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29 J/\N 1993 Sttor üe Uw PARLAMeNTAR\^MO PP.Í51P^IAL1^0? / eu PReFiRo PRESIDENCIALISMO OU PARLAMENTARISMO EDIÇÃO ESPECIAL Quinzena y.-..••. •:•. .:•• Poittíea Nacional ÍNDICE Para entender melhor - presidencialismo - parlamentarismo 3 Secretaria Nacional de Formação Política • PT Como são os sistemas? 3 Secretaria Nacional de Formação Política - PT Alternativas parlamentares 5 CMvis Rossi O Parlamentarismo e as minorias 5 Carlos Mathens Parlamentarismo: de novo um casuísmo 6 Leonel Brízola Que parlamentarismo? 7 Orestes Quércia Presidencialismo o governo fraco 7 José Serra Sistemas de governo - Parlamentarismo & Presidencialismo 9 Antônio Arcanjo Cota Parlamentarismo? Por quê? 11 Leòncio Martins Rodrigues Razões do presidencialismo 13 Athos Pereira Opinião dos professores 13 João Batista Natali Aos que defendem o parlamentarismo agora , 13 Carioca - Químico aposentado) As reformas do Estado: Sistema de governo e sistema eleitoral 14 Sérgio de Azevedo Parlamentarismo, presidencialismo.» que bicho i esse? 15 Tílden Santiago Parlamentarismo versus presidencialismo 16 Sérgio A. Ligiero Uma opção mais democrática 17 José Genoino Inauguremos o presidencialismo! Klávio Aguiar 18 As razões do parlamentarismo 19 José Genoino Fato político e histórico 20 José Diroeu 'Parlamentarismo permite a manipulação' Da Agência Folha Parlamentarismo X Presidencialismo: colocando a questão em seu devido lugar José Raimundo Fontes 20 21 Pelo presidencialismo democrático 22 Antônio Marangon Parlamentarismo e presidencialismo 23 Flores tan Fernandes Opção parlamentarista 24 Presidencialismo Democrático 25 Adão Pretto e Outros Leia a íntegra do manifesto presidencialista 26 Monarquia ou República? 28 Secretaria Nacional de Formação Política - PT A abolição do parlamentarismo 28 Vladimir Ilkb Lênin ASSINATURAS: Individual Cf$ 80.000,00 (6 meses) eCrt 160.000,00 (12 meses) Enídades sindicais eoutos Ct$ 100.000,00 (6 meses) eCi« 200.000,00 (12 meses) Exterior (via aérea) US$ 50,00 (6meses) e US$ 100,00 (12 meses) O pagamento deverá ser feito em nome do CPV • Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro em cheque nominal cruzado; ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO BELA VISTA • CEP 01390-970 - Código da Agónda 403.300. QUINZENA - Publicação do CPV - Caixa Postal 65.107 - CEP 01390-970 - São Paulo - SP Fone (011)285-6288 A QUINZENA divulga o debate do movimen- to, contudo coloca algumas condições para tanto. Publicamos teses, argumentações e ré- plicas que estejam no mesmo nível de lingua- gem e companheirismo^ evitando-se os ataques pessoais. Nos reservamos o direito de divul- garmos apenas as partes significativas dos tex- tos, seja por imposição de espaço, seja por so- lução de redação. ;:-:■:::■:<■:-;■:■:■:::■:■;-;■:•;■;■ Quinzena mÊÊÊÊãmmm mttmm ÍÍÍÍÍ:|||S|IÍÍÍíÍ:íí||Pí?;;^ PoMíea Nacional Parlamentarismo ou Presidencialismo Secretaria Nacional de Formação Política - PT Janeiro 1993 'Pano, eHtettden, PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO Executivo: Exercido pelo Presiden- te eleito pelo voto direto, com mandato delimitado (5 anos) Legislativo: Congresso independente do Executivo. Eleito diretamente pelo povo. Senado: Deve ser extinto ou redefinidas suas funções, restringindo-o apenas às questões atinentes à federação. Ministério: É uma equipe de governo que auxilia o presidente. Poderão ser escolhidos por ele, sem nenhuma Interferência do Congresso, ou o presidente escolhe e submete à aceitação do Congresso. Iniciativa de Leis: Tanto o Presi- dente como o Congresso têm pode- res para elaborar leis, sempre submetendo ao outro poder. Essência: Governo é representati- vo e baseia-se na separação de poderes. Há uma independência mútua entre Executivo e Legislativo. Executivo: Exercido por um Pri- meiro-Ministro, que é indicado pelo partido que obtiver maioria na Câmara. Se não houver maioria, forma-se uma coalizão de duas ou mais legendas. Se o Primeiro- Ministro perde o apoio da maioria, ele cai e é formado um novo ministério. Presidente: Eleito diretamente pelo povo, ou indiretamente pelos parla- mentares. Divide o poder executivo com o Primeiro-Ministro Ministério: Escolhido pelo Primei- ro-Ministro, segundo orientação do partido ou coalizão que lhe dá apoio. Este ministério cai se cair o Primei- ro-Ministro. Senado: Pode ser extinto ou redefinir suas funções. Essência: Existe uma dependência mútua entre o executivo e legislativo. O governo só se instala com a autoriza- ção do parlamento e goza da confiança da maioria parlamentar. Parlamentarismo ou Presidencialismo Secretaria Nacional de Formação Política - PT Janeiro 1993 c orno são os sistemas? Buscar, nos outros países, ? modelos que possam ser adap- tados á realidade brasileira é uma tarefa gigantesca porque não há duas eleições nem tampouco duas de- mocracias iguais no mundo inteiro, em suas conseqüências e em todos os por- menores de suas estruturas e dos seus regulamentos. Regras sobre a maneira de se eleger parlamentares podem ser parecidas em puíses que adotam sistemas de governo (oialmente diferentes um do outro, exemplo: na Inglaterra, país parlamen- tarista e monárquico, adota-se o voto distrital e uninominal, da mesma maneira que fazem os Estados Unidos, país republicano e presidencialista. Já a Espanha, monarquia parlamen- tarista, elege seus parlamentares prati- camente da mesma forma proporcional .que faz o Brasil republicano e presidencialista. Só por esses exemplos, se vé que a possibilidade de combinações entre sistemas eleitorais é enorme. Tampouco, existe um modelo que possa ser tido como ideal como o demonstram as queixas e propostas de modificações que circulam hoje em quase toda a Europa. A Inglaterra adota o mais puro dos sistemas distritais. A Câmara dos Comuns, correspondente á Câmara dos Deputados no Brasil, tem 650 lugares que são ocupados pelos 650 vencedores daseleiçõesem 650 distritos, por maioria simples. O método pode levar a uma brutal distorção na proporcionalidade. Caso concreto: em 1974. os liberais obtiveram 13,3% dos votos distribuí- dos pelo país todo, mas, como vence- ram em apenas 14 distritos, ficaram com 14 parlamentares ou 2,2 % do total — seis vezes menos do que teriam direito se fosse respeitada a proporcionalidade. Na Itália, a polêmica é em tomo do próprio sistema de governo. Nas véspe- ras da última eleição parlamentar (maio passado), o próprio presidente da repú- blica da época, Francesco Cossiga, prg; gou a adoção do presidencialismo em substituição do parlamentarismo. Exatamente o contrário do que ocorre no Brasil hoje, país em que, ao menos no Parlamento, formou-se uma nítida maioria em favor da substituição do presidencialismo pelo parlamentarismo. No Japão, parlamentarista, os 512 membros da Dieta (equivalente á Câmara dos Deputados) são escolhidos em 130 distritos, nos quais se elegem de três a cinco deputados (os chamados distritos plurinominais). Na Alemanha vigora o chamado sistema distrital misto. Parte dos depu- tados são eleitos nominalmente pelo voto distrital majoritário, e outra parte corresponde á lista fechada apresentada pelos partidos. Exatamente porrepresen- tar uma combinação do método propor- cional com o majoritário, o sistema ale- mão encanta os acadêmicos. Um estudo feito sobre os resultados eleitorais na Alemanha mostrou que o método pernu - te uma proporcionalidade quase perfeita, ao contrário do queocorre na Inglaterra. A percentagem de votos eqüivale quase exatamente á percentagem de cadeiras atribuídas a cada partido. Quinzena Também não podemos dizer que o método (proporcional, majoritário, nominal) tenha relação com o grau de desenvolvimento do país. No Brasil, subdesenvolvido, usa-se o método pro- porcional, pelo qual o numero de vagas nas casas legislativas é atribuído em função da proporção dos votos obtidos pelo partido. O eleitor vota em nomes e náo em listas partidárias, mas, na Colômbia, igualmente subdesenvolvida, o voto vai para listas fechadas apresentadas pelos partidos. O eleitor não pode escolher João da Silva. Tem que votar na lista dos liberais ou conservadores, os dois grandes partidos colombianos. Potítíea Nacional Na Bélgica e na Holanda, exemplos de desenvolvimento com estabilidade, a regra proporcional também vale, como no Brasil, mas o voto vai para a lista partidária, como na Colômbia. Só que há uma particularidade nesses dois pa- íses europeus: o eleitor pode alterar a ordem de colocação dos candidatos na lista apresentada pelos partidos. Assim, se o Partido "x" colocou João da Silva em 602 lugar na sua lista, com reduzidas chances de se eleger, o eleitor fanático por esse candidato pode puxá- lo para, digamos, o terceiro lugar, o que lhe daria quase certeza de chegar ao Parlamento. Em Portugal e França, ao contrário dos demais países parlamentaristas, nesses dois casos o presidente da Repú- blica é eleito diretamente e tem mais poderes do que o normalmente atribuí- do ao Chefe de Estado. A conseqüência tem sido uma bata- lha surda entre o Chefe de Governo e o Chefe de Estado nos momentos em que cada um deles pertence a partidos dife- rentes. Os exemplos citados demonstram que não é nem o sistema de governo nem a maneira de eleger representantes que fazem um país mais ou menos moderno, mais ou menos eficaz. A REINO