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classe, RM foi designado para servir como Embaixador Extra- -ordinário e Plenipotenciário em Nova Delhi, em posto comissionado, portanto; apenas em setembro de 1968 ele foi promovido, por merecimento, a ministro de primeira classe, ou seja, embaixador pleno. Cumulativamente com a representação diplomática na Índia, RM exerceu também a função de embaixador em Colombo, ou seja, junto ao Sri Lanka, embora não residente. Durante sua missão na Índia, foi realizada, em 1966, a primeira visita de um chefe de governo do país da Ásia do Sul ao Brasil, na pessoa da primeira ministra Indira Gandhi, filha do primeiro governante da Índia independente, Jawaharlal Nehru, companheiro de Gandhi, na luta pela emancipação da dominação britânica. Foi também nesse período que seu livro biográfico sobre o Barão do Penedo foi 43 Cf. “O diplomata e sua galeria de mapas”, Diário de Notícias, Rio, 22/09/1974, p. 37. 42 História da política exterior do Brasil Paulo Roberto de Almeida republicado no Rio de Janeiro, em 1968, em segunda edição, pela Editora Bloch. Finalmente, a última missão diplomática da carreira de RM foi exercida na capital de Gana, Accra, de 1970 a 1971, posto que possivelmente ofereceu-lhe a oportunidade de verificar in loco alguns dos traços culturais e linguísticos que tinham sido consignados no seu primeiro livro, sobre a influência africana no português do Brasil. Desde 1972, de retorno ao Brasil, ele foi colocado à disposição do Ministério da Educação e Cultura, oportunidade durante a qual ele continuou impulsionando projetos educacionais e culturais, entre eles a reedição de seu primeiro livro.44 Com base em sua coleção particular de documentos iconográficos e cartográficos, foi organizada, por exemplo, uma exposição especial de mapas dos séculos 16 a 18, no Centro Lume, do Rio de Janeiro, em julho e agosto de 1972; a mesma exposição foi organizada posteriormente no Instituto Brasil-Estados Unidos (IBEU). Identificado como um “colecionador que faz de seu hobby uma ciência”, em matéria de jornal sobre sua enorme coleção, RM esclareceu que “[a]lém de um bom-gosto natural – o mesmo que se requer para a arte – o colecionador de mapas necessita de um bom respaldo bibliográfico”.45 Viveu seus últimos anos de vida em seu apartamento da Lagoa, na Avenida Lineu de Paula Machado, cercado de livros, vindo a falecer em 25 de outubro de 1990, com 78 anos. Segundo registros, deixou em preparo o segundo tomo de sua História da Política Exterior do Brasil, cobrindo a projeção do Império (ou seja, o período do segundo Reinado), e um livro tentativamente intitulado 44 Renato Mendonça, A Influência Africana no Português do Brasil. 4a ed.; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Instituto Nacional do Livro, 1973. 45 Cf. “O diplomata e sua galeria de mapas”, Diário de Notícias, Rio, 22/09/1974, p. 37. 43 Renato Mendonça: um pioneiro da história diplomática do Brasil Viagem ao País dos Astecas, voltado, portanto para observações e comentários recolhidos durante sua estada no México, nos anos da Segunda Guerra. Por qualquer critério que se considere, seja no plano especificamente profissional, seja no âmbito propriamente intelectual, pode-se considerar que RM cumpriu galhardamente suas funções, tanto as estritamente diplomáticas, quanto os encargos autoassumidos que, com prazer, empreendeu no campo das letras, da cultura e da história. Sua produção intelectual excede à da vasta maioria dos diplomatas – quando eles a exibem –, geralmente confortáveis com o simples cumprimento do dever, feito de muitos telegramas e memorandos, incontáveis viagens e missões de trabalho, negociações eventuais, e também muitas recepções e encontros formais ou sociais, a maior parte dos quais em caráter oficial. Além de atender a todas essas tarefas profissionais e compromissos de trabalho, e de bem