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BEHAVIORISMO E COGNITIVISMO CAP V

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V
B EH A V IO R ISM O E COGNITIVISMO: C OM PA RA ÇÃO EN T R E P RO PO S IÇÕ E S T EÓ R ICAS E M OD E LOS D E I N T ER V EN Ç ÃO T ER A P ÊU T IC A
Atualmente, segundo Siocum e Butterfield (1994), o principal 
cisma na Psicologia ocorre entre behavioristas e cognitivistas.
Analistas do comportamento criticam os cognitivistas por serem
mentalistas - em outras palavras, por serem cognitivistas. Psicologos
cognitivistas criticam os analistas do comportamento por explicarem o
comportamento apenas no nivel da observacao - em outras palavras, por
serem comportamentais (Slocum e Butterfield, 1994, p. 59).
Diante do exposto, observa-se que a relacao entre as orientacoes
behavioristas e cognitivistas esta cercada de controversias, sendo
possivel identificar, atualmente, pelo menos tres grupos que assumem
argumentos totalmente diversos um do outro. Um primeiro grupo
considera as explicacoes behavioristas incompletas e/ou inadequadas
e, por isso, defende as explicacoes cognitivas (Bandura, 1995;
Locke, 1995; Mahoney, 1995); um segundo grupo, ao contrario, considera
as explicacoes cognitivas inadequadas e/ou desnecessarias e por
isso sustenta o modelo behaviorista (Hawkins, 1992; Lee, 1992; 1995;
Morris e cols., 1982; Observer, 1977); e um terceiro grupo, que adota
uma posicao intermediaria, reconhece o valor das explicacoes
behavioristas e cognitivistas e sugere que ambas nao apenas se
complementam, mas que as suas diferencas sao apenas de terminologia
(Overskeid, 1995; Slocum e Butterfield, 1994).
Mesmo diante de posicoes tao divergentes e "avesso" aos problemas
que envolvem as diferencas de paradigmas, o que se verifica e
que o movimento de integracao entre Behaviorismo e Cognitivismo, sobretudo
na area clinica, tem prosperado. Considerando estes fatos (controversias
e crescimento), o capitulo propoe-se a identificar alguns limi35
tes da integracao entre os modelos de intervencao da TAC e da TC de
Beck, confrontando proposicoes teoricas de orientacoes behavioristas e
cognitivistas e certos aspectos da conducao do processo terapeutico em
cada um dos tipos de intervencao.
Em um primeiro momento, serao demarcadas algumas semelhancas
e distincoes entre os sistemas behavioristas de Watson,
Tolman, Hull e Skinner e os pressupostos da TC de Beck. Neste caso,
trata-se de um confronto entre proposicoes teoricas. No segundo
momento, pretende-se ilustrar, atraves de fragmentos de sessoes, aspectos
das seguintes problematicas: a) existem ca ra c te ris tica s
definidoras de intervencoes cognitivistas e comportamentais?; b) e
possivel distinguir uma intervencao comportamental de uma intervenção M
cognitiva?; e c) identificam-se semelhantes nos processos
terapeuticos comportamentais e cognitivista s que ju s tificam a
integracao entre as orientacoes no contexto clinico?
Confronto entre Proposições Teóricas
Os aspectos consideradqs para a comparacao entre os
behaviorismos e TC serao as concepcoes de comportamento, ambiente,
causalidade, homem e crenca. A inclusao do conceito de crencas neste
confronto justifica-se na medida em que se observa que este conceito
ocupa um lugar central nas explicacoes cognitivistas e, alem disso, e
possivel estabelecer uni contraponto entre as interpretacoes sustentadas
pelos cognitivistas, com a interpretacao que e dada por Tolman
Skinner e outros analistas do comportamento. Watson e Hull foram excluidos
do confronto, em funcao de nao ter sido encontrada nenhuma
referencia as crencas em textos desses autores e de seus comentadores.
Em outras palavras, enquanto eles sao importantes como representantes
de behaviorismos distintos, o termo crenca, em seus modelos
explicativos, nao e incluido.
Watson restringia-se a estudar o comportamento publicamente
observavel, definindo-o, basicamente, como mudancas motoras e glandulares
desencadeadas por eventos ambientais. Tolman e Hull, apesar
de tambem estudarem o comportamento diretamente observavel, sustentavam
que este era um fenomeno determinado por variaveis
mediacionais. Ja Skinner defendia que a ciencia do comportamento deveria
estudar nao apenas comportamentos publicos, mas tambem comportamentos
privados, aos quais apenas cada individuo, em particular,
possuisse acesso direto; ambos os tipos de comportamento, de acordo
com Skinner, sao determinados por contingencias de sobrevivencia e de
reforcamento. No modelo de Beck, semelhante as posicoes de Tolman e
Hull, os comportamentos sao fenomenos publicos, produtos imediatos
36
de variaveis mediacionais. Alem disso, pode-se dizer que enquanto o
comportamento para Watson, Tolman, Hull e Beck remete a nocao de
resposta, para Skinner, o comportamento e uma relacao.
No Behaviorismo de Watson, o ambiente foi concebido como
partes do universo externo e interno que afetam o organismo, sendo
que os dois "mundos de estimulos" possuem dimensoes fisicas. Nos
sistemas de Tolman e Hull, supoem-se que o ambiente se restrinja
apenas as situacoes externas que ativam variaveis internas em uma
cadeia de eventos. Skinner, como Watson, concebe o ambiente como
partes do universo interno e externo que estao em relacao com o individuo.
I3eck assume a mesma concepcao de Tolman e Hull ao interpretar
o ambiente como situacoes externas aos individuos, que desencadeiam
variaveis mediacionais.
