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APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo à disciplina de Literatura Portuguesa! Como você é ou será um profissional das Letras, certamente está familiarizado com a estrutura desta disciplina. Portanto, aproveite esta oportunidade para revisar o conteúdo e aprofundar seus conhecimentos, discutir o assunto e compartilhar experiências com os colegas. Assim, você terá um excelente aproveitamento deste momento. Nesta disciplina você estudará os principais pontos que caracterizam a Literatura Portuguesa e suas implicações na Literatura Brasileira. Ademais, confluir as duas perspectivas dentro dos nossos mais diversos contextos, procurando confrontar as realidades que nos cercam, de forma crítica e ampla, é um dos nossos objetivos. Desejamo-lhe um bom estudo e, sempre que houver dúvidas, não hesite em entrar em contato conosco! Será um prazer ajudar você! SUMÁRIO UNIDADE 1 – DO TROVADORISMO AO ARCADISMO 1. Introdução: Nesta unidade você entrará em contato com as origens da Literatura Portuguesa, desde os seus primórdios até o surgimento do Arcadismo. Nessa caminhada, partiremos do Trovadorismo e perpassaremos pelo Humanismo, pelo Classicismo, pelo Barroco e, finalmente, chegaremos ao Arcadismo. Procurar-se-á mostrar todas as facetas dessas categorias literárias ou pelo menos aquelas mais importantes para o seu entendimento. É óbvio que o caminho a ser percorrido é por demais extenso e pedregoso, com lugares e situações inusitados e desconhecidos, mas com paradas obrigatórias que são puro oásis nesse caminhar. Assim sendo, não é preciso entrar em desespero com tantas informações, mas procurar entrar em compasso simultãneo no momento em que elas forem surgindo para aumentar seu conhecimento acerca da disciplina em questão. Sempre se buscará contrapor a dualidade de realidades entre o passado e o presente, na tentativa de despertar e/ou desenvolver o que de mais importante temos em nós: a nossa capacidade de enxergar o mundo em seus mais plurais aspectos, em uma postura crítico-reflexiva que facilitará, e muito, nossa posição diante dos fatos do mundo. Essa jornada é sua e, dependo do seu esforço, será muito prazerosa! Como disse o “poetinha” Vinícius de Moraes: “É melhor ser alegre que ser triste!” Mãos à obra!!! Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 2. Trovadorismo: A história da literatura portuguesa pode ser estudada sob dois aspectos: 1. aquele que a teoria da história literária nomina evolução literária, ou seja, o da progressão temporal da conservação da língua portuguesa com objetivos estéticos e culturais; e 2. o do entendimento do modo de encarar essa evolução, através das perspectivas críticas e metodológicas que a situam. Em 1, devemos observar: a) que a evolução de uma comunidade se dá em relação mútua à das comunidades vizinhas, ou com aquelas com as quais se tecem relações mais próximas (no caso português, algumas literaturas europeias, como a espanhola, a francesa, a italiana e outras, de acordo com as épocas e os tipos de relacionamento; b) que essa evolução acontece num quadro artístico, cultural, sócio-político e econômico mais amplo, em que a literatura não sofre apenas a passividade mas com o qual intervém, às vezes, de forma ativa; c) que essa evolução se toma compreensível em fases ou séries, e que os manuais de história literária reduzem em termos de periodização, de escolas, de gerações e de movimentos (e que em alguns casos o são, quando existem programas doutrinários defendidos pelos autores, bem como uma certa consciência de grupos semelhantes, raramente coesos), embora manifestem mais claramente, para a compreensão da leitura e da crítica, os aspectos que os identificam. Grupo dos 10: grupo de intelectuais de que faziam parte Eça de Queirós, Carlos Mayer, Guerra Junqueiro, António Cândido, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Carlos Lobo d'Ávila, conde de Arnoso, marquês de Soveral e conde de Ficalho. Em 2, considerem-se as personalidades que tentaram dar conta deste evoluir histórico, escrevendo-o, e assim se inscrevendo na história também, e que analisaremos em três instantes: a) os transportadores de materiais, que reúnem informação e dados conjunturais, por exemplo: Barbosa Machado (séc. XVII), João Gaspar Simões (séc. XX); Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. b) os historiadores da cultura, que vêem a literatura de uma perspectiva preponderantemente historicista (integrando a produção literária na periodização genérica ditada pelas ciências históricas), por exemplo: Teófilo Braga (séc. XIX), António José Saraiva (séc. XX); c) os historiadores da literatura, que enxergam a literatura de um modo predominantemente crítico (guiando-se por critérios estético-ideológicos), por exemplo: Fidelino de Figueiredo, Adolfo Casais Monteiro, Jacinto do Prado Coelho e Óscar Lopes (todos do séc. XX ). Origens da Literatura Portuguesa São em verso e datam do séc. XII as iniciais manifestações da literatura portuguesa e estão reunidas em três coletâneas: o Cancioneiro da Ajuda (séc. XIII), o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional (sendo estes cópias de textos mais antigos). João Soares de Paiva e Paio Soares de Taveirós são os primeiros poetas, sendo da autoria deste último a famosa Cantiga da Garvaia. Direcionando, nas suas origens, à tradição oral, esta produção lírica é disseminada por trovadores (poetas), segréis (instrumentistas) e jograis. Acredita-se que o lirismo medieval passa pela inspiração latina mas se robustece em poesia popular, estabelecendo, nas raízes Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. moçárabes, uma ligação à poesia românica, muito especialmente às cantigas de amigo. No mundo nom me sei parelha mentre me for como me vai, ca ja moiro por vós e ai! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia. Mao dia me levantei que vos entom non vi fea! (Paio Soares de Taveirós, Cantiga da Garvaia - 1.ª estrofe) Quem marca com relevância a ficção da época é o Amadis de Gaula. Editado em Saragoça em 1508. O texto é, provavelmente, subsidiário de um texto português do séc. XV. Novela de cavalaria, com entrecho amoroso e guerreiro que obedece ao melhor das convenções do gênero, destaca-se por um começo de realismo em pormenores da ação e da incipiente psicologia e, sobretudo, pelo ar de sensualidade que une o par amoroso. Ainda hoje não há uma definição acordada sobre sua autoria, quer para o lado português, quer para o lado espanhol, sendo correto aceitar que se trata de uma obra- prima da ficção peninsular. Literatura Oral Constituída pelo Romanceiro (composta por romances populares, que são composições versificadas sobre aventuras guerreiras, sociais ou amorosas, por exemplo: Romance da Nau Catrineta, Santa Iria, O Conde Alemão), bem como pelos Contos Tradicionais (histórias breves de caráter cotidiano, geralmente com intervenção do sobrenatural, por exemplo: História da Carochinha) e por Trovas Populares (que compoem o Cancioneiro, como exemplo: Senhora do Almurtão), com peças, em geral, transmitidas pelo canto. Garrett (de conformidade com o ideal romântico de valorização das origens da nacionalidade e da tradição popular), Teófilo Braga, Leite de Vasconcelos e Consiglieri Pedroso procederam à catalogação destas composições. No século XX, Fernando Lopes Graça apresentou diversas versões musicais dos textos do Cancioneiro e de alguns romances. Generated by Foxit PDF Creator© Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Literatura de viagens A literatura portuguesa de viagens consagra-se na atividade dos descobrimentos marítimos e na necessidade costumeira de registar rotas, condições atmosféricas, acidentes da costa e todos os fatores que pudessem facilitar a repetição e prosseguimento dos percursos efetuados. Assim, os roteiros e os diários de bordo, documentos técnicos para orientação náutica, são os antecessores desta literatura, que, no entanto, principia já nesses textos a emergir em comentários que alargam a pura comunicação descritiva, em registros imaginativos, em descrições surpreendentes ou em segmentos narrativos que dão conta de certo empenho na convergência entre o sujeito perceptivo e o mundo que lhe vai sendo revelado. Livro das Armadas, pormenor [ACIENL] Academia das Ciências de Lisboa Pertencem a este caso, no séc. XVI, o Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira, e o Roteiro do Mar Roxo, de D. João de Castro; porém a obra inicial de interesse decisivo, e importante, é, neste capítulo, o Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama, atribuído a Álvaro Velho, que permanece como um dos textos primordiais de toda a literatura de viagens, seguido da Carta a D. Manuel sobre o Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Aparecem autênticas relações de itinerários