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Fichamento Nietzsche

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Alexandre Donizete Roque – 6° Semestre do curso de Filosofia – U.E – Lorena.
FICHAMENTO: Nietzsche: fim da metafísica e os pós-modernos 
Um dos traços mais marcantes da filosofia de Nietzsche consiste em sua pretensão, sustentada, desde seus primeiros escritos, de, ao reverter o platonismo, também superar a metafisica pela transvaloração dos supremos valores da cultura ocidental. Para ele, a raiz profunda, a base completamente desenvolvida do pensar metafisico se encontra sistematizada no idealismo platônico, com a doutrina das idéias e a conseqüente oposição entre os mundos sensível e inteligível, constituindo o segundo o real (o ser, a essência permanente) contraposta à enganosa e insubsistente da aparência sensível (vir-a-ser, simulacro) e, portanto, a instância de julgamento acerca de sua realidade e valor. (p. 13)
[...] nada permanece definitivamente na natureza, tudo passa, inclusive o céu e a terra atuais, mas tudo retorna igualmente de modo perpétuo. Todas as coisas existentes são transitórias, mutáveis – porém com consistência e identidade suficientes para permitir um certo gênero de conhecimento a seu respeito. (p. 15 -16)
[...] a sentença de Heráclito interpretada no sentido de que nenhuma coisa na natureza permanece eternamente, que tudo passa e novamente retorna, não inviabiliza todo e qualquer conhecimento das coisas sensíveis. Apenas veta a possibilidade de um conhecimento que ultrapassa o âmbito da aisthesis e da doxa que sobre ela se assenta – ou seja, um conhecimento que tem por base a experiência e os sentidos, esse foi também o caminho de Protágoras. (p. 16)
Platão [...] extraiu [...] a seguinte conclusão: todas as coisas sensíveis se encontram em perpétuo fluxo e alteração, de maneira que nenhum conhecimento racional é possível acerca delas. Tal inferência tem por base sua distinção entre dois gêneros de conhecimento, o proveniente do nous (intelecto), e a correta opinião (doxa aletes). (p. 16)
[...] o mundo do verdadeiro filósofo é o universo inteligível das puras abstrações, à sua tarefa e destinação pertence a iniciação, o apartar-se dos outros homens, entregues ao simulacro e à incerteza. (p. 19) 
Dedicar plenamente sua vida ao culto da dialética, “livrar-se tanto quanto possível dos sentidos torna-se a tarefa ética. Os sentidos como perturbadores da paz do homem ético, como perturbadores da paz do pensador. Se é possível desembaraçar-se dele, então pode bem ser possível o verdadeiro conhecimento.”. (p. 19 – 20)
A postura heraclitiana – tal como a interpreta Platão – tornava, ao mesmo tempo, insubsistente a realidade e o conhecimento. O verdadeiro ser não pode também, ao mesmo tempo e sob a mesma relação, não ser: a condição da realidade é a identidade do ser. (p. 21)
[...] à oposição entre mundo sensível (domínio da aparência e do movimento) e mundo inteligível verdadeiramente real (domínio das essências imutáveis) corresponde, no plano do saber, a oposição entre opinião e ciência e, no plano da existência humana, a oposição entre corpo e alma. A tese desenvolvida por Platão, a respeito dessa rede sistemática de correspondências, é, como sabemos, que a existência das idéias demonstra que a alma teve uma vida anterior e independente de sua ligação com o corpo, e que essa ligação constitui, para a parte mais nobre da alma – a saber, para a parte intelectiva, seu componente imortal – uma queda e um cárcere, pois a nobreza dessa parte consiste precisamente em seu parentesco com o domínio eterno do inteligível. (p. 21)
“Nietzsche reverte [...] a ordem dos valores que Platão tinha instituído entre o conhecimento do que permanece idêntico e o devir: ele considera que a verdade é a realidade do devir e que o conhecimento é uma fonte de erros e ilusões.”. (p. 21)
[...] a transvaloração de todos os valores seria a catástrofe da metafisica: um processo que obedece a uma lógica imanente, cujo conceito Nietzsche formulou como niilismo se Nietzsche pode ser considerado nosso contemporâneo, do ponto de vista de seu diagnóstico do fim da metafisica, então isso se deve, sobretudo, à sua genealogia do niilismo, pois é nela que se descreve a crise irreversível de toda pretensão à objetividade e à fundamentação, em derradeira instância, do conhecimento racional, tal como ela correspondia ao empreendimento ético-filosófico de Platão. 
