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CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT ALINE FERREIRA MARINHO DA SILVA CLEBERSON CARLOS FERREIRA DA SILVA LUCAS MIGUEL FORCINETTI MARCELO MARTINATTI RAYANE ELIZABETH FACINCANI PLANALTOS E SERRAS DO ATLÂNTICO LESTE E SUDESTE: Atuação dos processos geológicos e geomorfológicos na evolução das serras do Mar e da Mantiqueira. Santos 2014 ALINE FERREIRA MARINHO DA SILVA CLEBERSON CARLOS FERREIRA DA SILVA LUCAS MIGUEL FORCINETTI MARCELO MARTINATTI RAYANE ELIZABETH FACINCANI PLANALTOS E SERRAS DO ATLÂNTICO LESTE E SUDESTE: Atuação dos processos geológicos e geomorfológicos na evolução das serras do Mar e da Mantiqueira. Trabalho apresentado ao Centro Universitário Monte Serrat como exigência para a disciplina “Projeto Integrador IV”, integrada ao curso de graduação em Geologia. Orientadora: Samara Cazzoli Y Goya Santos 2014 Facincani, Rayane Elizabeth; Forcinetti, Lucas Miguel; Martinatti, Marcelo; Silva, Aline Ferreira Marinho da; Silva, Cleberson Carlos Ferreira da. Planaltos e Serras do Atlântico Leste e Sudeste: Atuação dos processos geológicos e geomorfológicos na evolução das serras do Mar e da Mantiqueira. / Facincani, Rayane Elizabeth; Forcinetti, Lucas Miguel; Martinatti, Marcelo; Silva, Aline Ferreira Marinho da; Silva, Cleberson Carlos Ferreira da. – Santos : [s.n], 2014. 30 f.: il. color. Orientadora: Samara Cazzoli Y Goya. Trabalho de Projeto Integrador IV - Centro Universitário Monte Serrat, Curso de Graduação em Geologia. 1. Relevo brasileiro. 2. Cinturão orogênico. 3. Serra do Mar. 4. Serra da Mantiqueira. ERRATA FACINCANI, R. E.; FORCINETTI, L. M.; MARTINATTI, M.; SILVA; A. F. M.; SILVA, C. C. F. Planaltos e serras do Atlântico leste e sudeste: Atuação dos processos geológicos e geomorfológicos evolução das serras do Mar e Mantiqueira. 2014. 71 f. Trabalho da disciplina “Projeto Integrador IV” (Curso de graduação em Geologia) – Centro Universitário Monte Serrat, Santos, 2014. Folha Linha Onde se lê Leia-se RESUMO 5 [...] Pré-Cambriana da Província Mantiqueira, [...] [...] Pré-Cambriana das províncias estruturais Mantiqueira, São Francisco e Tocantins, [...] ABSTRACT 4 [...] Pre-Cambrian age of the Mantiqueira Province, [...] [...] Pre-Cambrian age of the Structural Provinces Mantiqueira, São Francisco and Tocantins, [...] LISTA DE FIGURAS 5 Figura 3 – etRelevo da [...] Figura 3 – Relevo da [...] 14 19 Este conjunto, composto pelas serras do Mar e da Mantiqueira [...] Este conjunto, onde se inserem as serras do Mar e da Mantiqueira [...] 15 10 [...] também denominada por Superfície Sul- Americana [...] [...] também denominada Superfície Sul-Americana [...] 17 3 Figura 3 – etRelevo da [...] Figura 3 – Relevo da [...] 21 4 [...] uma prova de que Serra do Mar esteve [...] [...] uma prova de que a Serra do Mar esteve [...] 21 26 [...] horsts [...] [...] horsts [...] 22 2 [...] Gráben da Guanabara, [...] [...] Graben da Guanabara, [...] 25 6 […] Campos do Jordao) […] […] Campos do Jordão) […] 25 13 [...] (também caracterizado por uma série de cristas alongadas controladas por falhas) [...] (também caracterizado por uma série de cristas alongadas controladas por falhas). 29 16 [...](HASUI et al., 2012; KEAREY et al., 2014) [...](HASUI et al., 2012; KEAREY et al., 2014). 32 1 [...] oceanos do Neoproterozóico [...] [...] oceanos do Neoproterozoico [...] 34 3 […] compreendem rochas […] […] compreende rochas […] 34 13 [...] neoproterozóico [...] [...] neoproterozoico [...] 37 7 […] terrenos neoproterozóicos […] […] terrenos Neoproterozoicos […] 40 1 Em função das suas características […] Em função das características […] 45 16 [...] neoproterozóicos [...] [...] neoproterozoicos [...] 45 18 […] metassedimentos neoproterozóicos […] […] metassedimentos Neoproterozoicos […] 46 19 [...] neoproterozóicos [...] [...] neoproterozoicos [...] 51 13 [...] horsts [...] [...] horsts [...] 52 1 [...] neoproterozóico [...] [...] neoproterozoico [...] 53 14 [...] neoproterozóico [...] [...] neoproterozoico [...] 56 17 [...] Eopaleozóico [...] [...] Eopaleozoico [...] 56 18 [...] Proterozóico [...] [...] proterozoico [...] 56 20 [...] Neoproterozóicos à cambiano [...] [...] Neoproterozoicos a cambrianos [...] 56 24 [...] neoproterozóico [...] [...] neoproterozoico [...] 58 9 [...] Bizzi et al (2003). [...] [...] Bizzi et al. (2003). [...] 58 14 [...] juntamente á sedimentação [...] [...] juntamente à sedimentação [...] 58 20 [...] Bizzi et al (2003). [...] [...] Bizzi et al. (2003). [...] 58 21 [...] neoproterozóico [...] [...] neoproterozoico [...] 60 1 [...] strata-bound [...] [...] strata-bound [...] 61 22 [...] Neoproterozóico [...] [...] Neoproterozoico [...] ALINE FERREIRA MARINHO DA SILVA CLEBERSON CARLOS FERREIRA DA SILVA LUCAS MIGUEL FORCINETTI MARCELO MARTINATTI RAYANE ELIZABETH FACINCANI PLANALTOS E SERRAS DO ATLÂNTICO LESTE E SUDESTE: Atuação dos processos geológicos e geomorfológicos na evolução das serras do Mar e da Mantiqueira. Trabalho apresentado ao Centro Universitário Monte Serrat como exigência para a disciplina “Projeto Integrador IV”, integrada ao curso de graduação em Geologia. Orientadora: Samara Cazzoli Y Goya EXAMINADORES: Nome do examinador: Titulação: Instituição: Nome do examinador: Titulação: Instituição: Centro Universitário Monte Serrat Data da aprovação: _____/_____/______ RESUMO A denominação de Planaltos e Serras do Atlântico Leste e Sudeste é uma classificação de relevo baseada na geomorfologia e abrange uma região que se estende desde a Bahia até Santa Catarina. Esse relevo é sustentado por rochas cristalinas de idade Pré-Cambriana da Província Mantiqueira, estruturada durante o Ciclo Brasiliano, e moldado por diversos processos endógenos e exógenos erosivos ao longo dos últimos milhões de anos. Devido a grande extensão da área de estudo, foi dado enfoque apenas às Serras do Mar e da Mantiqueira. A Serra do Mar destaca-se ao longo do litoral entre os estados do Rio de Janeiro e de Santa Catarina. Adentrando para o interior, a Serra da Mantiqueira se localiza na divisa entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Ambas são alongadas paralelamente na direção ENE e constituem um relevo montanhoso na borda atlântica da América do Sul. O entendimento da evolução geológica e da geomorfologia das Serras do Mar e da Mantiqueira tem importância científica e econômica, pois nessa região há grande abundância de recursos minerais. Palavras-chave: Relevo brasileiro. Cinturão orogênico. Serra do Mar. Serra da Mantiqueira. ABSTRACT The naming of Plateaus and Mountains of Atlantic Eastern-Southeast is a landscape classification based on geomorphology and covers a region stretching from Bahia to Santa Catarina. This rocky substrata is composed of crystalline rocks from the Pre- Cambrian age of the Mantiqueira Province, which was structured during the Brasiliano Cycle, and shaped by endogenous and exogenous processes of erosion throughout the past million years.As this area of study is very brood, this work is restricted to Serra do Mar and Mantiqueira. Serra do Mar stretches along the coast from the state of Rio de Janeiro to Santa Catarina. Serra da Mantiqueira is located inland on the border of the states of São Paulo, Minas Gerais and Rio de Janeiro. Both Serra do Mar and Mantiqueira follow the ENE direction with mountainous landscape on the Atlantic edge of South America. The understanding of the geologic evolution and geomorphology of both Serra do Mar and Mantiqueira have scientific and economic importance, because this region is rich in mineral resources. Keywords: Brazil’s landscape. Orogenic belt. Serra do Mar. Serra da Mantiqueira. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Unidades do Relevo Brasileiro. ................................................................. 11 Figura 2 – Deformação geral da Superfície Japi, conforme evidenciado pelo nivelamento geral do relevo, entre Campinas e o alto da Serra da Mantiqueira. ...... 15 Figura 3 - etRelevo da Serra do Mar no Paraná e Santa Catarina. Os perfis destacam o desnivelamento do relevo (traços acima dos perfis topográficos) e falhas (traços de maior inclinação). Os números indicam as serras e planaltos: 1: do Alto Rio Turvo (SP); 2: Agudo Grande; 3: dos Órgãos; 4: da Graciosa; 5: do Marumbi; 6: da Igreja; 7: de Castelhanos; 8: da Embira; 9: do Quiriri; 10: Dona Francisca; 11: Altos Cedros; 11: Itajaí. Compartimentos do relevo em Santa Catarina – CC: Corupá- Rio do Cedro; NF: Rio Negro-Dona Francisca; QU: Quiriri; CPI: Piraí; CF: São Francisco do Sul. ....................................................................................................... 17 Figura 4 - Pico do Paraná e arredores. ..................................................................... 18 Figura 5 - Relevo da Serra do Mar ao longo do estado de São Paulo, demonstrando a diferenciação entre os segmentos sul e norte definidos por Hasui et al. (2012). Os perfis destacam a grande amplitude do relevo com proeminentes escarpas de falhas que delimitam os grábens cenozoicos. Nas seções, os traços pretos representam as falhas que limitam compartimentos entre blocos soerguidos e rebaixados com segmentos da Superfície Japi desmantelada (traços vermelhos). ............................ 