UNIDO Sl»tem« de governo: Monarquia Consítuciona) Forma de escolha do rei: astsma de hereditanedade Podeie» do rei. Chele de Estado. Como todo o poder político ooncentra-se no pnmeiro-mmistro e seu gabinete, o monarca deve agir de acordo com sua orientação Poderei do primeiro-ministro: Chele de Governo. É quem escolhe os membros do gabinete dentre os membros do seu própno partido. É, contudo, sujeito ao Pariamento no senbdo que deve expor e defender sua política ao deba» parlamentar. Regime partidário: Plunpartidarismo. Pnncipais Parti- dos: Conservador. Liberal. Trabalhista. Social Oemocra- la, Umonista Democrático. ' Legislativo: Parlamento bicameral. Câmara dos Comuns (650 membros eleitos por voto direto para mandato de 5 anos) a ^Tf i tf*" (ma,S de 1 ■000 membr0s: P"™"85' P8"» • "°^ da corte lordes leg.sladores. consultores jurídicos, 2 arcebispos, 24 bispos) FflANÇA Sistema de governo: Presidencialismo misto com Parlamentarismo Forma de escolha do presidente: Sulrágío universal Forma de escolha do primeiro-ministro: Nomeado pelo presidente Poderes do presidente: Amplos, inclusive nomear e demitir o pnmeiro-ministro e dissolver a Assembléia Nacional. Poderes do primeiro-ministro: Limitados; a Assembléia Nacional pode demíbar o governo por maioria absoluta. Contudo, é ainda responsável pela defesa das ações do governo e teria poderes de controle sobre a administração Regime partidário: Pluripartidansmo Pnncipais Partidos: Socialista. Frente Nacional, Comunista, União pela República, União pela Democracia. Legislativo: Senado (321 membros eleitos por colégio eleitoral para mandato de nove anos, 1/3 renovado a cada Ires anos; Assembléia Nacional (577 membros eleitos por voto direto para mandato de cinco anos). ALEMANHA Sistema de governo República federativa parlamentarista Forma de escolha do presidente: Escolhido pela Assembléia Federai a cada cinco anos. Forma de escolha do primeiro-ministro: O Chanceler é nomeado pelo presi- dente, mas eleito por maioria absoluta da Assembléia Federal. Poderes do presidente: Chefe de Estado, nomeia o chanceler, mas não pode demiti-lo ou dissolver o Parlamento. Poderes do primeiro-ministro: Chele de Governo. Na pratca, é sempre o presidente do partido majornano. Tem poderes consideravelmente independentes e onenta a poiifca do governo. Pode ser deposto pela maioria absoluta do Parlamento, mas somente depois que este elegeu seu sucessor por maioria absoluta. Regime partidário: Plunparodansmo (principais partidos União Democrática Cnstá. Social Demo- crata. Democrático Nacional, do Socialismo Demo- crático. Verde) Legislativo Parlamento bicameral (Conselho Federal, 68 membros: Assembléia Federal, 662 membros com mandato de 4 anos eleitos por sistema misto de represenlaçào proporcional e voto direto) ITÁLIA Sistema de Governo: República Parlamentarista Forma de escolha do presidente: Eleito pela Câmara e Senado junto com três representantes de cada região, por maioria absoluta, para mandato de sete anos, que náo pode ser mduodo. Forma de escolha do primeiro-ministro Indicado pelo presidente. Poderes do presidente: Pode convocar sessões especiais do Parlamento e dissdwè-lo. além de indicar o primeiro-ministro Pode ser, contudo indidado por alta traição ou mcapaadade de sustentar a constituição Poderes do primeiro-ministro É o único ção do governo. "*Pon**vel pela direção da polífca e admínistra- Reglme partidário: Plunpartidarismo. Prinapais partidos: Democrata Cristão - PDS (ex-comunista), Socialisla. Legislativo: Câmara (630 membros); Senado (315 membros eleitos por voto direto para mandatos de dnco anos). ESTADOS UNIDOS Sistema de governo República presidencialista Forma de escolha do presidente: Por sufrágio direto e universal para mandato de 4 anos. Poderes do presidente: Nomeia secretários de departamentos (cargo correspondente ao de ministro) e diretores de agendas governamentais, com a aprovação do Senado, Chefe do Executivo, responsável pela realização de tratados, comandante das Forças Armadas e Chele de Estado. Na prática. suas responsabilidades induem propor leis, formular a polibca externa, diplomacia e liderança de seu partido Regime partidário: Pluripartidansmo. Prindpais Partidos: Democrático e Republicano. Legislativo: Senado: 100 membros (2 por Estado) eleitos por voto direto com mandato de 6 anos; 1/3 renovado a cada dois anos. Câmara do Deputados: 435 membros eleitos pelo voto direto segundo a população de cada Estado, mandato de 2 anos; o voto direto náo é obrigatono Poderes do Congresso: Cnar impostos, emprestar recursos financeiros regular o comercio interestadual, dedarar guerra, disdpiinar seus próprios membros e determinar suas regras de procedimento. JAPÃO Sistema de governo Monarquia Consotuaonal Forma de escolha do Imperador Sstema de hereditanedade Foima de escolha do primeiro-ministro: Escolhido pela Dieta (Parlamento) entre seus membros. Em geral, é o lider do partido majonláno ou de um dos partidos coligados. Poderes do imperador O imperador não tem poderes com relação ao governo. Seu principal papel consiste em formalidades como a indicação do primeiro-ministro, que é previamente designado pela Dieta. ^ Poderes do primeiro-ministro: Escolhe o gabinete Se a Câmara dos Deputados aprova uma resolução de censura ou recusa-se a dar um voto de confiança ao governo, o gabinete deve renunciar, a menos que a Câmara dos Deputados se dissolva em dez dias Regime partidário: Pluripartidarismo. Principais Partidos: Liberal-Oomocrata, Socialista, Komeito, Comunista). Legislativo: Bicameral. Câmara dos Deputados, 512 membros eleitos por voto direto para mandato dó 4 anos; Câmara de Conselheiros, 252 membros eleitos para mandato de 6 anos a metade renovada a cada 3 «IOS.Quinzena ^mmmssmmt fmMm^^MssWmÊ^ PoMiea Nacional Folha de São Paulo - 06.12.92 ALTERNATIVAS PARLAMENTARISTAS Os principais pontos divergentes do sistema 1-A ELEIÇÃO DO PRESIDENTE Direta Mantém o sistema atual pelo qual o eleitorado escolhe diretamente o pre- sidente. É o método em vigor, por exemplo, na França, Portugal e Áus- tria. Indireta O presidente é escolhido por um Co- légio Eleitoral. Na Alemanha, o colé- gio é formado pelos 662 membros da Câmara mais 518 representantes das Assembléias Legislativas. 2J0S PODERES DO PRESIDENTE Modelo reina mas não governa O presidente limita-se às funções ce- rimoniais de chefe de Estado, como ocorre com a rainha da Inglaterra, por exempla Modelo dá palpite mas não governa Na França e em Portugal, o presidente tem funções nas áreas de Defesa Na- cional e Relações Externas. Na Guer- ra do Golfo (91), foi Miterrand quem tomou as iniciativas. 3.COMO DERRUBAR O GOVERNO Moção de censura "construtiva" É o sistema alemão. O governo sõ po- de ser derrubado, se for apresentado um governo alternativo. Visa dar res- ponsabilidade às oposições. Moção de censura "destrutiva" Limita-se a derrubar o governo. A Itália é o grande exemplo: 50 gover- nos foram derrubados nos 46 anos de- corridos desde o final da 2- Guerra Mundial Sistema majoritário O país é dividido em distritos eleito- rais e cada partido apresenta apenas um candidato por distrito. Elege-se o candidato a deputado mais votado em cada distrito. 4JCOMO ELEGER O GOVERNO Sistema proporcional Podem ser eleitos vários deputados em cada distrito. Os partidos apresentam uma lista de candidatos naquele dis- trito. Se o partido obtiver três vagas, estão eleitos os três primeiros nomes da lista. Sistema misto E o modelo alemão, pelo qual o elei- tor vota duas vezes na mesma cédula. Um voto vai para o candidato. O ou- tro voto vai para uma lista partidária. Metade das vagas é preenchida pelo voto nominal e metade, pela lista. O Estado de São Paulo -08.1242 O parlamentarismo e as minorias CARLOS MATHEUS A atual preferência da maioria dos brasileiros pe- lo sistema parlamentarista não pode ser ainda conside- rada uma antecipação da mudança "de regime arpós o plebiscito de 1993. Confor- me indica a pesquisa publi- cada pelo Estado no domln- SC a diferença entre parla- mentaristas e presidencia- listas, além de ser pequena, resulta da recente influên- cia que o Congresso Nacio- nal vem exercendo sobre a opinião pública, por inter- médio do processo de afas- tamento do presidente da República. Entre maio e novembro, o parlamenta- rismo ganhou adeptos, fi- cando 6% à frente do presi- dencialismo. Apesar.de contar com pe- quena maioria, o parlamen- tarismo continua sendo o regime preferido pelas eli- tes e ainda distante das grandes massas populares. Basta examinar os resulta- dos da pesquisa feita pelo Instituto Gallup, dividida segundo os níveis de escola- ridade: entre as pessoas que têm instrução universitá- ria, 67,7% preferem o parla- mentarismo; entre as pes- soas de instrução secundá- ria e primária, apenas 45,1% e 26,5%, respectiva- mente, preferem o parla- mentarismo. O mesmo ocorre com os diferentes ní- veis sóoio-econômico* da população brasileira: 58,7% da classe A sáo parlamen- taristas contra apenas 30,4% da classe D/E. Estes dados permitem di- zer que, embora o parla- mentarismo pudesse ven- cer hoje, leto seria ainda conseqüência das preferên- cias das elites nacionais, que parecem visualizar neste sistema de governo maior proximidade ou aces- sibilidade ao poder. Já as classes mais pobres e de menor escolaridade nâo conseguem vislumbrar num