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1 de Frédéric Grieco a placenta do tempo Editora Inexistente 2 3 Frédéric Grieco a placenta do tempo (Poesia) Segunda Edição Editora Inexiste (2015) 4 GRIECO, Frédéric. a placenta do tempo. 2. ed. Goiânia: Editora Inexistente, 2015. Ilustração da capa: Frédéric Grieco, a placenta do tempo, 2014. Óleo sobre tela, 100 cm x 50 cm. Obra publicada originalmente em 25 de julho de 2015. Disponível gratuitamente em PDF, através do “Frédéric Grieco Blogger: um blog sobre Arte, Filosofia e Religião” pelo link: fredericgriecoblogger.blogspot.com.br Goiânia, 6 de outubro de 2015. Eu, Frédéric Grieco Deij Moral Gil, autorizo quaisquer formas de divulgação, disponibilização virtual, arquivamento, fotocopiação, editoração e impressão integral da obra a placenta do tempo, de minha autoria, ao domínio público e universal, abrindo mão de quaisquer ressarcimentos financeiros dos meus direitos autorais. Plágio e adulterações literárias do livro são moral, artística e legalmente proibidas, o que é resguardado pela Lei de número 9610 de 19 de fevereiro de 1998. Adaptações artísticas não-plagiárias da obra são livremente permitidas. Por questões estéticas-visuais, a disposição numérica das páginas (frente-ímpar e verso-par) não deve ser alterada nas futuras edições. São consentidas intelectualmente apenas traduções fiéis, de qualidade e sem adulterações estéticas-artísticas-ideológicas. A comercialização do livro a placenta do tempo, pelo mercado editorial ou por outras formas, é permitida, entretanto nenhuma editora, empresa, governo, instituição, herdeiro ou indivíduo possui a sua exclusividade de comercialização, divulgação, arquivamento, disponibilização virtual, fotocopiação ou impressão integral. Além disso, não há a necessidade de quaisquer ressarcimentos financeiros pelos meus direitos autorais. Tal obra não possui autoralmente fins lucrativos ou mercadológicos, apesar de sua comercialização ser permitida. 1. Poesia brasileira. I. Grieco, Frédéric, 1993-. II. Título. 5 à Luíza à Luíza à Luíza Beltrão e às horas derretidas na eternidade na minha placenta alquebrada de tempo 6 7 “A poesia dá voz à existência simultânea, aos tempos do Tempo, que ela invoca, evoca e provoca.” (Alfredo Bosi, O ser e o tempo da poesia) “Vossa linguagem é muito incompleta para exprimir o que está em torno de vós [...]. Mas à medida que o homem se esclarece, seu pensamento compreende as coisas que sua linguagem não pode exprimir.” (O livro dos espíritos, organizado e comentado por Allan Kardec) “Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata.” (Carlos Drummond de Andrade, Procura da poesia) “Ouve apenas superficialmente o que digo e da falta de sentido nascerá um sentido novo como de mim nasce inexplicavelmente vida alta e leve. A densa selva de palavras envolve espessamente o que sinto e vivo, e transforma tudo o que sou em alguma coisa minha que fica fora de mim.” (Clarice Lispector, Água viva) “Compositor de destinos Tambor de todos os ritmos Tempo Tempo Tempo Tempo Entro num acordo contigo Tempo Tempo Tempo Tempo Por seres tão inventivo E pareceres contínuo Tempo Tempo Tempo Tempo És um dos deuses mais lindos Tempo Tempo Tempo Tempo” (Caetano Veloso, Oração ao Tempo) 8 9 a morte de narciso a amargura do espelho despedaçou-se em vermelho no desbotar amarelo de tua púrpura marrom na insânia dos dentes hereges a flutuar entre espasmos nas oliveiras de tuas tripas no mar na cobiça de um feto malogrado no vento de um reflexo homicida de teus cacos em flor narciso te afoga no sangrar de teu sêmen narciso te adorna no singrar de teu pênis narciso te evoca no urinar de tua boca narciso te espera no defecar de tua luz pétalas mortas caem do tempo em que narciso sangra os suspiros do vento que se partem em mil sóis refletindo as luzes da escuridão narciso se afoga narciso se esfacela narciso se quebra narciso se rompe narciso se mata 