e percursos na sequência da regularidade e multiplicação das viagens por mar ou por terra (dado que a sua divulgação era privativa e, em muitos casos, como parece ter acontecido com o texto de Caminha, se tornava confidencial pela política de sigilo dos descobrimentos), contudo inicialmente desencadeados pelas viagens ultramarinas, que unem por vezes o interesse documental a feituras narrativas que adquirem, sobretudo para o leitor de hoje, efeitos de ordem literária. Como exemplos, numa produção que na cultura portuguesa é variadíssima, a Verdadeira Informação do Preste João das Índias (1540), do Pe. Francisco Álvares, o Tratado das Cousas da China (1570), de Frei Gaspar da Cruz, o Itinerário da Terra Santa (1593), de Frei Pantaleão de Aveiro, a Etiópia Oriental (1609), de Frei João dos Santos, ou o Itinerário da Índia por Terra (1611), de Frei Gaspar de São Bernardino. Os escritores canônicos (escrevendo com uma intenção especificamente literária) focaram muitas das suas obras na problemática da viagem dos descobrimentos, como é o caso de Gil Vicente no Auto da Índia e, sobretudo, de Luís de Camões, que dela constrói a trama fundamental em Os Lusíadas. Também os cronistas não podem esquecer páginas que são das mais importantes, mesmo sob a ótica estética, de: Gomes Eanes de Zurara, na Crónica da Guiné e João de Barros, na Ásia. Essa literatura, através da sua proliferação, conhece um gênero específico das nossas letras, o do relato de naufrágios (constituído por uma narrativa específica e exclusiva de naus que naufragam, com descrição detalhada das reações humanas a que o naufrágio traz à tona, e do esforço trágico pela sobrevivência, por vezes frustrado), isso durante a segunda metade do séc. XVI e até mais tarde; o mais antigo que se tem notícia, de 1554, é o do Galeão Grande São João, conhecido por Naufrágio de Sepúlveda, de autor desconhecido; outros, porém, merecem a atenção da análise literária, pela raríssima capacidade de escrita do patético, pela descrição paralela do movimento físico e psicológico, pela aliança de uma crença inabalável na missão militar e religiosa do espírito de conquista com um pendor pessimista e desenganado que neles figuram a contra- epopeia lusíada: Relação do Naufrágio da Nau Santiago, de Manuel Godinho Cardoso, Relação do Naufrágio da Nau São Bento, de Manuel de Mesquita Perestrelo, Relação do Naufrágio da Nau Conceição, de Manuel Rangel. Publicados em folhetos avulsos, foram reunidos, no séc. XVIII, por Bernardo Gomes de Brito, na História Trágico-Marítima, em dois volumes (1735-36). Uma obra fundamental e excepcional destaca-se em toda esta literatura, a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, publicada em 1614, mas escrita antes de 1580. Importante não esquecer a produtividade com que esta literatura executou a posterior produção portuguesa, quer na consagração de topoi (locus) diversos – como no caso do romance marítimo, iniciado entre nós por Francisco Maria Bordalo, com Eugénio, de 1846, e bastante cultivado na segunda metade do século XIX). Também em desenvolvimentos temáticos, que ocupam os vários gêneros e ainda em particularizações que têm a ver com escolhas individuais de autores, bem como também com períodos específicos da cultura, ou de homenagem ou de deploração da época dos descobrimentos, em viagens de exploradores oitocentistas ou de escritores de todas as épocas, em reescritas de fundo ideológico (Afonso Lopes Vieira, Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa, 1940), de evocação nostálgica (Sophia de Mello Breyner Andresen, Navegações, 1988) ou de intenção paródica (António Lobo Antunes, As Naus, 1988). (Fonte: cvc.instituto-camoes.pt/literatura, adaptado) (Mais informações: www.scribd.com/doc/14664396/LITERATURA ) Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Literatura Medieval Trovadorismo (1189/1198) A Canção da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós, iniciou o Trovadorismo português, que termina com Fernão Lopes sendo eleito cronista-mor da torre do Tombo. CONTEXTO HISTÓRICO: · Cristianismo · Cruzadas rumo ao Oriente · Luta contra os mouros · Teocentrismo: poder espiritual e cultural da Igreja · Feudalismo · Monopólio clerical O início das chamadas literaturas de línguas modernas ocorre com a produção dos poetas da Idade Média, conhecidos como trovadores. O termo trovador origina-se de trobadour, que significava “achar”,“encontrar”. Cabia ao poeta “encontrar” a música e adequá-la aos versos. Neste período, as composições eram basicamente compostas para serem cantadas ao som de instrumentos como a lira, a cítara, harpa ou viola, daí serem chamadas de cantigas. Os artistas medievais eram classificados em: • Trovador – geralmente nobre, possuidor de uma cultura erudita, não recebia por suas composições; • Jogral – compositor, saltimbanco ou ator que recebia por suas apresentações; • Segrel – fidalgo decaído que apresentava-se nas cortes, em troca de dinheiro, juntamente com seu jogral. Pode ser considerado um trovador profissional; • Menestrel – artista que servia a uma determinada corte; • Jogralesa ou soldadeira – moça que acompanhava os artistas dançando, cantando e tocando castanholas. O primeiro texto literário português que se tem registro é a“Cantiga Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. da Guarvaia” ou “Cantiga da Ribeirinha” (1189 ou 1198), cantiga de amor de autoria de Paio Soares de Taveirós. O séculos XI e XII são marcados pelo feudalismo, no plano político-econômico e pelo espírito teocêntrico (Deus como o centro de todas as coisas), no plano religioso. A sociedade medieval, composta basicamente pelo clero, nobreza e camponeses, estava estruturada numa relação de suserania e vassalagem, através da qual os vassalos (povo) serviam e obedeciam ao suserano (senhor feudal) em troca de proteção e assistência econômica. Tal estrutura era mantida graças ao teocentrismo, que difundia a idéia de destino, fazendo com que o povo aceitasse sua posição subalterna sem contestação, uma vez que esta era a ordem divina. Este dois traços histórico-culturaisirão influenciar toda a produçãoliterária trovadoresca, não só na poesia mas também na prosa. PRODUÇÃO LITERÁRIA CANTIGAS O que conhecemos da poesia trovadoresca, anterior ao aparecimento da escrita, está contido em obras conhecidas como cancioneiros, manuscritos antigos encontrados a partir do final do século XVIII. Os três mais importantes são: • Cancioneiro da Ajuda ou do Real Colégio dos Nobres – reúne 310 composições, das quais 304 são cantigas de amor foi organizado por D. Dinis e é o mais antigo de todos. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Portugal. • Cancioneiro da Vaticana – reúne 1205 poesias, de autoria de 163 trovadores. Conserva-se ainda hoje na Biblioteca do Vaticano, em Roma. • Cancioneiro da Biblioteca Nacional – também conhecido por Cancioneiro de Colocci- Brancuti, em homenagem a umde seus antigos possuidores. É o mais completo de todos, contendo 1647 cantigas de todos os gêneros. Encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal. Há ainda, segundo alguns estudiosos, as Cantigas de SantaMaria, um cancioneiro de poesias religiosas composto por 426 produções, acompanhadas das respectivas músicas. Toda esta produção poética divide-se em: De amor Líricas De amigo Cantigas De escárnio Satíricas De maldizer Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. PRODUÇÃO LITERÁRIA: PROSA E POESIA Um pouco do trovadorismo galego-português, meados do século XIII. CANTIGA D’AMOR Quando mi-agora for'e mi alongar de vos, senhor, e non poder veer esse vosso fremoso parecer, quero-vus ora por Deus preguntar: Senhor fremosa, que farei enton? Dized' ay! coita do meu coraçon! E dizede-me: en que vus fiz pesar, por que mi-assi mandades ir morrer? Ca me mandades ir alhur viver! E pois m'eu for e me sen vos achar, Senhor fremosa, que farei enton? Dized' ay! coita do meu coraçon! E non sei eu como possa morar u non vir'vos, que me fez Deus querer ben, por meu mal; por en quero saber: e quando vus non vir, nen vus falar, Senhor fremosa, que farei enton? Dized' ay! coita do meu coraçon! Nuno Fernandez Torneol Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. ANÁLISE DO TEXTO Dos trovadores mais sinceros da geração galego-portuguesa. Por motivos que desconhecemos, a mulher decidiu-se pelo afastamento do seu amante para longe do lugar onde ela vive. Essa deliberação é, para o trovador, sinônimo de morte. A humildade, uma das grandes virtudes da romântica cavalheiresca, traduz-se nesta poesia pela obediência do enamorado, disposto como está a cumprir o destino proposto pela dama: Quando mi-agora for’e mi alongar de voz... O trágico não reside apenas no ato de afastar- se dela, de partir para outras terras, mas ainda no fato de alongar-se, de ir para regiões muito distantes. Para a maior intensidade do drama amoroso, os trovadores exploram com muita arte esses pormenores da motivação sentimental. Veja-se ainda o clima aflitivo expresso no refrão, a confirmar esta força criadora daqueles poetas que adivinharam ser o amor a mola essencial da existência: só a mulher lhe poderia dar resposta àquela interrogação pungente: Senhor fremosa, que farei enton? O trovador mostra intuir a perda do objeto amado, o senso do amor profético aponta-lhe a precariedade dos bens que conseguimos. Coita, é o drama passional do trovador. Senhor, forma de tratamento com que o trovador se dirigia à mulher, reminiscência do tratamento feudal dirigido ao suserano. Demonstra a posição de humildade do trovador em relação à dama. U, onde. O restante dá para deduzir. Referência: SPINA, Segismundo. A Lírica Trovadoresca: estudo, antologia crítica, glossário. 