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19. Livramento condicional

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19 
LIVRAMENTO CONDICIONAL 
____________________________ 
 
19.1 NOÇÕES GERAIS 
O livramento condicional constitui o último degrau do sistema progressivo 
brasileiro de cumprimento de pena privativa de liberdade. Iniciado o cumprimento das 
penas de reclusão e detenção no regime fechado, semi-aberto ou aberto, o condenado 
poderá, depois de certo tempo e se satisfizer a alguns requisitos de natureza subjetiva, 
obter o livramento condicional, por meio do qual conquistará a liberdade. 
A moderna e democrática concepção da execução das penas privativas de 
liberdade exige que o condenado, recuperando-se, deve ir obtendo, gradativamente, a 
liberdade, se é que é possível falar em graus de liberdade. 
Entendeu-se que só se poderiam admitir penas de privação de liberdade se se 
pudesse, paulatinamente, conforme certas circunstâncias, permitir ao condenado ir 
conquistando, gradativamente, cada vez mais e sempre, a liberdade. Daí as idéias 
concretizadas de regime fechado, semi-aberto e aberto, em que a liberdade vai sendo 
obtida em doses, cada vez maiores e com o passar do tempo. 
Há quem diga que liberdade é como honra ou como a virgindade: ou tem-se ou 
não se tem, mas o certo é que os que um dia a tiveram completamente suprimida numa 
prisão celular e, ao depois, obtêm o direito ao convívio no pátio, no campo, na oficina, 
durante todo o dia, livre das grades e, mais tarde, podem sair às ruas da cidade, e, 
finalmente, ir e vir, recolhendo-se a uma casa de albergado, sem celas, sem grades, sem 
qualquer rigor penitenciário, sabem bem, e como sabem, que há diferença, enorme e 
substancial, entre estar encarcerado e estar cumprindo pena em regime aberto. 
Daí que o livramento condicional constitui um dos mais importantes institutos de 
política criminal, uma medida indispensável para a realização dos interesses do direito 
penal. Seria, no entender de Magalhães Noronha, a antecipação da liberdade ao 
2 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
condenado que a merecer1. 
O livramento condicional, apesar de algumas opiniões de juristas respeitados, é 
um direito subjetivo do condenado que realizar todos os seus pressupostos, objetivos e 
subjetivos2. Não pode o juiz negá-lo quando seus requisitos estiverem presentes. 
 
19.2 REQUISITOS 
Dispõe o art. 83 do Código Penal, com modificações introduzidas pela Lei dos 
Crimes Hediondos: 
“O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena 
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I – cumprida 
mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e 
tiver bons antecedentes; II – cumprida mais de metade se o condenado for 
reincidente em crime doloso; III – comprovado comportamento satisfatório 
durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído 
e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; IV – 
tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela 
infração; V – cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação 
por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa 
natureza. Parágrafo único. Para o condenado por crime doloso, cometido com 
violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também 
subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o 
libertado não voltará a delinqüir.” 
A partir da norma vigente, deve-se verificar que o livramento condicional está 
subordinado à presença de alguns requisitos, objetivos ou subjetivos, a seguir tratados. 
 
19.2.1 Requisitos objetivos 
19.2.1.1 Pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos 
Só é possível o livramento condicional, é de toda obviedade, quando se tratar de 
pena privativa de liberdade. Além disso, não pode ser inferior a dois anos, só podendo 
 
1 Direito penal. São Paulo: Saraiva, 1978. v. 1, p. 308. 
 
2 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1991. v. 1, p. 314. 
 