parlamento forte, com poderes para governar, qualquer redução da atual distância que as separa do poder. Para estas camadas mais pobres da população, os deputados e senadores ainda estáo mais preocupa- dos com interesses pessoais ou de grupos do que com os interesses nacionais. Nem sempre, no Brasil, as maiorias seguem as mino- rias. Estas, contudo, foram sempre as autoras das gran- des mudanças políticas. Bastariam alguns exem- plos. A Monarquia e a Repú- blica foram implantadas por minorias que acabaram Quinzena -- mm Poitíiea Nacional conquistando o apoio pos- terior das maiorias. No Império, as minorias diziam agir "pelo bem de todos e pela felicidade ge- ral da Nação", sem que esta efetivamente fosee consul- tada. A República resultou de um movimento militar sem apoio popular. Mino- rias depuseram Getúlio Vargas e Jtiáo Goulart, ele- geram Tajicredo Neves e afastaram Fernando Col- lor, procurando sempre conquistar o apoio poste- rior das maiorias. Com o fiim do período mi- litar, os deputados e sena- dores vém buscando ter ca- da vez maior influência na vida política nacional: de Tancredo a Collor, eles vêm procurando agir em conso- nância com as aspirações populares, talvez para re- verter sua Imagem negati- va perante a maioria do po- vo. Tanto o atual prestigio do Congresso Nacional quanto o desprestigio do presidente afastado, a ima- gem do presidente em exer- cício e a popularidade dos candidatos a presidente po- derão influir no resultado do plebiscito. Para a maioria dos brasi- leiros, nem a escolha do sis- tema de governo, nem a es- colha do regime político sâo questões prioritárias. O plebiscito foi trazido por aquelas minorias parla- mentaristas e se Insere dentro de um quadro políti- co instável e de um quadro econômico fortemente re- cessivo. As grandes preocu- pações nacionais estão vol- tadas para a inflação, o de- semprego e as dificuldades econômicas atuais. Se o plebiscito convém às minorias, caberá a estas de- monstrar às maiorias as promessas de um futuro melhor, contidas em cada alternativa, para benefício da maioria da Nação. Náo bastarão argumentos jurí- dicos ou científicos para que pessoas de baixa esco- laridade e altas carências econômicas se deixem per- suadir por determinado sis- tema de governo ou regime político. Tal como já ocor- re com os partidos, as maio- rias tenderão a escolher mais em funçáo de pessoas reais do que de argumentos abstratos. A ■ Cario» Mmtbcu» i dimor do Inaiiluto Gallup de Opinião Pública Jornal do Brasil - 27.12.92 Parlamentarismo: de novo, um casuísmo O movimento parlamentarista no Brasil - com exceção de algumas per- sonalidades honradas e outras que historicamente, esposam a tese do parlamentarismo - é mais um expe- diente cínico e traiçoeiro entre aque- lea que as elites brasileiras têm utili- zado para conservar o poder e evitar que a população defina, pela sua vontade soberana, os destinos do País. Na verdade, as classes dirigentes do nosso País, ha'muito, dentro do pró- prio sistema presidencialista de go- verno, o têm procurado invalidar, fa- zendo com que este regime se anule, em razão dos vícios e distorções a que o levaram. As oligarquias e grupos dominantes começam a destruir o pre- sidencialismo no próprio processo eleitoral, pela interferência do poder econômico, pelas restrições legislati- vas e judiciárias que impõem às elei- ções e, mais recentemente, pela desa- busada interferência dos meios eletrô- nicos de comunicação no processo de formação da consciência nacional. Mas, sobretudo, anulam as possibi- lidades do presidencialismo quando, por aqueles expedientes, conduzem ao governo aqueles que não queiram mu- danças ou os que, as desejando, não tenham os mínimos meios para im- plantá-las e, assim, frustrem as ex- pectativas e os direitos do povo bra- sileiro. Tanto isso é verdade que,nos últi- mos 40 anos - desde a eleição de Vargas -, o Brasil não ten a chance de eleger um governo coerente, cuja expressão eleitoral majoritário- se re- flita na área parlamentar. Desde 1950, ou se elege um presidente com um Congresso já formado, ou se elege um Congresso em meio a um mandato presidencial. Para um governante, so- breviver a um quadro desta natureza, só à custa de manobras, arranjos e concessões. Ainda mais agora, em meio a um sistema de comunicção avassalador, de natureza empresarial e monopolista, muito mais voltado para os interesses da manutenção do status quo do sistema econômico neocolonial do que preocupado em defender os valores nacionais e os direitos e aspi- rações da população. Em 50, ainda não havia no povo brasileiro a plena consciência da natu- reza perversa e da própria inviabilida- de do modelo econômico imposto ao País após a 2- Guerra. Mesmo assim, o governo Vargas tomou-se um marco na História do desenvolvimento autô- nomo deste país e do av&mço das lutas sociais do povo brasileiro. Agora, tudo se tomou mais grave e complexo. A crise brasileira atingiu patamares desesperadores, como nun- ca se viu em nossa História, e é neste quadro que se aproximam, depois de quase meio século, eleições gerais, coincidentes, em 93. Presidente, vice, dois terços do Senado, toda a Câmara dos Deputados, governadores e até deputados estaduais, todos eleitos juntos, num só dia, num só voto, o povo brasileiro poderá eleger um go- verno comprometido, acima de tudo, com a população, e que conte com a maioria do Congresso e o apoio de um sólido conjunto de governadores para executar um programa de transforma- ção que tire, finalmente, o nosso País da crise a que o levaram. Esta é a oportunidade que se abre diante de nosso povo. O parlamenta- rismo, agora, surge como um casuís- mo, como o mecanismo de usurpação de um direito que negaram ao povo brasileiro por tantos anos. Em 61, precisaram esconder-se numa madru- gada para violar a Constituição, ras- gando o regimento da Câmara dos Deputados, a fim de impor aquele re- gime absurdo. Hoje, com um plebis- cito, seria impensável que a população fosse renunciar a esta chance, cassan- do a si própria o direito de instituir um governo que abra novos caminhos Quinzena para o Brasil para os brasileiros, deixando que, em seu lugar, ascendam ao poder os acordos, conchavos e ar- ranjos parlamentares das elites brasi- leiras. Esta é a primeira e a principal ra- zão por que o povo brasileiro rejeita- rá, como o fez antes, esta nova mano- bra das castas elitistas de nosso País. SíssíííSííííiíí PoMiea Nacional Leonel Brizola Governador do Estado do Rio de Janeiro Transcrito do Estado de São Paulo de 21/12/92. • Mandado publicar pelo PDT Diário Popular - 27.12.92 Que parlamentarismo? PRESTES QUtRCIA 0plebiscito marcado para abril do próxi- mo ano, no qual o povo deverá escolher entre o presidencialismo e o parlamen- tarismo, além de artificial — pois a popula- ção jamais exigiu a mudança do sistema de governo —, propõe ao eleitorado que, caso vença a opção parlamentarista, assine um cheque em branco em favor de um regime cujo funcionamento é absolutamente desco- nhecido na prática, inclusive dos próprios parlamentaristas. Vejamos como se poderá dar um dos maio- res equívocos da história da República, de conseqüências institucionais imprevisíveis. Na cédula, o eleitor poderá escolher entre o presidencialismo e o parlamentarismo — por razões óbvias não vamos levar em conta a volta à monarquia, ainda que sejam as melho- res as intenções de seus autores. O presidencialismo é conhecido do eleitor — ele conhece suas virtudes, seus pontos fracos, seu funcionamento, suas realizações, sua potencialidade, sua adequação a ura pais em desenvolvimento, que exige ações decidi- das, profundas e rápidas, ratificadas previa- mente com a eleição do presidente e a aceita- ção de seu programa de governo. E qual o parlamentarismo que sairá das umas, caso a sociedade decida encetar esta aventura? Ninguém sabe, muito menos os parlamen- taristas. Instalado um parlamentarismo sem face; os parlamentaristas terão o encargo de desenhar o rosto do novo regime, sem que a população se tenha manifestado a respeito, pois não terá sido consultada. Nesta desconfortável circunstância, o Con- gresso Nacional gastará um tempo precioso, cuja extensão é imprevisível, para debater, detalhar e apresentar ao País ura modelo de parlamentarismo. Vale lembrar duas agravan- tes: primeira, os urgentes problemas nacionais (inflação, retomada do desenvolvimento, de- semprego, saúde, educação, violência urbana, transportes, resgate da dívida social, entre outros) não ficarão congelados à espera de um melhor tempo para sua solução — ao contrário, serão exacerbados pelo imobilis- mo político e governamental instalado no Pais; segunda, os parlamentares irão elaborar um sistema de governo desconhecendo as preferências ou mesmo as opiniões do eleito- rado, em um vôo cego de conseqüências dramáticas. Em momento nenhum a população se pro- nunciou sobre as características de um even- tual novo regime. Vamos a alguns poucos exemplos, indicadores da gravidade da situa- ção. O presidente da República será eleito diretamente ou pelo Congresso? (Não pode- mos desprezar um fato histórico recente: a eleição direta de presidente da República foi conquistada nas ruas e praças pela popula- ção, em um dos momentos mais belos da nossa História). Por falar era Congresso, ele continuaria constituído de Câmara dos