sugerem um fator interessante: quanto menos verde é o ambiente, menos contatos sociais existem e maior é o sentimento de solidão. Para lolanda Maas, isso explica, pelo menos em 8 I mentecérebro I Descansar é terapêutico parte, a relação entre a saúde e a natureza, levando-se em conta que a proximidade com áreas verdes e praia ajuda a reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão. VITAMINA DA NATUREZA Pesquisas desenvolvidas na Inglaterra e no Japão confirmam que viver perto da natureza aumenta a expectativa de vida. A equipe de Takehito Takano, da Universidade de Tóquio, classificou as áreas verdes dos distritos de Tó- quio segundo dados de 1992.Os pesquisadores questionaram mais de 3 mil pessoas nascidas nos anos 1903, 1908, 1913 e 1918 sobre as suas áreas de residência. Cinco anos depois, 900 entrevistados haviam morrido. Um dado a ser considerado: entre os mortos, a maioria tivera, ao longo da vida, poucas oportunidades para caminhar por áreas verdes próximas a sua casa. Comparações entre indivíduos da mesma idade, sexo, estado civil e nível socioeconômi- co confirmaram a validade do resultado. As consequências de desequilíbrios sociais podem ser compensadas por meio de um am- biente natural, na opinião de pesquisadores como Richard Mitchell, da Universidade de Glasgow, e Frank Popham, de Saint Andrews. Os dois cientistas classificaram por grupos cidadãos britânicos ativos com base em sua renda e a proporção de espaço verde em suas áreas residenciais. Entre 2001 e 2005 foram registradas as mortes. Eles observaram que a relação entre renda e morte foi menor entre os indivíduos que tinham mais natureza em seu ambiente. Ou seja, a pobreza exercia menos influência sobre a expectativa de vida das pessoas que moravam nas proximidades dos ambientes naturais. Os pesquisadores testaram a "vitamina da natureza" em numerosas ocasiões. Em 2008, uma equipe liderada pelo psicólogo Stephen Kaplan, da Universidade de Michigan em Ann Arbor, pediu a 40 voluntários que andassem um bom tempo no centro da cidade ou pelo jardim botânico. Usando um sistema de navegação, Kaplan e seus colaboradores asseguraram que os movimentos foram realizados em uma rota predefinida. Antes e após a caminhada, os participantes responderam a várias avaliações psicológicas. O resultado? Quem andou pelo parque não só se mostrou bem-humorado após o passeio como também apresentou maior capacidade de concentração. Em um teste de memória, lembraram uma vez e meia mais o número de figuras, enquanto voluntários que tinham caminhado pela cidade melhoraram o seu desempenho em apenas meio ponto. Para descartarem a possível influência das condições climáticas, os pesquisadores repe- tiram os testes ao longo de diferentes épocas. O tempo, portanto, não tinha nada a ver com o desempenho cognitivo. Kaplan acredita que os trabalhos confir- mam sua teoria da restauração da atenção. Seu modelo considera duas formas de aten- ção: de um lado, a voluntária, necessária para resolver tarefas relativamente complexas que exigem esforço e implicam alguma tensão (como questões de trabalho, por exemplo); de outro, a atenção espontânea, que usamos quando estamos fascinados por um tema e dificilmente podemos nos desligar dele (em geral nos momentos de lazer). Na opinião de Kaplan, se alguém pre- cisa "recarregar as baterias" da atenção voluntária, deveria dormir ou caminhar na mata ou no campo. Esses locais oferecem estímulos naturais suaves (a qualidadedo ar, o farfalhar das folhas, o canto dos pássaros etc.), permitindo que o cérebro se recupere. Já o excesso do ruído do tráfego e luzes de neon piscando causam a fadiga cerebral. Nessas circunstâncias, o córtex pré-frontal, Acatarata estimula, a floresta rela)(a Cada lugar provoca uma sensação dife- rente. Foi isso que mostrou um estudo desenvolvido em 2010. Uma equipe interdisciplinar liderada pelo biólogo Erwin Frohmann, especializado em psi- cologia e percepção do espaço, pesqui- sador da Universidade de Agricultura, em Viena, registrou reações fisiológicas de 14 voluntários durante a estada de dez minutos de duração em uma flo- resta, em uma paisagem rochosa e nas proximidades de uma cachoeira. Condições físicas do ambiente, como temperatura e pressão, foram monitoradas. Perto da cachoeira, os participantes do experimento mostra- ram-se mais estimulados e atentos e tiveram, em média, seis batidas a mais por minuto do que quando estavam na floresta. Os pesquisadores observaram também que a respiração se tornava mais relaxada, profunda e compassada na área de vegetação mais densa. As respostas fisiológicas no ambiente ro- choso estavam no meio do termo entre os dois outros. Os resultados