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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Faculdade Mineira de Direito Aline Ricelli Gonçalves Andrade Anderson Silva Marques Dantas Gabriela Proença Teixeira Giovana Maria Coimbra Costa Letícia Ribeiro Valadares Mariana Fráguas Queiroga Lima Monique Soares Expósito Thalita Graziele Pereira de Souza A DOMINAÇÃO DO PADRÃO ESTÉTICO SOBRE A MULHER POR MEIO DA MÍDIA Contagem 2016 Aline Ricelli Gonçalves Andrade Anderson Silva Marques Dantas Gabriela Proença Teixeira Giovana Maria Coimbra Costa Letícia Ribeiro Valadares Mariana Fráguas Queiroga Lima Monique Soares Expósito Thalita Graziele Pereira de Souza A DOMINAÇÃO DO PADRÃO ESTÉTICO SOBRE A MULHER POR MEIO DA MÍDIA Trabalho Interdisciplinar apresentado às disciplinas do primeiro período do Curso de Direito da Unidade de Contagem, turno da noite, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Orientadora: Profa. Maria Raquel Lino Freitas Contagem 2016 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Com que frequência você se conecta à internet para se atualizar sobre moda? ....................................................................................................... GRÁFICO 2 – De que forma você se mantém atualizado sobre a moda? ......... GRÁFICO 3 – Você já fez/ faria alguma intervenção estética? ........................... GRÁFICO 4 – Quantas vezes você faz compras no shopping ou na internet? ..... GRÁFICO 5 – Você acha que a internet aumentou/ facilitou o seu acesso à moda? SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................5 2 O PAPEL DA ESTÉTICA EM DIFERENTES SOCIEDADES...................................6 3 OS DESAFIOS DO DIREITO NA REGULAMENTAÇÃO DOS ABUSOS DA PUBLICIDADE E DA CONECTIVIDADE MIDIÁTICA..............................................9 4 AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO..................................................12 5 A EVOLUÇÃO DA CULTURA, O CONCEITO DE SUPERMERCADO CULTURAL E A RESISTÊNCIA AO PADRÃO IMPOSTO PELA MÍDIA...................................15 6 ANÁLISE DA PESQUISA REALIZADA.................................................................17 7 CONCLUSÃO.........................................................................................................19 REFERÊNCIAS.......................................................................................................20 APÊNDICE – FORMULÁRIO DO QUESTIONÁRIO..............................................23 5 1 INTRODUÇÃO No âmbito do Curso de Direito da Universidade Católica de Minas Gerais foi proposto a elaboração de um trabalho cujo tema base é a conectividade. O grupo desenvolveu os impactos das mídias e das novas formas de conectividade como forma de influenciar e submeter a mulher na projeção de seus interesses. Além de discursar sobre as modificações do padrão feminino ao decorrer da história, a formação da indústria do consumo e a necessidade crescente da obtenção de produtos para a adequação e inserção na sociedade contemporânea, foi analisado também a força das conectividades com advento das mídias sociais e como isso representa os interesses da classe dominante, as definições filosóficas de beleza proposta por Platão, o padrão de belo perseguido por parte das mulheres na atualidade e os desafios do Direito em apurar os abusos da publicidade a omissão de informações o que acarreta, em grande parte dos casos, à indução do consumidor ao erro. Contudo, no decorrer do estudo sobre as formas de dominação do padrão de beleza sobre as mulheres, o grupo verificou que a internet, as novas tecnologias de informação e comunicação possibilitaram às próprias mulheres desenvolverem ou escolherem em um espaço amostral os seus próprios padrões ou vontades, indo de modo antagonista ao imposto pela classe dominante que até então, tinham enorme controle sobre as vontades femininas. 