A esse respeito, Heidegger observa: “Se Deus morreu, enquanto fundamento supra-sensível e enquanto meta de tudo o que é efetivamente real, se o mundo supra-sensível das idéias perdeu sua força vinculativa, e, sobretudo, a sua força que desperta e edifica, então nada mais permanece a que o homem se possa agarrar, e segundo o qual se possa orientar”. O anuncio da morte de Deus significa, pois, a consciência da propagação desse nada,da ausência de um mundo supra-sensível de valores vinculantes. Nesse léxico nietzschiano, nada é o dístico para a escalada do niilismo. 
Por isso, uma das vias privilegiadas para a tematização do fim da metafisica em Nietzsche consiste precisamente em sua análise do niilismo, entendido enquanto experiência histórica da ausência de fundamento. Por essa razão, do ponto de vista dos fins essenciais desse trabalho, mais importante do que retomar a polêmica com Heidegger acerca da permanência ou não do pensamento de Nietzsche no âmbito da metafisica, é observar que interpretar o tema do fim da metafisica em Nietzsche implica interpretar o que ele compreende por niilismo e compreender como ele próprio se posiciona em relação a essa experiência de significação epocal. (p. 22)
Desde suas origens [...] o logos científico vê-se acossado pela compulsão à fundamentação, e impelido por ele a percorrer a inteira cadeia dos conceitos e princípios. (p. 24)
[...] a ciência se precipita irresistivelmente para seus limites, nos quais fracassa o otimismo oculto na essência da lógica. Pois a periferia do círculo da ciência em pontos infinitamente múltiplos, e enquanto ainda não se deixa absolutamente ver como, algum dia, o círculo poderia ser inteiramente mensurado, o homem nobre e talentoso, ainda antes da metade de sua existência, encontra-se inevitavelmente diante daqueles pontos fronteiriços da periferia, onde se detém estarrecido perante o inexplicável. (p. 25)
[...] na medida em que [...] valores e princípios são os pilares de sustentação, que garantem a coesão e integridade de uma cultura, o niilismo é sintoma de declínio, de fragmentação de uma unidade cultural, um sinal de dissolução. Este é o sentido daquela fórmula lapidar: ‘O niilismo não é a causa, mas apenas a lógica da decadência’. (p. 26)
Para nós, será de especial interesse destacar o engendramento interno da crise, retraçar o movimento de superação do niilismo, originado no ponto de viragem, na catastrófica extração das derradeiras conclusões. (p. 28)
[...] para Nietzsche, o cristianismo desse ser interpretado, sobretudo, como potência civilizatória do mundo moderno, que sistematiza e universaliza aas condições de conservação e reprodução do ascetismo platônico. (p. 28)
‘[...] a crença nas categorias da razão é a causa do niilismo – medimos o valor do mundo em conformidade com categorias que se referem a um mundo puramente fictício.’. (p. 30)
Nietzsche tematiza três formas do niilismo considerado como ‘estado psicológico’, ou seja, como conteúdo da consciência reflexiva. Em cada um deles, trata-se sempre de uma categoria da razão, que dá apoio a uma interpretação do vir-a-ser e do valor da existência humana na corrente do devir. O primeiro desses estados de autoconsciência do niilismo é analisado por Nietzsche na perspectiva da categoria do ‘sentido’, ou finalidade Para suportar a existência, o homem tem necessidade de interpretar o vir-a-ser como dotado de um sentido, como tendendo para um alvo, que pudesse oferecer uma resposta à pergunta: Por quê? Diversas podem ser as formas de conceber essa finalidade, mas o essencial é que haja uma meta. O niilismo acorre, então, nessa primeira forma, com a descoberta de que não existe nenhumalvo no e para o devir, que o anoitecer do mundo e da história não são processos que se desenvolvem em vista de um fim a ser alcançado, ao qual estaria ligado o seu sentido. [...] A segunda forma do niilismo como estado psicológico é presidida pela categoria de ‘totalidade’ – enquanto suporte