Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O CÔNCAVO E O CONVEXO Uma visão metafísica (Espírita) da homossexualidade Gilvan FX ® Brasília – 2014. Conteúdo INTRODUÇÃO .................................................. Erro! Indicador não definido. A INSTITUIÇÃO DE UM DIREITO QUE PODE NÃO SER LEGALErro! Indicador não definido. A FORÇA DO DESEJO CORROMPE A ÓTICA DOS SENTIDOSErro! Indicador não definido. A FALIBILIDADE DAS DELIBERAÇÕES HUMANAS . Erro! Indicador não definido. A INFALIBILIDADE DOS DESÍGNIOS DE DEUS ...... Erro! Indicador não definido. AS DUAS FACES DA VIDA E SUAS VINCULAÇÕES ... Erro! Indicador não definido. AS DUAS FACES DO SEXO E A UNIVERSALIDADE DAS RELAÇÕESErro! Indicador não definido. UM MODELO DE FAMÍLIA QUE SE AUTOEXTINGUEErro! Indicador não definido. AS DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO AO GÊNERO ... Erro! Indicador não definido. OS DESALINHOS E O DIFÍCIL RESGATE DAS VIRTUDESErro! Indicador não definido. A TRANSIÇÃO DO HOMO SAPIENS PARA O HOMO SPIRITUALEErro! Indicador não definido. AS MÍDIAS DE MASSA E O INCENTIVO AO SENSUALISMOErro! Indicador não definido. AS GLÓRIAS DA TOLERÂNCIA ............................ Erro! Indicador não definido. O CÔNCAVO E O CONVEXO ............................... Erro! Indicador não definido. Cada alma esconde dentro de si uma sombra secreta que não ousa olhar, mas que jamais poderá esconder de si mesma: uma sombra sempre pronta a ressurgir, logo que uma hora de paz diminua a tensão da corrida louca com que quereis distrair-vos. A alma não se sacia, embalando o corpo em comodidades supérfluas e dispendiosas, acariciando os olhos com um brilho apenas externo. Na satisfação dos sentidos, alguma coisa sofre igualmente no íntimo e agoniza numa angústia profunda. Resta um vazio dentro de vós, em que apenas uma voz, perdida e desconsolada, eleva-se inquieta para perguntar: e depois? 1 1 Ubaldi, Pietro. A Grande Síntese – Síntese e solução dos problemas da ciência e do espírito. cap. 41. Interregno. pg. 169. 23ª Edição, 2010. Fraternidade Francisco de Assis - FAC Cada alma esconde dentro de si uma sombra secreta que não ousa olhar, mas que jamais poderá esconder de si mesma: uma sombra sempre pronta a ressurgir, logo que uma hora de paz diminua a tensão da corrida louca com que quereis distrair-vos. A alma não se sacia, embalando o corpo em comodidades supérfluas e dispendiosas, acariciando os olhos com um brilho apenas externo. Na satisfação dos sentidos, alguma coisa sofre igualmente no íntimo e agoniza numa angústia profunda. Resta um vazio dentro de vós, em que apenas uma voz, perdida e desconsolada, eleva-se inquieta para perguntar: e depois? [1] Introdução O presente ensaio, idealizado a partir da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu a união homoafetiva, fundamenta- se no fato de que essas relações não podem ser analisadas apenas sob o ponto de vista da existência do homem na Terra. Deve ser examinada de forma holística, posto que a existência atual, na esfera física, tem consequências na dimensão espiritual. Por haver conexão da vida presente com as precedentes e da atual com as subsequentes, há que se destacar a necessidade de submissão dos nossos atos aos desígnios de Deus, contrapondo-se à falibilidade das deliberações humanas, baseado no fato de que Ele sempre nos precedeu, engendrou o universo com todos os seres e coisas e os harmonizou com suas Leis infalíveis. Sintônico com essa realidade inconteste, importante evidenciar a probabilidade das relações homoafetivas virem a ser direção equivocada, escolhida com fulcro na interpretação unilateral e incompleta do horizonte da vida. Nesse cenário, o que parece ser a conquista de direito, pode revela-se como meio de postergar a assunção de responsabilidades e de aplicar as verdades universais. A abordagem da homossexualidade sob o ponto de vista metafísico, à luz do Espiritismo, vai propiciar reflexão mais conscienciosa aos que já vivenciam as relações homoafetivas e aos que destes receberem seu legado, para que não se distanciem dos valores inamovíveis do Ser Supremo. Esses valores não se metamorfoseiam ao sabor da vulnerabilidade do pensamento humano, nem no tempo, nem no espaço. Dessa forma, o homoafetivo terá a oportunidade de perscrutar, na sua consciência, o grau de sujeição que seu pleito dedica aos valores, aos deveres e à missão que Deus estabeleceu para cada Espírito na Terra, nas suas relações sociais e especialmente na familiar, afinal, os efeitos desse pleito não abrangem só o plano convencional de nossa existência, mas, também, o que transcende a natureza física do nosso mundo. A instituição de um direito que pode não ser legal Os movimentos sociais são impelidos por grupos representativos de indivíduos que demonstram insatisfação por algum direito existente que é negado ou que defendem a implantação de supostos direitos com base em ideologias ou novos conceitos de vida em sociedade. Tais movimentos, a exemplo do Humanismo, da era Renascentista, são sempre impactantes na vida das pessoas, porque se contrapõem ao padrão vigente do cotidiano. Na esteira dessas mudanças sociais, o Supremo Tribunal Federal (STF), numa decisão histórica, se posicionou frente à mais controvertida reivindicação pleiteada pelo movimento dos homossexuais: o reconhecimento da união homoafetiva. Embora controvertida, a decisão proferida em março de 2011 contou com a unanimidade dos ministros equiparando a união de indivíduos do mesmo sexo à união estável heteroafetiva, portanto, equivalendo-se também a uma entidade familiar. A ação reivindicava a interpretação do art. 1.723 da Lei nº 10.406, de 10.01.2002 (Código Civil) à luz da Carta Magna de 1988. Sustentava-se que o não reconhecimento das uniões homoafetivas feria os princípios da dignidade humana (art. 1º, III), da igualdade (art. 5º, caput), da vedação de discriminação odiosa (art. 3º, V), da liberdade (art. 5º, caput) e da proteção à segurança jurídica (art. 5º, caput), todos da Constituição Federal. Esse posicionamento do STF de reconhecer a união homoafetiva também abriu caminho para que venha a se tornar, com a regulamentação, contrato análogo ao matrimônio (união heteroafetiva consubstanciada no casamento civil). Esse fato é um marco na história contemporânea no tocante à luta por direitos civis e atualmente é frenesi da mídia e dos missivistas dos direitos humanos. Esses dois segmentos consideraram, com os homossexuais, que essa reivindicação era direito legítimo e que sua indefinição ignorava as injustiças sofridas por essa minoria, já que, no seu entendimento, esse direito guarda simetria com o dos heterossexuais no que se refere à expressão dos sentimentos. Justificam, ainda, que sua positivação no mundo jurídico era inevitável, por tratar-se de modo de sentir inato, por ser notória a comunidade dessa convivência na sociedade, por haver carência de normas sobre o assunto e pelo caráter de inovação que esse tipo de relação contratual imprime à tradição familiar. Movido pelo senso de submissão aos preceitos divinos gravados em minha consciência, pretendo aqui evidenciar a necessidade de prudência quanto às concessões legais feitas de forma prematura, como é o caso da que motivou esse ensaio: o reconhecimento da união homoafetiva. Esse tipo de relação, além de inadequada, fere a lógica estabelecida por Deus no que se refere à missãode cada ser humano neste planeta, coadjuvada pela função do sexo afetivo na instituição familiar. Refletindo sobre a perfeição das concepções divinas e ponderando sobre porque as coisas são assim e não de outro modo, Leibniz assim se expressou (grifei): Da perfeição suprema de Deus depreende-se que, ao produzir o universo, Ele terá escolhido o melhor plano possível, onde haja a maior variedade com a maior ordem, com o melhor ordenamento do terreno, do lugar e do tempo: com o máximo efeito produzido pelos processos mais simples; com o máximo de poder, de conhecimento, de felicidade e de bondade nas criaturas, que o universo podia acolher. Como todos os possíveis no entendimento de Deus aspiram à existência na proporção das suas perfeições, o resultado de todas essas pretensões será o mundo actual o mais perfeito que for possível.