Depu- tados e Senado, ou o Senado simplesmente seria eliminado? Caso seja confirmada a so- brevivência'do Senado, a quais regras eje estaria subordinado? A dissolução dS:Câmata implicaria automaticaraente ria dissolução do Senado? A eleição do priraeiro-ministro seria feita por voto da Câmara c do Senado, ou apenas a Câmara teria o poder de escolha? A eleição do primeiro-ministro exigiria maioria absoluta ou bastaria maioria simples, que seria o suporte de um governo nascido fraco, pois existe a hipótese nada desprezável de ser impossível á formação de maioria absoluta? O "novo" presidente da República seria figu- ra decorativa ou teria funções que não sabe- mos quais no governo? Quais as regras para a dissolução do Congresso c do Gabinete? Na hipótese da dissolução do Congresso, as no- vas eleições seriam convocadas por um presi- dente que poderia ter sido eleito indiretamen- te, ou por um priraeiro-rainistro eleito indire- tamente? Restará á população apenas a possi- bilidade de assistir bestificada á resolução de tantos problemas que a atingem diretamente sem poder raanifestar-se? Considerando esses dados, fica evidente que o parlamentarismo será aventura cara, imobilizante e de vantagens mais do que duvidosas. A Orrutt Qoircb t 4o PMDB Folha de São Paulo - 20.12.92 Presidencialismo o governo fraco José Serra Durante um debate promovido por estudantes da Universidade de Brasí- lia, o deputado Vladimir Palmeira, presidencialista convicto, resumiu com lucidez e franqueza as nossas di- ferenças em relação ao sistema de go- verno: ele quer o presidencialismo porque, nesse sistema, o Poder Exe- cutivo é mais fraco em relação ao Le- gislativo. Eu defendo o parlamenta- rismo porque considero necessário um Poder Executivo mais forte. O resumo do Vladimir parece surpreendente à luz dos argumentos antiparlamenta- ristas mais popularizados, quase todos enfatizando que, dentro do novo sis- tema, o Legislativo tomaria as "rédeas do país nos dentes". Quando menciono Executivo mais forte, não penso, evidentemente, em repressão aos direitos individuais ousociais, nem em opressão ao Legisla- tivo. Penso exclusivamente na capaci- dade do governo para definir e im- plementar políticas públicas, de forma mais coerente e persistente. Penso na "eficácia", na "legitimidade" e na "flexibilidade" do sistema de gover- no, num contexto democrático. Em conferência feita no final de 1989, no Instituto de Estudos Avan- çados da USP, o professor Alfred Stepan distinguiu com clareza esses três atributos, os mais relevantes de um sistema de governo. A "eficácia" reflete a capacidade do sistema para gerar maiorias no Le- gislativo e entendimentos entre esse poder e o Executivo, de modo a via- bilizar a formulação e implementação de políticas públicas. A "legitimida- de" relaciona-se com a capacidade do governo de, simultaneamente, vincu- lar-se às opiniões predominantes no país e manter-se dentro do espírito e das normas constitucionais. A "flexi- bilidade" consiste precisamente na capacidade do sistema político de evitar ou resolvei as crises governa- mentais, de modo a impedir que se transformem em crises do regime de- SííííSíSiííiíSíííiSK: Quinzena PoMiea NaeÍon*l mocrático. No parlamentarismo há um grande incentivo à "eficácia", pois a existên- cia do governo depende da maioria do Congresso, é formado a partir dessa maioria. Note-se que, diante de even- tuais e reiteradas dificuldades para reunir maioria que respalde um gabi- nete ministerial, o Parlamento poderá ser dissolvido, ameaça que influirá poderosamente para induzir à estabili- dade de uma coalizão governamental. Além disso, como lembra o professor Stepan, a participação de partidos e membros do Congresso no governo é bem concreta e, se a coalizão se desfi- zer, ficará fora da administração. Este é outro incentivo para afinar a maioria parlamentar e o Executivo e, portanto, para reforçar a eficácia do sistema político. Não é por menos que no parlamentarismo os governos têm maioria legislativa durante 90% do tempo, segundo estimou Alfred Ste- pan à luz da experiência de países de- senvolvidos e subdesenvolvidos. Já no presidencialismo, o descasa- mento entre Executivo e Legislativo é natural, notadamente diante de políti- cas públicas que despeitam fortes rea- ções corporativas ou são consideradas impopulares e/ou quando se está no período final do governo, um ou dois anos antes das eleições. Isso tudo, mais o fato de que o governo é forma- do independentemente da maioria do Congresso, leva a que, no presiden- cialismo, o Executivo raramente conte com maioria legislativa e seja, segun- do estimativas de Stepan, minoritário durante mais de dois terços do tempo. Nesse sistema, o Legislativo, ao con- trário do que se pensa, tem tanto ou mais poder do que no parlamentaris- mo, mas tem menos "responsabilida- de". Face à sua condição de minoritário- quase-sempre, não espanta que o go- verno no sistema presidencialista so- fra, com relativa freqüência, impasses e choques que estimulam o uso de medidas excepcionais, como, no Bra- sil, decretos-lei e medidas provisórias. O recurso a esses instrumentos é bem mais raro no sistema parlamentarista. No presidencialismo, sua utilização freqüente amplia os impasses e os confrontos entre os poderes, cm fortes perdas de legitimidade do sistema po- lítico. Lembre-se o primeiro trimestre do governo Collor, cuja propensão a adotar medidas excepcionais e a não prestar atenção ao espírito e às normas constitucionais foi duplamente incen- tivada pelo tamanho da crise econô- mica e por sua condição de partida- riamente minoritário no Congresso. Mais ainda, no parlamentarismo a crise governamental não tende a tor- nar-se uma crise do regime pois, para mudar o chefe do governo, basta o voto da Câmara, enquanto no presi- dencialismo seria necessário um peno- so impeachment ou um golpe de Esta- do. Elege-se um monarca a cada qua- tro ou cinco anos e o fracasso de sua política de governo provoca-lhe, no máximo, o desgosto de observar o colapso dos índices de popularidade, mas não a perda do cargo, que abriria caminho para retificações mais con- sistentes naquela política. À pouca flexibilidade do sistema acrescenta-se também a intensificação do processo de barganha fisiológica com setores do Legislativo, como re- curso de um governo ajoelhado por seu fracasso. Nesse processo, são en- fraquecidos os partidos cujos parla- mentares são mais suscetíveis à bar- ganha. Os próprios ministros desses partidos, mais fiéis ao presidente do que à sua legenda, encarregam-se do trabalho. As experiências brasileiras e de outros países da América Latina é ri- quíssima para ilustrar as considera- ções anteriores. Evidentemente, seria um erro elementar acreditar que as vi- cissitudes do processo democrático na região são explicadas somente pelo presidencialismo. Há outros fatores históricos e estruturais por trás delas. Mas um erro simétrico seria desconsi- derar a importância do sistema de go- verno presidencialista como fator que acirra as crises e estreita as chances da consolidação democrática. Nos debates, toda vez que é subli- nhada a superioridade teórica do par- lamentarismo, não falta quem sublinhe a menor aplicabilidade das considera- ções feitas em relação a alguns países presidencialistas. Nesses casos, como nos Estados Unidos, afora condições históricas e peculiares dos sistemas políticos nacionais, um fator crucial que os diferencia dos sistemas presi- dencialistas de pauses como o Brasil é a predominância do "bipartidarismo", que modera (embora não elimine) sig- nificativamente o efeito das essências de incentivos mencionadas anterior- mente. MITOS E REALIDADES A propósito da experiência interna- cional, o professor Alfred Stepan con- seguiu compilar informações sobre mais de cem países que se tornaram independentes desde 1945 parta, corro- borar a instabilidade e a fraqueza do presidencialismo. Seus números, evi- dentemene, não estabelecem relações de causalidade, nem permitem prever automaticamente tendências reais a partir de mudanças político-institucio- nais a serem promovidas neste ou na- quele país. Mas sugerem, pelo menos, o caráter "mitológico" de argumentos antiparlamentaristas ou pró-presiden- cialistas envergonhados. Constatou-se, por exemplo, (pie, de 1973 a 1989, entre 38 países não de- senvolvidos, a chance de golpes mili- tares em países sob sistemas presiden- cialistas foi duas vezes maior do que em países sob diferentes variantes do sistema parlamentarista. Do mesmo modo, a totalidade dos países que des- frutaram do regime democrático sem interrupção entre 1979 e 1987 inicia- ram sua vida independente sob regi- mes de corte parlamentarista. Há outra evidência especialmente relevante para o Brasil: o regime de- mocrático se manteve sem interrup- ções entre 1979 e 1988 no máximo em 41 países do mundo. Entre estes há países parlamentaristas e presidencia- listas mas, "em nenhum deles", pre- valecia um sistema mulüpartidário. Entre os países não desenvolvidos que foram democráticos durante pelo menos um ano entre i 973 e 1987, o Executivo teve minoria legislativa du- rante mais da metade do tempo nos sistemas presidencialistas. Em países parlamentaristas obteve 83% do tem- po. Há ainda evidências que desmen- tem a suposta maior rotatividade do primeiro escalão governamental sob o