 
Livramento Condicional - 3 
 
ser concedido se ela for igual ou superior a dois anos, de prisão simples, detenção ou 
reclusão, não importando se se constituir a soma de penas aplicadas em mais de um 
processo. 
Segundo preconiza o art. 84 do Código Penal, deverão ser somadas as penas das 
várias infrações a que o sujeito tiver sido condenado. O livramento será concedido 
considerando a soma total das condenações, mesmo que cada uma delas seja a pena 
inferior a dois anos. 
A razão da fixação de um mínimo seria facilmente aceitável se não levasse a uma 
situação de profunda injustiça. Os condenados a penas inferiores a dois anos que 
satisfizerem aos requisitos objetivos e subjetivos poderão obter o sursis. Este, como se 
observou, não pode ser concedido ao reincidente em crime doloso, de modo que, 
condenado a uma pena de, por exemplo, um ano e seis meses de detenção, não poderá 
obter a suspensão condicional da pena, nem obter o livramento condicional pelo 
simples fato de que sua pena é inferior a dois anos. 
Deverá, assim, cumprir integralmente a pena. Não é justa a solução, pois o não-
reincidente condenado a oito anos de reclusão poderá obter o livramento condicional, ao 
passo que o condenado a um ano de reclusão, reincidente por ter sido condenado a apenas 
um mês de detenção, por crime doloso, não merecerá o livramento. 
No futuro, deve-se eliminar a exigência da quantidade mínima de condenação, 
para a concessão do livramento condicional, de modo a poder-se alcançar também os 
que, não tendo obtido o sursis, mereçam, todavia, a reinserção social pela obtenção 
antecipada da liberdade. 
 
19.2.1.2 Cumprimento de mais de 1/3, da metade ou de 2/3 da pena 
Exige a lei, para a concessão do livramento condicional, que o condenado tenha 
cumprido uma parte da pena ou penas a que tiver sido condenado. 
Se se tratar de condenado não reincidente em crime doloso, deverá cumprir, no 
mínimo, 1/3 da pena. Se a condenação anterior tiver sido por crime culposo, poderá 
obter o livramento após o cumprimento também de 1/3 da pena. Sendo culposo um dos 
crimes, o anterior ou o posterior, o livramento também poderá ser concedido após o 
cumprimento de 1/3 da pena. 
Se o condenado for reincidente em crime doloso, deverá ter cumprido mais de 
metade da pena. De lembrar que é reincidente aquele que é condenado por crime 
cometido após o trânsito em julgado de condenação anterior. 
4 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
Se tiver sido condenado por crime hediondo, de tortura, de tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins, e não sendo reincidente específico em crimes dessa 
natureza, só poderá obter o benefício após cumprir 2/3 da pena. É reincidente 
específico em crimes hediondos ou assemelhados aquele que, tendo sido condenado 
por qualquer desses crimes, vem a ser condenado novamente por outro crime dessa 
natureza. 
De todo claro que o tempo de prisão processual e o de internação em hospital de 
custódia, em virtude da detração, serão computados para se calcular o tempo de 
cumprimento da pena, bem como se levará em conta a remição da pena, se tiver 
ocorrido. 
Em qualquer das hipóteses, o livramento será concedido, estando o condenado 
em regime fechado, semi-aberto ou aberto, uma vez que a lei não faz nenhuma 
referência à necessidade de ter havido qualquer progressão, nem o proíbe nas hipóteses 
de ter havido regressão. 
 
19.2.1.3 Reparação do dano 
Estabelece o art. 83, IV, outro requisito de natureza objetiva, que é a reparação 
do dano causado com a prática do crime, ressalvando,todavia, a hipótese de que o 
condenado não possa, efetivamente, arcar com as despesas pertinentes. 
Em outras palavras, estando o condenado em condições financeiras tais que não 
lhe permitam cumprir a obrigação de indenizar, ainda que momentaneamente, não lhe 
será negado o benefício por essa razão. Não bastam, todavia, simples alegações de 
impossibilidade de indenizar, nem mero atestado de pobreza, devendo o juiz, ainda que 
de modo sumário, certificar-se de que não será possível a indenização do dano. 
Compete ao condenado demonstrar e provar a impossibilidade de cumprir a obrigação 
civil. 
 
19.2.2 Requisitos subjetivos 
Além dos requisitos objetivos, deve o condenado realizar pressupostos de 
natureza subjetiva. 
 