A respeito do modelo causal, o Behaviorismo watsoniano adota
o paradigma S-R, que e caracteristico de um modelo mecanicista de causa
e efeito. Nos Neobehaviorismos Mediacionais de Tolman e Hull, embora
o paradigma seja diferente, no caso o S-O-R, o modelo de causalidade
e o mesmo presente na explicacao de Watson (mecanico). No
Behaviorismo Radical, a explicacao dos eventos e seledonista, historica
e, por isso, nao e uma explicacao mecanica, sendo o paradigma adotado
o Sd-R-Sr. Na concepcao de Beck, o modelo causal tambem e mecanico,
da mesma forma que o de Watson, Tolman e Hull, embora mais proximo
dos dois ultimos, em funcao da possibilidade de enquadrar suas explicacoes
no paradigma S-O-R.
Relacionado com as nocoes de causalidade supracitadas, cabe
fazer um paren tese para lembrar que Watson e Skinner sao extemalistas
e nao recorrem a mediadores em suas explicacoes comportamentais,
distintamente de Tolman e Beck. Skinner e externalista, na medida em
que, mesmo quando admite a possibilidade de um evento interno controlar
um comportamento, este evento nunca e autonomo; o controle
discriminativo, em instancias de comportamentos operantes, constroise
a partir da relacao entre individuo e ambiente publico (Tourinho,
1999).
A concepcao de homem adotada pelo Behaviorismo de Watson
implica um dualismo em funcao de considerar que o homem "se constitui"
de processos fisicos e mentais. Da mesma forma, para Tolman, existem
eventos que diferem dos fenomenos fisicos; tais eventos sao variaveis
mediacionais de natureza cognitiva. Hull caracterizava as variaveis
mediacionais de seu sistema como intra-organismic^s (fisicas) e
nao recorria a termos mentais; assim, pode-se dizer que ele trabalhava
com uma concepcao monista. Da mesma maneira, Skinner assume uma
posicao monista ao negar a existencia de fenomenos que de alguma
forma vao alem do fisico. Ja o modelo de Beck retoma a posicao dualista
37
ao sustentar, como Tolman, que existem variaveis mediacionais cognitivas
que diferem dos eventos fisicos.
Ate aqui, observou-se que o Behaviorismo de Watson e semelhante
ao de Tolman, Hull e do modelo de intervencao de Beck no que se
refere a concepcao de causalidade mecanica, e distingue-se destes em
relacao a nocao de ambiente e ao paradigma adotado. Alem disso,
Watson, Tolman e o modelo de Beck sao semelhantes quanto a postura
dualista fisico/mental (cognitivo). Comparado com o Behaviorismo
Radical, Watson assemelha-se quanto a concepcao de ambiente e por
nao recorrer a eventos mediacionais. Skinner e Hull aproximam-se na
adocao do monismo. Os Neobehaviorismos de Tolman e Hull sao semelhantes
ao sistema de Beck em relacao as concepcoesde comportamento
e ambiente, ao modelo causal e ao paradigma adotado. O Behaviorismo
Radical de Skinner, com excecao das semelhancas ja citadas com o
Behaviorismo de Watson e o de Hull, nao compartilha nada com o sistema
de Tolman, nem tampouco com o modelo de intervencao de Beck.
A partir destas constatacoes, e possivel afirmar que, se de um
lado, o Behaviorismo Classico de Watson e o Neobehaviorismo
Mediacional de Hull possuem aspectos semelhantes ao sistema
cognitivo aqui apresentado, e o Neobehaviorismo de Tolman e
indistinguivel daquele sistema em pressupostos fundamentais, por
outro lado, o Behaviorismo Radical distingue-se radicalmente dos pressupostos
cognitivistas de Beck.
As principais informacoes abordadas ate aqui estao sintetizadas
nas Tabelas 2 e 3, a seguir:
A respeito da Tabela 2, alguns esclarecimentos ainda sao necessarios.
O primeiro refere-se a interpretacao da TC como representante
do paradigma S-O-R. Fazer isto e uma interpretacao proposta por alguns 
behavioristas (Chiesa, 1994; Moore, 1995b; 1996) em f uncao das
similaridades encontradas entre as explicacoes mediacionais e as
cognitivistas. Na literatura cognitivista/ entretanto, tal interpretacao e
raramente encontrada. Na Tabela 2, entao, o objetivo foi tentar evidenciar
a similaridade do paradigma S-O-R com o modelo explicativo de Beck.
Passando agora a analise das crencas, como visto no capitulo
1, no Neobehaviorismo Mediacional, Tolman inclui as crencas em sua
categorizacao de variaveis intervenientes e no processo de aprendizagem.
Tolman postulou a existencia de seis conexoes envolvidas na
aprendizagem, dentre elas estao as crencas de equivalencia, as expectativas
de campo e os modos de cognicao de campo. As crencas de equivalencia
consistem em atribuir uma crenca ou expectativa existente a
situacoes diferentes (comportar-se como); as expectativas de campo sao
representacoes do meio que permitem agir em situacoes novas, e os modos
de cognicao de campo dizem respeito a processos de ordem superior responsaveis
pelas expectativas de campo (Marx e Hillix, 1982).
Em 1959, Tolman afirmou que havia um lugar em que as crencas
eram armazenadas. Disse ele: "as diferentes prontidoes ou crencas (dispo-
39
sicoes) estao armazenadas juntas (no sistema nervoso)" (Conforme citado por
Morris e cols., 1982, p. 118). No sistema de Tolman, entao, embora nao seja
possivel identificar um conceito claramente elaborado para as crencas, elas
sao concebidas como variaveis mediacionais cognitivas que, armazenadas
no sistema nervoso, sao capazes de determinar comportamentos. Mais precisamente,
dizem respeito as representacoes e as expectativas de um organismo
construidas na relacao com o ambiente. Assim, quando o organismo
ja adquiriu representacoes e expectativas acerca de certas situacoes, serao
elas que determinarao a maneira como o organismo se comportara quando
exposto aquelas situacoes.