10 há morte e sangue num labirinto obscuro e tortuoso de almas no asfalto entre lépidas plantas que invadem o cimento nos becos de ruas quebradas nos sonhos há melancolia e letargia na memória dos sapatos na languidez dos relógios de narciso derretem-se tuas personas em mil sóis e mil luas nas vaginas do silêncio e entre as tripas do tempo tu me decais em cerúlea vertigem nos abismos de um jardim de esquecimento e sangue pois há sangue e sempre houve pois há meu futuro perdido consumido de tua placenta e de teus rins putrefados em rum narciso morre morre narciso sobre a misericórdia fria do inferno nas cinzas sanguíneas que renascem nuas dentro de mim no amor de nossas vísceras narciso tripa-me na escuridão verde de teus olhos inexistentes entre nuvens mortas e horas partidas na minha alma imortal que morre e se ergue no escarlate que nos cerca tripa-me pois narciso está morto narciso está morto narciso está morto eu estou morto pois narciso é o outro narciso é outro e outro e outro e outro e foi então que retornei-me nu a serras certas-incertas a que nunca antes estive depois de decair-me em elevação aos mais tortuosos abismos de deus pois até o não-deus é um 11 deus-em-devir entre os sussurros das estrelas e o vento mais nu do que a própria nudez das luzes da escuridão que me decantam e me sublimam nu tempo tempo ergo-me nu sobre o tempo que não mais sou tempo tempo o meu espelho que se partiu em mil sóis me fez renascer escarlate de teus cacos em flor num poema vencido singrando como uma vela derretida no mar 12 sangue o escarlate nos penetra entre as cinzas de vapor perdido das horas o meu sangue pulsa nu e canta-me o silêncio de palavras negras pétalas saem de minha boca rosa caem sobre minha pele branca como a escuridão mais alva entre luzes e sombras o grafite em que escrevo é de sangue e flor entre os sussurros e o corpo do tempo nos reflexos epifânicos de deus meus sonhos perscrutam e perpassam minhas veias vivas no meu renascer viril de cavalo vermelho-sanguíneo em que penetro-me no escarlate mais azul pois sou sangue e vida 13 o silêncio 14 osilêncio sussurra as vozes do tempo as vozes do silêncio perscrutam-me ao vento sobre árvores retorcidas cadentes róseas como as estrelas mais azuis o tempo o tempo na placenta do tempo sob tuas horas nas vertigens do sol me tece nas memórias de um rio de retalhos e flor tempo tempo tempo tempo o tempo é tão inevitável que me escorre dos pés às têmporas do que sou e até do que não sou inevitável e belo tempo tempo tempo tempo o tempo morre após nunca ter nascido o tempo existe inexistindo na sua própria inexistência de existir e eu sou o tempo que se esvai e penetra em mim na morte-sem-morte em plena-implena vida alva cadente pulsante e nua tempo tempo tempo tempo 15 sema a palavra branca como o negro vermelha como a noite contempla-me plácida na íris de teus lábios entre os túmulos da memória num abismo invisível inexistente entre mim e ti entre a rosa e o vento entre as cores e as horas do mar entre vós e nós entre o suspiro e o grito silente entre o uivo e a pele do rio entre eu e mim há flores cadentes há corpos renascidos de águas cerúleas há espíritos telúricos há placentas de vento há cores tortas remanescentes há o tempo e os espelhos da morte há os círculos etéreos da lua de mil sóis há a palavra o verbo e a luz 16 a íris solar cera quente torrente na lua cera emergida no suspiro da alma o sol é a manhã da noite a vela é o crepúsculo do mar nos dias esquecidos dos anjos entre os raios de uma nirvana solar deus condensa-me em ti entre os sinos e as tranças dos céus em ondas de luz e silêncio em que eu contemplo nu numa íris solar as cores secretas de deus 17 os olhos óleos a óleos trilham meus olhos no almíscar em que moro na névoa que sorve a memória nos suspiros de um lago solar olhos a olhos renascem no vento na íris do tempo nas tintas que movem o destino na pele ao som de teus olhos olhos