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O côncavo e o convexo (1ª ed, 2014) - Um ensaio metafísico sobre a homoafetividade

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O CÔNCAVO E O CONVEXO 
Uma visão metafísica (Espírita) da homossexualidade 
 
Gilvan FX 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
® Brasília – 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
Conteúdo 
 
INTRODUÇÃO .................................................. Erro! Indicador não definido. 
A INSTITUIÇÃO DE UM DIREITO QUE PODE NÃO SER LEGALErro! Indicador não definido. 
A FORÇA DO DESEJO CORROMPE A ÓTICA DOS SENTIDOSErro! Indicador não definido. 
A FALIBILIDADE DAS DELIBERAÇÕES HUMANAS . Erro! Indicador não definido. 
A INFALIBILIDADE DOS DESÍGNIOS DE DEUS ...... Erro! Indicador não definido. 
AS DUAS FACES DA VIDA E SUAS VINCULAÇÕES ... Erro! Indicador não definido. 
AS DUAS FACES DO SEXO E A UNIVERSALIDADE DAS RELAÇÕESErro! Indicador não definido. 
UM MODELO DE FAMÍLIA QUE SE AUTOEXTINGUEErro! Indicador não definido. 
AS DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO AO GÊNERO ... Erro! Indicador não definido. 
OS DESALINHOS E O DIFÍCIL RESGATE DAS VIRTUDESErro! Indicador não definido. 
A TRANSIÇÃO DO HOMO SAPIENS PARA O HOMO SPIRITUALEErro! Indicador não definido. 
AS MÍDIAS DE MASSA E O INCENTIVO AO SENSUALISMOErro! Indicador não definido. 
AS GLÓRIAS DA TOLERÂNCIA ............................ Erro! Indicador não definido. 
O CÔNCAVO E O CONVEXO ............................... Erro! Indicador não definido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cada alma esconde dentro de si uma 
sombra secreta que não ousa olhar, mas 
que jamais poderá esconder de si mesma: 
uma sombra sempre pronta a ressurgir, 
logo que uma hora de paz diminua a 
tensão da corrida louca com que quereis 
distrair-vos. A alma não se sacia, 
embalando o corpo em comodidades 
supérfluas e dispendiosas, acariciando os 
olhos com um brilho apenas externo. Na 
satisfação dos sentidos, alguma coisa 
sofre igualmente no íntimo e agoniza 
numa angústia profunda. Resta um vazio 
dentro de vós, em que apenas uma voz, 
perdida e desconsolada, eleva-se inquieta 
para perguntar: e depois? 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Ubaldi, Pietro. A Grande Síntese – Síntese e solução dos problemas da ciência e do espírito. cap. 41. Interregno. pg. 169. 23ª 
Edição, 2010. Fraternidade Francisco de Assis - FAC 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cada alma esconde dentro de si uma sombra secreta que não ousa 
olhar, mas que jamais poderá esconder de si mesma: uma sombra 
sempre pronta a ressurgir, logo que uma hora de paz diminua a tensão 
da corrida louca com que quereis distrair-vos. A alma não se sacia, 
embalando o corpo em comodidades supérfluas e dispendiosas, 
acariciando os olhos com um brilho apenas externo. Na satisfação dos 
sentidos, alguma coisa sofre igualmente no íntimo e agoniza numa 
angústia profunda. Resta um vazio dentro de vós, em que apenas uma 
voz, perdida e desconsolada, eleva-se inquieta para perguntar: e 
depois? [1] 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução 
O presente ensaio, idealizado a partir da decisão do Supremo 
Tribunal Federal (STF) que reconheceu a união homoafetiva, fundamenta-
se no fato de que essas relações não podem ser analisadas apenas sob o 
ponto de vista da existência do homem na Terra. Deve ser examinada de 
forma holística, posto que a existência atual, na esfera física, tem 
consequências na dimensão espiritual. Por haver conexão da vida 
presente com as precedentes e da atual com as subsequentes, há que se 
destacar a necessidade de submissão dos nossos atos aos desígnios de 
Deus, contrapondo-se à falibilidade das deliberações humanas, baseado 
no fato de que Ele sempre nos precedeu, engendrou o universo com todos 
os seres e coisas e os harmonizou com suas Leis infalíveis. Sintônico com 
essa realidade inconteste, importante evidenciar a probabilidade das 
relações homoafetivas virem a ser direção equivocada, escolhida com 
fulcro na interpretação unilateral e incompleta do horizonte da vida. 
Nesse cenário, o que parece ser a conquista de direito, pode revela-se 
como meio de postergar a assunção de responsabilidades e de aplicar as 
verdades universais. 
A abordagem da homossexualidade sob o ponto de vista 
metafísico, à luz do Espiritismo, vai propiciar reflexão mais conscienciosa 
aos que já vivenciam as relações homoafetivas e aos que destes 
receberem seu legado, para que não se distanciem dos valores 
inamovíveis do Ser Supremo. Esses valores não se metamorfoseiam ao 
sabor da vulnerabilidade do pensamento humano, nem no tempo, nem no 
espaço. Dessa forma, o homoafetivo terá a oportunidade de perscrutar, 
na sua consciência, o grau de sujeição que seu pleito dedica aos valores, 
aos deveres e à missão que Deus estabeleceu para cada Espírito na Terra, 
nas suas relações sociais e especialmente na familiar, afinal, os efeitos 
desse pleito não abrangem só o plano convencional de nossa existência, 
mas, também, o que transcende a natureza física do nosso mundo. 
A instituição de um direito que pode não ser legal 
Os movimentos sociais são impelidos por grupos 
representativos de indivíduos que demonstram insatisfação por algum 
direito existente que é negado ou que defendem a implantação de 
supostos direitos com base em ideologias ou novos conceitos de vida em 
sociedade. Tais movimentos, a exemplo do Humanismo, da era 
Renascentista, são sempre impactantes na vida das pessoas, porque se 
contrapõem ao padrão vigente do cotidiano. Na esteira dessas mudanças 
sociais, o Supremo Tribunal Federal (STF), numa decisão histórica, se 
posicionou frente à mais controvertida reivindicação pleiteada pelo 
movimento dos homossexuais: o reconhecimento da união homoafetiva. 
Embora controvertida, a decisão proferida em março de 2011 
contou com a unanimidade dos ministros equiparando a união de 
indivíduos do mesmo sexo à união estável heteroafetiva, portanto, 
equivalendo-se também a uma entidade familiar. A ação reivindicava a 
interpretação do art. 1.723 da Lei nº 10.406, de 10.01.2002 (Código Civil) à 
luz da Carta Magna de 1988. Sustentava-se que o não reconhecimento das 
uniões homoafetivas feria os princípios da dignidade humana (art. 1º, III), 
da igualdade (art. 5º, caput), da vedação de discriminação odiosa (art. 3º, 
V), da liberdade (art. 5º, caput) e da proteção à segurança jurídica (art. 5º, 
caput), todos da Constituição Federal. 
Esse posicionamento do STF de reconhecer a união 
homoafetiva também abriu caminho para que venha a se tornar, com a 
regulamentação, contrato análogo ao matrimônio (união heteroafetiva 
consubstanciada no casamento civil). Esse fato é um marco na história 
contemporânea no tocante à luta por direitos civis e atualmente é frenesi 
da mídia e dos missivistas dos direitos humanos. Esses dois segmentos 
consideraram, com os homossexuais, que essa reivindicação era direito 
legítimo e que sua indefinição ignorava as injustiças sofridas por essa 
minoria, já que, no seu entendimento, esse direito guarda simetria com o 
dos heterossexuais no que se refere à expressão dos sentimentos. 
Justificam, ainda, que sua positivação no mundo jurídico era inevitável, 
por tratar-se de modo de sentir inato, por ser notória a comunidade dessa 
convivência na sociedade, por haver carência de normas sobre o assunto e 
pelo caráter de inovação que esse tipo de relação contratual imprime à 
tradição familiar. 
Movido pelo senso de submissão aos preceitos divinos 
gravados em minha consciência, pretendo aqui evidenciar a necessidade 
de prudência quanto às concessões legais feitas de forma prematura, 
como é o caso da que motivou esse ensaio: o reconhecimento da união 
homoafetiva. Esse tipo de relação, além de inadequada, fere a lógica 
estabelecida por Deus no que se refere à missãode cada ser humano 
neste planeta, coadjuvada pela função do sexo afetivo na instituição 
familiar. Refletindo sobre a perfeição das concepções divinas e 
ponderando sobre porque as coisas são assim e não de outro modo, 
Leibniz assim se expressou (grifei): 
Da perfeição suprema de Deus depreende-se que, ao produzir o 
universo, Ele terá escolhido o melhor plano possível, onde haja a 
maior variedade com a maior ordem, com o melhor ordenamento do 
terreno, do lugar e do tempo: com o máximo efeito produzido pelos 
processos mais simples; com o máximo de poder, de conhecimento, de 
felicidade e de bondade nas criaturas, que o universo podia acolher. 
Como todos os possíveis no entendimento de Deus aspiram à 
existência na proporção das suas perfeições, o resultado de todas 
essas pretensões será o mundo actual o mais perfeito que for 
possível.[2] 
A força do desejo corrompe a ótica dos sentidos 
Neste momento em que o homoafetivo constrói um paraíso 
que lhe apraz, fruindo comportamento inerente, é claro, ao seu nível 
evolutivo, ilude-se ao defender propósito alicerçado numa interpretação 
distorcida da vida. Ao eleger direção amparada tão somente no seu direito 
de livre escolha, sem que esse rumo se apoie nos postulados superiores, 
provável é que o exercício desse modo de expressar sua afetividade 
resulte em graves consequências em futuro não muito distante. Por isso, 
nenhuma abstração melhor espelha essa conduta do que aquela que faz 
paralelo com o efeito causado pela reflexão dos espelhos côncavos e 
convexos. A ciência desses espelhos diz: o espelho côncavo amplia um 
objeto e reduz os demais à sua volta, enquanto o convexo reduz um 
objeto para ampliar os demais à sua volta. Daí, fácil constatar a 
imbricação de sentidos das imagens retornadas por esses espelhos com o 
caso em análise, visto que nem um nem outro reflete a imagem real. 
