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O CONCEITO TRANSCESDENTAL-HERMENÊUTICO DE LINGUAGEM EM KARL-OTTO APEL Argel Legowski1 Resumo: O presente artigo apresenta a concepção de linguagem de Karl-Otto Apel. Ele fez uma crítica à visão tradicional de linguagem, que se entendi como designação e expressão do conhecimento. Apel muda este conceito com a transformação da filosofia, destruindo e reconstruindo de forma crítica a filosofia da linguagem, o que proporcionou a chegar a um conceito de linguagem que passa a ser condição de todo conhecimento válido e com sentido. Palavras-chave: Linguagem. Pensamento. Sentido. Conhecimento. Apel. 1 INTRODUÇÃO Para podermos formular um conceito de linguagem na visão de Apel2 deveremos mostrar qual é a concepção de linguagem tradicional. Apel partirá necessariamente da transformação da filosofia para formular seu conceito de linguagem, mostrando que depois da idade moderna o pensamento sobre a linguagem foi mais aprofundado, ganhando, assim, um conceito mais significativo. Para poder dizer que a linguagem é a condição de todo conhecimento válido e com sentido, Apel destruirá e reconstruirá a filosofia da linguagem conhecida tradicionalmente. 2 O CONCEITO TRADICIONAL DE LINGUAGEM E SEU PROBLEMA 1 Acadêmico do Curso de Graduação em Filosofia do Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE). Artigo elaborado para o módulo de História da Filosofia, em novembro de 2013. Entregue em 22 de novembro de 2013 ao Professor Paulo César Carbonari. E-mail: g362@ifibe.edu.br. 2 Filósofo alemão que se tornou um dos mais influentes filósofos contemporâneos. Trabalha e incorpora elementos da filosofia analítica, do pragmatismo e da teoria crítica. Ainda vivo, é professor emérito em Frankfurt am Main. Sua obra mais conhecida é Transformação da Filosofia. 2 Na compreensão tradicional, a linguagem vem a ser um instrumento do pensamento, visto que, todas as palavras que são expressas são veículos para dizer o que o pensamento já conhecia anteriormente e sem necessidade da linguagem. O conhecimento é um ato do pensamento que deixa de lado a linguagem, vindo a precisar dela somente no momento em que tiver que ser expresso. Apel, no desenvolvimento de sua tese, apresenta ideias que são necessárias para fundar um novo conceito de linguagem. A concepção tradicional não está errada totalmente, mas é insuficiente. O conceito tradicional de linguagem marcou profundamente a filosofia e as ciências e chegou à preocupação positivista com a busca de uma ciência unitária, ou seja, com a busca de uma linguagem perfeita capaz de expressar sem equívocos o conteúdo do conhecimento. Dessa forma, o conceito tradicional é redutivo e faz com que somente alguns tipos de conhecimento sejam reconhecidos com sentido e validade. Apel se põe a tarefa de pensar a linguagem de forma filosófica, pois a linguagem está presente na formulação do conceito e fundamenta toda e qualquer ideia que as ciências produzem. Para ele, não se pode deixar para as ciências esta formulação. A definição de um conceito de linguagem deve visar e fundar-se: [...] não apenas sobre a abstração metódica do “intelecto” [Verstand], tão bem sucedida nas ciências particulares, mas também sobre a retrogradação (metódica) das abstrações do intelecto, constitutivas do objeto e obtidas por meio da “razão” (APEL, 2000, p. 376). E isso se dá pelos filósofos e não por teóricos da comunicação ou semanticistas, visto que estes partem do mesmo viés que as ciências, que se ocupam da linguagem como um objeto de pesquisa para formular o seu conceito de linguagem. Existem dois problemas que este conceito tradicional de linguagem de certa forma tem. Um primeiro problema seria de que os humanos não podem conceber a linguagem: “de maneira suficiente, ser concebido nem como pura transmissão de informações factuais, que mantém intocada a intelecção de sentido do mundo concernente ao parceiro na comunicação” (APEL,2000,p. 390). Neste sentido, é preciso fundamentar e buscar o sentido da linguagem. O segundo problema se 3 evidencia no fato de que as pessoas não podem colocar a linguagem “como atualização particular do sistema linguistico, que deixa intocada a estrutura semântica desse último” (APEL, 2000, p. 390). Dessa forma, devemos buscar transformar os termos e os significados desses termos utilizados para melhor compreender. Resolvendo estes problemas que a linguagem tradicional tem, podemos chegar à tese levantada por Apel, de que: “sinais linguisticos já no nível das palavras, de outro, são expressão de uma e mesma reflexividade da razão humana” (APEL, 2000, p. 390). Compreendendo assim a linguagem, ela não deve ficar “alojada em um mundo de sinais” (APEL, 2000, p. 390), mas trabalhar para uma melhor interpretação, a fim de com esta interpretação, buscar um sistema semântico de linguagem no qual se chegue sempre a um acordo que, segundo Apel, “permaneceria ininteligível mesmo que se pudesse pressupor nenhum tipo de estabilidade (relativa) da interpretação sensata do mundo, nem da estrutura semântica de um sistema linguístico" (APEL, 2000, p. 391). Apel propõe certas regras que devem