19 Figura 6 - Trecho da Falha de Cubatão (interpretada na linha tracejada branca) na Serra do Mar, cidade de Cubatão-SP. ...................................................................... 20 Figura 7 - Relevo da Serra do Mar no estado do Rio de Janeiro com destaque para as escarpas que delimitam os grábens litorâneos e continentais. Grábens: Gráben de Parati (GP), Gráben Guandú-Sepetiba (GGS), Gráben da Baía da Guanabara (GBG), Grábens Barra de São João (GBSJ). Compartimentos: Parati-Bocaina- Muriqui (A), Araras-Tinguá-Couto (B), Órgãos-Botija (C), Macaé-Imbé-Desengano (D). ............................................................................................................................ 22 Figura 8 - Parque Estadual dos Três Picos, localizado na porção fluminense da Serra do Mar, entre os municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, Silva Jardim e Guapimirim. Pode-se observar o relevo característico de erosão diferencial. ........... 23 Figura 9 - Escarpa abrupta no Pico da Bandeira e ao fundo trechos da Serra da Mantiqueira. ............................................................................................................... 24 Figura 10 - Esquemas de bordas convergentes formadoras de orógenos. ............... 26 Figura 11 - Províncias Estruturais do Brasil. ............................................................. 28 Figura 12 - Ciclos tectônicos do Brasil. O ciclo atual está em desenvolvimento desde o início da ruptura do Pangea. .................................................................................. 30 Figura 13 - Eventos de convergência e colisão no Brasiliano I (900-700 Ma), Brasiliano II (670-530 Ma) e Brasiliano III (580-490 Ma). As idades dos eventos são atribuídas a metamorfismo e intrusões graníticas sin a tardicolisionais divulgados em várias sínteses regionais e em numerosos artigos. ................................................... 31 Figura 14 - Os continentes (crátons) e os oceanos do Neopreoterozóico no Brasil. São indicadas as áreas que foram mais ou menos afetadas pelos processos tectônicos e térmicos do Ciclo Brasiliano. ................................................................. 32 Figura 15 - Províncias estruturais do Escudo Atlântico. ............................................ 35 Figura 16 - Domínios tectônicos e principais estruturas da Província. ...................... 36 Figura 17 - O Sistema Orogênico Mantiqueira. Os três cinturões representam os setores aqui considerados, com as designações indicadas. Em amarelo, coberturas fanerozoicas. ............................................................................................................. 38 Figura 18 - As principais rochas supracrustais neoproterozoicas-ordovicianas da Província Mantiqueira, representadas em verde. As demais unidades de menor expressão e porções de embasamento retrabalhado não foram diferenciadas nas áreas em branco. Em amarelo: coberturas fanerozoicas. ......................................... 39 Figura 19 - Domínios da Província Mantiqueira. ....................................................... 40 Figura 20- Constituição do Cinturão Araçuaí, unidades de menor extensão não estão indicadas. .................................................................................................................. 41 Figura 21 - Estruturação do Cinturão Araçuaí. (1) Zonas de cisalhamento de empurrão em vermelho, com triângulos indicando sentidos de mergulho; zonas de cisalhamento transcorrente em azul; Cráton São Francisco em cinza-escuro; Sistema Tocantins em cinza claro; coberturas em amarelo; divisas estaduais em rosa. (2) Seção esquemática do Cinturão Araçuaí, complementada à direita com seção da Faixa do Congo Ocidental. (3) Localização das seções. ........................... 42 Figura 22 - Unidades principais do Cinturão Ribeira. Em azul-claro, divisas estaduais. .................................................................................................................. 44 Figura 23 - Seção estrutural composta do Cinturão Ribeira com relação entre os diferentes terrenos e domínios estruturais. Legenda: Terreno Ocidental; (1-6): 1 a 3 – Megassequência Andrelândia nos domínios Autóctone, Andrelândia e Juiz de Fora; Terreno Ocidental: 4 a 6 – Associações do embasamento (Complexos Barbacena, Mantiqueira e Juiz de Fora); Terreno Paraíba do Sul (7-8): 7 – Grupo Paraíba do Sul, 8 – Complexo Quirino; Terreno Oriental (9-13): 9 – Sequência Cambuci, 10 – Sequência Italva, 11 – Sequência Costeiro, 12 – Arco Magmático Rio Negro, 13 – Granitos colisionais; Terreno Cabo Frio (14-15); 14 – Sequências Búzios e Palmital, 15 – Complexo Região dos Lagos. ........................................................................... 45 Figura 24 - Os sistemas transcorrentes do Cinturão Ribeira e da porção sul da Província Tocantins. .................................................................................................. 49 Figura 25 - Lineações de estiramento na porção adjacente do Cinturão Ribeira relacionadas com o Sistema Paraíba do Sul. ............................................................ 49 Figura 26 - As suturas indicadas pela gravimetria e cinturões granulíticos. Os triângulos indicam o sentido de inclinação da sutura, que é oposto ao da vergência. ..................................................................................................................................50 Figura 27 - Parte do Supercontinente Colúmbia em que se insere a América do Sul. .................................................................................................................................. 51 Figura 28 - Modelo da evolução das feições Serra do Mar e Serra da Mantiqueira. 1) Permiano-Jurássico: antes da fragmentação do Gondwana. 2) Cretáceo Inferior: fragmentação do Gondwana e abertura do oceano Atlântico Sul, precedida de formação de fluxos de basaltos toleíticos e enxames de diques. 3) Cretáceo Superior: intenso magmatismo alcalino. 4) Paleogeno: gênese do rift continental do sudeste do Brasil e magmatismo alcalino associado. 5) Pleistoceno-Holoceno: reativação tectônica e elevação final da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira. Na figura, o Planalto Bocaina (Bocaina Plateau) está situado no flanco oriental do rift continental do sudeste do Brasil, compreendendo a parte mais alta da Serra do Mar (mais de 2000 metros altitude). ................................................................................. 54 Figura 29- Contexto regional do rift continental do Sudeste do Brasil, conforme definição de Riccomini (1989). .................................................................................. 55 Figura 30 - Seção topográfica das áreas das serras da Mantiqueira (blocos alto e baixo) e Serra do Mar. ............................................................................................... 57 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 2 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA DA CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO ............................................................................................. 10 2.1 PLANALTOS ....................................................................................................... 12 2.2 PLANALTOS EM CINTURÕES OROGÊNICOS ................................................. 12 2.3 PLANALTOS E SERRAS DO ATLÂNTICO LESTE E SUDESTE ....................... 12 3 GEOMORFOLOGIA DOS PLANALTOS E SERRAS DO ATLÂNTICO LESTE E SUDESTE ................................................................................................................. 14 3.1 O PLANALTO ATLÂNTICO ................................................................................. 14 3.1.1 Superfícies de aplainamento e evolução do relevo das serras do Planalto Atlântico .................................................................................................................... 15 3.2 GEOMORFOLOGIA DA SERRA DO MAR ......................................................... 16 3.2.1 Serra do Mar Paranaense ................................................................................ 16 3.2.2 Regiões Vale do Ribeira e Cubatão ................................................................. 18 3.2.3 São Sebastião e Parati .................................................................................... 20 3.2.4 Rio de Janeiro .................................................................................................. 21 3.3 GEOMORFOLOGIA DA SERRA DA MANTIQUEIRA ......................................... 23 4 DEFINIÇÕES GEOLÓGICAS ................................................................................ 26 4.1 CICLOS TECTÔNICOS ...................................................................................... 29 4.1.1 Ciclo Brasiliano ................................................................................................ 30 5 PROVÍNCIA ESTRUTURAL MANTIQUEIRA ......................................................... 34 5.1 SUBDIVISÕES DA PROVÍNCIA MANTIQUEIRA ............................................... 37 5.1.1 Cinturão Orogênico Araçuaí ou Setor Setentrional .......................................... 