Pretendo, com isso, comparar a imagem refletida desses 
espelhos com os desejos, escolhas ou interesses do indivíduo 
homoafetivo, em oposição à imagem refletida pelo grande espelho da 
vida. Portanto, a depender do foco ou do interesse pretendido pelo 
homoafetivo, tanto o espelho côncavo quanto o convexo pode satisfazer 
seu propósito quanto à imagem por ele desejada: i) se a imagem do 
espelho côncavo amplia o indivíduo homoafetivo para destacá-lo da 
coletividade, a justificativa é a de que sua postura não é egoísta perante a 
sociedade, mas a que defende a prevalência do seu direito fundamental 
de ser; ii) se a imagem do espelho convexo reduz o indivíduo homoafetivo 
para destacar a coletividade, diz-se tratar de ação egoísta da sociedade, 
por negar-lhe direito de ser que é seu e é fundamental. Resulta-se, então, 
disso, que, seja qual for o espelho, a imagem (desejos e escolhas) refletida 
receberá a interpretação que convém ao homoafetivo e concorde a seus 
interesses, nunca acorde com os ditames divinos. 
Após a licenciosidade dessa ótica metafórica, cabe salientar 
que no suntuoso espelho do universo, a imagem que mais expressa e 
fideliza as verdades do Criador, é naturalmente a que provoca menos 
distorções de foco ou do sentido de suas diretrizes. Menoscabar as uniões 
sexuais heteroafetivas é, na minha visão, uma dessas distorções. Ela 
cerceia, por exemplo, o direito de um Espírito reencarnar na Terra. Ora, à 
primeira vista, se não há relação sexual fecunda, não haverá, em sua 
substituição, outro meio ou processo similar à fecundação que possibilite 
o ingresso de novos Espíritos na Terra. Esse viés afetivo representa, 
também, ato de indisciplina para com a vontade do Criador, afinal, 
quando Ele estabeleceu que as relações afetivas que envolvem sexo, no 
estágio evolutivo da Terra, devem circunscrever-se à heteroafetividade, 
razões Ele tinha para que fosse assim, não de outra forma. Quis Ele que 
ao vivenciarmos as peculiaridades de cada gênero humano, nós, Espírito 
imortal que somos, desenvolvêssemos nosso intelecto e nossa moral de 
maneira singular à que é feita no mundo espiritual. 
Por isso, com o fim de auxiliar o indivíduo homoafetivo na 
busca da interpretação mais precisa da imagem que melhor planifica seu 
destino, atento à “responsabilidade de ter olhos quando os outros os 
perderam”,[3] é que o conclamo a auscultar o que à sua volta reclama 
razão, a sondar o que sobre si, do alto, esbanja sabedoria à imensidão, 
para içá-lo do físico ao metafísico e, num lampejo introspectivo, perquirir, 
per se, se prospera superestimar os valores empíricos da vida tangível, 
ignorando os valores inatos da vida espiritual, só porque os daquela é de 
fácil constatação pelos órgãos dos sentidos, enquanto os desta se captam 
pelo sensório da alma. É de bom alvitre sopesar tal postura em face da 
ideia da livre expressão sexual (nos moldes legalizados), indagando: 
Quem de nós, na atualidade de nossos conhecimentos incompletos, 
conseguirá deitar sabedoria, no campo da inteligência, tão só pelo 
testemunho das impressões pessoais? [...] De que maneira dogmatizar 
afirmativas sobre causas, processos, acrisolamento e finalidade de 
nossa existência terrestre pelos acanhados recursos dos sentidos 
comuns?[4] 
Sem uma reflexão metafísica do assunto, pode-se incorrer no 
erro de aplicar ao caso visão estreita e hedonista. Essa reflexão de 
superfície é característica do ensino dos pais e das escolas de hoje, que 
preparam suas crianças para a aquisição de conhecimentos, descuidando 
do refino dos seus sentimentos. Crescendo e vivendo sob educação 
desprovida de lastro moral e da acuidade ética, não é difícil prever que o 
comportamento da criança até a fase adulta será pobre de virtudes, 
conforme se deduz da análise de Leon Denis: 
[...] se os progressos, efetuados na ordem física e na ordem 
intelectual, são notáveis, é, pelo contrário, nulo o adiantamento moral 
[...] Sem dúvida, a ciência conseguiu, até certo ponto, melhorar as 
condições da existência, mas multiplicou as necessidades à força de 
satisfazê-las; aguçando os apetites, os desejos, favoreceu igualmente o 
sensualismo e aumentou a depravação. O amor do prazer, do luxo, das 
riquezas tornou-se mais e mais ardente. Quer-se adquirir; quer-se 
possuir a todo custo. [...] Nossos males provêm de que, apesar do 
progresso da ciência e do desenvolvimento da instrução, o homem se 
ignora a si próprio. Sabe pouca coisa das leis do Universo, nada sabe 
das forças que estão em si [...] [5] 
Embora o Espírito, naturalmente de natureza assexuada, não 
veja sentido em se expressar no mundo espiritual com preferência nesse 
ou naquele gênero, é bom frisar que, exclusivamente na Terra, em face do 
baixo nível moral dos Espíritos que o habitam, a psicologia assexuada não 
é base estanque para sustentar as relações homoafetivas. O que deve ser 
levado em conta são as disciplinas inerentes ao plano evolutivo traçado 
por Deus para cada grupo de Espíritos nos diversos globos do universo. No 
caso específico dos Espíritos que habitam o planeta Terra, classificado 
como de provas e expiação, há de considerar que eles ainda não estão 
capacitados para nutrir elevados sentimentos de liberdade, de justiça e de 
amor. Se estivessem preparados, suas relações afetivas, homossexuais ou 
heterossexuais, seriam vividas naturalmente sem que isso penalizasse o 
fluxo de Espíritos do mundo espiritual para este planeta, nem arranhasse 
a conduta moral compatível com o modelo pregado por Jesus. A rigor, se 
estivessem nesse nível evolutivo, já possuiriam corpos com estrutura 
compatível com a elevação de seus sentimentos. Inexistindo atualmente 
esse modelo, certo é que a relação que se comenta se configura como 
insubmissão ao plano e à vontade divina, afinal, as relações homoafetivas 
se arvoram a pular uma etapa de aprendizagem somente proporcionada 
integralmente pela relação heteroafetiva. Há de convir que nós, em se 
tratando de Espíritos ainda falíveisno seu modo de pensar e vacilantes no 
seu modo de sentir, podemos prever, a partir da legalização desse novo 
modelo de família, que essa medida paliativa pode agravar a situação 
evolutiva de quem o vivencia: 
As uniões sexuais, portanto, que se efetuem à distância desses 
sublimes imperativos, transformam-se em causas geradoras de 
sofrimento e perturbação. Ao demais, não devemos esquecer que o 
sexo, na existência humana, pode ser um dos instrumentos do amor, 
sem que o amor seja o sexo. Por isso mesmo, os homens e as 
mulheres, cuja alma se vai libertando dos cativeiros da forma física, 
escapam, gradativamente, do império absoluto das sensações carnais. 
Para eles, a união sexual orgânica vai deixando de ser uma imposição, 
porque aprendem a trocar os valores divinos da alma, entre si, 
alimentando-se reciprocamente, através de permutas magnéticas, não 
menos valiosas para os setores da Criação Infinita, gerando realizações 
espirituais para a eternidade gloriosa, sem qualquer exigência dos 
atritos celulares. Para esse gênero de criaturas, a união reconfortadora 
e sublime não se acha circunscrita à emotividade de alguns minutos, 
mas constitui a integração de alma com alma, através da vida inteira, 
no campo da Espiritualidade Superior. Diante dos fenômenos da 
presença física, bastam-lhes, na maioria das vezes, o olhar, a palavra, o 
simples gesto de carinho e compreensão, para que recebam o 
magnetismo criador do coração amado, impregnando-se de força e 
estimulo para as mais difíceis edificações.[6] 
Supondo haver situação, mesmo que fortuita, em que um 
indivíduo tenha adotado comportamento homossexual, sem que esse 
modo de ser tenha raízes num passado que transferiu para a posteridade 
as consequências da malversação do sexo, então, de maneira otimista, 
inspirado no fato de que estamos vivendo momentos de grandes 
mudanças na estrutura da matéria e na psicologia do Espírito, em função 
da transição planetária que objetiva promover a Terra do seu estágio de 
provas e expiação para o de regeneração, podemos inferir desse tipo de 
‘homossexualidade’ que ela seja reflexo das vibrações trazidas pelos 
Espíritos mais evoluídos remanejados de planetas superiores. Dotados, 
assim, de elevado sentimento de irmandade celeste, podem influenciar 
alguns indivíduos a nutrir comportamento de expressiva fraternidade. 
Com isso, na ausência da correta interpretação dos sentimentos a que se 
acham tomados, adotam equivocadamente trejeitos similares ao 
comportamento homossexual, sem que de fato sejam homossexuais. 
Falando em equívocos, importante ressaltar que o 
conhecimento e a prudência são indispensáveis à boa interpretação dos 
nossos sentidos e de nossa vida, portanto, faz-se oportuno tecer breve 
comentário sobre o termo seresempregado por Alan Kardec, na questão 
695 do Livro dos Espíritos [7]. O referido termo, cunhado na expressão 
“união permanente de dois seres”, foi utilizado por ele como assessório à 
palavra casamento, não como termo que ensaia chancela a 
homoafetividade, como alguns pensam. Kardec não o utilizou em sentido 
metafísico, significando elo fraternal mantido entre Espíritos. Aludia, sem 
dúvida, ao casamento, união apropriada à Terra, naturalmente 
formalizada entre dois seres: o homem e a mulher. 
Supondo-se que essa interpretação intencione combater a 
intolerância e exalçar a indulgência para com os nossos irmãos 
homoafetivos que enfrentam os mais exacerbados preconceitos, por ainda 
não terem se desvencilhado das sensações que os dominam e os afastam 
de suas missões originais, não me parece que o melhor caminho para o 
exercício da verdade e da caridade seja distorcer o sentido de um termo 
com o propósito de induzir neófitos espiritualistas a pensarem que essa 
acepção foi chancela subliminar às relações homoafetivas. 