de uma interpretação global do vir-a-ser. A representação de uma unidade, de uma organização e sistematização globais conectaria a multiplicidade caótica do seres individuais, contingentes e efêmeros, a uma totalidade integrada e orgânica – a um todo racional, de infinito valor (panteísmo, monismo, etc), promovendo a reconciliação entre a finitude aleatória e o infinito necessário. O niilismo surge, nessa ótica, com a descoberta de que nenhuma totalidade redime a diáspora do vir-a-ser, de modo que o homem perde a crença em seu valor, quando sente que através de sua particularidade contingente não atua um totó infinitamente valioso. A terceira forma do niilismo como estado psicológico supõe dadas as duas figuras anteriormente examinadas, e surge como escapatória para as situações existenciais geradas a partir delas. Se nenhum sentido ou finalidade preside o curso do vir-a-ser, se o devir não é amparado por nenhuma totalidade infinita em que o indivíduo pudesse se integrar e resgatar o sentido e o valor para o absurdo de sua existência, então a saída consistiria em renegar o vir-a-ser, repudiá-lo como sombra e aparência, metafisicamente contraposta ao ser verdadeiro. Este consistiria na fonte de realidade e significação para o mundo e para o homem. Nessa interpretação, as categorias de ‘verdade’ e ‘ser’ propiciaram as condições para as hipóteses de um verdadeiro mundo, antitético ao fluxo fantasmático da temporalidade e do vir-a-ser. Porém, aqui também se chega à descoberta que a invenção do mundo sob a perspectiva da verdade corresponde a necessidades psicológicas. Isto é, o homem inventa para si mesmo um mundo verdadeiro para poder atribuir um valor à sua própria vida. E com isso, a terceira forma de niilismo surge como consciência da mendacidade do mundo metafísico, e como descrença na categoria de verdade – com a descoberta de que o vir-a-ser é a única realidade – uma realidade, contudo, que não conseguimos suportar. Balanço final: desprezamos o resultado que alcançamos pelo conhecimento, ao mesmo tempo que não nos é mais lícito valorizar aquilo em que gostaríamos de continuar a crer. (p. 30 – 31)
Nietzsche terá sido um dos primeiros a refletir com acuidade sobre esse parentesco inusitado, que torna o fundamentalismo uma formação reativa, um fenômeno compensatório do niilismo. Ao escrutínio genealógico, o fundamentalismo revela-se, mais propriamente, como alma gêmea do niilismo passivo, quando as metas e valores até então vigentes revelam sua inadequação às novas condições de existência, falatndo, a força para se desprender delas – apego fundamentalista é apenas reação ao sentimento de perda, não um gesto ativo de superação. Daí a atualidade dessa genealogia e a importância de suas descobertas para o entendimento tanto da necessidade quanto da lógica de vários processos que caracterizam o esgotamento da modernidade cultural. (p. 34)
Posições extremas não são substituídas por posições moderadas, mas novamente por posições extremas, porem inversas. E assim, a fé na absoluta imoralidade da natureza, na ausência de finalidade e sentido é o afeto psicologicamente necessário, quando a fé em Deus e numa ordenação moral não pode mais ser mantida. O niilismo aparece agora não porque o desprazer na existência fosse maior do que antes, senão porque, em geral, nos tornamos desconfiados de um ‘sentido’ no mal, sim na existência. Uma interpretação soçobrou: porém, porque ela valia como a interpretação, parece como se não houvesse absolutamente nenhum sentido na existência, como se tudo fosse em vão. (p. 36)
Somente o pensador em quem o niilismo, como experiência de desvalorização dos supremos valores, foi inteiramente consumado, sem deixar resíduos nem ressentimento – e que, por causa disso, trouxe o sentido e a lógica do processo ao nível da consciência de si –, é que pode deixar para trás o niilismo e falar do futuro – isto sem perfazer a catástrofe. Para Nietzsche, é sob condições que pode também ser ainda intensifica a força produtiva do espirito – quando se tornou perempta e opressiva a autoridade daquelas mesmas condições, sob a coerção das quais até então se desenvolvera a força espiritual. (p. 38)
