Buscar

livro a placenta do tempo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
de 
Frédéric 
Grieco 
 
 
 
a 
placenta 
do 
tempo 
 
 
 
 
Editora 
Inexistente 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
Frédéric Grieco 
 
 
 
 
 
a placenta do tempo 
 
(Poesia) 
 
 
 
Segunda Edição 
 
Editora Inexiste 
(2015) 
4 
 
 
GRIECO, Frédéric. a placenta do tempo. 2. ed. Goiânia: Editora Inexistente, 2015. 
Ilustração da capa: Frédéric Grieco, a placenta do tempo, 2014. Óleo sobre tela, 100 cm 
x 50 cm. 
Obra publicada originalmente em 25 de julho de 2015. 
Disponível gratuitamente em PDF, através do “Frédéric Grieco Blogger: um blog 
sobre Arte, Filosofia e Religião” pelo link: fredericgriecoblogger.blogspot.com.br 
 
Goiânia, 6 de outubro de 2015. 
Eu, Frédéric Grieco Deij Moral Gil, autorizo quaisquer formas de divulgação, 
disponibilização virtual, arquivamento, fotocopiação, editoração e impressão integral da 
obra a placenta do tempo, de minha autoria, ao domínio público e universal, abrindo 
mão de quaisquer ressarcimentos financeiros dos meus direitos autorais. 
Plágio e adulterações literárias do livro são moral, artística e legalmente proibidas, 
o que é resguardado pela Lei de número 9610 de 19 de fevereiro de 1998. Adaptações 
artísticas não-plagiárias da obra são livremente permitidas. 
Por questões estéticas-visuais, a disposição numérica das páginas (frente-ímpar e 
verso-par) não deve ser alterada nas futuras edições. 
São consentidas intelectualmente apenas traduções fiéis, de qualidade e sem 
adulterações estéticas-artísticas-ideológicas. 
A comercialização do livro a placenta do tempo, pelo mercado editorial ou por 
outras formas, é permitida, entretanto nenhuma editora, empresa, governo, instituição, 
herdeiro ou indivíduo possui a sua exclusividade de comercialização, divulgação, 
arquivamento, disponibilização virtual, fotocopiação ou impressão integral. Além disso, 
não há a necessidade de quaisquer ressarcimentos financeiros pelos meus direitos 
autorais. Tal obra não possui autoralmente fins lucrativos ou mercadológicos, apesar de 
sua comercialização ser permitida. 
1. Poesia brasileira. I. Grieco, Frédéric, 1993-. II. Título. 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
à Luíza 
à Luíza 
à Luíza Beltrão 
e às horas derretidas na eternidade 
na minha placenta alquebrada de tempo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
“A poesia dá voz à existência simultânea, aos tempos do Tempo, que ela invoca, evoca 
e provoca.” 
(Alfredo Bosi, O ser e o tempo da poesia) 
 
“Vossa linguagem é muito incompleta para exprimir o que está em torno de vós [...]. 
Mas à medida que o homem se esclarece, seu pensamento compreende as coisas que sua 
linguagem não pode exprimir.” 
(O livro dos espíritos, organizado e comentado por Allan Kardec) 
 
“Penetra surdamente no reino das palavras. 
Lá estão os poemas que esperam ser escritos. 
Estão paralisados, mas não há desespero, 
há calma e frescura na superfície intata.” 
(Carlos Drummond de Andrade, Procura da poesia) 
 
“Ouve apenas superficialmente o que digo e da falta de sentido nascerá um sentido novo 
como de mim nasce inexplicavelmente vida alta e leve. A densa selva de palavras 
envolve espessamente o que sinto e vivo, e transforma tudo o que sou em alguma coisa 
minha que fica fora de mim.” 
(Clarice Lispector, Água viva) 
 
“Compositor de destinos 
Tambor de todos os ritmos 
Tempo Tempo Tempo Tempo 
Entro num acordo contigo 
Tempo Tempo Tempo Tempo 
 