6 2 O PAPEL DA ESTÉTICA EM DIFERENTES SOCIEDADES Ao longo dos anos, e mais precisamente depois da Segunda Guerra Mundial e do surgimento das novas tecnologias, a mulher vem adquirindo direitos e mudando sua forma de atuação na sociedade. O aumento da escolaridade e independência feminina promoveu um melhor planejamento familiar, financeiro e pessoal, conquistando respeito e admiração dentro e fora de casa, estando no mercado de trabalho de forma efetiva em diversas funções. Entretanto, mulheres dessa atual sociedade são avaliadas primeiro, e principalmente, por sua aparência, e não por suas qualificações. O Historiador Georges Vigarello cita “ Nesse mundo da imagem, em que a presença física deve se impor de imediato, a beleza existe como primeiro fator de atração. ” (VIGARELLO, 2006: 157) O significado atribuído atualmente à estética foi introduzido por A.G. Baumgarten, para descrever aquilo que se chamava de "crítica do gosto". As formas femininas têm se moldado ao longo dos anos, através do desenvolvimento das civilizações e das transformações sociais. Os padrões de beleza norteiam a humanidade desde a antiguidade. A população sempre foi influenciada por algo, como deuses, mitos, esculturas, cinemas e teatros. Em tempos passados, as mulheres eram mais reconhecidas pelas suas atitudes e pelos seus valores. Quanto mais corpulenta a mulher fosse, mais bonita ela era considerada, isso porque o perfil untuoso remetia à um corpo bem nutrido e ao seu volume era atribuída uma visão de saúde e vigor. Nas representações artísticas da Antiguidade, as mulheres eram retratadas com seios fartos e quadril largo, que eram o símbolo da fertilidade. A Renascença trouxe a mulher representada na pintura, no qual os cabelos alvos, a pele clara, pescoço longo e ombros e peitos fortes eram os modelos de beleza. Já no século XIX as curvas ainda predominavam como padrão de beleza da mulher, aliadas ao espartilho, uma peça fundamental que dava uma forma de ampulheta ao corpo feminino, com a cintura bastante fina em contraste com os braços carnudos e pernas fortes. A partir dos anos 60 o corpo da mulher começou a ser mais erotizado, mais curvilíneo e à mostra. Já os anos 70 foram marcados pela antecipação de uma tendência que viria forte nas próximas décadas: a magreza. Os anos 90 foi contornado 7 pelo padrão idealizado da mulher alfa - uma mulher atlética, destemida e inteligente. A partir dos anos 2000 a busca passou a ser por um corpo mais sarado, com pernas torneadas, abdome definido e seios grandes, um corpo considerado perfeito na visão da maioria da sociedade atual. Os meios de comunicações têm imposto um estereotipado padrão de beleza feminina. Diante disso vem a cobrança para se sentir bonita, atraente, bem vista e aceita pela sociedade. A linguagem corporal é marcadora pela distinção social, que coloca o consumo alimentar, cultural e forma de apresentação – como o vestuário, higiene, cuidados com a beleza etc. – como os mais importantes modos de se distinguir dos demais indivíduos (Bourdieu, Pierre) As mulheres que ao longo dos anos vêm lutando por sua liberdade de expressão, independência financeira e plenos direitos, mostram-se hoje escravas do padrão de beleza imposto pela mídia. As cobranças que têm feito a si mesmas para atingir esse padrão, tem lhes prejudicado tanto psicologicamente, quanto fisicamente. Diante de tudo isso vem o stress, a não aceitação de seu corpo, distúrbios alimentares e psicológicos. Segundo dois grandes teóricosda comunicação, Maxwell McCombs e Donald Shaw, "A capacidade da mídia em influenciar a projeção dos acontecimentos na opinião pública confirma seu potencial na figuração da nossa realidade social." (MCCOMBS and SHAW, 1977, p.7 apud TRAQUINA, 2001, p.14) Hoje o corpo feminino vende tudo, e os meios de comunicação utilizados apresentam diariamente o glamour e o sucesso de pessoas magras e em forma em ascensão social, sem sofrer nenhum tipo de preconceito. Uma imagem de corpo e vida ideais. Ideal este que, tem gerado transtornos significantes e insatisfação para diversas mulheres. Assim como afirma o autor Zygmunt Bauman: “A sociedade de consumo consegue tornar permanente a insatisfação. ” Segundo Fischler, o corpo constitui nas sociedades contemporâneas uma conduta resultante de coerções sociais. “O padrão estético de beleza atual, perseguido pelas mulheres, é representado imageticamente pelas modelos