No Behaviorismo skinneriano, apesar do conceito de crencas
nao ser relevante, Skinner chegou a escrever a respeito em algumas de
suas obras. A analise skinneriana coloca o tema em discussao sob duas
oticas: de um lado, indagando o que controla o comportamento de atribuir-
se crencas a alguem, isto e, como se pode interpretar a "linguagem"
das crencas; de outro, examinando o processo atraves do qual explicacoes
que o sujeito elabora sobre o ambiente entram no controle de seu
comportamento subsequente.
No livro, 'Verbal Behavior7 /(Skinner, 1957), Skinner comenta
que o comportamento do ouvinte pode estar sob controle de crencas,
relacionando-as com a forca da resposta no sentido de uma tendencia
de se comportar de uma dada maneira. Um dos exemplos de crencas
citados por Skinner (1957) foi o seguinte: "Nossa crenca de que ha
queijo na geladeira e uma funcao de, ou e identica a, nossa tendencia
de ir ate a geladeira quando queremos comer queijo, ou outras coisas
do tipo" (pp. 159-160).
Tendencia, em uma concepcao skinneriana, diz respeito a probabilidade
de comportamento (Skinner, 1989). Deste modo, afirmacoes
sobre crencas dos sujeitos sao usualmente afirmacoes sobre a probabilidade
de comportamento e estao baseadas na observacao de instancias
^passadas do comportamento.
Da mesma forma, em Contingencies o f Reifor cement (Skinner,
1969), Beyond Freedom and D ignity (Skinner, 1971) e About Behaviorism
(Skinner, 1974), Skinner sugere que falas sobre crencas dizem respeito a
uma probabilidade de acao, que e funcao da historia passada dos individuos
de exposicao as contingencias. Em 1969, Skinner afirma que crencas
sao estabelecidas "quando aumentamos a probabilidade da acao
atraves do reforcamento do comportamento" (p. 94).
As crencas podem tambem ser interpretadas como regras, ou
auto-regras, embora Skinner nao fale explicitamente em crencas usando
estas denominacoes. Retomando o exemplo dado por Skinner (1957) de
que "nossa crenca de que ha queijo na geladeira e uma funcao de, ou e
40
identica a, nossa tendencia de ir ate a geladeira quando queremos comer
queijo, ou outras coisas do tipo" (pp. 159-160), verifica-se que ha uma
outra possibilidade de interpretacao das crencas. Neste exemplo, uma
crenca tambem pode ser entendida como comportamento privado (pensar
que ha queijo na geladeira) capaz de exercer controle sobre o com-
; portamento publico subsequente (ir ate a geladeira). Neste caso, pode-se
dizer que crencas sao regras (auto-regras, se tiverem sido elaboradas
jpelo proprio sujeito) na medida em que a propria fala do individuo,
'i aberta ou encoberta, pode funcionar como um Sd verbal descritivo de
/ uma probabilidade de comportamento, que entra no controle do comportamento
nao-verbal subsequente.
Regras sao definidas por Skinner (1969) como descricoes de
contingencias que funcionam como Sds1°. Sendo assim, uma regra nao
altera a probabilidade de comportamento, apenas sinaliza para a possibilidade
de reforcamento. Auto-regras, por outro lado, so diferem
das regras na medida em que sao descricoes de contingencias formuladas
pelos proprios individuos.
Resumindo, Skinner interpreta crencas como uma dada probabilidade
de comportamento e como Sd verbal, cuja explicacao esta na historia
passada de exposicao as contingencias. Logo, uma crenca nao e um
agente interno e nem determinante de comportamento, ela so existe enquanto
uma probabilidade de comportamento ou descricao verbal (publica
ou privada) de uma dada probabilidade. Enquanto descricoes, crencas
sao fenomenos comportamentais que podem adquirir funcao de controle
do comportamento publico e devem ser explicadas pelas contingencias.
Em relacao as crencas irracionais ou disfuncionais descritas
pelos cognitivistas, alguns autores, por exemplo, Popeen (1989) e Zettle
e Hayes (1982), assumem explicitamente que crencas irracionais sao
auto-regras formadas e mantidas atraves de con ting en cia s de
reforcamento providas pela comunidade, que estao em desacordo com
as contingencias correspondentes (das quais seriam supostamente descritivas)
com as quais o sujeito interage. Nas palavras de Popeen (1989):
O problema das expectativas e crencas descritas por terapeutas
cognitivistas pode ser formulado como auto-regras que estao em conflito
com as contingencias. Os sistemas desenzwlvidos por estes terapeutas
e teoricos [cognitivo-comportarnentais] podem ser incluidos em uma
estrutura behaviorista como analises e programas para alterar as regras
que governam o comportamento (p. 341).
1U Atualmente, existem várias críticas à definição funcional de negras sustentada por Skinner. Tais criticas
levaram alguns autores (Hayes, Browstem, Zettle, Rosenfarb e Korn, 1986; Sehlinger e Blakely,
1987; Zettle e Hayes, 1982) a propor definições diferentes. Entretanto, apesar de esta discussão ser
relevante, ela não será abordada neste trabalho pois, o que é fundamental, é que todas as propostas
assumem uma postura extemalista em relação ao comportamento governado por regra, considerando-
o comoum comportamento determinado por uma história de reforçamento; o que é totalmente
compatível com a proposição skinneriana.
41
Na TC, as cognicoes sao concebidas como fenomenos presentes
durante o processamento de informacao, sendo originarias da
interacao entre situacoes ambientais e crencas. As crencas, por sua
vez, sao definidas como representacoes internas aos individuos, que
se estruturam a partir da interacao entre a predisposicao genetica e as
situacoes ambientais (Beck, 1993). No caso, as crencas sao conteudos
cognitivos responsaveis pela determinacao do comportamento, afeto e
pensamento.
Confrontando as diferentes interpretacoes de crencas aqui
apresentadas, identifica-se que ha muitas similaridades entre as concepcoes
de Tolman e Beck, sendo apenas a interpretacao behaviorista
radical a que se apresenta como realmente distinta das demais.
