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DEPRESSÃO NO IDOSO Prof.Telma 23/05/2016 Conceito: o estado depressivo se caracteriza por alterações do humor do indivíduo em direção à tristeza, que o afeta em outras funções mentais com intensidade e amplitude diversas. Epidemiologia: É altamente prevalente na população idosa, sendo que atinge: -10% dos idosos em comunidades; -25% dos idosos atendidos em unidades de atenção primária ou com hospitalizados com doenças crônicas; -60% dos idosos institucionalizados; -ocorre subnotificação. Fisiopatologia: quadros depressivos estão associados à disfunção dos mecanismos envolvidos na manutenção e plasticidade neuronal, os quais podem decorrer de alterações neuroendócrinas ou eventos estressantes. Fatores de risco: -sexo feminino -baixo suporte social -baixa escolaridade -idade (>70anos) -doenças crônicas -eventos estressantes -limitação funcional -personalidade -doenças agudas -uso de álcool - déficit cognitivo/visual/auditivo -baixa qualidade de vida e condições de saúde -baixo nível socioeconômico -uso de medicações (como corticoide, que inicialmente pode desenvolver quadro de ansiedade; IECA, por ex.Captopril; beta-bloqueadores, por ex.Propranolol) Depressão de início tardio: pode estar relacionada a fatores estressantes e alterações estruturais do SNC, com maior risco de evoluir para síndromes demenciais (geralmente demência vascular começa com quadro depressivo). Relação depressão/doença física: A depressão pode ser - primária à doença física (alta mortalidade em idosos) - secundária à doença física (hipotireoidismo, neoplasias, doenças crônicas limitantes, uso de medicamentos) Depressão relacionada às causas orgânicas + comuns: -doenças neurológicas (Parkinson, demência, doença cerebrovascular) -doenças infecciosas (HIV, neurossífilis) -doenças cardiovasculares (nos pacientes que sofreram IAM, 15 a 30% podem desenvolver quadro de depressão maior) -doenças metabólicas e endócrinas (hipotireoidismo, diabetes) -neoplasias -perda auditiva Diagnóstico: é basicamente clínico! (anamnese detalhada + observação do paciente relatada detalhadamente pelos familiares) Depressão maior -geralmente ocorre em pacientes que já tiveram quadro alguma vez no decorrer da vida (ocorre recorrência quando idoso). -anedonia: perda do prazer por atividades que antes gostava (sintoma mais comum) Obs: Segundo o Manual de Doenças Psiquiátricas (DSM), esse critério se aplica a pacientes mais jovens e saudáveis, um episódio depressivo maior só pode ser diagnosticado se os sintomas não estiverem diretamente relacionados com uma doença subjacente. Esse critério aplicado a idosos pode levar a subdiagnóstico, já que na maioria das vezes os idosos tem sintomas somáticos. Os sintomas mais comuns no idoso são: -anedonia -sintomas cognitivos -sintomas somáticos -fadiga -presença de comorbidades -pensamentos de morte -perda de peso -humor depressivo -agitação/irritabilidade Sintomas menos comuns: -sintomas psicológicos -psicose -suicídio Exames complementares: -função tireoide -hemograma (descartar anemia que pode levar à hipóxia cerebral e aos sintomas semelhantes aos da depressão) -vitamina B12 (a falta dela pode levar a 3 síndromes: neuropsiquiátrica, digestória e hematológica) -bioquímica (para ver se há alterações da função renal, eletrólitos e glicemia) -sorologias (buscar história pregressa é importante, para pedir sorologia hepatite, sífilis, etc) Obs: diagnóstico de depressão é clínico. Os exames complementares são úteis para afastar diagnóstico de depressão secundária a causas orgânicas. TC: buscar áreas de microinfartos cerebrais, em pacientes com história de hipertensão, diabetes ou dislipidemia, já que pode indicar início de quadro de demência vascular. Tratamento: -objetivos: -diminuir a intensidade dos sintomas alvo -reestabelecer capacidade funcional -reduzir risco de recaída -melhorar qualidade de vida -melhorar estado clínico geral -diminuir morbidade e mortalidade -evitar institucionalização -quando está relacionada a causas orgânicas: -deve-se tratar a depressão