19.2.2.1 Bons antecedentes, para obtenção de livramento condicional 
 com o cumprimento de 1/3 da pena 
Livramento Condicional - 5 
 
Para que o condenado possa obter o livramento condicional após cumprir 
apenas um terço da pena, não basta que não seja reincidente em crime doloso, pois 
exige a lei que ele, além disso, seja portador de bons antecedentes. Logo, além de não 
reincidente em crime doloso, deve possuir bons antecedentes. Se não os tiver, só poderá 
merecer o livramento após cumprir mais de metade da pena. 
“Assim, só poderá obter o livramento condicional no prazo menor o condenado 
que não é criminoso habitual, que não sofreu outras condenações, que não 
esteve envolvido em outras ações penais etc. O condenado não reincidente pode 
ter sofrido outras condenações e, por isso, não preencher tal requisito, devendo 
aguardar o cumprimento de mais da metade da pena para ver deferido o 
livramento.”3 
Evidentemente, aqui se cuida dos antecedentes do condenado consignados na 
sentença condenatória, de seu passado anterior ao cumprimento da pena, mesmo 
porque outro requisito subjetivo, que veremos a seguir, é o comportamento satisfatório 
do condenado no estabelecimento prisional. 
 
19.2.2.2 Comportamento satisfatório durante a execução da pena 
Deve o condenado, em quaisquer das hipóteses de livramento, ter um 
comportamento satisfatório durante a execução da pena. A lei anterior exigia bom 
comportamento carcerário, pelo que devemos entender que a lei atual é menos 
rigorosa, pois que comportamento que satisfaz não é, necessariamente, um 
comportamento avaliado como “bom”. 
Conquanto possa o condenado ter cumprido parte da pena em regime fechado, 
parte no semi-aberto, e até mesmo em regime aberto, seu comportamento deve ser 
analisado, para os fins da concessão do livramento, levando-se em conta o grau de 
adaptação em relação ao meio social livre. 
Uma falta disciplinar que tenha sido imposta ao condenado não pode, por si só, 
ensejar a conclusão de que seu comportamento seja insatisfatório. Às vezes, a um ato de 
indisciplina, seguido da punição, segue-se uma alteração comportamental de 
importância, modificando-se a vida carcerária do condenado de modo substancial. 
 
19.2.2.3 Bom desempenho no trabalho 
 
 
3 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1991. p. 345. 
 
6 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
Se ao condenado tiver sido oferecida a oportunidade de trabalhar, interna ou 
externamente, deverá ter-se desempenhado de modo igualmente satisfatório. 
Trata-se de uma exigência cujo objetivo é valorizar o trabalho do condenado, 
privilegiando aqueles que a ele se dedicarem, incentivando todos a se portarem bem 
não só nas atividades laborais desenvolvidas, dentro e fora do presídio, bem assim nas 
atividades de laborterapia. 
 
19.2.2.4 Aptidão para prover o próprio sustento 
Uma exigência de natureza subjetiva impõe ao condenado a comprovação de 
aptidão para prover sua própria subsistência, por meio de trabalho honesto. 
O condenado deve demonstrar, antes de obter o livramento, a possibilidade de, 
com seu próprio trabalho honesto, manter-se, alimentar-se, morar, sobreviver, enfim, 
no mundo livre. Não significa que, para obter o livramento, o condenado deve, 
necessariamente, comprovar ter vaga garantida em emprego lícito. A proposta de 
trabalho é suficiente para provar o atendimento do requisito, mas não é o único meio 
para sua satisfação, não sendo, pois, imprescindível. 
A norma não ressalva, mas é óbvio que não se aplica ao deficiente físico 
impossibilitado de obter emprego ou qualquer atividade, tanto que o art. 132 da Lei de 
Execução Penal, ao exigir que o liberado consiga ocupação lícita, ressalva a situação do 
que não for apto para o trabalho. 
 