Nas concepcoes de Tolman e Beck, as crencas sao variaveis
mediacionais de natureza cognitiva, que se referem as interpretacoes
individuais sobre situacoes do ambiente e possuem status causal. Todos
consideram que as crencas resultam de processos ontogeneucos,
sendo que Beck acrescenta tambem o papei da filogenese.
No sistema de Tolman, apenas o termo crenca e encontrado.
Entretanto, no sistema de Beck os termos pensamento, ideia, autoverbalizacao,
interpretacao, esquema, pensamento automatico e regra
sao usados como equivalentes.
Em Beck, diferente de Tolman, nota-se uma enfase sobre as
crencas irracionais ou disfuncionais dos individuos. Tolman, na realidade,
trata das crencas sem usar os adjetivos racional e irracional.
Beck enumera as crencas irracionais ou distorcoes cognitivas que considera
mais frequentes na cultura ocidental. Possivelmente, esta enfase
nas crencas irracionais explica-se pelo fato de o sistema ter surgido a
partir da formulacao de um modelo de intervencao terapeutica.
Os modos de cognicao de campo postulados por Tolman sao
semelhantes aqueles que Beck denomina de esquemas. Lembre-se que
os modos de cognicao de campo sao processos ou funcoes superiores
que produzem representacoes atraves da percepcao, memoria ou
inferencia. E "os esquemas sao as estruturas cognitivas que organizam
a experiencia e o comportamento" (Freeman e Pretzer, 1993, p. 4).
Em sintese, nas concepcoes de Tolman e Beck, as crencas apresentam-
se como uma variavel fundamental na explicacao dos comportamentos
humanos, na medida em que se argumenta que os homens
sentem e agem de acordo com as crencas que possuem a respeito de si
mesmos, das outras pessoas e das situacoes em geral. Neste caso, para o
Neobehaviorismo Mediacional de Tolman e a TC, conhecer as crencas
dos individuos e de grande utilidade para a previsao e o controle dos
comportamentos dos individuos.
42
Uma interpretacao bastante distinta das anteriores e dada por
Skinner. Para ele, crencas nao sao mediadores internos, nao sao
cognitivas e tampouco sao causas. O conceito de crencas, na concepcao
skinneriana, refere-se a probabilidade de comportamento ou a
descricao de probabilidade; como tais, devem ser explicadas a partir
da historia de vida dos individuos. Como descricoes, crencas sao entendidas
como comportamentos verbais que podem participar de uma
cadeia comportamental.
Do mesmo modo, para Poppen (1989) e Zettle e Hayes (1982),
considerados aqui como representantes do Behaviorismo Radical contemporaneo,
crencas nao sao processos internos nem causais, sao autoregras
resultantes da interacao do individuo com uma comunidade verbal
especifica, que podem vir a controlar comportamentos publicos.
Tabela 4: Concepcoes de crencas nos sistemas de Tolman, Beck e
Skinner.
Com a finalidade de sistematizar e visualizar melhor as interpretacoes
de crencas aqui apresentadas, a tabela 4 ilustra de forma resumida
as informacoes principais.
O acrescimo do conceito de crencas como mais um aspecto de
comparacao entre as proposicoes behavioristas e cognitivista permitiu
evidenciar, com base em mais dados, que o Neobehaviorismo de Tolman
e indistinguivel da TC em pressupostos fundamentais e bastante distinto
do Behaviorismo Radical contemporaneo, pois, enquanto o
Neobehaviorismo Mediacional de Tolman e a TC representam concepcoes
cognitivas e intemalistas do fenomeno comportamental, behavioristas
radicais adotam uma concepcao externa lista para explicar este fenomeno.
Para os primeiros, o comportamento e sempre um fenomeno mediado;
para os ultimos, ocorre sem este tipo de mediacao.
Alem disso, a analise do conceito de crencas em cada um dos
sistemas apresentados possibilita evidenciar as diferencas analiticas de
cada sistema. Na verdade, algumas destas diferencas estao implicitas
no livro e outras foram destacadas sem a enfase necessaria. Por estes
motivos, elas serao retomadas a seguir.
Tolman e Beck diferenciam-se de Skinner, pois mantem a concepcao
tradicional da Psicologia de que o comportamento e determinado
por fenomenos internos que possuem uma natureza nao-fisica. O
comportamento e apenas um sintoma de algo subjacente; um meio indireto
de se chegar aos problemas reais dos individuos.
De uma perspectiva Behaviorista Radical, ao procurar as causas
do com po rtamen to em um mundo n a o -fis ico , os au tore s
cognitivistas estariam lidando com processos inferidos (no sentido de
imaterial e determinante do comportamento) mais do que com fenomenos
do mundo material e considerando que os problemas e as solucoes
para os problemas humanos estao dentro dos individuos e nao no ambiente
externo.
As analises feitas ate aqui levam a uma observacao de carater
mais generico - nao se pode falar em integracao Behaviorismo/
Cognitivismo sem antes demarcar os limites desta integracao e tais
limites estao circunscritos ao Neobehaviorismo Mediacional e a certos
aspectos do Behaviorismo de Watson.
Assim, defendera compatibilidade, complementaridade e/ou
■ integracao entre Behaviorismo Radical e Cognitivismo constitui em uma
] incoerencia teorica que so pode ser explicada pela ausencia de familia-
\ ridade com os pressupostos de uma ou outra orientacao, como sugerem
I as analises de Falcone (1993), Haycs e Hayes (1992), Zettle e Hayes
^J1982), dentre outros.
Em contrapartida, enquanto as analises feitas sao importantes
para demarcar com precisao alguns dos limites da integracao entre
as proposicoes teoricas de behavioristas e cognitivistas, elas nao
permitem visualizar de que forma aquelas proposicoes se refletem
nos processos terapeuticos comportamental e cognitivo. Sendo assim,
dando continuidade a este capitulo, a discussao adiante estara centrada
nas questoes estritamente relacionadas aos contextos clinicos cognitivo
e comportamental, partindo de dois fragmentos de sessoes: uma
conduzida por um terapeuta comportamental e outra por um terapeuta
cognitivo.