Por seres tão inventivo 
E pareceres contínuo 
Tempo Tempo Tempo Tempo 
És um dos deuses mais lindos 
Tempo Tempo Tempo Tempo” 
(Caetano Veloso, Oração ao Tempo) 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
a morte de narciso 
 
a amargura do espelho 
despedaçou-se em vermelho 
no desbotar amarelo 
de tua púrpura marrom 
na insânia dos dentes 
hereges a flutuar 
entre espasmos nas oliveiras 
de tuas tripas no mar 
 
na cobiça de um feto 
malogrado no vento 
de um reflexo homicida 
de teus cacos em flor 
narciso te afoga 
no sangrar de teu sêmen 
narciso te adorna 
no singrar de teu pênis 
narciso te evoca 
no urinar de tua boca 
narciso te espera 
no defecar de tua luz 
 
pétalas mortas caem do tempo em que narciso sangra os suspiros do vento que se 
partem em mil sóis refletindo as luzes da escuridão 
 
narciso se afoga 
narciso se esfacela 
narciso se quebra 
narciso se rompe 
narciso se mata 
 
 
10 
 
há morte e sangue 
num labirinto obscuro e tortuoso de almas no asfalto 
entre lépidas plantas que invadem o cimento nos becos de ruas quebradas nos sonhos 
 
há melancolia e letargia na memória dos sapatos 
na languidez dos relógios 
 
de narciso derretem-se tuas personas em mil sóis e mil luas nas vaginas do silêncio e 
entre as tripas do tempo tu me decais em cerúlea vertigem nos abismos de um jardim de 
esquecimento e sangue 
pois há sangue e sempre houve 
pois há meu futuro perdido 
consumido 
de tua placenta e de teus rins putrefados em rum 
 
narciso morre 
morre narciso 
sobre a misericórdia fria do inferno nas cinzas sanguíneas que renascem nuas dentro de 
mim no amor de nossas vísceras 
 
narciso tripa-me na escuridão verde de teus olhos inexistentes entre nuvens mortas e 
horas partidas na minha alma imortal que morre e se ergue no escarlate que nos cerca 
 
tripa-me 
pois narciso está morto 
narciso está morto 
narciso está morto 
eu estou morto 
pois narciso é o outro 
narciso é outro e outro e outro e outro 
 
e foi então que retornei-me nu a serras certas-incertas a que nunca antes estive depois de 
decair-me em elevação aos mais tortuosos abismos de deus pois até o não-deus é um 
11 
 
deus-em-devir entre os sussurros das estrelas e o vento mais nu do que a própria nudez 
das luzes da escuridão que me decantam 
e me sublimam nu 
 
tempo tempo 
ergo-me nu sobre o tempo que não mais sou 
tempo tempo 
o meu espelho que se partiu em mil sóis 
me fez renascer escarlate de teus cacos em flor 
num poema vencido 
singrando como uma vela derretida no mar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
sangue 
 
o escarlate nos penetra 
entre as cinzas de vapor perdido das horas 
 
o meu sangue pulsa nu 
e canta-me o silêncio de palavras negras 
 
pétalas saem de minha boca rosa 
caem sobre minha pele branca como a escuridão mais alva 
entre luzes e sombras 
 
o grafite em que escrevo é de sangue e flor 
entre os sussurros e o corpo do tempo 
nos reflexos epifânicos de deus 
meus sonhos perscrutam e perpassam minhas veias vivas no meu renascer viril de 
cavalo vermelho-sanguíneo em que penetro-me no escarlate mais azul pois sou sangue e 
vida 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
o silêncio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
osilêncio sussurra as vozes do tempo 
 
as vozes do silêncio 
perscrutam-me ao vento 
sobre árvores retorcidas 
cadentes 
róseas como as estrelas mais azuis 
 
o tempo 
o tempo 
na placenta do tempo 
sob tuas horas nas vertigens do sol 
me tece 
nas memórias de um rio de retalhos e flor 
 
tempo tempo tempo tempo 
 
o tempo é tão inevitável que me escorre dos pés às têmporas do que sou e até do que 
não sou 
 
inevitável e belo 
 
tempo tempo tempo tempo 
 
o tempo morre após nunca ter nascido 
o tempo existe inexistindo na sua própria inexistência de existir 
e eu sou o tempo que se esvai e penetra em mim na morte-sem-morte em plena-implena 
vida alva cadente pulsante e nua 
 
tempo tempo tempo tempo 
 
 
 
