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Resenha Narradores de Javé

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Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ
Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas-CCJE
Faculdade de Administração e Ciências Contábeis-FACC
Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação-CBG
Resenha
Filme: “Narradores de Javé”
Rio de Janeiro
	2013							
Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ
Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas-CCJE
Faculdade de Administração e Ciências Contábeis-FACC
Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação-CBG
Narradores de Javé: uma observação com base em vivências para relembrar lembranças coletivas e individuais de um povo
Aline Rodrigues Ferreira
Graduanda em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação
aline-flower16@hotmail.com
 Narradores de Javé é um filme brasileiro lançado no ano de 2003, com a direção Eliane Caffé. O gênero principal abordado na trama é o drama, mas há uma mescla com comédia também. Ele relata a história de uma pequena cidade chamada Vale do Javé, onde os moradores sofrem um dilema existêncial, pois foi noticiada a construção de uma represa que prejudicaria a cidade com uma inundação. Em função disto, um medo se dissipou entre a população de forma alarmante, porque eles poderiam perder suas casas. Com isso, os moradores se reuniram na igreja para debater sobre o destino da cidade.
 A única saída para esse obstáculo real, é a cidade ter um legado histórico e verídico, onde seria inviável a construção desta usina. Os moradores idealizaram a elaboração de um documento com os principais acontecimentos do passado. A composição deste documento acarretou inicialmente uma breve discussão, pois quem escreveria o documento numa população analfabeta? A única saída foi requisitar o auxílio de um ex-carteiro. Mas, para que isso acontecesse, foi preciso uma aceitação quase forçada do povoado, pois ele era rejeitado pela cidade, pois em outros momentos ter escreveu e inventou mentiras e difamações a respeito dos moradores nas suas cartas. Mas, como não foi visto outra solução, ele ficou responsável pela construção deste documento.
 A leitura e escrita é extremamente valorizada neste filme, pois logo no início temos uma senhora no balcão semi analfabeta lendo um livro e tão envolvida com a leitura, que enquanto o rapaz pede água ela esquece de atendê-lo, a leitura e escrita nesta narrativa é tão importante que foi colocada como a salvação da cidade ameçada nas mãos de um homem rejeitado por todos.
 “Uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito, o acontecido tem que ser melhorado no escrito” foi o comentário de Antônio Biá. Em decorrência disto, podemos perceber a importância do registro das histórias de um povo, para atuar como auxílio da memória coletiva, uma vez que cada um pensa de uma forma e acredita ter a posse da verdade, por isso é difícil reunir histórias que estão espalhadas na cabeça dos moradores.
 Observando os aspectos da memória sob vários pontos de vista como uma totalidade para a composição deste presente trabalho, podemos associar vários conceitos ao filme Narradores de Javé. Segundo Gondar (2005, p.21), “a memória coletiva é um livro que admite a multiplicidade de tempos e de memórias.” Dentre as histórias ouvidas por Antônio Biá, temos a citação de uma mulher que diz “o pessoal era gente fugida de guerra” e outra pessoa rebate “fugida não, eles saíram em retirada”, isto explica o fenômeno da multiplicidade pois são visões diferentes de um mesmo fato. Além disso cada um fala com uma certeza de que é válido o que eles estão proferindo, pois a memória tem esse poder de assegurar a posse da verdade na mente de cada um.
 O ato que foi imposto à Antônio Biá é basicamente criar a história através da memória do povo de Javé e reconstruir o passado com base em quadros sociais bem definidos e delimitados. (FOUCAULT apud GONDAR, 2005, p.16). Em algumas situações, Biá queria modificar a construção da história, acrescentando ou encobrindo fatos, havia uma intencionalidade direta ou indireta por parte dele e dos moradores em exaltar alguns fatos e relativizar outros.
 Esse documento de caráter científico é o instrumento que Biá utiliza para criar a história de Javé, enquanto a organização e seleção dos fatos relatados pelos moradores faz parte da memória. Todo documento que existe ou que será criado tem fatores que tornam-o mais importante do que outro, pois varia no tempo e no espaço em que eles se encaixam (KARNAL, 2009, p.21). O fator principal que vemos no filme é a questão da implantação da usina, que implicou em tomadas de decisões dos moradores para que não fosse cumprido este projeto.
 Segundo Oliveira (2012, p.28), “ a evocação da memória está vinculada a um tempo presente; mesmo remetendo a uma lembrança do passado, é a necessidade presente que norteia a evocação memorialística.” Como foi dito antes, o fator de implementar a usina provocou a necessidade dos moradores rememorarem ou evocarem suas memórias individuais sobre o passado, com o objetivo de solucionar questões do presente. Isto é,
O que chamamos de memória é uma rede complexa de atividades, cujo estudo mostra que o passado nunca permanece uno e idêntico a si, mas é constantemente selecionado, filtrado e reestruturado por questões e necessidades do presente, tanto no nível individual quanto no social. (JEDLOWSKI, 2005, p.87).
