Buscar

Hermeneutica Constitucional

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 1 
 
Hermenêutica constitucional: comparação das teorias de Konrad Hesse e Friedrich 
Müller. 
 
Marco Túlio Reis Magalhães 
Bacharel em Direito pela Universidade de Brasília – UnB 
 
Sumário: 1 Introdução – 2 A concretização na visão/concepção de Friedrich Muller - 3 A 
concretização na visão/concepção de Konrad Hesse - 4 Conclusões - 5 Referências 
bibliográficas 
1 Introdução 
O momento constitucional brasileiro está a exigir reflexões, pois comunga com a 
perplexidade que assola o constitucionalismo mundial: qual o caminho do constitucionalismo 
e da teoria constitucional para este século XXI? 
No mundo, o constitucionalismo tem gerado um duplo sentimento: satisfação pela 
sofisticação que adquiriu a teoria constitucional nas últimas décadas, mas por outro lado, 
angústia, em face da latente ameaça que o modelo tradicional de Constituição, concebido 
para o Estado-nação,(1) vem sofrendo. 
A idéia de território livre, em virtude da formação de blocos econômicos transnacionais, tem 
como principal conseqüência o enfraquecimento do modelo tradicional de 
constitucionalismo.(2) Exemplo de tal fenômeno é a atual polêmica que circunscreve o 
interesse da União Européia em se adotar uma constituição única, dado que importantes 
países integrantes (França e Holanda) rejeitaram a idéia na primeira tentativa de tal mister. 
Nesse contexto, surge como paradigma metodológico intransponível a necessidade de 
estabelecimento de critérios razoavelmente claros para uma hermenêutica constitucional(3) 
adequada à realidade constitucional instaurada no Brasil a partir de 1988, privilegiando o 
desenvolvimento de métodos específicos para concretizar os comandos normativos contidos 
na Constituição de 1988, os quais levem em consideração a história de nosso país e sua 
inserção no cenário mundial. 
Para tanto, a análise e a comparação das modernas teorias metodológicas desenvolvidas 
por Konrad Hesse e Friedrich Müller na Alemanha, principalmente a partir da segunda 
metade do século XX, parecem servir de contribuição para a discussão acima 
contextualizada, na busca de otimização do desenvolvimento constitucional brasileiro quanto 
à concretização de normas constitucionais, pois tais teorias surgiram em face da 
necessidade de uma nova perspectiva hermenêutica na Europa, no que tange à questão da 
interpretação constitucional,(4) necessidade esta semelhante à realidade presente em nossa 
realidade constitucional vigente. Ressalta Paulo Bonavides em que contexto(5) estes autores 
estão inseridos: 
Os constitucionalistas do Estado social, nomeadamente Kriele, Hesse, Häberle, Horst 
Ehmke e Friedrich Müller, valeram-se da metodologia tópica para restaurar o prestígio da 
hermenêutica jurídica no Direito Constitucional. Emanciparam-na da servidão à 
metodologia clássica de Savigny, nascida de inspirações jusprivatistas. Os velhos 
métodos trasladados ao Direito Público tiveram duvidosos efeitos em sua aplicação desde 
 
Artigos
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 2 
que o Estado de moldes liberais do século XIX tomou configuração definitivamente social. 
Com as mudanças e transformações operadas em quase todos os institutos jurídicos, 
difícil se tornou para a metodologia de bases jusprivatistas conciliar o Direito com a 
Sociedade, a Constituição com a realidade, a norma com o fato.(6) 
Nesse sentido, a compreensão, comparação e sistematização de seus métodos de 
concretização de normas constitucionais podem contribuir na verificação de sua 
aplicabilidade à jurisdição constitucional(7) brasileira e sua contribuição na viabilização de 
uma hermenêutica constitucional(8) voltada à realidade pátria, que gere maiores ganhos 
objetivos na concretização de direitos fundamentais.(9) Suas concepções teóricas ensejam 
grandes reflexões no constitucionalismo moderno e mostram-se essenciais contribuições 
para o debate de um novo estágio do constitucionalismo moderno brasileiro na busca por 
modelos hermenêuticos(10) adequados para o nosso modelo de Constituição.(11) 
Portanto, mais do que buscar exaurir todas as definições e conceitos teóricos de ambas as 
teorias, intenta-se aqui a apresentação de pontos de vista comuns e divergentes entre elas, 
bem como, posteriormente, esclarecer as vantagens e contribuições que podem trazer ao 
constitucionalismo brasileiro, sob o recorte teórico do entendimento da necessidade de 
concretização de normas constitucionais. 
2 A concretização na visão/concepção de Friedrich Müller 
É necessário entender aqui, ainda que de forma sucinta, como funciona e com base em que 
elementos a metódica jurídica normativo-estruturante de Müller - enquanto parte de sua 
Teoria Estruturante do Direito(12) - se organiza,(13) buscando esclarecer os principais 
pontos de destaque para a concretização das normas constitucionais.(14) Müller revela os 
desafios do enfoque de uma Metódica constitucional: 
Nesse sentido a metódica do direito constitucional encontra-se em situação 
especialmente precária por defrontar-se a partir do seu objeto normativo com dificuldades 
amplificadas, que surgem além disso também à medida que ela não pode invocar, 
diferentemente do Direito Civil e do Direito Penal, uma concepção global já realizada pela 
história da ciência. Muito mais do que o Direito Administrativo, o Direito Constitucional é o 
campo de trabalho de uma disciplina jovem, relativamente pouco diferenciada em termos 
técnicos e formais.(15) 
O que Müller ressalta pode ser evidenciado em diversas questões constitucionais discutidas 
no Brasil, diante dos desafios de se concretizar a norma constitucional, ainda mais quando 
estas questões são recentes no ordenamento jurídico pátrio, sobre elas a doutrina pátria 
pouco tenha se debruçado e a jurisprudência, em termos gerais, pouco tenha se 
manifestado. Nesse sentido, é inevitável concluir que não há ainda uma "concepção global" 
das questões postas. 
A percepção dos desafios de se concretizar as normas constitucionais não passa 
despercebida por renomados constitucionalistas modernos, como evidencia também Gomes 
Canotilho, ao ressaltar que: 
(…) se a uma teoria da constituição se pergunta, em geral, pelas condições de 
concretização de uma lei fundamental (debate sobre a facticidade e normatividade do 
direito constitucional e sobre os pressupostos da força normativa da constituição), à 
metódica constitucional interessa sobretudo clarificar o processo de concretização 
(aplicação, interpretação e controlo).(16) 
Para a metódica estruturante de Müller, o processo de concretização vai além da 
interpretação, que seria somente um dos elementos do método.(17) Esta metódica se baseia 
na idéia de que o processo de concretização da norma é estruturado, ou seja, existem vários 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 3 
elementos de concretização a serem considerados e há uma vinculação entre eles, pois 
estariam sobrepostos. (18)Nesse sentido, destaca: 
(…) a norma jurídica apresenta-se ao olhar realista como uma estrutura composta pelo 
resultado da interpretação de dados lingüísticos (programa da norma) e do conjunto de 
dados reais conformes ao programa da norma (âmbito normativo). Nessa estrutura a 
instância ordenadora e a instância a ser ordenada devem ser relacionadas por razões 
inerentes à materialidade da questão [sachlich zusammengehören]. O texto da norma não 
é aqui nenhum elemento conceitual da norma jurídica, mas o dado de entrada/input mais 
importante do processo de concretização, ao lado do caso a ser decidido 
juridicamente.(19) 
O processo estruturante pode ter que passar por todos eles para que se chegue à decisão 
do caso concreto, ou por apenas alguns. Nesse sentido, busca-se clarificar o processo de 
decisão, tentando torná-lo mais claro e controlável. Principalmente, quando se trabalhacom 
normas constitucionais que, normalmente, carecem de preenchimento de sentido, conteúdo 
e delimitação de alcance. 
Assim, a idéia de concretização(20) visa evidenciar que a normatividade(21) se dá na 
decisão do caso concreto,(22) bem como evidencia que a norma e seu texto são distintos e 
que esta normatividade não reflete necessariamente o que esteja positivado, mas vai além. 
Segundo Müller: 
Essa propriedade do direito, de ter sido elaborado de forma escrita, lavrado e publicado 
segundo um determinado procedimento ordenado por outras normas, não é idêntica à sua 
qualidade de norma. Muito pelo contrário, ela é conexa a imperativos do Estado de Direito 
e da democracia, característicos do Estado Constitucional burguês da modernidade. 
Mesmo onde o direito positivo dessa espécie predominar, existe praeter constitutionem 
um direito constitucional consuetudinário com plena qualidade de norma. Além disso, 
mesmo no âmbito do direito vigente a normatividade que se manifesta em decisões 
práticas não está orientada lingüisticamente apenas pelo texto da norma jurídica 
concretizanda. A decisão é elaborada com a ajuda de materiais legais, de manuais 
didáticos, de comentários e estudos monográficos, de precedentes e de material de 
Direito Comparado, que dizer, com ajuda de numerosos textos que não são idênticos ao e 
transcendem o teor literal da norma.(23) 
Desta forma, o conceito de norma (que abrange o programa e o âmbito da norma),(24) 
normatividade (considerada num processo estruturado) e o texto da norma são distintos. A 
norma não é idêntica ao teor literal da norma.(25) O texto da norma, por sua vez, é a ponta 
do iceberg neste processo, ou seja, o ponto inicial da concretização. 
O teor literal expressa o programa da norma(26) ou a ordem da norma (mas não o é) 
enquanto que o âmbito da norma é 
o recorte da realidade social na sua estrutura básica, que o programa da norma 
"escolheu" para si ou em parte criou para si como seu âmbito de regulamentação (...) 
pode ter sido gerado (prescrições referentes a prazos, datas, prescrições de forma, regras 
institucionais e processuais, etc) ou não pelo direito. (27) 
O âmbito da norma ou domínio normativo(28) é um fator co-constitutivo da normatividade 
para esta teoria. 