a óleos 18 o lirismo beija tua boca nua cantar cantar cantar cantar sem ver o que se vê cantar o que se vê sem se ver cantar o sol na volúpia da lua cantar o mundo na boca do mundo na encruzilhada translúcida de mim cantar o eu sem mim nos abismos tortos de ti cantar o verde-escuro-claro-branco-azul da manhã noturna de deus entre a minha-sua-tua pele aberta-incerta de vento cor tempo e silêncio pois é preciso também cantar o silêncio na nua rua nua de teus olhos cantar morrer e renascer renascer sem morrer nas horas vagas inexistentes de viver e novamente e infinitamente cantar o silêncio entre as rosas do mar o silêncio de ser-se nu inominável inefável intangível num eterno devir que translada notas silentes a sussurrar uma sinfonia fluorescente em que me canta o silêncio as linhas tortas do tempo num lirismo que beija tua boca nua de deus 19 as flores cantam-me as flores as cores no cintilar púrpuro dos seios de mil sóis na boca verde da lua mais azul no calor da pele em que tu és róseo como o mar e que venha a mim o silêncio de teus olhos as cores tortas de teu corpo o amor em luz da primavera as tranças nuas do tempo que nos enlaça em suspiros entre passos silentes de augúrios e brisas pois cantam-me as cores as flores os sussurros sanguíneos do mar me trazem a ti ecoando na minha alma lilás de deus cantando as flores das cores na minha boca cerúlea cadente penetrando amorosamente nos seus seios de vento e cor volvo-me a ti volvo-te a mim pois as cores são o sexo de deus pois as flores são o ósculo de nosso espírito em volúpia e nudez e assim entre os lábios pueris e frescos da natureza cantam-me as flores as cores cantam-me as cores as flores 20 idílio a chuva germina nas raízes que flutuam no cinza na placidez convexa do asfalto e em brumas de maçã sob a lã em que nuvens são pérolas em véu augúrios e brisas se irradiam verdes como o céu nos doces seios de uma cadela sorvo a seiva bruta da terra à boca das veias ao tronco do sol às plumas da primavera à pele 21 a chuva nas flores cinzas do céu nos cabelos verdes do mar nos balanços de silêncio na chuva na memória do esquecimento do vento na lua sublimada no ar nas ondas róseas que perpassam mil sóis na grama branca das estrelas na pupila úmida de deus tu és chuva caindo na chuva tu és deus caindo dentro e fora de mim entre as rosas púrpuras de nuvens que caem dos céus nos suspiros gélidos da boca do vento tu és deus caindo na chuva tu és chuva caindo em deus 22 anjos telúricos anjos telúricos sob a minha pele de homem nu anjos telúricos na chuva que decai e cintila a vida cinzenta anjos telúricos no suspirar das ondas do vento anjos telúricos no inspirar das folhas da relva de deus anjos telúricos entre o silêncio das águas dos céus e uma negra virgem maçã anjos telúricos na face do tempo amarelo que se dissolve num rio abissal que decanta minhas mãos rubras de homem e de mulher que penetram no amor e amando penetram na vida e que são plácidos como a lua mais tácita anjos telúricos que percorrem íris verdes cerúleas telúricas como a alma de um pássaro que singra entre eu e mim nas horas tortas úmidas 23 nuas que desabrocham e expiram flores raras selvagens crepusculares nas montanhas que se elevam às águas dos céus que me chamam e me evocam anjos telúricos 24 crepúsculo o vento despiu o silêncio nas ruas ermas dos céus e cintilou numa pétala trêmula do mar morangos que saíam e penetravam na boca da noite 25 a carne que tu amas a carne que tu amas é o amor de tua própria carne é a vida que me esvai e me volve nua é o som de teus olhos é o coração negro da vida é o suspiro dos olhos da noite a carne que tu amas partiu em vento sangue e flor submergiu nas veias acordes do mar cintilou o obscuro romper das ondas osculou o amplexo das horas cerziu na língua a memória penetrou nas tetas da lua ejaculou a pele do sol 26 augúrios e onirismosem linhas a escuridão ilumina a luz de teus olhos no futuro que