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11. Tráfico internacional de pessoas

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TRÁFICO INTERNACIONAL DE 
PESSOAS 
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11.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO 
 CRIME 
 A descrição típica é a do art. 231 do Código Penal, com a redação da Lei n° 11.106, de 
28.3.2005:“promover, intermediar ou facilitar a entrada, no território nacional, de 
pessoa que venha exercer a prostituição ou a saída de pessoa para exercê-la no 
estrangeiro”. A pena é reclusão, de três a oito anos, e multa. 
O bem jurídico protegido é o interesse público em não incentivar, incrementar, ver 
disseminada a prostituição, seja no território nacional, seja em país estrangeiro, até porque 
o crime em comento é um daqueles que o Brasil, por convenções internacionais, obrigou-se 
a reprimir, aplicando-se a lei brasileira ainda quando cometidos no estrangeiro, desde que 
presentes os requisitos do art. 7º, § 2º, do Código Penal. 
 Sujeito ativo é a pessoa que promove, intermedeia ou facilita a entrada no território 
nacional ou a saída para o estrangeiro de pessoa, homem ou mulher. 
Sujeito passivo é o Estado e também a pessoa quando o agente empregar violência, 
grave ameaça ou fraude. 
 
11.2 TIPICIDADE 
O caput do art. 231 contém o tipo fundamental. O § 1º dispõe sobre a aplicabilidade 
ao tráfico de pessoas da qualificadora do § 1º do art. 227. O § 2º traz outra circunstância 
qualificadora, relativa ao emprego de violência, grave ameaça ou fraude. 
 
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles 
 
11.2.1 Conduta 
 São três as condutas incriminadas. Promover, intermedeiar ou facilitar a entrada de 
pessoa do território nacional, ou sua saída para o estrangeiro. Promover é dirigir a 
realização. É organizar a execução. 
 Intermedeiar é colocar-se na posição intermediária entre outro agente e a pessoa. 
Identifica-se com a negociação dos interesses do que promove e os da pessoa que irá 
exercer a prostituição. Nessa modalidade, indispensável a co-autoria, pois outro agente 
necessariamente estará promovendo. Ou seja, para haver intermedeiação é indispensável 
que haja um promotor. 
 Facilitar é, de qualquer modo, auxiliar, contribuir para que fique mais fácil a entrada 
ou a saída. É vencer dificuldades, romper obstáculos, eliminar empecilhos. 
 
11.2.2 Elementos do tipo 
Em regra é livre o ingresso de pessoas no território nacional, bem assim sua saída. O 
que a norma proíbe é a participação dolosa de alguém na entrada ou saída com a finalidade 
de, aqui, ou no estrangeiro, exercer ela a prostituição. Não é proibida a saída de mulher 
que tenha a intenção de, em outro país, exercer o meretrício. Nem será impedida de para o 
Brasil vir aquela que pretenda, aqui, dedicar-se àquela atividade, desde que cumpra as 
normas exigidas para o ingresso de qualquer outra pessoa. 
As condutas incriminadas dizem respeito à pessoa que promove, intermedeia ou torna 
mais fácil a entrada ou saída, e não à prostituta. Aquele, portanto, que diligencia para que 
uma mulher saia ou entre no país, que organiza ou que para tanto contribua, de qualquer 
modo, vencendo obstáculos, incorre na incriminação. Assim o que toma as medidas para a 
obtenção do passaporte, visto de entrada, aquisição de passagens em meio de transporte, 
empresta dinheiro, enfim, que realiza qualquer ato material que se integre no conjunto dos 
necessários à entrada ou saída da pessoa. 
O tipo não faz nenhuma referência ao consentimento da pessoa que, por isso, é 
irrelevante porém, se houver emprego de violência, grave ameaça ou fraude, incidirá a 
qualificadora do § 2º, adiante comentada. 
 A promoção, intermediação ou contribuição para a transferência da pessoa de um 
lugar para outro, dentro do território nacional, não se ajusta ao tipo em comento, mas ao 
Tráfico Internacional de Pessoas - 3 
 
do art. 231-A do Código Penal, tráfico interno de pessoas, introduzido pela Lei n° 11.106, 
de 28.3.2005. 
Cuida-se de crime doloso. O agente, para incidir no tipo, deve estar consciente da 
contribuição que dá para a entrada ou saída da pessoa, mas, principalmente, deve saber 
que ela irá, aqui ou no estrangeiro, exercer a prostituição. Se quem promove ou facilita a 
entrada ou saída da pessoa não sabe que sua intenção é exercer a prostituição o fato é 
atípico, por erro de tipo, excludente do dolo. 
 
11.2.3 Consumação e tentativa 
Há fato consumado no momento em que a pessoa entra no território nacional ou 
quando dele sai. Território nacional é o espaço terrestre, marítimo ou aéreo em que o 
Estado brasileiro exerce sua soberania. 
A tentativa é possível se ela não consegue entrar ou sair, por circunstâncias alheias à 
vontade do agente, inclusive quando a própria pessoa resolve permanecer onde se 
encontra. 
 
11.2.4 Formas qualificadas 
 O § 1° do art. 231 determina a aplicação, ao tráfico internacional de pessoas, da 
norma do § 1° do art. 227 que, com a redação da Lei n° 11.106, de 28.3.2005, diz: “Se a 
vítima é maior de 14 (catorze) anos e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu 
ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a 
quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Pena – 
reclusão, de 2(dois) a 5 (cinco) anos. 
Qualifica o crime a menor idade da vítima ou uma das relações entre ela e o agente, 
referidas no preceito. Alcança os professores, educadores, diretores de estabelecimentos de 
ensino, de saúde, internatos, externatos, casas de internação de menores, enfim, pessoas 
que estejam exercendo um poder de autoridade, decorrente das relações de tratamento e 
guarda. Estando o agente nas condições referidas na norma, merecerá maior reprovação 
pela violação do decorrente dever, legal ou jurídico, de proteger a vítima. 
Se essa não é maior de 14 anos, já se sabe, em face da presunção de violência de que 
trata o art. 224 do Código Penal, será vítima de estupro ou atentado violento ao pudor caso 
4 – Direito Penal III – Ney Moura Teles 
 
venha a realizar atos sexuais com alguém. 
A segunda forma qualificada cuida dos meios empregados pelo agente para promover 
ou facilitar a entrada no território nacional, ou sua saída. Se usa violência, grave ameaça ou 
fraude, a pena será de reclusão de quatro a dez anos (§ 2º do art. 231). Por violência 
devem-se entender as lesões corporais, leves, graves ou gravíssimas e também as vias de 
fato. Grave ameaça é a promessa da causação de um mal importante. Fraude é o engodo, o 
engano, o meio que o agente emprega para manter a vítima em erro ou levá-la a apreciar 
mal a realidade. 
Além da pena mais severa, o agente responderá, em concurso material, pelo crime 
contra a pessoa decorrente do emprego da violência – lesão corporal ou morte –, a não ser 
quando tais resultados tenham derivado de culpa, caso em que incidirá o art. 223, aplicável 
também ao delito do art. 231, por força do que dispõe o art. 232. 
Assim, se o agente, ao realizar a conduta típica com violência, causa-lhe lesões 
corporais graves ou morte, por negligência, imprudência ou imperícia, sua pena será 
reclusão de oito a doze ou de doze a vinte e cinco anos, respectivamente. 
 
11.3 AÇÃO PENAL 
A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.

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