representar o Brasil em todos os postos onde serviu – sempre de maneira breve, com a grande exceção do México, onde foi extremamente produtivo e empreendedor –, RM também se superou na pesquisa de arquivo, na redação de excelentes trabalhos de caráter histórico, na confecção de alguns excelentes livros no domínio da língua e muitos outros trabalhos de informação geral sobre o Brasil, dos quais existem sobejas evidências nas bibliografias e referências editoriais disponíveis. Dentre suas muitas obras, podem se destacar dois núcleos de produção que marcam, respectivamente, seus anos iniciais e o período intermediário de sua carreira, que são exemplificadas pelos seguintes livros: no primeiro bloco, A influência africana no Português do Brasil (diversas edições, desde 1933) e O Português do Brasil: Origens, Evolução, Tendências (uma única edição, em 1936, ao que se sabe); no segundo bloco, a biografia de Carvalho Moreira, Um diplomata na corte de Inglaterra (1942, 1968 e 2006); o início 44 História da política exterior do Brasil Paulo Roberto de Almeida de uma série não concluída de história diplomática, História da Política Exterior do Brasil, 1500-1822 (única edição, no México, em 1945); e seu livro de “geopolítica histórica”, Fronteira em Marcha (1956; não mais publicado, posteriormente). Apenas essas obras já lhe assegurariam um lugar de destaque no rol – não exatamente exíguo, mas tampouco abundante – dos grandes intelectuais do Itamaraty, em todas as épocas. Adicionalmente, RM produziu significativo número de obras de divulgação da história e das letras brasileiras, voltadas para um público estrangeiro, num meritório esforço intelectual que poderia ser incluído naquela categoria que os franceses chamam de haute vulgarisation. Não resta dúvida que RM prestou enormes serviços à diplomacia profissional, tanto quanto à cultura do Brasil, produzindo obras de reconhecidas qualidades intelectuais, primando tanto pelo rigor da pesquisa quanto pela concisão exemplar de suas muitas sínteses bem informadas, consolidando o que se pode caracterizar de “estado da arte” do conhecimento acadêmico em cada um dos domínios tocados por ele. RM soube elevar-se, com distinção, acima do mero desempenho de repetidas – por vezes aborrecidas – tarefas burocráticas que compõem o menu habitual dos diplomatas, nos postos ou na Secretaria de Estado, para oferecer, tanto ao Brasil, quanto ao público externo, uma amostra significativa, por seus muitos escritos, da história e da cultura do Brasil, no sentido mais completo do conceito intelectual. Paulo Roberto de Almeida Diplomata; professor no Uniceub. Hartford, 9 de novembro de 2013. 45 prefácio O presente tomo constitui o primeiro de uma série de três, nos quais tentaremos uma visão de conjunto da História da Política Exterior do Brasil. O segundo tomo será destinado ao estudo das principais questões do Império brasileiro, analisando à luz de documentos a orientação e os objetivos políticos dos nossos estadistas, sobretudo nas suas reações e ligações com o Império britânico e o rio da Prata. O terceiro e último, finalmente, cingir-se-á a uma exposição concreta, evitando julgamentos, dada a proximidade histórica, dos acontecimentos salientes da República brasileira na esfera internacional, desde sua instauração até a Conferência de Chanceleres do Rio de Janeiro, em princípio de 1942. Naturalmente, um trabalho dessa natureza não pode ser definitivo até que a tarefa de publicação dos anais diplomáticos do Brasil atinja uma fase de maior desenvolvimento. Ficará, porém, como um esboço a ser depois desenvolvido posteriormente em obra de mais fôlego, talvez de colaboração, como no excelente 46 História da política exterior do Brasil Renato Mendonça manual Histoire Diplomatique de l’Europe, obra coletiva de Henri Hauser, Pierre Renouvin, Jacques Ancel e outros. Procuramos seguir um rumo novo na organização