41 5.1.2 Cinturão Orogênico Ribeira ou Setor Central ................................................... 43 5.2 SERRAS DA MANTIQUEIRA E DO MAR ........................................................... 52 6 RECURSOS MINERAIS ........................................................................................ 58 6.1 FAIXA ARAÇUAÍ ................................................................................................. 58 6.2 FAIXA RIBEIRA .................................................................................................. 59 7 . CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 61 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 63 APÊNDICE A – MAPA GEOLÓGICO COM A DELIMITAÇÃO DA ÁREA DO ESTUDO. ................................................................................................................. 69 9 1 INTRODUÇÃO De acordo com Ross (1989, 2003) o relevo brasileiro é formado por estruturas geológicas e litologias predominantemente antigas, porém as formas de relevo são bem mais recentes. Destaca assim a importância das influências endogenéticas e exogenéticas na elaboração dos compartimentos de relevo. A proposta do presente trabalho é estudar a área dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste e Sudeste, conforme definição e classificação geomorfológica proposta por Ross (1989). Devido à sua grande extensão territorial e alta complexidade geológica, o texto se restringe apenas à região das serras do Mar e da Mantiqueira por apresentarem importantes feições orográficas da borda atlântica do continente Sul-Americano. Antes de descrever a área objeto desse estudo, é necessário compreender alguns conceitos básicos referentes à metodologia de classificação do relevo brasileiro (capítulo 2). Para descrição geomorfológica, abordada no capítulo 3 deste trabalho, as serras foram divididas em regiões, considerando que a evolução e esculturação do relevo desta extensa área se deram de forma particular em cada setor. Apesar da área dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste e Sudeste estar inserida em três províncias estruturais distintas, para um melhor detalhamento, foi descrita especificamente apenas a província estrutural na qual estão inseridas as serras do Mar e da Mantiqueira (capítulo 5). Posteriormente, no capítulo 5.2, a geologia dessas serras será abordada em caráter regional, destacando os aspectos genéticos, tectônicos, litológicos e estruturais do embasamento que sustenta seus planaltos e escarpas, além da ação dos processos de erosão diferencial na modelagem do relevo. A identificação dos recursos minerais, grande parte em áreas de preservação ambiental permanente, é tratada no capítulo 6. 10 2 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA DA CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO BRASILEIRO A classificação do relevo brasileiro abordada no presente trabalho é a proposta por Ross (1989), concebida a partir das ideias de Mescerjakov (1968 apud Ross, 1989), que relaciona as noções de morfoestrutura (influência da estrutura geológica na gênese das formas), morfoclimática (associada aos tipos climáticos que operam na atualidade na esculturação do relevo) e morfoescultura (efeito dos climas pretéritos nas paleoformas e também a macro compartimentação). Esta classificação se subdivide em táxons sendo que o primeiro é predominantemente geomorfológico, representado pelos Planaltos, Depressões e Planícies. O segundo táxon abrange apenas as áreas representadas por compartimentos de planaltos, classificando-os em função do caráter estrutural que apresentam e os agrupando em quatro grandes categorias: Planaltos em bacias sedimentares; Planaltos em intrusões e coberturas residuais de Plataforma; Planaltos emnúcleos cristalinos arqueados; e Planaltos em cinturões orogênicos. O terceiro táxon define cada uma das unidades morfoesculturais, aplicando-se a todas as macrocompartimentações (Planaltos, Depressões e Planícies). A partir desta classificação por táxons têm-se como resultado 28 macro unidades geomorfológicas, denominadas unidades morfoesculturais (ou unidades do relevo brasileiro), conforme demonstrado na Figura 1. As principais subdivisões deste relevo são planaltos, planícies e depressões. Na classificação de planaltos é que se insere a unidade dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste Sudeste, objeto de estudo do presente trabalho. 11 Figura 1 - Unidades do Relevo Brasileiro. Fonte: Ross, 2003 (Adaptado). 12 2.1 PLANALTOS Segundo Ross (1989), em sua proposta de classificação foi necessário estabelecer um elevado grau de generalização e simplificação para definição das macrounidades de relevo do país, dentre elas as áreas representadas por compartimentos de planaltos. Desse modo, independentemente de seu aspecto estrutural, os planaltos se caracterizam como formas residuais de relevo que, por oferecer maior dificuldade ao desgaste dos processos erosivos, são circundados por extensas depressões que os colocam em evidência (ROSS, 1989). 2.2 PLANALTOS EM CINTURÕES OROGÊNICOS Ross (1989, 2013) define três cinturões orogênicos no território brasileiro: Atlântico (área do Planalto Atlântico), Brasília (Goiás-Minas) e Paraguai-Araguaia (Mato Grosso-Goiás); sendo o Atlântico o de maior grau de complexidade litológica e estrutural. Os Planaltos em Cinturões Orogênicos se encontram em áreas de estruturas dobradas em decorrência dos movimentos tectônicos e que sofreram metamorfismo e intrusões, alternando com longas fases erosivas (ROSS, 1989). Mesmo sendo áreas muito antigas e desgastadas pelos processos erosivos, tais cadeias de montanhas ainda mantém o aspecto serrano em várias extensões. Considerando que esta classificação tem enfoque predominante na geomorfologia, os aspectos geológicos e tectônicos relativos a gênese dessas estruturas serão abordados posteriormente, no capítulo 4. 2.3 PLANALTOS E SERRAS DO ATLÂNTICO LESTE E SUDESTE O Planalto Atlântico foi denominado inicialmente por Moraes Rego (1932) e Deffontaines (1935) apud Hasui et al. (2012), e esta primeira compartimentação serviu de base para outros autores. Mais recentemente, Ross (1989) o definiu como 13 parte dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste e Sudeste, em sua proposta de classificação. Segundo Ross (1989) e Vervloet e Ross (2012), o cinturão orogênico do Atlântico estende-se desde a parte oriental da região Nordeste até o Sul do país, abrangendo as áreas planálticas das serras do Mar, da Mantiqueira e também a Serra do Espinhaço, sendo que esta última não será abordada no presente trabalho. De modo geral, têm como modelo dominante formas de topos convexos, escarpas altas e acentuadas, canais de drenagem com alta densidade e vales profundos. Almeida e Carneiro (1998) relatam que o sistema de montanhas representado pelas serras do Atlântico Leste Sudeste constitui uma importante feição orográfica do continente sul-americano. Hasui et al. (2012) relacionam a gênese dessas montanhas a um soerguimento regional do sudeste brasileiro, que teve como consequência um desequilíbrio isostático com abatimento de grandes blocos crustais. Dessa forma, a individualização de blocos mais soerguidos teria dado origem as atuais serras e outros mais abatidos formando as planícies recentes. Entretanto, os aspectos geológicos relacionados à origem e evolução das serras ainda são pouco conhecidos devido a sua alta complexidade, gerando divergências entre geólogos e geomorfólogos. De acordo com Vervloet e Ross (2012), ao se avaliar a evolução do Planalto Atlântico com suas estruturas e formações litológicas antigas, observa-se a modelagem do relevo sendo esculpida ao longo do tempo, gerando formas mais recentes estando ainda em processo de remodelação. 14 3 GEOMORFOLOGIA DOS PLANALTOS E SERRAS DO ATLÂNTICO LESTE E SUDESTE Neste capítulo, de acordo com a delimitação de estudo do presente trabalho, serão apenas abordadas as características geomorfológicas gerais das serras do Mar e da Mantiqueira, setores comumente tratados na literatura como Planalto Atlântico Brasileiro. Vervloet e Ross (2012) identificaram quatro grandes correntes teóricas que tentam explicar a gênese geomórfica do Planalto Atlântico e concluem que nenhuma das abordagens é capaz de explicá-la totalmente a partir de um único referencial. Todas apresentam problemas quando confrontadas entre si, por meio de modelos onde há predomínio de uma variável em detrimento de outras. 3.1 O PLANALTO ATLÂNTICO Ross (2013) assim como Ponçano et al. (1981) consideram como Planalto Atlântico todo o conjunto de terras altas que caracterizam as serras, depressões embutidas, vales tectônicos, escarpas de falha, cadeia de morros escalonados, superfícies interplanálticas e aplainadas e superfícies de cimeira que ocorrem ao longo da fachada atlântica, desde o Paraná passando pelos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, até a região norte do Espírito Santo. Este conjunto, composto pelas serras do Mar e da Mantiqueira, forma um proeminente relevo positivo associado a um jogo de falhas normais (Almeida e Carneiro 1998; Hasui et al. 1978b, 1977, Almeida 1967 apud Hasui et al., 2012), fator este de relevância na interpretação das feições geomorfológicas, tanto quanto os litotipos. Para Almeida e Carneiro (1998) as rochas mais resistentes desempenham o papel de sustentar os planaltos e escarpas. Segundo Ponçano et al. (1981), as zonas de falhas, cisalhamento, fraturas e grandes domínios de rochas supracrustais condicionam lineamentos maiores e segmentos locais da rede de drenagem. De acordo com Silva (2009), um conceito bastante discutido, limitado e específico dentro da geomorfologia e que representa fator de grande importância na 15 compreensão da evolução das serras do Planalto Atlântico, diz respeito às superfícies de aplainamento. 