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Aula 5 Exclusão Social e Violência

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Aula 5 - Exclusão Social e Violência
Exclusão Social
A noção de exclusão social surge em 1974, com o então Secretário de Ação Social francês René Lenoir, ao expor suas ideias no livro Os excluídos: um em cada dez franceses. 
Nesta obra, o político expõe sua preocupação com uma parcela da população integrante da massa pobre e que necessitava de ajuda governamental.
Até então, a exclusão era pensada como um fenômeno subjetivo, ideário que encontramos até os dias atuais, e não como um fenômeno social, vinculado às questões de trabalho, sociais ou econômicas. 
(Entender a exclusão social como fenômeno subjetivo traz a ideia de que o indivíduo permanece nesta condição por sua própria “culpa”, ou seja, a sua condição de pobreza não seria relativa a um contexto político, econômico e social desigual, mas devido a alguma questão individual.)
Neste sentido, o mérito deste autor foi suscitar a reflexão sobre a exclusão enquanto fato social e político, vinculado ao funcionamento próprio da sociedade. Ele destaca como causas da exclusão 
“(...) o rápido e desordenado processo de urbanização, inadaptação e uniformização do sistema escolar, desenraizamento causado pela mobilidade profissional; desigualdade de renda e de acesso aos serviços” (Wanderley, 2001: p. 16).
Desta forma, o conceito de exclusão social pode ser entendido como um processo sociohistórico situado na interseção do indivíduo e da sociedade, visto que se concretiza na ordem do social, mas é sentido na ordem do indivíduo como necessidade e sofrimento psíquico. 
René Lenoir
O surgimento das ciências humanas e sociais
Para se entender a inovação desta discussão importante voltarmos ao século XIX, com o surgimento das ciências humanas e sociais. Tanto a Sociologia como a Psicologia constitui-se enquanto ciência em um cenário onde o paradigma científico baseia-se nas ciências naturais(biológicas). 
Este paradigma faz com que estas disciplinas tenham referenciais tanto filosóficos quanto biológicos. 
Deste referencial teórico e filosófico começa-se a compreender os fenômenos humanos e sociais a partir da biologia, sendo inclusive aplicada a Teoria da Evolução de Darwin, para o entendimento da pobreza e da desigualdade social.
A aplicação da teoria darwinista à sociedade suscita a criação do darwinismo social, teoria que explicaria as desigualdades sociais a partir da desadaptação de determinados setores, onde as populações mais adaptadas (ou evoluídas) teriam futuro e as outras estariam fadadas ao fracasso. Disto decorre a biologização das diferenças sociais, que não estariam localizadas nas relações sociais, no contexto ou na política, mas na biologia dos indivíduos.
As desigualdades sociais e a exclusão social 
Nesta luta pela existência, surge também no século XIX, a teoria sobre as raças, onde a raça branca estaria em uma hierarquia superior e as outras seriam inferiores.
Resumindo: As ciências humanas e sociais surgem em um quadro de dominação das ciências naturais e onde a Biologia serve de base para todos os tipos de fenômenos, desde aquele relativo aos organismos naturais até aos relativos ao funcionamento social. Disto decorre a explicação biológica também para os fatos sociais e, diante desta perspectiva, as desigualdades sociais e a exclusão social não são compreendidas como algo devido ao funcionamento social, mas devido a questões individuais.
Grupo de “inadaptados” sociais 
Atualmente, observamos que idosos, portadores de necessidades especiais, minorias étnicas, desempregados, entre outros, são todos grupos onde falta a acessibilidade aos bens sociais, culturais, políticos, materiais ou simbólicos, configurando um grupo de “inadaptados” sociais ou rejeitados devido às impossibilidades que a “sua condição” gera. 
Entretanto, cabe ressaltar que esta “condição pessoal” passa muito mais por uma construção social do que por uma condição pessoal de incapacidade. Até porque destitui tais grupos de sua condição de cidadão perante a lei, o que deveria estar assegurado a todos, independente de suas diferenças.
Políticas assistencialistas
Compete esclarecer que as pessoas constroem a representação de si a partir de seu relacionamento com as outras pessoas e diante das expectativas que as mesmas possuem dele. 
No caso deste sistema excludente surge a representação negativa e fatalista de sua condição e de si mesmo.