19.2.2.5 Presunção de que o condenado por crime doloso, com 
 violência ou grave ameaça, não voltará a delinqüir 
Exige o parágrafo único do art. 83, para o condenado por crime doloso, 
cometido com violência ou grave ameaça, a demonstração de condições pessoais que 
façam presumir que ele não voltará a delinqüir. 
Esse requisito aplica-se apenas aos condenados por crimes dolosos cometidos 
com violência – física ou moral. A presunção de que alguém não mais voltará a 
delinqüir constitui um dos grandes absurdos jurídicos ainda contemplados no 
ordenamento penal. Nenhuma ciência, ninguém, jamais, em tempo algum – a não ser 
que tenha recebido efetivos poderes de Deus – pode, em sã consciência, afirmar que há 
probabilidade cientificamente concreta de que certa pessoa cometerá, ou não, crimes. 
De conseqüência, não se pode admitir, nos dias de hoje, qualquer presunção de 
Livramento Condicional - 7 
 
que alguém cometerá algum crime. Nenhum fato, nenhuma condição, nenhuma 
realidade pode autorizar alguém, nem mesmo o juiz de direito, a presumir que uma 
pessoa cometerá um crime. Uma condição pessoal de qualquer ser humano, ainda que 
reprovável, perigosa, doentia, não é detectável pelo magistrado, graduado em Direito, e 
sem qualquer conhecimento de psiquiatria ou psicologia e, ainda que o fosse, não é 
suficiente para autorizar quem quer que seja a concluir pela presunção de que seu 
portador cometerá fato definido como crime. 
Idéias como essa, de presunção de que alguém cometerá crime, de 
periculosidade, estão muito próximas das constatações lombrosianas de criminoso 
nato, há muito abandonadas pela ciência. 
Infelizmente, o direito brasileiro ainda contempla essa situação, vedando ao juiz 
conceder livramento condicional se puder presumir a perigosidade do condenado. É 
evidente que o juiz de direito, graduado em Direito, não está apto a realizar qualquer 
exame dessa espécie, de natureza psíquica. Nem mesmo os profissionais da psicologia 
ou da psiquiatria podem, após o mais profundo exame, concluir pela probabilidade 
concreta, real, de que o paciente realizará esse ou aquele comportamento. Quando 
muito, poderão concluir, como o fazem os astrólogos, que o condenado poderá cometer 
outro crime. Mas isso qualquer pessoa pode concluir acerca de qualquer outra. 
Ora, a liberdade das pessoas não pode submeter-se a concepções de natureza 
astrológica, nem a superstições, conjecturas e sonhos. 
Conquanto, infelizmente, essa norma vigore, dever-se-ia, necessariamente, 
exigir a realização de exame criminológico, cujo resultado conclua pela periculosidade 
do agente, caso em que não será concedido o livramento. 
Com a vigência da Lei n° 10.792/2003, que alterou dispositivos da Lei de 
Execução Penal visando à agilização dos processos de execução penal, não há mais a 
necessidade de prévia manifestação do Conselho Penitenciário para a concessão do 
livramento condicional, restando claro que o exame criminológico não é mais 
indispensável para a concessão de benefícios aos condenados. 
Assim, o exame só poderá ser exigido quando houver sérias razões, expendidas 
em decisãofundamentada do Juiz da Execução. 
 