 
15 
 
sema 
 
a palavra 
branca como o negro 
vermelha como a noite 
contempla-me plácida 
na íris de teus lábios 
entre os túmulos da memória 
 
num abismo invisível inexistente 
entre mim e ti 
entre a rosa e o vento 
entre as cores e as horas do mar 
entre vós e nós 
entre o suspiro e o grito silente 
entre o uivo e a pele do rio 
entre eu e mim 
há flores cadentes 
há corpos renascidos de águas cerúleas 
há espíritos telúricos 
há placentas de vento 
há cores tortas remanescentes 
há o tempo e os espelhos da morte 
há os círculos etéreos da lua de mil sóis 
há a palavra 
o verbo 
e a luz 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
a íris solar 
 
cera quente torrente na lua 
cera emergida no suspiro da alma 
o sol é a manhã da noite 
a vela é o crepúsculo do mar 
 
nos dias esquecidos dos anjos 
entre os raios de uma nirvana solar 
deus condensa-me em ti 
entre os sinos e as tranças dos céus 
em ondas de luz e silêncio 
em que eu contemplo nu 
numa íris solar 
as cores secretas de deus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
os olhos 
 
óleos a óleos 
 
trilham meus olhos 
no almíscar em que moro 
na névoa que sorve a memória 
nos suspiros de um lago solar 
 
olhos a olhos 
 
renascem no vento na íris do tempo 
nas tintas que movem o destino 
na pele ao som de teus olhos 
 
olhos a óleos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
o lirismo beija tua boca nua 
 
cantar 
cantar 
cantar 
cantar sem ver o que se vê 
cantar o que se vê sem se ver 
cantar o sol na volúpia da lua 
cantar o mundo na boca do mundo na encruzilhada translúcida de mim 
cantar o eu sem mim nos abismos tortos de ti 
cantar o verde-escuro-claro-branco-azul da manhã noturna de deus 
entre a minha-sua-tua pele aberta-incerta 
de vento 
 cor 
 tempo e silêncio 
pois é preciso também cantar o silêncio 
na nua rua nua de teus olhos 
 
 cantar 
morrer 
 e renascer 
renascer sem morrer nas horas vagas inexistentes de viver 
e novamente 
e infinitamente 
cantar o silêncio entre as rosas do mar 
o silêncio de ser-se nu 
inominável 
inefável 
intangível 
num eterno devir que translada notas silentes a sussurrar uma sinfonia fluorescente 
em que me canta o silêncio 
as linhas tortas do tempo 
num lirismo que beija tua boca nua de deus 
 
19 
 
as flores 
 
cantam-me as flores 
as cores 
no cintilar púrpuro dos seios de mil sóis 
na boca verde da lua mais azul 
no calor da pele em que tu és róseo como o mar 
 
e que venha a mim o silêncio de teus olhos 
as cores tortas de teu corpo 
o amor em luz da primavera 
as tranças nuas do tempo 
que nos enlaça em suspiros 
entre passos silentes de augúrios e brisas 
pois cantam-me as cores 
as flores 
 
os sussurros sanguíneos do mar me trazem a ti 
ecoando na minha alma lilás de deus 
cantando as flores das cores 
na minha boca cerúlea cadente 
penetrando amorosamente nos seus seios de vento e cor 
 
volvo-me a ti 
volvo-te a mim 
pois as cores são o sexo de deus 
pois as flores são o ósculo de nosso espírito em volúpia e nudez 
 
e assim 
entre os lábios pueris e frescos da natureza 
cantam-me as flores 
as cores 
cantam-me as cores 
as flores 
20 
 
idílio 
 
a chuva germina 
nas raízes que flutuam no cinza 
na placidez convexa do asfalto 
e em brumas de maçã 
 
sob a lã em que nuvens são pérolas em véu 
augúrios e brisas se irradiam 
verdes como o céu 
 
nos doces seios de uma cadela 
sorvo a seiva bruta 
da terra à boca 
das veias ao tronco 
do sol às plumas 
da primavera à pele 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
a chuva 
 