sugerem que, se a proposta é manter a calma, o ideal mesmo é embrenhar-se no verde; mas por si só, se a ideia for se sentir mais energizado, passar algum tempo numa queda d'água trará melhor re- sultado. Talvez a combinação das duas situações seja bastante interessante. ENTREVISTA José Antonio Corraliza - "Somos os lugares que habitamos" Com a maior conscientização sobre a importância dos ecossistemas e da preservação do planeta, uma nova área de pesquisa vem ganhando força nos últimos anos: a psicologia ambiental. Um dos precursores dessa área é o so- ciólogo José Antonio Corraliza. Doutor em psicologia, ele se interessa pelos aspectos psicossociais e afetivos da interação com o ambiente e pela gestão de áreas naturais protegidas. Professor de psicologia social e ambiental da Universidade Autônoma de Madri, estuda a percepção de paisagens, bem como influências dos locais que frequentamos em nossa saúde física e mental. Entre outras publicações, escreveu Vivência ambiental (Madri, Tecnos, 1987) e organizou Comportamento e ambiente (Madri, 1988). Membro do Comitê Cien- tífico do Congresso Nacional de Psicologia Ambiental na Espanha, coordena vários projetos, como a pesquisa e documentação de crenças ambientais da população espanhola. Na entrevista a seguir, ele explica como a psicologia ambiental analisa os efeitos da natureza sobre a mente. E faz uma afirmação intrigante: "Existe um transtorno de déficit de natureza". Para Corraliza, ao nos afastarmos demais de nossas raízes ancestrais, sofremos prejuízos físicos e mentais, que poderiam ser facilmente evitados com a mudança de hábitos. Mente e Cérebro: Do ponto de vista psíquico, quais são os benefícios de ~ viver em um ambiente natural?IJosé Antonio Corraliza: A natureza ~ é uma referência importante para o !bem-estar humano. Várias pesquisas ~ demonstraram seus efeitos positivos ~ para a saúde mental. Um exemplo é a !pesquisa dos psicólogos Janet Frey Tal- Ibot e Stephen Kaplan, na Universidadeª de Michigan, baseada em experiênciasIde sobrevivência na natureza com a ~ participação de executivos. O acompa- ~ nhamento dos participantes mostrou ~ que as pessoas se adaptaram aos rit- 5 mos naturais. A integração é mais fácil i do que costumamos supor porque já ~ estão impressos em nosso cérebro os 10 I mentecérebro I Descansar é terapêutico ciclos circadianos (do latim, circo, que significa "cerca de", e diem, dia; desig- na o período de aproximadamente 24 horas, sobre o qual se baseia o relógio biológico, influenciado principalmente por variações de luz e temperatura). MeC: Por que a natureza exerce esse poder nas pessoas? José Antonio Corraliza: A explicação é evolutiva. Os seres humanos viveram a experiência de sobrevivência na selva. Na verdade, do ponto de vista da evolu- ção, vivemos em cidades desde ontem. A biofilia fala sobre duas dimensões. Em primeiro lugar, a fase de água (hi- drofilia) e, em segundo, a fase da vege- tação (fitofilia). Água e vegetação são cruciais para a sobrevivência; assim, a desertificação pode causar efeitos trau- máticos sobre as pessoas. Só por isso já é extremamente preocupante o curso de degradação de paisagens. MeC: Quais os benefícios da vida no campo? José Antonio Corraliza: Um deles é que perto da natureza é mais fácil nos recuperarmos de experiências estres- santes. A natureza age como uma defesa psicológica, tem efeito mode- rador do sofrimento psíquico. Embora o estresse seja uma reação normal em situações de ameaça, torna-se um perigo quando dura por um longo tempo. Já foi comprovado que há uma correlação linear e direta entre viver na natureza e capacidade de lidar com uma situação de grande pressão. A natureza não anula o estresse, mas contribui muito para não perpetuá-lo. Uma criança que perde o avô ou que vivencia o divórcio dos pais tem maior capacidade para lidar com a situação se estiver em um ambiente natural. MeC: Que parâmetros são utilizados em psicologia para demonstrar esse benefício? José Antonio Corraliza: A psicologia ambiental fala da hipótese de recupe- ração, que é dividida em dois tipos. Por um lado, temos a restauração efetiva, que se baseia em indicadores de estresse fisiológico. Um exemplo: medimos o tempo que uma pessoa que acaba de praticar esporte leva para recuperar os sinais fisiológicos (pulso, frequência etc.). Verificou-se que indivíduos que observaram uma paisagem natural depois de ter realiza- do um exercício físico se recuperaram na metade do tempo daqueles que assistiram a cenas urbanas. Por outro lado, consideramos a recuperação da capacidade de atenção. Uma cami- nhada no campo ou a contemplação de cenas da natureza contribuem para que a pessoa se acalme