 Enquanto a saga de Antônio Biá para ouvir as histórias de cada morador continua, com o intuito de compor o dossiê, podemos perceber que cada um possui uma visão crítica e analítica sobre o mesmo fato, e a maioria lembra detalhadamente cada caso e sua progressividade com relação ao tempo. Com base nisto, reporto-me às Confissões de Agostinho, que nos diz sobre a força retentiva da memória, que é a capacidade de conservar e recordar as imagens e sensações recebidas no mundo ao longo do tempo. (Agostinho, De trinitate, X, p.11-18).
 O ato de rememorar nesse filme nos mostra um senso de urgência e de relevância, pois é por uma finalidade extraordinária: salvar a cidade antes da destruição. Segundo Huyssen (2000, p.35.), “agora nós precisamos mais de rememoração produtiva, do que de esquecimento produtivo.” O que a cidade está fazendo é rememorar de forma produtiva e detalhada os fatos, deixando de lado o esquecimento, pois nesse caso não ajudaria, só atrapalharia e retardaria a construção do documento.
 Para Gondar (2005, p.23), “o campo da memória é o campo das representações coletivas.” É notável este conceito em uma cena onde irmãos gêmeos estão tentando lembrar da família e os antepassados, mostrando fotos dos pais, do casamento e outros acontecimentos. Eles tentavam impor um ao outro e as pessoas presentes que eles não eram filhos do mesmo pai. A partir desta consideração, podemos destacar que
Nas lutas de representações tenta-se impor a outro ou ao mesmo grupo
sua concepção de mundo social: conflitos que são tão importantes quantos
as lutas econômicas; são tão decisivos quanto menos imediatamente
materiais (BORDIEU, 1990, p.17).
 Essas representações são relativas ao passado onde a cidade está produzindo, institucionalizando (por meio do documento), cuidando e transmitindo narrativas com atitudes, interações e união conjunta. É possível direcionar este argumento em um foco duplo, tanto no conteúdo, que são os eventos históricos, e de valor cultural vividos pelos moradores, gerando processos onde o passado de cada um está sendo selecionado em critérios variados, como consensuais ou conflitantes. (JEDLOWSKI, 2005, p.87-88).
 Portanto, o campo da memória é altamente amplo e aplicável em todos os ambientes. A questão intrínseca nesse meio são identidades e raízes culturais, onde percebe-se a importância de evocar o passado, para manter o presente e preservar o futuro. 
A preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural é necessária, pois esse patrimônio é o testemunho vivo da herança cultural de gerações passadas que exerce papel fundamental no momento presente e se projetapara o futuro, transmitindo às gerações por vir as referências de um tempo e de um espaço singulares, que jamais serão revividos, mas revisitados, criando a consciência da intercomunicabilidade da história. (MAIA, 2003, p.1).
Embora Javé tenha buscado o registro para que suas memórias não ficassem submersas, evidencia uma sociedade que se desvanece, em sua cultura, história e tradição em detrimento do progresso, do avanço tecnológico. Dessa forma, os moradores aprenderam que a grande história está nas pequenas histórias das pessoas, onde o que importa é o que cada um leva consigo, pois o que cada um fizer pode modificar a realidade e a si próprio, interferindo no mundo natural, onde o indivíduo participa, e cria um mundo cultural. (REISEWITZ, 2004). 
Referências
AGOSTINHO, Santo. Confissões: De magistro. São Paulo: Nova Cultural, 1987. (Confissões X – p. 176-185).
BOURDIEU, Pierre. O conceito de representações coletivas segundo Roger Chartier. Disponível em: <http://www.sc.senac.br/biblioteca/>. Acesso em: 19 set 2013.
GONDAR, Jô. Quatro proposições sobre memória social. In: DODEBEI, Vera; GONDAR, Jô (Org.) O que é memória social? Rio de Janeiro: Contra Capa/Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005.
HUYSSEN, Andreas. Passados presentes: mídia, política, amnésia. In: _____. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000. (p. 9-40).
JEDLOWSKI, Paolo. Memória e mídia: uma perspectiva sociológica. In: SÁ, Celso Pereira de (org.). Memória, imaginário e representações sociais. Rio de Janeiro: Museu da República, 2005. (p. 87-98).
KARNAL, Leandro; TATSCH, Flávia Galli. A memória evanescente. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de (orgs.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. (p.9-28).
MAIA, Felícia Assmar. Direito à memória: o patrimônio histórico, artístico e cultural e o poder econômico. Disponível em: <www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/214.pdf‎>. Acesso em: 22 de nov. 2013.
NARRADORES de Javé. Direção: Eliane Caffé. Rio de Janeiro: Bananeira Filmes/ Gullane Filmes / Laterit Productions, 2003.
OLIVEIRA, Antonio José Barbosa de. Multiplicidade de sentidos para a construção de um conceito de memória social. In: PINTO, Diana de Souza; FARIAS, Francisco Ramos de (orgs.). Novos apontamentos em memória social. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012.
REISEWITZ, Caio. Memória da educação escolar no Brasil Contemporâneo. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/Artigo/Imprimir/50737>. Acesso em: 22 de nov. 2013.

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