44
Os fragmentos correspondem a atendimentos nao equivalentes
sob varios aspectos (natureza do problema, etapa da intervencao,
repertorio do cliente, etc.) e representam uma fracao muito reduzida dos
processos terapeuticos. Ainda assim, podem ser uteis para o proposito
de colocar em evidencia alguns aspectos importantes de cada modelo de
intervencao.
Análise de Fragmentos de Sessões de Terapia Cognitiva
e Terapia Analítico-Comportamental
Fragmento Ilustrativo de uma Intervenção Cognitiva11
Fonte de referencia: Beck e cols. (1979, pp. 229-243).
Dados sobre o cliente e a queixa: "A paciente era uma psicologa clinica
de 40 anos que tinha sido recentemente abandonada pelo namorado.
Tinha uma historia de depressoes intermitentes desde a idade de 12
anos, tinha experimentado diversas formas de psicoterapia, drogas
antidepressivas, terapia eletroconvulsiva e hospitalizacoes. Tinha
sido vista pelo presente terapeuta (A.T.B.) cinco vezes, num periodo
de 7 ou 8 meses. Na ocasiao desta entrevista era evidente que estava
deprimida e, como indicavam seus episodios anteriores, provavelmente
suicida" (pp. 225-226).
Terapeuta (T5): Voce esperava terdificuldade nos feriados... E quando
saiu de sou consultorio para vir para ca, como estava se sentindo?
Paciente (P5): Mais ou menos da mesma maneira. Eu sinto que eu
posso fazer tudo que tenho que fazer, mas eu nao quero.
T7: Certo... e que tipo de sentimento voce teve? Sentindo-se paxa baixo?
P7: Eu sinto que nao ha esperanca para mim. Eu sinto meu futuro...
que tudo é futil, que nao ha esperanca.
T8: E que ideia voce teve da entrevista de hoje?
P8: Achei que provavelmente ajudaria, como sempre aconteceu no
passado... que me sentiria melhor - temporariamente. Mas isso
toma as coisas mais dificeis, porque sei entao que vou me sentir mal
novamente.
i l A fim de que a leitura não se tome cansativa, nem se perca o objetivo desta transcrição, serâo suprimidos
alguns trechos e as explicações dadas pelo terapeuta do que ele e a cliente estão fazendo, por
exemplo, "explicita a crença-alvo"; "rejeita a hipótese". Quando houver supressão de trechos, isto será
facilmente percebido, uma vez que a numeração original dos episódios será mantida. Nos trechos
reproduzidos, não será feito nenhum corte. Assim, as reticências são do original.
45
T9: Isto toma as coisas piores em termos dc como voce se sente?
P9:Sim.
P13: Eu sei que nao estou sendo razoavel; os pensamentos me parecem
tao reais... que de fato exige esforco para muda-los.
T14: Ora, se fosse facil para voce - modificar os pensamentos, acha
que eles durariam tanto?
P14: Nao... olhe, eu nao digo que isto nao funcionaria com outras pessoas.
Nao estou tentando dizer isso, mas nao sinto que possa funcionar
comigo.
T15: Entao, tem alguma evidencia de que chegou a funcionar com
voce?
P18: Minha conclusao e que sempre terei que ficar sozinha porque
nao consigo manter um relacionamento com um homem.
T19: Esta bem, essa e uma explicacao possivel. Que outras explicacoes
possiveis existem?
P19: Essa e a unica explicacao.
T27: Bem, havia outras coisas que voce disse que eram importantes,
que sao importantes ainda agora.'Esta correto? Quais eram as coisas
importantes para voce em dezembro, novembro e outubro?
F27: Tudo era importante.
T28: Tudo era importante. E quais eram essas coisas?
P28: E dificil ate me lembrar de algo com que me importasse entao.
T29: Ok, que tal seu trabalho?
T31: Na maior parte do tempo, voce sentia que estava .realizando alguma
coisa em seu trabalho, E agora? Voce acha que esta realizando
alguma coisa no trabalho agora?
P31: Nao quanto poderia.
T32: Voce nao esta realizando tanto quanto poderia mas, mesmo quando
esta "desligada", parece-me que se sai tao bem ou melhor que
muitos dos outros colegas. Isso ta certo?
P58: Eu diria, o que ha de errado com a minha mente? Se aconteceu
uma vez, como posso nega-lo?
T59: Porque e da natureza humana, infelizmente, negar as experiencias
que nao sao coerentes com a atitude predominante no momento.
E exatamente para isso que existe a terapia da atitude. Voce
tem atitudes muito fortes e qualquer coisa que seja incompativel
com essas atitudes promove a dissonancia cognitiva. Tenho certeza
de que voce ja ouviu falar nisso e as pessoas nao gostam de ter
dissonancias cognitivas. Assim, jogam fora qualquer coisa que nao
seja compativel com sua crenca predominante.
P59: Entendo. . . 46
I
T60: Voce tem uma crenca predominante. Acontece, felizmente, que essa
crenca predominante esta errada. Nao e maravilhoso? Ter uma crenca
predominante que a faz infeliz e descobrir que esta errada! Mas
vai exigir um bocado de esforco e demonstracoes para mostrar isso a
voce, para convence-la de que a crenca esta errada. E por que?
P60: Nao sei.
T61: Voce quer saber por que? Porque voce sempre a teve. Por que?
Antes de mais nada, porque essa crenca surgiu numa idade muito
prematura. Nao vamos entrar na sua infancia, mas obviamente,
voce fez uma tentativa de suicidio, ou pensou nisso quando era
jovem. E uma crenca que ja estava la numa idade muito tenra. Foi
implantada muito a fundo, numa idade muito prematura, porque
voce era demasiado vulneravel naquela epoca. E, desde entao,
quantas vezes foi repetida em sua cabeca?