esquálidas das passarelas e páginas de revistas segmentadas, por vezes longe de representar saúde, mas que sugerem satisfação e realização pessoal e, principalmente, aludem à eterna juventude” (BOHM, David 2004, p.19). Estes efeitos causados pela indústria do consumo na sociedade só geram mais crescimento e sucesso, porque pessoas insatisfeitas correm às lojas para 8 comprar objetos com o intuito de satisfazer seus desejos, acabar com a ansiedade e aumentar sua autoestima. Estes são prazeres que por sua vez são momentâneos devido a vida líquida como cita o autor Zygmunt Bauman “É uma vida de consumo. É uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante. Significa constante autoexame, autocrítica e autocensura. Um tipo de vida que alimenta a insatisfação do eu consigo mesmo... A vida líquida é uma sucessão de reinícios. ” Nessa sociedade moderna onde, os avanços são constantes, as modas passageiras e, a cada minuto surgem novas tecnologias, uma nova tendência, um novo modo de se apresentar à sociedade, o belo é funcionalmente permeado por questões de mercado e economia na sociedade atual. Ou seja, padrão de beleza não é um conceito estático, está em frequente variação e assim por consequência mantém o mercado econômico em constante movimento Segundo o autor Manuel Castells, “Nesse novo cenário, em que a Internet e as tecnologias da informação e comunicação assumem um papel de vanguarda, também surgem novas possibilidades de intervenção social e de novas relações econômicas. ” O discurso da mídia decorre de uma pluralidade de produtos e avanços tecnológicos a fim de aprimorar a estética e forma física. 9 3 OS DESAFIOS DO DIREITO NA REGULAMENTAÇÃO DOS ABUSOS DA PUBLICIDADEO E DA CONECTIVIDADE MIDIÁTICA Diante da frase do poeta Vinicius de Moraes “me desculpem as feias, mas beleza é fundamental”, percebe-se que continua sendo atual a discussão da beleza feminina. Isso porque a publicidade tem incentivado e promovido o culto à estética corporal, por meio da combinação entre consumo e alegria, como se consumir significasse propagar beleza e felicidade. Percebe-se que a mídia estimula o consumismo, o hedonismo e o narcisismo característicos da cultura feminina moderna: “A possibilidade de provocar o público coloca o corpo como instrumento envolvente que estimula, seduz e ajuda na persuasão midiática” (GARCIA, 2005, p.46). Perante a colisão entre os valores impostos pela internet analisa-se a publicidade dos atos processuais praticados pelos meios de comunicação. O principal deles é referente a intimidade, direito regularmente previsto no art. 5º, X, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. ” Entende-se a partir daí, que quanto maior a publicidade empregada, menos estará resguardado o direito à intimidade. A intimidade se encontra no rol dos Direitos Humanos, ao passo que a publicidade dos atos se encontra nos deveres do Judiciário. A discussão a respeito da imposição dos padrões estéticos colocados à mulher na atualidade deturpada pela publicidade, jornalismo ou entretenimento na mídia, aparecem questionamentos a respeito de uma suposta liberdade de expressão – entendida aqui como a liberdade de perpetuar estereótipos machistas por meio de chacotas e afins. Conforme o art. 37, §1º, do Código de Defesa do Consumidor, a propaganda enganosa é proibida. Artigo tal, consiste na vedação daquele que vincular informações inverídicas ou que sejam capazes de induzir em erro o consumidor. CDC - Lei nº 8.078 de 11 de Setembro de 1990 Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. 