Müller estrutura o processo de concretização a partir de determinados elementos, a saber: 
elementos metodológicos strictiore sensu (interpretações gramatical, genética, histórica e 
teleológica; bem como os conhecidos princípios isolados de interpretação da constituição, 
como o princípio da interpretação conforme a constituição, da unidade e da concordância 
prática), elementos do âmbito da norma (que podem ser ou não gerados pelo direito), 
elementos dogmáticos (jurisprudência e doutrina), elementos de teoria (ligados às próprias 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 4 
teorias de direito, Estado e constituição), elementos de técnica de solução, elementos de 
política do direito e política constitucional. (29) 
Os primeiros três elementos estariam diretamente referidos a normas (o terceiro em parte), 
enquanto que os demais não estariam diretamente referidos a normas e teriam uma função 
auxiliar no processo de concretização. 
Desta forma, o autor busca um processo normativo vinculante, em que estes elementos 
devem atuar vinculadamente, de modo estrutural, em que um complementaria o outro, 
sempre partindo do texto como marco inicial, para se aferir o programa da norma e o seu 
âmbito e nesse processo recíproco, ao conjugar a aplicação destes elementos, concretizar a 
norma ao caso em questão. (30) 
Para Müller, esta metódica funciona para qualquer área onde se trabalhe com normas, pois 
serve como método de trabalho. Seria uma teoria geral para produção e controle de normas, 
enquanto método. Na verdade, Friedrich Müller quer garantir um controle racional da 
decisão, e esta metódica serve tanto para o direito infraconstitucional, como constitucional, 
seja ou não recente.(31) Entretanto, segundo ele, mostra-se mais profícua ao direito 
constitucional, no sentido de que ali diariamente surgem problemas novos que os métodos 
clássicos já não se mostram capazes de resolver sozinhos. 
Além disso, ressalta que a tarefa de concretização não é afeta somente aos juízes e 
tribunais, embora normalmente partícipes deste processo, mas envolve um conjunto de 
atores legitimados pela Constituição e que legitimam o processo de decisão. Nesse sentido: 
Não é o teor literal de uma norma (constitucional) que regulamenta um caso jurídico 
concreto, mas o órgão legislativo, o órgão governamental, o funcionário da administração 
pública, o tribunal que elaboram, publicam e fundamentam a decisão regulamentadora do 
caso, providenciando, quando necessário, a sua implementação fáctica – sempre 
conforme o fio condutor da formulação lingüística dessa norma (constitucional) e com 
outros meios metódicos auxiliares da concretização.(32) 
Por fim, vale ressaltar que a proposta da metódica estruturante, baseada no processo de 
concretização da norma, é trazer elementos adicionais a este processo, que de forma 
alguma prescindem dos métodos tradicionais de interpretação das normas, que são passos 
obrigatórios e que têm utilidade prática em diversos casos. Nesse sentido, ressalta Müller: 
A distinção entre âmbito material, âmbito da norma e programa da norma, sua 
diferenciação ulterior com referência à peculiaridade do caso jurídico decidendo e a 
operação com esses conceitos estruturais não podem assegurar decisões corretas nem 
substituir os recursos metódicos auxiliares tradicionais e mais recentes. Esses aspectos 
estruturais oferecem elementos adicionais de diferenciação metódica, de um estilo de 
fundamentação e exposição detalhadas. Para a metódica do direito constitucional eles 
comprovaram a sua necessidade como meios da jurisprudência e da análise da 
jurisprudência. Para o direito administrativo tais pontos de vista para conceitos normativos 
formais de orientação necessariamente material como "proporcionalidade", 
"necessidade", "adequação" etc. (para problemas de uso comum, da transformação da 
norma ou da transformação do objeto ["Sachwandel"]) podem ser aplicados com 
fecundidade na fundamentação material de conceitos de apreciação [Ermessensbegriffen] 
e conceitos jurídicos indeterminados e em nexos similares.(33) 
Portanto, Müller tenta destacar a importância da função da realidade no processo de 
concretização, embora deixe claro que esta permanece normativamente vinculada aos 
limites do programa normativo. Ele busca recuperar ou realçar a realidade social, 
normativamente vinculada ao caso concreto pela norma de decisão, que o positivismo 
tradicional deixou de considerar como importante,(34) embora não a tenha rejeitado de 
forma expressa.(35) Além disso, destaca o caráter dinâmico do direito, em que ordenação 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 5 
jurídica e realidade ordenada estariam em contínua interação e, nesse processo 
normativamente estruturado, busca-se delimitar o programa e o âmbito normativos, para se 
chegar à norma de decisão. 
3 A concretização na visão/concepção de Konrad Hesse 
Sempre que se fala em Konrad Hesse, logo vem à mente sua fundamental contribuição para 
a discussão do constitucionalismo moderno, no que se refere à formulação e fundamentação 
da força normativa da Constituição,(36) em contraposição(37) à concepção de Constituição 
formulada por Ferdinand Lassalle,(38) "concepção esta mecanicista das relações entre a 
Constituição e as forças sociais."(39) Eis a questão central colocada por Hesse a respeito 
desta força normativa: 
A questão que se apresenta diz respeito à força normativa da Constituição. Existiria, ao 
lado do poder determinante das relações fáticas, expressas pelas forças políticas e 
sociais, também uma força determinante do Direito Constitucional?Qual o fundamento e 
o alcance dessa força do Direito Constitucional? Não seria essa força uma ficção 
necessária para o constitucionalista, que tenta criar a suposição de que o direito domina a 
vida do Estado, quando, na realidade, outras forças mostram-se determinantes? Essas 
questões surgem particularmente no âmbito da Constituição, uma vez que aqui inexiste, 
ao contrário do que ocorre em outras esferas da ordem jurídica, uma garantia externa 
para a execução de seus preceitos.(40) 
Para dar conta destas indagações, Hesse indica três proposições para a análise da questão 
e para a busca de uma resposta fundamentada, a saber: a presença de um condicionamento 
recíproco(41) existente entre a Constituição e a realidade político-social; a identificação dos 
limites e das possibilidades de atuação da Constituição Jurídica e o atendimento dos 
pressupostos para a eficácia da Constituição. Quanto ao condicionamento recíproco, 
destaca Hesse que: 
O significado da ordenação jurídica na realidade e em face dela somente pode ser 
apreciado se ambas – ordenação e realidade – forem consideradas em sua relação, em 
seu inseparável contexto, e no seu condicionamento recíproco. Uma análise isolada, 
unilateral, que leve em conta apenas um ou outro aspecto, não se afigura em condições 
de fornecer resposta adequada à questão. (…) A radical separação, no plano 
constitucional, entre realidade e norma, entre ser (Sein) e dever ser (Sollen) não leva a 
qualquer avanço na nossa indagação. (42) 
Hesse realça a necessidade de superação de um isolamento entre norma e realidade, 
presente no pensamento constitucional do passado recente,(43) "como se constata tanto no 
positivismo jurídico de Escola de Paul Laband e Georg Jellinek, quanto no "positivismo 
sociológico" de Carl Schmitt." (44) 
Nesse sentido, Hesse entende que a Constituição necessita de existência vinculada à 
realidade, quer dizer, deve estar numa constante referência(45) às condições históricas e 
naturais de cada situação concreta, embora não possa extrapolá-las. Segundo ele, 
a norma constitucional não tem existência autônoma em face da realidade. A sua 
essência reside na sua vigência, ou seja, a situação por ela regulada pretende ser 
concretizada na realidade. Essa pretensão de eficácia (Geltungsanspruch) não pode ser 
separada das condições históricas de sua realização, que estão, de diferentes formas, 
numa relação de interdependência, criando regras próprias que não podem ser 
desconsideradas. (…) Mas, - esse aspecto é decisivo – a pretensão de eficácia de uma 
norma constitucional não se confunde com as condições de sua realização; a pretensão 
de eficácia associa-se a essas condições como elemento autônomo. (…) Graças à 
pretensão de eficácia, a Constituição procura imprimir ordem e conformação à realidade 
política e social. (…) A Constituição adquire força normativa na medida em que logra 
realizar essa pretensão de eficácia.(46) 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 6 
Em seguida, ao analisar os limites e possibilidades de realização da Constituição 
Jurídica,(47) que se refere à Constituição escrita, afirma que ela não é capaz de por si só 
realizar nada, mas pode impor tarefas, ou seja, "transforma-se em força ativa se essas 
tarefas forem efetivamente realizadas, se existir a disposição de orientar a própria conduta 
segundo a ordem nela estabelecida, (…) se puder identificar a vontade de concretizar essa 
ordem."(48) Nesse sentido, ele destaca que esta transformação em força ativa estaria a 
depender da presença não só na consciência geral, mas principalmente na consciência dos 
principais responsáveis pela ordem constitucional, não só da vontade de poder, mas também 
da vontade de Constituição.(49) 
Portanto, Hesse entende que a realização da Constituição importa na capacidade de se 
operar "na vida política, nas circunstâncias da situação histórica e, especialmente, na 
vontade de Constituição".(50) Arremata o catedrático de Friburgo: 
Essa vontade de Constituição origina-se de três vertentes diversas. Baseia-se na 
compreensão da necessidade e do valor de uma ordem normativa inquebrantável, que 
proteja o Estado contra o arbítrio desmedido e disforme. Reside, igualmente, na 
compreensão de que essa ordem constituída é mais do que uma ordem legitimada pelos 
fatos (e que, por isso, necessita de estar em constante processo de legitimação). 