[...] nosso tempo é a era da insubsistência das valorações absolutas e incondicionais. (p. 38)
O niilismo é um movimento histórico, não uma qualquer visão e uma qualquer doutrina, representadas por quem quer que seja [...] O niilismo é, antes, pensado em sua essência, o movimento fundamental da história do ocidente. Ele mostra uma tal profundidade que o seu desenrolar-se apensas pode ter por consequência catástrofes mundiais. O niilismo é o movimento histórico-mundial dos povos da Terra que entram no âmbito de poder da modernidade. Daí que ele não seja só um fenômeno da era presente, nem sequer só o produto do século XIX, no qual desperta certamente um olhar mais agudo para o niilismo e também o nome se torna usual. O niilismo tampouco é apenas o produto de nações singulares cujos pensadores e escritores falam propriamente do niilismo. Aqueles que se presumem livres dele empreendem talvez do modo mais fundamental o seu desenrolar-se. É inerente à inquietude deste mais inquietante de todos os hóspedes que a sua proveniência própria não possa ser mencionada. (p. 39)
[...] com a superação nietzscheana da metafísica, descerrar-se-ia o limiar da pós-modernidade, na medida em que se pudesse considerar como predicado essencial do pós-modernismo justamente a decidida rejeição de toda espécie de fundamento, capaz de resgatar a moderna fragmentação das esferas culturais e reinstituir a unidade entre ciência, arte, ética e política. (p. 40)
O pós-moderno traria consigo, contrariamente à esperança de reconciliação e unidade, a morte do homem e dos humanismos, o descentramento do sujeito, a perempção da totalidade, o investimento direto do desejo nômade – liberado de códigos e regramentos, da lei, do contrato, da instituição – pervadindo todos os circuitos da produção social da vida, fazendo proliferar as diferenças; o pós-moderno promoveria o interesse pela interpretação textual ao infinito, pelas narrativas e metanarrativas, juntamente com o exercício metódico da desconstrução, o combate ao logocentrismo, ao aprisionamento de todo sentido pela tirania da escritura. (p. 40)
Para Habermas, Nietzsche estaria colocado, no contexto da modernidade filosófica, diante da seguinte alternativa: ou submeter a razão subjetivamente centrada mais uma vez a uma crítica imanente, retomando a tarefa em que fracassaram alguns de seus predecessores; ou então renunciar por completo ao programa de fundamentação autocritica da razão. ‘Nietzsche se decide pela segunda opção – ele renuncia a uma renovada revisão do conceito de razão e despacha a dialética do esclarecimento.’ (p. 41)
[...] é com a falência do supra-sensível que se podem trazer à tona as pressuposições inconfessáveis, as práticas políticas e os jogos de poder e dominação ligados ao surgimento dos modernos saberes científicos e, em geral, a todas as formas contemporâneas de racionalidade. (p. 44)
[...] o impacto de Nietzsche foi e se conserva ainda dos mais extraordinários. Pois seu pensamento foi, no essencial, uma meditação sobre a crise dos valores, o niilismo que corrói todas as esferas da cultura, da religião à ciência, da estética à política. Nietzsche foi o arauto e o crítico mais radical da crise da razão e do colapso da moderna subjetividade, que a acompanha de perto. (p. 45)
Paródia dos venerandos ídolos, dissociação sistemática das grandes linhas ideológicas de continuidade – como aquelas sustentadas pelas noções de teleologia e de progresso –, destruição do sujeito de conhecimento e do primado da consciência, denúncia das injunções de poder edominação operando na vontade de verdade. A palavra niilismo, na crítica nietzscheana da metafísica, encerra em si todos esses significados. (p. 45)

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