[2] A força do desejo corrompe a ótica dos sentidos Neste momento em que o homoafetivo constrói um paraíso que lhe apraz, fruindo comportamento inerente, é claro, ao seu nível evolutivo, ilude-se ao defender propósito alicerçado numa interpretação distorcida da vida. Ao eleger direção amparada tão somente no seu direito de livre escolha, sem que esse rumo se apoie nos postulados superiores, provável é que o exercício desse modo de expressar sua afetividade resulte em graves consequências em futuro não muito distante. Por isso, nenhuma abstração melhor espelha essa conduta do que aquela que faz paralelo com o efeito causado pela reflexão dos espelhos côncavos e convexos. A ciência desses espelhos diz: o espelho côncavo amplia um objeto e reduz os demais à sua volta, enquanto o convexo reduz um objeto para ampliar os demais à sua volta. Daí, fácil constatar a imbricação de sentidos das imagens retornadas por esses espelhos com o caso em análise, visto que nem um nem outro reflete a imagem real. Pretendo, com isso, comparar a imagem refletida desses espelhos com os desejos, escolhas ou interesses do indivíduo homoafetivo, em oposição à imagem refletida pelo grande espelho da vida. Portanto, a depender do foco ou do interesse pretendido pelo homoafetivo, tanto o espelho côncavo quanto o convexo pode satisfazer seu propósito quanto à imagem por ele desejada: i) se a imagem do espelho côncavo amplia o indivíduo homoafetivo para destacá-lo da coletividade, a justificativa é a de que sua postura não é egoísta perante a sociedade, mas a que defende a prevalência do seu direito fundamental de ser; ii) se a imagem do espelho convexo reduz o indivíduo homoafetivo para destacar a coletividade, diz-se tratar de ação egoísta da sociedade, por negar-lhe direito de ser que é seu e é fundamental. Resulta-se, então, disso, que, seja qual for o espelho, a imagem (desejos e escolhas) refletida receberá a interpretação que convém ao homoafetivo e concorde a seus interesses, nunca acorde com os ditames divinos. Após a licenciosidade dessa ótica metafórica, cabe salientar que no suntuoso espelho do universo, a imagem que mais expressa e fideliza as verdades do Criador, é naturalmente a que provoca menos distorções de foco ou do sentido de suas diretrizes. Menoscabar as uniões sexuais heteroafetivas é, na minha visão, uma dessas distorções. Ela cerceia, por exemplo, o direito de um Espírito reencarnar na Terra. Ora, à primeira vista, se não há relação sexual fecunda, não haverá, em sua substituição, outro meio ou processo similar à fecundação que possibilite o ingresso de novos Espíritos na Terra. Esse viés afetivo representa, também, ato de indisciplina para com a vontade do Criador, afinal, quando Ele estabeleceu que as relações afetivas que envolvem sexo, no estágio evolutivo da Terra, devem circunscrever-se à heteroafetividade, razões Ele tinha para que fosse assim, não de outra forma. Quis Ele que ao vivenciarmos as peculiaridades de cada gênero humano, nós, Espírito imortal que somos, desenvolvêssemos nosso intelecto e nossa moral de maneira singular à que é feita no mundo espiritual. Por isso, com o fim de auxiliar o indivíduo homoafetivo na busca da interpretação mais precisa da imagem que melhor planifica seu destino, atento à “responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”,[3] é que o conclamo a auscultar o que à sua volta reclama razão, a sondar o que sobre si, do alto, esbanja sabedoria à imensidão, para içá-lo do físico ao metafísico e, num lampejo introspectivo, perquirir, per se, se prospera superestimar os valores empíricos da vida tangível, ignorando os valores inatos da vida espiritual, só porque os daquela é de fácil constatação pelos órgãos dos sentidos, enquanto os desta se captam pelo sensório da alma. É de bom alvitre sopesar tal postura em face da ideia da livre expressão sexual (nos moldes legalizados), indagando: Quem de nós, na atualidade de nossos conhecimentos incompletos, conseguirá deitar sabedoria, no campo da inteligência, tão só pelo testemunho das impressões pessoais? [...] De que maneira dogmatizar afirmativas sobre causas, processos, acrisolamento e finalidade de nossa existência terrestre pelos acanhados recursos dos sentidos comuns?[4] Sem uma reflexão metafísica do assunto, pode-se incorrer no erro de aplicar ao caso visão estreita e hedonista. Essa reflexão de superfície é característica do ensino dos pais e das escolas de hoje, que preparam suas crianças para a aquisição de conhecimentos, descuidando do refino dos seus sentimentos. Crescendo e vivendo sob educação desprovida de lastro moral e da acuidade ética, não é difícil prever que o comportamento da criança até a fase adulta será pobre de virtudes, conforme se deduz da análise de Leon Denis: [...] se os progressos, efetuados na ordem física e na ordem intelectual, são notáveis, é, pelo contrário, nulo o adiantamento moral [...] Sem dúvida, a ciência conseguiu, até certo ponto, melhorar as condições da existência, mas multiplicou as necessidades à força de satisfazê-las; aguçando os apetites, os desejos, favoreceu igualmente o sensualismo e aumentou a depravação. O amor do prazer, do luxo, das riquezas tornou-se mais e mais ardente. Quer-se adquirir; quer-se possuir a todo custo. [...] Nossos males provêm de que, apesar do progresso da ciência e do desenvolvimento da instrução, o homem se ignora a si próprio. Sabe pouca coisa das leis do Universo, nada sabe das forças que estão em si [...] [5] Embora o Espírito, naturalmente de natureza assexuada, não veja sentido em se expressar no mundo espiritual com preferência nesse ou naquele gênero, é bom frisar que, exclusivamente na Terra, em face do baixo nível moral dos Espíritos que o habitam, a psicologia assexuada não é base estanque para sustentar as relações homoafetivas. O que deve ser levado em conta são as disciplinas inerentes ao plano evolutivo traçado por Deus para cada grupo de Espíritos nos diversos globos do universo. No caso específico dos Espíritos que habitam o planeta Terra, classificado como de provas e expiação, há de considerar que eles ainda não estão capacitados para nutrir elevados sentimentos de liberdade, de justiça e de amor. Se estivessem preparados, suas relações afetivas, homossexuais ou heterossexuais, seriam vividas naturalmente sem que isso penalizasse o fluxo de Espíritos do mundo espiritual para este planeta, nem arranhasse a conduta moral compatível com o modelo pregado por Jesus. A rigor, se estivessem nesse nível evolutivo, já possuiriam corpos com estrutura compatível com a elevação de seus sentimentos. Inexistindo atualmente esse modelo, certo é que a relação que se comenta se configura como insubmissão ao plano e à vontade divina, afinal, as relações homoafetivas se arvoram a pular uma etapa de aprendizagem somente proporcionada integralmente pela relação heteroafetiva. Há de convir que nós, em se tratando de Espíritos ainda falíveisno seu modo de pensar e vacilantes no seu modo de sentir, podemos prever, a partir da legalização desse novo modelo de família, que essa medida paliativa pode agravar a situação evolutiva de quem o vivencia: As uniões sexuais, portanto, que se efetuem à distância desses sublimes imperativos, transformam-se em causas geradoras de sofrimento e perturbação. Ao demais, não devemos esquecer que o sexo, na existência humana, pode ser um dos instrumentos do amor, sem que o amor seja o sexo. Por isso mesmo, os homens e as mulheres, cuja alma se vai libertando dos cativeiros da forma física, escapam, gradativamente, do império absoluto das sensações carnais. Para eles, a união sexual orgânica vai deixando de ser uma imposição, porque aprendem a trocar os valores divinos da alma, entre si, alimentando-se reciprocamente, através de permutas magnéticas, não menos valiosas para os setores da Criação Infinita, gerando realizações espirituais para a eternidade gloriosa, sem qualquer exigência dos atritos celulares. Para esse gênero de criaturas, a união reconfortadora e sublime não se acha circunscrita à emotividade de alguns minutos, mas constitui a integração de alma com alma, através da vida inteira, no campo da Espiritualidade Superior. Diante dos fenômenos da presença física, bastam-lhes, na maioria das vezes, o olhar, a palavra, o simples gesto de carinho e compreensão, para que recebam o magnetismo criador do coração amado, impregnando-se de força e estimulo para as mais difíceis edificações.[6] Supondo haver situação, mesmo que fortuita, em que um indivíduo tenha adotado comportamento homossexual, sem que esse modo de ser tenha raízes num passado que transferiu para a posteridade as consequências da malversação do sexo, então, de maneira otimista, inspirado no fato de que estamos vivendo momentos de grandes mudanças na estrutura da matéria e na psicologia do Espírito, em função da transição planetária que objetiva promover a Terra do seu estágio de provas e expiação para o de regeneração, podemos inferir desse tipo de ‘homossexualidade’ que ela seja reflexo das vibrações trazidas pelos Espíritos mais evoluídos remanejados de planetas superiores. Dotados, assim, de elevado sentimento de irmandade celeste, podem influenciar alguns indivíduos a nutrir comportamento de expressiva fraternidade. Com isso, na ausência da correta interpretação dos sentimentos a que se acham tomados, adotam equivocadamente trejeitos similares ao comportamento homossexual, sem que de fato sejam homossexuais. Falando em equívocos, importante ressaltar que o conhecimento e a prudência são indispensáveis à boa interpretação dos nossos sentidos e de nossa vida, portanto, faz-se oportuno tecer breve comentário sobre o termo seresempregado por Alan Kardec, na questão 695 do Livro dos Espíritos [7]. O referido termo, cunhado na expressão “união permanente de dois seres”, foi utilizado por ele como assessório à palavra casamento, não como termo que ensaia chancela a homoafetividade, como alguns pensam. Kardec não o utilizou em sentido metafísico, significando elo fraternal mantido entre Espíritos. Aludia, sem dúvida, ao casamento, união apropriada à Terra, naturalmente formalizada entre dois seres: o homem e a mulher. Supondo-se que essa interpretação intencione combater a intolerância e exalçar a indulgência para com os nossos irmãos homoafetivos que enfrentam os mais exacerbados preconceitos, por ainda não terem se desvencilhado das sensações que os dominam e os afastam de suas missões originais, não me parece que o melhor caminho para o exercício da verdade e da caridade seja distorcer o sentido de um termo com o propósito de induzir neófitos espiritualistas a pensarem que essa acepção foi chancela subliminar às relações homoafetivas. A resposta do Espírito de Verdade à questão nº 695, quando indagado se seria “contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres?”, foi clara, objetiva e contundente: “É um progresso na marcha da Humanidade”. Ora, não há humanidade no mundo espiritual, só existe no mundo físico: o planeta Terra. Tal é a certeza de que o termo referia-se a homens e mulheres, que um século depois, o Espírito Emmanuel, sintônico com as diretrizes dos Arautos Celestes, ao discorrer sobre a mesma questão do Livro dos Espíritos, extirpou qualquer dúvida sobre o claro sentido empregado ao termo ‘seres’, afirmando que (grifei): O casamento ou a união permanente de dois seres, como é óbvio, implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à outra, no campo da assistência mútua. Essa união reflete as Leis Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida.[8] Em seguida, explica que esse progresso alcançado pela humanidade, por meio do casamento, representa grande conquista do Espírito que vive atualmente no planeta, no entanto, na Terra do futuro, naturalmente ainda física, mas habitada por Espíritos regenerados, as relações sociais serão alicerçadas por sentimentos mais nobres, ensaiando relação afetiva que mais se aproxima à que é vivida por seres de esferas superiores (grifei): Indiscutivelmente, nos Planos Superiores, o liame entre dois seres é espontâneo, composto em vínculos de afinidade inelutável. Na Terra do futuro, as ligações afetivas obedecerão a idêntico princípio e, por antecipação, milhares de criaturas já desfrutam no próprio estágio da encarnação dessas uniões ideais, em que se jungem psiquicamente uma à outra, sem necessidade da permuta sexual, mais profundamente considerada, afim de se apoiarem mutuamente, na formação de obras preciosas, na esfera do espírito.[9] Convêm lançar olhos com intenções de ver as verdades da vida, a fim de que cada um possa ler o que diz no seu íntimo, confronte com tudo que transcende (e não perece) para sondar se os sentimentos que lhe movem são eivados dos novos ingredientes de amor disseminados pelo mundo vindouro de regeneração ou se esses sentimentos são, ainda, os que o imantam ao solo das paixões terrenas como resultado do estágio espiritual em que se encontram. A falibilidade das deliberações humanas As constituições e os códigos disciplinadores de conduta dos indivíduos nos diversos países são periodicamente reformados à medida que ocorrem mudanças significativas no comportamento da sociedade. Quando o país é democrático de direito, não assiste razão para ignorar a existência desses comportamentos ou ignorar o exame e a conveniência de sua regulação normativa. O movimento dos homossexuais defendeu a reforma do texto constitucional a respeito do conceito de família. Mesmo após a decisão favorável da suprema corte, é oportuno, a meu ver, refletir sobre as consequências advindas da inusitada entidade familiar, em face do legado que ela deixará às gerações futuras. Nada obstante os abalos provocados na sociedade com o reconhecimento legal desse tipo de união afetiva, sabemos que assim caminha a humanidade, evoluindo entre erros e acertos. O tempo evidenciará, em retrospectiva, qual teria sido a melhor solução para o assunto. Enquanto isso, consola-nos a ideia de que o progresso dos seres fatalmente ajustará as coisas, dado que reverses desse jaez estão previstos no planejamento divino como eventos suscetíveis das ações do Espírito humanizado imperfeito, que promove seu progresso servindo-se dos recursos compatíveis com o seu nível evolutivo ou fazendo escolhas sem a devida reflexão de suas consequências no porvir. Alan Kardec, ao tratar do progresso das civilizações, chamou atenção para os riscos de escolhas que a sociedade faz sem suficiente maturidade: A civilização criou necessidades novas parao homem, necessidades relativas à posição social que ele ocupe. Tem-se então que regular, por meio de leis humanas, os direitos e deveres dessa posição. Mas, influenciado pelas suas paixões, ele não raro há criado direitos e deveres imaginários, que a lei natural condena e que os povos riscam de seus códigos à medida que progridem. A lei natural é imutável e a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva.[10] Pietro Ubaldi, numa referência à compaixão que os avatares da instrução sentem pelos que se demoram na faixa da ignorância, justifica que tais desacertos, em meio às verdades universais, são temporários e corrigidos por mecanismos naturais e automáticos ao longo da vida: Não há dúvida de que, para quem alcançou uma compreensão mais vasta, é um sofrimento ver a inteligência, centelha de Deus, corromper-se em astúcias e enganos. Mas o baixo uso dela se justifica, como sendo um meio para chegar a compreender a inferioridade desses métodos e, assim, superá-los e abandoná-los.[11] Assim, influenciado pelo véu que oculta os erros de direção cometidos no passado e incapaz ainda de resistir aos ideais menos dignos que afloram na sua mente, o Espírito que reencarna na Terra quase sempre procura criar sofismas para manter a prevalência dos seus interesses imediatos, numa prova irrefutável de quão vulnerável é seu pensamento e quão transitórias são suas deliberações. Nesse sentido, nunca é demais ilustrar os vacilos de que são capazes alguns indivíduos que, mesmo distanciados um pouco da faixa da ignorância intelectual, veem-se embaraçados diante da necessidade de promover o equilíbrio entre o seu senso intelectual e o moral, como foi o caso que deu origem a esse ensaio: o reconhecimento da união homoafetiva, chancelada pelos árbitros da suprema corte do país. Por isso, nessa linha, julgo oportuno fazer breve relato de três casos reais que, a meu ver, espelham bem o terreno movediço sobre a qual alguns Espíritos humanizados sustentam seus juízos. O primeiro caso nos faz refletir sobre a pseudoerudição de indivíduo que o leva a construir um sofisma justamente pela falta de harmonia do seu intelecto com a moral. Não raro, é devido a mentes envaidecidas pela aquisição de vasto conhecimento, sem baliza moral, à custa de paixões desarrazoadas, que a História das Civilizações amarga retrocessos. Não que a paixão seja de todo negativa. Até certo ponto, ela cumpre seu papel enquanto motor que impulsiona ao progresso, pois é a partir dela que a crítica, filha primeira da razão, lhe recepciona. Se, numa conjunção equilibrada, paixão e razão são operárias da mente na edificação da vida, parece que a loucura é o vácuo que denuncia a ausência de equilíbrio. No campo do raciocínio, existem os que temporariamente são acometidos por esse breu neurótico, e é justamente nesse intervalo obscuro que suas criações fogem dos padrões aceitáveis de normalidade. O protagonista desse primeiro caso, insigne ministro do Supremo Tribunal Federal, togado nos idos de 1894, é indivíduo de inteligência dilatada, mas assentada sobre estofo moral duvidoso que afirmou, na obra “O Julgamento de Pilatos ou Jesus Cristo Perante a Razão e os Evangelhos”, que Jesus sofria de loucura. Exegeta, político, hábil na articulação das ideias e das palavras, valeu-se de sua eloquência para ornar os devaneios de sua mente e, quiçá, embalar, na gangorra da dúvida, alguma leva de gente. Ao expressar seu pensamento, numa obra paradoxal e surreal, discorrendo sobre o mérito da sentença de Pilatos imposta ao enviado de Deus, entendia que a loucura de Jesus vicejou a paixão dos seus seguidores – com fulcro na razão especulativa – e que a razão (prática), no pensamento do jurisconsulto, deu causa de sua condenação por Pilatos. Sabemos que essa visão tresloucada não traduz a realidade dos fatos ou da personalidade de Jesus. Na análise do autor, o emprego da razão e da paixão se reveza de maneira astuta, ambas em sentido pejorativo ou qualitativo, a depender do enfoque ou do seu interesse. Ele, que atribui à loucura o sucesso de Jesus e à razão o teor analítico e profundo do seu livro, se empenha, como se depreende de pequeno trecho retirado de sua obra e transcrito abaixo, em revelar as nuances das palavras razão, paixão e loucura, apenas para, num viés malicioso, acomodá-las à sua interpretação, dar às suas palavras ares de verdade e, assim, justificar a tese de que Jesus era acometido de loucura: [...] não é à razão, mas sim à paixão, e até mesmo à própria loucura, que na realidade ou principalmente nós devemos quase todos os progressos que a civilização tem feito [...] Com isto não pretendo dizer que é inteiramente nulo o papel que à razão vem a caber na marcha da civilização. Pelo contrário, é imenso esse papel, mas, para bem compreendê-lo, é preciso que se faça uma distinção muito importante entre a razão especulativa, que anda por assim dizer aos saltos, ou que, assim como o relâmpago, fugaz ilumina, deslumbra e passa, e a razão prática ou o bom senso, que anda sempre compassadamente, ou que assim como um pequeno farol, nos esclarece o caminho com mais ou menos segurança.