3.1.1 Superfícies de aplainamento e evolução do relevo das serras do Planalto Atlântico As superfícies de aplainamento e seus respectivos depósitos sedimentares se relacionam à diferentes níveis de erosão que ocorreram em diversos períodos do tempo geológico, fornecendo indicações de períodos de estabilidade tectônica (SILVA, 2009; HASUI et al., 2012). Almeida e Carneiro (1998) mencionaram a importância da Superfície Japi, também denominada por Superfície Sul-Americana por King (1956) apud Grohmann e Riccomini (2012), no entendimento sobre a origem e evolução da Serra do Mar. Ao longo do tempo a Superfície Japi passou por deformações no Planalto Atlântico, com importantes desnivelamentos por falhas. Assim, se desenvolveu um sistema de bacias tafrogênicas1 subparalelo à Serra do Mar, à charneira2 da Bacia de Santos e a falhamentos da plataforma continental rasa (ALMEIDA, 1964 apud ALMEIDA e CARNEIRO, 1998; HASUI et al., 2012). Um perfil de deformação do relevo da Superfície Japi pode ser visto na Figura 2. Figura 2 – Deformação geral da Superfície Japi, conforme evidenciado pelo nivelamento geral do relevo, entre Campinas e o alto da Serra da Mantiqueira. Fonte: Hasui et al., 2012. 1 Bacia tafrogênica: bacia sedimentar originada por movimentos crustais verticais e delimitada por falhas normais de alto ângulo (SUGUIO, 1998, p. 79). 2 Charneira:linha formada pelo encontro das duas abas de uma dobra que se apresenta com dobramento mais acentuado. Outro sinônimo é a linha de articulação estrutural entre regiões de subsidência ou soerguimento diferenciados, que se apresenta sob a forma de flexura ou de falhamento (SUGUIO, 1998, p. 138). 16 As principais bacias tafrogênicas são as de São Paulo, Taubaté (rebaixada mais de 2.000 metros em relação à superfície Japi no topo da Mantiqueira), Resende, Volta Redonda e Guanabara, preenchidas por sedimentos continentais de idade Eocênica a Miocênica (ALMEIDA e CARNEIRO, 1998). Na região da serra da Mantiqueira, King (1956) apud Pinto (1995) identificou três ciclos de aplainamento da superfície Japi: Sul Americana (Cretáceo superior/Terciário médio), Velhas (Pliopleistoceno) e Paraguaçu (Pleistoceno). 3.2 GEOMORFOLOGIA DA SERRA DO MAR Segundo Hasui et al. (2012), a Serra do Mar se estende ao longo do litoral do Atlântico Sul por cerca de 1.500 km, indo desde o vale do Rio Itajaí (SC) até a região de Campos dos Goytacazes (RJ). Esse conjunto de escarpas é controlado por falhas e apresenta diferentes graus de dissecação, finalizando o Planalto Atlântico na linha de costa a poucos quilômetros da praia. Sua altitude média situa-se entre 500 m e 1.100 m, com alguns picos acima de 2.000 m (HASUI et al., 2012). Regionalmente se diferencia em seu desenvolvimento geomorfológico, de forma que as descrições de suas feições são normalmente compartimentalizadas em setores, o que difere de acordo com os autores pesquisados. Hasui et al. (2012) dividem a serra do Mar levando em conta a área territorial dentro dos estados, enquanto Almeida e Carneiro (1998) consideram regiões, sendo elas: Paraná, Vale do Ribeira, Cubatão, São Sebastião, Parati e Rio de Janeiro. A divisão de Almeida e Carneiro (1998) será adotada no presente trabalho para fins de setorização na descrição das principais feições da Serra do Mar, porém com referências às descrições de outros autores, em especial Hasui et al. (2012), nas respectivas áreas equivalentes. 3.2.1 Serra do Mar Paranaense De acordo com Hasui et al. (2012), há predomínio de áreas montanhosas e secundariamente escarpadas com uma fronte voltada para o litoral, controladas pela 17 estruturação geológica de falhas, que condiciona toda rede de drenagem. A Figura 3 demonstra o desnivelamento de relevo dessa região da serra. Figura 3 - etRelevo da Serra do Mar no Paraná e Santa Catarina. Os perfis destacam o desnivelamento do relevo (traços acima dos perfis topográficos) e falhas (traços de maior inclinação). Os números indicam as serras e planaltos: 1: do Alto Rio Turvo (SP); 2: Agudo Grande; 3: dos Órgãos; 4: da Graciosa; 5: do Marumbi; 6: da Igreja; 7: de Castelhanos; 8: da Embira; 9: do Quiriri; 10: Dona Francisca; 11: Altos Cedros; 11: Itajaí. Compartimentos do relevo em Santa Catarina – CC: Corupá-Rio do Cedro; NF: Rio Negro-Dona Francisca; QU: Quiriri; CPI: Piraí; CF: São Francisco do Sul. Fonte: Hasui et al., 2012. 18 Para MINEROPAR (2005), a Serra do Mar nessa região pode ser caracterizada como ponto de transição da planície litorânea para o primeiro planalto, com uma escarpa abrupta e altitudes entre 1.000 m e 1.922 m, no Pico Paraná, conforme Figura 4. Figura 4 - Pico do Paraná e arredores. Fonte: Bonacin, 2011. 3.2.2 Regiões Vale do Ribeira e Cubatão Almeida e Carneiro (1998) relatam uma interrupção da Serra do Mar no litoral sul de São Paulo, relacionando-a com a abertura do vale do rio Ribeira de Iguape e à expansão de sua bacia pelo interior do Planalto Atlântico. Para Hasui et al. (2012), uma das principais características do relevo da Serra do Mar na região do estado de São Paulo é a distinção de dois setores, sul e norte, que se diferenciam pela forma como a ação tectônica controlou os padrões de sedimentação e erosão tanto no planalto quanto na região costeira, conforme demonstrado na Figura 5. 19 Figura 5 - Relevo da Serra do Mar ao longo do estado de São Paulo, demonstrando a diferenciação entre os segmentos sul e norte definidos por Hasui et al. (2012). Os perfis destacam a grande amplitude do relevo com proeminentes escarpas de falhas que delimitam os grábens cenozoicos. Nas seções, os traços pretos representam as falhas que limitam compartimentos entre blocos soerguidos e rebaixados com segmentos da Superfície Japi desmantelada (traços vermelhos). Fonte: Hasui et al., 2012 (Adaptado). O setor sul engloba a Serra do Mar entre Santos e o Vale do Ribeira do Iguape, com altitudes moderadas entre 600 m e 800 m, terminando de forma abrupta em um costão retilíneo com face para o oceano, delimitando o Graben de Santos na linha de costa (HASUI et al., 2012). 20 O trecho da Serra do Mar na região Cubatão, segundo Almeida (1953) apud Ribeiro (2003), possui um relevo escarpado resultado de um acidente tectônico, denominado falha do Cubatão (Figura 6). Esta falha atravessa todo o Planalto Atlântico no Estado de São Paulo e seu recuo foi alcançado pela erosão remontante do rio de mesmo nome. Figura 6 - Trecho da Falha de Cubatão (interpretada na linha tracejada branca) na Serra do Mar, cidade de Cubatão-SP. Fonte: Google Earth, 2014 (Adaptado). 3.2.3 São Sebastião e Parati Esta parte da Serra do Mar abrange a Ilha de São Sebastião até a divisa do estado do Rio de Janeiro, correspondendo ao setor norte conforme definido por Hasui et al. (2012). Segundo Almeida e Carneiro (1998), a região São Sebastião possui altitude média de 800 m, chegando entre 1.200 m a 1.300 m. na Serra do Juqueriquerê (perfil C da Figura 5). O relevo é definido por serras alongadas, escarpas íngremes com rebordos festonados que delimitam baías e enseadas intercaladas por esporões, além de vales profundos, morrotes e morros nas bordas (HASUI et al., 2012). 21 A presença de intrusões alcalinas na ilha de São Sebastião, mais resistentes à erosão, vem retardando o recuo da Serra do Mar e originando a formação do promontório constituído pela Serra de Juqueriquerê e pela ilha. Tal fato constitui, para Almeida e Carneiro (1998), uma prova de que Serra do Mar esteve inicialmente bem além da posição atual e que seu recuo se deve à erosão. De acordo com Almeida e Carneiro (1998) o trecho compreendido entre as serras do Juqueriquerê e do Parati (perfil D da Figura 5) expõe um relevo escarpado a Serra do Mar, com altitudes de 800 m a 1.000 m, em que termina o planalto do Paraitinga-Paraibuna. A Serra do Parati compõe a maior parte de um promontório que separa as baías de Ilha Grande e Ubatumirim, onde o pico mais alto alcança 1.426 m acima do nível do mar (CORDANI e KAWASHITA, 1971 apud ALMEIDA e CARNEIRO, 1998). Nesta região encontra-se também o planalto da Bocaina, onde se localiza o Pico do Tira Chapéu com 2.088 m, sendo a maior elevação de toda Serra do Mar no estado de São Paulo (HASUI et al., 2012). 3.2.4 Rio de Janeiro No estado do Rio de Janeiro a Serra do Mar se configura como um longo alinhamento de relevo, desde a região de Parati até o norte, na região de São Fidélis. Segundo Hasui et al. (2012) apresenta relevo de planaltos elevados e desnivelados, delimitados por escarpas voltadas para sul e sudeste (Figura 7). A parte cimeira deste planalto é dissecada entre feições de colinas, morros, morrotes, serras residuais e picos graníticos. A drenagem é bastante encaixada, adaptada às zonas de falhas e fraturas, definindo um padrão retilíneo. De acordo com Hauck (2009) essa região foi modelada peloevento de soerguimento de horsts e acomodação de grabens. O recuo erosivo da escarpa da Serra do Mar favoreceu o desenvolvimento de diversos morros testemunhos, mais resistentes à erosão, como o Pão de Açúcar, Corcovado, a Pedra do Sino, entre outros. 