Este processo de culpabilização do indivíduo pela sua condição, também considerado de estigmatização da pobreza, ou a naturalização do fenômeno da exclusão, gera o pensamento fatalista de que “isso é assim e não há nada para fazer” e faz direitos serem transformados em ajudas e favores, alimentando políticas assistencialistas.
Os excluídos
Cabe destacar que a exclusão estaria apoiada em um sistema simbólico de preconceitos sobre a adequação ou não à condição de cidadania. Neste sentido, podemos entender que os excluídos são todos aqueles rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores.
Segundo Sawaia (2001), “A exclusão é um processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas” (p. 9).
Desemprego
Pensando a exclusão em termos de falta de acessibilidade aos bens sociais básicos para a satisfação das necessidades fundamentais para a vida, tem-se que atualmente a exclusão não pode ser considerada um fenômeno marginal, visto que atinge cada vez mais camadas da população que não os “pobres tradicionais”. 
Tanto que os excluídos do final do século XX são populações que não encontram lugar no mercado de trabalho, quais sejam:
Desempregados de longa duração que vão sendo expulsos do mercado de trabalho. 
Jovens que não conseguem acesso ao “primeiro emprego”.
Camadas da população aptas ao trabalho e adaptadas à sociedade, porém vítimas da conjuntura econômica e da crise do desemprego.
Vínculo social
Apesar de toda reflexão, estudo e mudança paradigmática, o conceito de exclusão ainda continua um conceito complexo, difuso e fluido, acarretando a sua polissemia. Entretanto, pode-se destacar que todos os sentidos se apresentam de alguma forma como rompimentos, fraturas com relação ao vínculo social. 
Tipos de exclusão social
Bruto Costa (1998) tipifica a exclusão social em: 
Econômica: 
relativa à privação de recursos básicos como precariedade no emprego, baixa escolaridade, más condições de vida;
Social: 
refere-se à privação relacional, como o isolamento dos “indesejáveis” (idosos, pessoas portadores de necessidades especiais);
Cultural: 
relacionada a fatores culturais ou a discriminação racial;
Patológica: 
relacionada a casos de origem patológica, principalmente psicológica ou mental;
Comportamentos autodestrutivos: 
relacionada a comportamentos vinculados a toxicodependência, alcoolismo e prostituição.
Diferença entre pobreza e exclusão 
Pobreza pode ser considerada um estado de privação relacionada às necessidades básicas de sobrevivência, tais como: emprego, saúde, alimentação, vestimenta, moradia, educação etc. 
No que se refere à exclusão temos que pensá-la de forma dialética, pois a sua existência está condicionada a existência do outro  lado, ou seja, da inclusão social. Então, exclusão não é a mesma coisa que pobreza, mas conceitos e fenômenos que se complementam. 
OBS.:Se a pobreza encontra-se concretizada de forma objetiva no cotidiano das pessoas pela falta às condições básicas de subsistência, a exclusão está mais vinculada à dimensão simbólica do sentir-se incluído ou excluído do grupo social e ao sofrimento dela decorrente.
Articulação entre violência, pobreza e exclusão social
Podemos, portanto, pensar a questão da articulação entre violência, pobreza e exclusão social. Por criminalização da pobreza entende-se o fenômeno de se vincular enquanto causa a pobreza e enquanto efeito a violência, como se todos aqueles que fossem pobres fatalmente tornar-se-iam criminosos. 
Tal pensamento está baseado na
filosofia utilitarista de que o crime seria cometido devido à impossibilidade de acesso aos bens materiais e também ao desejo de tê-los. Tal pensamento ainda é reforçado pelo fato estatístico de que a maioria da população carcerária é relativa às camadas mais pobres da população.
Entretanto, as ciências sociais já tomaram outro caminho no que se refere ao debate evidenciando o preconceito e a discriminação subjacente ao pensamento supracitado que permanece enraizado no ranço da ideologia pautada o darwinismo social e na teoria das raças do século XIX. 
Tal caminho inverte a reflexão apontando que é exatamente pela condição de falta de acesso aos bens matérias e sociais que a população das camadas mais pobres seria mais afetada ou vitimizada pela violência, como atualmente verificamos os quadros das comunidades mais carentes.

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