A resposta do Espírito de Verdade à questão nº 695, quando 
indagado se seria “contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, 
a união permanente de dois seres?”, foi clara, objetiva e contundente: “É 
um progresso na marcha da Humanidade”. Ora, não há humanidade no 
mundo espiritual, só existe no mundo físico: o planeta Terra. 
Tal é a certeza de que o termo referia-se a homens e 
mulheres, que um século depois, o Espírito Emmanuel, sintônico com as 
diretrizes dos Arautos Celestes, ao discorrer sobre a mesma questão do 
Livro dos Espíritos, extirpou qualquer dúvida sobre o claro sentido 
empregado ao termo ‘seres’, afirmando que (grifei): 
O casamento ou a união permanente de dois seres, como é óbvio, 
implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à 
outra, no campo da assistência mútua. Essa união reflete as Leis 
Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um 
companheiro para uma companheira, um coração para outro coração 
ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida.[8] 
Em seguida, explica que esse progresso alcançado pela 
humanidade, por meio do casamento, representa grande conquista do 
Espírito que vive atualmente no planeta, no entanto, na Terra do futuro, 
naturalmente ainda física, mas habitada por Espíritos regenerados, as 
relações sociais serão alicerçadas por sentimentos mais nobres, 
ensaiando relação afetiva que mais se aproxima à que é vivida por seres 
de esferas superiores (grifei): 
Indiscutivelmente, nos Planos Superiores, o liame entre dois seres é 
espontâneo, composto em vínculos de afinidade inelutável. Na Terra 
do futuro, as ligações afetivas obedecerão a idêntico princípio e, por 
antecipação, milhares de criaturas já desfrutam no próprio estágio da 
encarnação dessas uniões ideais, em que se jungem psiquicamente 
uma à outra, sem necessidade da permuta sexual, mais 
profundamente considerada, afim de se apoiarem mutuamente, na 
formação de obras preciosas, na esfera do espírito.[9] 
Convêm lançar olhos com intenções de ver as verdades da 
vida, a fim de que cada um possa ler o que diz no seu íntimo, confronte 
com tudo que transcende (e não perece) para sondar se os sentimentos 
que lhe movem são eivados dos novos ingredientes de amor disseminados 
pelo mundo vindouro de regeneração ou se esses sentimentos são, ainda, 
os que o imantam ao solo das paixões terrenas como resultado do estágio 
espiritual em que se encontram. 
A falibilidade das deliberações humanas 
As constituições e os códigos disciplinadores de conduta dos 
indivíduos nos diversos países são periodicamente reformados à medida 
que ocorrem mudanças significativas no comportamento da sociedade. 
Quando o país é democrático de direito, não assiste razão para ignorar a 
existência desses comportamentos ou ignorar o exame e a conveniência 
de sua regulação normativa. 
O movimento dos homossexuais defendeu a reforma do texto 
constitucional a respeito do conceito de família. Mesmo após a decisão 
favorável da suprema corte, é oportuno, a meu ver, refletir sobre as 
consequências advindas da inusitada entidade familiar, em face do legado 
que ela deixará às gerações futuras. Nada obstante os abalos provocados 
na sociedade com o reconhecimento legal desse tipo de união afetiva, 
sabemos que assim caminha a humanidade, evoluindo entre erros e 
acertos. O tempo evidenciará, em retrospectiva, qual teria sido a melhor 
solução para o assunto. Enquanto isso, consola-nos a ideia de que o 
progresso dos seres fatalmente ajustará as coisas, dado que reverses 
desse jaez estão previstos no planejamento divino como eventos 
suscetíveis das ações do Espírito humanizado imperfeito, que promove 
seu progresso servindo-se dos recursos compatíveis com o seu nível 
evolutivo ou fazendo escolhas sem a devida reflexão de suas 
consequências no porvir. 
Alan Kardec, ao tratar do progresso das civilizações, chamou 
atenção para os riscos de escolhas que a sociedade faz sem suficiente 
maturidade: 
A civilização criou necessidades novas parao homem, necessidades 
relativas à posição social que ele ocupe. Tem-se então que regular, por 
meio de leis humanas, os direitos e deveres dessa posição. Mas, 
influenciado pelas suas paixões, ele não raro há criado direitos e 
deveres imaginários, que a lei natural condena e que os povos riscam 
de seus códigos à medida que progridem. A lei natural é imutável e a 
mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva.[10] 
Pietro Ubaldi, numa referência à compaixão que os avatares 
da instrução sentem pelos que se demoram na faixa da ignorância, 
justifica que tais desacertos, em meio às verdades universais, são 
temporários e corrigidos por mecanismos naturais e automáticos ao longo 
da vida: 
Não há dúvida de que, para quem alcançou uma compreensão mais 
vasta, é um sofrimento ver a inteligência, centelha de Deus, 
corromper-se em astúcias e enganos. Mas o baixo uso dela se justifica, 
como sendo um meio para chegar a compreender a inferioridade 
desses métodos e, assim, superá-los e abandoná-los.[11] 
Assim, influenciado pelo véu que oculta os erros de direção 
cometidos no passado e incapaz ainda de resistir aos ideais menos dignos 
que afloram na sua mente, o Espírito que reencarna na Terra quase 
sempre procura criar sofismas para manter a prevalência dos seus 
interesses imediatos, numa prova irrefutável de quão vulnerável é seu 
pensamento e quão transitórias são suas deliberações. Nesse sentido, 
nunca é demais ilustrar os vacilos de que são capazes alguns indivíduos 
que, mesmo distanciados um pouco da faixa da ignorância intelectual, 
veem-se embaraçados diante da necessidade de promover o equilíbrio 
entre o seu senso intelectual e o moral, como foi o caso que deu origem a 
esse ensaio: o reconhecimento da união homoafetiva, chancelada pelos 
árbitros da suprema corte do país. Por isso, nessa linha, julgo oportuno 
fazer breve relato de três casos reais que, a meu ver, espelham bem o 
terreno movediço sobre a qual alguns Espíritos humanizados sustentam 
seus juízos. 
O primeiro caso nos faz refletir sobre a pseudoerudição de 
indivíduo que o leva a construir um sofisma justamente pela falta de 
harmonia do seu intelecto com a moral. Não raro, é devido a mentes 
envaidecidas pela aquisição de vasto conhecimento, sem baliza moral, à 
custa de paixões desarrazoadas, que a História das Civilizações amarga 
retrocessos. Não que a paixão seja de todo negativa. Até certo ponto, ela 
cumpre seu papel enquanto motor que impulsiona ao progresso, pois é a 
partir dela que a crítica, filha primeira da razão, lhe recepciona. Se, numa 
conjunção equilibrada, paixão e razão são operárias da mente na 
edificação da vida, parece que a loucura é o vácuo que denuncia a 
ausência de equilíbrio. No campo do raciocínio, existem os que 
temporariamente são acometidos por esse breu neurótico, e é justamente 
nesse intervalo obscuro que suas criações fogem dos padrões aceitáveis 
de normalidade. 
O protagonista desse primeiro caso, insigne ministro do 
Supremo Tribunal Federal, togado nos idos de 1894, é indivíduo de 
inteligência dilatada, mas assentada sobre estofo moral duvidoso que 
afirmou, na obra “O Julgamento de Pilatos ou Jesus Cristo Perante a 
Razão e os Evangelhos”, que Jesus sofria de loucura. Exegeta, político, 
hábil na articulação das ideias e das palavras, valeu-se de sua eloquência 
para ornar os devaneios de sua mente e, quiçá, embalar, na gangorra da 
dúvida, alguma leva de gente. Ao expressar seu pensamento, numa obra 
paradoxal e surreal, discorrendo sobre o mérito da sentença de Pilatos 
imposta ao enviado de Deus, entendia que a loucura de Jesus vicejou 
a paixão dos seus seguidores – com fulcro na razão especulativa – e que 
a razão (prática), no pensamento do jurisconsulto, deu causa de sua 
condenação por Pilatos. Sabemos que essa visão tresloucada não traduz a 
realidade dos fatos ou da personalidade de Jesus. Na análise do autor, o 
emprego da razão e da paixão se reveza de maneira astuta, ambas em 
sentido pejorativo ou qualitativo, a depender do enfoque ou do seu 
interesse. Ele, que atribui à loucura o sucesso de Jesus e à razão o teor 
analítico e profundo do seu livro, se empenha, como se depreende de 
pequeno trecho retirado de sua obra e transcrito abaixo, em revelar as 
nuances das palavras razão, paixão e loucura, apenas para, num viés 
malicioso, acomodá-las à sua interpretação, dar às suas palavras ares de 
verdade e, assim, justificar a tese de que Jesus era acometido de loucura: 
[...] não é à razão, mas sim à paixão, e até mesmo à própria loucura, 
que na realidade ou principalmente nós devemos quase todos os 
progressos que a civilização tem feito [...] Com isto não pretendo dizer 
que é inteiramente nulo o papel que à razão vem a caber na marcha da 
civilização. Pelo contrário, é imenso esse papel, mas, para bem 
compreendê-lo, é preciso que se faça uma distinção muito importante 
entre a razão especulativa, que anda por assim dizer aos saltos, ou 
que, assim como o relâmpago, fugaz ilumina, deslumbra e passa, e a 
razão prática ou o bom senso, que anda sempre compassadamente, ou 
que assim como um pequeno farol, nos esclarece o caminho com mais 
ou menos segurança.[12] 
O enunciado convence se aplicado de modo genérico, mas, no 
caso concreto, o jurisconsulto, ao escrevê-lo, o fez com propósito não 
muito digno, qual seja, o de estabelecer uma ligação estreita entre os 
sintomas da loucura e os atos da vida do Mestre. Movido por moral 
insípida e presunção de intelectualidade inatacável, não percebeu, na sua 
insensatez, que a verdade não é a medida do seu alcance, mas o alcance 
da exata medida, a qual virá somente com a perfeição. Daí a falibilidade 
do seu propósito, pois ao chamar a atenção para o que ele considera 
como razão especulativa (dos cristãos) e razão prática (a dele), na 
realidade, a paixão foi como comburente da sua análise, uma vez que o 
bom senso nela se fez ausente e até convencerá o incauto, possivelmente. 