19.3 PERÍODO DE PROVA E CONDIÇÕES 
O período de prova a que estará submetido o condenado é equivalente ao tempo 
restante de cumprimento da pena a que foi condenado, por um ou mais crimes, em um 
8 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
ou mais processos. Condenado a nove anos de reclusão, não importa por quantos 
crimes, ou em quantos processos, mas obtendo o livramento condicional após 1/3 de 
cumprimento da pena, restarão seis anos de pena a serem cumpridos, os quais 
corresponderão ao chamado período de prova. 
Nesse particular, há diferença entre o sursis e o livramento condicional de 
outros países, que fixam um prazo, às vezes até superior ao tempo que resta de pena, 
para que o condenado se submeta às condições fixadas, a fim de conseguir o benefício. 
Diz o art. 132 da Lei de Execução Penal: 
“Deferido o pedido, o juiz especificará as condições a que fica subordinado o 
livramento. § 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações 
seguintes: a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável, se for apto para 
o trabalho; b) comunicar periodicamente ao juiz sua ocupação; c) não mudar 
do território da Comarca do Juízo da Execução, sem prévia autorização deste. 
§ 2º Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras 
obrigações, as seguintes: a) não mudar de residência sem comunicação ao juiz 
e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção; b) recolher-se à 
habitação em hora fixada; c) não freqüentar determinados lugares.” 
Manda a lei que, após analisar e deferir o pedido, ou sua proposta, o livramento 
condicional será concedido em cerimônia solene, durante a qual será lida a sentença 
para que o condenado dela tome conhecimento e manifeste, se quiser, sua aceitação, de 
tudo lavrando-se termo assinado por quem a presidir e também pelo condenado (art. 
137 da LEP). 
Na sentença estarão fixadas, assim, as condições para o livramento, que deverão 
ser cumpridas pelo condenado durante o período de prova. Umas condições são 
obrigatórias, outras, facultativas. 
O art. 85 do Código Penal determina que a sentença deverá especificar todas as 
condições – obrigatórias e facultativas – que subordinarão o livramento. O não-
cumprimento das condições poderá acarretar a revogação do benefício. 
 
19.3.1 Obrigatórias 
As condições obrigatórias são as definidas no § 1º do art. 132 da Lei de 
Execução Penal. São elas: 
 
Livramento Condicional - 9 
 
19.3.1.1 Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável, sendo apto 
Como já se falou, o inapto fisicamente para o trabalho não poderá comprovar 
essa condição que, apesar de obrigatória, não é, obviamente, absoluta, valendo apenas 
para os fisicamente sadios. 
A lei nem mencionou, pelo que aparentemente ignorou, as dificuldades para a 
obtenção de empregos ou para a instalação de qualquer negócio lícito em nosso país, 
mormente nos últimos anos. É de todo óbvio que não se poderá exigir de alguém, como 
condição para a manutenção do livramento condicional, a prova de obtenção de 
emprego num país em que pessoas que jamais foram condenadas amargam a situação 
de desempregadas. 
 
19.3.1.2 Comunicar, periodicamente, ao juiz sua ocupação 
Essa comunicação deve ser feita ao juiz da execução penal. Se o beneficiado não 
obteve emprego, deve comunicar o fato ao juiz. Se está desenvolvendo qualquer 
atividade, ainda que não possa provar com documento escrito relação de emprego ou 
atividade negocial, deve, ainda assim, mesmo sem prova literal, comunicar o que está 
realizando, qual a atividade desenvolvida. 
 
19.3.1.3 Não mudar do território da comarca do juízo da execução, 
 sem prévia autorização deste 
Se o beneficiado resolver mudar seu domicílio para outra Comarca, deverá obter 
do juiz da execução penal a prévia autorização para a mudança. Na verdade, deverá 
obter a transferência para a jurisdição de outro juiz da execução penal, da mesma ou de 
outra unidade federada. Se é um direito do preso ser removido para outro presídio, não 
se negará o direito ao que goza do livramento condicional de ser transferido para a 
jurisdição de outro juízo, caso em que a sentença, com as condições determinadas para 
a concessão do benefício, deverá ser comunicada ao juízo do novo lugar da residência 
do beneficiado. 
 
19.3.2 Facultativas 
As condições facultativas, também chamadas judiciais, são estabelecidas no § 
2º do art. 132 da Lei de Execução Penal. O juiz as fixará conforme entender 
necessárias, levando em conta, é claro, o fato praticado e as condições pessoais do 
10 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
condenado. São: 
 
19.3.2.1 Não mudar de residência sem comunicação ao juiz e à 
 autoridade encarregada da observação cautelar e da proteção 
 
Quando o beneficiado com o livramento precisar mudar sua residência, dentro 
da mesma comarca, deverá comunicar o novo endereço ao juiz da execução penal e ao 
Serviço Social, ao Conselho da Comunidade, ao órgão ou à entidade que tiver sido 
encarregada pelo juiz para fiscalizar o cumprimento das obrigações estabelecidas para 
o livramento. 
A medida visa permitir a observação do liberado e o acompanhamento de suas 
atividades e de seu comportamento. 
 