[12] O enunciado convence se aplicado de modo genérico, mas, no caso concreto, o jurisconsulto, ao escrevê-lo, o fez com propósito não muito digno, qual seja, o de estabelecer uma ligação estreita entre os sintomas da loucura e os atos da vida do Mestre. Movido por moral insípida e presunção de intelectualidade inatacável, não percebeu, na sua insensatez, que a verdade não é a medida do seu alcance, mas o alcance da exata medida, a qual virá somente com a perfeição. Daí a falibilidade do seu propósito, pois ao chamar a atenção para o que ele considera como razão especulativa (dos cristãos) e razão prática (a dele), na realidade, a paixão foi como comburente da sua análise, uma vez que o bom senso nela se fez ausente e até convencerá o incauto, possivelmente. Espiando de relance sua autobiografia[13], a fé fragilizada, aliada a revezes que vivenciou na área política, pode explicar em parte o motivo de sua racionalidade mordaz, pois declarava o jurisconsulto, antes de escrever a obra, que sua índole era essencialmente religiosa e que desde muito criança nunca passou uma só noite sem que antes de deitar- se não se recomendasse a Deus e que, cheio do maior ardor, não lhe dirigisse grande número de orações, no entanto, tendo se agastado por questiúnculas, sentiu germinar a pouco e pouco no seu coração a semente da dúvida. Resolveu, em meio ao vazio que lhe carcomia, escrever algumas ‘variações’ ou delas extrair assunto qualquer, e entre tantas ideias surgidas, cada uma se corporificava como disparates. Então, como ele próprio sentenciou: “quem se afoga a tudo se agarra”, resolveu ligar todas em uma só, recebendo dele o aplauso como a melhor ideia aceita: a loucura de Jesus. Nasceu assim, nessa atmosfera vã ou nesse vacilo, obra que é o substrato da ingratidão àquele que veio ao nosso mundo para auxiliar-nos a filtrar as vis paixões de nossos sentimentos e iluminar nossas mentes com sua moral e inteligência altruísta. O Espírito humanizado (encarnado), inexpressivo pela sua palidez moral e pretensamente assaz pela sua inteligência, utiliza sua astúcia na defesa de sua vontade e não mede esforço para que seu intento prevaleça a todo custo. Progride sempre, porém, na qualidade de imperfeito, esquece que esse progresso é espiralado, falível e volátil. Nesse contexto em que se chama atenção para as falibilidades humanas, afirmo ser plausível, no atual estágio evolutivo do ser na Terra, a prematuridade em reconhecer a união homoafetiva, posto que ela foi decidida por intelectuais falíveis no campo moral. Merecer mundos melhores requer do criado o cumprimento às leis naturais do Criador. Se não estamos respeitando aconduta apropriada ao mundo em que vivemos, com que direito nos candidatamos a merecer mundos mais evoluídos, portanto mais felizes, se renegamos a disciplina? Como legitimar ou brindar a conquista de um direito na Terra, se esse mesmo direito é o que nega dever estabelecido pelo Legislador infalível: o de considerar as relações heteroafetivas como o mais adequado processo de aprendizagem do Espírito humanizado, vez que lhe garante o conhecimento inerente a cada gênero: vivido exclusivamente, um de cada vez, coadjuvado pelas relações afetivas do gênero oposto. Leon Denis, sob os eflúvios de uma consciência de mais larga compreensão da vida nos dois mundos, nos alerta acerca da obediência aos preceitos divinos estabelecidos: O Positivismo está na impossibilidade de fornecer à consciência uma base moral. Neste mundo, o homem não tem só direitos a exercer, tem também deveres a cumprir; é a condição iniludível de qualquer ordem social. Mas, para preencher os deveres, cumpre conhecê-los; e, como possuir esses conhecimentos sem indagar-se o alvo da vida, das origens e dos fins do ser? [...] Com o estudo atento e minucioso da matéria, as escolas positivistas contribuíram para enriquecer certos ramos de conhecimentos humanos, mas perderam de vista o conjunto das coisas e as leis superiores do Universo. Encerrando-se no seu domínio exclusivo, imitaram o mineiro que se aprofunda mais e mais nas entranhas da terra, que aí descobre tesouros ocultos, mas que, ao mesmo tempo, perde de vista o grande espetáculo da Natureza que se mostra imponente sob os raios do Sol.[14] O segundo caso a ser perfilhado, diz respeito a indivíduo que se esmerou em construir sofisma para justificar seu apoio ao reconhecimento da união homoafetiva, mas, pela inconsistência do seu fundamento, ele próprio percebera com o tempo, antes mesmo da decisão do STF, que havia tomado direção equivocada. Essa mudança de postura é apanágio do homem imperfeito que se norteia pela imperfeição de suas leis, afinal, toda lei é obra humana e aplicada por homem; portanto, imperfeita na forma e no fundo, e dará duvidosos resultados práticos, se não verificarem, com esmero, o sentido e o alcance das suas prescrições. [15] Então, como eu já havia dito, vem aí com intermitência em nossa mente a questão do alcance, enfatizando que a verdade não é a medida do alcance do indivíduo, mas o alcance da perfeita medida das coisas. O fato é que, após vários anos de estudos e pesquisas sobre a homossexualidade, o protagonista desse segundo caso, fechado em sua convicção de que o homossexual deveria ser livre para unir-se com a pessoa amada e de que as uniões homoafetivas deveriam ser reconhecidas juridicamente, apoiou-se numa vasta bibliografia jurídica e nas lições de estudiosos das mais diversas áreas para embasar seus argumentos. Inclusive, valeu-se de trechos cânones da Bíblia para afirmar que até do ponto de vista das Escrituras sua tese tinha respaldo. Apesar desse árduo trabalho, do qual, segundo ele, recebeu elogios de juristas respeitáveis, transcorrido não menos de um ano após a conclusão do seu sofisma, reescrevera sua tese, pregando, agora, o oposto do que ele dissera antes, apresentando interpretação reformada do caso, utilizando a mesma referência bibliográfica, a fim de restabelecer a verdade, na tentativa de desfazer o equívoco que cometera no passado, conforme explicou-se, com firme arrependimento: Assim como o apóstolo Paulo, o qual após uma vida de perseguição aos cristãos passou a proferir a crença que antes combatia abertamente, o autor, como fruto de uma profunda transformação sofrida por uma real experiência vivida com Deus, sentiu a necessidade de rever seu posicionamento jurídico a respeito do assunto. Desta forma, não negando que anteriormente era um dos mais ferrenhos defensores da união homoafetiva, e sem se esquecer dos argumentos jurídicos tão concisos e verdadeiros que trouxe para defender sua posição, o autor irá demonstrar, com argumentos bíblicos e também jurídicos, que seu anterior posicionamento, além de não condizer com as verdades sagradas descritas na Bíblia, também podem ser afastados através de argumentos jurídicos. [16] Donde então irrompeu-se a magia do reverso? Do bom senso e da fé, explicou-se. E também da lógica jusnaturalista, presumo. Contradizendo posição anterior, combinando fé e razão, agora ele divisa novo cenário para a questão da homossexualidade. Se as normas por ele consultadas não foram o motivo de sua reforma, conclui-se que a mudança de sua ótica operou-se no campo metafísico do seu entendimento, propiciando-lhe interpretação diversa daquela feita anteriormente sobre o mesmo assunto e servindo-se da mesma bibliografia. Vale citar, em socorro a esse cenário de aparente paradoxo, o que veio a deduzir Gusmão, em sua obra, que o grande jurisconsulto Paulo de Tarso, talvez compreendendo a particularidade do direito, sustentava que “o permitido pelo direito nem sempre está de acordo com a moral.”[17] O terceiro e último caso continua a enfatizar que a vulnerabilidade do pensamento humano também incide nas faixas mais esclarecidas dos Homens quando, diante de questões de maior vulto e de maior complexidade, se propõem a resolvê-la. Então, é digno de nota o julgamento histórico do Supremo Tribunal Federal que decidiu, por unanimidade, que as relações homoafetivas são consideradas união estável, como estáveis são as uniões heteroafetivas, equivalendo-se, então, a entidade familiar, tal como a constituída por um homem e uma mulher. Apesar da unanimidade dos 11 ministros do STF na decisão do caso vertente, nutro a firme crença de que ela é fruto do exercício do livre arbítrio, facultado pelo Magnânimo, mas que naturalmente se ajustará, com o tempo, às prescrições divinas. A infalibilidade dos desígnios de Deus me permite parafrasear um conhecido jargão: Deus escreve sempre certo, nós é que entortamos as linhas e as letras, daí a imprecisão da leitura e da interpretação que às vezes se faz do texto da vida. Essa imprecisão parece refletir-se na estranha interpretação que os ministros da suprema corte fizeram do dispositivo constitucional, pois, apesar de o texto estabelecer claramente que “para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher, como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” [18], posso arriscar uma dedução – inspirado no pensamento de alguns críticos procedimentalistas – que eles desviaram da letra, extrapolaram os limites da interpretação e criaram direito para além das palavras do texto da carta magna, numa clara invasão da função privativa do legislador. Deduz- se que os ministros, motivados talvez pela pressão de um ativismo social, praticaram um ativismo judicial para que a aplicação do texto não conduzisse a resultados ‘injustos’ para a minoria em questão. Rachel Nigro não concorda com a integridade desse pensamento. Em seu artigo ela refuta que os ministros do STF, no julgamento em relevo, tenham atuado como ativistas judiciais, porém, acredita que se atuaram dessa forma, considera que sua decisão é exemplo paradigmático de “ativismo judicial legítimo” (grifei): Enquanto co-legislador, o interprete da corte constitucional (sobretudo em face a dispositivos vagos e moralmente carregados) reconstrói o sentido do texto e apresenta novas versões de significado, novas normas. Diante da abertura textual dos direitos fundamentais, interpretar a Constituição implica em desenvolver o direito, produzir normas que não existiam e, nesse sentido, implica em “criar” direito. [...] No caso da Adpf 132, mais do que atualizar o sentido do dispositivo constitucional, o STF realizou uma leitura (moral) ampla e sistemática dos princípios constitucionais envolvidos para derrogarum enunciado constitucional ou, no mínimo, para produzir uma versão de significado bastante heterodoxo do §3º do artigo 226. Mas isso não significa dizer que os tribunais constitucionais tomam sempre as melhores ou mais corretas decisões.