nas flores cinzas do céu 
nos cabelos verdes do mar 
nos balanços de silêncio na chuva 
na memória do esquecimento do vento 
na lua sublimada no ar 
nas ondas róseas que perpassam mil sóis 
na grama branca das estrelas 
na pupila úmida de deus 
tu és chuva caindo na chuva 
tu és deus caindo dentro e fora de mim 
entre as rosas púrpuras de nuvens que caem dos céus 
nos suspiros gélidos da boca do vento 
tu és deus caindo na chuva 
tu és chuva caindo em deus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
anjos telúricos 
 
anjos telúricos 
sob a minha pele de homem nu 
 
anjos telúricos 
na chuva que decai e cintila a vida cinzenta 
 
anjos telúricos 
no suspirar das ondas do vento 
 
anjos telúricos 
no inspirar das folhas da relva de deus 
 
anjos telúricos 
entre o silêncio das águas dos céus 
e uma negra virgem maçã 
 
anjos telúricos 
na face do tempo amarelo 
que se dissolve num rio abissal 
que decanta minhas mãos rubras de homem e de mulher 
que penetram no amor 
e amando penetram na vida 
e que são plácidos como a lua mais tácita 
 
anjos telúricos 
que percorrem íris verdes 
cerúleas 
telúricas 
como a alma de um pássaro 
que singra entre eu e mim 
nas horas tortas 
úmidas 
23 
 
nuas 
que desabrocham e expiram 
flores raras 
selvagens 
crepusculares 
nas montanhas que se elevam às águas dos céus 
que me chamam 
e me evocam 
anjos telúricos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
crepúsculo 
 
o vento despiu o silêncio nas ruas ermas dos céus e cintilou numa pétala trêmula do mar 
morangos que saíam e penetravam na boca da noite 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
a carne que tu amas 
 
a carne que tu amas é o amor de tua própria carne 
é a vida que me esvai e me volve nua 
é o som de teus olhos 
é o coração negro da vida 
é o suspiro dos olhos da noite 
 
a carne que tu amas 
partiu em vento 
sangue 
e flor 
submergiu nas veias acordes do mar 
cintilou o obscuro romper das ondas 
osculou o amplexo das horas 
cerziu na língua a memória 
penetrou nas tetas da lua 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ejaculou a pele do sol 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
augúrios e onirismosem linhas 
 
a escuridão ilumina a luz de teus olhos 
no futuro que me espera numa esquina de flores esquecidas em adágio 
o amor me é azul como o vermelho mais verde 
e o tempo me decanta 
me decanta 
me decanta 
em pétalas a cintilar 
 
nos seios do vento 
nas ruínas silvestres 
nas chamas celestes 
na volúpia láctea de mil luas e mil sóis 
entre milhas e milhas e milhas 
caminharás por rios incertos de tua alma lilás 
e viverás os sonhos crepusculares das horas etéreas do mar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
eclipse 
 
a estrela fecundou a luz do mar 
 na brisa verde da lua 
 de um morango tecido na íris de um abismo 
 que volveu o cintilar de um violino fluorescente 
 às ondas de uma maçã 
 nos raios verdes 
veludosos 
da memória do sol 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
o vermelho é azul 
 
no cintilar de onirismos em linhas o amplexo em branco é o azul de teu vermelho na 
minha face rubra tua boca cerúlea são retas que se curvam na vertigem das vinhas de 
teus olhos singrando no espelho fundido no âmago das nuvens destiladas na luz em que 
retornarás ao som silente das cores pois o azul é vermelho e o vermelho é azul 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
outrora 
 
outrora serás belo e livre como os rios do sol 
no crepúsculo sinfônico das flores 
 
outrora partirás 
em sangue e cor 
à memória do silêncio 
 
outrora estarás entre a morte dos suspiros do vento 
e o renascer do ventre de deus 
 
outrora viverás o tempo-sem-tempo e a pele-sem-pele em espírito remanescente e nu 
 
outrora amarás entre teus seios 
o som de teus olhos em luz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
à noite 
 