ser compridas para determinar um conceito de linguagem que seja condição de todo conhecimento válido e com sentido. Este conceito deve partir de uma reconstrução crítica da filosofia da linguagem. Assim, Apel diz que: [...] é necessário poder mostrar, em uma destruição e reconstrução crítica da história da filosofia da linguagem, que (e em que medida) as determinações da linguagem são feitas a partir da função designativa e comunicativa não eram falsas, mas filosoficamente insuficientes (APEL, 2000, p.379). São insuficientes pelo fato de não tomarem o conhecimento de uma forma significativa, mas sim de forma abstrata e redutiva onde o conteúdo não era formulado para ser debatido ou aprofundado, mas somente designado pela linguagem. Uma segunda regra seria necessária para melhor fundamentar e qualificar o conceito de linguagem. Apel indica que: É preciso mostrar, em uma reconstrução crítica da ideia da filosofia transcendental, que esta última pode ser decisivamente corrigida por meio 4 de uma concretização do conceito de razão, no sentido de um conceito de linguagem (APEL, 2000, p. 379). Com estas pode-se ver a insuficiência da linguagem como mera designadora do conhecimento. A partir destas duas teses Apel poderá determinar o conceito de linguagem que julga ser mais adequado. 3 CONCEITO TRANSCENDENTAL-HERMENÊUTICO DE LINGUAGEM Apel formula e valida a sua visão de linguagem a partir da transformação feita na filosofia. Para ele, o eu da filosofia transcendental deixou de ser o centro de toda a validade de conhecimento e de toda a verdade com sentido, passando a ser uma filosofia insuficiente para validar o conhecimento. O novo centro de todo conhecimento passou a ser a linguagem. A linguagem na visão de Apel constitui a verdade e validade de todo conhecimento com sentido, visto que a linguagem não é uma invenção abstrata do pensamento, mas sim aquela que está na vida de todo ser humano, proporcionando a interação dos que dela se ocupam. Esta interação é o que valida a convivência do ser humano na sociedade, pois sem ela não seria possível a produção de conhecimento e a troca comunicativa. Esta interação demonstra que a linguagem não pode ser concebida individualmente, mas sempre na relação com o outro, no sentido de troca de conhecimento e de aperfeiçoamento. Ao compreender que a linguagem não pode ser concebidaindividualmente, supera-se o solipsismo que vinha dos modernos, que compreendiam que a consciência era constituída individualmente, não necessitando de uma interação para proporcionar o conhecimento. A compreensão do mundo e das culturas não é dada pela consciência ou pelo poder que o raciocínio tem em formular questões e novos conhecimentos, mas esta compreensão se dá pela linguagem, visto que esta leva a interagir e proporciona a reflexão e o conhecimento. Apel diz: [...] que o pensamento, como argumentação internalizada e de que a validação racional do conhecimento tenham que ser pensados não como funções de uma consciência concebida de maneira solipsista, mas sim como funções dependentes da linguagem e dependentes, portanto, da comunicação (APEL,2000, p.402). 5 A linguagem está posta no cotidiano das pessoas desde sempre. Desta forma, a linguagem é intransponível ao conhecimento, pois sem esta interação não seria possível uma reflexão sobre os conteúdos postos pelo conhecimento construído pelos seres humanos. Portanto, devemos também compreender toda a carga histórica que a linguagem tem consigo, pois, o ser humano não consegue conhecer através de uma não história, visto que a validade do conhecer depende das outras pessoas que estão de certa forma relacionadas. Esta visão historicista da linguagem é a que proporciona o sentido e a validade de todo conhecimento produzido intelectualmente. Enfim, a linguagem é um ato público, onde todo e qualquer indivíduo pode trocar e determinar através da linguagem sua defesa e afirmação sobre determinados assuntos que estão imbricados na sociedade. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com isso, podemos dizer que o conceito de linguagem formulado tradicionalmente não é suficiente para se ter uma reflexão sobre as questões do conhecimento, visto que usa a linguagem de forma designativa. Já o conceito de linguagem que Apel proporciona entende a linguagem como condição de todo o conhecimento válido e com sentido. Ainda mais, a linguagem se dá na comunidade de comunicação que introduz todo e qualquer conhecimento a ser julgado, mostrando que não há conhecimento sem a linguagem que, por sua vez, está sempre ligada ao conhecimento, sendo que esta é intransponível ao conhecimento e a ele dá validade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APEL, Karl-Otto. Transformação da filosofia: o a priori da comunidade de comunicação. Trad.Paulo Astor Soethe.São Paulo: Loyola, 2000. CARBONARI, Paulo César. Ética da responsabilidade solidária:estudo a partir de Karl-Otto Apel. Passo Fundo: IFIBE, 2002. OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta linguístico-pragmáticana filosofia contemporânea. São Paulo: Loyola, 1996. 6
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