Assenta-se, também, na consciência de que, ao contrário do que se dá com uma lei do 
pensamento, essa ordem não logra ser eficaz sem o concurso da vontade humana. Essa 
ordem adquire e mantém sua vigência através de atos de vontade. (…) A força que 
constitui a essência e a eficácia da Constituição reside na natureza das coisas, 
impulsionando-a, conduzindo-a e transformando-se, assim, em força ativa. Como 
demonstrado, daí decorrem os seus limites. Daí resultam também os pressupostos que 
permitem a Constituição desenvolver de forma ótima a sua força normativa.(51) 
Já os pressupostos para a eficácia e atuação ótima da Constituição referem-se tanto ao 
conteúdo dela quanto à práxis constitucional. Nesse sentido, em relação ao conteúdo, 
quanto mais a Constituição lograr corresponder à natureza singular do presente, mais 
seguro será o desenvolvimento da força normativa. Mais do que isto, como seu requisito 
essencial, esta força deve levar em conta não só os elementos políticos, sociais, econômicos 
dominantes, mas também deve incorporar "o estado espiritual(52) (geistige Situation) de seu 
tempo." (53) 
A Constituição deve estar apta a se adequar a eventuais mudanças desses elementos 
condicionantes, ou seja, deve ter mecanismos que viabilizem esta adequação; "deve limitar-
se, se possível, ao estabelecimento de alguns poucos princípios(54) fundamentais,(55) cujo 
conteúdo específico, ainda que apresente características novas em virtude das céleres 
mudanças na realidade sócio-política, mostre-se em condições de ser desenvolvido."(56) Ele 
informa também a importância destes princípios para a interpretação dos direitos 
fundamentais, principalmente pelo Tribunal Constitucional Alemão.(57) Ademais, a 
Constituição não deve se fundar numa estrutura unilateral. Nesse sentido, destaca Hesse 
que: 
Se pretende preservar a força normativa dos seus princípios fundamentais, deve ela 
incorporar, mediante meticulosa ponderação, parte da estrutura contrária. Direitos 
fundamentais não podem existir sem os deveres, a divisão de poderes há de pressupor a 
possibilidade de concentração de poder, o federalismo não pode subsistir sem uma certa 
dose de unitarismo. Se a Constituição tentasse concretizar um desses princípios de forma 
absolutamente pura, ter-se-ia de constatar, inevitavelmente – no mais tardar em momento 
de acentuada crise – que ela ultrapassou os limites de sua força normativa. A realidade 
haveria de pôr termo à sua normatividade; os princípios que ela buscava concretizar 
estariam irremediavelmente derrogados.(58) 
Quanto aos pressupostos de eficácia ótima da força normativa da Constituição relacionados 
à práxis constitucional, destaca Hesse inicialmente que todos os partícipes da vida 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 7 
constitucional devem congregar daquela vontade de Constituição (preservação da 
Constituição). Além disso, deve-se evitar o recurso reiterado à revisão constitucional 
(reforma constitucional), tanto por abalar a confiança no valor inquebrantável da 
Constituição, quanto por dar-se, efetiva ou aparentemente, mais valor aos elementos fáticos 
do que à ordem normativa vigente. 
Por último e com maior interesse a este estudo, apresenta-se como fator fundamental e 
decisivo para o fortalecimento da força normativa a interpretação constitucional.(59) Ela está 
"submetida ao princípio da ótima concretização da norma (Gebot optimaler Verwirklichung 
der Norm). Evidentemente, esse princípio de ótimaconcretização da norma não pode ser 
aplicado com base nos meios fornecidos pela subsunção lógica e pela construção 
conceitual."(60) Hesse entende que a interpretação da Constituição, por estar condicionada 
a fatos concretos da vida, não pode ignorá-los. Quanto à interpretação e a necessidade de 
concretização constitucional, destaca Hesse: 
A interpretação adequada é aquela que consegue concretizar, de forma excelente, o 
sentido (Sinn) da proposição normativa dentro das condições reais dominantes numa 
determinada situação. Em outras palavras, uma mudança das relações fáticas pode – ou 
deve – provocar mudanças na interpretação da Constituição. Ao mesmo tempo, o sentido 
da proposição jurídica estabelece o limite da interpretação e, por conseguinte, o limite de 
qualquer mutação normativa. A finalidade (Telos) de uma proposição constitucional e sua 
nítida vontade normativa não devem ser sacrificadas em virtude de uma mudança da 
situação. (…) Uma interpretação construtiva é sempre possível e necessária dentro 
desses limites. A dinâmica existente na interpretação construtiva constitui condição 
fundamental da força normativa da Constituição e, por conseguinte, de sua estabilidade. 
Caso ela venha a faltar, torna-se inevitável, cedo ou tarde, a ruptura da situação jurídica 
vigente.(61) 
Portanto, Hesse atribui à interpretação constitucional, submetida ao princípio da ótima 
concretização,(62) papel fundamental para a eficácia da força normativa. Em outras 
palavras, "atribui-se ao Direito Constitucional a tarefa de concretização(63) da força 
normativa da Constituição, sobretudo porque esta não está assegurada de plano."(64) 
Segundo ele: 
Interpretação constitucional é concretização. Exatamente aquilo que, como conteúdo da 
Constituição, ainda não é unívoco deve ser determinado sob a inclusão da "realidade" a 
ser ordenada. Nesse aspecto, interpretação jurídica tem caráter criador: o conteúdo da 
norma interpretada conclui-se primeiro na interpretação, naturalmente, ela tem também 
somente nesse aspecto caráter criador; a atividade interpretativa permanece vinculada à 
norma. (65) 
Condição necessária para esta interpretação é a pré-compreensão,(66) pois para Hesse 
"concretização pressupõe um "entendimento" do conteúdo da norma a ser concretizada. 
Esse não se deixa desatar da "(pré)-compreensão"(67) do intérprete e do problema concreto 
a ser resolvido, cada vez," dado que o intérprete "não pode compreender o conteúdo da 
norma de um ponto situado fora da existência histórica, por assim dizer, arquimédico 
(grifei), senão somente na situação histórica concreta, na qual ele se encontra."(68) Nesse 
sentido, ao comentar sobre os elementos/condições de possibilidade à concretização 
normativo constitucional da teoria de Hesse, destaca Kelly Silva o seguinte: 
Não basta decidir por apresentar uma decisão, em princípio, porque não há método de 
interpretação autônomo separado dos fatores de uma realidade histórica concreta. Diante 
disso. K. Hesse considera como elementos ou condições necessárias à realização da 
concretização normativo-constitucional conceitos chave da hermenêutica ontológica (M. 
Heidegger) e da hermenêutica filosófica (H. G. Gadamer). Constituem condições de 
possibilidade para isso, portanto, em primeiro lugar, a Vorverständnis (pré-compreensão) 
(M. Heidegger) do intérprete (…). Em segundo lugar, a consciência histórica e/ou 
hermenêutica (H. G. Gadamer), pois somente quando o intérprete possui uma consciência 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 8 
histórica pode livrar-se do Vorurteil, Vorhabe, Vorgriff (prejuízo, ter-prévio e preconceito) e 
olhar as coisas mesmas (K. Hesse), e decidir conforme a natureza das coisas (Fr. Müller), 
não de acordo com o arbítrio e a estreiteza dos hábitos de pensar. A tarefa de uma 
Vorverständnis (pré-compreensão), em vista disso, segundo K. Hesse, cabe à Teoria da 
Constituição, que não é discricional se obtida com vista à ordem constitucional concreta e, 
contínuo dar e tomar, confirmada e corrigida pela prática do caso concreto – o que, 
segundo Fr. Müller, ocasiona uma divisão do trabalho entre Teoria da Constituição e 
Metodologia. Em terceiro lugar, um entendimento ou uma compreensão somente é 
possível com vista a um problema concreto (situação hermenêutica) (…). (69) 
Além disso, Hesse também entende que as regras tradicionais de interpretação não podem 
ser tomadas mais como suficientes, embora ainda necessárias, principalmente no direito 
constitucional. Destaca Hesse: 
As "regras de interpretação tradicionais", das quais o Tribunal Constitucional Federal 
expressamente se declara partidário, dão, com isso, somente explicação limitada sobre a 
maneira na qual o tribunal chega às suas decisões. (…) A restrição às "regras de 
interpretação tradicional" não compreende o objetivo da interpretação constitucional; ela 
deixa a estrutura interna e as limitações do procedimento de interpretação, em grande 
medida, de lado e pode, por conseguinte, também só limitadamente vencer a tarefa de 
interpretação exata segundo princípios firmes. Se a prática, diante daquelas regras, 
efetua uma recorrência à interpretação vinculada à matéria e ao problema, então isso não 
é acaso, senão expressão e conseqüência justamente dessa situação de fato. Tanto mais 
necessário é naturalmente prestar-se contas sobre a própria atividade, não postular um 
procedimento de formação da sentença que não se deixa observar, senão seguir as 
condições, possibilidades e limites reais da interpretação constitucional.(70) 
Hesse destaca quanto ao procedimento de concretização de normas constitucionais que 
este deve "ser determinado pelo objeto da interpretação, pela Constituição e pelo problema 
respectivo."(71) Isto porque não deve haver método que desconsidere estes três aspectos, 
mas deve sempre estar a eles vinculados, como também à "(pré)-compreensão". Se "a 
Constituição, como mostrado, não contém um sistema concluído e uniforme, lógico-
axiomático ou hierárquico de valores – e a interpretação de suas normas não só pode estar 
na assimilação de algo determinado,"(72) requer-se, pois, um procedimento de 
concretização adequado a este entendimento.(73) 
Hesse, assim como Müller, entende que para a concretização constitucional é fundamental o 
entendimento da estrutura interna da norma, bem como a necessidade de diferenciação do 
texto da norma(74) da norma em si e de que a norma não tem existência autônoma e 
acabada, totalmente desvinculada da realidade histórica concreta, ou seja, das condições da 
realidade concreta que a norma deve ordenar. Assim: 
As particularidades, muitas vezes, já moldadas juridicamente, dessas condições formam o 
"âmbito da norma" que, da totalidade das realidades, afetadas por uma prescrição, do 
mundo social, é destacada pela ordem, sobretudo expressada no texto da norma, o 
"programa da norma", como parte integrante do tipo normativo. Como essas 
particularidades, e com elas o "âmbito da norma", estão sujeitas às alterações históricas, 
podem os resultados da concretização da norma modificar-se, embora o texto da norma 
(e, com isso, no essencial, o "programa da norma") fique idêntico. Disso resulta uma 
"mutação constitucional" permanente, mais ou menos considerável, que não se deixa 
compreender facilmente e, por causa disso, raramente fica clara.(75) 
4 Conclusões 
Em primeiro lugar, busca-se ressaltar os pontos de convergência e/ou semelhanças entre as 
teorias dos autores estudados. A seguir, ressalta-se, a partir das teorias como premissa, 
algumas reflexões mais gerais. 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 9 
Mister esclarecer aqui, para que não haja uma falsa sinalização histórica e de autoria, que 
Hesse assimila diversas formulações da teoria geral de Friedrich Müller, perceptível não só 
no estudo da força normativa da Constituição, mas tambémem seu livro "Elementos de 
Direito Constitucional da República Federativa da Alemanha" (Grundzüge des 
Verfassungsrechts). Principalmente no que tange ao tópico da interpretação constitucional 
como, por exemplo, no que se refere à concepção geral de concretização da norma 
(constitucional), à diferença entre norma e texto da norma e ao estudo da estrutura da norma 
– programa normativo e âmbito normativo. 