em branca noite escarlate 
folhas amarelas perpassam nuvens de papéis 
sorrisos são maçãs que nascem do sol 
flutuam entre si 
e moram nas raízes de brisas e sombras 
 
em negra-branca noite 
o que és 
foi 
o que não foi 
és 
e o que é 
sempre será 
 
no uivo de um corvo escarlate 
na pele de um vento perdido 
nos seios de um crepúsculo longínquo 
tu és noite silente a cintilar 
nas horas penetrantes e submersas do mar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
estrelas 
 
a memória das estrelas 
 nas paredes do vento 
 migrou entre os pássaros púrpuros da lua 
 e osculou 
 no transladar de cores etéreas e róseas 
o suspirante devir do infinito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
via láctea 
 
o escuro choveu teu pênis 
na vagina de uma flor 
 
a lua comeu o negro 
no amanhecer das cadeiras 
 
os teus seios amamentaram o vento 
em raios de mil tons 
 
o verso penetrou no tempo 
num ninho de um violino rarefeito 
 
o músculo distorceu as horas 
no silêncio das estrelas 
 
as vinhas sublimaram o sol 
no tecer de tuas veias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
os fios do destino 
 
num rio de vasos 
esquecidos nas margens do sol 
enternecidos nos amplexos do mar 
os fios do destino tecem-me nas ondas e no ventre de uma estrela 
as memórias de um aquário 
os seios dos peixes 
as penas de um carneiro 
o azul cerúleo de um touro 
o espelho de vento de mil gêmeos 
a alma verde de um caranguejo 
a breve vida de um leão uterino 
os trópicos derretidos das virgens 
a balança flutuante do tempo 
um escorpião macio e introvertido 
as linhas etéreas de um arqueiro 
 
no romper das cores 
cintilam-me as coisas 
no aglutinar das ruas 
copulam-me as mesas 
cadeiras 
as letras 
ladeiras 
o vento 
pássaro 
a colher 
massa latente 
a mão 
janela cadente 
as moiras 
o destino das flores 
 
34 
 
a lua de mil sóis 
 
a terra se dissolve no renascer dos seios de mil sóis que uma lua osculou no silêncio das 
estrelas num fulgor epifânico de deus 
 
um cavalo mais escarlate que o dia mais escuro que as sinfonias noturnas de deus dança 
entre as tranças ondinas dos céus 
 
 tu és vermelho 
azul 
 amarelo 
 
nas ereções cintilantes de deus as luzes gozam os rios de um amor em acordes de cor e 
silêncio 
 
na minha placenta alquebrada de tempo há caminhos de flores d’água no ejacular de 
borboletas cerúleas há vida e sol na própria noite plácida e rósea em que eu penetro em 
ti e tu penetras em mim no ventre eterno de deus que fecunda uma lua em mil sóis e mil 
sóis em uma lua 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
além 
 
além das flores da lua no sol da manhã 
além do mar no rio do vento incandescente da vida 
além das rosas púrpuras no verde-escuro-claro-azul de meus olhos 
além das ondas cerúleas de teu corpo no tempo 
há os seios do crepúsculo de deus 
 
além do som na vertigem das horas 
além dos espelhos nos rios do tempo 
além da placenta na boca da lua 
além das nuvens no ventre do mar 
há teus olhos nos anjos submersos em flores 
 
além de mim 
além de vós 
além de nós 
há o sol no vento verde das estrelas de teu corpo 
há a lua no mar rosa dos seios de tua alma 
há ruas no ar verde-longínquo da vida 
há espíritos na placenta do tempo das cores 
 
além de ti em mim 
além de mim em ti 
além de vós em nós 
além de nós em vós 
além 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
os dedos róseos da aurora 
 
róseo e azul 
o silêncio e o tempo 
irradiam-se na luz de meu sangue 
sublimam-me nu entre os seios silvestres de mil sóis 
 
nos dias 
nas noites 
nas horas 
e no eterno e branco renascer da vida 
eu estou nu em plena entrega de eu a mim no outro a ti 
eu sou outro 
eu sou o outro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
a cor e o tempo 
 