T88: Bem, vamos operacionalizar a coisa. O que quer dizer "Nao vai
terminar"? Significa que voce nunca ira se sentir bem novamente em
toda sua vida? Ou significa que voce vai sentir uma tristeza
ininterrupta, inflexivel, inexoravel, dia apos dia, hora apos hora,
minuto apos minuto? Parece-me que essa e a sua crenca. Essa e a
hipotese por hora. Bem, vamos testa-la retrospectivamente. Voce
teve essa ideia de que "Isso nunca vai terminar". Quando foi que
teve essa ideia? Ontem 9 da manha?
P88: Foi.
T89: Ora, isso significa que, se essa hipotese estiver correta, desde a
hora em que acordou hoje de manha voce deveria ter sentido uma
tristeza e uma infelicidade interminaveis, inflexiveis, ininterruptas,
inevitaveis, e inexoraveis.
P89: Isso nao e verdade.
T98: Isso e extraordinario! Bem, diga novamente, para que eu possa
me lembrar.
P98: Eu disse, “Pare e de a voce mesma uma chance".
T114: Baixou para 15% partindo de 95% e deve lembrar que se trata a
dor de modo estruturado, da maneira que lhe contei sobre as pessoas
que se fazem sentir tristes durante um periodo especifico. Tem
que ser estruturada. Se voce puder estruturar sua dor, ela sera
algo que ira ergue-la no futuro, e de fato o fara. Mas se voce se vir,
simplesmente, como sendo vitimada por essas forcas sobre as quais
nao tem controle... sentir que esta simplesmente abandonada, em
termos das coisas internas e externas... ai se sentira pessima. E o que
tem a fazer e transformar-se, deixando de ser alguem que se sente
desamparada, certo?... E voce e a unica pessoa que pode faze-lo...
47
Nao posso torna-la forte c independente... Posso mostrar-lhe o caminho,
mas se voce conseguir, nao sera por haver tirado nada de mim:
voce o tera feito, utilizando os recursos dentro de voce mesma.
Fragmento Ilustrativo de uma Intervenção Comportamental12
Fonte de referência: Guilhardi e Queiroz (1997, pp. 79-86).
Dados sobre o cliente e a queixa: “E tem 30 anos, e casada, tem dois
filhos: uma garota, D, de 14 anos e um menino, M, de 12 anos.
Mora com A desde os 13 anos, tendo se casado aos 18 anos '7 (p. 49). A
queixa inicial trazida pela cliente era a de que queria se separar, mas
seu marido nao aceitava. Dentre os motivos alegados para a separacao,
encontram-se o alcoolismo, o controle excessivo e as agressoes
fisicas do marido.
Terapeuta (T2): Ja ficou claro (em sessoes anteriores) como lidar com A.
Voce consegue controla-lo e sabe conversar com ele quando nao
esta bebado. E sabe tambem o que acontece que o leva a beber.
Cliente (E2): E quando ele tem algum problema.
T3: Discutimos bastante como o seu comportamento faz com que ele
beba e a agrida. Quando voce o ameaca, quando fala coisas que
nao o agradam.
E3: Eu nao estou tao preparada assim.
T4: O que falta para ele que faz com que em situacoes como essas (a do
cunhado) ele reaja dessa forma (bebendo, agredindo)?
E4: Eu, no.
T5: Chegamos num ponto que vocc sabe como lidar com A. Vocc precisa,
isso sim, resolver se quer ou nao quer lidar de forma diferente
com ele. Nao e se sentindo obrigada. Todas as vezes e a mesma
coisa, voce reclama. Agir assim vai desgasta-la e nao produzira
bons resultados, nem praticos, nem emocionais.
E5: Tambem acredito nisso., so que tenho que estar preparada financeiramente
para tomar a decisao (separacao). Eu andava quieta, mas
nao da. A e da idade da pedra e eu nao sou. E dificil alguem que
tem a mente igual a minha viver com alguem como ele. Ainda que eu
supero muita coisa.
T6: E, voce ve os comportamentos dele, mas nao ve os seus...
E6: Mas sou normal. Ele nao sai o dia inteiro? Quando foi mesmo? Ah... no
domingo. Ele foi pescar com os amigos. Todos tem casa, mulheres, mas
Para facilitar a análise posterior, os episódios verbais serão numerados, o que não é feito no original.
Do mesmo modo, também serão suprimidos alguns trechos c os comentários do terapeutaem relação
a sua intervenção.
48
para onde vao? La pra minha casa! A ja foi falando que era pra eu limpar
os peixes. Ve se nao e falta de educacao? Eu estava assistindo a fita (de
video), ele chegou e desligou para assistir ao jogo com os amigos. Ele
convidou todos os amigos para ver o jogo e comer la em casa. Eu nao me
contive,, falei na frente de todos se A pensava que eu era palhaca, que
trabalhava o dia todo e a noite recebia aquele monte de gente para fazer
sujeira. Ele que nao venha folgar em mim. Existem outras casas, por que
nao foram para la? Ele faz coisas contra mim que nenhum marido faz
com suas mulheres.
T7: Vamos lembrar o que ocorreu. No sabado voce brigou com ele
porque ele bebeu, ai ele a ofendeu. Depois ficou sobrio e tentou se
aproximar de voce...
E7: Com mil amores.
T8: Voce o agrediu... ficou brava, irritada... O que aconteceu depois?
Voce ficou trabalhando o tempo todo {em casa). Ele ate falou que
voce so trabalha, nao da atencao para ele. O clima continuou pessimo.
No dia seguinte, ele saiu o dia inteiro. Voce trabalhou o domingo
todo. E dificil ficar de bom humor... mesmo sem falar voce mostra sua
irritacao.
E8: Por incrivel que pareca eu estava bem...
T9: Acho dificil. O jeito que esta relatando mostra isso. Voce esta irritada
so de contar... Como voce falou com ele de manha?
E9: Ele disse que ia pescar e eu disse: "va, mas nao traga peixe pra
ca!". Ele nao gostou do jeito que eu falei.