[19] Os argumentos acima, segundo a especialista em filosofia do direito, são mais bem-compreendidos a partir da visão pragmática da filosofia da linguagem, que permite extrair as razões não estritamente jurídicas que devem ser consideradas para demarcar os limites de interpretação e da jurisdição constitucional. Em que pese minha ignorância, penso que essa e outras fontes de justificativas são de fato licenciosidades inesgotáveis para a sede de argumentos dos intérpretes. Em toda norma feita pelo homem, essa fonte jorra com intensidade proporcional à sede de clareza de seu enunciado ou à obstinação da defesa de seu interesse. E nossa Constituição, conforme ilumina Rachel Nigro, no que tange a essa fonte, no campo dos direitos humanos, não é menos fértil: [...] a Constituição brasileira de 1988 é um texto amplo e generoso, repleto de promessas de ‘estado ideais de coisas’ que deixam enorme margem para a reconstrução criativa do intérprete, como demonstra a jurisprudência constitucional dos últimos 20 anos. [...] O que pode gerar legítimas divergências de interpretação, ou seja, diferentes reconstruções de sentido dos enunciados diante dos casos concretos.[20] Bem se vê, pelo encarrilhado até agora, que a exegese e a hermenêutica funcionam, às vezes, como licenciosidades que dão asas ao raciocínio jurídico no sentido de libertá-lo, no caso concreto, das amarras que o prendem ao comando original da norma. No estágio evolutivo em que o homem ainda se encontra, o livre-arbítrio é uma faculdade que amplia sua visão e sem ela seria impossível evoluir moral e intelectualmente. No entanto, quando malversada essa faculdade e desvinculada de um senso real de justiça divina, pode produzir atos apoiados em argumentos duvidosos, como se verifica na decisão do STF, relativa à união homoafetiva, na qual, a CF de 88, considerada a guardiã dos direitos e inviolável nos seus preceitos, foi frontalmente desrespeitada, porquanto, a partir do seu enunciado, criaram outro, exprimindo mensagem diversa daquela proposta pelo constituinte. Importante destacar que, em análise de questão de grande importância axiológica para a sociedade, como a de que agora me ocupo, há que se levar em conta os verdadeiros valores da vida, que são aqueles que, transcendendo o espaço e o tempo dos mortais, novamente se encontram numa outra dimensão, com pesos e medidas inalterados. Nesse ponto, o livre-arbítrio revela a intenção de Deus em dotar o homem de faculdade de livre expressão, no entanto, dada nossa imperfeição, essa liberdade é, repito, no estágio em que vivemos, vigiada e limitada. À medida que progredimos de forma equilibrada, na moral e no intelecto, essa liberdade é ampliada e passamos a conquistar mais autonomia quanto à utilização do livre-arbítrio. Por isso, devemos não perder de vista que a utilização dessa faculdade deve ser feita de modo responsável, disciplinada e atrelada a um senso de justiça imorredouro. Na esteira das missões de cada um, o jurista exerce grande responsabilidade quando se propõe a clarear a consciência dos indivíduos ante os escuros das letras que se inscrevem no caminho. Em face disso, eu não poderia encerrar essa parte da minha análise, quando procuro chamar a atenção para a falibilidade das decisões humanas (no tocante à prematuridade do propalado reconhecimento da união homoafetiva) e enaltecer a infalibilidade dos desígnios divinos, sem apresentar, abaixo (trecho longo, mas necessário), a sensata lição de Manuel Segura Ortega, citado por Mártires Coelho, quando prega a importância do arbítrio judicioso, porém, não abusivo, sem esquivar-se de elencar as razões dos opositores (grifei): Os que negam o arbítrio judicial, hoje em minoria, recorrem à ficção, insustentável, de que para todo problema de aplicação do direito existe uma única resposta correta, que pode ser encontrada no ordenamento jurídico, seja manejando as suas regras, seja operando com os seus princípios. Sem despender grandes esforços para contestar essa tese, os seus adversários costumam dizer que basta compulsarmos qualquer repertório de jurisprudência para encontrarmos inúmeras decisões divergentes – e até contraditórias -, extraídas de um mesmo enunciado normativo. Mais ainda, se levarmos em conta a comprovada abundância de sentenças contraditórias e o escasso número das que se harmonizam através dos remédios processuais disponíveis, chegaremos ao paradoxo de ter que aceitar uma realidade que nem o ordenamento jurídico tolera nem o paradigma dominante consegue explicar. E isso para não se falar que a existência de decisões contraditórias choca-se frontalmente com os princípios constitucionais da igualdade, da segurança jurídica e da proibição da arbitrariedade, que se cristalizam na fórmula da vinculação aos precedentes. [...] Se nos perguntássemos de que depende esse resultado final, a resposta não se haveria de buscar no critério interpretativo utilizado e sim na vontade do juiz que, partindo do resultado que deseja alcançar, utiliza os instrumentos hermenêuticos adequados a esse desiderato [...].[21] A infalibilidade dos desígnios de Deus Ao se falar em ótica divina ou quando aduzimos nossas ações a conduta pautada nos preceitos divinos, revelamos, de modo involuntário e quase imperceptível, que nossa própria consciência reclama a existência e a submissão a um ser que nos seja superior em tudo. O que nos mantém imersos nessa crença advém do fascínio – irresistível e inegável - que a colossal estrutura do universo nos causa. A harmonia do conjunto, produzindo efeitos que influem útil e inteligentemente em tudo que fazemos, é obra natural que denuncia a existência do seu autor, irisa e seduz nossa alma com tal força e magia, que não há neste mundo ninguém que sustenha seu encanto e duvide da magnitude de quem é causa desse poder deslumbrante. Então, é a partir dessa panorâmica, contagiado em verve indecifrável, na proporção de cada senso, que emerge em nós o sutil desejo de reverenciar o Maestro desse grande concerto. Com essa visão clara e segura, que nos guia sem medo e nos afasta da via escura, a vida prossegue amparada na alta definição das lentes de Deus. Onisciente e onipresente, o Arquiteto do nosso e de tantos outros mundos, com a maestria de quem compõe o mais perfeito dos arranjos, faz de nós como que um de seus instrumentos, a produzir acordes com a natureza e a entoar cânticos de beleza, evolução e harmonia. Certos, assim, do seu amor e do seu auxílio, fácil valorar nosso presente com a certeza dos benefícios no futuro. A questão é que alguns ainda distam dessa certeza, por acanhado raciocínio, ingratidão ou teimosia. Mentes há que duvidam e não se dobram ante a verdade que se desdobra em incomensuráveis lições no grande livro da Natureza. Leibniz, em suas inquirições, nos dá ideia disso quando discorre sobre os questionamentos acerca da causa que deu origem à existência das coisas: [...] importa agora elevar-se à metafísica, recorrendo ao grande princípio, comumente pouco usado, o qual afirma que nada se faz sem razão suficiente; isto é, que nada sucede sem que seja possível àquele que conhece assaz as coisas fornecer uma razão suficiente para determinar porque é assim, e não de outro modo. Posto este princípio, a primeira questão que se tem direito a fazer será: porque há alguma coisa em vez do nada? Afinal, o nada é mais simples e mais fácil do que alguma coisa. [...] É necessário, assim, que a razão suficiente, a qual não carece de qualquer outra razão, resida fora da série das coisas contingentese se encontre numa substância que dela seja a causa, e que seja um Ser necessário, possuindo em si a razão da sua existência; de outro modo, não se teria ainda uma razão suficiente onde se pudesse parar. E esta razão derradeira das coisas chama-se Deus.[22] Não comporta no meu entendimento a ideia da funcionalidade e equilíbrio do cosmos e de tudo que nele pulsa, sem admitir a existência de direção superior no comando. Com isso, ancorado na certeza inabalável de que Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas[23], que estabeleceu os códigos soberanos para manutenção e coexistência harmônica entre a vida física e a extrafísica, rogo aos que ainda negam essa direção, que atribuem tudo ao acaso e a uma força cega, elevarem-se um pouco além da superfície de suas concepções e enlevarem-se pelo testemunho de uma das grandes vozes da sabedoria, quando nos conclama a ver com olhos de ver, a benfeitora utilidade das coisas e dos seres, o encadeamento perfeito das ações e das reações, do primeiro ao seguido ato, numa equalização perfeita: Será possível que o vosso critério filosófico possa tomar a sério a hipótese ridiculamente metafísica da pré-existência de uma ordem universal, sem que houvesse um pensamento para concebê-la, uma inteligência para compreendê-la, um olhar para contemplá-la e uma alma para amá-la? Pois quê! Será essa Natureza, assim cega, inconsciente, escravizada, sem olhos de ver nem coração de amar, que vai, num silêncio eterno, tecendo a malha divina de tudo o que existe? Temo-la então, a cega Natureza originando sem o querer, nem saber, uma harmonia, até que finalmente, da base ao cimo do cosmos, como filho da cega fatalidade, surja o homem para ouvir a harmonia que não fêz, e tomar conhecimento dessa ordem que não procede dele, porque lhe precede! [24] Quando olhamos à nossa volta e analisamos os fatos, sondando os sistemas dos micros em sintonia com o dos macros, percebemos que nada vive a esmo, pois tudo obedece a um comando inteligente. Visto isso, em que bases negar a prodigiosa Lei Natural, se a falibilidade de nossos sistemas ao cadafalso nos leva e nos condena? Como