2. ed. Rio de Janeiro, Grifo: São Paulo, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1972. Trovadors Galego-portugueses, Cantigas d’Amor; páginas 310 e 311. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. A POESIA DO TROVADORISMO: CANTIGAS Cantigas Líricas Cantigas de Amor Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. amor do trovador pela mulher amada. mulher idealizada. contemplação platônica. uso de “meu senhor”. sofrimento por amor. vassalagem amorosa. amor cortês. estribilho ou refrão. Nas Cantigas de Amor, de origem provençal (Provença região sul da França), o trovador, posicionando-se num plano inferior – como um vassalo, canta o sofrimento pelo amor não correspondido e as qualidades de uma mulher idealizada e inatingível, a quem chama de “mia senhor”. “Senhor fremosa, pois me non queredes creer a coita en que me tem amor, por meu mal é que tan bem parecedes por meu mal vos filhei por senhor e por meu mal tan muito bem oí dizer de vós, por meu mal vos vi pois meu mal é quanto bem vós havedes.” (Martim Soares, século XIII) Quer’eu em maneira de proença! fazer agora um cantar d’amor e querrei muit’i loar lmia senhor a que prez nem fremosura nom fal, nem bondade; e mais vos direi ém: tanto a fez Deus comprida de bem que mais que todas las do mundo val. Ca mia senhor quizo Deus fazer tal, quando a faz, que a fez sabedord e todo bem e de mui gram valor, e com tod’est[o] é mui comunal ali u deve; er deu-lhi bom sém, e desi nom lhi fez pouco de bem quando nom quis lh’outra foss’igual Ca mia senhor nunca Deus pôs mal, mais pôs i prez e beldad’e loor e falar mui bem, e riir melhor que outra molher; desi é leal muit’, e por esto nom sei oj’eu quem possa compridamente no seu bem falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al. (D. Dinis) Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. TRADUÇÃO Quero à moda provençal fazer agora um cantar de amor, e quererei muito aí louvar minha senhora a quem honra nem formosura não faltam nem bondade; e mais vos direi sobre ela: Deus a fez tão cheia de qualidades que ela mais que todas do mundo. Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo quando a fez, que a fez conhecedora de todo bem e de muito grande valor, e além de tudo isto é muito sociável quando deve; também deu-lhe bom senso, e desde então lhe fez pouco bem impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal, mas pôs nela honra e beleza e mérito e capacidade de falar bem, e de rir melhor que outra mulher também é muito leal e por isto não sei hoje quem possa cabalmente falar no seu próprio bem pois não há outro bem, para além do seu. Explicação Voz lírica masculina: “Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo” Tratamento dando à mulher: mia senhor. Idealização da mulher: “a quem honra nem formosura não faltam ” Submissão amorosa excessiva No texto, temos um típico exemplo do amor cortês, com o trovador confessando o seu amor pela mulher, assumindo-a como superior a ele. CANTIGAS DE AMIGO Originárias da Península Ibérica, as Cantigas de Amigo apresentam um eu-lírico feminino, embora fossem produzidas por homens. Nelas a mulher canta a ausência do “amigo”que está afastado, geralmente a serviço do rei ou em guerras. Ao contrário das primeiras, que refletiam a corte, as Cantigas de Amigo descrevem um ambiente pastoril. A moça, ao cantarseus sentimentos, dialoga com a mãe, a amiga e elementos da natureza. “Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! e ai deus, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! e ai Deus, se verrá cedo! Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro! e ai Deus, se verrá cedo!...” (Martim Codax, século XIII) Velida manhana As Cantigas de Amigo eram compostas e cantadas sempre no feminino e tocadas geralmente pelo trovador que as compunha (http://coisasdotromundo.blogs.sapo.pt/11250.html) Tradução do Português arcaico: Velida------- bela Louçana---- elegante Aficado----- atormentado Temudo----- temido Guarei-------viverei em paz Oimais-------desde hoje Firmarei-----declarei Leda---------alegre Constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média, estas composições que se enquadram na poesia trovadoresca, mas que incluem a particularidade de conferirem estatuto de enunciação à mulher, embora sejam sujeitos masculinos a compô-las. Um tipo peculiar de cantigas de amigo é o das paralelísticas, que aliam uma simplicidade de motivos e recursos semânticos ao elaborado arranjo da sua expressão, através de um esquema de repetitividade que enriquece o sentido pelo tom de litania e sugestão encantatória, muitas vezes magoada, perplexa ou interrogativa, que cria. Típicas da poesia galaico-portuguesa, encontram-se também nas cantigas de amor e noutras variedades poéticas medievais, persistindo até muito tarde na literatura medieval. O rei D. Dinis é um dos seus mais famosos cultores: Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. João Zorro, poeta do mar como Martim Codax, é autor de uma barcarola célebre, em composição também paralelística: Em Lixboa sobre lo mar barcas novas mandei lavrar, ay mia senhor velida! Em Lisboa sobre lo lez barcas novas mandei fazer, ay mia senhor velida! Barcas novas mandei lavrar e no mar as mandei deitar, ay mia senhor velida! Barcas novas mandei fazer e no mar as mandei meter, ay mia senhor velida! (João Zorro) · O trovador coloca-se no lugar da mulher que sofre pelo amado que partiu. · mulher concreta-real. · conversa com a natureza. · popular - mulher camponesa. · uso do termo “amigo” = namorado, amante, marido. · paralelismo e refrão. Ai flores, ai flores do verde pinho se sabedes novas do meu amigo, ai deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado, ai deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquele que mentiu do que pôs comigo, ai deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, aquele que mentiu do que me há jurado ai deus, e u é? (…) (D. Dinis) Essas cantigas são denominadas cantigas de refrão, pois repete-se o mesmo verso “ai deus, e u é?”/“ay mia senhor velida” no final de cada cobra. Observe que os versos da primeira cobra recorrem, com alterações formais, mas não de sentido, nas cobras seguintes;. A esse recurso denomina-se PARALELISMO. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Cantigas Satíricas Cantigas de Escárnio · Referências indiretas · Ironia · Ambiguidade (vocabulário de duplo sentido) · Não se revela o nome da pessoa satirizada Produzidas com o objetivo de satirizar as pessoas e os costumes da época, as Cantigas de Escárnio continham uma sátira indireta, marcada por ambiguidades e sutilezas, dificultando a identificação da pessoa atacada. “Ua dona, nom digu’eu qual, non agoirou ogano mal polas oitavas de Natal: ia por as missa oir e ouv’un corvo carnaçal, e non quis da casa sair...” (Joan Airas de santiago, século XIII) Ai, dona fea, fostes-vos queixar que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Dona fea, se Deus mi pardom, pois avedes [a]tam gram coraçom que vos eu loe, em esta razom vos quero ja loar toda via; e vedes qual sera a loaçom: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei em meu trobar, pero muito trobei; mais ora ja um bom cantrar farei, em que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! (Joan Garcia de Guilhade) Tradução Ai, dona feia, foste-vos queixar que nunca vos louvo em meu cantar; mas agora quero fazer um cantar em que vos louvares de qualquer modo; Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. e vede como quero vos louvar dona feia, velha e maluca! Dona feia, que Deus me perdoe, pois tendes tão grande desejo de que eu vos louve, por este motivo quero vos louvar já de qualquer modo; e vede qual será a louvação: dona feia, velha e maluca! Dona feia, eu nunca vos louvei em meu trovar, embora tenha trovado muito; mas agora já farei um bom cantar; em que vos louvarei de qualquer modo; e vos direi como vos louvarei: dona feia, velha e maluca! Explicação: Indiretas: “Ai dona fea! foste-vos queixar” Uso