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2 O Bordado das Mulheres Bakuba

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O BORDADO DAS MULHERES BAKUBA1 
 
Enquanto o trabalho da tecelagem se reserva aos homens, o bordado do tecido cabe 
às mulheres. A mulher é a líder no trabalho do bordado: é ela quem decide quais serão os 
padrões gerais utilizados e as cores, além de coordenar a produção. 
Há um relato na história oral que, por volta do ano 409 d.c., o terceiro monarca 
deste povo foi uma mulher chamada Lobamba e existiram muitas outras chefes lembradas 
na tradição, dentre elas, Ruwej (Lunda), Muadi Kapuk e Ampimin. Isso nos chama a 
atenção para a questão da divisão do trabalho entre os gêneros e da possibilidade de 
ascensão ao poder como características sociais que se modificam através da história. 
As mulheres bakuba possuem um papel relevante na política, muitas vezes 
exercendo cargos de chefia e de sacerdócio. Ainda hoje mulheres artífices se encarregam 
exclusivamente da produção de elegantes tecidos bordados. Muitos deles adornados com 
materiais naturais como búzios, fibras, contas e adereços diversos. 
Entre as formas do bordado, os mais notáveis são os chamados “veludos do Kasai”. 
Eles são fabricados especialmente por um grupo Bakuba chamado Shoowa. Este veludo é 
feito a partir do tecido da ráfia desfibrada que é usado como pano de fundo. O efeito do 
acolchoado na inclusão de camadas têxteis é obtido por um fio muito fino de ráfia, que 
passa por debaixo da tela e surge no topo, onde é posteriormente cortado com uma pequena 
faca. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tradicionalmente, os Bakuba criam suas tintas a partir de materiais naturais. Além 
da cor natural da ráfia, as principais cores de tintas usadas nos tecidos são o amarelo, o 
vermelho, o preto e o branco. O vermelho é obtido do sândalo africano (came de madeira), 
 
1 Texto de apoio para ao Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil para a Exposição: “Panos, Tapas, Joias e 
Adornos D’África. Renato Araújo (araujinhor@hotmail.com ), abril de 2011. 
Mulheres bakuba bordando 
http://shop.walu.ch/shoowa/seiten/tradition-workmanship/ 
http://www.textilesofafrica.com/i_110shoowa/about.html 
 
 
o amarelo vem da árvore Brimstone (nome científico “morinda lucida”), a cor preta é 
retirada da mistura do barro de charco e de fontes vegetais e, por fim, o branco é retirado de 
um mineral chamado caolim. 
Os motivos geralmente são desenvolvidos com uma agulha, e a composição segue o 
critério do paralelismo das cores, estabelecendo e alternando os tons mais claros e os mais 
escuros para realçar as formas. Este trabalho não só é realizado por mulheres, como na 
verdade foram as mulheres as próprias criadoras do “veludo do kasai”. Antigamente, o 
mérito de ser bordadeira era uma tradição reservada às grávidas, que se utilizavam modelos 
para formar os padrões geométricos. Hoje, com a tradição mais difundida, abre-se espaço 
para muitas bordadeiras que podem ou não se utilizar de modelos para criar seus padrões 
bordados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Embora a solução formal desses padrões seja abstrata, alguns pesquisadores 
apontam para a inspiração natural destas formas geométricas. Assim, seriam apreciadas as 
formas naturais como a escamas em zigue e zague de um mamífero chamado pangolim, 
formas do casco de tartaruga ou desenhos chamados “bambi” (antílope) entre outras. Na 
realidade, há mais de 200 tipos de padrões tradicionais (produzidos a partir de arranjos de 
triângulos, hexágonos, quadrados, em xadrez e outras composições) que são transmitidos de 
geração a geração. Em alguns casos, além das insígnias próprias, certas formas geométricas 
que aparecem em tecidos e em outras formas de arte Bakuba são exclusivas de 
determinadas posições sociais. Pode-se também perceber uma relação íntima entre os 
padrões desenvolvidos nos tecidos e os apresentados nas esculturas e na arquitetura. 
Historicamente, as concepções artísticas geralmente reproduziam em parte as formas e os 
motivos das escarificações (que são cicatrizes na pele que servem como indicadores de 
identidade e hierarquia de seu portador). Por outro lado, é difícil definir de onde parte a 
influência principal, pois seu emprego é generalizado. Além de serem impressos na pele e 
nos tecidos, esses motivos podem ser visto em copos e talheres decorativos, em casas, em 
bancos e em muitos outros objetos de arte, pois são signos de identidade. 
Os tecidos mais elaborados eram produzidos ao longo de muitos dias e até meses. 
Dado ao seu alto custo eles eram restritos ao círculo da família real e à casta nobre, 
guerreira ou sacerdotal. Não era incomum a utilização deste tecido como forma de dote de 
Tecido Bakuba 
Dimensão 60 x 341cm 
Acervo: Associação Museu Afro Brasil 
Tecido Bakuba 
Dimensão 54,5 x 2,94 cm 
Acervo: Associação Museu Afro Brasil 
 
 
casamento, escambo ou como forma de pagamento de alguma despesa ou pendência, tais 
como uma doação com objetivo de resolver algum conflito e eliminar tensões ou mesmo 
como um presente no nascimento de uma criança. A beleza, a simetria, o grau de 
sofisticação e a diversidade de padrões e estilos decorativos nos tecidos bakuba são 
igualmente abundantes. Esses tecidos, na medida em que são difundidos por meio dessas 
trocas estimulam o aparecimento de alianças sociais que fortalecem a identidade desse 
povo. É tradição Bakuba que o rei (Nyimi) ou altos dignitários ao falecerem sejam 
enterrados com trajes especiais, com tapetes e outros tecidos que os homenageiam. No caso 
específico do rei, há uma indumentária especial que ele veste somente duas vezes, uma no 
momento da entronização e outra ao ser enterrado com ela. Isso por si só, demonstra o grau 
de importância que esse povo atribui à vestimenta e ao uso dos tecidos em geral. 
 
 
 
 
 
Referências 
 
ADLER, P. & BARNARD, N. African Majesty: The Textile Art of the Ashanti and Ewe. 
Peter Adler and Nicholas Barnard. London, 1992. 
MACK, J. & PICTON, J. African Textiles. London, 1979. 
MEURANT, G. Shoowa Design: African Textiles from the Kingdom of Kuba. Georges 
Meurant. London, 1986. 
SIEBER, R. African Textiles and Decorative Arts. New York, 1972. 
 
Páginas da internet (acessadas em 8/04/2011) 
http://shop.walu.ch/shoowa/seiten/tradition-workmanship/ (Shoowa) 
http://www.textilesofafrica.com/i_110shoowa/about.html (Textiles of Africa) 
http://cool.conservation-us.org/waac/wn/wn08/wn08-1/wn08-102.html (“Kuba Textiles: 
An Introduction”).

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