insistir em negá-la assim, se a infalibilidade dos desígnios de Deus agiganta sua Lei e o nosso frágil argumento nos apequena? Insurgir-se contra o Criador e insistir em tal propositura é padecer num ridículo que só a imaturidade e o orgulho podem conceber. Quando numa incursão meticulosa avançamos na particularidade de um microrganismo, descobrimos nele outros mundículos, a partir dos quais nossa visão limitada nada mais registra. Transpassando a massa do primeiro, sem tê-lo de todo conhecido, deparamo-nos com a massa de outro microrganismo e assim por diante. Em sentido oposto, quando avançamos em excursão pela vastidão do macrocosmo, após percorrer a maior distância possível, deparamo-nos, por exemplo, com a exuberante estrela VY Canis Majoris, 50 vezes maior que o Sol, comparado à qual nosso astro rei parece um grão de areia. E aqui estamos nós, na Terra, iluminados por ele, mas iludidos pela vaidade do que já sabemos, esquecendo, vesgos pelo nosso orgulho, de quantas dízimas tem a fração da parte que representa nossa massa, comparado a esse mesmo grão, o astro rei. Apesar desse estupendo aparato sideral, cercados por esse turbilhão incognoscível de seres e de coisas, alguns ainda insistem em não reconhecer Deus como sendo o artesão de tudo e transgridem suas Leis, para que elas se conformem aos interesses imediatos, quando deviam, isto, sim, insistir em conhecê-las melhor, entender a mecânica de suas ações e a utilidade providencial de suas reações, para em seguida, inspirados na infalibilidade delas, aperfeiçoarem nossas leis, em razão de ainda vivermos a infância do intelecto e da moral e carecermos do auxílio do Criador para guiar-nos durante o desenvolvimento de nossas faculdades. Leon Denis, fascinado pela exuberância da Natureza e cônscio da infalibilidade dos desígnios de Deus, sentencia: A ordem universal reinante na Natureza, a inteligência revelada na construção dos seres, a sabedoria espelhada em todo o conjunto, qual uma aurora luminosa e, sobretudo, a universidade do plano geral regida pela harmoniosa lei da perfectibilidade constante, apresenta- nos, já agora, a onipotência divina como sustentáculo invisível da Natureza, lei organizadora, força essencial, da qual derivam todas as forças físicas, como outras tantas manifestações particulares, suas. Podemos, assim, encarar Deus como um pensamento imanente, residente inatacável na essência mesma das coisas, sustentando e organizando, ele mesmo, as mais humildes criaturas, tanto quanto os mais vastos sistemas solares, de vez que as leis da Natureza não mais seriam concebíveis fora desse pensamento, antes são dele eterna expressão. Esta convicção, adquirimo-la no exame e análise dos fenômenos da Natureza.[25] Cumpre aqui anotar que a breve alusão ao microcosmo e ao macrocosmo intencionou, é evidente, apenas extrair desses dois organismos complexos a visão essencial do que necessito para medir nosso valor e nossa posição em relação ao universo. Portanto, do que foi dito, o essencial é que fique patente o esplendor do universo como prova cabal da autoridade, da influência e da arte do Criador sobre nossas vidas, para que não tenhamos dúvidas de que nosso estágio evolutivo nos coloca muito distantes da capacidade de alterar Seu plano, no que se refere à missão do Espírito na Terra, na condição de homem e de mulher, e não nos credencia a estabelecer relações afetivas que nossa índole moral ainda não nos capacita. Importante lembrar que fomos criados à imagem de Deus, não no sentido material, uma vez que não se pode conceber a imagem do inimaginável, mas, isto sim, no sentido intencional de sua expressão superior, consignada no bem e na justiça e no amor. Por isso, é mais adequado e preciso afirmar que fomos criados à sua semelhança, vez que os atributos da criação jamais se confundem com os do Criador. Este é perfeito, aquele, perfectível. Em sendo atributo do homem a perfectibilidade, é seu dever assumir, enquanto não estiver de posse de todo o conhecimento moral e intelectual, que é passível de falência em suas deliberações. Infelizmente, a mais alta corte de justiça do nosso país, o STF, contrariando sua missão institucional, não resistiu a essa pecha, quando deliberou que as relações homoafetivas (união entre indivíduos de mesmo sexo), para efeitos de proteção do Estado, são equiparadas às relações heteroafetivas (união entre indivíduos de sexos opostos), numa grave afronta, não somente aos preceitos da Constituição, que elegera claramente o homem e a mulher como sendo constituintes da união familiar estável, mas também uma afronta à Lei Natural instituída por Deus. Alinhado à indelével assertiva de que o homem é perfectível, logo passível de falências em suas deliberações e de que Deus é perfeito, portanto, infalível nos seus preceitos, afirmo que é nosso dever cumprir com o nosso papel de aprendizes e ouvir as sábias vozes dos céus que, condoídas pelo nosso estágio espiritual, vêm em nosso auxílio, na Terra, com o fim de nos sensibilizar quanto à manutenção dos valores reais da vida nos dois planos - o físico e o extrafísico. Os Espíritos superiores, que são as vozes do céu, abdicando do paraíso que conquistaram, vêm até nós, servindo-se dos médiuns, convencer-nos de que nossa conduta deve ter caráter universal, experientes e convictos de que essa não é nossa única existência neste mundo e de que ela deve cingir-se da mais sublime missão: desenvolver nossas faculdades latentes rumo à perfeição, rumo à felicidade inextinguível. Essa felicidade não é a imediata, nascida dos critérios temporários, mas é a que resiste às intemperanças da vida corpórea e subsistena vida de além-matéria. As duas faces da vida e suas vinculações Quando se fala em vida, mais que vivê-la, importa saber interpretá-la, perscrutar seu significado e sua utilidade no presente. Tão logo os refletores do palco terrestre tirem de cena o Espírito que anima o corpo, importa igualmente saber que desdobramentos sua vida terá além, pois, conforme adverte um Espírito de escol, “a existência humana é como precioso tecido de que os olhos mortais apenas enxergam o lado avesso”[26]. Partindo desse aforismo, parece indispensável que se analise a questão homoafetiva na dimensão que ela exige, sob a lupa metafísica, pois, quando se fala em mudança de comportamento, seja individual ou coletiva, é razoável, senão prudente, que antes de sua adoção convém saber precisamente suas implicações em qualquer ambiente (físico ou extrafísico) em que transita o Espírito. Sem considerar a sobrevivência do ser após a morte do corpo físico, a análise do assunto em destaque – as relações homoafetivas – perde o sentido, pois, se não houver nada após a morte biológica, a conduta é uma, se houver algo além, a conduta será outra. Se nada houver do ‘outro lado’ desta vida, nada se fará aqui pensando na outra, daí, vale tudo na vida atual. Em contrário, se algo nos reserva ao descerrar-se o véu que oculta a vida que lateja em outra dimensão, a conduta de agora influenciará certamente a vida futura, seguindo-se daí o respeito aos bons regramentos, humanos ou divinos. Pensar que não há vida do lado de ‘lá’, é admitir que Deus cria os Espíritos, os introduz no planeta Terra – sob as vestes de homem e de mulher – e, após longo tempo de pesado labor, tão logo cesse a vida celular de seus corpos, sejam eles extintos. Ou, em admitindo a sobrevivência deles e não sendo importante o modo como se comportaram, sejam igualmente purificados, dispensados da apreciação do mérito de suas ações, ignorando se foram ricos ou pobres, felizes ou sofredores, bons ou maus, laboriosos ou ociosos. Atribuir tal juízo ao Magnânimo, é querer humanizá-lo, torná-lo imperfeito, logo, falível. Se houver essa concepção mesquinha da figura de Deus, certo é que se fala de outro ser, não daquele que se expressa com infinita bondade, inabalável justiça e incomensurável amor à sua criação. A condição de imperfeito e imortal, atribuída ao Espírito, o faz dependente de várias incursões nesta vida e desta para aquela, com o objetivo de continuar seu aprendizado até alcançar o mais alto grau de refinamento de suas faculdades morais e intelectuais. Disso, extrai-se que os valores intelectuais, morais e éticos, seguem-no. Fosse diferente, a cada renascimento ele teria que recomeçar tudo do zero, de nada adiantaria angariar conhecimentos nas escolas e inócuo seria educar os sentimentos nos templos religiosos. Nessa linha de sucessórias vivências, urge que não desperdicemos tempo com adoção de comportamento que não esteja adequado ao que foi planificado por Deus. Fugir dos preceitos divinos equivale a somar infortúnios derivados da má arbitragem da liberdade que nos foi confiada. Retornar ao ponto de onde se desviou do caminho é sempre complicado, demorado e doloroso. Isso porque uma única existência na Terra é período muito curto para alguém corrigir tantos erros, tantas mazelas, ou para alguém concluir grandes projetos ligados às diversas áreas do conhecimento humano. Se somos iguais porque carregamos em nós os germens do intelecto e da moral, somos diferentes por não termos conseguido galgar, em face das diferentes escolhas ao longo da caminhada, os mesmos níveis de desenvolvimento simultaneamente. É certo que “ninguém atingirá o porto da dignidade espontânea sem viajar, por longo tempo, nas correntes da vida, aprendendo a manejar o leme da disciplina.”