parlamentarismo, o que significaria maiores descontinuidade e instabilida- de na gestão governamental. Entre 1950 e 1980, durante os anos de go- vernos democráticos na Europa Oci- dental, nos Estados Unidos e na Amé- -.. ^íííxííííííííSfrííííííí XíjSÍÍÍÍSSíim;:;;:;:;:;-™-:-: Quinzena PoUtiea Nacional rica Latina, a permanência médiade um ministro nos sistemas presidencia- listas eqüivaleu à metade da vida mé- dia exibida nos sistemas parlamenta- ristas. Entre 1945-80, cerca de dois terços dos ministros em sistemas par- lamentaristas, contra somente 25% dos ministros em sistemas presiden- cialistas, serviram a mais de um go- verno, fator que reforça e valoriza a experiência na gestão governamental parlamentarista. Não é exatamente o contrário que tem sido veiculado no presente debate no Brasil? A elevada rotatividade ministerial no presiden- cialismo é, na verdade, um instru- mento de "compra" de apoio parla- mentar. José Serra á economista e deputado federal pelo PSDB de Sáo Paula Foi secretário do Planeja- mento do Estado de Sâo Paulo (governo Montoro). Sistemas de Governo Parlamentarismo & Presidendalsmo Cota, Antônio Arcanjo Caderno do Povo - Editora Arcângelus SISTEMAS DE GOVERNO PARLAMENTARISMO PRESIDENCIALISMO I - Só existem duas formas de governo: MONARQUIA E REPÚBLICA O Parlamentarismo e o Presiden- cialismo são sistemas de governo e não regimes políticos. Existem vários regimes políticos tais como: Democracia, Comunismo, Capitalismo, Socialismo, Fascismo, Totalitarismo, Militarismo, etc. Vigo- rou no Brasil de 1964 a 1985 o regime militarista com: Humberto de Alencar Castelo Branco, Artur da Costa e Sila, Augusto Rademaker Griinewald, Emílio Garrastazu Mediei, Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo. II-O QUE É CIDADÃO? O indivíduo adquiri a cidadania com o título de eleitor; assim se toma mais importante do que o "Governo" e mais valioso do que o próprio "Es- tado" ; pois através do voto ele é ca- paz de modificar a forma, o sitema de governo e o regime em que está su- bordinado. O "Cidadão" tem amis valor do que todo o ouro do universo. Ele é a peça fundamental da "Polis" (Cívitas - Cidade); pois foi aí, que surgiu o interesse pela administração pública para dirigir os destinos do "País" e da "Sociedade". EI - O QUE É CONSTITUIÇÃO? Constituição ou Carta Magna é a lei principal de um "Estado" (País, Nação), que define competência dos três poderes; Poder Judiciário - Poder Legislativo - Poder Executivo, de que se compõe o governo e estabelece os direitos e deveres^ do cidadão. IV - O "PARLAMENTARISMO" originou-se na Inglaterra; surgiu atra- vés de uma Assembléia de Barões, do Clero Católico e de Burgueses (Co- merciantes e Artesões), que mais tarde formaram um "Conselho" , logo após "João Sem Tena" (Rei da Inglaterra) ter jurado a Magna Carta em 1215 D.C., garantindo as liberdades públi- cas aos cidadãos. Durante o reinado de Henrique 111, em 1258 D.C., o "Cooselho" impôs ao Reá os "Estatudos de Oxford", pelo qual o Parlamento (Poder Legis- lativo) passou a funcionar bicameral- mente: Câmara dos Comuns (Burgue- ses) e Câmara dos Lordes (Nobres). Foi quando a influência do Parla- mento passou a preponderar sobre a do Rei, limitando o arbítrio do sobe- rano. Os Ministros e o Chanceler do Rei seriam escolhidos pelo Parlamento, nascendo aí o "Sistema Parlamenta- rista". V - AS CARACTERÍSTICAS DO PARLAMENTARISMO são: O Par- tido Político que eleger o maior nume- ro de Parlamentares torna-se majoritá- rio e escolhe entre os seus pares (Deputados) o "Primeiro-ministro", o qual exerce o Poder Executiva Seus auxiliares, Ministros são escolhidos (Eleitos) pelos colegas parlamentares de seu Partido e são responsáveis pe- rante o Parlamento e a ele prestam contas. Portanto, no Sistema Parla- mentarista, quem governa é o Primei- ro-ministro, tanto na forma de gover- no Monárquico, como na forma de governo Republicano. Quando houver uma crise de Gabinete devido o Voto de Desconfiança, o Presidente da Re- pública ou o Rei ou a Rainha dissolve o Congresso e convoca novas elei- ções. O partido majoritário ou uma coligação de vários partidos se reú- nem e elegem um outro Primeiro-mi- nistro e organizam um novo ministério composto exclusivamente de prla- mentares. No sistema "Parlamentarista", o Rei reina, mas não governa; o Pre- sidente da República é o chefe de Es- tado, mas não tem força de mando político administrativo, que está a cargo do Primeiro-ministro, que é o chefe de governo. O Partido Político majoritário ou coligado com outro Partido Político através de seus repre- sentantes no Parlamento escolhe o Primeiro-ministro e elege, pelo voto indireto, o Presidente da República ou pelo voto direto (caso da França e de Portugal). Na Monarquia isto não acontece, porque o Rei ou a Rainha têm cargo vitalício, isto é, por toda a vida, até morrer. Na América só existe um País com o Sistema Parlamentarista, que e o Canadá. O chefe de Estadof é o Go- vernador Geral nomeado pelo monar- ca da Inglaterra; o chefe de governo é o "Primeiro-ministro". Na Europa, na Ásia, na África e na Oceania, existem vários Pauses que adotam o Sistema Parlamentarista, tanto na forma de governo Republica- no como na Monárquica, Nos Países de Regimes Marxistas (Comunistas) o Parlamentarismo é ex- drúxulo , é capenga e pró-forma. Quinzena @ PolttUa Nacional ü Partido Político Único nega toda espécie de liberdade, caindo na in- congruência da Ditadura do Profe- tariado, onde a oligarquia do mando toma-sç evidente e a luta pelo Poder é feita nos bastidores, sem que o Povo o saiba ou dela participe. Não existe o Voto de Desconfiança, que é uma característica do bom funcionamento do sistema, corrigindo as falhas da Política e da Administração Pública do Mandatário e dos Representantes nos Poderes Legislativos. VI - O PRESIDENCIALISMO ori- ginou-se nos Estados Unidos da Amé- nca do Norte para substituir o monar- ca (o rei) com todas as suas prerroga- uvas, com a diferença de não ser he- reditário e vitalício. (Foi a primeira experiência republicana), no Sistema Presidencialista, no mundo. Após a independência das 13 (treze) colônias inglesas na América, formou-se, em 1776 uma "Confederação" , com o nome de Estados Unidos da América do Norte. Onze (11) anos depois, 1787, verificaram a sua incapacidade e fraqueza para continuar existindo; fez-se uma campanha para a mudança, transformando-se a "Confederação" em "Federação" , um Estado Único. Os 13 (Treze) Países (Estados) Confederados, na época, perderam as suas prerrogativas de Soberania e Federalizaram-se, formando um Es- tado só; apenas mantiveram a autono- mia administrativa de cada uma das Províncias, que conservam errada- mente até hoje os nomes de Estados, pois na realidade, não o são. As eleições do Presidente da Repú- blica e do Vice-Presidente são reali- zadas pelo processo indireto; o Povo (Eleitor) escolhe os delegados de seu Partido e estes (Delegados) se reúnem em uma Assembléia exclusivamente para escolher o candidato que foi in- dicado na Convenção partidária das prévias eleitorais à Presidência da Re- pública. Em toda a História dos Estados Unidos da América, sempre ganhou o Partido majoritário, isto é, aquele que conseguiu levar o maior número de Delegados (Representantes) ao Colé- gio Eleitoral. Nunca houve deserção, isto é, um delegado de um Partido voftr num outro candidato que não seja o seu. Após o escrutínio , acaba a sua finalidade, dissolve-se a Assem- bléia (Colégio Eleitoral). O primeiro Presidente da República dos Estados Unidos da América do Norte, eleito, foi Jorge Washington, em 1787. Ele passou a ter o poder po- lítico em suas mãos para todo o terri- tório nacional, exercendo o Poder Executivo com todas as prerrogativas que caracterizam o Presidencialismo. Os governadores das Províb- ciasamericanas, chamadas errada- mente de (Estados), não possuem "Soberania"e estão sujeitos ao go- verno central de Washington, exercido pelo Presidente da República. Caso um Governador de uma Província (Estado) desrespeite a Constituição Federal de 1787, que está em vigor até hoje, o referido Mandatário Pro- vincial está sujeito a uma interven- ção em sua Província (Estado) por parte do chefe de Estado, o Presidente da República, que, no sistema Presi- dencialista exerce o Poder Executivo, que é o Chefe de Estado e Chefe de Governo. VII - AS CARACTERÍSTICAS DO PRESIDENCIALISMO são: a) O Presidente da República exer- ce o Poder Executivo com todas as suas prerrogativas, é o Chefe de Esta- do e do Governo ao mesmo tempo, apenas limitado pela "Constituição"; b) Os Ministros (seus auxiliares) são escolhidos pelo Presidente da Re- pública, isto é, os ocupantes dos mi- nistérios são cargos de confiança, ex- clusivamente dele; c) Tem todo o comando político e militar em suas mãos, independente do Poder Legislativo; só em caso de guerra ele submete ao Parlamento o pedido de autorização e também em alguns casos graves de problemas econômicos. Nos Países onde existem uma Pseudo- democracia, os Presidentes da Repú- blica de Sistema Presidencialista são verdadeiros monarcas, abusam do Po- der Político, formando oligarquias de- sonestas, praticando toda a sorte de nepotismoss* e favores empregatícios a correligionários políticos de sua grei e de parentes. VUI - CONCLUSÃO O Sistema Parlamentarista é o mais honesto e o mais Democrático, porque garante as liberdades publicas dos ci- dadãos que são afiançadas pelo Par- lamento, que é a caixa de ressonância de todos os reclamos feitos à Nação. Os parlamentares protestam, denun- ciando qualquer tipo de arbitrarieda- de. A atuação do Podo* Executivo, é exercida pelo Primeiro-Mimstro, que é o Chefe de Governo, e está sempre sob o controle do Voto de Descon- fiança. Este é dado pelo Parlamento, onde se processa a votação "Sim" ou "Não", que decidirá se o Gabinete continua ou será dissolvido. No Sistema Presidencialista pelo contrário o Poder Executivo é exerci- do pelo Presidente da República, que é chefe de "Estado" e de "Governo" ao mesmo tempo, é um verdadeiro "Ditador Legal", investido de plenos poderes, é um "príncipe" temporário; Por mais liberal que ele seja e respeite a "Constituição", não tendo que prestar conta a ninguém, só abandona o cargo quando termina o seu manda- to. ^ Antônio Arcanjo Cota é professor, ajudou a fundar o PT, com a reorganizaçáo do PSB, desfiliou-se do PT e reingressou no PSB na nova fase. AS COBRAS WfA&UAi.'