e aumente e amplie a concentração. MeC: A partir de que idade os benefí- cios do verde podem ser sentidos? José Antonio Corraliza: Os efeitos be- néficos são observados na população em geral. Mas algumas faixas etárias parecem ser especialmente sensíveis ao contato com a natureza. Em um estudo recente que desenvolvemos com dois grupos de crianças, um de 6 a 9 anos e outro de 9 a 13 anos, descobrimos que para todas elas correr em ambientes com plantas, sob a luz do sol, produz ótimos resultados sobre o humor e a concentração. Entretanto, no primeiro grupo o efeito positivo foi mais evidente. MeC: Que recursos pode ter uma criança com pouco acesso a um am- biente natural? José Antonio Corraliza: Existe um transtorno de déficit de natureza. Esse conceito inclui inúmeros distúrbios físicos, tais como obesidade e hiper- tensão. Etambém sintomas no âmbito mental, como humor deprimido, desâ- nimo, irritação, necessidade exagerada de controle, ansiedade e hiperatividade, que podem estar relacionados à falta de contato com o meio ambiente natu- ralou ser agravados por essa condição. Em estudos que compararam crianças que viveram experiências ao ar livre e outras que desenvolveram atividades com imagens virtuais da natureza (acompanhando vídeos, jogando ou navegando na internet), foi constatado que a pouca proximidade com áreas verdes ou com uma vida desconectada da natureza oferece menos chances de recuperação psicológica. MeC: Há registros de pessoas que comprovadamente adoeceram por falta de natureza? José Antonio Corraliza: No final do século 20, o filósofo ambiental Glenn Albrecht (professor de sustentabilidade da Universidade Murdoch, na Austrá- lia) descreveu dois casos de populações aborígenes da Austrália que sofreram as consequências da mineração de carvão a céu aberto. As alterações dos terrenos pareciam causar nos habi- tantes do lugar distúrbios mentais e emocionais que se caracterizavampor uma espécie de sentimento de perda, não com tanta intensidade emocional, como no caso de luto por um ente querido, mas muito similar. Albrecht cunhou o neologismo "solastalgia", referindo-se à dor pela perda do solo. MeC: Então, a mudança de cenário pode causar um transtorno mental... José Antonio Corraliza: Se o local de residência habitual se torna hostil ou abandonado, uma doença associada com nostalgia e melancolia pode surgir. O estado melancólico pode associar- -se a experiências emocionais arcaicas de angústia e solidão, convertendo-se em um quadro de depressão. Podemos pensar em um distúrbio psicológico re- lacionado com o transtorno do estresse pós-traumático. A degradação dos am- bientes naturais em que vivemos nos afeta porque, de alguma forma, eles fazem parte de nós, estão em nós. So- mos os lugares que habitamos. MeC: Considerando o assunto de outro ponto de vista, um ambiente natural pode servir como um método de tratamento? José Antonio Corraliza: Não podemos ser simplistas. Por si só, o contato com a natureza não é suficiente para o equilíbrio emocional, nem a falta dessa vivência explica distúrbios do mal-estar humano. O que experiências com a natureza propiciam é uma maior capacidade de lidar com o estresse; esse contato exerce efeito moderador e, nesse sentido, terapêutico. Por isso, o ambiente natural deveria ser incorporado na vida cotidiana. MeC: Como é possível introduzir essa "dose de verde" no cinza das grandes cidades? José Antonio Corraliza: É necessário nos aproximarmos da natureza na cidade, ainda que isso só seja possível em "jardins de bolso", em pequenos espaços. É importante que mesmo em grandes cidades as pessoas busquem parques, que as pessoas se responsabi- lizem coletivamente por espaços verdes comuns e também reivindiquem de seus governos o direito a essas áreas. 11 o centro de controle de atenção, se esforça demais, de modo a diminuir o autocontrole. A médica e psicóloga Frances E. Kuo e o arquiteto e paisagista William C. Sulli- van, ambos da Universidade de tllinois em Urbana-Champaign, estudaram como a sobrecarga de estímulos pode ser agressiva para o psiquismo. Eles perguntaram a 145 mulheres de um complexo habitacional po- bre de Chicago sobre as suas relações com seus parceiros. As entrevistadas que viviam em locais cujas janelas se abriam para uma paisagem urbana admitiram comportar-se de forma mais agressiva em seu relaciona- mento em comparação às que viviam em residências com vista para espaços verdes. No entanto, nesse caso é difícil saber qual é a causa e qual é o efeito: pois é possível que, no momento de buscar apartamentos, as mulheres de natureza pacífica tenham dado maior atenção às casas que tinham janelas voltadas para algumas árvores. Além