da ironia e do equívoco: “mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via;” No escárnio anterior, o autor promete falar em sua poesia de uma mulher que reclamou dele por nunca tê-la citado ou elogiado numa de suas cantigas. Mas, visivelmente irritado com isso, ele a chama de feia, velha e louca. Cantigas de Maldizer · Sátira direta. · Maledicência. · Uso de palavras obscenas ou de conteúdo erótico. · Citação nominal da pessoa satirizada. Já as Cantigas de Maldizer continham ataques diretos, sem apreocupação de ocultar a identidade da pessoa satirizada, apresentando, muitas vezes, expressões de baixo nível e obscenidades. Marinha, o teu folgar tenho eu por desacertado, e ando maravilhado de te não ver rebentar; pois tapo com esta minha boca, a tua boca, Marinha; e com este nariz meu, tapo eu, Marinha, o teu; com as mãos tapo as orelhas, os olhos e as sobrancelhas, tapo-te ao primeiro sono; com a minha piça o teu cono; e como o não faz nenhum, Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. com os colhões te tapo o cu. E não rebentas, Marinha? (Afonso Eanes de Coton) Explicação: Diretas, sem equívocos: “ Marinha, o teu folgar” Intenção difamatória: “E não rebentas, Marinha?” Palavrões e xingamentos: “com os colhões te tapo o cu” Cu abençoado Agradecendo a divina graça Rezou ao São Judas Tadeu Ajoelhada em belo estado O lindo cu que deus lhe ofereceu E assim rezando ajoelhada Era como melhor se apreciava Aquele belo cu que na aldeia Mais nenhum se lhe aparentava Eram aos magotes os malandros A apreciá-lo em dia de procissão Os caminhos da aldeia ladeavam E no fim faziam fila para confissão Levavam duras penitências Por cobiçarem mulher alheia Por espreitarem com lascívia A liga que culminava a fina meia Nos dias de confissão acorriam Para verem seu lindo cu mimoso Entre risos e trejeitos envergonhados Lançavam olhar malandro e guloso - Áh, tristes penas eu tenho- Dizia envergonhado o abade -deixasse-me a linda donzela Dava-lhe com o badalo de verdade Quadros comparativos entre as cantigas: Cantigas de Amor Cantigas de Amigo - origem provençal - origem galego-portuguesa - eu-lírico masculino - eu-lírico feminino Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. - objeto desejado: a dama, a “senhor” - objeto desejado: o amigo - o homem presta a vassalagem - a mulher sofre pelo amante, namorado amorosa; sofre pelo amor não ausente correspondido – “coita” - mulher idealizada, superior - mulher real, mais concreta - ambiente palaciano (aristocrático) - ambiente rural (popular) Cantigas de Escárnio Cantigas de Maldizer - ataque indireto - ataque direto - predomínio da ironia e do sarcasmo - predomínio de palavras chulas , - crítica a costumes, pessoas e - crítica a costumes, pessoas e acontecimentos acontecimentos - não declaração de nomes - declaração do nome da pessoa criticada PARA APRENDER MAIS!!! AS CANTIGAS TROVADORESCAS **Marta Emília O século XII marca o início da literatura portuguesa. Isso não significa que antes dessa data não pudesse ter ocorrido manifestações literárias escritas. Provavelmente ocorreram, mas delas não se tem documentação. O primeiro documento literário data de 1189 ou 1198. Trata-se da cantiga dedicada a Maria Pais Ribeiro, escrita pelo trovador Paio Soares de Taveirós. Essa cantiga tornou-se conhecida como “Cantiga de Garvaia” ou “A Ribeirinha”. Vamos tentar ler a famosa cantiga em sua versão original1, e que tal ler em voz alta? A RIBEIRINHA No mundo non me sei parelha, Mente me for’ como me vai, Ca já moiro por vós – e ai ! Mai senhor branca e vermelha, Queredes que vos retraia Quando vos eu vi em saia! Mao dia me levantei, Que vos enton non vi feia! E, mia senhor, dês quel di’, ai! Me foi a mi muin mal, E vós filha de Don Paai Moniz, e bem vos semelha D’aver eu por vós guarvaia, Pois eu, mia senhor,d’alfaria Nunca de vós ouve nen ei Valia d~ua Correa. (Paio Soares de Taveirós) 1 � Paio Soares de Taveirós. In Massaud Moisés. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo, Cultrix, 1998 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Perceberam como a estrutura da língua nos é estranha? Isso se deve por conta das influências das línguas Àrabe, Galega e Castelhano, que a língua portuguesa sofria naquela época. As cantigas foram escritas em galego-português, pois a língua portuguesa só se diferenciou nitidamente da galega ou espanhola no século XV. Vamos agora ler uma adaptação de “A Ribeirinha” por Alexandre Pinheiro Torres. No mundo não conheço ninguém que se compare a mim em infelicidade, Enquanto minha vida continuar como vai indo, porque morro por vós –ai! Minha senhora branca e de faces rosadas, Quereis que vos descreva quando vos vi sem manto! Em infeliz dia me levantei, Pois vos vi bela e não feia. E, minha senhora, desde aquele dia tudo me foi muito mal, Mas vós, filha de Dom Paio Muniz, parece-vos satisfatório Que eu ganhe de vós uma garvaia (vestuário luxuoso da corte) Por pintar vosso retrato Na verdade, como prova de amor, nunca recebi de vós Nem um simples valor de uma correia (ou seja, coisa alguma). O período que vai de 1189/1198 a 1434 é chamado de TROVADORISMO. A palavra origina-se do termo TROVADOR, nome dado ao poeta da época que, além de escrever o poema, também compunha a música que o acompanhava. Como os poemas eram feitos para serem cantados, recebiam o nome de CANTIGAS. No acompanhamento utilizavam-se instrumentos musicais como violas, flautas, harpa, a lira e o alaúde. As cantigas eram feitas para serem ouvidas e não somente para serem lidas. A força da cultura oralizada era grande nessa época, visto que nem todos sabiam ler ou escrever. As CANTIGAS formavam o conjunto da POESIA da época, e elas se dividem em: 1) Cantiga lírico-amorosa ---------- a) cantiga de amor ----------b) cantiga de amigo 2) Cantiga de satírica --------------a) cantiga de escárnio --------------b) cantiga de maldizer Iluminura medieval Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. A CANTIGA DE AMOR Você vai ler uma cantiga de amor que data do século XII. Observe que muitas palavras e construções sofreram modificações profundas ou nem existem mais. Para facilitar a compreensão da cantiga, apresentamos também uma versão da mesma em Português atual. Leia os dois textos cuidadosamente: A dona que eu am’e tenho por senhor Amostrade-me-a Deus, se vos em prazer for, Se non dade-me-a morte. A que tenh’eu por lume destes olhos meus E por que choram sempre amostrade-me-a Deus, Se non dade-me-a morte. Essa que Vós fizestes melhor parece De quantas sei, ai Deus, fazede-me a ver, Se non dade-me-a morte. Ai Deus, que me-a fizestes mais Ca mim amar, Mostrade-me-a u possa com ela falar, Se non dade-me-a morte. (Bernal Bonaval) Leia agora uma versão livre da cantiga, em português atual: A mulher que eu amo e que considero minha senhora, Mostrai-me essa mulher, se tiverdes prazer nisso, Deus. Se não, dai-me a morte. Aquela que eu considero como a luz dos meus olhos, E pela qual eles choram sempre, mostrai-me essa mulher, Deus. Se não, dai-me a morte. Aquela que vós fizestes mais bonita Do que todas as que conheci, ai Deus, deixai vê-la. Se não, dai-me a morte. Ai Deus, que me fizestes amá-la mais que a mim mesmo, Mostrai-me onde posso com ela falar. Se não, dai-me a morte. Esses textos nos permitem pensar sobre as cantigas de amor daquela época, vejam só: Essas cantigas falam de amor impossível, pois a mulher pertence a uma classe social superior à do trovador; Revelam um amor cortês, ou seja, um amor relativo à corte, que reflete a estrutura hierárquica do feudalismo; Havia a contenção do sentimento amoroso, que devia manter-se moderado, é a chamada Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. mesura; Era vedado ao trovador a divulgação do nome da amada; Nota-se a presença do refrão; A cantiga de amor não se trata de uma experiência sentimental dos dois amantes, mas de uma aspiração sem correspondência; O trovador comporta-se com sua dama como o vassalo se comporta com seu senhor, prestando-lhe homenagens, fidelidade e humildade. Iluminura medieval Veja o que nos fala o crítico literário Massaud Moisés: Neste tipo de cantiga, o trovador empreende a confissão, dolorosa e quase elegíaca, de sua angustiante experiência passional frente a uma dama inacessível aos seus apelos, entre outras razões porque de superior estirpe social, enquantoele era, quando muito, fidalgo decaído. Os apelos do trovador colocam-se alto, num plano de espiritualidade, de idealidade ou contemplação platônica, mas entranham-se-lhe no mais fundo dos sentidos; o impulso erótico situado na raiz das súplicas transubstancia-se, purifica-se, sublima-se. Vamos ver mais uma: Quer’eu em maneira de proença! fazer agora um cantar d’amor e querrei muit’i loar lmia senhor a que prez nem fremosura nom fal, nem bondade; e mais vos direi ém: tanto a fez Deus comprida de bem que mais que todas las do mundo val. Ca mia senhor quizo Deus fazer tal, quando a faz, que a fez sabedord e todo bem e de mui gram valor, e com tod’est[o] é mui comunal ali u deve; er deu-lhi bom sém, e desi nom lhi fez pouco de bem quando nom quis lh’outra foss’igual Ca mia senhor nunca Deus pôs mal, mais pôs i prez e beldad’e loor e falar mui bem, e riir melhor que outra molher; desi é leal muit’, e por esto nom sei oj’eu quem possa compridamente no seu bem falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al. (D. Dinis) Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Veja agora a tradução para o português dos dias atuais: Quero à moda provençal fazer agora um cantar de amor, e quererei muito aí louvar minha senhora a quem honra nem formosura não faltam nem bondade; e mais vos direi sobre ela: Deus a fez tão cheia de qualidades que ela mais que todas do mundo. Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo quando a fez, que a fez conhecedora de todo bem e de muito grande valor, e além de tudo isto é muito sociável quando deve; também deu-lhe bom senso, e desde então lhe fez pouco bem impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal, mas pôs nela honra e beleza e mérito e capacidade de falar bem, e de rir melhor que outra mulher também é muito leal e por isto não sei hoje quem possa cabalmente falar no seu próprio bem pois não há outro bem, para além do seu. A CANTIGA DE AMIGO - Ai flores, ai flores do verde pino, Se sabedes novas do meu amigo? Ai, Deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, Se sabedes novas do meu amado? Ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, Aquel que mentiu do que pôs comigo? Ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, Aquel que mentiu do que m’á jurado? Ai, Deus, e u é? - Vós me perguntasdes pólo voss’amigo? E eu bem vos digo que é san’e vivo. Ai, Deus, e u é? Vós me perguntades pólo vóss’amado? E eu bem vos digo que é viv’e sano. Ai, Deus, e u é? E eu bem vos digo que é san’e vivo, E será vosc’ant’o prazo saído. Ai, Deus, e u é? E eu bem vos digo que é viv’e sano E será vosc’ant’o prazo passado. Ai, Deus, e u é? (Dom Dinis) Nesse poema a moça conversa com flores de pinheiro, perguntando-lhe sobre seu namorado que está em atividades guerreiras ou militares. Essa cantiga é considerada a Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. mais célebre e divulgada de todas as cantigas medievais. Bela pelo apelo direto aos elementos da natureza, as flores dos pinheiros verdes, que a amiga anima como se estas lhe pudessem responder. O interessante é que as flores lhe dão respostas e lhe dizem que o apaixonado dela se encontra são e salvo. Enquanto a cantiga de amor tem por ambiente o palácio e retrata o amor cortês, a cantiga de amigo passa-se em um ambiente popular, muitas vezes campestre, retratando situações da vida de pessoas do povo. Na cantiga de amigo há sempre um eu-lírico feminino, com o trovador assumindo a voz de uma mulher, geralmente uma jovem do povo que se refere ao seu amado ou amigo, que partiu para a guerra ou embarcou em alguma expedição; em outras manifesta a expectativa da volta do amado, conversando com outras pessoas ( a mãe ou amigas). Há até mesmo o diálogo com elementos da natureza, como as ondas do mar ou flores dos pinheiros, por exemplo. A cantiga de amigo faz diversas referências ao cenário bucólico: o campo, a ribeira ou a praia (de rio ou de mar) A estrutura Quanto à estrutura, a cantiga de amigo é, como a de amor, repetitiva. Quase sempre suas estrofes (de dois ou cinco versos) apresentam refrão. Outra característica formal dessa cantiga é o paralelismo, que consiste na repetição de algumas palavras ou expressões em versos seguintes, na mesma estrofe ou não. Vamos ver agora o que nos fala o crítico Massaud Moisés sobre a cantiga de amigo: Escrita igualmente pelo trovador que compõe cantigas de amor, e mesmo as de escárnio e maldizer, esse tipo de cantiga focaliza o outro lado da relação amorosa: o fulcro do poema é agora representado pelo sofrimento amoroso da mulher, via de regra pertencente às camadas populares ( pastoras, camponesas, etc.). o trovador, amado incondicionalmente pela moça humilde e ingênua do campo ou da zona ribeirinha, projeta-se no íntimo e desvenda-lhe o desgosto de amar e ser abandonada, em razão da guerra ou de outra mulher. O drama é o da mulher, mas quem ainda compõe a cantiga é o trovador: 1) pode ser ele precisamente o homem com quem a moça vive sua história; o sofrimento dela, o trovador é quem conhece, melhor do que ninguém; 2) por ser a jovem analfabeta, como acontecia mesmo às fidalgas. Iluminura medieval do italiano Ambrogio Lorenzetti (1290-1348). Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. A CANTIGA DE ESCÁRNIO Os trovadores não só expressaram seu lirismo amoroso, como também se preocuparam em ridicularizar os costumes da sociedade da época por meio de cantigas satíricas. Empregando uma linguagem bem popular, os trovadores preocuparam-se em denunciar os falsos valores morais de todas as classes sociais da época: senhores feudais, clérigos, povo e eles próprios. Pelo seu valor informativo, essas cantigas apresentam um grande valor histórico, além de demonstrar uma crítica mais irônica e indireta. Vejamos: Foi um dia Lopo jogral A casa d’um infaçon cantar E mandou-lhe ele por Don Dar três couces na garganta, E fui-lhe’escass’a meu cuidar Segundo como El canta. Escasso foi o infançon Em seus couces partir enton, Ca non deu a Lopo enton Mais de três na garganta, E mais merec’o jograron, Segundo como El canta. (Martin Soares) Em português atual: Um dia, foi o jogral Lopo Cantar na casa de um fidalgo inferior, E este lhe mandou como presente Dar três coices na garganta, E foi pouco, a meu ver, Pelo modo como ele cantar. O fidalgo não foi rigoroso Ao mandar dar três coices, Pois mandou dar ao Lopo então Apenas três na garganta, Esse péssimo jogral merecia mais, Pelo modo como ele canta. Cantores que animavam festas palacianas, os jograis recebiam qualquer tipo de retribuição, em geral o direito de permanecer algum tempo sob a proteção do fidalgo, o que não foi o que aconteceu com o jogral “Lopo” da cantiga acima. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Iluminura medieval do italiano Ambrogio Lorenzetti (1290-1348). CANTIGA DE MALDIZER As cantigas de maldizer referem-se a fatos ou ações bastante comprometedoras, sem recorrer a rodeios ou ao emprego de palavras de duplo sentido, chegando muitas vezes, a utilizar um vocabulário francamente obsceno. Aponta diretamenteo nome de quem inspirou a sátira. A corrupção e o adultério são assuntos presentes em grande parte dessas cantigas, por isso trazem o repertório dos costumes da época. Veja um exemplo: Ai dona fea! Foste-vos queixar Que vos nunca louv’em meu trobar Mais ora quero fazer um cantar Em que vos loarei toda via; E vedes como vos quero loar: Dona fea, velha e sandia! Ai dona fea! Se Deus mi pardon! E pois havedes tan gran coraçon Que vos eu loe esta razon, Vos quero já loar toda via; E vedes qual será a lançon: Dona fea, velha e sandia! Dona fea! Nunca vos eu loei Em meu trobar, pero muito trobei; Mais ora já um bom cantar farei Em vos loarei toda via; E direi-vos como vos loarei: Dona fea, velha e sandia! (João Garcia de Guilhade) Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Em português atual: Ai, dona feia, foste-vos queixar De que vos nunca louvo em meu trovar; E umas trovas vos quero dedicar Em que louvada de toda a maneira Sereis; tal é meu louvar: Dona feia, velha e gaiteira. Ai, dona feia, se com tanto ardor Quereis que vos louve, como trovador, Trovas farei e de tal teor Em que louvada de toda a maneira Sereis, tal é o meu louvor: Dona feia, velha e gaiteira. Ai, dona feia, nunca vos louvei Em meu trovar eu que tanto trovei E eis que umas trovas vos dedicarei Em que louvada de toda a maneira Sereis e assim vos louvarei: Dona feia, velha e gaiteira. Com vocês, as palavras do crítico Massaud Moisés sobre as cantigas de escárnio e de maldizer: Essas duas formas de cantiga satírica, não raro escritas pelos mesmos trovadores que compunham poesia lírico-amorosa, expressavam como é fácil depreender, o modo de sentir e de viver próprio de ambientes dissolutos, e acabaram por serem canções de vida boêmia e escorraçada, que encontrava nos meios frascários e tabernários seu lugar ideal. A linguagem em que eram vazadas admitia, por isso, expressões licenciosas ou de baixo-calão: poesia “maldita”, descambando para a pornografia ou o mau gosto. Mas em contrapartida documenta os meios populares do tempo, na linguagem e nos costumes, com uma flagrância de reportagem viva. A cantiga que agora vocês irão ler refere-se às cantigas de escárnio, nas quais se faz presente o uso de palavras de baixo-calão com ênfase numa linguagem jocosa que explora a galhofa e o deboche