árvores retorcidas no silêncio 
 
flores alvas do sol vermelho-róseo-verde 
 
areia terra memória e plenitude 
 
papéis e lânguidos sorrisos de amor 
 
a relva 
 
a eternidade-sem-cores-na-própria-cor 
 
o verbo-sem-verbo 
 
o pássaro e a noite mais azul 
 
galhos negros e brancos 
 
a vida pulsa nua e bela 
 
há cor e tempo-sem-tempo-no-tempo 
 
a pele penetra na natureza em si 
 
a natureza penetra em mim na poesia do silêncio 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
as horas 
 
o vento pára no cintilar de um sino 
 
morangos silvestres osculam caminhos de névoas 
 
ponteiros escorrem o esquecimento fundido 
 
papéis fulguram estrelas em madeiras de algodão 
 
 
o grafite memoriza letras quebradas na pele 
 
 
 
o sonho fecunda a realidade em ovários delgados 
 
 
 
 
paredes de espelhos submergem à espera de sóis 
 
 
 
 
 
o homem decanta o licor de seus ossos 
 
 
 
 
 
 
as horas se derretem na eternidade 
39 
 
aprendizagens 
 
aprendi amar o sol que me despe nas ondas do silêncio 
 
aprendiamar os olhos de brisas tépidas-intépidas 
 
aprendi amar o som do veludoso delírio roxo do cheiro do céu 
 
aprendi amar o vinho que o tempo escorre sobre o mar 
 
aprendi amar o vento etéreo a singrar pelas minhas veias 
 
aprendi amar as estradas do tempo entre as nuvens de papel 
 
aprendi amar as rosas de teus olhos nos acordes de deus 
 
aprender 
aprender 
aprender 
a voz 
o silêncio 
o canto 
as abelhas 
e a lua submersa no sol 
 
aprender o sol 
pois o sol é o vento 
pois o vento é o verso 
pois o verso és tu 
pois a vida é um verso na ladeira do sol 
pois a vida é poesia no sopro verde da lua 
pois a vida me olha 
me vê 
me sente 
40 
 
e me é 
 
ver 
sentir 
ser 
 
aprender a ser-se 
aprender a não-ser-se 
aprender 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
eu 
 
sou verbo 
nominativo 
sou mudez silenciosa 
na chuva caída do rio 
 
sou a vogal escarlate na boca da lua 
sou o frio do calor de brisas longínquas de pássaros silvestres 
sou a íris solar no pulsar do músculo das horas 
sou o verso-in-verso no copular das flores e nas chamas do vento 
sou a placenta do tempo na luz da manhã 
sou o albatroz cerúleo que renasce no coração púrpuro do mar 
sou narciso que morre na esquina do tempo 
sou o corpo nu nos espelhos do sol 
sou a inocência incandescente que bebe a luz de tua mão 
sou o sino que canta a maçã de tua voz 
sou o vento que segue os sussurros das estrelas 
 
eu sou eu sou eu sou eu sou 
 
sou pretérito-mais-que-imperfeito-evaporante 
sou o presente do futuro que já passou 
sou pleno-impleno devir que se recria a cada suspiro e sussurro de mim 
sou a eternidade na própria efemeridade 
sou a efemeridade na própria eternidade 
 
eu sou eu sou eu sou eu sou 
 
sou o tempo de mim que me esvai me volve e me envolve 
eu sou o tempo que sempre virá 
eu sou o tempo que sempre se foi 
eu sou o tempo que sempre se é 
 
42 
 
eu sou eu sou eu sou eu sou 
 
eu sou o tempo da vida 
eu sou o tempo da morte 
eu sou a placenta do tempo 
eu sou o tempo 
eu sou 
 
e assim contemplo-me e evoco-me nu num eterno ser e devir 
para que o tempo me seja sem me ser 
que eu seja tu e tu me sejas 
que eu seja vida nua sinfônica e vibrante 
que eu seja tudo e nada 
que eu seja a minha própria imperfeita perfeição 
que eu seja uma simples epifania sussurrante de deus 
que cada dia seja minha própria vida 
que eu expire em onirismos a cada lua 
e renasça novo nu e branco a cada sol

Outros materiais