?- r T VERÍSSIMO iiiiiiiiii Quinzena SííiíSSÍ:*:: PoMiea Nacional Folha de Sáo Paulo - 06.12.92 Parlamentarismo? Por quê? Leôncio Martins Rodrigues No ritmo alucinado, e alucinante, das mudanças, reformas e contra-re- formas que caracteriza o sistema polí- tico brasileiro, o eleitorado será cha- mado a dizer, no próximo mês de abril, se prefere a monarquia ou a re- pública, o presidencialismo ou o par- lamentarismo. Deixemos de lado a questão da improvável, mas não im- possível, opção monárquica para nos concentrarmos na opção presidencia- lismo vs. parlamentarismo. Quais os lados positivos e negati- vos de cada opção? Uma das princi- pais vantagens do parlamentarismo se- ria evitar situações como a que pode resultar da eleição de um presidente sem base partidária no Legislativo. Do ângulo dos valores democráticos, o presidencialismo teria vários aspectos negativos gerados pela personificação do processo político e conseqüente acirramento das disputas. Contraria- mente, a favor do presidencialismo geralmente se enfatiza a diminuição dos riscos de crises de governabilida- de resultantes da formação, nos regi- mes parlamentaristas, de gabinetes minoritários em sistemas partidários fragmentados. Os ministérios presi- dencialistas seriam mais estáveis do que os gabinetes parlamentaristas. Esta estabilidade estaria ligada, em larga medida, ao fato de o chefe de Estado, que é ao mesmo tempo o che- fe do governo, ter um mandato por tempo determinado, o mesmo aconte- cendo com o mandato dos parlamenta- res. Desse modo, os regimes presiden- cialistas tenderiam a ser não apenas mais estáveis como mais eficientes do que os parlamentaristas. Outra vanta- gem do presidencialismo viria de o compromisso político do chefe do go- verno ser antes com o povo do que com a facção parlamentar da classe política. Para complicar a contabilidade das vantagens e desvantagens de cada re- gime, certos aspectos, que os presi- dencialistas avaliam positivamente, são vistos negativamente pelos parla- mentaristas. O prazo fixo de governo no presidencialismo seria uma des- vantagem, porque um chefe de gover- no incompetente não poderia ser destituído, enquanto, inversamente, se fosse competente, não poderia ter o seu mandato prolongado, como acon- teceria com um primeiro-ministro no parlamentarismo. Conseqüentemente, ao contrário do que dizem os presi- dencialistas, o parlamentarismo daria mais estabilidade e eficiência à admi- nistração pública. Por sua vez, os pre- sidencialistas podem contestar que o parlamentarismo seja mais democrá- cito e leve a um melhor equilíbrio en- tre os poderes. Muitos cientistas polí- ticos consideram que o Congresso dos Estados Unidos é um corpo legislativo extremamente poderoso quando equi- parado com os Legislativos dos siste- mas parlamentaristas europeus^1-'. Assim, considerando os dois mo- delos em termos típico-ideais, para um conjunto de vantagens, pode-se apontar um conjunto de desvantagens. Mas, apesar disso, parece não haver dúvida de que o presidencialismo ten- de a projetar as lideranças populistas, os demagogos populares dos palan- ques (ou da TV), enquanto o parla- mentarismo projeta as lideranças há- beis nas manobras de bastidores, nos arranjos políticos, nas palavras cida- dãs ao pé do ouvido. Para utilizar uma imagem zoológica: o presidencialismo favorece os leões (às vezes os gorilas) das praças públicas enquanto o parla- mentarismo favorece as raposas (às vezes ratazanas do parlamento). É difícil apontar, em termos abs- tratos, qual o melhor sistema. Do ân- gulo de uma apreciação mais concreta, a varo do parlamentarismo poder-se-ia argumentar que os regimes presiden- cialistas nunca tiveram um bom fun- cionamento na América Latina( ). Ocorre, no entanto, que não se pode desprezar, ou menosprezar, outros fatores de ordem social e cultural (o autoritarismo, o militarismo, a violên- cia, a burocracia, a pobreza, o analfa- betismo etc) que, na América Latina e em outras partes, não favorecem a democracia (parlamentar ou presiden- cialista). Nesse ponto, o exemplo de muitos países europeus mostra que o parlamentarismo - especialmente nos países mais pobres da Buropa latina - deixou muito a desejar nas situações de radicalização ideológica e frag- mentação partidária. O parlamentaris- mo da 22 Repúbüca espanhola (1931- 36), o da Itália até a ascensão de Mus- solini, em 1922, e também o da Ale- manha da República de Weimar (1919-1933), não evitaram a ascensão de regimes de tipo fascista. Na Fran- ça, o regime parlamentar da 4* Repú- blica (1946-1958) foi marcado por su- cessivas crises ministeriais, e acabou levando à emenda constitucional de 1962 que impôs a eleição direta e po- pular do presidente da República, criando um regime presidencialista (ou semipresidencialista). Na verdade, a maioria dos regimes parlamentaristas que funcionaram sem crises maiores eram monarquias (Suécia, Holanda, Reino Unido, Bélgica etc.). Nos EUA, o presidencialismo suportou bem o embate de grandes crises eco- nômicas, como a de1929, e soube conduzir as políticas de integração das minorias étnicas. Os exemplos acima indicam que um adequado funciona- mento das democracias, em termos dos requisitos de representatividade e funcionalidade, depende de um con- junto de fatores, dos quais um dos mais importantes é a existência de uma cultura política democrática que se funda no consenso, na capacidade de postergação das expectativas, no espírito cívico, na obediência e conti- nuidade das regras do jogo político e na percepção dos concorrentes como adversários e não como inimigos. Aqui, é preciso admitir que esse tipo de cultura está mais associada aos paí- ses de religião protestante do que de religião católica. A luz dessas observações, como votar no próximo dia 21 de abril? Uma das dificuldades de opção vem do fato de que o plebiscito, aparente- im Quinzena PoHtiea Nacional mente democrático, que transferiu ao povo a escolha do sistema de governo, não indica que modelo de parlamenta- rismo será implantado no país. (A de- cisão caberá aos parlamentares e não aos eleitores). Desse modo, imaginan- do que a opção presidencialista seja derrotada, que tipo de parlamentaris- mo teríamos? Com eleição do presi- dente por voto popular direto ou por voto dos deputados (e senadores)? O Senado continuaria a existir? Com que atribuições? Poderia ele ser dissolvi- do, tal como a Câmara Federal? Em que condições? Senado e Câmara Fe- deral participariam da eleição do pri- meiro-ministro? Este seria eleito por voto aberto ou secreto? Por maioria simples ou absoluta? (A escolha do primeiro-ministro por maioria absoluta parece a solução mais lógica, mas co- mo proceder quando essa maioria não é alcançada? Iríamos para a maioria simples, o que significaria um gover- no minoritário?) Com que poderes e funções ficaria o presidente da Repú- blica? A eleição do presidente deveria coincidir com a eleição do Congresso? Haveria vice-presidente? Deveria ele, na hipótese de existir, ser obrigato- riamente do mesmo partido do presi- dente? Em que condições poderia ocorrer a dissolução do parlamento e de um gabinete? Quem teria o poder de convocar novas eleições: o primei- ro-ministro ou o presidente? Ministros poderiam ser destituídos isoladamente pelo parlamento? O primeiro-ministro teria que ser escolhido obrigatoria- mente entre os deputados ou poderia ser um senador? Apenas parlamenta- res poderiam integrar os gabinetes? Considerando as características da cultura política brasileira e o fato de que, há pouco tempo, multidões reuni- ram-se nas praças públicas para rei- vindicar o direito de eleger o presi- dente, se no plebiscito a maioria assi- nalar parlamentarismo, provavelmente teremos um modelo híbrido, semipre- sidencialista ou semiparlamentarista, era que o presidente eleito por voto popular direto teria muita legitimidade (especialmente se a eleição for em dois tumos) e conservaria poderes im- portantes, continuando a ser uma peça essencial do jogo político(3). Não é difícil prever, em tal situação, os pro- blemas de governabilidade advindos dos possíveis desentendimentos entre um presidente legitimado pelo voto popular direto e um primeiro-ministro legitimado pelo parlamento. Na hipótese de que a opção parla- mentarista