Espiando de relance sua autobiografia[13], a fé fragilizada, 
aliada a revezes que vivenciou na área política, pode explicar em parte o 
motivo de sua racionalidade mordaz, pois declarava o jurisconsulto, antes 
de escrever a obra, que sua índole era essencialmente religiosa e que 
desde muito criança nunca passou uma só noite sem que antes de deitar-
se não se recomendasse a Deus e que, cheio do maior ardor, não lhe 
dirigisse grande número de orações, no entanto, tendo se agastado por 
questiúnculas, sentiu germinar a pouco e pouco no seu coração a semente 
da dúvida. Resolveu, em meio ao vazio que lhe carcomia, escrever 
algumas ‘variações’ ou delas extrair assunto qualquer, e entre tantas 
ideias surgidas, cada uma se corporificava como disparates. Então, como 
ele próprio sentenciou: “quem se afoga a tudo se agarra”, resolveu ligar 
todas em uma só, recebendo dele o aplauso como a melhor ideia aceita: a 
loucura de Jesus. Nasceu assim, nessa atmosfera vã ou nesse vacilo, obra 
que é o substrato da ingratidão àquele que veio ao nosso mundo para 
auxiliar-nos a filtrar as vis paixões de nossos sentimentos e iluminar nossas 
mentes com sua moral e inteligência altruísta. 
O Espírito humanizado (encarnado), inexpressivo pela sua 
palidez moral e pretensamente assaz pela sua inteligência, utiliza sua 
astúcia na defesa de sua vontade e não mede esforço para que seu 
intento prevaleça a todo custo. Progride sempre, porém, na qualidade de 
imperfeito, esquece que esse progresso é espiralado, falível e volátil. 
Nesse contexto em que se chama atenção para as falibilidades humanas, 
afirmo ser plausível, no atual estágio evolutivo do ser na Terra, a 
prematuridade em reconhecer a união homoafetiva, posto que ela foi 
decidida por intelectuais falíveis no campo moral. 
Merecer mundos melhores requer do criado o cumprimento 
às leis naturais do Criador. Se não estamos respeitando aconduta 
apropriada ao mundo em que vivemos, com que direito nos candidatamos 
a merecer mundos mais evoluídos, portanto mais felizes, se renegamos a 
disciplina? Como legitimar ou brindar a conquista de um direito na Terra, 
se esse mesmo direito é o que nega dever estabelecido pelo Legislador 
infalível: o de considerar as relações heteroafetivas como o mais 
adequado processo de aprendizagem do Espírito humanizado, vez que lhe 
garante o conhecimento inerente a cada gênero: vivido exclusivamente, 
um de cada vez, coadjuvado pelas relações afetivas do gênero 
oposto. Leon Denis, sob os eflúvios de uma consciência de mais larga 
compreensão da vida nos dois mundos, nos alerta acerca da obediência 
aos preceitos divinos estabelecidos: 
O Positivismo está na impossibilidade de fornecer à consciência uma 
base moral. Neste mundo, o homem não tem só direitos a exercer, 
tem também deveres a cumprir; é a condição iniludível de qualquer 
ordem social. Mas, para preencher os deveres, cumpre conhecê-los; e, 
como possuir esses conhecimentos sem indagar-se o alvo da vida, das 
origens e dos fins do ser? [...] Com o estudo atento e minucioso da 
matéria, as escolas positivistas contribuíram para enriquecer certos 
ramos de conhecimentos humanos, mas perderam de vista o conjunto 
das coisas e as leis superiores do Universo. Encerrando-se no seu 
domínio exclusivo, imitaram o mineiro que se aprofunda mais e mais 
nas entranhas da terra, que aí descobre tesouros ocultos, mas que, ao 
mesmo tempo, perde de vista o grande espetáculo da Natureza que se 
mostra imponente sob os raios do Sol.[14] 
O segundo caso a ser perfilhado, diz respeito a indivíduo que 
se esmerou em construir sofisma para justificar seu apoio ao 
reconhecimento da união homoafetiva, mas, pela inconsistência do seu 
fundamento, ele próprio percebera com o tempo, antes mesmo da 
decisão do STF, que havia tomado direção equivocada. Essa mudança de 
postura é apanágio do homem imperfeito que se norteia pela imperfeição 
de suas leis, afinal, 
toda lei é obra humana e aplicada por homem; portanto, 
imperfeita na forma e no fundo, e dará duvidosos resultados práticos, se 
não verificarem, com esmero, o sentido e o alcance das suas 
prescrições. [15] 
Então, como eu já havia dito, vem aí com intermitência em 
nossa mente a questão do alcance, enfatizando que a verdade não é a 
medida do alcance do indivíduo, mas o alcance da perfeita medida das 
coisas. O fato é que, após vários anos de estudos e pesquisas sobre a 
homossexualidade, o protagonista desse segundo caso, fechado em sua 
convicção de que o homossexual deveria ser livre para unir-se com a 
pessoa amada e de que as uniões homoafetivas deveriam ser 
reconhecidas juridicamente, apoiou-se numa vasta bibliografia jurídica e 
nas lições de estudiosos das mais diversas áreas para embasar seus 
argumentos. Inclusive, valeu-se de trechos cânones da Bíblia para afirmar 
que até do ponto de vista das Escrituras sua tese tinha respaldo. Apesar 
desse árduo trabalho, do qual, segundo ele, recebeu elogios de juristas 
respeitáveis, transcorrido não menos de um ano após a conclusão do seu 
sofisma, reescrevera sua tese, pregando, agora, o oposto do que ele 
dissera antes, apresentando interpretação reformada do caso, utilizando a 
mesma referência bibliográfica, a fim de restabelecer a verdade, na 
tentativa de desfazer o equívoco que cometera no passado, conforme 
explicou-se, com firme arrependimento: 
Assim como o apóstolo Paulo, o qual após uma vida de perseguição 
aos cristãos passou a proferir a crença que antes combatia 
abertamente, o autor, como fruto de uma profunda transformação 
sofrida por uma real experiência vivida com Deus, sentiu a necessidade 
de rever seu posicionamento jurídico a respeito do assunto. Desta 
forma, não negando que anteriormente era um dos mais ferrenhos 
defensores da união homoafetiva, e sem se esquecer dos argumentos 
jurídicos tão concisos e verdadeiros que trouxe para defender sua 
posição, o autor irá demonstrar, com argumentos bíblicos e também 
jurídicos, que seu anterior posicionamento, além de não condizer com 
as verdades sagradas descritas na Bíblia, também podem ser afastados 
através de argumentos jurídicos. [16] 
Donde então irrompeu-se a magia do reverso? Do bom senso 
e da fé, explicou-se. E também da lógica jusnaturalista, presumo. 
Contradizendo posição anterior, combinando fé e razão, agora ele divisa 
novo cenário para a questão da homossexualidade. Se as normas por ele 
consultadas não foram o motivo de sua reforma, conclui-se que a 
mudança de sua ótica operou-se no campo metafísico do seu 
entendimento, propiciando-lhe interpretação diversa daquela feita 
anteriormente sobre o mesmo assunto e servindo-se da mesma 
bibliografia. Vale citar, em socorro a esse cenário de aparente paradoxo, o 
que veio a deduzir Gusmão, em sua obra, que o grande jurisconsulto Paulo 
de Tarso, talvez compreendendo a particularidade do direito, sustentava 
que “o permitido pelo direito nem sempre está de acordo com a 
moral.”[17] 
O terceiro e último caso continua a enfatizar que a 
vulnerabilidade do pensamento humano também incide nas faixas mais 
esclarecidas dos Homens quando, diante de questões de maior vulto e de 
maior complexidade, se propõem a resolvê-la. Então, é digno de nota o 
julgamento histórico do Supremo Tribunal Federal que decidiu, por 
unanimidade, que as relações homoafetivas são consideradas união 
estável, como estáveis são as uniões heteroafetivas, equivalendo-se, 
então, a entidade familiar, tal como a constituída por um homem e uma 
mulher. 
Apesar da unanimidade dos 11 ministros do STF na decisão do 
caso vertente, nutro a firme crença de que ela é fruto do exercício do livre 
arbítrio, facultado pelo Magnânimo, mas que naturalmente se ajustará, 
com o tempo, às prescrições divinas. A infalibilidade dos desígnios de Deus 
me permite parafrasear um conhecido jargão: Deus escreve sempre certo, 
nós é que entortamos as linhas e as letras, daí a imprecisão da leitura e da 
interpretação que às vezes se faz do texto da vida. Essa imprecisão parece 
refletir-se na estranha interpretação que os ministros da suprema corte 
fizeram do dispositivo constitucional, pois, apesar de o texto estabelecer 
claramente que “para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a 
união estável entre o homem e a mulher, como entidade familiar, 
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” [18], posso arriscar 
uma dedução – inspirado no pensamento de alguns críticos 
procedimentalistas – que eles desviaram da letra, extrapolaram os limites 
da interpretação e criaram direito para além das palavras do texto da 
carta magna, numa clara invasão da função privativa do legislador. Deduz-
se que os ministros, motivados talvez pela pressão de um ativismo social, 
praticaram um ativismo judicial para que a aplicação do texto não 
conduzisse a resultados ‘injustos’ para a minoria em questão. 
Rachel Nigro não concorda com a integridade desse 
pensamento. Em seu artigo ela refuta que os ministros do STF, no 
julgamento em relevo, tenham atuado como ativistas judiciais, porém, 
acredita que se atuaram dessa forma, considera que sua decisão é 
exemplo paradigmático de “ativismo judicial legítimo” (grifei): 
Enquanto co-legislador, o interprete da corte constitucional 
(sobretudo em face a dispositivos vagos e moralmente carregados) 
reconstrói o sentido do texto e apresenta novas versões de significado, 
novas normas. Diante da abertura textual dos direitos fundamentais, 
interpretar a Constituição implica em desenvolver o direito, produzir 
normas que não existiam e, nesse sentido, implica em “criar” direito. 