Esta assimilação se verifica não só pelo fato de Müller ter seu livro Normstruktur und 
Normativität (1966) pronto e publicado antes da primeira edição do livro de Hesse 
(Grundzüge des Verfassungsrechts), mas também pelo fato de Hesse citar no prefácio à 
primeira edição de seu livro a contribuição, dentre outros, do professor Friedrich Müller (que, 
inclusive, foi professor assistente de Hesse na Universidade Albert-Ludwigs, na cidade de 
Freiburg im Breisgau, época em que Hesse conheceu estas formulações de Müller ainda em 
seu manuscrito).(76) 
Hesse e Müller não entendem como descartáveis ou obsoletas as regras tradicionais de 
interpretação, que remontam a Savigny. Em verdade, partindo-se, como exemplo, do 
binômio necessário-suficiente, fica claro que ambos definem o papel daquelas regras como 
necessário – enquanto utilizados para a interpretação de dados lingüísticos (voltada para o 
texto normativo, onde se destaca frequentemente uma "equivocidade semântica" ou caráter 
não unívoco),(77) mas não mais suficiente – enquanto parte do processo de concretização 
normativa (constitucional), principalmente diante de uma nova postura hermenêutica voltada 
para o Direito Constitucional. (78) 
Nesse sentido, arrisca-se aqui dizer que suas teorias se mostram como tendências pós-
positivistas, no sentido de que buscam resgatar exatamente aquele isolamento entre o ser e 
o dever-ser, entre a norma e a realidade a ser ordenada, diminuindo-se o abismo existente 
entre estes dois aspectos essenciais a qualquer interpretação/concretização. 
É de certa forma um resgate do valor que deve ser dado à realidade a ser ordenada, 
enquanto elemento integrante da norma. Müller dá grande destaque a esta questão em sua 
análise,(79) enquanto Hesse, sem perder tal constatação de vista, preocupa-se 
sobremaneira em garantir o equilíbrio(80) entre a "dimensão normativa" da Constituição e a 
"realidade fática". 
Em verdade, Hesse e Müller não se coadunam com as limitações impostas por uma 
explicação da interpretação constitucional, que parte somente de uma concepção de lógica 
subsuntiva ou silogística(81) (extremamente simplista)(82) ou de uma concepção meramente 
casuística (porque incontrolável). Estes autores propõem um terceiro caminho, que busca 
um caminho que não desconsidera a realidade e não acredita na possibilidade de existir uma 
norma pré-existente já capaz de, por si só, resolver sozinha todas as questões 
constitucionais. 
Um ponto interessante é a contribuição da Tópica para o desenvolvimento das teorias de 
Hesse e Müller, dado que ambos desmistificam a idéia de sistema jurídico fechado e 
completo, em que haja uma perfeita unidade do ordenamento jurídico. Eles estão mais 
interessados em destacar o pensar direcionado ao problema, normativamente vinculado, 
buscando destacar pontos de vista que possam, enquanto hipótese de trabalho, direcionar o 
processo de concretização.(83) 
Ao se constatar que a Tópica teve influência sobre as teorias aqui estudadas, vale ressaltar, 
a partir daí, como se situam tais teorias dentro do contexto histórico que surgiram e quais as 
suas propostas, em linhas gerais. Paulo Bonavides ressalta o seguinte sobre tal ponto: 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 10 
Os intérpretes concretistas têm da Constituição normativa uma concepção diferente 
daquela esposada pelos adeptos de outros métodos, porquanto não consideram a 
Constituição um sistema hierárquico-axiológico, como os partidários da interpretação 
integrativa ou científico-espiritual, nem como um sistema lógico-axiomático, como os 
positivistas mais modernos. Ao contrário, rejeitam o emprego da idéia de sistema e 
unidade da Constituição normativa, aplicando um "procedimento tópico" de interpretação, 
que busca orientações, pontos de vista ou critérios-chaves, adotados consoante a norma 
e o problema a ser objeto de concretização. É uma metodologia positivista, de teor 
empírico e casuístico, que aplica as categorias constitucionais à solução direta dos 
problemas, sempre atenta a uma realidade concreta, impossível de conter-se em 
formalismos meramente abstratos ou explicar-se pela fundamentação lógica e clássica 
dos silogismos jurídicos.(84) 
Hesse e Müller são considerados concretistas, conforme denominação de Paulo Bonavides, 
tendo em vista que assumem que a norma constitucional deve ser concretizada. Desta 
forma, a interpretação, considerada em sentido amplo, é concretização.(85) No sentido 
tradicional (insuficiente para eles), a interpretação estaria vinculada a um aspecto parcial do 
processo de concretização, ou seja, interpretação como procedimento de apreensão do 
sentido trazido somente pelos dados lingüísticos constantes do texto normativo. 
Conforme destacado na análise das teorias em separado, Hesse e Müller partem de 
algumas premissas comuns, principalmente no que tange à estrutura da norma (sendo 
fundamental uma clara compreensão deste aspecto), à diferenciação entre texto da norma e 
norma, entre âmbito normativo e programa normativo, e na sua inter-relação constante no 
processo de concretização, o que, inclusive, influenciou posteriormente as construções 
teóricas de Canotilho. (86) 
Esta estrutura reflete um ponto fundamental na teoria de Hesse e Müller, pois evidencia 
exatamente a correlação necessária entre o programa normativo e o âmbito normativo, 
capazes de, num procedimento tópico, vinculado normativamente, alcançar a decisão para o 
problema do caso concreto. Na concepção de Hesse(87) é o chamado condicionamento 
recíproco, que reflete a necessidade de contínua inter-relação entre a realidade a ser 
ordenada e a ordem a ser concretizada (Constituição), entre a dimensão normativa e a 
dimensão fática que permeiam o processo de concretização. É a ação recíproca que, 
dirigindo-se ao problema, busca concretizar a norma constitucional.(88) 
Um ponto comum entre o entendimento de Müller e Hesse se refere à idéia de que nenhum 
deles concebe que a norma (constitucional) tenha existência autônoma em face da 
realidade, ou seja, não admitem uma norma completa e pré-acabada, capaz de solucionar 
todas as questões jurídicas (constitucionais). Nesse sentido, Hesse destaca que a norma se 
faz presente em sua vigência, enquanto Müller aponta que a norma é norma concretizada, 
ou seja, a norma de decisão do caso concreto. 
Outro ponto fundamental nas teorias estudadas diz respeito à importância dada à noção de 
pré-compreensão,(89) o que se mostra fundamental para o processo de concretização da 
norma constitucional, enfatizando a relativização das posições rígidas entre sujeito e objeto 
da interpretação/concretização (inexistência de um ponto arquimédico de análise), bem 
como demonstrando a necessidade de se manter os olhos voltados para o objeto, para a 
Constituição e para o problema a ser resolvido.(90) 
Um aspecto comum de ambas as teorias é a busca contínua na tentativa de clarificar o 
processo de decisão, tornando-o mais controlável, claro e capaz de ser compreendido por 
todos aqueles que participam do processo de decisão. Hesse e Müller(91) levam em conta 
que a decisão não pode ser totalmente controlável e objetiva (caráter subjetivo), mas 
buscam, até onde for possível, realizar tal escopo. 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 11 
Em verdade, estão estes autores às voltas da questão da mutação constitucional(92) no 
direito constitucional alemão. Isto porque buscaram continuamente prover o direito 
constitucionalde recursos, para que este não venha a sucumbir simplesmente aos fatores 
reais de poder, ou que se veja sempre submetido às reformas constitucionais, sempre que 
uma nova questão surja, a fim de evitar a falta de legitimidade e o desprestígio da dimensão 
normativa da Constituição. (93) 
É diante desta questão da mutação constitucional que ambos os autores têm como 
característica em suas teorias o destaque à interpretação/concretização construtiva ou 
criadora do Direito. Nesse sentido, destacam-se teorias e métodos que buscam possibilitar 
uma leitura capaz não de reproduzir, mas sim de atualizar as normas constitucionais. Nesse 
contexto é que se evidencia este novo estágio da hermenêutica jurídica,(94) não mais 
contemplativa, mas sim construtiva. Passam a tentar legitimar, como outros autores no 
âmbito desta nova hermenêutica, a Jurisprudência (constitucional) – principalmente a partir 
da jurisdição constitucional(95) (nos países que a adotam) – como fonte criadora do Direito, 
exaltando a importância do papel dos juízes como agentes fundamentais neste processo. 