22 Figura 7 - Relevo da Serra do Mar no estado do Rio de Janeiro com destaque para as escarpas que delimitam os grábens litorâneos e continentais. Grábens: Gráben de Parati (GP), Gráben Guandú-Sepetiba (GGS), Gráben da Baía da Guanabara (GBG), Grábens Barra de São João (GBSJ). Compartimentos: Parati-Bocaina-Muriqui (A), Araras-Tinguá- Couto (B), Órgãos-Botija (C), Macaé-Imbé-Desengano (D). Fonte: Hasui et al., 2012. Para Hasui et al. (2012), o entendimento deste setor não pode ser dissociado da evolução e caracterização do Gráben da Guanabara, que classificam como uma das mais importantes feições tectônicas do sistema de riftes paleogênicos, representando a maior e mais rebaixada estrutura de todo o sistema continental. Sua gênese também é abordada por Hauck (2009), que a relaciona às glaciações do Pleistoceno. 23 A Serra dos Órgãos é apontada por Hasui et al. (2012) como um setor de grande significado nessa região, por conter segmentos muito representativos e altitudes elevadas, com médias de 1.100 m e picos acima de 2.000 m, dentre os quais o Pico Maior ou Três Picos, com 2.316 m (Figura 8). Figura 8 - Parque Estadual dos Três Picos, localizado na porção fluminense da Serra do Mar, entre os municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, Silva Jardim e Guapimirim. Pode-se observar o relevo característico de erosão diferencial. Fonte: Instituto Estadual do Ambiente – RJ, [20--]. 3.3 GEOMORFOLOGIA DA SERRA DA MANTIQUEIRA A Serra da Mantiqueira constitui-se para Almeida (1964) apud Hasui et al. (2012), um elevado e extenso platô orientado na direção ENE, formado por um grande conjunto de escarpas, mares de morros, espigões e morros mais ou menos isolados. Estende-se nos estados de Minas Gerais (em sua maior parte) e em partes de São Paulo, Rio de Janeiro e Espirito Santo. Segundo Marques Neto e Perez Filho (2013) possui escarpa abrupta, em certos trechos praticamente verticais, por vezes com desníveis de até 1.000 metros. Em seu lado ocidental inicia na Serrania de Lindoia e adjacências da cidade de Bragança Paulista, com altitudes médias entre 900 m e 1.100 m, tendo como trecho mais expressivo, ao longo de seu segmento central, um imponente bloco elevado onde se sobressaem os planaltos de Campos do Jordão e Itatiaia, com altitudes médias entre 1.500 m e 2.000 m. Elevam-se sobre o segundo os pontos 24 culminantes do sudeste nos picos da Pedra da Mina (2.798 m), das Agulhas Negras (2.793 m) e Três Estados (2.665 m) (HASUI et al., 2012). Em Minas Gerais a Serra da Mantiqueira forma um sistema de serras residuais com altitudes médias de 1.000 m. Na região limítrofe com o estado do Espirito Santo se localiza o Pico da Bandeira, com 2.892 m, sendo um dos picos mais elevados do país (Figura 9). Figura 9 - Escarpa abrupta no Pico da Bandeira e ao fundo trechos da Serra da Mantiqueira. Fonte: Ferreira, 2007. Segundo Hasui et al. (2012), a Serra da Mantiqueira é controlada por um sistema de falhas, da mesma maneira que a Serra do Mar, o que lhe confere proeminente fronte escarpada. Almeida (1964) apud Hasui et al. (2012) dividiu a Serra da Mantiqueira no estado de São Paulo em duas subzonas: Oriental e Ocidental, tendo como eixo divisor a região de Monteiro Lobato. Essa divisão foi mantida por Ponçano et al. (1981). 25 Já ao sul de Minas Gerais, Saadi (1991, 1989) apud Hasui et al. (2012), propõe a divisão da Mantiqueira em seis compartimentos morfoestruturais distintos, que no geral apresentam uma série de falhas responsáveis por basculamentos de blocos, designados como Escarpa Meridional (que liga os cumes da Mantiqueira ao Vale do Paraíba do Sul), Degrau Superior (constituído pelos cimos da Mantiqueira, entre eles os maciços de Itatiaia e Passa-Quatro e o Planalto de Campos do Jordao) e Degrau Intermediário, (segmentado por cristas alongadas controladas por falhas), Planalto de Caldas-Machado (onde se destacam as maiores elevações na Serra do Cervo, com 1.400 m, bem como as menores na região de Alterosa e Campos Gerais, em torno de 900 m), Planalto de Madre de Deus de Minas (entre os municípios de Cruzília e Minduri até as escarpa das serras da região de São João Del Rei), e Corredor de Campo do Meio (também caracterizado por uma série de cristas alongadas controladas por falhas) Mais recentemente, Oliveira et al. (2000) apud Hasui et al. (2012), propuseram uma nova divisão em Mantiqueira Alta e Mantiqueira Baixa, baseados em análise de traços de fissão3 em apatita, os quais evidenciam que as serras da Mantiqueira e do Mar têm uma história evolutiva indissociável sob o ponto de vista geológico e geomorfológico, representando uma sequência de blocos soerguidos inicialmente em momentos distintos, porém associados a uma mesma evolução. 3 Traços de fissão: método de datação termocronológico que consiste na contagem de defeitos na estruturais empregado em minerais com urânio. Durante seu decaimento, partículas ionizadas geradas a partir da fissão do 238 U são emitidas, danificando a estrutura do mineral hospedeiro. Assim que o mineral é cristalizado, esses traços começam a ser formados; no entanto, acima de determinadas temperaturas, esses traços podem ser apagados. A razão entre o número de traços produzidos irradiação (indução de traços de fissão em átomos de urânio ainda existentes) e naturalmente (traços fósseis) é uma função do tempo que passou desde o último evento geológico que apagou os antigos traços (FAIRCHILD et al., 2009, p. 303; WHITE, 2014). 26 4 DEFINIÇÕES GEOLÓGICAS Os cinturões orogênicos são faixas lineares ou curvilíneas, de longas extensões, formadas por rochas altamente deformadas por processos colisionais ou não colisionais (Figura 10), também referidas como faixas ou cinturões dobrados. São marcados por magmatismo, deformação, metamorfismo e orogênese4 (HASUI et al., 2012; KEAREY et al., 2014). A orogênese envolve o encurtamento intraplaca, espessamento crustal e soerguimento topográfico (KEAREY et al., 2014). Figura 10 - Esquemas de bordas convergentes formadoras de orógenos. Fonte: Hasui et al., 2012 4 Orogênese: conjunto de processos geológicos, como sedimentação, vulcanismo, plutonismo, deformação, metamorfismo e soerguimento crustal, que ocorre nos limites convergentes das placas litosféricas (TASSINARI e DIAS NETO, 2009, p. 104). 27 Os processos colisionais se desenvolvem nos arcos insulares5 ou na colisão entre um continente (com ou sem arco insular acoplado) com uma margem continental ativa como resultado da subducção (colisão continente-continente). Os orógenos não colisionais, conhecidos também como tipo “Andino”, resultam da convergência entre placa oceânica e continental, onde os movimentos de placas e outros fatores que controlam a subducção levam à compressão dentro da placa superior, formando-se um arco continental (HASUI et al., 2012; KEAREY et al., 2014). Importantes alçamentos, falhamentos e deslocamentos ocorrem na placa superior, bem como algumas intrusões graníticas (HASUI et al., 2012). Os orógenos, antigos e atuais, fornecem importantes registros dos muitos ciclos de acreção e orogênese, que são os principais mecanismos pelos quais oscontinentes têm crescido desde o Pré-Cambriano. O acréscimo gradual e a colisão de fragmentos continentais, materiais oceânicos e arcos de ilhas em margens continentais geram assembleias de material crustal distintas, chamadas de terrenos (KEAREY et al., 2014). Os terrenos podem ser definidos como blocos ou fragmentos de crosta com constituição, idade e história geológica diferentes das áreas adjacentes, sendo normalmente delimitados por falhas (HASUI et al., 2012). Em zonas de sutura (fechamento do mar) os terrenos podem apresentar associações petrotectônicas complexas como ofiólitos6, mélanges7, xistos azuis, lascas de rochas de diferentes continentes, entre outros (TASSINARI e DIAS NETO, 2009; HASUI et al., 2012). Os terrenos do tipo greenstone belts8, principalmente os formados durante o Arqueano, constituem importantes depósitos econômicos de metais, entre eles o ouro (HASUI et al., 2012; KEAREY et al., 2014). Na etapa final de desenvolvimento dos orógenos, a compressão se atenua gradativamente, ocorrendo o arrefecimento regional, onde a erosão começa a atuar 5 Arco insular: cadeia curva de ilhas em geral convexa para o oceano aberto e margeada por fossas submarinas profundas, envolvendo uma bacia oceânica profunda. Essa feição é formada em zona de subducção entre placas oceânicas. Exemplo: Arquipélago do Japão (SUGUIO, 1998, p. 49-50). 6 Ofiólitos: rochas máficas-ultramáficas, de metamorfismo brando, que representam fatias e fragmentos de crosta oceânica ou manto superior, posicionados em meio a rochas da crosta continental, geralmente associados a sedimentos marinhos na zona de contato entre as placas. (TASSINARI e DIAS NETO, 2009, p. 102). Um exemplo é o complexo ofiolítico de Pirapora do Bom Jesus (TASSINARI et al., 2001). 