[...] No caso da Adpf 132, mais do que atualizar o sentido do 
dispositivo constitucional, o STF realizou uma leitura (moral) ampla e 
sistemática dos princípios constitucionais envolvidos para derrogarum 
enunciado constitucional ou, no mínimo, para produzir uma versão de 
significado bastante heterodoxo do §3º do artigo 226. Mas isso não 
significa dizer que os tribunais constitucionais tomam sempre as 
melhores ou mais corretas decisões.[19] 
Os argumentos acima, segundo a especialista em filosofia do 
direito, são mais bem-compreendidos a partir da visão pragmática da 
filosofia da linguagem, que permite extrair as razões não estritamente 
jurídicas que devem ser consideradas para demarcar os limites de 
interpretação e da jurisdição constitucional. Em que pese minha 
ignorância, penso que essa e outras fontes de justificativas são de fato 
licenciosidades inesgotáveis para a sede de argumentos dos 
intérpretes. Em toda norma feita pelo homem, essa fonte jorra com 
intensidade proporcional à sede de clareza de seu enunciado ou à 
obstinação da defesa de seu interesse. E nossa Constituição, conforme 
ilumina Rachel Nigro, no que tange a essa fonte, no campo dos direitos 
humanos, não é menos fértil: 
[...] a Constituição brasileira de 1988 é um texto amplo e generoso, 
repleto de promessas de ‘estado ideais de coisas’ que deixam enorme 
margem para a reconstrução criativa do intérprete, como demonstra a 
jurisprudência constitucional dos últimos 20 anos. [...] O que pode 
gerar legítimas divergências de interpretação, ou seja, diferentes 
reconstruções de sentido dos enunciados diante dos casos 
concretos.[20] 
Bem se vê, pelo encarrilhado até agora, que a exegese e a 
hermenêutica funcionam, às vezes, como licenciosidades que dão asas ao 
raciocínio jurídico no sentido de libertá-lo, no caso concreto, das amarras 
que o prendem ao comando original da norma. No estágio evolutivo em 
que o homem ainda se encontra, o livre-arbítrio é uma faculdade que 
amplia sua visão e sem ela seria impossível evoluir moral e 
intelectualmente. No entanto, quando malversada essa faculdade e 
desvinculada de um senso real de justiça divina, pode produzir atos 
apoiados em argumentos duvidosos, como se verifica na decisão do STF, 
relativa à união homoafetiva, na qual, a CF de 88, considerada a guardiã 
dos direitos e inviolável nos seus preceitos, foi frontalmente 
desrespeitada, porquanto, a partir do seu enunciado, criaram outro, 
exprimindo mensagem diversa daquela proposta pelo constituinte. 
Importante destacar que, em análise de questão de grande 
importância axiológica para a sociedade, como a de que agora me ocupo, 
há que se levar em conta os verdadeiros valores da vida, que são aqueles 
que, transcendendo o espaço e o tempo dos mortais, novamente se 
encontram numa outra dimensão, com pesos e medidas inalterados. 
Nesse ponto, o livre-arbítrio revela a intenção de Deus em dotar o homem 
de faculdade de livre expressão, no entanto, dada nossa imperfeição, essa 
liberdade é, repito, no estágio em que vivemos, vigiada e limitada. À 
medida que progredimos de forma equilibrada, na moral e no intelecto, 
essa liberdade é ampliada e passamos a conquistar mais autonomia 
quanto à utilização do livre-arbítrio. Por isso, devemos não perder de vista 
que a utilização dessa faculdade deve ser feita de modo responsável, 
disciplinada e atrelada a um senso de justiça imorredouro. 
Na esteira das missões de cada um, o jurista exerce grande 
responsabilidade quando se propõe a clarear a consciência dos indivíduos 
ante os escuros das letras que se inscrevem no caminho. Em face disso, eu 
não poderia encerrar essa parte da minha análise, quando procuro chamar 
a atenção para a falibilidade das decisões humanas (no tocante à 
prematuridade do propalado reconhecimento da união homoafetiva) e 
enaltecer a infalibilidade dos desígnios divinos, sem apresentar, abaixo 
(trecho longo, mas necessário), a sensata lição de Manuel Segura Ortega, 
citado por Mártires Coelho, quando prega a importância do arbítrio 
judicioso, porém, não abusivo, sem esquivar-se de elencar as razões dos 
opositores (grifei): 
Os que negam o arbítrio judicial, hoje em minoria, recorrem à ficção, 
insustentável, de que para todo problema de aplicação do direito 
existe uma única resposta correta, que pode ser encontrada no 
ordenamento jurídico, seja manejando as suas regras, seja operando 
com os seus princípios. Sem despender grandes esforços para 
contestar essa tese, os seus adversários costumam dizer que basta 
compulsarmos qualquer repertório de jurisprudência para 
encontrarmos inúmeras decisões divergentes – e até contraditórias -, 
extraídas de um mesmo enunciado normativo. Mais ainda, se 
levarmos em conta a comprovada abundância de sentenças 
contraditórias e o escasso número das que se harmonizam através dos 
remédios processuais disponíveis, chegaremos ao paradoxo de ter que 
aceitar uma realidade que nem o ordenamento jurídico tolera nem o 
paradigma dominante consegue explicar. E isso para não se falar que a 
existência de decisões contraditórias choca-se frontalmente com os 
princípios constitucionais da igualdade, da segurança jurídica e da 
proibição da arbitrariedade, que se cristalizam na fórmula da 
vinculação aos precedentes. [...] Se nos perguntássemos de que 
depende esse resultado final, a resposta não se haveria de buscar no 
critério interpretativo utilizado e sim na vontade do juiz que, partindo 
do resultado que deseja alcançar, utiliza os instrumentos 
hermenêuticos adequados a esse desiderato [...].[21] 
A infalibilidade dos desígnios de Deus 
Ao se falar em ótica divina ou quando aduzimos nossas ações 
a conduta pautada nos preceitos divinos, revelamos, de modo involuntário 
e quase imperceptível, que nossa própria consciência reclama a existência 
e a submissão a um ser que nos seja superior em tudo. O que nos 
mantém imersos nessa crença advém do fascínio – irresistível e inegável - 
que a colossal estrutura do universo nos causa. A harmonia do conjunto, 
produzindo efeitos que influem útil e inteligentemente em tudo que 
fazemos, é obra natural que denuncia a existência do seu autor, irisa e 
seduz nossa alma com tal força e magia, que não há neste mundo 
ninguém que sustenha seu encanto e duvide da magnitude de quem é 
causa desse poder deslumbrante. Então, é a partir dessa panorâmica, 
contagiado em verve indecifrável, na proporção de cada senso, que 
emerge em nós o sutil desejo de reverenciar o Maestro desse grande 
concerto. 
Com essa visão clara e segura, que nos guia sem medo e nos 
afasta da via escura, a vida prossegue amparada na alta definição das 
lentes de Deus. Onisciente e onipresente, o Arquiteto do nosso e de 
tantos outros mundos, com a maestria de quem compõe o mais perfeito 
dos arranjos, faz de nós como que um de seus instrumentos, a produzir 
acordes com a natureza e a entoar cânticos de beleza, evolução e 
harmonia. Certos, assim, do seu amor e do seu auxílio, fácil valorar nosso 
presente com a certeza dos benefícios no futuro. 
A questão é que alguns ainda distam dessa certeza, por 
acanhado raciocínio, ingratidão ou teimosia. Mentes há que duvidam e 
não se dobram ante a verdade que se desdobra em incomensuráveis 
lições no grande livro da Natureza. Leibniz, em suas inquirições, nos dá 
ideia disso quando discorre sobre os questionamentos acerca da causa 
que deu origem à existência das coisas: 
[...] importa agora elevar-se à metafísica, recorrendo ao grande 
princípio, comumente pouco usado, o qual afirma que nada se faz sem 
razão suficiente; isto é, que nada sucede sem que seja possível àquele 
que conhece assaz as coisas fornecer uma razão suficiente para 
determinar porque é assim, e não de outro modo. Posto este princípio, 
a primeira questão que se tem direito a fazer será: porque há alguma 
coisa em vez do nada? Afinal, o nada é mais simples e mais fácil do que 
alguma coisa. [...] É necessário, assim, que a razão suficiente, a qual 
não carece de qualquer outra razão, resida fora da série das coisas 
contingentese se encontre numa substância que dela seja a causa, e 
que seja um Ser necessário, possuindo em si a razão da sua existência; 
de outro modo, não se teria ainda uma razão suficiente onde se 
pudesse parar. E esta razão derradeira das coisas chama-se Deus.[22] 
Não comporta no meu entendimento a ideia da 
funcionalidade e equilíbrio do cosmos e de tudo que nele pulsa, sem 
admitir a existência de direção superior no comando. Com isso, ancorado 
na certeza inabalável de que Deus é a inteligência suprema, causa 
primária de todas as coisas[23], que estabeleceu os códigos soberanos para 
manutenção e coexistência harmônica entre a vida física e a extrafísica, 
rogo aos que ainda negam essa direção, que atribuem tudo ao acaso e a 
uma força cega, elevarem-se um pouco além da superfície de suas 
concepções e enlevarem-se pelo testemunho de uma das grandes vozes 
da sabedoria, quando nos conclama a ver com olhos de ver, a benfeitora 
utilidade das coisas e dos seres, o encadeamento perfeito das ações e das 
reações, do primeiro ao seguido ato, numa equalização perfeita: 
Será possível que o vosso critério filosófico possa tomar a sério a 
hipótese ridiculamente metafísica da pré-existência de uma ordem 
universal, sem que houvesse um pensamento para concebê-la, uma 
inteligência para compreendê-la, um olhar para contemplá-la e uma 
alma para amá-la? Pois quê! Será essa Natureza, assim cega, 
inconsciente, escravizada, sem olhos de ver nem coração de amar, que 
vai, num silêncio eterno, tecendo a malha divina de tudo o que existe? 
Temo-la então, a cega Natureza originando sem o querer, nem saber, 
uma harmonia, até que finalmente, da base ao cimo do cosmos, como 
filho da cega fatalidade, surja o homem para ouvir a harmonia que não 
fêz, e tomar conhecimento dessa ordem que não procede dele, porque 
lhe precede! [24] 
Quando olhamos à nossa volta e analisamos os fatos, 
sondando os sistemas dos micros em sintonia com o dos macros, 
percebemos que nada vive a esmo, pois tudo obedece a um comando 
inteligente. Visto isso, em que bases negar a prodigiosa Lei Natural, se a 
falibilidade de nossos sistemas ao cadafalso nos leva e nos condena? 