TIO; Voce pode ate ter razao, mas gostaria que considerasse outras
possibilidades. Ele pode estar querendo fazer coisas diferentes,
como no dia que ele telefonou querendo fazer surpresa pra voce,
foi com seu cunhado busca-la para comer pizza na casa dele. Nao
fez sujeira na sua casa e, mesmo assim, voce reclamou do A. Ele
procura fazer algumas coisas com voce. Voce ficou em casa trabalhando
a tarde toda, ficou cansada e achou que era provocacao
dele. Pode ser, mas vamos pensar em alternativas...
E10: Eu penso diferente. Ele quer ser o gostosao e leva todo mundo la. So
que quem trabalha sou eu. No dia seguinte, eu saio cedo e nao da
para deixar a casa com aquele cheiro de peixe. A minha cunhada me
disse que rezou para ninguem ir la. A minha vizinha tem tempo no
dia seguinte para limpar a casa, ja que nao trabalha. Por que nao
levaram para casa dela? Ele fez isso porque eu tinha avisado para
nao irem la para casa, so para mandar em mim.
T i l : Ou sera que ele quer fazer coisas com os amigos dele e com voce
tambem?
49
T13: E, voce nao fala, mas sente. E de alguma forma demonstra a irritacao
que sente. Voce ja se perguntou se o que sente e causado pelas atitudes
dele ou por outras razoes? Voce nao estaria usando A como o
responsavel por outras frustracoes suas?
E13: Quando A chegou, foi aquela briga, queria que eu falasse o seu (da
terapeuta) telefone. Ele fica desconfiado. Eu nao vou dar. Qualquer
dia voce recebe um telefonema dele e sera tarde da noite como sempre.
Voce vai ver quem ele e. Ele quer ligar porque acha que eu minto.
T14: F, nos ja discutimos isso. Ele faz essas coisas porque esta inseguro.
E o que voce faz para isso acontecer?
E14: Eu nao sei, ele tem ciume ate do meu sorriso.
T15: Por que A tem ciumes do seu sorriso? Sera que e por que sabe que voce
sorri para todos, exceto para ele? Por que voce e carinhosa, atenciosa
com filhos, sobrinhos, irmaos? E com ele, o que voce faz?
T18: Acho que ele gosta de voce, e carente e quer carinho e atencao. Ele
nao e obsessivo. F., me parece que voce nao sente o mesmo por ele.
Nao sentindo, nao pode dar espontaneamente. Voce precisa responder
para voce mesma: por que de fato fica com A? E por que ficando
com ele toma as coisas mais dificeis? Voce o pune por todos os atos
dele, como voce propria diz, mas me parece que ha mais coisas envolvidas
na situacao: voce tambem o pune quando ele a trata bem. Apenas
muda a forma de punicao: voce o despreza, trata bem os outros,
deixando claro que nao o trata bem.
E18; Eu tenho pena dele.
T27: Entao a situacao e essa: voce agindo assim ele ficara cada vez pior
(icontrolador, agressivo). Voce sabe. Voce precisa pensar o que quer, se
quer viver em paz.
E27: Eu estou tentando, mas ele nao colabora.
T28: Espera ai, E. Voce esta agindo de maneira que a situacao piora e
voce sabe. Voce sabe o que fazer se quiser viver em paz. E assim
que ele e voce funcionam. Voce deve pensar no que voce quer,
daqui para frente. Se para voce nao e bom viver com ele, vamos
ver o que voce quer fazer da sua vida.
E28: Sempre acontece alguma coisa. Eu nao me conformo como alguem
vive com outra pessoa assim. Ele nao aceita, quer que eu
fique em casa, faca o almoco no horario que ele quer.
T31; Entao, essa e a realidade. Voce pode ate tentar, mas nao faz ou
nao consegue e isso traz consequencias em casa.
E31: Eu nao estou mais aguentando e vou bater. A vai sair perdendo. Eu
estou disposta. Vai ser a decisao final, porque se ele apanhar de mim,
sera terrivel para ele.
T33: Bom, voce tem duas alternativas. Voce esta querendo enfrenta-lo e
sabe no que vai dar: briga e confusao. E opcao sua. Voce pode tomar
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a situacao menos ruim se quiser. Eu ja falei no comeco da sessao
como voce e aversiva e pune muito A. Ele reage a isso e fica agressivo.
A ja falou, quando voces estavam numa boa, o quanto gosta e quer
ficar com voce, "no seu colo". A ja disse que voces conseguem o que
quiserem dele, se o tratarem bem, com atencao e carinho. Voce lembra?
Voce precisa ser mais flexivel nas situacoes, se sua opcao for
viver melhor com ele. A decisao e sua.
T35: Talvez ele nunca entenda. Mas voce pode pensar em outra alternativa.
Analisando as verbalizacoes dos terapeutas cognitivo e
comportamental, construiu-se uma lista de sete categorias. A tabela abaixo
mostra as categorias, o numero das respectivas verbalizacoes do
terapeuta e a frequencia de cada categoria.
Alem da nao equivalencia dos fragmentos no que se refere a
natureza do problema, a etapa do processo terapeutico em que as sessoes
ocorreram, dentre outros, os fragmentos tambem nao sao equivalentes
para efeito de comparacao de frequencias de tipos de verbalizacao,
1S Nesta categoria, foram incluídas as verbalizações em que o terapeuta fazia uso explícito de um princípio
comportamental (elogio após o relato de algo considerado positivo, por exemplo) ou usava
algum termo técnico.
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 Alem da nao equivalencia dos fragmentos no que se refere a
 natureza do problema, a etapa do processo terapeutico em que as sessoes
 ocorreram, dentre outros, os fragmentos tambem nao sao equivalentes
 para efeito de comparacao de frequencias de tipos de verbalizacao,
uma vez que correspondem a intervalos diferenciados de tempo de uma
sessao. Deste modo, os dados quantitativos da Tabela 5 podem apenas
ser tomados como indicativos da frequencia relativa dos tipos de
verbalizacao. Isto, porem, nao invalida a tentativa dc tracar caracteristicas
definidoras de um tipo e outro de intervencao, a partir de uma analise
qualitativa dos fragmentos de sessoes.
