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em 1948, sendo o mesmo arquivado em 1949, retornando ao Congresso apenas em 1957, ou seja, nove anos depois de sua elaboração. Porém, o projeto original foi substituído pelo projeto Lacerda em 1958 que gerou grandes conflitos entre os defensores da escola privada e os defensores da escola pública. A Política Educacional da década de 1950 Podemos dizer que a década de 1950 foi marcada por discussões em torno da LDB, e em torno da organização da escola pública, passando a responsabilidade sobre esta última a ficar novamente sob a custódia do Governo Federal. Esta década é marcada por movimentos intensos em prol da Educação, principalmente em relação ao desenvolvimento e implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Além disso, os movimentos contrários à educação tradicional voltam a aparecer no cenário da Educação. O mais importante deles é o movimento escolanovista (Defensores da Escola Nova), que na década de 50, por ocasião das discussões em torno da responsabilidade dos governos sobre a escola pública, reaparece no cenário da educação como possível substituta do modelo tradicional de educação. Como em 1958 o projeto apresentado por Carlos Lacerda (o Substitutivo Lacerda) acirra as discussões sobre os modelos pedagógicos brasileiros, adiando a votação da LDB, o Movimento da Escola Nova estende sua tentativa até a década seguinte. As políticas educacionais e as práticas pedagógicas liberais 21 A Política Educacional da década de 1960 Já a década de 1960 foi marcada por vários acontecimentos importantes, como a assinatura da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), os movimentos de Educação Popular, o surgimento da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire, o enfraquecimento da Educação Nova e o Golpe Militar de 31 de março de 1964. A nova LDBEN, promulgada em 1961, sofreu, segundo Ghiraldelli Jr. (2001), 200 emendas diferentes desde a sua apresentação à União em 1947. Com tantas modificações, ela foi considerada pelos intelectuais escolanovistas da época uma vitória pela metade, frustrando muitos educadores, já que não atendia, de fato, às necessidades das escolas brasileiras. Além disso, em 1960 o Brasil já não era mais agrário e a industrialização crescia apoiada, inclusive, pelo operariado, que considerava o processo de industrialização responsável pelo aparecimento de novos empregos. Havia, nessa época, um grande interesse de investidores externos no Brasil, uma vez que o nosso país tinha um mercado promissor e mão-de-obra barata. Esse novo panorama econômico do Brasil permitiu a entrada de indústrias estrangeiras em território nacional e fez aflorar movimentos em prol da promoção da cultura popular, entre outros. É no bojo desses movimentos que destaca-se a experiência da cidade de Natal, em 1961, com a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, integrando educação popular e educação escolar, tendo Paulo Freire à frente das ações que deram origem à Pedagogia Libertadora. Tal pedagogia tinha como principal bandeira a de que todo ato educativo é, em si, um ato político. Nesse mesmo período, ocorre o enfraquecimento definitivo dos ideários escolanovistas, uma vez que seus métodos eram caros e exigiam maior formação dos educadores. Por esse motivo, a Pedagogia Escolanovista desenvolveu-se, principalmente, no interior de escolas privadas, não tendo conseguido respaldo econômico por parte do governo para se desenvolver no interior das escolas públicas. Ainda na década de 1960, os ideários de Paulo Freire são deturpados e sua Pedagogia é associada aos Movimento marxistas e socialistas. Por isso, pela grande influência que suas idéias exerciam sobre os educadores, a União criou o Mobral como tentativa de mostrar à população que apoiava os movimentos populares de Educação. O projeto de Educação Popular promovido por Paulo Freire é paralisado definitivamente pelo Golpe Militar de 31 de março de 1964. A Política Educacional da década de 19701 Esta década é marcada, sobretudo, pela Ditadura Militar que estendeu suas bases para além dos quartéis e do Congresso, interferindo até mesmo, e principalmente, no ensino escolar. 1 Tópico escrito com base na dissertação de Mes- trado “Escola, Gestão e De- mocracia: as marcas dos anos de chumbo no processo edu- cacional brasileiro” de minha autoria, defendida na Univer- sidade do Estado do Rio de Janeiro, em 2004. Teorias da Aprendizagem 22 As transformações anunciadas pelas Reformas Educacionais no Brasil a partir da década de 1970 não dizem respeito somente à implantação de novos modelos educacionais, mas também à construção de práticas e técnicas voltadas para a desarticulação política da sociedade e para a desativação dos movimentos populares. Durante os vinte e um anos de Ditadura Militar, que teve início em 31 de março de 1964 com a deposição do presidente João Goulart e fim com a eleição indireta de Tancredo Neves e José Sarney em 1985, o Brasil foi submetido a uma tentativa de anulação dos processos democráticos2. Tal tentativa fez com que, no país inteiro, as práticas coletivas de trabalho fossem impedidas de ser exercidas, de modo a garantir a ordem e o progresso da nação que deveria responder ao projeto de desenvolvimento com segurança3 do Regime Militar. Tal projeto era baseado na aliança entre os ideais da Escola Superior de Guerra, da tecnoburocracia militar, da burguesia e das empresas multinacionais, no sentido de favorecer o processo de acumulação e centralização do capital. Segundo nos aponta Ghiraldelli Jr. (2001), é a partir dessa aliança que as políticas salarial, agrícola, fiscal e educacional passaram a deixar descontentes não só as classes populares, mas também a classe média e a elite que deu apoio ao golpe militar. A Ditadura Militar, por meio de mecanismos de repressão, privatização do ensino, exclusão de parcelas das classes populares das escolas públicas de boa qualidade, tecnicismo pedagógico, desqualificação e desvalorização do magistério, por meio das legislações educacionais e institucionalização do ensino profissionalizante, tratou de sufocar as organizações da sociedade civil em torno da Educação, como fez também com vários outros segmentos sociais. O desenvolvimento econômico na Ditadura Militar dependia, segundo Ghiraldelli Jr. (2001), do aniquilamento das organizações e dos canais de participação populares capazes de interferir nas decisões governamentais. O sistema educacional, dentro da ótica da ditadura brasileira, “não deveria despertar aspirações que não pudessem ser satisfeitas”.4 Na verdade, o sistema educacional foi o locus de desenvolvimento da idéia de exploração do trabalho por meio da aplicação das Leis 5.540/68 e 5.692/71. As reformas educacionais promovidas por estas leis instituíram modos de funcionamento burocratizados e desligados das questões sociais mais amplas, dando corpo ao que conhecemos como pedagogia tecnicista. A Pedagogia Tecnicista, tendo sido introduzida a partir da base técnica de produção taylorista/fordista, era tida como o modelo de educação capaz de preparar tecnicamente profissionais para assumirem os postos nas linhas de produção, na operação de máquinas e no gerenciamento de pessoas e visava a separação do intelectual do instrumental, delimitando funções para trabalhadores e para dirigentes. De finais da década de setenta até os dias atuais, muitos trabalhadores da educação vêm lutando pela afirmação de práticas de politização, de debate, de 2 Sobre o golpe militar de 1964 e os anos de ditadura no Brasil consultar o Dicioná rio Histórico-Biográfico Bra si - lei ro (DHBB) pós1930 – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, CPDOC – Funda- ção Getúlio Vargas. 3 Ideologia da Escola Supe-rior de Guerra (ESG). 4 Palavras dos generais-presidentes da