típicos de uma linguagem simples e coloquial. Agradecendo a divina graça Rezou ao São Judas Tadeu Ajoelhada em belo estado O lindo cu que deus lhe ofereceu E assim rezando ajoelhada Era como melhor se apreciava Aquele belo cu que na aldeia Mais nenhum se lhe aparentava Eram aos magotes os malandros A apreciá-lo em dia de procissão Os caminhos da aldeia ladeavam E no fim faziam fila para confissão Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Levavam duras penitências Por cobiçarem mulher alheia Por espreitarem com lascívia A liga que culminava a fina meia Nos dias de confissão acorriam Para verem seu lindo cu mimoso Entre risos e trejeitos envergonhados Lançavam olhar malandro e guloso - Áh, tristes penas eu tenho - Dizia envergonhado o abade -deixasse-me a linda donzela Dava-lhe com o badalo de verdade (Anônimo) Trovadorismo hoje **Marcelo Marques Dentre as inúmeras concepções de Literatura existentes, uma possível é a que se refere ao fazer literário como um jogo de espelhamento. Os textos existem em relação com outros textos. É o que nos permite falar em intertextualidade. Um poema pode retomar outro, seja para reforçar-lhe ou para contradizer-lhe idéias. É o que nos permite, entre outras coisas, falar de intertextualidade. Nesse texto, indicaremos, brevemente, como nossa música popular se mostra um campo fértil de aproximações com o Trovadorismo, período ora estudado. Nas canções de amigo, como vimos, a voz que enuncia o discurso (ou, para usarmos um termo mais corrente, o eu-lírico) é uma voz feminina que, entretanto, foi elaborada por um homem. Esse dado diz bem do fato de, na arte, a noção de “sinceridade” ser algo imensamente relativo. É oportuno lembrar aqui os versos de um outro português, imenso, Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que devras sente (“Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 164) A dor, no poema, não é mais a dor or iginal, in ic ial; é dor elaborada. A voz, nas cantigas de amigo, mesmo projetada por um homem, pode ser feminina. Mas isso é coisa que as aulas já nos tem dito. O nosso interesse, aqui, está em perceber como algumas dessas práticas trovadorescas podem ser associadas a alguns exemplares de nossa mús ica popular. Abaixo, uma cantiga de amigo de autoria de D, Dinis , em que o diálogo da amada com a natureza, na busca por notícias do amado (carac terís tica de parte dessas cantigas), faz-se presente: Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Ai flores, ai f lores do verde pinho se sabedes novas do meu amigo, ai deus, e u é? Ai f lores, ai f lores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado, ai deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquele que mentiu do que pôs comigo, ai deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, aquele que mentiu do que me há jurado ai deus, e u é? (…) (D. Din is) Uma rápida anál ise nos permite ver: a repetição de elementos (“Ai , f lores...”, “a i deus, e u é?”) , a ausência da pessoa amada como motor do discurso poético, a conversa com um elemento da natureza. Tendo em mente essas características, observemos agora a composição abaixo: JUAZEIRO (Luiz Gonzaga e Humberto Teixei ra) Juazeiro, Juazeiro me arresponda, por favor Juazeiro, velho amigo, onde anda meu amor? Ai, Juazeiro, ela nunca mais voltou diz, Juazeiro, onde anda meu amor? Juazeiro, não te alembras quando nosso amor nasceu? toda tarde, à tua sombra, conversava ela e eu Ai, Juazeiro, como dói a minha dor diz, Juazeiro, onde anda o meu amor? Juazeiro, seje franco: ela tem um novo amor? se não tem, por que tu choras solidário à minha dor Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Ai, Juazeiro, não me deixe assim doer Ai, Juazeiro, tô cansado de sofrer Juazeiro, meu destino tá ligado junto ao teu no teu tronco tem dois nomes ela mesmo que escreveu Ai, Juazeiro, eu não guento mais doer Ai, Juazeiro, eu prefiro inté morrer Alguma semelhança de procedimento com a cantiga de D. Dinis? Vejamos: a repetição de elementos (“Ai, Juazeiro”) , a ausência da pessoa amada como motor do discurso poético, a conversa com um elemento da natureza. As características apontadas para a cantiga de amigo anterior se harmonizam com a música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. É importante notar: as aprox imações entre essas peças não se esgotam nos pontos indicados. Devemos nos lembrar de que os textos das canções trovadorescas não eram encontrados em manuais ou aulas de literatura. Esses tex tos eram cantados; seu modo de c irculação era a voz- palavra unida ao instrumento musical. Não é à toa que tais peças se chamam canções. Outro exemplo contemporâneo de possível l ink com o Trovadorismo: ATRÁS DA PORTA Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei, eu te estranhei Me debrucei sobre teu corpoe duvidei E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos No teu peito, teu pijama Nos teus pés, ao pé da cama Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar Pra sujar teu nome, te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que ainda sou tua Percebemos uma mulher que se vê abandonada pelo amado e, como Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. decorrência disso, anuncia seu amargor. Aqui não notamos o uso de um refrão: é como se essa voz percorresse sempre caminhos diversos; a melodia da canção acentua isso. Entretanto, um dado chama a atenção: o seu autor é Chico Buarque. A voz, no arranjo que ouvimos, é de Chico Buarque que diz, ao f inal, “Pra mostrar que ainda sou tua”. Ou seja, não só o compositor assina a canção com um eu-lír ico feminino como também canta, com sua voz de homem, as dores de uma mulher abandonada. Caetano Veloso compôs canções nas quais o eu-lír ico é feminino. Uma das mais famosas é ESSE CARA: Ah! esse cara tem me consumido A mim e a tudo que eu quis Com seus olhinhos infantis Como os olhos de um bandido Ele está na minha vida porque quer Eu estou pro que der e vier Ele chega ao anoitecer Quando vem a madrugada ele some Ele é quem quer Ele é o homem Eu sou apenas uma mulher Os exemplos musicais até agora apresentados se l igam às canções de amigo . Uma experiência interessante com cantigas de amor foi efetuada pelo grupo Legião Urbana, em seu disco intitulado V. Trata-se de uma adaptação mus ical para um tex to de autoria de Nuno Fernandez Torneol, trovador galego-português do século XIII. Fato curioso, essa, que é a primeira música do disco, inti tu la-se LOVE SONG , numa clara referênc ia- tradução às cantigas de amor. Pois nací nunca vi Amor, e ouço del sempre falar. Pero sei que me quer matar, mais rogarei a mia senhor que me mostr'aquel matador, ou que m'ampare del melhor. Pero nunca lh'eu fige ren por que m'el haja de matar; mais quer'eu mia senhor rogar, polo gran med'en que me ten, que me mostr'aquel matador, ou que m'ampare del melhor. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Nunca me lh'eu ampararei, se m'ela del non amparar; mais quer'eu mia senhor rogar, polo gran medo que del hei, que mi amostr'aquel matador, ou que mi ampare del melhor. E pois Amor ha sobre mí de me matar tan gran poder, e eu non o posso veer, rogarei mia senhor assí que mi amostr'aquel matador, ou que mi ampare del melhor. Ouvindo a gravação de Love Song, percebemos que Renato Russo canta somente a primeira estrofe; foi uma escolha da banda, o que nos indica, mais uma vez, que as possibilidades de diálogo entre tempos literários pode se dar de modos os mais diversos. Nesse caso, é possível que, devido ao vocabulário (com palavras um pouco menos identificáveis que as da primeira estrofe), Renato tenha preferido cantar só aquele trecho inicial. Ou terá sido outra a razão? A tradição das cantigas de escárnio e mal dizer, seu espír ito de polêmica e crít ica, podem ser mapeadas em outros momentos de nossa histór ia literária. Gregório de Matos, o famigerado Boca do Inferno, além de sua produção lírico-amorosa e religiosa, escreveu muitos poemas em que detratava as f iguras e/ou os costumes de sua época. É válido ressaltar que Gregório se util izava de uma v iola de cabaça, um instrumento de cordas, para apresentar seus poemas: mais uma vez a ligação da poesia com a música. Em nossa música popular não fal tam exemplos de art istas que se util izaram ou se util izam do humor, da sátira, da crít ica ferrenha como mote de suas composições. Um dos casos mais prolíf icos é o de Juca Chaves (http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/): PENA PRETA DE URUBU Juca Chaves ah! coitada dela Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. mente, mente pra chuchu diz a toda gente que é donzela, que tem um palacete em pacaembú isto, é presunção só dela tentar com classe o golpe do baú, ninguem pode ser pavão de cauda bela, verde amarela, se nasceu com a pena preta do urubu é muito normal que uma menina, queira acontecer na