7 Mélanges: mistura heterogênea de fragmentos irregulares de composição, tamanho e textura diversos consolidados sob pressão deformacional extrema (TASSINARI e DIAS NETO, 2009, p. 102). 8 Greenstone belts: faixa de rochas metavulcânicas e metassedimentares de origem detrítica, química e exalativa, interpretados como acumulados em contexto de arco insular que exibem um metamorfismo regional de baixa temperatura e baixa pressão (HASUI et al., 2012, p. 104; KEAREY et al., 2014, p. 309). 28 ativamente no orógeno. Devido à isostasia, a massa litosférica correspondente se eleva na busca de equilíbrio, aliviando a pressão na astenosfera e o orógeno se sujeita à distensão regional (HASUI et al., 2012). Para facilitar a visualização e a ordenação temporal e espacial das diversas unidades e entidades geológicas identificadas no Brasil, Almeida et al. (1977) apud Almeida e Hasui (1984) foram os primeiros a compartimentar o território brasileiro em províncias estruturais (Figura 11). Essas províncias são domínios contínuos de grandes extensões, com constituição e estruturação distinta das adjacentes, que demostram feições de litologia, estratigrafia, estrutura, metamorfismo, magmatismo e podendo apresentar ou não idades diversas (ALMEIDA e HASUI, 1984; HASUI et al., 2012). Figura 11 - Províncias Estruturais do Brasil. Fonte: Dantas e Lima Filho, 2007 (Modificado). 29 As províncias estruturais apresentam em seus limites descontinuidades geológicas mais ou menos identificadas, tais como falhas, zonas de falhas, limites de região dobrada com não dobradas, ou com direções e estilos de dobramento diferentes, além dos limites do tipo erosivos e estruturalmente discordantes. Alguns limites entre as províncias podem se encontrar ocultos em longas extensões, também podem ter definição geológica controvertida, seja por falta de informações adequadas ou por dependerem de questões conceituais relativas à sua interpretação (ALMEIDA e HASUI, 1984). 4.1 CICLOS TECTÔNICOS A formação de cinturões orogênicos e a incidência de magmatismo, metamorfismo e deformação sob regimes compressivos decorrentes de processos de convergência são conhecidos como “ciclos tectônicos” ou “eventos tectônicos” (HASUI et al., 2012). Cada evento representa o estágio final de um processo de convergência, resultando na formação de um continente de maiores extensões. Tais ciclos envolvem a geração de falhas, riftes, intrusões graníticas anorogênicas, diques de diabásio e corpos máficos (HASUI et al., 2012; KEAREY et al., 2014) São reconhecidos em todos os continentes atuais sinais de eventos tectônicos do passado, recebendo diferentes nomes em cada continente. No Brasil, conforme ilustrado na Figura 12, são reconhecidos ao menos sete eventos tectônicos, sendo que os Ciclos Transamazônico e Brasiliano possuem ampla incidência territorial, enquanto que os demais possuem influência em menor escala (HASUI et al., 2012). 30 Figura 12 - Ciclos tectônicos do Brasil. O ciclo atual está em desenvolvimento desde o início da ruptura do Pangea. Fonte: Hasui et al. (2012). 4.1.1 Ciclo Brasiliano O Ciclo Brasiliano (Figura 13) foi o último evento tectônico dentro dos limites da Plataforma Sul-Americana, sendo reconhecidos dentro desse período vários eventos de convergência e colisão diácronos9, referidos como eventos Brasiliano I, II e III (SILVA, 2005 apud HASUI et al., 2012; HASUI, 2010). 9 Diacronismo: fenômeno no qual uma camada com as mesmas fácies tem idades diferentes, em localizações distintas (LICKER, 2003, p. 98). Transgressão, através dos planos de tempo ou biozonas, por uma unidade litológica cuja idade varia de local para local (SUGUIO, 1998, p. 228). 31 Figura 13 - Eventos de convergência e colisão no Brasiliano I (900-700 Ma), Brasiliano II (670-530 Ma) e Brasiliano III (580-490 Ma). As idades dos eventos são atribuídas a metamorfismo e intrusões graníticas sin a tardicolisionais divulgados em várias sínteses regionais e em numerosos artigos. Fonte: Hasui, 2010. Os processos colisionais tiveram início durante o Brasiliano I, sendo mais intensos no Brasiliano II e terminaram com a formação dos sistemas orogênicos Tocantins e Mantiqueira no Brasiliano III (HASUI, 2010). Ainda segundo Hasui (2010), esses sistemas orogênicos se formaram devido ao fechamento dos oceanos de Goiás (Tocantins) e Adamastor (Mantiqueira), com intervenção dos crátons do São Francisco, Goiano, do Paraná, do Rio de La Plata, do Congo e do Kalahari, esses dois últimos hoje presentes no continente africano (Figura 14). 32 Figura 14 - Os continentes (crátons) e os oceanos do Neopreoterozóico no Brasil. São indicadas as áreas que foram mais ou menos afetadas pelos processos tectônicos e térmicos do Ciclo Brasiliano. Fonte: Hasui, 2010. O fim do Brasiliano foi determinado pelo colapso gravitacional, exumação ou extrusão dos orógenos, transitando de condições de intensa atividade tectono- compressiva, fechamento dos oceanos e aglutinação de massas continentais, para a 33 estabilidade intraplaca. Essa etapa marca a formação do continente Gondwana (HASUI et al., 2012). A erosão foi intensa nos orógenos, formando às suas margens bacias de distensão e bacias de afastamento, preenchidas por sedimentos clásticos continentais (molassas) e, em parte, rochas vulcânicas félsicas e máficas e também intrusões de granitóides anorogênicos pós-tectônicos, representadas em pequenas porções preservadas sob as bacias do Paraná e do Parnaíba (HASUI et al., 2012). Alguns milhões de anos depois, o processo de fragmentação do Gondwana foi centrado essencialmente em focos dos sistemas brasilianos. Todos os riftes gerados em resposta à abertura do AtlânticoSul, em especial nas províncias Borborema e Mantiqueira, foram comandados por linhas estruturais do Brasiliano (BRITO NEVES, 2003). 34 5 PROVÍNCIA ESTRUTURAL MANTIQUEIRA O embasamento da área dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste e Sudeste compreendem rochas principalmente das províncias São Francisco e Mantiqueira, e uma pequena área do sul da Província Tocantins (APÊNDICE A). A seguir, será descrito em detalhes apenas a Província Mantiqueira, dado o fato que as Serras do Mar e da Mantiqueira, descritas em maior detalhe no capítulo 5.2, estão inseridas dentro dessa província estrutural. A Província Mantiqueira é uma entidade geotectônica localizada a leste dos crátons São Francisco e Rio de La Plata/Paraná (Figura 15) e teve seu surgimento ao final da Era Neoproterozóica e início da era Paleozóica, estendendo-se por cerca de 3.000 km com orientação NNE–SSW ao longo da costa atlântica, de Montevidéu no Uruguai ao sul da Bahia. Essa província guarda registros de uma enorme e complexa evolução do Neoproterozóico na América do Sul (900–520 Ma) e ainda preserva dados remanescentes de unidades paleotectônicas arqueanas, paleoproterozóicas e mesoproterozóicas (Figura 16). Juntamente com a extremidade meridional da Província Tocantins, a Província Mantiqueira constitui o arcabouço pré-cambriano do sudeste brasileiro desenvolvido em resposta ao “Ciclo Brasiliano” (ALMEIDA, 1967 apud DELGADO et al, 2003). 35 Figura 15 - Províncias estruturais do Escudo Atlântico. Fonte: Delgado et al., 2003 (Modificado). Os modelos geotectônicos empregados para o entendimento da evolução da Província eram apenas genéricos até o começo da década de 90, devido sobretudo a pequenos números de datações U-Pb e, fundamentalmente, restritos à caracterização das grandes unidades litoestratigráficas. Esse problema levou há um grande número de designações, com implicações tectônicas muitas vezes conflitantes empregadas a Província Mantiqueira. Mas a partir do início da década de 90 os processos geradores dessa evolução passaram a ser reconhecidos com maior precisão, graças à aplicação mais generalizada de datações U-Pb. Com isso as grandes unidades geotectônicas puderam ser melhor individualizadas e hierarquizadas (DELGADO et al., 2003). 36 Figura 16 - Domínios tectônicos e principais estruturas da Província. Fonte: Delgado et al., 2003. A Província Mantiqueira é integrada por uma sucessão de cinturões de “empurrão e dobramento” controlados por distintos sistemas transpressivos de cavalgamento em direção às margens cratônicas. A maioria desses cinturões corresponde a orógenos colisionais (SENGÖR, 1990 apud DELGADO et al., 2003), evoluídos diacronicamente durante a colagem neoproterozóica/cambriana. Somente no domínio central e no extremo sudoeste da província foram reconhecidos 37 remanescentes de orógenos controlados por subducção como os de São Gabriel e do Rio Negro. Os orógenos não são apenas reconhecidos pela sua extensiva granitogênese, mas também por suas sequências tectono-estratigráficas mistas de extensas bacias de margens continentais rifteadas e pelo discreto registro de prismas acrescionários e/ou imbricações10 locais de depósitos de assoalhos oceânicos, de arcos e retroarcos. Sendo assim, eles constituem um mosaico de terrenos neoproterozóicos agregados. Esse evento ocorreu há aproximadamente 560 Ma quando deu origem ao Supercontinente Gondwana Ocidental. Segundo Hasui et al. (2012) o Sistema Mantiqueira é formado principalmente por rochas pré-silurianas (>450 Ma), que se expõem na quase totalidade de sua área. Outras unidades são muito modestas, ocorrendo em pequenos trechos, tais como: 1. Diques de diabásio e corpos alcalinos do Cretáceo e Paleógeno; 2. Coberturas sedimentares representadas por depósitos cretáceos, correlatos a unidades das bacias de Campos e do Espírito Santo, e paleogênicos, algumas incluindo discretas ocorrências de rochas vulcânicas; 3. Coberturas sedimentares neogênico-quaternárias, relacionadas com a neotectônica e com a evolução do relevo e da rede de drenagem atual. Essas rochas pré-silurianas contidas no Sistema Mantiqueira representam registros dos processos ocorridos do Arqueano no Ciclo Brasiliano entre 450 e 800 Ma (HASUI, et al., 2012). 