me espera numa esquina de flores esquecidas em adágio o amor me é azul como o vermelho mais verde e o tempo me decanta me decanta me decanta em pétalas a cintilar nos seios do vento nas ruínas silvestres nas chamas celestes na volúpia láctea de mil luas e mil sóis entre milhas e milhas e milhas caminharás por rios incertos de tua alma lilás e viverás os sonhos crepusculares das horas etéreas do mar 27 eclipse a estrela fecundou a luz do mar na brisa verde da lua de um morango tecido na íris de um abismo que volveu o cintilar de um violino fluorescente às ondas de uma maçã nos raios verdes veludosos da memória do sol 28 o vermelho é azul no cintilar de onirismos em linhas o amplexo em branco é o azul de teu vermelho na minha face rubra tua boca cerúlea são retas que se curvam na vertigem das vinhas de teus olhos singrando no espelho fundido no âmago das nuvens destiladas na luz em que retornarás ao som silente das cores pois o azul é vermelho e o vermelho é azul 29 outrora outrora serás belo e livre como os rios do sol no crepúsculo sinfônico das flores outrora partirás em sangue e cor à memória do silêncio outrora estarás entre a morte dos suspiros do vento e o renascer do ventre de deus outrora viverás o tempo-sem-tempo e a pele-sem-pele em espírito remanescente e nu outrora amarás entre teus seios o som de teus olhos em luz 30 à noite em branca noite escarlate folhas amarelas perpassam nuvens de papéis sorrisos são maçãs que nascem do sol flutuam entre si e moram nas raízes de brisas e sombras em negra-branca noite o que és foi o que não foi és e o que é sempre será no uivo de um corvo escarlate na pele de um vento perdido nos seios de um crepúsculo longínquo tu és noite silente a cintilar nas horas penetrantes e submersas do mar 31 estrelas a memória das estrelas nas paredes do vento migrou entre os pássaros púrpuros da lua e osculou no transladar de cores etéreas e róseas o suspirante devir do infinito 32 via láctea o escuro choveu teu pênis na vagina de uma flor a lua comeu o negro no amanhecer das cadeiras os teus seios amamentaram o vento em raios de mil tons o verso penetrou no tempo num ninho de um violino rarefeito o músculo distorceu as horas no silêncio das estrelas as vinhas sublimaram o sol no tecer de tuas veias 33 os fios do destino num rio de vasos esquecidos nas margens do sol enternecidos nos amplexos do mar os fios do destino tecem-me nas ondas e no ventre de uma estrela as memórias de um aquário os seios dos peixes as penas de um carneiro o azul cerúleo de um touro o espelho de vento de mil gêmeos a alma verde de um caranguejo a breve vida de um leão uterino os trópicos derretidos das virgens a balança flutuante do tempo um escorpião macio e introvertido as linhas etéreas de um arqueiro no romper das cores cintilam-me as coisas no aglutinar das ruas copulam-me as mesas cadeiras as letras ladeiras o vento pássaro a colher massa latente a mão janela cadente as moiras o destino das flores 34 a lua de mil sóis a terra se dissolve no renascer dos seios de mil sóis que uma lua osculou no silêncio das estrelas num fulgor epifânico de deus um cavalo mais escarlate que o dia mais escuro que as sinfonias noturnas de deus dança entre as tranças ondinas dos céus tu és vermelho azul amarelo nas ereções cintilantes de deus as luzes gozam os rios de um amor em acordes de cor e silêncio na minha placenta alquebrada de tempo há caminhos de flores d’água no ejacular de borboletas cerúleas há vida e sol na própria noite plácida e rósea em que eu penetro em ti e tu penetras em mim no ventre eterno de deus que fecunda uma lua em mil sóis e mil sóis em uma lua 35 além além das flores da lua no sol da manhã além do mar no rio do vento incandescente da vida além das rosas púrpuras no verde-escuro-claro-azul de meus olhos além das ondas cerúleas de teu corpo no tempo há os seios do crepúsculo de deus além do som na vertigem das horas além dos espelhos