disso, Frances Kuo demonstrou que o contato com a natureza melhora a concen- tração em crianças hiperativas. A pesquisa- dora pediu a 17 crianças com idade entre 7 e 12 anos diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) que corressem em um parque por 20 minutos. Após o passeio, os pequenos voluntários fo- ram submetidos a um teste. O desempenho se mostrou semelhante ao obtido com o uso de ritalina, um medicamento frequentemente usado no tratamento de TDAH. Os passeios por bairros elegantes, no entanto, não pro- porcionaram efeitos vantajosos. Com base nesses resultados, os pesquisadores sugerem que o contato com a natureza seja uma com- plementação importante das terapias mais comuns, como medicação e psicoterapias convencionais. ÁRVORE VIRTUAL Décadas atrás, as crianças passavam grande parte de seu tempo ao ar livre. Hoje, muitos conhecem a natureza apenas graças a docu- mentários de televisão. Considerando-se as condições atuais, poderia o meio eletrônico substituir a experiência real? Em 2008, Kaplan e colegas verificaram que a concentração dos voluntários melhorou depois de terem coloca- do em uma tela imagens de paisagens natu- rais da Nova Escócia durante dez minutos. O mesmo não ocorreu quando lhes mostravam fotografias urbanas de Detroit ou Chicago. Uma equipe de pesquisadores liderada pelo psicólogo Peter Kahn, da Universidade de Washington, comparou os efeitos da na- tureza real com simulações virtuais. Alguns dos indivíduos testados foram a lugares com vista para um parque; outros viram o mesmo cenário em uma tela de plasma gigante; e um MULHERES QUE VIVEM em locais com janelas voltadas para a paisagem urbana admitiram comportar- se de forma mais agressiva com o cônjuge do que aquelas que têm vista para espaços naturais 12 I menlecérebro I Descansar é terapêutico SIMILARÀ RITALlNA: nfvel de concentração de crianças diagnosticadas com déficit de atenção e hiperatividade melhorou de forma significativa depois que elas correram em um parque durante 20 minutos; exercicios em áreas urbanas não provocaram o mesmo resultado terceiro grupo olhou para uma parede em branco. Nesses locais, cada participante re- cebeu tarefas de escritório que deveriam re- solver às pressas sob grande pressão. Houve uma avaliação do tempo que cada voluntário precisou para ter os batimentos cardíacos normalizados após passar por essa situação de estresse. As pessoas que olharam para o parque se recuperaram mais rápido, mas os pesquisadores não detectaram diferença entre aqueles que assistiram na tela e os que olhavam para a parede. No entanto, em um estudo semelhante, a simulação virtual da natureza superou a parede em branco, embora, nesse caso, os pesquisadores não tivessem registrado as medições fisiológicas. Em vez disso, eles perguntaram às pessoas sobre seu bem-estar psicológico e foram apli- cados testes para avaliar o desempenho em tarefas intelectuais. Os resultados indicam que a versão virtual é melhor que nada - mas não é tão boa quanto a natureza de verdade. Na opinião de Kahn, a substituição da natureza com a ajuda de meios tecnológicos esconde um risco: a amnésia ecológica. Adul- tos que viveram por algum tempo em grandes cidades costumam sentir que as consequências da poluição do ar são menos graves do que pensavam os recém-chegados à cidade, conta o psicólogo, que trabalhou com grupos de vo- luntários em Chicago. "Quanto mais a natureza virtual substitui a real, mais a lembrança desta última desaparece da memória coletiva", alerta o psicólogo. Se continuarmos acostumados com essa distância da natureza, talvez uma parte de nossa saúde mental se perca também. ~ PARA SABER MAIS Cidades enlouquecedoras. A. Meyer-Lindenberg. Mente e Cérebro 255, abril de 2014. The state of tranqulllty subJectlve perceptlon Is shaped by contextual modulatlon of audltorycon- nectlvlty. M. D. Hunter et ai.• em Neuroimage. vol. 53, págs. 611-618,2010. The human relatlon wlth nature and technologlcal nature. P.H. Kahn et ai., em Current Directions in Psychological Science. vaI. 18.págs. 37-42. 2009. Chlldren wlth attentlon deflclts concentrate bet- ter after walk In the park. A. F.Taylor e F. E. Kuo, em Journal of Attention Disorders. vaI. 12, págs. 402-409, 2009. Morbldlty Is related to a green IIvlng envlronment. I.Maaset ai.,em Jaurnal of Epidemiology and Com- munity Health. vaI. 63, págs. 967-973, 2009. Effect of exposure to natural envlronment on health Inequalltles: an observatlonal populatlon study. R.Mitchell e F.Papham. em The Lancet, vaI. 372, págs. 1655-1660,2008. 13 00000001 00000002 00000003 00000004 00000005 00000006 00000007 00000008
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