10 A propaganda abusiva é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor. Diferente da propaganda enganosa, onde existe alguma falsidade nas informações do produto ou serviço anunciado, a propaganda abusiva é reconhecida por utilizar apelos discriminatórios, violentos, que explorem o medo ou que possam induzir o consumidor a se comportar de forma perigosa ou prejudicial à sua vida. A publicidade abusiva se encontra no art. 37, §2º, do CDC, e que viola diretamente outros valores da sociedade. CDC - Lei nº 8.078 de 11 de Setembro de 1990 Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Segundo o Código de Defesa do Consumidor, este tipo de propaganda pode ser considerado enganosa por omissão de um dado essencial do produto ou serviço. Assim como a publicidade enganosa é abusiva, o puffing é uma prática exagerada que se baseia na prestação de informações de forma extravagante, a qual deve ser limitado à medida que não induz o consumidor a erro, de maneira que só é permitida quando o exagero tem caráter inofensivo. A fiscalização da publicidade é realizada não só pelos órgãos de defesa do consumidor, mas também pelo CONAR – Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária, que entre outras funções julga as denúncias sobre propagandas enganosas ou abusivas, e quando procedentes, pode até mesmo solicitar que elas deixem de ser exibidas pela mídia. Nos Estados Unidos uma iniciativa chamada “The Representation Project’’ tem o papel de analisar como a mídia mostra as mulheres. Diferentemente do Brasil que possui blogs feministas online, o qual questionam as empresas quanto aos seus anúncios prejudiciais à imagem feminina. Ocorreu em Recife no mês de fevereiro, e posteriormente em Belo Horizonte – MG, o 1º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC). Os eventos reuniram militantes de movimentos sociais, sindicais, estudantes, ativistas e cidadãos interessados no direito à comunicação. Além de discutir temas importantes sob a perspectiva da comunicação como direitos humanos, o encontro visa, essencialmente, 11 estabelecer redes e fortalecer os mais diversos movimentos em prol da comunicação, visando a capacidade de intervir na formulação de políticas públicas. Portanto no Brasil identifica-seinúmeras inciativas visando a propagação de diferentes padrões estéticos com estereótipos diversificados. Além das diversas declarações e convenções, como o evento citado acima que visa o Direito a Comunicação, destacamos também a Convenção de Belém do Pará (1994), “Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher”. Estão presentes nela artigos como, artigo 8º, que ressalta o dever do Estado de incentivar os meios de comunicação a formular diretrizes adequadas de divulgação que contribuam para a erradicação da violência em todas as suas formas e enalteçam o respeito pela dignidade da mulher. 12 4 AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO Diversas inovações ocorreram nos séculos XX e XXI entre elas a padronização do consumo a partir do Ocidente, mas integrando-a com maior força a partir do Oriente, com o baixo custo dos bens de consumo produzidos em larga escala. Segundo Ferguson, “é um dos maiores paradoxos da história moderna: que um sistema econômico projetado para oferecer escolha infinita ao indivíduo tenha terminado homogeneizando a humanidade”. No pós Segunda Guerra, o consumo se tornou um fenômeno das massas, diminuindo as diferenças das vestimentas entre as classes sociais. Antes da guerra, as roupas eram feitas sob medida, mas o lucro com milhões de uniformes incentivou a padronização. As medidas padronizadas permitiram que não só os uniformes, como também roupas do dia a dia, fossem produzidos em larga escala e vendidas quase imediatamente Dessa forma a sociedade de consumo forneceu um modelo a ser seguido e um mercado mundial para seus produtos baratos. Que o consumo em massa, com toda a padronização que isso implicava, pudesse de alguma forma ser conciliado com o individualismo extremo foi um dos truques mais inteligentes já realizados pela Civilização Ocidental ( Ferguson, Niall (2012: 281). Para Horkheimer e Thompson, o desenvolvimento da indústria cultural faz parte de um processo de crescimento nas sociedades. Tal processo faz com que os indivíduos se tornem menos capazes de serem independente e sempre mais dependente dos processos sociais. Em vez de fazer com que esses indivíduos tenham seu próprio pensamento, sua individualidade, esse novo universo faz com que os indivíduos consumam bens padronizados. Atualmente a maior parte da população mundial acessa qualquer tipo de informação, seja através de televisão, internet, ou outro meio de comunicação. Essa facilidade pode ser caracterizada como uma consequência da globalização. Nesta sociedade o que se configura determinante para a existência do homem, é sua imagem. Passado por um processo sócio histórico, o homem, com a invenção de tantos recursos visuais se tornou um ser de aparências, no qual a visibilidade dá ao indivíduo o certificado de que o mesmo existe, sendo este proporcionado pela mídia. (Kehl, Maria Rita 2004) Sendo assim, o reconhecimento pelo outro dá ao indivíduo status, tirando o mesmo do anonimato. O surgimento da televisão e do computador, junto com as possibilidades formadas, foi o que permitiu a existência por meio da imagem. 