nos rios do tempo além da placenta na boca da lua além das nuvens no ventre do mar há teus olhos nos anjos submersos em flores além de mim além de vós além de nós há o sol no vento verde das estrelas de teu corpo há a lua no mar rosa dos seios de tua alma há ruas no ar verde-longínquo da vida há espíritos na placenta do tempo das cores além de ti em mim além de mim em ti além de vós em nós além de nós em vós além 36 os dedos róseos da aurora róseo e azul o silêncio e o tempo irradiam-se na luz de meu sangue sublimam-me nu entre os seios silvestres de mil sóis nos dias nas noites nas horas e no eterno e branco renascer da vida eu estou nu em plena entrega de eu a mim no outro a ti eu sou outro eu sou o outro 37 a cor e o tempo árvores retorcidas no silêncio flores alvas do sol vermelho-róseo-verde areia terra memória e plenitude papéis e lânguidos sorrisos de amor a relva a eternidade-sem-cores-na-própria-cor o verbo-sem-verbo o pássaro e a noite mais azul galhos negros e brancos a vida pulsa nua e bela há cor e tempo-sem-tempo-no-tempo a pele penetra na natureza em si a natureza penetra em mim na poesia do silêncio 38 as horas o vento pára no cintilar de um sino morangos silvestres osculam caminhos de névoas ponteiros escorrem o esquecimento fundido papéis fulguram estrelas em madeiras de algodão o grafite memoriza letras quebradas na pele o sonho fecunda a realidade em ovários delgados paredes de espelhos submergem à espera de sóis o homem decanta o licor de seus ossos as horas se derretem na eternidade 39 aprendizagens aprendi amar o sol que me despe nas ondas do silêncio aprendiamar os olhos de brisas tépidas-intépidas aprendi amar o som do veludoso delírio roxo do cheiro do céu aprendi amar o vinho que o tempo escorre sobre o mar aprendi amar o vento etéreo a singrar pelas minhas veias aprendi amar as estradas do tempo entre as nuvens de papel aprendi amar as rosas de teus olhos nos acordes de deus aprender aprender aprender a voz o silêncio o canto as abelhas e a lua submersa no sol aprender o sol pois o sol é o vento pois o vento é o verso pois o verso és tu pois a vida é um verso na ladeira do sol pois a vida é poesia no sopro verde da lua pois a vida me olha me vê me sente 40 e me é ver sentir ser aprender a ser-se aprender a não-ser-se aprender 41 eu sou verbo nominativo sou mudez silenciosa na chuva caída do rio sou a vogal escarlate na boca da lua sou o frio do calor de brisas longínquas de pássaros silvestres sou a íris solar no pulsar do músculo das horas sou o verso-in-verso no copular das flores e nas chamas do vento sou a placenta do tempo na luz da manhã sou o albatroz cerúleo que renasce no coração púrpuro do mar sou narciso que morre na esquina do tempo sou o corpo nu nos espelhos do sol sou a inocência incandescente que bebe a luz de tua mão sou o sino que canta a maçã de tua voz sou o vento que segue os sussurros das estrelas eu sou eu sou eu sou eu sou sou pretérito-mais-que-imperfeito-evaporante sou o presente do futuro que já passou sou pleno-impleno devir que se recria a cada suspiro e sussurro de mim sou a eternidade na própria efemeridade sou a efemeridade na própria eternidade eu sou eu sou eu sou eu sou sou o tempo de mim que me esvai me volve e me envolve eu sou o tempo que sempre virá eu sou o tempo que sempre se foi eu sou o tempo que sempre se é 42 eu sou eu sou eu sou eu sou eu sou o tempo da vida eu sou o tempo da morte eu sou a placenta do tempo eu sou o tempo eu sou e assim contemplo-me e evoco-me nu num eterno ser e devir para que o tempo me seja sem me ser que eu seja tu e tu me sejas que eu seja vida nua sinfônica e vibrante que eu seja tudo e nada que eu seja a minha própria imperfeita perfeição que eu seja uma simples epifania sussurrante de deus que cada dia seja minha própria vida que eu expire em onirismos a cada lua e renasça novo nu e branco a cada sol
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