19.3.2.2 Recolher-se à moradia, em horário fixado na sentença 
Ao conceder o livramento, poderá o juiz fixar horário para que o beneficiado se 
recolha a sua casa, para o convívio com a família, se tiver, e o repouso noturno. A razão 
de ser dessa condição é a prevenção de novos delitos, visando à manutenção do 
condenado no lar, em ambiente sadio e favorável a sua reinserção social. 
 
19.3.2.3 Não freqüentar determinados lugares 
A proibição de freqüência a certos ambientes deve levar em consideração a 
natureza do delito praticado e condições pessoais do liberado. Não se irá proibir o 
condenado por um crime de natureza tributária contemplado com o livramento 
condicional de freqüentar uma boate ou uma casa de prostituição. 
MIRABETE ensina que se busca evitar 
“locais que possam prejudicar a moral, a capacidade de trabalho, o estado de 
espírito do condenado, ou seja, que possam propiciar novo desvio de conduta do 
liberado, tais como casas de bebida, casas de jogo, certas reuniões, espetáculos e 
diversões públicas etc.” 
 
 
Op. cit. p. 35. 
 
Livramento Condicional - 11 
 
19.3.2.4 Outras condições 
Pode o juiz estabelecer outras condições que o beneficiado deverá cumprir, com 
vistas em contribuir para a prevenção e para o processo de reinserção social, e desde 
que sejam adequadas ao crime praticado e às condições pessoais do condenado. Devem 
ser evitadas condições absurdas, como freqüentar igrejas, pensar em fazer o bem, 
elaborar relatórios acerca de situações etc. 
Obrigação de freqüentar cursos de alfabetização, de aprimoramento, de 
especialização e de abster-se de uso de bebidas alcoólicas são comuns e aceitáveis, pois 
que inspiram a necessidade de readaptação do homem ao meio social. 
 
19.4 REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO E SEUS EFEITOS, E 
 PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE PROVA 
O livramento condicional será revogado ou poderá ter seu período de prova 
prorrogado, na hipótese da ocorrência de alguns fatos ou situações. A revogação será 
obrigatória ou facultativa. 
 
19.4.1 Revogação obrigatória 
Determina o art. 86 do Código Penal que, se o beneficiado pelo livramento vier a 
ser condenado, por sentença condenatória irrecorrível, a uma pena privativa de 
liberdade por crime cometido durante ou antes da vigência do livramento, este será 
revogado. 
O texto da lei é impositivo: “Art. 86. Revoga-se o livramento...” Não se trata,como se vê, de mera sugestão ou faculdade ao juiz, mas de ordem legal para revogar o 
livramento se ocorrerem as situações dos incisos I e II do citado artigo. 
Tendo obtido o benefício do livramento condicional, após iniciar o período de 
prova e sobrevindo condenação pela prática de qualquer crime, não importa a data de 
seu cometimento, o livramento será revogado. Basta que a sentença condenatória 
transite em julgado. Tanto pode o crime ter sido cometido durante o cumprimento do 
período de prova, quanto cometido antes mesmo do próprio crime que ensejou o 
livramento. 
Enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória por crime cometido 
pelo liberado durante a vigência do livramento, o juiz não poderá declarar extinta a 
pena da qual resultou o benefício, mesmo se já tiver decorrido o tempo do período de 
12 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
prova. É a regra do art. 89 do Código Penal. 
 