13 Segundo Debord (1998), a sociedade passou por duas fases distintas: Na primeira para SER era preciso TER, e na segunda que se trata da contemporaneidade, em que é preciso TER para PARECER, e isso nada mais é do que uma forma de dominação da economia capitalista. Entretanto, a dominação pela economia já está consolidada e surge a dominação pela imagem, onde a mídia é a soma dos poderes políticos e econômicos. É a mídia quem dita o que se precisa possuir e consumir enquanto organiza o tempo e a diversão social. Para Calligaris (2007), “a invisibilidade é mais intolerável do que a prisão”. Isso se deve porque a urgência do “ter” e do “possuir”, é característica principal da atual sociedade. A partir do momento que a pessoa sente a necessidade por um objeto, ela é pressionada a consumir, independentemente da sua verdadeira necessidade, formando uma necessidade ilusória, ou seja, o que é consumido não é necessariamente o que ele precisava para sua sobrevivência como homem, mas para sua sobrevivência em dado na sociedade. “Platão entende que o belo é semelhante à justiça e a virtude, ou seja, o admirável é apenas um ideal pelo qual o ser humano deveria buscar e alcançar em suas atividades. (CONTERATO, 2010, p.1) ”. Para Platão, a beleza não é uma propriedade específica externa, e sim na essência de cada objeto. A beleza se caracteriza pela atração ao submeter, sentimentalizar os anseios da alma humana, sendo aquilo que não só se faz aparecer, mas sim, toda sua totalidade harmônica interior, caracterizando assim o belo. Porém, com advento das mídias e a conectividade mostrou-se como em grande parte as informações passadas por estes mecanismos de comunicação poderiam estruturar e representar os interesses da classe dominante, no livro da Chauí (2006), Simulacro e Poder, é feito uma análise profunda como o processo midiático pode intervir nas concepções individuais. O próprio Marx (1997 apud ANDRADE, 2007) afirmou que o valor de uso do objeto atua como suporte material da riqueza e do valor de troca. Em uma sociedade em que a aparência trabalhada se transformou em obrigação para aceitação social, o valor de uso passou a ser programável e devidamente veiculado pelos meios de comunicação, numa estratégia para conquistar o consumidor e estimular o consumo. (Chauí, Marilena, Simulacro e Poder, 2006) “Desejos são estimulados para que a “produção” passe a ser imediatamente consumo” (MARX, 1974). A partir dessa afirmação de Marx é possível afirmar que, as mulheres são alvos constantes do sistema de consumo incorporado às conectividades 14 e mídias, que expõem modelos bem-sucedidos e corpos “esteticamente perfeitos ou saudáveis”, constantemente num fluxo de informações cada vez mais acessível e constante. Vê se então nas intervenções cirúrgicas e na utilização de cosméticos e derivados estéticos como as soluções aos problemas gerados pelo próprio sistema – tais como, o corpo ideal -, até que surjam novas necessidades estéticas a serem sanadas. “Tanto para Bárbara Assis, mestranda em Filosofia, quanto Maria José Figueira, psicóloga, a beleza é subjetiva, e está nos olhos de quem a vê. ” (TALLMANN, 2013, S.P). ” Partindo-se desta afirmação, conclui-se que há eventos de resistência ao grande capital e às grandes mídias dominadoras, tais como: televisão e o cinema. A conectividade social -principalmente as redes sociais- têm agregado diversas culturas e estilos de vidas diferentes daqueles propostos pelas grandes mídias, além de tudo, a rede social é um local onde os internautas podem escolher dentro da disponibilidade em sua rede aquilo que melhor o satisfaça. 