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respeito à desvalorização da classe de professores. Os professores perdem o estímulo e a motivação para o trabalho docente, além de muitos terem que completar o ordenado com trabalhos extras, por vezes não-inerentes à profissão. Deve-se refletir, então, em como esse processo de ensino-aprendizagem tem sido ministrado e até que ponto esses fatores comprometem o futuro da Educação Teorias da Aprendizagem 158 no nosso País, uma vez que as novas gerações preferem seguir outras carreiras mais promissoras, com maiores recompensas profissionais e financeiras. Mas quais são as opções para quem deseja se tornar professor? Atualmente, as formações de professores têm sido feitas, preferencialmente, em cursos de nível superior (Normal Superior ou Graduação), em detrimento das práticas simplificadas de formação que eram desenvolvidas nos Cursos Normais. Apesar do avanço em se promover o incentivo em torno da busca dos professores por uma formação mais ampla, há ainda a necessidade de se considerar a qualidade dos cursos ministrados de Pedagogia, e no âmbito dos cursos Normais Superiores e de Licenciatura. Um dos avanços em relação à formação do professor em Nível Superior está relacionado à possibilidade de estudo das teorias de aprendizagem que utilizam como suporte às práticas pedagógicas dos professores, que, por sua vez, estão relacionadas às tendências mais amplas de Educação. A importância de conhecer e compreender as tendências pedagógicas e suas respectivas práticas está na possibilidade de poder desenvolver uma consciência em torno de suas ações, reconhecendo seus próprios princípios educacionais, bem como os princípios educacionais que regem as escolas e que são apresentados nos Projetos Político-pedagógicos de cada uma delas. Além disso, ao estudarmos as tendência e práticas pedagógicas (o que pode ser feito a partir da leitura de livros de História da Educação), somos levados a conhecer teorias psicológicas sobre a aprendizagem humana que se encarregam de nos fornecer informações sobre como, ao longo dos anos, a aprendizagem humana vem sendo compreendida e trabalhada por diferentes teóricos. Vale lembrar que cada teoria encerra em si um conjunto de conhecimentos circunscritos historicamente, o que significa dizer que as teorias têm uma história de referência e que, portanto, não devem ser adotadas pelos educadores sem que antes sejam compreendidos seus fundamentos científicos, filosóficos e educacionais. O problema do fracasso escolar De um modo geral, as escolas garantem hoje o acesso da maioria da população. Porém, esse fato não melhora a qualidade de ensino, nem diminui o problema da evasão e da repetência nas escolas. A falta de vontade política dos nossos governantes para resolver esses problemas traz grandes prejuízos para o desenvolvimento e o crescimento da nossa sociedade, pois não há investimento adequado na Educação, uma vez que essa última é uma área em que o retorno do investimento não se dá de forma imediata e também não obtém um lucro, que é a principal característica da sociedade capitalista. Teorias da aprendizagem e a formação de professores 159 A escola está dividida em duas: uma para os ricos e outra para os pobres. Devido a essa dualidade do ensino, em que a escola dos trabalhadores visa ao treinamento para o mundo do trabalho e prolifera a ideologia burguesa, não se cria uma visão crítica da sociedade e do seu papel dentro dela. A escola, como aparelho ideológico do Estado, utiliza-se da violência simbólica (dominação econômica, uma ação pedagógica autoritária, verticalidade da relação professor versus aluno e dominação cultural), como instrumento para reforçar as relações sociais existentes e, com isso, reproduz a divisão da sociedade em classes sociais distintas. A aparente neutralidade da escola, que trata os desiguais de forma igualitária, não leva em consideração as diferenças nas condições materiais de vida, as diferenças de cultura, as experiências adquiridas fora da escola e o relacionamento dos pais com a mesma. Ela é um mundo do silêncio e da imobilidade, na qual o aluno cala e escuta, obedece e é julgado. A criança é confinada num mundo sem vida e cheio de regras de submissão. No mesmo sentido, o conhecimento fragmentado é visto como algo parado, compartimentado e comportado, e está fora da realidade do aluno. Torna-o um ser alienado, pois ele não consegue relacionar as informações de forma coerente com a sua vida prática e, com isso, essas informações perdem totalmente o seu significado. Segundo Paulo Freire (1987, p. 58), em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicado” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de recebermos depósitos, guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam. No fundo, porém, os grandes arquivadores são homens, nesta (na melhor das hipóteses) equivocada concepção “bancária” da educação. Arquivados, porque, fora da busca, fora da práxis, os homens não podem ser. Educador e educandos se arquivam na medida em que, nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. Assim, o que observamos é que os alunos oriundos da classe menos favorecida economicamente sentem dificuldade no contexto escolar, pois este está baseado nos padrões da classe dominante. Por exemplo: a norma culta da nossa língua está dentro da cultura da classe dominante, por isso, quando o aluno chega à escola encontra nela um ambiente muito diferente do seu, o que acaba diminuindo a sua auto-estima. Ele não vê sentido naquilo que faz, pois o conteúdo apresentado está fora da sua realidade, acabando por não fazer relação entre suas vivências e os conhecimentos escolares. A escola, então, faz com que esse aluno repita o ano como forma de dar oportunidade a ele de rever os conhecimentos que não foram adquiridos. Segundo Souza (1997, p. 18), [...] com relação à seletividade escolar encontram-se dados inadmissíveis nas contínuas repetências vividas pelas crianças no processo de escolarização. As análises estatísticas mostram que o aluno brasileiro permanece em média oito anos e meio na escola, mas apenas três entre cem ingressantes concluem o primeiro grau sem repetência. Ao longo do processo de escolarização a defasagem série-idade aumenta, a ponto de termos em 1986 (SEADE, 1989) 70% dos alunos de 8.ª série fora de idade real para o mesmo período (14 anos). Teorias da Aprendizagem 160 O que acontece é que o aluno repetente fica “rotulado” como incapaz, diminuindo assim a sua vontade de aprender e faz com que ele reflita aquilo que se espera dele. Não se leva em consideração que a criança, no início do processo de alfabetização, fica insegura e fica em conflito interno. E por isso, muitas vezes elas são encaminhadas ao psicólogo com queixa de problemas de aprendizagem, ficando claro que é o início do processo de responsabilizar o aluno por suas dificuldades escolares. Dificuldades essas que são normais, pois ele está diante de um mundo novo e precisa percorrer um longo percurso para adquirir conhecimentos necessários para a sua vida adulta. Sousa (1997), no seu artigo intitulado A queixa escolar e o predomínio de uma visão de mundo, faz um levantamento a respeito da queixa escolar no aprendizado das crianças e observa que as queixas mais freqüentes são referentes ao mau desempenho escolar, ao comportamento agressivo e às dificuldades de fala. A maioria dos atendimentos realizados pelos psicólogos em relação às queixas