Como insistir em negá-la assim, se a infalibilidade dos desígnios de Deus 
agiganta sua Lei e o nosso frágil argumento nos apequena? Insurgir-se 
contra o Criador e insistir em tal propositura é padecer num ridículo que 
só a imaturidade e o orgulho podem conceber. 
Quando numa incursão meticulosa avançamos na 
particularidade de um microrganismo, descobrimos nele outros 
mundículos, a partir dos quais nossa visão limitada nada mais registra. 
Transpassando a massa do primeiro, sem tê-lo de todo conhecido, 
deparamo-nos com a massa de outro microrganismo e assim por diante. 
Em sentido oposto, quando avançamos em excursão pela vastidão do 
macrocosmo, após percorrer a maior distância possível, deparamo-nos, 
por exemplo, com a exuberante estrela VY Canis Majoris, 50 vezes maior 
que o Sol, comparado à qual nosso astro rei parece um grão de areia. E 
aqui estamos nós, na Terra, iluminados por ele, mas iludidos pela vaidade 
do que já sabemos, esquecendo, vesgos pelo nosso orgulho, de quantas 
dízimas tem a fração da parte que representa nossa massa, comparado a 
esse mesmo grão, o astro rei. 
Apesar desse estupendo aparato sideral, cercados por esse 
turbilhão incognoscível de seres e de coisas, alguns ainda insistem em não 
reconhecer Deus como sendo o artesão de tudo e transgridem suas Leis, 
para que elas se conformem aos interesses imediatos, quando deviam, 
isto, sim, insistir em conhecê-las melhor, entender a mecânica de suas 
ações e a utilidade providencial de suas reações, para em seguida, 
inspirados na infalibilidade delas, aperfeiçoarem nossas leis, em razão de 
ainda vivermos a infância do intelecto e da moral e carecermos do auxílio 
do Criador para guiar-nos durante o desenvolvimento de nossas 
faculdades. Leon Denis, fascinado pela exuberância da Natureza e cônscio 
da infalibilidade dos desígnios de Deus, sentencia: 
A ordem universal reinante na Natureza, a inteligência revelada na 
construção dos seres, a sabedoria espelhada em todo o conjunto, qual 
uma aurora luminosa e, sobretudo, a universidade do plano geral 
regida pela harmoniosa lei da perfectibilidade constante, apresenta-
nos, já agora, a onipotência divina como sustentáculo invisível da 
Natureza, lei organizadora, força essencial, da qual derivam todas as 
forças físicas, como outras tantas manifestações particulares, suas. 
Podemos, assim, encarar Deus como um pensamento imanente, 
residente inatacável na essência mesma das coisas, sustentando e 
organizando, ele mesmo, as mais humildes criaturas, tanto quanto os 
mais vastos sistemas solares, de vez que as leis da Natureza não mais 
seriam concebíveis fora desse pensamento, antes são dele eterna 
expressão. Esta convicção, adquirimo-la no exame e análise dos 
fenômenos da Natureza.[25] 
Cumpre aqui anotar que a breve alusão ao microcosmo e ao 
macrocosmo intencionou, é evidente, apenas extrair desses dois 
organismos complexos a visão essencial do que necessito para medir 
nosso valor e nossa posição em relação ao universo. Portanto, do que foi 
dito, o essencial é que fique patente o esplendor do universo como prova 
cabal da autoridade, da influência e da arte do Criador sobre nossas vidas, 
para que não tenhamos dúvidas de que nosso estágio evolutivo nos coloca 
muito distantes da capacidade de alterar Seu plano, no que se refere à 
missão do Espírito na Terra, na condição de homem e de mulher, e não 
nos credencia a estabelecer relações afetivas que nossa índole moral 
ainda não nos capacita. 
Importante lembrar que fomos criados à imagem de Deus, 
não no sentido material, uma vez que não se pode conceber a imagem do 
inimaginável, mas, isto sim, no sentido intencional de sua expressão 
superior, consignada no bem e na justiça e no amor. Por isso, é mais 
adequado e preciso afirmar que fomos criados à sua semelhança, vez que 
os atributos da criação jamais se confundem com os do Criador. Este é 
perfeito, aquele, perfectível. Em sendo atributo do homem a 
perfectibilidade, é seu dever assumir, enquanto não estiver de posse de 
todo o conhecimento moral e intelectual, que é passível de falência em 
suas deliberações. 
Infelizmente, a mais alta corte de justiça do nosso país, o STF, 
contrariando sua missão institucional, não resistiu a essa pecha, quando 
deliberou que as relações homoafetivas (união entre indivíduos de mesmo 
sexo), para efeitos de proteção do Estado, são equiparadas às relações 
heteroafetivas (união entre indivíduos de sexos opostos), numa grave 
afronta, não somente aos preceitos da Constituição, que elegera 
claramente o homem e a mulher como sendo constituintes da união 
familiar estável, mas também uma afronta à Lei Natural instituída por 
Deus. 
Alinhado à indelével assertiva de que o homem é perfectível, 
logo passível de falências em suas deliberações e de que Deus é perfeito, 
portanto, infalível nos seus preceitos, afirmo que é nosso dever cumprir 
com o nosso papel de aprendizes e ouvir as sábias vozes dos céus que, 
condoídas pelo nosso estágio espiritual, vêm em nosso auxílio, na Terra, 
com o fim de nos sensibilizar quanto à manutenção dos valores reais da 
vida nos dois planos - o físico e o extrafísico. Os Espíritos superiores, que 
são as vozes do céu, abdicando do paraíso que conquistaram, vêm até 
nós, servindo-se dos médiuns, convencer-nos de que nossa conduta deve 
ter caráter universal, experientes e convictos de que essa não é nossa 
única existência neste mundo e de que ela deve cingir-se da mais sublime 
missão: desenvolver nossas faculdades latentes rumo à perfeição, rumo à 
felicidade inextinguível. Essa felicidade não é a imediata, nascida dos 
critérios temporários, mas é a que resiste às intemperanças da vida 
corpórea e subsistena vida de além-matéria. 
As duas faces da vida e suas vinculações 
Quando se fala em vida, mais que vivê-la, importa saber 
interpretá-la, perscrutar seu significado e sua utilidade no presente. Tão 
logo os refletores do palco terrestre tirem de cena o Espírito que anima o 
corpo, importa igualmente saber que desdobramentos sua vida terá além, 
pois, conforme adverte um Espírito de escol, “a existência humana é 
como precioso tecido de que os olhos mortais apenas enxergam o lado 
avesso”[26]. Partindo desse aforismo, parece indispensável que se analise 
a questão homoafetiva na dimensão que ela exige, sob a lupa metafísica, 
pois, quando se fala em mudança de comportamento, seja individual ou 
coletiva, é razoável, senão prudente, que antes de sua adoção convém 
saber precisamente suas implicações em qualquer ambiente (físico ou 
extrafísico) em que transita o Espírito. 
Sem considerar a sobrevivência do ser após a morte do corpo 
físico, a análise do assunto em destaque – as relações homoafetivas – 
perde o sentido, pois, se não houver nada após a morte biológica, a 
conduta é uma, se houver algo além, a conduta será outra. Se nada 
houver do ‘outro lado’ desta vida, nada se fará aqui pensando na outra, 
daí, vale tudo na vida atual. Em contrário, se algo nos reserva ao 
descerrar-se o véu que oculta a vida que lateja em outra dimensão, a 
conduta de agora influenciará certamente a vida futura, seguindo-se daí o 
respeito aos bons regramentos, humanos ou divinos. 
Pensar que não há vida do lado de ‘lá’, é admitir que Deus cria 
os Espíritos, os introduz no planeta Terra – sob as vestes de homem e de 
mulher – e, após longo tempo de pesado labor, tão logo cesse a vida 
celular de seus corpos, sejam eles extintos. Ou, em admitindo a 
sobrevivência deles e não sendo importante o modo como se 
comportaram, sejam igualmente purificados, dispensados da apreciação 
do mérito de suas ações, ignorando se foram ricos ou pobres, felizes ou 
sofredores, bons ou maus, laboriosos ou ociosos. Atribuir tal juízo ao 
Magnânimo, é querer humanizá-lo, torná-lo imperfeito, logo, falível. Se 
houver essa concepção mesquinha da figura de Deus, certo é que se fala 
de outro ser, não daquele que se expressa com infinita bondade, 
inabalável justiça e incomensurável amor à sua criação. 
A condição de imperfeito e imortal, atribuída ao Espírito, o faz 
dependente de várias incursões nesta vida e desta para aquela, com o 
objetivo de continuar seu aprendizado até alcançar o mais alto grau de 
refinamento de suas faculdades morais e intelectuais. Disso, extrai-se que 
os valores intelectuais, morais e éticos, seguem-no. Fosse diferente, a 
cada renascimento ele teria que recomeçar tudo do zero, de nada 
adiantaria angariar conhecimentos nas escolas e inócuo seria educar os 
sentimentos nos templos religiosos. 
Nessa linha de sucessórias vivências, urge que não 
desperdicemos tempo com adoção de comportamento que não esteja 
adequado ao que foi planificado por Deus. Fugir dos preceitos divinos 
equivale a somar infortúnios derivados da má arbitragem da liberdade que 
nos foi confiada. Retornar ao ponto de onde se desviou do caminho é 
sempre complicado, demorado e doloroso. Isso porque uma única 
existência na Terra é período muito curto para alguém corrigir tantos 
erros, tantas mazelas, ou para alguém concluir grandes projetos ligados às 
diversas áreas do conhecimento humano. Se somos iguais porque 
carregamos em nós os germens do intelecto e da moral, somos diferentes 
por não termos conseguido galgar, em face das diferentes escolhas ao 
longo da caminhada, os mesmos níveis de desenvolvimento 
simultaneamente. É certo que “ninguém atingirá o porto da dignidade 
espontânea sem viajar, por longo tempo, nas correntes da vida, 
aprendendo a manejar o leme da disciplina.”[27] 
Somente à custa de muito tempo, trabalho e disciplina é que 
poderemos alcançar o grau de progresso a que chegou Sócrates, como 
expressão do intelecto, Madre Tereza de Calcutá, como expressão da 
moral, ou, correndo a escala de progresso a velocidade superior, apenas 
para espiar quem está quase em seu topo (pois no topo está Deus), 
chegaremos ao modelo mais exato da perfeição que é Jesus, íntegro em 
moral, intelectualidade e amor. Nunca é demais citar Albert Einstein e 
Adolf Hitler no que respeita a seus potenciais e às escolhas que fizeram. 