Devido a este último fator é que se percebe um dos motivos pelos quais Hesse e Müller 
passam a dedicar uma atenção especial à práxis jurídica, quer dizer, ao aspecto prático do 
direito, do trabalho que possibilita congregar a dimensão normativa e fática da Constituição, 
somente possível a partir do caso concreto, de um problema a ser resolvido. 
Diante destas várias ponderações acerca das teorias de Müller e Hesse, pode-se entender 
que hoje, a partir de tais autores, o Direito Constitucional tem buscado um novo horizonte, 
principalmente a partir de uma hermenêutica jurídica que seja capaz de congregar os 
diferentes métodos e teorias, ou seja, a partir da diversidade de pontos de vista e 
problemáticas em discussão. Nesse sentido é que Inocêncio Coelho destaca a necessidade 
de uma "postura conciliatória"(96) dos diversos instrumentos hermenêuticos voltados à 
realidade constitucional. 
Este pluralismo pode trazer contribuição fundamental e tem se refletido de forma muito 
perceptível no campo jurídico relacionado à interpretação/concretização, pois o intérprete 
tem que se manter ciente das diversas influências dos mais diversos campos do 
conhecimento.(97) Nesse sentido, percebe-se que a hermenêutica jurídica atual dota de 
certa complexidade, que deve sempre ser levada em conta na interpretação constitucional. 
Uma das maiores contribuições destes autores parece estar na exploração do conceito de 
concretização, que evidencia exatamente outros aspectos do processo interpretativo, que 
não somente os destacados pela hermenêutica jurídica tradicional, ou seja, elementos não 
diretamente relacionados ao texto normativo. A concretização de normas e princípios 
constitucionais parece querer dotar exatamente o direito constitucional de melhores 
instrumentos que habilitam o intérprete na resolução das diversas questões constitucionais 
diariamente surgidas da realidade histórica concreta. 
O papel atual fundamental da interpretação constitucional parece residir em dois enfoques 
distintos, a saber: na reivindicação do caráter jurídico ou normativo da interpretação, bem 
como na busca de respostas e fundamentação aos problemas específicos que as diversas 
questões constitucionais exigem. Nesse contexto, estão presentes as teorias de Hesse e 
Müller. 
Hesse quer garantir o equilíbrio entre a dimensão normativa e as condições da realidade, 
bem como garantir que não se mantenha uma consideração formalista da norma jurídica, 
que a deixe sem conteúdo e alheia à realidade. É neste segundo ponto que vai ao encontro 
dos anseios já externados por Müller, que preocupado com a falta de fundamentação 
detalhada e demonstrada do processo interpretativo na realidade alemã, quer garantir 
metodologicamente a demarcação dos passos a serem seguidos no processo de 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 12 
concretização, de forma a tornar o processo de decisão mais claro, coerente e controlável 
(dentro da margem de controle possível, ou seja, fora daquele subjetivismo que não se 
controla). 
Os diversos pontos analisados pelos autores e destacados aqui servem de contribuição para 
a realidade constitucional brasileira contemporânea, não só porque o Brasil detém um 
modelo peculiar de jurisdição constitucional, mas também porque todas estas questões da 
hermenêutica jurídica constitucional ainda carecem de maior consciência pela maioria dos 
agentes ligados à interpretação jurídica, especialmente à constitucional. 
A formação jurídica brasileira ainda se encontra muito arraigada a um dogmatismo que isola 
a norma de um aspecto seu fundamental, qual seja: a realidade a ser ordenada (a função da 
realidade). Além disso, o modelo de subsunção e silogismo na aplicação da norma é 
encarado como necessário e suficiente por diversos partícipes do processo de interpretação, 
o que se mostra crítico no âmbito constitucional. Vê-se diariamente, com especial ênfase na 
interpretação constitucional, a confusão entre o texto da norma e norma e a 
descaracterização da importância do âmbito da norma (diferente do âmbito material), 
enquanto elemento normativo fundamental no processo de concretização. 
Portanto, o que se intentou aqui, não foi buscar exaurir os modelos estudados ou apresentar 
as críticas a ele formuladas, mas sim destacar os pontos de vista que certamente contribuem 
no desenvolvimento de um constitucionalismo e hermenêutica voltados para a realidade 
histórica brasileira. Mais do que isto, a intenção era apresentar trabalho que pudesse 
persuadir a comunidade jurídica da necessidade de uma maior reflexão e aprofundamento 
no estudo desta temática, visto que o Brasil tem se visto às voltas de inúmeras emendas 
constitucionais (reformas constitucionais) que vêm certamente gerando descréditos quanto 
ao fortalecimento da dimensão normativa da Constituição, sem que se apresente uma 
alternativa plausível para essa cultura reformista. 
5 Referências bibliográficas 
ADEODATO, João Maurício Leitão. A concretização constitucional de Friedrich Müller. 
Revista da Esmape, S.l., v. 2, n. 3, p.223-232, jan/fev., 1997. 
BONAVIDES, Paulo. A teoria estruturante do direito e a nova hermenêutica: parecer. In: 
________. Reflexões: política e direito. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 
393-398. 
________. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2004. 
_______. O método concretista da Constituição aberta. Revista da Faculdade de Direito da 
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, v. 25, n. 1, p.33-44, jan./fev., 1984. 
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador: 
contributo para a compreensão das normas constitucionais programáticas. 2. ed. Coimbra: 
Coimbra, 2001. 
______. Direito constitucional e teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2001. 
COELHO, Inocêncio Martins. Konrad Hesse: uma nova crença na Constituição. Revista de 
Direito Público, S.l., v. 24, n. 96, p.167-177, out./dez. 1990. 
________. Racionalidade hermenêutica: acertos e equívocos. Revista de Direito Público, 
S.l., ano 1, n. 1, p.56-82, jul/set., 2003. 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 13 
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. 
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1991. Tradução de: Die Normative Kraft der Verfassung. 
______. Derecho constitucional y derecho privado. Traduccion e introduccion de Ignacio 
Gutiérrez Gutiérrez. Madrid: Civitas, 1995. 
______. Elementos de direito constitucional da República Federal da Alemanha. Tradução 
de Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1998. Tradução de: Grundzüge 
des Verfassungsrechts der Bundesrepublik Deutschland 
LARENZ, KARL. Metodologia da ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação CalousteGulberkian, 1997. 
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade: estudos 
de direito constitucional. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004. 
MOREIRA, Vital. O futuro da Constituição. In: GRAU, Eros Roberto; GUERRA FILHO, Willis 
Santiago (Org.). Direito constitucional: estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São 
Paulo: Malheiros, 2000. p. 313-336. 
MÜLLER, Friedrich. Métodos de trabalho de direito constitucional. São Paulo: Max Limonad, 
2000. 
________. Positivismo. Boletim dos Procuradores da República, S.l., ano 3, n. 29, p.05-
07, set., 2000. Tradução de Peter Naumann e revisão de Paulo Bonavides. 
_______. Unidade do ordenamento jurídico. Boletim dos Procuradores da República, S.l., 
ano 3, n. 30, p. 08-10, out., 2000. Tradução de Peter Naumann e revisão de Paulo 
Bonavides. 
NEVES, Marcelo. A Interpretação jurídica no Estado democrático de direito. In: GRAU, Eros 
Roberto; GUERRA FILHO, Willis Santiago (Org.). Direito Constitucional: estudos em 
homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 356-376. 
SILVA, Kelly Susane Alflen da. Hermenêutica jurídica e concretização judicial. Porto Alegre: 
Sérgio Antônio Fabris, 2000. 
SILVA, Maria de Lourdes Seraphico Peixoto da. Considerações a respeito da interpretação 
da norma constitucional: o papel da pré-compreensão. Revista dos Tribunais, S.l., ano 7, n. 
28, p. 45-75, jul/set., 1999. 
STERN, Klaus. O Juiz e a aplicação do direito. In: GRAU, Eros Roberto; GUERRA FILHO, 
Willis Santiago (Org.). Direito Constitucional: estudos em homenagem a Paulo Bonavides. 
São Paulo: Malheiros, 2001. p. 505-515. 
STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da 
construção do direito. 5 ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. 
VIEIRA, Iacyr de Aguiar. A essência da Constituição no pensamento de Lassale e de Konrad 
Hesse. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 35, n. 139, p.71-81, jul./set., 1998. 
________________________________________________ 
(1) Vital Moreira afirma que: "Hoje deixou de haver um "povo nacional" (Staatvolk) 
unitariamente concebido. O Staatvolk é na verdade constituído por uma variedade de "povos 
parciais" (Teilvolke). Como diz Häberle, "a protecção das minorias está em vias de tornar-se 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 14 
um elemento estrutural do Constitucionalismo contemporâneo". As expressões mais típicas 
desse novo enfoque constitucional são justamente o reconhecimento de autonomias 
regionais internas de âmbito mais ou menos amplo e o expresso reconhecimento de direitos 
específicos de minorias. Também nesta área a "inclusividade" ("Constituição inclusiva" é o 
lema) tornou-se uma nova exigência do Constitucionalismo do futuro". MOREIRA, Vital. O 
Futuro da Constituição. In: GRAU, Eros Roberto; GUERRA FILHO, Willis Santiago (orgs). 
Direito Constitucional: Estudos em Homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 
2001, p. 321. 