saia vencedora, somente a partir de maio é que as negociações sobre o modelo de parlamentarismo serão para valer. E difícil prever quanto tempo será necessário para se chegar a um acordo e se promover as alterações constitucionais necessárias, inclusive no próprio regimento interno da Câmara. Mas, em princípio, a partir de outubro de 1993, teremos a revisão constitucional. Muito provavelmente, as discussões sobre o modelo parla- mentarista irão coincidir com a refor- ma constitucional, sobrecarregando enormemente a agenda do Congresso. Mas os problemas não param aí. O parlamentarismo a nível federal seria incompatível com as eleições diretas para os governadores e também para os prefeitos das capitais e das grandes cidades. Logo, a mudança das consti- tuições estaduais e municipais se im- pera. A conclusão é óbvia: a classe política brasileira mergulhará por mais alguns anos na discussão do modelo que deverá pautar o jogo dos interes- ses políticos no país, ampliando o pe- ríodo de incertezas quanto ao cenário institucional futuro. Convém lembrar que dezenas de dispositivos constitu- cionais votados em outubro de 1988 continuam aguardando regulamenta- ção e que, em 1994, teremos eleições para presidente. Câmara de Deputa- dos, dois terços do Senado, governa- dores dos Estados e assembléias le- gislativas. Considerando que não há nada que, entre nós, garanta a superioridade do parlamentarismo, a prudência reco- mendaria dar um pouco mais de tempo à experiência presidencialista iniciada sob a Constituição de 1988. Um país não pode ficar mudando, a todo mo- mento, as regras do jogo, criando a perpétua impressão de que tudo é pro- visório. Mudanças institucionais su- cessivas, tanto na economia como na política, dificultam as previsões e o planejamento. É preciso ter em conta os custos do aprendizado de uma dada mudança. Numa conjuntura de crise econômica e social grave, começar uma nova experiência que ameaça abrir um vazio institucional prolonga- do, pode implicar um grave risco para nossa estabilidade democrática. Não se trata de defender o imobilismo, mas sim de mudar menos para mudar me- lhor. As instituições da democracia, para se tomarem "sagradas" e legíti- mas, para se incorporarem aos costu- mes, para serem introjetadas pelos ci- dadãos, não podem ser alteradas a to- do momento. • Notas (1) - Ver, pof exemplo, Arend Lijphart, "As Demo- cracias Contemporâneas", Lisboa, Gradiva, 1989, pág. 113; (2) - Cf. especialmente as análises de Bolívar La- mounier, "Brasil: Rumo ao Parlamentaris- mo", Juan Unz, "Presidencialismo ou Parla- mentarismo: Faz Alguma Diferença?" e Ar- turo Valenzuela, "Partidos Pollbcos e Crise presidencial no Chile: Proposta para um Go- verno Presidencialista" In: Bolívar Lamounier (org.). "A Opçáo Parlamentarista", S. Paulo, Idesp-Editora Sumaré, 1991 e Juan Unz e Alfred Stepan, "Political Crafting of Democra- ting Consolidalion or Destruction: European and South American Comparisons", Atlanta (EUA), 1986 (mimeo). Uma ctfbca das posi- ções de Unz encontra-se em Dieter Nohlen, "Sistemas de Gobiemo: Perspectivas Con- ceptuales y Comparativas" iru Dieter Nohlen e Maria Femández iargs,), "Presidencialismo versus Parlamentarismo", Editorial Nueva Sociedad, 1991. (3) - As vantagens de um modelo misto 9seinipre- sidendalista ou semipariamentarista) para a América Latina são defendidas por Giovanni Sartori ("Neither Presidencialism Mor Paria- mentarianism", Columbía University, junho de 1990, mimeo.) e por Nohlen, (op. dL). A nós, parece o pior dos sistemas. Lôondo Martins Rodrigues é professor titular de Ciência Política da Unicamp e da USP e membro do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contem- porânea). É autor de "Partidos e Sindicatos" e "Cut os Militantes e a Ideologia*. Quinzena PoMíea Nacional O Plantador-W123- l^a 15.12.92 Razões do Presidencialismo Athos Pereira Aos trabalhadores e ao povo inte- ressa que o sistema de governo seja mais de- mocrático. A seguir, apresentamos alguns ar- gumentos que mostram que o presidencialis- mo é mais democrático. No presidencialismo, tanto o poder legislativo, quanto o executivo, têm origem no voto popular, o que lhes assegura legiti- midade e permite que um controle o outro. Este equilíbrio de poderes gera democracia. No parlamentarismo, apenas o le- gislativo é eleito pelo povo. O chefe do exe- cutivo é eleito pelos deputados.Esta prática não fortalece o legislativo, pelo contrário, faz com que o legislativo seja um apêndice do gabinete. Tanto é assim que nos paises parla- mentaristas da Europa 95% das leis são origi- nárias do poder executivo, enquanto no pre- sidencialismo americano, 2/3 das leis são de iniciativa do legislativo. A famosa flexibilidade, que seria as- segurada pelo parlamentarismo, que permiti- ria a mudança de governo a qualquer mo- mento, através da convocação de eleições, é falsa. Mais correto seria dizer que no parla- mentarismo as eleições são convocadas para o momento em que isso interressa ao parti- do dominante. Não foi por acaso que Margaret Tatcher convocou eleições gerais para logo depois da guerra nas Malvinas. Foi para ex- plorar o prestígio adquirido. Da mesma for- ma procedeu John Major, que fez as últimas eleições no momento em que as pesquisas indicavam sua vitória. Já George Bush, submetido ao ca- lendário democrático do presidencialismo, não teve área de manobra para explorar o prestígio adquirido na Guerra do Golfo e te- ve que marchar para uma derrota anunciada. Isto mostra que é o presidencialismo que as- segura rotatividade no poder, permitindo re- Folha de São Paulo -16.11.92 A OPINIÃO DOS PROFESSORES Parlamentarismo e presidencialismo José Murillo de Carvalho Neutralizavão do poder central (imperador/presidente) é tema [ constante na história do Brasil ;ndependente. Se adotado, o ! pí.rlamentarismo fortaleceria os i partidos políticos l jciano Martins A instituiçâc do parlamentarismo comporta riscos: há muitos partidos e eles são fracos. NSo há uma burocracia que assegure a continuidade das decisões do Estado durante as crises de gabinete Maria Teresa Sadeic | O parlamentarismo distribui melhor | as responsabilidades. Mas é preciso | definir mecanismos para . constituição do governo, suas ; relações com o Congresso e adotar as reformas eleitoral e partidária Rachel Meneguello O tema é institucionalmente muito complexo para um plebiscito. Os americanos desconhecem o que seja o parlamentarismo e os ingleses o que seja o presidencialismo. Mesmo simplificado, o debate no Brasil é didático 1 Brasílio Sallum Jr. O presidencialismo prossegue seu processo de desgaste e-as lideranças nacionais presidencialistas estão enfraquecidas.As elites tendem ao parlamentarismo pelo temor de uma nova opção Lula x Collor Luiz Felipe de Alencastro A transição democrática pós-74 embute a dinâmica presidencialista. A população, com as diretas-já, pediu a reconquista da soberania sobre o mandato presidencial. O impeachment funcionou Francisco Weffort j O parlamentarismo é necessário j por uma questão de governabilidade. Mas ele é incompatível com o atual sistema eleitoral e com a manutenção do \ "^presidencialismo" dos governadores nos estados Leônclo Martins Rodrigues | Há uma compulsão brasileira pelas | mudanças. Se adotado, o I parlamentarismo mergulharia o pais num vácuo político. O presidencialismo, apesar dos defeitos, mantém a persistência das regras políticas S ,' ai alternativa de políticas e de dirigentes. Por outro lado, a idéia de que no presidencialismo, toda crise de governo se transforma necessariamente em crise de es- tado, a ser resolvida através de golpe, acaba de ser desmentida por nossa própria histó- ria. Destituímos Fernando Collor sem sacri- ficar nenhuma conquista democrática. Finalmente, cabe ressaltar que. quando falamos de sistema de governo, esta- mos falando de sistemas democráticos. Quem tenta confundir o sistema presiden- cialista democrático com suas caricaturas merece ser lembrado que foram sistemas de governos parlamentaristas que produziram primeiros ministros célebres, como Hitler e Mussolini. # AOS QUE DEFENDEM O PARLAMENTARISMO AGORA Precisa-se lembrar que devemos sempre combater a causa e não os efeitos. A burguesia, com seu sistema capitalista de exploração e concentra- ção de renda, tanto no Parlamentaris- mo ou Presidencialismo como na Mo- narquia, nunca resolveu os grandes problemas sociais (aliás agravam) em país algum, e muito menos resolveu ou resolverá aqui. É bom que os de- fensores do Parlamentarismo agora, sejam eles de esquerda, do centro, da direita e tumbém os oportunistas de "esquerda", saibam que no Presiden- cialismo pode - se acabar com crises (estas provocadas pelos senhores do poder), inclusive com seduções mais radicais e profundas. Agora mesmo, com pressão popular, tiramos um pre- sidente através da Constituição. Fica então provado que é mais fácil mudar o presidente, pois este é um só, do que quinhentos e tantos deputados e senadores, que em sua maioria legis- lam em causa própria ou em defesa de grupos econômicos, sempre contra os trabalhadores e o chamado "Pdvão". Quinzena PoUtiea Nacional Basta ver o aumento do salário-míni- mo e do salário dos aposentados, que e corrigido de quatro em quatro me- ses. No Presidencialismo atual, o Con- gresso é um dos três poderes, portanto tem suas