19.4.2 Revogação facultativa 
O art. 87 do Código Penal estabelece: 
“O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir 
qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente 
condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de 
liberdade.” 
Se o liberado não cumpre as condições impostas na sentença, sejam as legais, 
sejam as judiciais, estará revelando uma atitude de indiferença para com a justiça penal 
que lhe concedeu um benefício, livrando-o de continuar o cumprimento da pena 
privativa de liberdade a que foi condenado. Estará, assim, desmerecendo o prêmio que 
lhe foi concedido. 
A revogação do livramento com base no descumprimento dessas condições não é 
obrigatória, mas ficará subordinada ao prudente arbítrio do juiz que decidirá sobre a 
conveniência de determinar a revogação do benefício, que implicará o retorno do 
condenado ao cumprimento da pena de prisão. 
É de todo conveniente que ao juiz da execução penal seja concedida a mais ampla 
liberdade de decisão, para determinar a revogação quando absolutamente necessário 
para a realização dos fins da execução penal. 
 
19.4.3 Efeitos da revogação 
A revogação do livramento se dará basicamente por três razões: (a) sobrevindo 
condenação definitiva por crime cometido antes do período de prova; (b) sobrevindo 
condenação definitiva por crime cometido durante o período de prova; e (c) 
descumprimento das condições impostas na sentença. 
Em cada uma dessas situações, a revogação do benefício acarretará 
conseqüências diversas para o condenado. 
 
19.4.3.1 Condenação por crime anterior ao período de prova 
Se a causa da revogação for condenação transitada em julgado por crime 
cometido antes do início do período de prova, o tempo que tiver transcorrido entre o 
Livramento Condicional - 13 
 
início do período de prova e o dia da revogação será descontado na pena do condenado, 
que cumprirá apenas o restante da pena. Em outras palavras, o período de prova – em 
que o condenado esteve em liberdade, cumprindo as condições impostas – será 
computado no tempo de pena a que foi condenado. 
Imagine-se a seguinte situação. Valdomiro foi condenado a nove anos de 
reclusão e após ter cumprido 1/3 da pena, três anos, obtém o livramento condicional 
quando já tinha cumprido três anos e dois meses, e passa a cumprir o período de prova, 
que se estenderá pelo restante da pena, ou seja, cinco anos e dez meses. 
Quando tinha cumprido dois anos do período de prova, sobrevém condenação 
por fato praticado por ele antes do livramento, o que impõe a revogação do livramento. 
O tempo de período de prova, de dois anos, será computado na pena de nove anos, 
devendo o condenado cumprir preso apenas o restante dessa pena: três anos e dez 
meses. Este tempo será somado à nova pena a que foi condenado, por exemplo, de 
quatro anos e dois meses, perfazendo, assim, oito anos, que deverão ser cumpridos, e 
que será a base para o cálculo do novo livramento que poderá ser concedido. 
O art. 141 da Lei de Execução Penal permite, expressamente, a concessão de 
novo livramento àquele que vier a ser condenado por infração cometida antes do 
período de prova: 
“Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do 
livramento, computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de 
prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do tempo 
das duas penas.” 
Em síntese: se a revogação do livramento tiver sido determinada pela 
superveniência de condenação por infração penal – crime ou contravenção – anterior 
ao início do período de prova, o tempo desse será descontado da pena, e o restante 
poderá ser somado com a pena superveniente, para fins de concessão de novo 
livramento, que não é proibido. 
 