(2) Afirma Vital Moreira: "Com efeito, hoje estão em curso movimentos de integração política, 
que implicam uma crescente partilha de poderes outrora considerados exclusivos do Estado 
Nacional. O processo mais avançado é notoriamente o da União Européia, em que os 
poderes exercidos pelas instâncias de integração abrangem poderes legislativos em muitas 
áreas, poderes administrativos e poderes jurisdicionais. A criação de uma moeda única 
européia e a perspectiva de uma política de defesa e de relações externas comuns 
testemunham a profundidade do movimento de integração." MOREIRA, [ nota 01], p. 329. 
(3) Nesse contexto, ressalta Inocêncio Coelho: "(…) quanto aos problemas ligados aos 
métodos e princípios da interpretação, o primeiro grande embaraço para a racionalidade 
hermenêutica – apesar das respeitáveis opiniões em contrário – parece residir na 
multiplicidade e imprecisão desses instrumentos de trabalho (…) Afinal de contas – para 
ficarmos apenas no âmbito das leituras da lei fundamental – o que significam, objetivamente, 
expressões como unidade da constituição, concordância prática, interpretação conforme, 
exatidão funcional ou máxima efetividade, com o que se rotulam os princípios da 
interpretação constitucional, se também estas locuções estão sujeitas a contradições e 
conflitos de interpretação? A que resultados, minimamente controláveis, se pode chegar 
partindo de métodos cuja esotérica denominação – hermenêutico-concretizador, científico-
espiritual ou normativo-estruturante, por exemplo - mais confunde do que orienta os que 
adentram ao labirinto de sua utilização? Apesar ou por causa das incertezas daí 
decorrentes, autores existem, hoje em maioria, que enaltecem as virtudes dessa riqueza 
instrumental com o argumento de que, em face da extrema complexidade do trabalho 
hermenêutico, todo plurarismo é saudável, não se constitui obstáculo, antes colabora, de 
modo decisivo, para o conhecimento da verdade (…)." COELHO, Inocêncio Mártires. 
Racionalidade Hermenêutica: Acertos e Equívocos. In: Revista Direito Público, Ano I – n. 1, 
jul./ago./set. de 2003, p. 70-71. 
(4) Destaca Hesse: "Para o Direito Constitucional, interpretação tem importância decisiva, 
porque, em vista da abertura e amplitude da Constituição, problemas de interpretação 
nascem mais frequentemente do que em âmbitos jurídicos cujas normalizações entram mais 
no detalhe. Essa importância é aumentada em uma ordem constitucional com jurisdição 
constitucional extensamente ampliada como aquela da Lei Fundamental. Se o Tribunal 
Constitucional interpreta aqui a Constituição com efeito vinculativo não só para os cidadãos, 
mas também para os órgãos do Estado restantes, então a idéia, fundamentadora e 
legitimadora dessa vinculação, da vinculação de todo poder estatal à Constituição, somente 
então pode converter-se em realidade quando as decisões do tribunal expressam o 
conteúdo da Constituição – embora na interpretação do tribunal." HESSE, Konrad. 
Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha. Porto Alegre: 
Sérgio Antônio Fabris, 1998, p. 54. O interesse para o modelo brasileiro está no fato de 
também se ter aqui um modelo de jurisdição constitucional, com efeito vinculante, a partir da 
atuação do Supremo Tribunal Federal – STF. 
(5) Ressalta ainda João Maurício Adeodato que: "a hermenêutica jurídica atual tem partido 
de um debate já clássico que pode ser didaticamente resumido na dicotomia subsunção 
versus casuísmo. (…) Nesse contexto, aqui muito simplesmente resumido, diversos autores 
procuram um terceiro caminho, não tão simplista quanto a postura da École d’Éxégèse, mas 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 15 
também sem tornar a interpretação incontrolável, a bel-prazer do operador jurídico. Na 
Alemanha, juristas como Theodor Viehweg, Robert Alexy, Peter Häberle, Konrad Hesse e 
Winfried Hassemer, entre muitos outros, sugerem alternativas. Também é esta a pretensão 
de Friedrich Müller, que diante da controvérsia aparentemente excludente entre a 
possibilidade de uma interpretação objetiva e a resignação diante da subjetividade, defende 
a tese de que a norma é produzida por um processo complexo que vai muito além daquilo 
que está escrito na Constituição." ADEODATO, João Maurício Leitão. A concretização 
constitucional de Friedrich Müller. In: Revista da Esmape, vol. 2, n. 3, jan/mar, 1997, p. 224-
225. 
(6) BONAVIDES, Paulo. O método concretista da Constituição Aberta. In: Revista da 
Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, vol. 25, nº 1, jan./jun., 1984, p. 
40. 
(7) Klaus Stern ressalta que: "Na Europa e especialmente na Alemanha o Poder Judiciário 
experimentou uma enorme valorização no decorrer do estabelecimento do Estado de Direito 
e da Democracia. Tornou-se – em oposição exata a Montesquieu – um autêntico poder de 
Estado, nomeadamente na jurisdiçãoconstitucional, que, no Brasil, contrariamente à maioria 
dos países europeus, não é tarefa de um tribunal constitucional autonomizado, mas do 
Supremo Tribunal Federal – uma construção que foi muito bem refletida e com razão não 
escolhida na Alemanha." STERN, Klaus. O Juiz e a Aplicação do Direito. In: GRAU, Eros 
Roberto; GUERRA FILHO, Willis Santiago (orgs). Direito Constitucional: Estudos em 
Homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 510. 
(8) Segundo Gilmar Mendes: "De uns tempos para cá tem-se enfatizado a importância da 
hermenêutica jurídica, especialmente da hermenêutica constitucional, na solução dos graves 
problemas jurídico-políticos que afetam os vários Estados Democráticos. (…) A questão 
metodológica coloca-se no centro da reflexão sobre o papel que deve desempenhar a Corte 
Constitucional ou o órgão dotado de competência para aferir a legitimidade das leis e demais 
atos normativos, como é o caso do Supremo Tribunal Federal, entre nós. Evidentemente, a 
supremacia da Constituição em face da lei coloca o órgão incumbido da jurisdição 
constitucional em um papel diferenciado e destacado." MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos 
fundamentais e controle de constitucionalidade: estudos de direito constitucional. 3 ed. 
rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 461-462. 
(9) Vital Moreira ressalta que: "Em certo sentido, a história do Constitucionalismo é a história 
dos direitos fundamentais, ou seja, a história da sua afirmação inicial e depois do seu 
alargamento e da construção e aperfeiçoamento dos mecanismos da sua tutela. O Estado 
Constitucional moderno é cada vez mais um "Estado de direitos fundamentais" (um 
Grundrechtstaat)." MOREIRA, [nota 01], p. 322. 
(10) Afirma Lênio Streck: "Arrisco dizer, assim, que defender, hoje, a existência de uma 
hermenêutica constitucional (repetindo, enquanto "método" autônomo) é perceber a 
Constituição como uma ferramenta, cujo conteúdo vem/virá a ser "confirmado" (ou não) pela 
técnica específica de interpretação (denominada de hermenêutica constitucional). Nesse 
sentido, registre-se as bem fundadas críticas de Friedrich Müller às técnicas/regras/métodos 
de interpretação." STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração 
hermenêutica da construção do Direito. 5 ed. rev. atual..Porto Alegre: Livraria do Advogado, 
2004, p. 307. 
(11) Já na década de 80 ressaltava Paulo Bonavides que: "toda a metodologia 
contemporânea do Direito Constitucional que se inspira na tópica busca, portanto, como 
solução para um de seus problemas essenciais, compatibilizar a Constituição com a 
realidade. Se refletirmos sobre a realidade brasileira veremos que essa metodologia cresce 
de importância a cada passo. Profunda é a consciência de que todas as instituições no País 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 16 
funcionam mal, sendo uma das razões que conduzem a esse resultado de ruptura que 
ocorre entre a legalidade e a legitimidade, entre o País da Constituição e o País da 
realidade. Nação e Estado se separaram num divórcio ruinoso que só não percebem os 
governantes abraçados a um statu quo de perpetuidade e permanente indiferença às 
aspirações populares." BONAVIDES, [nota 06], p. 42. 
(12) Segundo Müller, "enquanto concepção sistematicamente pós-positivista, a Teoria 
Estruturante do Direito não aposentou apenas a redução da norma ao seu texto, do 
ordenamento jurídico a uma ficção artificial, da solução do caso a um processo logicamente 
inferível por meio do silogismo, mas desenvolveu, partindo da estrutura de normas jurídicas, 
a proposta de um modelo de teoria e práxis que abrange a dogmática, a metódica, a teoria 
do direito e não continua devendo a resposta ao positivismo." MÜLLER, Friedrich. 
Positivismo. Tradução de Peter Naumann e revisão de Paulo Bonavides. In: Boletim dos 
Procuradores da República. Ano III, n. 29, setembro, 2000, p. 07. 
(13) Segundo Canotilho: "Os postulados básicos da metódica normativo-estruturante são 
os seguintes: (1) a metódica jurídica tem como tarefa investigar as várias funções de 
realização do direito constitucional (legislação, administração, jurisdição); (2) e para captar a 
transformação das normas a concretizar numa <<decisão prática>> (a metódica pretende-se 
ligada à resolução de problemas práticos); (3) a metódica deve preocupar-se com a estrutura 
da norma e do texto normativo, com o sentido de normatividade e processo de 
concretização, com a conexão da concretização normativa e com as funções jurídico-
práticas; (4) elemento decisivo para a compreensão da estrutura normativa é uma teoria 
hermenêutica da norma jurídica que arranca da não identidade entre norma e texto 
normativo; (5) o texto de um preceito jurídico positivo é apenas a parte descoberta do 
iceberg normativo (F. Müller), correspondendo em geral ao programa normativo (ordem ou 
comando jurídico na doutrina tradicional); (6) mas a norma não compreende apenas o texto, 
antes abrange um <<domínio normativo>>, isto é, um <<pedaço de realidade social>> que o 
programa normativo só parcialmente contempla; (7) consequentemente, a concretização 
normativa deve considerar e trabalhar com dois tipos de elementos de concretização: um 
formado pelos elementos resultantes da interpretação do texto da norma (= elemento literal 
da doutrina clássica); outro, o elemento de concretização resultante da investigação do 
referente normativo (domínio ou região normativa)." CANOTILHO, José Joaquim Gomes. 
Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra, Portugal: Livraria 
Almedina, 2001, p. 1177. 
(14) Segundo Marcelo Neves: "A "Teoria Estruturante", proposta por Friedrich Müller, 
embora se mantenha na perspectiva semântico-pragmática – ou seja, continue enfatizando a 
dimensão semântica da interpretação -, vai dar uma maior relevância ao fator pragmático do 
processo interpretativo do que a tradição hermenêutica que remonta a Gadamer." NEVES, 
Marcelo. A Interpretação Jurídica no Estado Democrático de Direito. In: GRAU, Eros 
Roberto; GUERRA FILHO, Willis Santiago (orgs). Direito Constitucional: Estudos em 
Homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 360. 
(15) MÜLLER, Friedrich. Métodos de Trabalho de Direito Constitucional. São Paulo: Max 
Limonad, 2000, p. 47. 
(16) CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição Dirigente e Vinculação do 
Legislador: contributo para a compreensão das normas constitucionais programáticas. 2. 
ed. Coimbra, Portugal: Coimbra, 2001, p. 190. 
(17) Canotilho esclarece o que seja a concretização, conceito do qual Müller se vale: 
"Concretizar a constituição traduz-se, fundamentalmente, no processo de densificação de 
regras e princípios constitucionais. A concretização das normas constitucionais implica um 
processo que vai do texto da norma (do seu enunciado) para uma norma concreta – norma 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 17 
jurídica – que, por sua vez, será apenas um resultado intermediário,, pois só com a 
descoberta da norma de decisão para a solução dos casos jurídico-constitucionais teremos o 
resultado final da concretização. Esta <<concretização normativa>> é, pois, um trabalho 
técnico-jurídico; é, no fundo, o lado <<técnico>> do procedimento estruturante da 
normatividade. A concretização.como se vê, não é igual à interpretação do texto da norma; 
é, sim, a construção de uma norma jurídica." CANOTILHO, [nota 13], p. 1165. 
(18) Destaca Müller: "Em correspondência ao seu procedimento estruturante essa metódica 
não fala de "graus" ou "estágios" da interpretação, mas de "elementos" do processo de 
concretização." MÜLLER, [nota 15], p. 69. 
(19) MÜLLER, [ nota 12], p. 07. 
(20) Segundo Larenz, "Müller contesta a contraposição estrita entre ser e dever ser, entre 
norma e a realidade a que ela se dirige. Indaga sobre <<a estrutura no fundamental comum 
da concretização normativa referidaao caso>>, sendo que para ele a <<concretização>> 
não significa apenas densificar a norma que é dada, torná-la <<mais concreta>>, mas 
produzir pela primeira vez a norma de acordo com a qual o caso é então decidido." LARENZ, 
KARL. Metodologia da Ciência do Direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulberkian, 
1997, p. 183. 
(21) Destaca Canotilho: "Da compreensão da norma constitucional como estrutura formada 
por duas componentes – o <<programa da norma>> e o <<domínio da norma>> - deriva o 
sentido de normatividade constitucional: normatividade não é uma <<qualidade>> estática 
do texto da norma ou das normas mas o efeito global da norma num processo estrutural e 
dinâmico entre o programa normativo e o sector normativo. Este processo produz, portanto, 
um efeito que se chama normativo, ou, para dizermos melhor, a normatividade é o efeito 
global da norma (com as duas componentes atrás referidas) num determinado processo de 
concretização. Compreende-se, assim, a necessidade de manter sempre clara a distinção 
entre norma e formulação (disposições, enunciados) da norma: aquela é objecto da 
interpretação; esta é o produto ou resultado da interpretação." CANOTILHO, [nota 13], p. 
1180. 
(22) Segundo Müller, "a normatividade comprova-se apenas na regulamentação de questões 
jurídicas concretas." MÜLLER, [nota 15], p. 61. 
(23) MÜLLER, [nota 15], p. 55-56. 
(24) Canotilho destaca: "Componentes fundamentais da norma são o programa normativo e 
o domínio normativo e, por isso, a norma só pode compreender-se como uma articulação 
destas duas dimensões." CANOTILHO, [nota 13], p. 1179. 
(25) Canotilho destaca que: "O recurso ao <<texto>> para se averiguar o conteúdo 
semântico da norma constitucional não significa a identificação entre texto e norma. Isto é 
assim mesmo em termo lingüísticos: o texto da norma é o <<sinal lingüístico>>; a norma é o 
que se <<revela>> ou <<designa>>." CANOTILHO, [nota 13], p. 1181. 
(26) Segundo Canotilho: "o programa normativo é o resultado de um processo parcial de 
concretização (inserido, por conseguinte, num processo global de concretização) assente 
fundamentalmente na interpretação do texto normativo. Daí que se tenha considerado o 
enunciado lingüístico da norma como ponto de partida do processo de concretização (dados 
lingüísticos)." CANOTILHO, [nota 13], p. 1179. 
(27) MÜLLER, [nota 15], p. 57. 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 18 
(28) Canotilho destaca que: "Por sua vez, o sector normativo é o resultado de um segundo 
processo parcial de concretização assente sobretudo na análise dos elementos empíricos 
(dados reais, ou seja, dados da realidade recortados pela norma). Desta forma a norma 
jurídico-constitucional é um modelo de ordenação orientado para uma concretização 
material, constituído por uma medida de ordenação, expressa através de enunciados 
lingüísticos, e por um <<campo>> de dados reais (factos jurídicos, factos materiais)." 
CANOTILHO, [nota 13], p. 1179-1180. 
(29) MÜLLER, [nota 15], p. 71-97. 
(30) Müller evidencia este processo, afirmando: "Não é possível descolar a norma jurídica do 
caso jurídico por ela regulamentado nem o caso da norma. Ambos fornecem de modo 
distinto, mas complementar, os elementos necessários à decisão jurídica. Cada questão 
jurídica entra em cena na forma de um caso real ou fictício. Toda e qualquer norma jurídica 
somente faz sentido com vistas a um caso a ser (co) solucionado por ela. Esse dado 
fundamental [Grundtatbestand] da concretização jurídica circunscreve o interesse de 
conhecimento peculiar da ciência e da práxis jurídicas, especificamente jurídico, como um 
interesse de decisão. A necessidade de uma decisão jurídica (também de um caso fictício) 
abrange a problemática da compreensão, os momentos e procedimentos cognitivos. No 
entanto, a decisão jurídica não se esgota nas suas partes cognitivas. Ele aponta para além 
das questões "hermenêuticas" da "compreensão", no sentido genericamente peculiar que 
"hermenêutica" e "compreensão" têm nas ciências humanas [Geisteswissenschaften]. É 
claro que a relação entre os elementos cognitivos e os elementos não-cognitivos no 
processo de concretização muda conforme a função jurídica exercida e que e. g. o interesse 
de "conhecimento" cognitivo passa, na concretização científica diante de um caso fictício, 
nitidamente para o primeiro plano. A força enunciativa [Aussagekraft] de uma norma para um 
caso é por assim provocada por esse mesmo caso. Em um procedimento, que ganha 
gradualmente em precisão por meio de verificação recíproca da(s) prescrição (prescrições) 
jurídica(s) considerada(s) relevante(s) junto aos componentes para elas relevantes do 
conjunto de fatos e, inversamente, dos componentes do conjunto dos fatos – tratados, à 
guisa de hipótese de trabalho, como relevantes junto à norma que lhes é provisoriamente 
atribuída (ou junto a várias prescrições jurídicas) -, os elementos normativos e os elementos 
do conjunto de fatos assim relacionados, "com vistas à sua reciprocidade"continuam sendo 
concretizados, igualmente "com vistas à sua reciprocidade", uns juntos aos outros (e sempre 
com a possibilidade de insucesso, i. é, da necessidade de introduzir outras variantes de 
normas ou normas à guisa de hipótese de trabalho). A solução, i. é, a concretização da 
norma jurídica em norma de decisão e do conjunto dos fatos, juridicamente ainda não 
decidido deve comprovar a convergência material de ambos, publicá-la e fundamentá-la." 
MÜLLER, [nota 15], p. 63-64. 
(31) Interessante aplicação da Teoria de Müller, em relação a um problema concreto de 
interpretação de norma infra-constitucional brasileira, que envolvia também a interpretação 
constitucional, foi intentada em parecer da lavra de Paulo Bonavides, a partir de consulta de 
um desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Nesse sentido, destacou 
Paulo Bonavides: "Aqui, sim, percorrer-se-á, de necessidade, uma artéria interpretativa 
propriamente dita, de cunho concretizante, vazada na obra jurídica do prof. Friedrich Müller, 
"o jurista da segunda metade do século XX."" BONAVIDES, Paulo. A teoria estruturante do 
direito e a nova hermenêutica (parecer). In: Reflexões: política e direito, 3. ed. rev. e ampl. 
São Paulo, Malheiros, 1998, p. 393-398. Para outra análise interessante sobre questão 
constitucional brasileira, sob a ótica da teoria de Müller, consultar p. 226 e segs. do texto de 
João Adeodato: ADEODATO, [nota 05], p. 223-232. 