5.1 SUBDIVISÕES DA PROVÍNCIA MANTIQUEIRA Almeida e Hasui (1984) subdividiram a Província Mantiqueira em três setores, referidos como setentrional, central e meridional correspondentes respectivamente aos cinturões orogênicos: Araçuaí, Ribeira e Tijucas, conforme Figura 17. Essa subdivisão foi mantida através dos anos, com alterações dos limites em função do avanço dos conhecimentos geológicos e geocronológicos (HASUI et al., 2012). Vale 10 Imbricação: efeito de superposição de partículas detríticas resultante da ação de água corrente (SUGUIO, 1998, p. 416). 38 ressaltar que o setor Tijucas ou meridional não será abordado, pois as Serras do Atlântico Leste e Sudeste se localizam somente nos Cinturões Araçuaí e Ribeira. Figura 17 - O Sistema Orogênico Mantiqueira. Os três cinturões representam os setores aqui considerados, com as designações indicadas. Em amarelo, coberturas fanerozoicas. Fonte: Hasui et al., 2012. Segundo Hasui (2010) apud Hasui et al. (2012) essas subdivisões chamadas pelo autor de compartimentos são de modo geral complexas, sendo produtos de cenários evolutivos variados, envolvendo processos diacrônicos e com 39 superposições sendo reconhecidos basicamente pelos maiores conjuntos de supracrustais11 do Neoproterozoico a Cambriano, conforme Figura 18. Figura 18 - As principais rochas supracrustais neoproterozoicas-ordovicianas da Província Mantiqueira, representadas em verde. As demais unidades de menor expressão e porções de embasamento retrabalhado não foram diferenciadas nas áreas em branco. Em amarelo: coberturas fanerozoicas. Fonte: Hasui et al. (2012). 11 Supracrustal: termo aplicado aos cinturões sedimentares e/ou vulcanossedimentares metamorfizados até o grau anfibolito, confinados a estruturas grabenformes, e encravados em complexos metamórficos de mais alto grau que conformam o embasamento dos escudos cristalinos (ARAÚJO et al., 1999, p. 214). 40 Em função das suas características litoestruturais e geocronológicas dos três cinturões orogênicos, numerosos domínios podem ser separados conforme a Figura 19. Boa parte das unidades rochosas é ainda mal conhecida e aparece em blocos separados por zonas de cisalhamento e fortemente deformados, dificultando as correlações e reconstituições estratigráficas (HASUI et al., 2012). Figura 19 - Domínios da Província Mantiqueira. Fonte: Hasui et al., 2012. 41 5.1.1 Cinturão Orogênico Araçuaí ou Setor Setentrional Atualmente o Cinturão Araçuaí ocupa quase a metade da Província Mantiqueira, estendendo-se do sul da Bahia ao extremo leste de São Paulo passando pelo Espírito Santo, leste de Minas Gerais e Rio de Janeiro (HASUI et al., 2012). Outros autores propuseram esquemas de compartimentação regional levando em consideração aspectos litológicos, tectônicos e metamórficos. Mas conforme Hasui et al. (2012) essa divisão é feita de maneira descritiva, separando as supracrustais do Ciclo Brasiliano do Cinturão Araçuaí daquelas do Cinturão Ribeira, e sistematizando as rochas mais antigas em blocos separados por zonas de cisalhamento em decorrência das lacunas de conhecimento e complexidade daregião do leste de São Paulo e oeste do Rio de Janeiro. A constituição do Cinturão Araçuaí é mostrada de forma resumida na Figura 20. Figura 20- Constituição do Cinturão Araçuaí, unidades de menor extensão não estão indicadas. Fonte: Hasui et al., 2012. 42 As diferentes unidades arqueanas e da primeira metade do Paleoproterozoico adquiriram estruturas diversas em eventos termotectônicos durante o Arqueano e no Ciclo Transamazônico. Entretanto, elas foram fortemente afetadas durante o retrabalhamento que ocorreu no Ciclo Brasiliano ou mesmo obliteradas pelos processos termotectônicos, que tornaram suas marcas mais expressivas (ALMEIDA e HASUI, 1984; HASUI et al., 2012) (Figura 21). Figura 21 - Estruturação do Cinturão Araçuaí. (1) Zonas de cisalhamento de empurrão em vermelho, com triângulos indicando sentidos de mergulho; zonas de cisalhamento transcorrente em azul; Cráton São Francisco em cinza-escuro; Sistema Tocantins em cinza claro; coberturas em amarelo; divisas estaduais em rosa. (2) Seção esquemática do Cinturão Araçuaí, complementada à direita com seção da Faixa do Congo Ocidental. (3) Localização das seções. Fonte: Hasui et al., 2012. 43 5.1.2 Cinturão Orogênico Ribeira ou Setor Central Almeida e Hasui (1984) denominam essa subdivisão da Província Mantiqueira de Setor Central, que segundo eles engloba o sul do Espírito Santo, Sul e Sudeste de Minas Gerais, todo o estado do Rio de Janeiro, leste de São Paulo, leste do Paraná e parte do Leste de Santa Catarina. Já em Hasui et al. (2012) o Cinturão Ribeira se limita com o Cinturão Araçuaí na região da divisa de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, estendendo-se para sudoeste até o Paraná e leste de Santa Catarina. No oeste é encoberto pela Bacia do Paraná e a leste faz limite com a Província da Margem Continental Leste. No centro-sul de Minas Gerais relaciona-se com a porção sul do Cinturão Brasília, e sua extremidade sul, com o Cinturão Tijucas. E segundo (SILVA, 2010) ele possui orientação NE-SW, sendo resultante da interação entre o Cráton São Francisco com a porção sudoeste do Cráton do Congo e com outras microplacas e arcos de ilhas situados a sudeste. Entre os principais domínios encontram-se o Varginha, Embu, Costeiro, São Roque, Apiaí, Curitiba, Paranaguá e Luís Alves. A Faixa Paranapiacaba (designação atual da Faixa Apiaí-São Roque) engloba os domínios Apiaí, São Roque e parte do Curitiba conforme a Figura 22 (HASUI et al., 2012). Diferentemente de Hasui et al. (2012) para outros autores o Cinturão Ribeira é constituído por quatro terrenos tectono-estratigráficos (Tabela 1 e Figura 23), que são separados por falhas de empurrão e por zonas de cisalhamento oblíquas transpressivas12. Onde eles são denominados de terreno Ocidental, Oriental, Paraíba do Sul e Cabo Frio. A colagem deles terminou por causar a imbricação de escamas crustais vergentes para oeste, em direção ao Cráton São Francisco. Os três primeiros terrenos citados teriam sido amalgamados ente 605 e 580 Ma, em contra partida o terreno Cabo Frio só teria sido colado aos demais há cerca de 520 Ma (TUPINAMBA et al., 2007; HEILBRON et al., 2000; 2004; TROUW et al., 2000; MACHADO et al., 1996; HEILBRON e MACHADO, 2003; SCHIMITT et al., 2004) apud (SILVA, 2010). 12 Transpressão: sistema de esforços que opera em zonas transcorrentes em que os blocos em movimento são submetidos localmente a esforços compressivos, com geração de dobras e cavalgamento (ARAÚJO et al. 2009). 44 Figura 22 - Unidades principais do Cinturão Ribeira. Em azul-claro, divisas estaduais. Fonte: Hasui et al., 2012. 45 Tabela 1 – Compartimentação tectônica da parte central do Cinturão Ribeira. Fonte: Silva, 2010. Figura 23 - Seção estrutural composta do Cinturão Ribeira com relação entre os diferentes terrenos e domínios estruturais. Legenda: Terreno Ocidental; (1-6): 1 a 3 – Megassequência Andrelândia nos domínios Autóctone, Andrelândia e Juiz de Fora; Terreno Ocidental: 4 a 6 – Associações do embasamento (Complexos Barbacena, Mantiqueira e Juiz de Fora); Terreno Paraíba do Sul (7-8): 7 – Grupo Paraíba do Sul, 8 – Complexo Quirino; Terreno Oriental (9- 13): 9 – Sequência Cambuci, 10 – Sequência Italva, 11 – Sequência Costeiro, 12 – Arco Magmático Rio Negro, 13 – Granitos colisionais; Terreno Cabo Frio (14-15); 14 – Sequências Búzios e Palmital, 15 – Complexo Região dos Lagos. Fonte: Silva, 2010. Os terrenos tectono-estratigráficos apresentam as seguintes características litoestratigráficas: - Terreno Ocidental: que compreende os domínios tectônicos Andrelândia e Juiz de Fora. Onde o compartimento tectônico Juiz de Fora ocorre uma intercalação tectônica entre as rochas do embasamento pré-cambriano datado de cerca de 1,7 Ga e os metassedimentos neoproterozóicos da Megassequência Andrelândia, Terrenos Domínios Estruturais Principal Período Colísional Domínio Andrelândia Domínio Juiz de Fora Klippe Paraíba do Sul Domínio Cambucí Domínio Costeiro Domínio Italva S-SE Terreno Cabo Frio Colisão III ca. 520 Ma (535-510 Ma) N-NW Ocidental Terreno Oriental ou Microplaca Serra do Mar Colisão II ca. 580 Ma (605-560 Ma) 46 ambos metamorfizados em fácies granulito. Os dois conjuntos litológicos exibem forte foliação milonítica e paragêneses13 metamórficas indicativas de retrogressão (TUPINAMBA et al., 2007). - Paraíba do Sul: o embasamento pré-cambriano datado de cerca de 1,7 Ga neste compartimento é representado por ortognaisses do Complexo Quirino, que se localizam na base de uma megaestrutura sinclinorial denominado de Klippe14 ou Compartimento Paraíba do Sul. No topo da