Um primeiro dado relevante que aponta para diferencas entre
a TAC e a TC consiste nas verbalizacoes sobre eventos privados. As
falas do terapeuta analitico-comportamentai (frequentes, ao contrario
1S Nesta categoria, foram incluídas as verbalizações em que o terapeuta fazia uso explícito de um princípio
comportamental (elogio após o relato de algo considerado positivo, por exemplo) ou usava
algum termo técnico.
do que muitas vezes se afirma sobre o modelo de intervencao da TAC)
referiam-se aos sentimentos e aos pensamentos da cliente e do marido.
Ja no caso do terapeuta cognitivo, seu foco estava nos sentimentos, pensamentos
e crencas da cliente em particular. Alem disto, sempre que o
terapeuta analitico-comportamentai falava de sentimentos e pensamentos,
o fazia enfocando sentimentos da cliente e de seu marido, relacionando-
os com situacoesexternas; quando falava em pensamento, dava
ideia de que a cliente precisava analisar a situacao na qual estava
inserida (exemplo: "Voce deve pensar no que voce quer ..." - T28). Ja o
terapeuta cognitivo fazia perguntas sobre o que a cliente sentia em algumas
situacoes e falava de crencas e perisamentos como algo interno que
precisa ser modificado (por exemplo: "Voce tem uma crenca predominante.
Acontece, felizmente, que essa crenca predominante esta errada.
Nao e maravilhoso? Ter uma crenca predominante que a faz infeliz c
descobrir que esta errada! Mas vai exigir um bocado de esforco e demonstracoes
para mostrar isso a voce, para convence-la de que a crenca
esta errada" -T 6 0 ; "E uma crenca que ja estava la numa idade muito
tenra" - T61).
Uma segunda distincao sugerida pela analise dos fragmentos
diz respeito ao fato de o terapeuta comportamental buscar identificar
variaveis externas (eventos antecedentes e consequentes) relacionadas
aos comportamentos da cliente e das pessoas envolvidas em sua queixa;
enquanto o terapeuta cognitivo em nenhum momento fez referencia aquelas
variaveis.
Outra diferenca observada esta no foco de mudanca. Em todos
os momentos que o terapeuta cognitivo abordou a necessidade de mudanca,
fazia-o referindo-se basicamente a mudancas internas (ideias,
pensamento, crencas); ja o terapeuta comportamental sugeria mudancas
comporta mentais. Isto, por sua vez, aponta para o fato de que, enquanto
o terapeuta analitico-comportamentai propoe diretamente a
mudanca comportamental, o cognitivo pressupoe que a mudanca do
comportamento ocorra indiretamente, ja que e a mudanca cognitiva que
leva a mudanca comportamental.
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Por fim, relacionado com as distincoes supracitadas, pode-se
dizer que a enfase na conducao do processo terapeutico cognitivo, tanto
quando o terapeuta busca informacoes sobre a situacao atual do cliente
como quando visa intervir, esta em eventos privados, mais precisamente
nas crencas do cliente. Contrariamente, no processo de intervencao
comportamental, a enfase recai no comportamento publico do cliente e
das pessoas que fazem parte de seu ambiente. Como consequencia, podese
dizer, ainda, que o foco de intervencao no caso da TC tem uma dimensao
mais individual; por outro lado, na intervencao comportamental, a
analise envolve nao apenas o proprio cliente, mas tambem as situacoes
ambientais (incluindo pessoas significativas) envolvidas na queixa.
Apesar das diferencas apontadas, os fragmentos ilustrativos
das sessoes cognitiva e comportamental tambem possibilitam identificar
aspectos semelhantes na conducao das sessoes da TAC e da TC.
A primeira e que, tanto o terapeuta comportamental quanto o cognitivo
fazem referencia a eventos publicos (comportamentos e situacoes
ambientais externas) e privados. As demais semelhancas foram descritas
pelo proprio Beck (1970), em um artigo intitulado Terapia cognitiva:
natureza e relacao com a terapia do comportamento, e sao as seguintes: tanto
a intervencao cognitiva quanto a a na litico-comportamental estao voltadas
para a resolucao de problemas especificos, sao diretivas, enfatizam
o tempo presente e discutem explicitamente com o cliente as hipoteses
para a origem e a m anutencao dos problemas.
Concluindo, a analise dos fragmentos das sessoes comportamental
e cognitiva leva a cinco observacoes principais:
1. TAC e TC apresentam varios aspectos semelhantes no que se refere a
conducao da sessao terapeutica;
2. Acredita-se que existam caracteristicas especificas das intervencoes
comportamental e cognitiva que permitam fazer a distincao entre um
tipo de intervencao e outro;
3. Podem ser consideradas como caracteristicas definidoras da TAC o
foco de intervencao sobre o comportamento publico do cliente c das
pessoas pertencentes ao seu ambiente (intervencao externa lista) e
uso de analise funcional;
4. Possivelmente, a caracteristica definidora da TC consiste em tomar
como foco de intervencao sentimentos, pensamentos e crencas do
cliente, considerando-os como eventos internos que possuem status
cau sa l quanto aos com p o rtamen to s p ublicos (inte rv encao
internalista), ainda que as mudancas, nos ultimos, sejam a base a
partir da qual se afirme a mudanca cognitiva;
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5) As intervencoes terapeuticas comportamental e cognitiva examinadas
orientam-se pelos pressupostos do Behaviorismo Radicai e do
Cognitivismo, respectivamente.
Concluidas as consideracoes acerca das semelhancas e distincoes
entre o processo terapeutico analitico-comportamental e o
cognitivo, no proximo capitulo sera discutido o proprio movimento
integracionista entre Behaviorismo e Cognitivismo.
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