(32) MÜLLER, [nota 15], p. 54. 
(33) MÜLLER, [nota 15], p. 89-90. 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 19 
(34) Müller afirma que: "somente a ciência dos pandectas e o positivismo legalista 
exageraram nesse enfoque na direção da pretensão de poder operar a ciência jurídica como 
sistema conceitual coerente, de poder derivar decisões por via da lógica a partir do sistema, 
do conceito e da doutrina [Lehrsatz] e de poder solucionar casos jurídicos por meio da 
subsunção silogística. (…) A realidade é reprimida da área de atuação do trabalho jurídico. O 
positivismo pergunta como a ciência jurídica se poderia tornar autônoma, como ela poderia 
proceder de modo puramente jurídico." MÜLLER, Friedrich. Unidade do Ordenamento 
Jurídico. Tradução de Peter Naumann e revisão de Paulo Bonavides. In: Boletim dos 
Procuradores da República. Ano III, n. 30, outubro, 2000, p. 08. 
(35) Müller destaca que: "os nexos sociais não são negados, mas postos de lado por não 
interessarem a ciência jurídica. A dogmática deve ser escoimada da história, da filosofia, da 
política e da economia, quer dizer, de todos os elementos <<não-jurídicos>>. Esse resultado 
responde à pergunta inicial do positivismo: como a ciência jurídica pode ser uma ciência 
autônoma? Segundo ele as normas jurídicas não devem ser tratadas como conexas a dados 
sociais." MÜLLER, [nota 12], p. 06. 
(36) Inocêncio Coelho sintetiza o seguintea respeito da obra de Hesse intitulada "A Força 
Normativa da Constituição": "(…) a publicação deste Escrito parece-nos extremamente 
importante, porque a idéia central desse precioso estudo é, precisamente, a de que, embora 
não disponha de existência autônoma em relação à realidade, da qual, aliás, não pode estar 
desvinculada, a Constituição não é imposta, simplesmente, por essa mesma realidade: em 
outros termos, embora condicionada pela realidade político-social, a Constituição não é 
determinada por essa mesma realidade." COELHO, Inocêncio Martins. Konrad Hesse: uma 
nova crença na Constituição. In: Revista de Direito Público, ano 24, n. 96, out./dez. de 
1990, p.. 167. 
(37) Há quem entenda, como Iacyr Vieira, que trata-se na verdade de uma complementação: 
"Relativizando a concepção de Lassalle, a completa (grifei); trazendo-a para uma nova 
realidade, realça o caráter normativo da Constituição." VIEIRA. Iacyr de Aguiar. A essência 
da Constituição no pensamento de Lassale e de Konrad Hesse. In: Revista de Informação 
Legislativa, ano 35, n. 139, jul./set. de 1998. Brasília, p. 72. 
(38) Segundo Iacyr Vieira, o pensamento de Lassale pode ser assim resumido: "os 
problemas constitucionais não são problemas de direito, mas de poder; a verdadeira 
constituição de um país somente tem por base os valores reais e efetivos do poder que 
naquele vigem; as constituições escritas não têm valor nem são duráveis a não ser que 
exprimam fielmente os valores que imperam na realidade social. Uma constituição escrita 
pode ser boa e duradoura quando corresponder à Constituição real e tiver suas raízes nos 
fatores do poder que regem o país. Caso contrário, irrompe inevitavelmente um conflito 
impossível de ser evitado e no qual a Constituição escrita, a folha de papel, sucumbirá, 
necessariamente, perante a Constituição real, a das verdadeiras forças vitais do País." 
VIEIRA, [nota 37], p. 78. 
(39) COELHO, [nota 36], p. 168. 
(40) HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Die Normative Kraft der 
Verfassung. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 
1991, p. 11-12. 
(41) Destaca Inocêncio Coelho: "(…) Konrad Hesse opõe, para nós com inegável vantagem, 
uma visão do problema que até certo ponto se poderia considerar dialética, na medida em 
que, sem desprezar a importância das forças sócio-políticas para a criação e a sustentação 
da Constituição jurídica, nos sugere admitir, como ponto de partida para a análise do 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 20 
fenômeno, a existência de um condicionamento recíproco entre a Lei Fundamental e a 
realidade político-social subjacente." COELHO, [nota 36], p. 168. 
(42) HESSE, [nota 40], p. 13-14. 
(43) Comentando este trecho, Inocêncio Coelho destaca a contribuição preciosa de 
Hermann Heller em destacar esta unilateralidade extrema entre um normativismo e um 
sociologismo exagerado, bem como ressalta que isto ocorreu "em razão do que juristas e 
sociólogos do direito, de costas voltadas uns para os outros, acabaram por encastelar em 
posições extremadas, mas igualmente estéreis, levados que foram em direção a uma norma 
despida de qualquer elemento de realidade, ou uma realidade esvaziada de qualquer 
conteúdo normativo". COELHO, [nota 36], p. 169. 
(44) HESSE, [nota 40], p. 13-14. 
(45) Segundo Inocêncio Coelho, "Hesse ressalta que ambos os elementos, a pretensão de 
eficácia e as condições de sua realização, interagem reciprocamente, embora se 
mantenham distintos na especificidade de suas funções; por isso, podem e devem ser 
diferenciados, embora não possam, e não devam se separados nem confundidos". 
COELHO, [nota 36], p. 170. 
(46) HESSE, [nota 40], p. 14-16. 
(47) Segundo Hesse: "A Constituição jurídica não significa simples pedaço de papel, tal 
como caracterizada por Lassalle. Ela não se afigura "impotente para dominar, efetivamente, 
a distribuição de poder", tal como ensinado por Georg Jellinek e como, hodiernamente, 
divulgado por um naturalismo e um sociologismo que se pretende cético. A Constituição não 
está desvinculada da realidade histórica concreta do seu tempo. Todavia, ela não está 
condicionada, simplesmente, por essa realidade. Em caso de eventual conflito, a 
Constituição não deve ser considerada, necessariamente, a parte mais fraca. Ao contrário, 
existem pressupostos realizáveis (realizierbare Voraussetzungen) que, mesmo em caso de 
confronto, permitem assegurar a força normativa da Constituição." HESSE, [nota 40], p. 25. 
(48) HESSE, [nota 40], p. 19. 
(49) Segundo Inocêncio Coelho: "Como o próprio Hesse enfatiza que a força normativa 
impõe-se de forma tanto mais enfática quanto mais ampla for a convicção sobre a 
inviolabilidade da Constituição e quanto mais intensa for a vontade de Constituição, disso se 
conclui que a sua construção teórica assenta-se num dado eminentemente axiológico, pois 
a eficácia da Constituição fica a depender, ao limite, ao menos da realidade, do que do 
respeito que lhe devotam exatamente aqueles que a podem violar ou destruir. Trata-se, 
portanto, de uma postura também essencialmente idealista, na medida em que ele desloca, 
do plano da condicionalidade fática para o condicionamento ético, o problema da eficácia da 
Constituição, convertendo, assim, numa questão de fé o que antes era apenas uma 
questão de força. Por isso insistimos que ele encarna uma nova crença na Constituição 
(…)." COELHO, [nota 36], p. 176. 
(50) VIEIRA, [nota 37], p. 72. 
(51) HESSE, [nota 40], p. 19-20. 
(52) "Há de ser, igualmente, contemplado o substrato espiritual que se consubstancia num 
determinado povo, isto é, as concepções sociais concretas e o baldrame axiológico que 
influenciam decisivamente a conformação, o entendimento e a autoridade das proposições 
normativas." HESSE, [nota 40], p. 15. 
Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 75, p.01-25, out/nov, 2005 21 
(53) HESSE, [nota 40], p. 20. 
(54) Para uma análise mais detalhada destes princípios, vide o seguinte: HESSE, [nota 04], 
p. 65 e segs. 
(55) Segundo Maria Seraphico, Hesse: "atribui aos princípios da interpretação constitucional 
a missão de orientar e encaminhar o processo de relação, coordenação e valoração dos 
pontos de vista ou considerações que devem levar à solução do problema. Refere-se aos 
princípios da unidade da Constituição, em íntima relação com o qual concebe o princípio da 
concordância prática, o da correção funcional, o princípio da eficácia integradora dando 
ainda destaque para o princípio da força normativa da Constituição." SILVA, Maria de 
Lourdes Seraphico Peixoto da. Considerações a respeito da interpretação da norma 
constitucional. O papel da pré-compreensão. In: Revista dos Tribunais, ano 07, n. 28, 
jul./set. De 1999, p. 54. 
(56) HESSE, Konrad. [nota 40], p. 21. 
(57) "El Tribunal Constitucional, como es sabido, identifica en los derechos fundamentales, 
junto con su función de defensa frente a las intervenciones del poder público, principios 
objetivos no sólo del ordenamiento constitucional, sino sencillamente del ordenamiento 
jurídico en su conjunto: la Ley Fundamental, que no quiere ser un orden valorativamente 
neutral, ha erigido en la sección relativa a los derechos fundamentales un orden objetivo de 
valores, y ello expresa un reforzamiento de principio de la fuerza vinculante de los derechos 
fundamentales. Este sistema de valores debe regir en todos los ámbitos del Derecho; la 
legislación, la administración y la jurisprudencia reciben de él directrices e impulsos. (…) 
Todos ellos deben tener en cuenta tal influencia de los derechos fundamentales en la 
creación, interpretación y aplicación de las normas jurídicas. Si no cumplen con esta tarea, 
su decisión infringe los derechos fundamentales y puede ser anulada por el Tribunal 
Constitucional." HESSE, Konrad. Derecho Constitucional y Derecho Privado; traduccion e 
introduccion de Ignacio Gutiérrez

Outros materiais