Apesar de ambos terem alcançado nível intelectual considerável, sabemos 
que apenas o primeiro direcionou os seus saberes em prol da 
humanidade, enquanto o segundo, em prejuízo dela. Considerando a 
continuidade da vida, cabe oportuna indagação: há justiça em que ambos, 
Einstein e Hitler, a considerar pelas escolhas que fizeram, sejam 
justapostos ao mesmo pedestal? Seria racional que, contrariando a lógica 
do modelo de progresso, justiça e amor ensinado pelo maior dos 
evangelistas, fosse atribuído às ações de ambos o mesmo valor dedicado à 
dos missionários que, ao longo de suas vidas, se dedicaram a promoção do 
bem comum? Seria cabível a arguição de que agora, tendo se extinguido a 
vida física, aquilatar valores na vida espiritual perdeu a importância, em 
face da singularidade de sua dimensão? Penso que seria mais condizente 
com a realidade admitir que, sendo o Espírito imortal e tendo ele 
sequência natural, cada um deles, Einstein e Hitler, recebam, eles 
próprios, os benefícios ou malefícios que suas obras podem proporcionar. 
Ou seja, dar a cada um segundo suas obras, o que é mais condizente com 
as Leis divinas. André Luiz nos ensina que: 
[...] quando se despedem do mundo, os homens, quaisquer que sejam, 
chegam aqui como são... Porque hajam desencarnado, o louco não 
adquire o juízo, de um dia para outro, nem o ignorante obtém a 
sabedoria por osmose. Depois da morte, somos o que fizemos de nós, 
na realidade interna [...][28] 
Ante a eternidade do Espírito e a evidência da multiplicidade 
de suas existências, aliado ao fato de que as aquisições morais e 
intelectuais são suas joias inalienáveis, torna-se indispensável examinar a 
homossexualidade vinculada aos saberes ou pendores conquistados em 
vidas passadas pelo Espírito, a fim de melhor compreendermos e 
mitigarmos os conflitos gerados pela expressão da homossexualidade na 
sociedade e no seio da família. Num planeta habitado por seres 
imperfeitos, subverter os valores é a característica mais comum entre 
eles. Então, sendo todos nós componentes desse ambiente comum, 
convém lembrar que o evangelho de Jesus nos ensina que para 
transformar nosso mundo em ambiente mais evoluído, é imprescindível 
que transformemos primeiramente a nós próprios, amando e seguindo os 
nobres ditames de Deus, bem como amando nosso próximo, dedicando-
lhe respeito, indulgência e auxílio contínuos, tal como se ele fosse nós 
próprios. Não é sem razão que os Espíritos superiores nos aconselham: 
“Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo.” [29] 
As duas faces do sexo e a universalidade das relações 
Mantendo a linha de raciocínio desse ensaio, focada na 
análise transcendental do assunto, creio não ser relevante listar as 
gradações da homossexualidade catalogadas pela ciência, visto que suas 
definições estão difusas na literatura sexológica. Por essa razão, ater-me-
ei a explicitar, isto sim, as causas dos desvios comportamentais que têm 
origem no sexo, para que o leitor delas extraia as deduções que julgar 
mais acordes com sua visão. 
Convém apenas observar, antes de tudo, que a literatura 
convencional sobre o estudo do comportamento humano, em especial 
sobre a que se especializa no sexo, produzida pelos mais renomados 
estudiosos, demonstra sempre visão unilateral, portanto, incompleta, vez 
que suas análises se circunscrevem às relações afetivas vividas apenas 
neste mundo, sem estabelecer seu devido vínculo com as vidas 
antecessoras e sucessoras. Sobrea incompletude desses estudos, André 
Luiz ressalta: 
Quanta riqueza psíquica, suscetível de conquista, se os pesquisadores 
conseguissem deslocar o centro de estudo, das ocorrências fisiológicas 
para o campo das verdades espirituais![30] 
Ao referir-se, por exemplo, à grande contribuição de Freud à psicanálise, 
assim se manifestou: 
[...] se a psicologia analítica de Freud e de seus colaboradores avançou 
muito no campo da investigação e do conhecimento, resolvendo, em 
parte, certos enigmas do psiquismo humano, falta-lhe, no entanto, a 
chave da reencarnação, para solucionar integralmente as questões da 
alma. Impossível é resolver o assunto em caráter definitivo, sem as 
noções de evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e 
eternidade.[31]Freud vislumbrou a verdade, mas toda verdade sem 
amor é como luz estéril e fria! [32] 
Discutindo a problemática do sexo e da sexualidade, 
desconexa da visão metafísica, vale citar os filósofos Alfred Kinsey e 
Michel Foucault, para os quais os vieses afetivos resultam do exercício 
normal do direito à livre expressão do sexo. Em seus estudos e pesquisas, 
Focault procurou manifestar seu desejo de afastar da ‘realidade’ os 
desejos interditos, secundar a atividade sexual fecunda, defender a 
necessidade de insubmissão à moral e afirmar os prazeres paralelos e 
imediatos, descompromissados com as noções de evolução, 
aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade. 
Não é sem razão que o afrouxamento dos laços de família 
verificado atualmente se deve, em parte, à revolução sexual que 
transgride as regras, fragmenta o amor e segrega a sociedade. Aliás, esse é 
o perfil da sociedade individualista retratada pelo sociólogo Sygmunt 
Bauman em sua ‘Modernidade Líquida’. O coletivismo, segundo ele, é a 
opção de indivíduos incapazes de se autoafirmarem com seus próprios 
recursos. Afirma, para que ninguém se engane, que a individualização é 
uma fatalidade, não uma escolha, feito que os indivíduos da era líquida, 
não atribuem a si a missão de levar a luz ou de reformar os modos da 
sociedade. Alerta, no entanto, que a sociedade liquefeita goza de 
liberdade sem precedentes para experimentar, mas, ao rejeitar a assunção 
de responsabilidade por suas ações, a individualização que objetiva a 
autossuficiência do indivíduo pode ser factível ou ilusória, e pode cobrar 
alto preço de quem tem a coragem de escolhê-la: 
[...] se o egoísmo, fantasma que atormentou a espécie humana em 
todos os períodos de sua história, “seca as sementes de todas as 
virtudes”, o individualismo, aflição nova e tipicamente moderna, seca 
apenas “a fonte das virtudes públicas”; os indivíduos afetados estão 
ocupados “criando pequenos grupos para seu próprio desfrute” e 
deixando a “sociedade maior” de lado.[33] 
Então, nota-se com essa visão de Bauman, em cotejo com o 
pensamento de Focaut, que há encadeamento histórico na sequência de 
lições em favor da liberdade de qualquer tipo de expressão ou da criação 
de toda ordem de direitos. Dado que o sexo respira cada vez mais aliviado 
ao distanciar-se da sujeição de poder que insiste em freiá-lo, Focaut 
indaga: 
O que significa o surgimento de todas essas sexualidades periféricas? 
O fato de poderem aparecer à luz do dia será o sinal de que a regra 
perde em rigor?.[34] 
Certamente! A difusão de trabalhos como os que ele 
produziu, que asfixiaram as regras em apoio à livre expressão da 
sexualidade, baseada no direito incondicional à fruição do prazer, em vez 
de iluminar os pontos obscuros da homossexualidade, maculou o sentido 
real do sexo. Esse filósofo entusiasta, que oscilou nas faixas tênues da 
verdade e da ilusão, obstinou-se em desvendar a que veio o sexo, porém, 
da leitura de sua ‘História da Sexualidade’, nota-se que apenas colheu 
fragmentos da verdade: 
O sexo, essa instância que parece dominar-nos, esse segredo que nos 
parece subjacente a tudo o que somos, esse ponto que nos fascina 
pelo poder que manifesta e pelo sentido que oculta, ao qual pedimos 
revelar o que somos e liberar-nos o que nos define, o sexo nada mais é 
do que um ponto ideal tornado necessário pelo dispositivo de 
sexualidade e por seu funcionamento. [35] 
Ele entende o sexo como um ponto no corpo insculpido pela 
natureza, servindo de luz intermitente para anunciar a manifestação dos 
desejos e da sexualidade. Não entrever nesse ponto o que é claro como as 
estrelas: o sexo é um dos alvos no qual o divino assenta seu amor, a fim de 
burilar quem por ele é atraído e de fazer com que a vida de alguém com 
ele pareça um templo de esplendor. O sexo, na ordem das missões 
divinas, não é apenas um ponto de referência na fisiologia sexual para a 
manifestação da sexualidade, é, sobretudo, um feixe de energia sagrado, 
poderoso e multifário, necessitando de maior entendimento acerca de sua 
ação na vida do Espírito humanizado. Focaut não admite no sexo essa 
transcendência, mas admite nele a produção de efeitos de natureza 
diversa daquela que se conhece: “A natureza colocou no ser humano essa 
força necessária e temível sempre pronta a ir além do objetivo que lhe 
foi fixado.” [36] 
Michel Focaut não percebe que o ‘além’ que as forças do sexo 
fixam o convida a mirar dimensão na qual parece não acreditar: a vida 
além desta vida. Em suas citações há sempre lições subliminares que, 
embora o contexto em que são abordadas, versam sobre o sexo em si, as 
palavras que ele usa para formulá-lo, parecem carregar inconsciente 
místico, sugerindo uma compreensão da sexualidade no campo 
metafísico. Mas seus sentidos obtusos, ligados às concepções telúricas, 
não lhe permitem ir além do raio traçado pelo seu foco pessoal. Quando 
cita, por exemplo, a personagem Kate, da obra de D. H. Lawrence: The 
Plumed Serpente, a propósito de sua frase: “Como o sexo pode ser belo 
quando o homem o mantém poderoso e sagrado e quando ele preenche 
o mundo. Ele é como sol que vos inunda, que vos penetra com sua 
luz, [37] mostra-se insensível ao aspecto metafísico da mensagem. É talvez 
o caso, também, de quando fala do ato sexual, do ponto de vista da 
fisiologia, pois, nota-se que suas palavras o traem, eivadas que são de 
pensamento que resiste ao extrafísico, mas, sem que ele preveja, 
involuntariamente transcende o alcance que ele quer delimitar: 
O ato sexual arranca do corpo uma substância que é capaz de 
transmitir a vida, mas, que só o transmite porque ela própria está 
ligada à existência do indivíduo e carrega em si uma parte dessa 
existência. [...] Em toda emissão espermática existe qualquer coisa que 
sai dos mais preciosos elementos do indivíduo e que lhe é 
subtraída. [38] 
Embora em alguns momentos sua linha de raciocínio se eleve 
para decifrar o que ele chama de “movimentos contraditórios da 
alma” [39], aludindo à prática da moral, o brilho de sua obra esmaece ante 
a restrição que ele impõe ao objeto de sua pesquisa. Atendo-se, como ele 
dissera, à tarefa de evidenciar alguns elementos, durante a Antiguidade, 
que poderiam servir para uma história da verdade, “uma história que não 
seria aquela do que poderia haver de verdadeiro nos conhecimentos”,[40] 
apenas evidenciou, na lenta formação de uma “hermenêutica de si”, mais 
perguntas para mais reflexão: 
O que na ordem da conduta sexual parece, assim, constituir para os 
gregos objeto da reflexão moral não é, portanto, exatamente o 
próprio ato (visto sob as suas diferentes modalidades), nem o desejo 
(considerado segundo sua origem ou direção), nem mesmo o prazer 
(avaliado segundo os diferentes objetos ou práticas que podem 
provocá-lo); é sobretudo a dinâmica que une os três de maneira 
circular (o desejo que leva ao ato, o ato que é ligado ao prazer, e o 
prazer que suscita o desejo). A questão ética colocada não é: quais 
desejos? Quais atos? Quais prazeres? Mas: com que força se é levado 
pelos prazerese pelos desejos?[41] 
Prosseguindo o exame da história da sexualidade, ao tratar do 
direito soberano da vida e da morte, Focaut traz a lume uma sentença de 
Samuel Pufendorf, a qual afirma que 
Da mesma forma que um corpo composto pode ter as qualidades que 
não se encontram em nenhum dos corpos simples da mistura de que é 
formado, assim também um corpo moral pode ter, em virtude da 
própria união das pessoas que o compõem, certos direitos que não 
revestiam formalmente nenhum dos particulares e que cabe somente 
aos mentores exercê-los [42]. 