15 5 A EVOLUÇÃO DA CULTURA, O CONCEITO DE SUPERMERCADO CULTURAL E A RESISTENCIA AO PADRÃO IMPOSTO PELA MÍDIA A cultura é entendida como todo e qualquer tipo de conhecimento produzido na sociedade, dos quais são passados de geração a geração. Sendo assim, o corpo é um meio de interação com a cultura, portanto pode-se afirmar que o corpo é cultural. O corpo é o meio pelo qual as pessoas se expressam, sendo o reflexo da sociedade na qual está inserido. Com o passar do tempo e o advento da modernidade, o conceito do corpo passou a ser visto sobre os aspectos estéticos, abrindo espaço para o chamado padrão estético ou padrão de beleza. Esse padrão foi se modificando com o decorrer dos anos, tornando a forma corporal um dos aspectos centrais das interações sociais. Nos últimos anos, com a chegada dos diversos tipos de meios de comunicação, a busca pelo corpo perfeito foi crescendo. Os meios de comunicação, como as revistas e amídia abordam cada vez mais em suas propagandas, produtos da linha de estética, como cirurgia plásticas, academias, suplementos, entre outros, tendo muitas vezes a imagem famosos com corpo esbelto nas propagandas, para que assim haja uma maior quantidade de credibilidade aos telespectadores que buscam resultados satisfatórios. Por ser uma sociedade consumista, acaba-se consumindo para ficar com o mesmo padrão de corpo que se é vinculado. O poder de persuasão que a mídia exerce sobre a mulher faz com que estas procurem um corpo ideal, gerando assim preocupações crescentes com o corpo perfeito provocadas pelo padrão de beleza difundido pelos meios de comunicação de massa, ou seja a mídia utiliza-se deste contexto tornando o corpo produto de consumo e transforma a saúde em sinônimo de beleza. A imagem corporal da mulher vem se modificando ao longo dos anos, e de acordo com a entrevista dada pela Antropóloga Paula Sibilia, no portal UOL, No pavor da carne, em 16 de Janeiro de 2007: ‘‘Em meados do século XX, as mensagens publicitárias afirmavam que toda mulher podia ser bela. Hoje em dia, toda mulher deve ser bela, magra e jovem, e cada vez mais, todo homem deve ser belo, magro e jovem’’. Devido a essa imposição e influencia gerada pela mídia, muitas pessoas, sobretudo mulheres, buscam várias formas para transformar o físico, almejando a perfeição corporal de acordo com os padrões impostos também pela sociedade. Isso tem trazido à tona problemas de saúde, mortes, a busca por clinicas clandestinas, transtornos 16 alimentares cada vez mais alarmantes na sociedade, entre outros. As pessoas põem suas vidas em risco, tudo pela busca exacerbada pela aparência, tornando o corpo um objeto, algo moldável, fermentado pela pressão social. Pode-se atribuir aos meios de comunicação, incluindo a internet, tanto aspectos benéficos quanto maléficos. A estrutura do supermercado cultural em sua vasta intangibilidade é mais parecida com uma enorme biblioteca que com uma mercearia, está mais para a internet do que para um mapa mundi. Para o supermercado cultural não se precisa necessariamente de dinheiro para consumir. (Mathews, Gordon - Cultura Global e Identidade Individual, 2002, p 53) Gordon também diz que os meios de comunicação trazem novas possibilidades de identidade. Todo material para o supermercado cultural pode oferecer uma base para a construção de identidade cultural de uma pessoa. A partir do supermercado cultural, as mulheres possuem a opção e liberdade de escolherem o que querem a partir de uma variedade limitada de opções. Já Lúcia Santaella vem para dizer que os meios de comunicação são heterogêneos devido ao aumento de fragmentação da informação. Pode-se citar também a escola de Frankfurt, onde Santaella fala sobre a Cultura de massas, Cultura das mídias e Ciber cultura. Cultura de massas é tudo aquilo que é produzido com objetivo de atingir a massa popular, e que são disseminados pelos veículos de comunicação de massa. Cultura das mídias são os equipamentos que permitem que as pessoas personalizem o conteúdo que vem da cultura de massa, como as câmeras de vídeo e o VHS. Ciber cultura é a cultura que surgiu, a partir do uso da rede