[27] Somente à custa de muito tempo, trabalho e disciplina é que poderemos alcançar o grau de progresso a que chegou Sócrates, como expressão do intelecto, Madre Tereza de Calcutá, como expressão da moral, ou, correndo a escala de progresso a velocidade superior, apenas para espiar quem está quase em seu topo (pois no topo está Deus), chegaremos ao modelo mais exato da perfeição que é Jesus, íntegro em moral, intelectualidade e amor. Nunca é demais citar Albert Einstein e Adolf Hitler no que respeita a seus potenciais e às escolhas que fizeram. Apesar de ambos terem alcançado nível intelectual considerável, sabemos que apenas o primeiro direcionou os seus saberes em prol da humanidade, enquanto o segundo, em prejuízo dela. Considerando a continuidade da vida, cabe oportuna indagação: há justiça em que ambos, Einstein e Hitler, a considerar pelas escolhas que fizeram, sejam justapostos ao mesmo pedestal? Seria racional que, contrariando a lógica do modelo de progresso, justiça e amor ensinado pelo maior dos evangelistas, fosse atribuído às ações de ambos o mesmo valor dedicado à dos missionários que, ao longo de suas vidas, se dedicaram a promoção do bem comum? Seria cabível a arguição de que agora, tendo se extinguido a vida física, aquilatar valores na vida espiritual perdeu a importância, em face da singularidade de sua dimensão? Penso que seria mais condizente com a realidade admitir que, sendo o Espírito imortal e tendo ele sequência natural, cada um deles, Einstein e Hitler, recebam, eles próprios, os benefícios ou malefícios que suas obras podem proporcionar. Ou seja, dar a cada um segundo suas obras, o que é mais condizente com as Leis divinas. André Luiz nos ensina que: [...] quando se despedem do mundo, os homens, quaisquer que sejam, chegam aqui como são... Porque hajam desencarnado, o louco não adquire o juízo, de um dia para outro, nem o ignorante obtém a sabedoria por osmose. Depois da morte, somos o que fizemos de nós, na realidade interna [...][28] Ante a eternidade do Espírito e a evidência da multiplicidade de suas existências, aliado ao fato de que as aquisições morais e intelectuais são suas joias inalienáveis, torna-se indispensável examinar a homossexualidade vinculada aos saberes ou pendores conquistados em vidas passadas pelo Espírito, a fim de melhor compreendermos e mitigarmos os conflitos gerados pela expressão da homossexualidade na sociedade e no seio da família. Num planeta habitado por seres imperfeitos, subverter os valores é a característica mais comum entre eles. Então, sendo todos nós componentes desse ambiente comum, convém lembrar que o evangelho de Jesus nos ensina que para transformar nosso mundo em ambiente mais evoluído, é imprescindível que transformemos primeiramente a nós próprios, amando e seguindo os nobres ditames de Deus, bem como amando nosso próximo, dedicando- lhe respeito, indulgência e auxílio contínuos, tal como se ele fosse nós próprios. Não é sem razão que os Espíritos superiores nos aconselham: “Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo.” [29] As duas faces do sexo e a universalidade das relações Mantendo a linha de raciocínio desse ensaio, focada na análise transcendental do assunto, creio não ser relevante listar as gradações da homossexualidade catalogadas pela ciência, visto que suas definições estão difusas na literatura sexológica. Por essa razão, ater-me- ei a explicitar, isto sim, as causas dos desvios comportamentais que têm origem no sexo, para que o leitor delas extraia as deduções que julgar mais acordes com sua visão. Convém apenas observar, antes de tudo, que a literatura convencional sobre o estudo do comportamento humano, em especial sobre a que se especializa no sexo, produzida pelos mais renomados estudiosos, demonstra sempre visão unilateral, portanto, incompleta, vez que suas análises se circunscrevem às relações afetivas vividas apenas neste mundo, sem estabelecer seu devido vínculo com as vidas antecessoras e sucessoras. Sobrea incompletude desses estudos, André Luiz ressalta: Quanta riqueza psíquica, suscetível de conquista, se os pesquisadores conseguissem deslocar o centro de estudo, das ocorrências fisiológicas para o campo das verdades espirituais![30] Ao referir-se, por exemplo, à grande contribuição de Freud à psicanálise, assim se manifestou: [...] se a psicologia analítica de Freud e de seus colaboradores avançou muito no campo da investigação e do conhecimento, resolvendo, em parte, certos enigmas do psiquismo humano, falta-lhe, no entanto, a chave da reencarnação, para solucionar integralmente as questões da alma. Impossível é resolver o assunto em caráter definitivo, sem as noções de evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade.[31]Freud vislumbrou a verdade, mas toda verdade sem amor é como luz estéril e fria! [32] Discutindo a problemática do sexo e da sexualidade, desconexa da visão metafísica, vale citar os filósofos Alfred Kinsey e Michel Foucault, para os quais os vieses afetivos resultam do exercício normal do direito à livre expressão do sexo. Em seus estudos e pesquisas, Focault procurou manifestar seu desejo de afastar da ‘realidade’ os desejos interditos, secundar a atividade sexual fecunda, defender a necessidade de insubmissão à moral e afirmar os prazeres paralelos e imediatos, descompromissados com as noções de evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade. Não é sem razão que o afrouxamento dos laços de família verificado atualmente se deve, em parte, à revolução sexual que transgride as regras, fragmenta o amor e segrega a sociedade. Aliás, esse é o perfil da sociedade individualista retratada pelo sociólogo Sygmunt Bauman em sua ‘Modernidade Líquida’. O coletivismo, segundo ele, é a opção de indivíduos incapazes de se autoafirmarem com seus próprios recursos. Afirma, para que ninguém se engane, que a individualização é uma fatalidade, não uma escolha, feito que os indivíduos da era líquida, não atribuem a si a missão de levar a luz ou de reformar os modos da sociedade. Alerta, no entanto, que a sociedade liquefeita goza de liberdade sem precedentes para experimentar, mas, ao rejeitar a assunção de responsabilidade por suas ações, a individualização que objetiva a autossuficiência do indivíduo pode ser factível ou ilusória, e pode cobrar alto preço de quem tem a coragem de escolhê-la: [...] se o egoísmo, fantasma que atormentou a espécie humana em todos os períodos de sua história, “seca as sementes de todas as virtudes”, o individualismo, aflição nova e tipicamente moderna, seca apenas “a fonte das virtudes públicas”; os indivíduos afetados estão ocupados “criando pequenos grupos para seu próprio desfrute” e deixando a “sociedade maior” de lado.[33] Então, nota-se com essa visão de Bauman, em cotejo com o pensamento de Focaut, que há encadeamento histórico na sequência de lições em favor da liberdade de qualquer tipo de expressão ou da criação de toda ordem de direitos. Dado que o sexo respira cada vez mais aliviado ao distanciar-se da sujeição de poder que insiste em freiá-lo, Focaut indaga: O que significa o surgimento de todas essas sexualidades periféricas? O fato de poderem aparecer à luz do dia será o sinal de que a regra perde em rigor?.[34] Certamente! A difusão de trabalhos como os que ele produziu, que asfixiaram as regras em apoio à livre expressão da sexualidade, baseada no direito incondicional à fruição do prazer, em vez de iluminar os pontos obscuros da homossexualidade, maculou o sentido real do sexo. Esse filósofo entusiasta, que oscilou nas faixas tênues da verdade e da ilusão, obstinou-se em desvendar a que veio o sexo, porém, da leitura de sua ‘História da Sexualidade’, nota-se que apenas colheu fragmentos da verdade: O sexo, essa instância que parece dominar-nos, esse segredo que nos parece subjacente a tudo o que somos, esse ponto que nos fascina pelo poder que manifesta e pelo sentido que oculta, ao qual pedimos revelar o que somos e liberar-nos o que nos define, o sexo nada mais é do que um ponto ideal tornado necessário pelo dispositivo de sexualidade e por seu funcionamento. [35] Ele entende o sexo como um ponto no corpo insculpido pela natureza, servindo de luz intermitente para anunciar a manifestação dos desejos e da sexualidade. Não entrever nesse ponto o que é claro como as estrelas: o sexo é um dos alvos no qual o divino assenta seu amor, a fim de burilar quem por ele é atraído e de fazer com que a vida de alguém com ele pareça um templo de esplendor. O sexo, na ordem das missões divinas, não é apenas um ponto de referência na fisiologia sexual para a manifestação da sexualidade, é, sobretudo, um feixe de energia sagrado, poderoso e multifário, necessitando de maior entendimento acerca de sua ação na vida do Espírito humanizado. Focaut não admite no sexo essa transcendência, mas admite nele a produção de efeitos de natureza diversa daquela que se conhece: “A natureza colocou no ser humano essa força necessária e temível sempre pronta a ir além do objetivo que lhe foi fixado.” [36] Michel Focaut não percebe que o ‘além’ que as forças do sexo fixam o convida a mirar dimensão na qual parece não acreditar: a vida além desta vida. Em suas citações há sempre lições subliminares que, embora o contexto em que são abordadas, versam sobre o sexo em si, as palavras que ele usa para formulá-lo, parecem carregar inconsciente místico, sugerindo uma compreensão da sexualidade no campo metafísico. Mas seus sentidos obtusos, ligados às concepções telúricas, não lhe permitem ir além do raio traçado pelo seu foco pessoal. Quando cita, por exemplo, a personagem Kate, da obra de D. H. Lawrence: The Plumed Serpente, a propósito de sua frase: “Como o sexo pode ser belo quando o homem o mantém poderoso e sagrado e quando ele preenche o mundo. Ele é como sol que vos inunda, que vos penetra com sua luz, [37] mostra-se