sociedade, a própria vida nos ensina que a pobreza é triste de verdade mas a sociedade compromete, aquilo que se chama de moral pois quem não nasce pra manchete, tem que ser notinha social. Aí! coitada dela! mente, mente pra chuchu diz a toda gente que é donzela que tem um palacete em pacaembú isso, é presunção só dela tentar com classe o golpe do baú, ninguem pode ser pavão de cauda bela, verde amarela, se nasceu com a pena preta do urubu. O MENESTREL (Juca Chaves) Sou músico, poeta, amante menestrel, a arte minha estrada, a espada o meu nariz, canto a liberdade, alguém há de ser feliz, espalho grãos de humor na terra e colho amor no céu. Sou um menestrel, sou um menestrel, sou um menestrel Contra a medíocre imposição da comunicação levanto a voz, não importa quantos eles são. Meu canto é um só mas é por todos nós, meu canto é um só mas é por todos nós. Eu tenho duas cabeças as duas diferentes, ambas inteligentes, as duas sem censura, uso-as diariamente de maneira muito pratica, a de cima a democrática e a de baixo a ditadura, mais ou menos dura! hehe! Esse breve texto objetivou apenas chamar sua atenção para coisas simples. Uma delas é o fato de as divisas entre os estilos literários serem apenas marcações didáticas, utilizadas com o intuito de organizar o conhecimento de modo mais ou menos distintivo. De fato, no fim das contas, os tempos e estilos se misturam, se interpenetram. A idéia de Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. jogos de espelhos, para lembrarmos o início deste texto, é bem vinda nesse sentido. Espero que tenha sido proveitoso pra vocês. A PROSA DO TROVADORISMO Hagiografia: relatos bibliográficos de figuras canonizadas, escritos em latim. Cronicões: relatam, de forma romanceada, os episódios históricos/sociais do século XIV. Livros de linhagem: apresenta a genealogia das famílias nobres. A prosa medieval, posterior à poesia, é representada basicamente pelas novelas de cavalaria, narrativas de cunho cavaleiresco e religioso que contavam as aventuras de grandes reis e seus cavaleiros. Destacam-se entre elas a História de Merlim, José de Arimatéia e a Demanda do Santo Graal. Havia também outros textos em prosa, assim divididos: • Hagiografias – biografias de santos • Livros de Linhagens ou Nobiliários – relatos genealógicos defamílias nobres • Cronicões – livros de crônicas Costuma-se afirmar, didaticamente, que o Trovadorismo termina com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418, marcando o início do Humanismo. Consulte mais na Internet: http://www.geocites.com/athens/thebes/1862/trovadorismo.html http://alfarrabio.um.geira.pt/vercial/trovador.htm http://geocities.com/ink_br/trovadorismo.htm Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Novelas de Cavalaria: · poemas que celebram acontecimentos históricos, trazidos principalmente da França e Inglaterra. Temos três ciclos: a) Ciclo Bretão ou Arturiniano: Rei Artur e Cavaleiros da Távola Redonda. b) Carolíngio: Carlos Magno: Catedral do Império Carolíngio Ao morrer, em 814, CarlosMagno deixou o poder imperial para seu filho Luís I, o Piedoso. No reinado de Luís I, o Império Carolíngio ainda conseguiu manter sua unidade política, mas após sua morte, em 840, o império foi disputado por seus filhos, numa desgastante guerra civil. Pelo Tratado de Verdun, assinado em 843, os filhos de Luís I firmaram a paz. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Arte carolíngia. Os quatro evangelistas, iluminura de c. 820. Catedral de Aachen, Alemanha. c) Clássico: Antiguidade Grecorromana. Templo de Afrodite O Período Clássico estende-se entre 480 a.C. e 359 a.C. e é dominado por Esparta e Atenas. Cada um destas pólis desenvolveu o seu modelo político (a oligarquia militarista em Esparta e a democracia aristocrata em Atenas). Ao nível externo, verifica-se a ascensão do Império Persa Aqueménida, quando Ciro II conquista o reino dos medos. O Império Aqueménida prossegue uma política Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. expansionista e conquista as cidades gregas da costa da Ásia Menor. Atenas e Erétria apoiam a revolta das cidades gregas contra o domínio persa, mas este apoio revela-se insuficiente já que os jônios são derrotados: Mileto é tomada e arrasada e muitos jônios decidem fugir para as colônias do Ocidente. O comportamento de Atenas iria gerar uma reação persa e esteve na origem das Guerras Médicas (490-479 a.C.). Em 490 a.C. a Ática é invadida pelas forças persas de Dário I, que já tinham passado por Erétria, destruindo esta cidade. O encontro entre atenienses e persas ocorre em Maratona, saldando-se na vitória dos atenienses, apesar de estarem em desvantagem numérica. Dário prepara a desforra, mas falece em 485, deixando a tarefa ao seu filho Xerxes I, que invadiu a Grécia em 480 a.C. Perante a invasão, os gregos decidem esquecer as diferenças entre si e estabelecem uma aliança composta por 31 cidades, entre as quais Atenas e Esparta, tendo sido atribuída a esta última o comando das operações militares por terra e pelo mar. As forças espartanas, lideradas pelo rei Leônidas I, conseguem, temporariamente, bloquear os persas na Batalha das Termópilas, mas tal não impede a invasão da Ática. O general Temístocles tinha optado por evacuar a população da Ática para Salamina e, sob a direção desta figura, Atenas consegue uma vitória sobre os Persas em Salamina. Em 479 a.C. os gregos confirmam a sua vitória, desta feita na Batalha de Plateias. A frota persa foge para o mar Egeu, onde, em 478 a.C., é vencida em Mícale. 3. Humanismo: Humanismo (século XV) Vitruvius, Da Vinci INÍCIO: nomeação de Fernão Lopes para cronista-mor da Torre do Tombo. (1418) TÉRMINO: Sá de Miranda traz da Itália a Medida Nova e outras inovações Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. PANORAMA DE ÉPOCA · antropocentrismo: homem como centro do universo. · a poesia independe da música. · transição entre a Idade Média e o Renascimento. · início da ascensão da burguesia. · nova realidade Mercantil. · crise do sistema feudal. · crise na Igreja. · fortalecimento da figura do rei. · resolução de Avis em Portugal. I – Contexto Histórico • transição do Feudalismo para o Mercantilismo: Grandes navegações • crise do teocentrismo e ascensão do racionalismo: preparo para o Renascimento • Revolução de Avis: comprometimento do rei com a burguesia mercantilista II – Prosa: Fernão Lopes • concentra a atenção no rei: psicológico e político • textos concisos e precisos • o povo passa a ser retratado ao lado do rei • análise dos dramas do rei como um ser humano e não como um monarca • estrutura narrativa e estilo caminham com naturalidade e vigor: narração espontânea • preso à verdade histórica • cronistas posteriores apresentaram um retrocesso na linguagem e estilo III – Poesia Palaciana Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. • feita por nobres a para a nobreza, retratando os usos e costumes da corte • desaparecimento das cantigas trovadorescas • empobrecimento em vários aspectos da poesia • Causas: nobreza mais austera, espírito comercial e pobreza temática • Modificações: separação entre texto e música • maior apuro formal: textos com seu próprio ritmo e melodia • Métrica, rima, sílabas tônicas e átonas: surgimento das Redondilhas • Cancioneiro Geral: organizado por Garcia de Resende IV – Teatro de Gil Vicente • criador do teatro português: 1502 – Auto da Visitação • crítica às camadas sociais: nobreza, clero e povo • possui grande religiosidade • demonstra grande carinho e defende o lavrador (vítima da exploração) • teatro de alegorias • teatro de tipos: grande galeria de tipos sociais, sem profundidade psicológica • teatro de quadros: sucessão de cenas independentes • rupturas com a linearidade do tempo • despreocupação com a verossimilhança • teatro cômico e satírico Importante: 𠕇 características medievais: religiosidade, redondilhas, ruptura com as três unidades do teatro clássico (ação, tempo e espaço), etc. 