e a doença-base em concomitância -adiar o tratamento da depressão piora o prognóstico de ambas -depressão causa doença clínica devido a fatores inflamatórios e imunológicos -depressão pode ser complicação de doença clínica ou de seu tratamento Tratamento farmacológico: -deve-se basear nos sintomas clínicos, nos efeitos colaterais e interações medicamentosas -deve-se iniciar terapêutica com doses baixas e ir aumentando até dose ideal -manutenção deverá ser no mínimo por 1 ano após remissão dos sintomas -avaliação do psiquiatra é necessária quando há dúvida diagnóstica, risco de suicídio ou quadro psicótico Inibidores seletivos da recaptação de serotonina -Fluoxetina e Sertralina são mais usados na depressão apática, Paroxetina e Citalopram na depressão ansiosa e também tem o Escitalopram -lembrar dos efeitos colaterais: hiponatremia, síndrome inapropriada do hormônio diurético-SIHAD, tremor e disfunção sexual -obs: Citalopram é o mais indicado Inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina -Venlafaxina, Desvenlafaxina, Duloxetina -lembrar de ter cautela com idoso hipertenso ou com arritmia cardíaca Antidepressivos tricíclicos -Amitriptilina é muito usada na ortopedia e reumatologia para dores crônicas, já que possui efeito analgésico também ; Nortriptilina é muito boa ; Imipramina é boa para pacientes com TOC -lembrar que é contra-indicado para glaucoma, arritmia cardíaca, retenção urinária -efeitos colaterais: hipotensão postural, xerostomia, ganho de peso Antagonistas da serotonina de dupla ação -Trazodona é usado para pacientes com insônia -lembrar que pode provocar hipotensão postural e priapismo doloroso Inibidores seletivos da recaptação da noradrenalina e dopamina -Bupropiona é indicada para pacientes que queiram parar de fumar -lembrar que pode causar insônia e agitação Antagonistas de alfa2 -tem dupla ação: serotoninérgica e adrenérgica -Mirtazapina é usada para pacientes oncológicos -lembrar que pode provocar sonolência e sedação excessiva, aumento do apetite com consequente ganho de peso Eletroconvulsoterapia -indicada para depressão grave e refratária a outros tratamentos ou psicótica -Tratamento de suporte: é o tratamento psicoterápico, podendo ser através da psicoterapia, terapia comportamental cognitiva (a mais indicada) e exercícios físicos. Portanto, a respeito do tratamento para depressão: -se existir uma causa base, deve tratá-la -sempre rever medicações de uso crônico -monitorar as funções hepática e renal no idoso -considerar as medicações antidepressivas prévias, se houverem -inibidores da recaptação de serotonina são os medicamentos de 1ª escolha (Citalopram é o mais indicado) CASO: sexo feminino, 70 anos, procura o ambulatório pois apresentava lapsos de memória para fatos recentes há 1 ano. Relata tristeza com choro fácil e falta de energia para suas atividadescotidianas, com dificuldade para realizar afazeres domésticos. Quadro iniciou após o neto(o qual criou), ter viajado para morar no Canadá. Hipertensa em uso regular de Losartana 50mg/dia. Ao exame físico: PA 130x80mmHg, FC 80 bpm, sem outras alterações. Exame GDS (score para depressão): 12/15 (score ≥5 =depressão). Minimental preservado (28/24). Discussão: É importante observar que ela tem um fator de risco, que é a idade (70 anos). O que chama atenção na história é a perda de memória para fatos recentes há 1 ano, choro fácil e falta de energia, com minimental preservado.Tudo isso após o neto ter ido morar fora. Tem que ficar atento nessa paciente no fato de que é hipertensa e tem esse choro fácil, cuidado para que não evolua para síndrome demencial. Suspeita clínica para déficit cognitivo: se tem atividade de vida normal e estado mental normal, então tem cognição preservada. Se tem estado mental alterado e atividades normais, pensa em demência e faz o rastreamento. Se tem estado mental normal e atividades alterada pensa em déficit de cognição leve. Nesse caso da paciente considera a depressão embora exista a possibilidade dela desenvolver a demência.
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