insensível ao aspecto metafísico da mensagem. É talvez o caso, também, de quando fala do ato sexual, do ponto de vista da fisiologia, pois, nota-se que suas palavras o traem, eivadas que são de pensamento que resiste ao extrafísico, mas, sem que ele preveja, involuntariamente transcende o alcance que ele quer delimitar: O ato sexual arranca do corpo uma substância que é capaz de transmitir a vida, mas, que só o transmite porque ela própria está ligada à existência do indivíduo e carrega em si uma parte dessa existência. [...] Em toda emissão espermática existe qualquer coisa que sai dos mais preciosos elementos do indivíduo e que lhe é subtraída. [38] Embora em alguns momentos sua linha de raciocínio se eleve para decifrar o que ele chama de “movimentos contraditórios da alma” [39], aludindo à prática da moral, o brilho de sua obra esmaece ante a restrição que ele impõe ao objeto de sua pesquisa. Atendo-se, como ele dissera, à tarefa de evidenciar alguns elementos, durante a Antiguidade, que poderiam servir para uma história da verdade, “uma história que não seria aquela do que poderia haver de verdadeiro nos conhecimentos”,[40] apenas evidenciou, na lenta formação de uma “hermenêutica de si”, mais perguntas para mais reflexão: O que na ordem da conduta sexual parece, assim, constituir para os gregos objeto da reflexão moral não é, portanto, exatamente o próprio ato (visto sob as suas diferentes modalidades), nem o desejo (considerado segundo sua origem ou direção), nem mesmo o prazer (avaliado segundo os diferentes objetos ou práticas que podem provocá-lo); é sobretudo a dinâmica que une os três de maneira circular (o desejo que leva ao ato, o ato que é ligado ao prazer, e o prazer que suscita o desejo). A questão ética colocada não é: quais desejos? Quais atos? Quais prazeres? Mas: com que força se é levado pelos prazerese pelos desejos?[41] Prosseguindo o exame da história da sexualidade, ao tratar do direito soberano da vida e da morte, Focaut traz a lume uma sentença de Samuel Pufendorf, a qual afirma que Da mesma forma que um corpo composto pode ter as qualidades que não se encontram em nenhum dos corpos simples da mistura de que é formado, assim também um corpo moral pode ter, em virtude da própria união das pessoas que o compõem, certos direitos que não revestiam formalmente nenhum dos particulares e que cabe somente aos mentores exercê-los [42]. Com essa sentença, quis fazer paralelo entre o novo ser jurídico que nasceu da particularidade e o novo ser jurídico que nasceu da homossexualidade. Apesar de ele apreciar esse conceito, prefere equacionar a problemática da sexualidade com proposição simplista: Para dizer as coisas de modo bastante esquemático: temos tendência hoje em dia a pensar que as práticas de prazer, quando ocorrem entre dois parceiros do mesmo sexo, implicam um desejo cuja estrutura é particular; mas sustentamos – se formos “tolerantes” – que isso não constitui uma razão para submetê-la a uma moral ou, ainda menos, a uma legislação, diferente daquela que é comum a todos. O ponto de interrogação, nós o colocamos sobre essa singularidade de um desejo que não se dirige ao outro sexo; e ao mesmo tempo afirmamos que não se deve atribuir a esse tipo de relação um valor menor nem reservar-lhe um status particular.[43] Se a assexualidade é inerente à natureza do Espírito, nada há que se opor à opinião de Focaut quando afirma que a estrutura psicológica do homossexual não difere da heterossexual. Contudo, se é verdade que ambos são da mesma natureza, posto que são Espíritos, não se pode esquecer que ambos são dotados de particularidade bastantes visíveis, em função da riqueza ou da pobreza de conhecimento de cada um, quando expressam seus desejos ou anseios de modo geral. Os gregos não realçavam as diferenças de comportamento dos homossexuais, mas acreditavam que ignorá-las não contribuía para o entendimento do seu modo de ser. Daí o maior interesse em descobrir "com que força” se é levado por desejos desse jaez, em vez de se deter “no modo como são expressos”. Esse ponto é pacífico na compreensão dos filósofos da Antiguidade e é relatado pelo próprio Focaut: Os gregos não imaginavam que um homem tivesse necessidade de uma natureza “outra” para amar um homem; mas eles estimavam sem hesitar que, para os prazeres obtidos numa tal relação, era necessário dar uma outra forma moral que não aquela exigida quando se tratava de amar uma mulher. Nessa espécie de relação os prazeres não tratam, naquele que os experimentava, uma natureza estranha, mas seu uso exigia uma estilística própria.[44] Considerando que é assimétrico à proposta deste ensaio o enfoque que Michel Focaut deu ao assunto em lide, retomo a ordem do meu ponto de vista, embasado nas orientações psicografadas pelas nobres almas residentes em planos superiores da esfera extrafísica, para enfatizar, em aliança com a multiplicidade das existências do Espírito, a missão do sexo, bem como esquadrinhar as possíveis causas dos desvios ou perversões sexuais cometidos pelo Espírito que está, temporariamente na Terra, investido na condição de homem ou de mulher. Um modelo de família que se autoextingue A vida integral do Espírito, desatrelada dos liames do corpo físico, não depende de acessórios constituídos de matéria grosseira para expressar suas ações. Sendo assim, estando num ambiente de vibrações quintessenciadas, os instrumentos imediatos de que ele se serve para a realização de seus projetos são o desejo e o pensamento. Na área da afetividade, por exemplo, é estéril a ideia de fazer opção por um gênero (feminino ou masculino), porquanto esse é um meio existente e útil apenas na Terra, logo, inócuo no mundo espiritual. A exceção disso ocorre quando Espíritos menos evoluídos insistem em conservar no mundo espiritual preferências que os apraziam na Terra ou, quando o desapego à vida terrena é feito de forma conscienciosa, apenas necessitam de um breve período de transição para adaptarem-se ao novo ambiente vibratório. Por meio da reencarnação, facultada pela relação sexual fecunda dos Espíritos que já estão na Terra, o Espírito que se encontra no mundo espiritual ingressa no planeta para desenvolver suas potencialidades intelecto-morais. Seu tempo de permanência vai depender da complexidade ou facilidade das tarefas que lhe são atribuídas. Todo o processo que antecede a procriação é exercício da manutenção das relações sociais e afetivas, por meio das quais são desenvolvidas a inteligência e a moral. A instituição dos gêneros (humanos) e a materialização dos corpos são coadjuvantes de progresso na Terra: A realidade que somos, Espíritos imortais em essência, tem sua origem e permanência fora das limitações materiais de qualquer mundo físico, que poderia não existir, sem qualquer prejuízo para o processo de evolução. Nada obstante, quando o Criador estabeleceu a necessidade do desenvolvimento nas organizações fisiológicas, à semelhança da semente que necessita dos fatores mesológicos para libertar a vida que nela jaz, razões poderosas existem para que assim aconteça, facultando-nos percorrer os degraus que nos levam ao Infinito...[45] O indivíduo homoafetivo, que embora saiba tão bem o que sente, sabe tão pouco de si no contexto do universo, deve primeiramente instruir-se para depois extrair do lícito o que realmente convém. Convém, a princípio, não perder de vista que, tendo Deus criado na Terra os gêneros homem e mulher, mister que seja mantida fidelidade à vontade do Criador, no que tange à necessidade do Espírito de adequar sua psicologia às linhas inteligentes de sua biogênese. Essa postura de submissão à Inteligência Suprema (que não se confunde com subserviência cega) e a necessária compreensão dos seus desígnios demonstram a reverência digna de quem anseia e tudo faz para merecer o paraíso prometido, consubstanciado na perfeição. Nesse sentido, entender o sexo e a sexualidade como expressão sagrada, merece realce frente às tarefas sublimes atribuídas a nós por Deus: O Sexo, em si mesmo, é instrumento excretor, a serviço da vida. Programado pela Divindade para servir de veículo à “perpetuação da espécie” nos seres pelos quais se expressa, tem sido gerador de incontáveis males, através dos tempos em face do uso que o homem, em especial, lhe tem dado. [...] No atual estágio evolutivo do planeta terrestre, o ato sexual faz-se acompanhar de sensações e emoções, de modo que propiciem prazer, facultando o interesse entre os seres, e assim preenchendo a destinação a que se encontra vinculado. [...] Simultaneamente, devemos considerar que, em sua realidade intrínseca, o Espírito é assexuado e sem preferência ou psicologia específica para uma ou outra experiência na organização física. Por esta razão, a própria vida elaborou formas que se completam em favor da função procriativa. Ao lado dessas, em se considerando o incessante progresso dos homens, na busca da felicidade, os ideais lentamente vão suprindo, na área das emoções superiores, os prazeres que decorrem das sensações mais fortes.[...][46] Chegar ao ápice da perfeição requer a prática disciplinada pelas magnas prescrições do Criador. A natureza organizou a conjunção dos sexos para assegurar a descendência dos indivíduos e a sobrevivência da espécie na Terra, mas essa é apenas uma das luzes que clareiam as verdades eternas. A atração e o prazer, de modo geral, são dádivas divinas que incentivam a associação dos seres num ideal de fraternidade e amor universal. Somente após muitos renascimentos circunscritos à heteroafetividade, vivenciando as peculiaridades de cada gênero, ora na condição de mulher, ora
Compartilhar