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118.Denunciação caluniosa

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DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA 
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118.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS 
DO CRIME 
O art. 339, com a redação dada pela Lei nº 10.028, de 19 de outubro de 2000, 
descreve o fato típico: 
“dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, 
instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de 
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe 
inocente”. 
A pena cominada é reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
O bem jurídico protegido é a administração da justiça, o interesse estatal na 
preservação dos órgãos de investigação e do Poder Judiciário de persecuções baseadas em 
informações falsas, e também a honra da pessoa. 
Sujeito ativo é qualquer pessoa, inclusive funcionário público, promotor, delegado 
de polícia etc. 
Sujeito passivo é o Estado e também a pessoa contra a qual é feita a imputação. 
 
118.2 TIPICIDADE 
O caput contém o tipo, o § 1º uma causa de aumento e o § 2º uma causa de 
diminuição de pena. 
 
118.2.1 Conduta, elementos objetivos e normativos 
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles 
 
A conduta típica é dar causa a instauração de uma investigação ou um processo 
contra uma pessoa. É fazer com que seja instaurada, inaugurada, começada a investigação 
ou iniciado o processo. 
Para incorrer no tipo o agente imputa a alguém a prática de um crime do qual sabe 
ser inocente o imputado. Isto é, dá notícia, à autoridade pública responsável pela 
instauração da investigação ou do processo, de que alguém é autor ou partícipe de um 
determinado crime. Pode ser através de informação escrita ou oral, pessoalmente ou por 
telefone, fax, Internet, desde que, em razão dela, a autoridade promova a instauração da 
investigação ou do procedimento ou processo. 
A norma alcança toda e qualquer investigação policial, os processos judiciais pela 
prática de qualquer delito, as investigações administrativas, os inquéritos civis e também 
as ações de improbidade administrativa, com base na Lei nº 8.429/92, a cargo do 
Ministério Público. 
A investigação ou o processo deve ser instaurado em razão da imputação feita pelo 
agente que é, portanto, o motivo do início do procedimento. A imputação deve ser de um 
crime determinado – um fato típico de crime previsto em qualquer norma penal – e a uma 
determinada pessoa, que será identificada pelo agente ou cuja identificação possa ser feita 
de modo indireto pela autoridade pública. 
Se a pretensão punitiva em relação ao crime imputado já estiver extinta por 
qualquer causa ou se o fato for, à evidência, justificado por uma excludente de ilicitude ou 
ainda impunível pela presença de uma escusa absolutória, a imputação será atípica pela 
impossibilidade da instauração da investigação policial ou do processo penal. 
A imputação deve ser falsa, isto é, a pessoa a quem é feita não é autora ou partícipe 
do crime, ou este simplesmente não aconteceu. 
Não há crime da testemunha ou do acusado que, em depoimento ou interrogatório, 
faz a imputação porque, nesses casos, a investigação ou o processo ou procedimento já terá 
sido, previamente, instaurado. 
 
118.2.2 Elementos subjetivos 
O crime é doloso e o tipo contém um outro elemento subjetivo. É indispensável que 
o agente tenha consciência de que a pessoa é inocente da prática do crime que lhe imputa, 
Denunciação Caluniosa - 3 
 
e dê, ainda assim, causa à instauração da investigação ou do processo com vontade livre, 
sem nenhum outro fim especial, senão o de vê-lo instaurado. Se ele não sabe da inocência 
da pessoa a quem atribui a prática de crime, o fato será atípico, por erro de tipo. 
O requerimento para a instauração de investigação com vistas na apuração de crime 
em que se busque apenas a apuração da verdade não constitui, à evidência, fato típico, 
porquanto nesse caso o fim não é o de imputar fato típico falso a alguém, mas contribuir 
para a apuração da verdade. 
 
118.2.3 Consumação e tentativa 
O crime somente se consuma no instante em que a investigação ou o processo é 
instaurado. Não é necessária a instauração formal de inquérito policial, bastando que a 
autoridade policial determine o início da investigação através de diligências realizadas por 
seus agentes. 
A tentativa é possível quando, por circunstâncias alheias à vontade do agente, não 
há a instauração da investigação ou do processo. 
 
118.2.4 Aumento de pena 
Se o agente, para realizar a conduta, vale-se do anonimato ou utiliza nome falso, 
procurando, com isso, ocultar sua identidade, a pena será aumentada de um sexto. 
 
118.2.5 Diminuição de pena 
Se o fato falsamente atribuído pelo agente é definido como contravenção penal, e 
não crime, a pena será diminuída de metade. 
 
118.2.6 Conflito aparente de normas 
Quando o agente imputa a alguém, falsamente, a prática de crime sem a finalidade 
de dar causa à instauração de investigação ou processo, o crime será o de calúnia, do art. 
138 do Código Penal, desde que presentes todos os elementos deste, inclusive os subjetivos. 
Se o agente apenas comunica à autoridade a notícia falsa da ocorrência de um crime 
4 – Direito Penal III – Ney Moura Teles 
 
ou contravenção, sabendo que não ocorreu, o fato se ajustará ao tipo do art. 340, adiante 
comentado. A diferença é que, na denunciação caluniosa, o agente imputa o fato falso a 
alguém, ao passo que na comunicação falsa de crime não há imputação a uma pessoa 
determinada. 
 
118.3 AÇÃO PENAL 
A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.

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