estrutura, grandes dobras reclinadas, com flancos invertidos, intercalam ortognaisses do Complexo Quirino com metassedimentos do Grupo Paraíba do Sul. Os gnaisses de grãos grossos, mesocráticos a leucocráticos com foliação descontínua marcada por aglomerados minerais de hornblenda e com enclaves15 dioríticos e os gnaisses bandados alongados de dimensões decimétricas a métricas são as rochas predominantes desse terreno (VALLADARES et al., 2003; Tupinambá et al., 2003 a, b apud TUPINAMBA et al., 2007). - Terreno Oriental: foi subdividido em três compartimentos tectônicos, Cambuci, Costeiro e Italva, que são ligados ao desenvolvimento de arcos magmáticos neoproterozóicos, onde o Domínio Cambuci está justaposto tectonicamente ao Domínio Juiz de Fora descrito anteriormente. O contato é representado por uma zona de cisalhamento de baixo a médio ângulo, fortemente redobrada, que compreende uma sucessão metavulcano-sedimentar metamorfizada em fácies anfibolito de alto grau a granulito, invadida por diversas gerações de rochas granitóides. O Domínio Costeiro do Terreno Oriental cavalga o Domínio Juiz de Fora na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, já a partir de Itaocara também no Estado do Rio de Janeiro este domínio passa a cavalgar o Domínio Cambuci. No Domínio Costeiro assim como Domínio Cambuci ocorrem sucessões metassedimentares em fácies anfibolito de alto grau a granulito, 13 Paragênese: associação genética de dois ou mais minerais formados sob as mesmas condições físico-químicas (SUGUIO, 1998, p. 585). 14 Klippe: porção remanescente de uma nappe ou maciço isolado (Fossen, 2012). 15 Enclave: corpo litológico com forma e dimensão variadas, englobado por rocha magmática da qual difere pelo aspecto composicional e/ou textura (ARAÚJO et al. 2009).47 invadidas por diversas gerações de rochas granitóides. A Klippe ou Compartimento Italva estruturalmente representa o compartimento superior do Terreno Oriental nas regiões central e noroeste do Estado do Rio de Janeiro. Ocorre como uma klippe sinformal sobre o Domínio Costeiro, e se estende desde a região de Cantagalo até o sul do Estado do Espírito Santo. Na base da klippe encontram-se dioritos, gabros e tonalitos do Complexo Rio Negro, e o restante do pacote é ocupado por rochas do Grupo Italva. Na região noroeste fluminense, próximo a cidade de Italva, seu contato basal está mais próximo ao Domínio Cambuci, já que os ortognaisses do Complexo Rio Negro afloram em uma faixa muito estreita entre estes dois compartimentos. (TUPINAMBA et al., 2007). - Terreno Cabo Frio: é caracterizado pela ocorrência de sucessões metassedimentares Búzios e Palmital. A Sucessão Búzios é constituída de metassedimentos aluminiosos (sillimanita-cianita-granada-biotita gnaisses) com frequentes intercalações de camadas de rochas cálcio- silicáticas e corpos de anfibolitos. Já a Sucessão Palmital é predominantemente constituída por sillimanita-granada-biotita gnaisses com intercalações de camadas de rochas cálcio-silicáticas e granada- quartizitos (SILVA, 2010). Em sua estruturação o Cinturão Ribeira apresenta feições internas diversas, que são resultados de processos orogênicos brasilianos que envolveram metamorfismo e deformações tangenciais seguidas de deformações transcorrentes, que geraram feições internas, tais como a xistosidade, bandamento composicional, zonas de fraqueza, e foliações que aparecem como grande destaque. Elas acompanham o alongamento dos corpos rochosos, que têm geometria de fatias, lentes e sigmoides (em forma de "S") justapostos, bem visíveis em escalas micro a macroscópicas. Essa geometria foi gerada pela deformação tangencial, esse tipo de deformação foi muito ativa, gerando dobras recumbentes16 e falhas de empurrão que formam sistemas de cavalgamento marcados por nappes17 empilhadas. No setor central, tais feições foram reconhecidas em várias porções com vergências para 16 Dobra recumbente: dobra na qual a superfície axial tende a horizontalidade (ARAÚJO et al. 2009). 17 Nappe: uma grande dobra deitada horizontalmente que sofreu carreamento, por vezes, superiores a vários quilômetros (GUERRA e GUERRA, 2008, p. 444) 48 sudeste nos domínios Curitiba e parte oriental paranaense do domínio Apiaí-São Roque. A sobreposição do domínio Paraíba do Sul sobre Juiz de Fora e deste sobre o domínio Mantiqueira, configura um sistema de cavalgamento, relacionado com Evento Transamazônico (HASUI et al., 1988 apud HASUI et al., 2012 e SOUZA, 2008). Estruturalmente o aspecto de maior destaque no cinturão foi à deformação transcorrente, que acompanhou tardiamente os cavalgamentos no final do Ciclo Brasiliano. Essa deformação transcorrente deixou o Cinturão Ribeira fortemente transfigurado pelas numerosas falhas que formam feixes e configuram sistemas transcorrentes (zonas de cisalhamentos) com deslocamentos que podem alcançar até centenas de quilômetros. Estes sistemas transcorrentes têm direção NE-SW no Paraná, passam para E-NE-W-SW no leste de São Paulo e oeste do Rio de Janeiro e infletem para N-S no sudeste de Minas Gerais e norte do Rio de Janeiro. Essa inflexão está relacionada com os deslocamentos horários do Sistema Transcorrente Paraíba do Sul, conforme a Figura 24, essa estruturação deve ser vista em âmbito mais amplo juntamente com as lineações de estiramento (Figura 25), pois elas indicam as direções de deslocamento e, juntamente com indicadores de rotação de massas, permitem reconhecer a cinemática das zonas de cisalhamento na deformação finita (HASUI e OLIVEIRA, 1984; EBERT e HASUI, 1998; HEILBRON et al., 2004 apud HASUI et al., 2012; SOUZA, 2008). Outra importante feição do Cinturão Ribeira que vale ressaltar, são as suturas, onde a mais notável é a de Abre Campo (Figura 26) que separa os domínios Juiz de Fora e Mantiqueira continuando para norte até a Bahia. Recentemente ela foi caracterizada com base em dados geoquímicos e relacionada com um cinturão orogênico do Ciclo Transamazônico e reativada no Ciclo Brasiliano (HARALYI e HASUI, 1982; HEILBRON et al., 2004 apud HASUI et al., 2012; SOUZA, 2008). 49 Figura 24 - Os sistemas transcorrentes do Cinturão Ribeira e da porção sul da Província Tocantins. Fonte: Hasui e Oliveira, 1984); Ebert e Hasui, 1998 (modificado por Souza, 2008). Figura 25 - Lineações de estiramento na porção adjacente do Cinturão Ribeira relacionadas com o Sistema Paraíba do Sul. Fonte: Ebert, 2005; Heilbron et al., 2004 apud Hasui, 2010. 50 Figura 26 - As suturas indicadas pela gravimetria e cinturões granulíticos. Os triângulos indicam o sentido de inclinação da sutura, que é oposto ao da vergência. Fonte: Hasui, 2008 apud Souza, 2008. A evolução do Cinturão Ribeira teve início no Neoarqueano nos ciclos Jequié (2,7-2,6 Ga) e Transamazônico (2,2-2,0 Ga) registrada pelas rochas do Complexo Santa Catarina do Domínio Luís Alves e do Complexo Serra Negra que parece representar pequena extensão dele no Domínio Paranaguá. Seu embasamento fez 51 parte de uma massa continental nomeada de Supercontinente Colúmbia (Figura 27), que passou por um evento de distensão denominado de Tafrogênese18 Estateriana. Após o Ciclo Transamazônico o embasamento regional formado pelas unidades mais antigas esteve sob condições intraplaca, sujeitando-se a processos distensivos que fez que houvesse a fragmentação em vários continentes e evoluindo para aberturas oceânicas acolhendo diversos pacotes sedimentares e vulcanossedimentares. Com os movimentos de placas, esses oceanos se fecharam novamente e houve incidência de processos orogênicos, resultando em reaglutinação desses continentes e a formação do Supercontinente Rodínia por volta de 1,0 Ga (BRITO NEVES et al., 1995 apud SOUZA ,2008; HASUI et al., 2012). Figura 27 - Parte do Supercontinente Colúmbia em que se insere a América do Sul. Fonte: Zhao, 2004 (modificado por Hasui, 2010). 18 Tafrogênese: (Trafos: fossa): criação de grabens e horsts por falhas de gravidade (normais). Tectônica extensional (SALUMUNI, 2013). 52 A partir do Neoproterozóico até o fim do Cambriano houve retomada dos regimes distensivos, que foram possíveis manifestações magmáticas, onde eles formaram riftes que evoluíram para ruptura continental, abertura do Oceano Adamastor, formação de margens passivas, e acumulação de novos pacotes sedimentares e vulcanossedimentares (Itaiacoca, Açungui, incluindo Capiru e Turvo- Cajati, São Roque e outras menos expressivas). Na convergência das placas, esses pacotes foram atingidos por processos de acresção e de orogênicos do Evento Brasiliano formando o Supercontinente Gondwana, onde formaram-se arcos magmáticos (granitóides sin- a tarditectônicos, Três Córregos, Cunhaporanga e Agudos Grandes, em 630-600 Ma). Ocorreu também o metamorfismo de baixo a alto grau, podendo mostrar migmatização e até anatexia19, deformação por tectônica tangencial e forte tectônica transcorrente (Sistema Transcorrente Paraíba do Sul). Já na etapa final, incidiram intrusões predominantemente granitóides pós-tectônicos e deposição de sedimentos classificados como tardi-tectônicos a pós-tectônicos, interpretadas como de bacias de tipos transtensivos20, distensivos e de antepaís21 (Bacia de Itajaí), podendo ter rochas ígneas félsicas e máficas associadas.
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