e computadores através da comunicação virtual, a indústria do entretenimento e o comercio eletrônico. A partir dos anos 70 e os anos 80, alguma coisa estava acontecendo, que iria colocar em crise a hegemonia da cultura de massas. Antes dos anos 70 pequenos aparelhos começaram a aparecer, funcionando como pequenos vírus, que estavam minando o caráter hegemônico, dominante, agigantado o poder da cultura de massas. Essas inovações eram as chamadas cultura das mídias, devido ao fato da multiplicação de TVs a cabo, personalização da informação e comunicação, culturas separadas, mas que começaram a penetrar no ambiente doméstico. Onde o receptor começava a escolher a informação e entretenimento que o mesmo quer, preparando assim o terreno para a ciber cultura. Mas quer dizer que a cultura de massas e a cultura da mídia desapareceram. (Santaella, Lúcia, Cultura das Mídias e Educação) Com a chegada da ciber cultura as mulheres possuem a opção de escolher nas mídias sociais informações que queiram receber e o que gostariam de ver. Assim muitas são capazes de escolher e desenvolver um padrão estético de acordo com o seu gosto, tendo uma resistência ou indo contra os padrões estéticos exibidos pela mídia e pela sociedade. 17 6 ANÁLISE DA PESQUISA REALIZADA Com o intuito de enriquecer o estudo apresentado foi realizado uma pesquisa com alunas do campus Contagem da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, com idades entre dezoito e trinta anos. A seguinte pesquisa nos permitiu dimensionar o impacto e influencia que as mídias têm sobre a população feminina quando se trata dos padrões estéticos. Os resultados alcançados foram analisados e organizados em gráficos. Gráfico 1 Gráfico 2 1 vez por mês7% 1 vez a cada quinze dias… 1 vez por semana33%1 vez por dia27% 2 ou mais vezes por dia13% COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ SE CONECTA À INTERNET PARA SE ATUALIAZAR SOBRE MODA? Amigos13% Revistas6% Televisão6% Blogs23%Sites16% Redes Sociais36% Outros0% DE QUE FORMA VOCÊ SE MANTÉM ATUALIZADO SOBRE A MODA? 18 Gráfico 3 Gráfico 4 Gráfico 5 NÃO13% SIM87% VOCÊ JÁ FEZ/ FARIA ALGUMA INTERVENÇÃO ESTÉTICA? 1 vez por mês46% 1 vez a cada quinze dias40% 1 vez por semana7% Outros7% QUANTAS VEZES VOCÊ FAZ CONPRAS NOSHOPPING OU NA INTERNET? SIM93% NÃO7% VOCÊ ACHA QUE A INTERNET AUMENTOU/FACILITOU O SEU ACESSO À MODA? 19 7 CONCLUSÃO Pela observação dos aspectos analisados somos levados a acreditar que é de suma necessidade a democratização da comunicação e encontrar mecanismos legais para que as mulheres não apareçam na mídia apenas como objetos, e que possibilitem a reação a esses ataques simbólicos nos mesmos meios em que eles são feitos. Também é necessária maior atenção a esse espaço que é dominado por uma liberdade comercial, e que muitas vezes mostra as mulheres em condições limitadoras. É imprescindível também, entendermos que a ação não deve ocorrer apenas por meio de políticas públicas, mas judicialmente, para impedir que seja incentivado um ideal de beleza excludente que atua no controle dos padrões estéticos e restringem a vida das mulheres. 20 REFERÊNCIAS ANDRADE, Vanessa Batista de. Estética da mercadoria e obsolescência: um estudo da indução ao consumo no capitalismo atual. 2007. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2007. BACCEGA, Maria Aparecida. Introdução – Consumo e identidade: leituras e marcas. In. BACCEGA, Maria Aparecida (Org.). Comunicação e culturas do consumo. São Paulo: Atlas, 2008 BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. O estudo do consumo nas ciências sociais contemporâneas. In. BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, Consumo e Identidade. Rio de Janeiro: FGV, 2006. BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edições 70, 2010. Bauman, Zygmunt. Vida líquida – Zahar 2005 BOHM, Camila Camacho. Um peso, uma medida. O padrão de beleza feminina apresentado por três revistas brasileiras. São Paulo: Uniban, 2004. 