19.4.3.2 Condenação por crime durante o período de prova 
Se a revogação decorrer da superveniência de condenação por infração penal – 
crime ou contravenção – cometida durante o período de prova, o tratamento dado pela 
lei é outro. 
O tempo de liberdade do período de prova não será descontado da pena, vale 
dizer, será perdido e o condenado deverá cumprir a pena primitiva integralmente. João 
14 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
é condenado a três anos e seis meses. Cumprido um ano e dois meses, requer o 
livramento, que lhe é concedido quando já acabara de cumprir um ano e seis meses. 
Inicia-se o período de prova destinado a durar dois anos. 
Quando já tinha cumprido um ano de período de prova, transita em julgado 
sentença por crime cometido dois meses depois da concessão do livramento. Este será 
revogado, e o tempo de período de prova cumprido, um ano, não será descontado da 
pena. Deverá cumprir os dois anos que restavam. 
Não bastasse isso, não poderá ser concedido novo livramento condicional em 
relação à primeira pena. Esta não poderá ser somada com a segunda, para os fins do 
livramento. Deverá cumprir a primeira pena integralmente, e após poderá obter o 
livramento condicional apenas em relação à segunda pena, desde que preencha os 
requisitos para a obtenção do benefício. 
No exemplo apresentado, João deverá cumprir os dois anos da primeira pena, e 
só poderá obter o livramento da segunda pena depois de realizar os pressupostos para 
sua concessão. Em outras palavras, tendo sido revogado o livramento, deverá cumprir 
integralmente a pena em razão da qual ele fora concedido, e só após cumpri-la 
integralmente é que deverá reiniciar o atendimento das exigências para a obtenção do 
livramento condicional da segunda pena, que será considerada isoladamente. 
A razão de ser do tratamento diferenciado nas duas situações é simples e justa. 
No primeiro caso, de revogação decorrente de condenação por crime anterior ao 
período de prova, é de ver que o condenado não descumpriu condições, não se portou 
de modo a desmerecer o benefício, já que o crime que ensejou a condenação ocorrera 
antes da obtenção do benefício. Não faria sentido prejudicá-lo por fato anterior ao 
período de prova. 
Nessa segunda hipótese, tendo cometido infração durante o período de prova, 
demonstrou não respeitar as condições impostas, desmerecendo a concessão de 
benefício. Por isso, deverá cumprir a pena primitiva integralmente, não merecendo, em 
relação a ela, novo livramento. Quanto à segunda pena, só poderá obter o livramento 
depois de cumprir o tempo mínimo exigido, 1/3 ou 1/2, se a reincidência tiver sido em 
crime doloso. 
 
19.4.3.3 Descumprimento de condições 
A última hipótese de revogação é a decorrente do descumprimento de condições 
impostas pelo juiz na sentença que concedeu o livramento. Nesse caso, deverá cumprir 
Livramento Condicional - 15 
 
integralmente a pena que estava suspensa, e não poderá obter novo livramento.Dispõe o art. 142 da Lei de Execução Penal: 
“No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o tempo em 
que esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, 
novo livramento.” 
 
19.4.4 Prorrogação do período de prova 
O período de prova será prorrogado, se o condenado beneficiado com o 
livramento condicional cometer, durante o período de prova, outro fato definido como 
crime, razão da instauração de processo penal contra si. 
Exemplo: tramita o processo pelo crime cometido durante a vigência do 
livramento, quando se encerra o tempo. Encerrado o período de prova, sem que tivesse 
havido revogação do benefício, deveria, normalmente, ser extinta a pena, mas a norma 
do art. 89 do Código Penal é clara: 
“O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a 
sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na 
vigência do livramento.” 
Em razão desse preceito, é de se concluir que, nessa hipótese, o período de prova 
será prorrogado até o trânsito em julgado da sentença penal prolatada no processo 
instaurado para apurar o crime cometido durante o tempo do livramento. 
Se for condenado pelo novo crime, o livramento será revogado, e se for absolvido, 
o juiz declarará extinta a punibilidade do crime pelo qual estava em livramento 
condicional. No período de prorrogação, entretanto, o beneficiado não estará sujeito ao 
cumprimento das condições. 
 
19.5 EXTINÇÃO DA PENA 
Terminado o período de prova, sem revogação, a pena a que fora condenado 
será considerada extinta, conforme manda o art. 90 do Código Penal: “Se até o seu 
término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa de 
liberdade.” 
Essa norma deve ser interpretada em harmonia com a norma do art. 89, de que 
se tratou anteriormente. Se durante o período de prova o beneficiado comete fato 
definido como crime, instaurando-se processo contra ele, enquanto não transitar em 
16 – Direito Penal – Ney Moura Teles 
 
julgado, o juiz não poderá decretar a extinção da pena. É claro que, terminado o 
período de prova, sem que o processo seja julgado, o período de prova é prorrogado, 
sem quaisquer condições, aguardando-se seu fim, como já visto no item anterior.

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