𠕇 características humanistas: presença de figuras mitológicas, crítica social, etc.. PRODUÇÃO LITERÁRIA I) Historiografia Portuguesa: Fernão Lopes · união do literário e do histórico. · crônica histórica. · imparcialidade na visão dos acontecimentos. · interesse pelo lado humano dos acontecimentos que determinaram a história. · critica o rei e os nobres em seus textos. · causas econômicas e psicológicas do processo histórico. · estilo coloquial. · retrato psocológico dos personagens. · três importantes crônicas: Crônica del-Rei D. Pedro, Crônica del-Rei D. Fernando e Crônica del-Rei D. João I II) Teatro Popular: Gil Vicente · iniciador do teatro popular em Portugal: Auto da Visitação. · influência de Juan del Encina. · satiriza o clero, a nobreza e o povo. · retrata os valores populares e cristãos da vida medieval. · critica, de forma contundente, a sociedade. · temas de caráter universal. · tipos humanos: o papa, o clero, o rei, a mulher adúltera, a beata, diabos, velho Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. inocente, judeus, etc. · peças de caráter crítico-social: Quem tem farelos?, O Velho da horta, A Farsa de Inês Pereira, etc.. · peças religiosas: Auto da Alma, Trilogia das barcas, etc.. Explicação das peças: · Quem tem farelos? - história do escudeiro pobre que deseja namorar uma jovem mas é repelido por sua mãe. · O Velho da horta - ridiculariza o velho que se apaixona por uma jovem. · A Farsa de Inês Pereira - fala da mulher que deseja casar (“mais quero um asno que me carregue que um cavalo que me derrube”). · Trilogia das barcas - retrata as almas dos mortos e sua espera pelas embarcações que as levarão ao seu destino: inferno, céu. III) Poesia palaciana: Garcia de Resende · Elaborou o Cancioneiro Geral: compilação de mil poemas publicada em 1516. · Separação da poesia do canto e da música. · Permanece ainda características do estilo das cantigas do Trovadorismo. · Predomínio das redondilhas. · Surgem o mote e a glosa. Mote = tema, assunto Glosa = comentário, interpretação A farsa de Inês Pereira :: Gil Vicente Acredita-se que Gil Vicente tenha nascido por volta de 1465, mas sobre a sua vida pouco se sabe. Pode-se afirmar com certeza que viveu a vida palaciana como funcionário da corte e que possuíabons conhecimentos da língua portuguesa, bem como do castelhano, do latim e de assuntos teológicos. Além de ter colaborado com Garcia de Resende na compilação do Cancioneiro Geral, Gil Vicente escreveu 44 peças, sendo 17 em português, 11 em castelhano e 16 bilíngues. O teatro vicentino é basicamente caracterizado pela sátira, que crítica o comportamento de todas as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo. "A Farsa de Inês Pereira" é considerada a mais completa peça de Gil Vicente. Foi representada no Convento de Tomat em 1523. O tema é dado pelo seguinte provérbio: "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube". A obra pode ser dividida em cinco partes: a primeira é um retrato da rotina na qual se insere a protagonista; a segunda reflete a situação da mulher na sociedade da época, cujos registros são dados pela mãe de Inês, pelo própria Inês e por Lionor Vaz; a terceira mostra o comércio casamenteiro, representado pelos judeus comerciantes e pelo arranjo mercantil de Inês com Brás da Mata; a quarta considera o casamento, o despertar para a realidade, contrapondo-a ao sonho que embalava as fantasias da protagonista e, finalmente, a quinta parte reflete a realidade bruta da qual Inês, experiente e vivida, procura tirar proveito próprio. A peça apresenta uma situação concreta, com uma personagem bem delineada psicologicamente e um fio condutor melhor configurado que as produções anteriores de Gil Vicente. Personagens: Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. • Inês Pereira - típica rapariga vicentina, leviana, ociosa, namoradeira. • Brás da Mata - falso escudeiro, tirano, ambicioso, galanteador. • Lionor Vaz - fofoqueira e alcoviteira. • Pêro Marques - camponês rústico, provinciano, meio bobo, com boas intenções. • Mãe de Inês - religiosa. • Jatão e Vidal - judeus casamenteiros. • Fernando - pajem do escudeiro Brás de Mata. O enredo é simples: uma jovem sonhadora, que passa o tempo todo diante do espelho, a se enfeitar, procura por um casamento nobre com um homem que saiba tanger viola, fugir à rotina doméstica. Por intermédio de Lionor Vaz, alcoviteira e casamenteira, recebe uma carta de um pretendente - Pêro Marques, filho de um camponês rico, homem tolo e ingénuo. Inês admite conhecer pessoalmente a Pêro Marques, que, com seu comportamento rústico, meio aparvalhado, é desprezado por Inês. Contra os conselhos da mãe e da alcoviteira, adeptas de um casamento com um homem rico, a rapariga (Inês) aceita se casar com Brás da Mata, escudeiro pobretão, apresentado a ela por dois judeus casamenteiros. Brás da Mata, representava tudo que Inês queria, era galanteador, dançava e cantava belissimamente. No entanto, os sonhos da heroína são logo desfeitos, porque o marido revela sua verdadeira personalidade, maltratando-a, explorando-a e trancando-a em casa a sete chaves. Brás da Mata parte para longe, como um cavaleiro, e deixa como guarda de Inês o pajem Fernando. Brás da Mata vem a falecer na África. A alcoviteira Lionor Vaz, fingindo-se sensibilizada pela ruína de Inês, apresenta novamente o pedido de casamento de Pêro Marques. Inês, ensinada pela dura experiência, tomando consciência da realidade, aceita o pedido do antigo pretendente. No novo casamento Inês tem liberdade de ação. Disfarçado sob o hábito de religioso, um antigo pretendente de Inês, um falso ermitão, passa a assedia-la. Rapidamente, a jovem aceita a corte do falso ermitão. A farsa termina com o marido (cantado por ela como cuco, gamo e cervo que se podem traduzir ao pé da letra, por "cornudo", "animal chifrudo") levando-a às costas ao atravessarem um rio, sem que ela se molhasse, até a gruta em que vive o ermitão, para um encontro nada ingênuo. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. 4. Classicismo: A Era Clássica Monalisa, Da Vinci Quais são as causas do Renascimento? 𠕇 Temos, por um lado, a queda do prestígio da Igreja e o desenvolvimento das cidades e do comércio, que contribuem para o individualismo da época. 𠕇 Os descobrimentos, possibilitando contato com povos e costumes desconhecidos e com civilizações culturalmente bem diferentes das europeias (ex.: chinesa), vão determinar uma mudança de costumes de crenças. 𠕇 A descoberta da imprensa (meados de séc. XV) vai, por sua vez, permitir uma maior difusão de ideias e notícias, influenciando a alteração das mentalidades. 𠕇 A queda de Constantinopla e a migração de eruditos helenistas para a Itália determinam um maior contato com a cultura clássica (grecolatina). 𠕇 O desejo de autenticidade, aliado a um forte espírito crítico, determina também um novo tipo de estudo e investigação. Contrariamente ao que se passava na Idade Média, começa a fazer-se o estudo dos textos originais, bem como várias traduções da Bíblia (influência do espírito da Reforma). A cultura grecolatina é pois revivificada pelos homens desta época, que nela se inspiram. Pretendem fazer renascer essa cultura antiga – daí o nome de Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. Renascimento pelo qual este período é conhecido. Os humanistas são os promotores deste movimento de renovação. Estes estudiosos laicos inspiram-se no conceito de «humanitas», isto é, numa crença em valores estéticos e morais universalmente humanos. Quais os seus objectivos? 𠕇 A nível pedagógico: combatem a escolástica medieval, pretendendo a realização harmoniosa, equilibrada, das faculdades morais e estéticas do indivíduo. 𠕇 A nível religioso: pretendem o regresso ao cristianismo primitivo (Lutero) ou, pelo menos, a vivência de uma fé mais purificada (Erasmo). Luteranos e Erasmitas condenam igualmente as exterioridades formalistas do culto, o excesso da tutela clerical, a insinceridade ritualista e o fanatismo, desejando uma fé íntima e vivida. 𠕇 A nível social: pretendem a escolha dos dirigentes segundo o seu saber e capacidade; condenam a guerra e expandem o ideal da tolerância. Os humanistas são, pois, estudiosos que recolhem grande parte da sua sabedoria na reflexão sobre textos originais greco-latinos. Daí que, no plano literário, se verifique a adoção, como modelo, das regras, gêneros, formas métricas, recursos estilísticos e disciplina gramatical dos antigos. É por esta razão que se denomina este período, a nível literário de Classicismo. Classicismo Português Mosteiro do Gerônimo, Lisboa Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only. INÍCIO: Sá de Miranda traz da Itália o soneto e outras inovações. TÉRMINO: decadência de Portugal e domínio Espanhol. (1580) PANORAMA DE ÉPOCA: · Renascimento, renovação cultural. · Crescimento da burguesia. · Aumento das atividades econômicas. · Melhoramentos técnicos e invenções. · Grandes navegações. · Arte e cultura grecorromana. · Antropocentrismo. · Surgimento das universalidades. · Reforma e contrarreforma. · Portugal busca novo caminho para as Índias. · Onda de ufanismo. · Racionalismo/universalismo. · Perfeição formal. Burgos Desde o século 14, a Europa preparava-se para a grande transformação política, econômica e cultural que atingiu sua plenitude entre os séculos 15 e 16, assinalando o início dos tempos modernos. Esse período é conhecido como renascimento, porque os homens, preocupados em redescobrir a Antiguidade, viam renascer a cultura antiga que valorizavam em oposição à cultura medieval O teocentrismo medieval (Deus como centro de tudo), cede lugar ao antropocentrismo e à exaltação da natureza humana, pois o homem adquire
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