100p. Castells, Manuel. A sociedade em rede - São Paulo 2000. Comunicação midiática e educação na cibercultura Mediatic communication and education in cyberculture Antonio Francisco Magnoni[a], Daniele Fernandes CORPO, MÍDIA E STATUS SOCIAL: reflexões sobre os padrões de beleza Body, media and social status: reflection about esthetic patterns Gisele Flor, Jornalista, especialista em Design de Multimídia e Mestranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista, São Paulo http://observatoriodaimprensa.com.br/diretorio-academico/_ed794_o_padrao_de_beleza_imposto_pela_midia/http://observatoriodaimprensa.com.br/diretorio-academico/_ed794_o_padrao_de_beleza_imposto_pela_midia/ [acessado em 14/05/2016] http://www.vilamulher.com.br/beleza/corpo/o-corpo-da-mulher-ao-longo-dos-seculos-2-1-13-904.html [acessado em 14/05/2016] 21 http://blogueirasfeministas.com/2014/03/a-ditadura-do-corpo-ideal-e-o-preconceito-velado/ [acessado em 14/05/2016] http://www.cafecomsociologia.com/2010/05/influencia-da-midia-sobre-os-padroes-de.html [acessado em 14/05/2016] https://projetoredacao.com.br/temas-de-redacao/padrao-de-beleza-e-sociedade/influencia-da-midia-nos-padroes-de-beleza/1513 [acessado em 14/05/2016] https://prezi.com/wgbiae3vqipw/o-corpo-e-o-conjunto-das-representacoes-e-praticas-sobre/ [acessado em 14/05/2016] http://www.espm.br/download/Anais_Comunicon_2014/gts/gt_seis/GT06_MARIA_CORREIA.pdf [acessado em 14/05/2016] http://www.faculdadealfredonasser.edu.br/files/pesquisa/Influ%C3%AAncia%20da%20m%C3%ADdia%20na%20est%C3%A9tica.pdf [acessado em 14/05/2016] http://www.ifd.com.br/publicidade-e- propaganda/os-limites- da-publicidade- perante-o-codigo-de- defesa-do- consumidor/ [acessado em 15/05/2016] http://docplayer.com.br/4066308-Beleza-%20feminina-e-%20publicidade-um-%20estudo-sobre-%20as-campanhas-da-%20marca-dove-%201.html acessado em 15/05/2016] http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11888 [acessado em 16/05/2016] http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/7275-19586- 1-sm.pdf [acessado em 17/05/2016] http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11909 [acessado em 17/05/2016] http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra- que/a-representacao- da-mulher- na-midia-e- em-produtos- 7011.html [acessado em 17/05/2016] http://www.teoriaedebate.org.br/estantes/livros/imagem-da-mulher-na-midia-controle-social-comparado [acessado em 17/05/2016] https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2014/04/07/revolucao-industrial-e-sociedade-de-consumo-em-massa/ [acessado em 11/05/2016] https://psicologado.com/psicologia-geral/consumo-e-identidade-reflexao-sobre-a-industria-cultural-e-sua-influencia-no-cotidiano [acessado em 18/05/2016] http://pt.slideshare.net/Alexandre66/mdia-28768231 [acessado em 12/05/2016] http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/comunicacao?dd1=3635 [acessado em 13/05/2016] 22 http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/comunicacao?dd1=3635&dd99=view&dd98=pb"& [acessado em 19/05/2016] http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/comunicacao?dd1=3635&dd99=view&dd98=pb"dd99=view [acessado em 17/05/2016] http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/comunicacao?dd1=3635&dd99=view&dd98=pb"& [acessado em 20/05/2016] http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/comunicacao?dd1=3635&dd99=view&dd98=pb"dd98=pb [acessado em 21/05/2016] http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/3307/3058 [acessado em 20/05/16] 23 APÊNDICE – Questionário aplicado às alunas da PUC MG campus Contagem - A INTERNET NA MODA ATUAL NOME IDADE COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ SE CONECTA À INTERNET PARA SE ATUALIAZAR SOBRE MODA? 1 vez por mês ( ) 1 vez a cada quinze dias ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por dia ( ) 2 ou mais vezes por dia ( ) DE QUE FORMA VOCÊ SE MANTÉM ATUALIZADO SOBRE A MODA? Amigos ( ) Revistas ( ) Televisão ( ) Blogs ( ) Sites ( ) Redes Sociais ( ) Outros VOCÊ JÁ FEZ/ FARIA ALGUMA INTERVENÇÃO ESTÉTICA? NÃO ( ) SIM ( ) QUAL QUANTAS VEZES VOCÊ FAZ CONPRAS NO SHOPPING OU NA INTERNET? 1 vez por mês ( ) 1 vez a cada quinze dias ( ) 1 vez por semana ( ) Outros VOCÊ ACHA QUE A INTERNET AUMENTOU/FACILITOU O SEU ACESSO À MODA? SIM ( ) NÃO ( ) 24
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