Com essa sentença, quis fazer paralelo entre o novo ser 
jurídico que nasceu da particularidade e o novo ser jurídico que nasceu da 
homossexualidade. Apesar de ele apreciar esse conceito, prefere 
equacionar a problemática da sexualidade com proposição simplista: 
Para dizer as coisas de modo bastante esquemático: temos tendência 
hoje em dia a pensar que as práticas de prazer, quando ocorrem entre 
dois parceiros do mesmo sexo, implicam um desejo cuja estrutura é 
particular; mas sustentamos – se formos “tolerantes” – que isso não 
constitui uma razão para submetê-la a uma moral ou, ainda menos, a 
uma legislação, diferente daquela que é comum a todos. O ponto de 
interrogação, nós o colocamos sobre essa singularidade de um desejo 
que não se dirige ao outro sexo; e ao mesmo tempo afirmamos que 
não se deve atribuir a esse tipo de relação um valor menor nem 
reservar-lhe um status particular.[43] 
Se a assexualidade é inerente à natureza do Espírito, nada há 
que se opor à opinião de Focaut quando afirma que a estrutura 
psicológica do homossexual não difere da heterossexual. Contudo, se é 
verdade que ambos são da mesma natureza, posto que são Espíritos, não 
se pode esquecer que ambos são dotados de particularidade bastantes 
visíveis, em função da riqueza ou da pobreza de conhecimento de cada 
um, quando expressam seus desejos ou anseios de modo geral. Os gregos 
não realçavam as diferenças de comportamento dos homossexuais, mas 
acreditavam que ignorá-las não contribuía para o entendimento do seu 
modo de ser. Daí o maior interesse em descobrir "com que força” se é 
levado por desejos desse jaez, em vez de se deter “no modo como são 
expressos”. Esse ponto é pacífico na compreensão dos filósofos da 
Antiguidade e é relatado pelo próprio Focaut: 
Os gregos não imaginavam que um homem tivesse necessidade de 
uma natureza “outra” para amar um homem; mas eles estimavam sem 
hesitar que, para os prazeres obtidos numa tal relação, era necessário 
dar uma outra forma moral que não aquela exigida quando se tratava 
de amar uma mulher. Nessa espécie de relação os prazeres não 
tratam, naquele que os experimentava, uma natureza estranha, mas 
seu uso exigia uma estilística própria.[44] 
Considerando que é assimétrico à proposta deste ensaio o 
enfoque que Michel Focaut deu ao assunto em lide, retomo a ordem do 
meu ponto de vista, embasado nas orientações psicografadas pelas nobres 
almas residentes em planos superiores da esfera extrafísica, para 
enfatizar, em aliança com a multiplicidade das existências do Espírito, a 
missão do sexo, bem como esquadrinhar as possíveis causas dos desvios 
ou perversões sexuais cometidos pelo Espírito que está, temporariamente 
na Terra, investido na condição de homem ou de mulher. 
Um modelo de família que se autoextingue 
A vida integral do Espírito, desatrelada dos liames do corpo 
físico, não depende de acessórios constituídos de matéria grosseira para 
expressar suas ações. Sendo assim, estando num ambiente de vibrações 
quintessenciadas, os instrumentos imediatos de que ele se serve para a 
realização de seus projetos são o desejo e o pensamento. Na área da 
afetividade, por exemplo, é estéril a ideia de fazer opção por um gênero 
(feminino ou masculino), porquanto esse é um meio existente e útil 
apenas na Terra, logo, inócuo no mundo espiritual. A exceção disso ocorre 
quando Espíritos menos evoluídos insistem em conservar no mundo 
espiritual preferências que os apraziam na Terra ou, quando o desapego à 
vida terrena é feito de forma conscienciosa, apenas necessitam de um 
breve período de transição para adaptarem-se ao novo ambiente 
vibratório. 
Por meio da reencarnação, facultada pela relação sexual 
fecunda dos Espíritos que já estão na Terra, o Espírito que se encontra no 
mundo espiritual ingressa no planeta para desenvolver suas 
potencialidades intelecto-morais. Seu tempo de permanência vai 
depender da complexidade ou facilidade das tarefas que lhe são 
atribuídas. Todo o processo que antecede a procriação é exercício da 
manutenção das relações sociais e afetivas, por meio das quais são 
desenvolvidas a inteligência e a moral. A instituição dos gêneros 
(humanos) e a materialização dos corpos são coadjuvantes de progresso 
na Terra: 
A realidade que somos, Espíritos imortais em essência, tem sua origem 
e permanência fora das limitações materiais de qualquer mundo físico, 
que poderia não existir, sem qualquer prejuízo para o processo de 
evolução. Nada obstante, quando o Criador estabeleceu a necessidade 
do desenvolvimento nas organizações fisiológicas, à semelhança da 
semente que necessita dos fatores mesológicos para libertar a vida 
que nela jaz, razões poderosas existem para que assim aconteça, 
facultando-nos percorrer os degraus que nos levam ao Infinito...[45] 
O indivíduo homoafetivo, que embora saiba tão bem o que 
sente, sabe tão pouco de si no contexto do universo, deve primeiramente 
instruir-se para depois extrair do lícito o que realmente convém. Convém, 
a princípio, não perder de vista que, tendo Deus criado na Terra os 
gêneros homem e mulher, mister que seja mantida fidelidade à vontade 
do Criador, no que tange à necessidade do Espírito de adequar sua 
psicologia às linhas inteligentes de sua biogênese. Essa postura de 
submissão à Inteligência Suprema (que não se confunde com 
subserviência cega) e a necessária compreensão dos seus desígnios 
demonstram a reverência digna de quem anseia e tudo faz para merecer o 
paraíso prometido, consubstanciado na perfeição. Nesse sentido, 
entender o sexo e a sexualidade como expressão sagrada, merece realce 
frente às tarefas sublimes atribuídas a nós por Deus: 
O Sexo, em si mesmo, é instrumento excretor, a serviço da vida. 
Programado pela Divindade para servir de veículo à “perpetuação da 
espécie” nos seres pelos quais se expressa, tem sido gerador de 
incontáveis males, através dos tempos em face do uso que o homem, 
em especial, lhe tem dado. [...] No atual estágio evolutivo do planeta 
terrestre, o ato sexual faz-se acompanhar de sensações e emoções, de 
modo que propiciem prazer, facultando o interesse entre os seres, e 
assim preenchendo a destinação a que se encontra vinculado. [...] 
Simultaneamente, devemos considerar que, em sua realidade 
intrínseca, o Espírito é assexuado e sem preferência ou psicologia 
específica para uma ou outra experiência na organização física. Por 
esta razão, a própria vida elaborou formas que se completam em favor 
da função procriativa. Ao lado dessas, em se considerando o 
incessante progresso dos homens, na busca da felicidade, os ideais 
lentamente vão suprindo, na área das emoções superiores, os prazeres 
que decorrem das sensações mais fortes.[...][46] 
Chegar ao ápice da perfeição requer a prática disciplinada 
pelas magnas prescrições do Criador. A natureza organizou a conjunção 
dos sexos para assegurar a descendência dos indivíduos e a sobrevivência 
da espécie na Terra, mas essa é apenas uma das luzes que clareiam as 
verdades eternas. A atração e o prazer, de modo geral, são dádivas divinas 
que incentivam a associação dos seres num ideal de fraternidade e amor 
universal. Somente após muitos renascimentos circunscritos à 
heteroafetividade, vivenciando as peculiaridades de cada gênero, ora na 
condição de mulher, ora

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