atribuições. Mas o Governo Collor, a maioria dos congressistas, a não ser os de esquerda, foram coni- ventes com a política collorida, dei- xando que Elle governasse 9 meses por decreto e medidas provisórias. Vemos assim, que o Parlamento no Brasil não é confiável, também como o presidente, pois depende da forma- ção de cada indivíduo política e ideologicamente. Mudar a regra do jogo agora, quando o país está em cri- se econômica e política, é oportunis- mo, casuísmo, é desviar a atenção do povo dos grandes problemas, como os baixos salários, desemprego, falta de moradia, saúde, etc. O que essa elite de exploradores querem é mais uma vez nos enganar; mudar o sistema por causa de crise? Quem faz as crises são os senhores donos do poder e não os trabalhadores. Estes não podem ficar nessa de combater crises, fabricadas pelos capitalistas. Temos que comba- ter o próprio capitalismo, o qual é o produtor das crises. Mudar a regra do jogo Agora é mudar a mosca mas a Mer». continuará a mesma. Como foi dito acima, temos que combater a causa e não os efeitos. A causa é o sistema capitalista de explo- ração da força de trabalho dos traba- lhadores. A saída então é um governo verdadeiramente democrático e popu- lar que nos conduza ao verdadeiro so- cialismo. Não importa, para nós tra- balhadores, que o governo que ante- ceda o governo popular seja Parla- mentarista ou Presidencialista, mudar a regra do jogo é golpe branco. # CARIOCA (Químico Aposentado) Soto Urbano -WU- Dezembro 1992 AS REFORMAS DO ESTADO; SISTEMA DE GOVERNO E SISTEMA ELEITORAL O Brasil entra em 93 com uma árdua tarefa a ser cumprida: a discussão e definição de uma agenda de mudanças que irá traçar o perfú político do país. Os ajustes a que deve se submeter a jovem democracia brasileira apontam para um possível aumento da representatividade do sistema político nacional, indicando novas formas de relacionamento entre sociedade civil e Estado. PARLAMENTARISMO VERSUS PRESIDENCIALISMO Em abril do próximo ano estaremos con- vocados a participar de um plebiscito nacional onde teremos que escolher entre três alternativas: Monarquia Constitucional, República Parlamen- tar ou República Presidencialista. Todas as pes- quisas de opinião realizadas até o momento des- cartam a opção monárquica, devendo a disputa ocorrer entre Presidencialismo versus Parlamen- tarismo. E interessante notar que existe um certo con- senso entre os defensores das duas posições em relação a algumas questões relevantes. Em pri- meiro lugar, todos concordam que o atual Presi- dencialismo não funcionaadequadamente. Em- bora a crise dos anos 80 seja decorrente de diver- sos fatores, ficou patente a incapacidade do Esta- do brasileiro de processar e implementar macro decisões. O fracasso de quase uma dezena de pla- nos econômicos anunciados na última década não deixa dúvidas a respeito da grave crise insti- tucional. O dilema seria entre reformar o atual Presidencialismo ou mudar o sistema de governo. Os defensores do Parlamentarismo argumen- tam que este sistema permite ao governo dispor de maioria parlamentar, uma vez que é fruto de negociações prévias realizadas no Congresso. Além disso, induziria o Poder Legislativo a uma grande co-responsabilidade com o Executivo, pois a escolha c permanência do Primeiro-Minis- tro e de seu gabinete depende sempre da concor- dância da maioria dos congressistas. Alegam, ain- da, que em caso de crise institucional pode-se, através de "voto de desconfiança", substituir com relativa facilidade o primeiro-ministro ou desti- tuir alguns dos seus ministros. Em caso de impas- ses mais graves é possível a dissolução da Câmara e a convocação de eleições gerais para formação de nova maioria parlamentar. Estas característi- cas dariam grande capacidade de governabilidade ao Parlamentarismo, evitando que crises conjun- turais pudessem - como tem ocorrido ao longo da nossa trajetória presidencialista - colocar em xe- que o próprio regime democrático. Por fim, usam como elemento demonstrativo da superioridade deste sistema de governo o fato de que, exce- tuando os Estados Unidos, todos os países desen- volvidos são parlamentaristas. Diferentemente do sistema presidencialista - onde o Presidente da República acumula as fun- ções de Chefe de Estado e Chefe de Governo, no Parlamentarismo há uma nítida separação en- tre estas duas figuras. Assim, a chefia do Estado seria exercida pelo Presidente da República, que tem a função primordial de representar o país. Por outro lado, a chefia do governo estaria a car- go do Primeiro-Ministro escolhido pela maioria do parlamento e responsável diretamente pelo dia-a-dia da administração pública. Seria ilusório, no entanto, imaginar que estas características gerais levariam a sistemas parla- mentaristas relativamente homogêneos. Na p <ti- ca há uma enorme gama de variedades deste sis- tema, sendo possível encontrar exemplos, como o da Itália, em que o Presidente tem uma função semelhante a dos Monarcas das Monarquias Constitucionais até situações mais híbridas, como o caso francês, no qual o Presidente é responsá- vel pela política exterior e pelo comando das for- ças armadas. Em contraposição, os defensores do Presiden- cialismo afirmam que a via que o Parlamentaris- mo possui para terminar com o conflito entre o Poder Executivo e o Legislativo é na verdade a supressão do primeiro enquanto poder autôno- mo. Em segundo lugar, lembram toda a tradição, expectativa e esperança do povo brasileiro na eleição direta para Presidente. Neste sentido, a evocação à "campanha das diretas" é quase auto- mática, afirmando-se que a maior parte da popu- lação repudia o parlamentarismo, pois este signi- ficaria a volta das eleições indiretas para a chefia do governo. Ressaltam também que, em grande medida, a modernização do país foi decorrência de iniciativas de presidentes que, em muitos ca- sos, contavam inicialmente com pouco respaldo ■ do parlamento. Outros argumentam, ainda, que o Presidencialismo permite "cortar atalhos" no ca- minho do desenvolvimento, devido a maior sinto- nia entre o Presidente e o sentimento da maioria do país. Segundo este ponto de vista, o parla- mento tenderia a ser mais conservador, defensor do "status-quo" e resistente a mudanças "vis a vis" ao Poder Executivo. Por fim, outros críticos, mesmo aceitando teo- ricamente as diversas vantagens do Parlamenta- rismo, consideram que o Brasil ainda não estaria maduro para a implantação deste sistema de go- verno, em virtude da fraqueza do nosso sistema partidário, do baixo desenvolvimento de uma cul- tura política de maior participação, da postura "delegativa" da maior parte dos eleitores etc. Da mesma forma que o Parlamentarismo, também este sistema possibilita uma infinidade de varian- tes, que vai desde um Presidencialismo Imperial, do tipo mexicano, até uma situação de maior equilíbrio de poderes entre o Legislativo e Exe- cutivo como ocorre nos Estados Unidos. Por outro lado, há duas grandes questões insti- tucionais não equacionadas que, dependendo do seu encaminhamento, podem levar as duas pro- postas acima mencionadas a adquirirem configu- rações diversas. De uma maneira geral, tanto os defensores do Parlamentarismo como do Presi- dencialismo concordam com a necessidade de uma reforma partidária e de uma nova lei eleito- ral. Quinzena üü w SíííííSSS; PoMiea Nacional Há unanimidade virtual sobre a urgência de se criar mecanismos institucionais que levem a uma diminuição do número de partidos e ao fortaleci- mento das agremiações políticas. Hoje existe uma enorme profusão de partidos, muitos funcio- nando como legendas de aluguel ou para respon- der a interesses particularistas de grupos de polí- ticos regionais, o que termina por confundir o eleitor e banalizar a importância dessas associa- ções como intermediadoras dos interesses da so- ciedade frente ao Estado. Além disso, pela atua! legislação, os partidos somente são importantes para viabilizar as candidaturas dos postulantes aos cargos do Poder Legislativo. Uma vez eleitos, os parlamentares de fato não necessitam mais le- vá-los em conta. Dados fornecidos pela Câmara Federal mostram uma enorme discrepância entre o quadro dos deputados eleitos, segundo os di- versos partidos, e a atual correlação de forças partidária, decorrente da forte migração de par- lamentares entre as diversas legendas. As mudanças no sistema eleitoral Em relação à mudança na legislação eleitoral, o objetivo buscado seria o aumento da repre- sentatividade, barateamento das campanhas e a diminuição da influência do poder econômico. No referente a este último ponto, as propostas abrangem desde uma nova regulamentação, que incentive a transparência das contribuições dos diversos grupos sociais nas campanhas, até a par- ticipação do próprio Estado cobrindo parte des- tes gastos. Um dos grandes questionamentos ao atual modelo de representação parlamentar vem dos estados mais populosos, especialmente da região sudeste, que se sentem sub-representados na Câ- mara dos Deputados. Medidas casuísticas toma- das durante o período militar, a fim de manter o domínio sobre o Congresso, superdimensionaram a participação dos Estados das regiões Norte e Nordeste O debate sobre Parlamentarismo ver- sus Presidencialismo possui uma dimensão regio- nal, quase nunca explicitada, mas que não deve ser subestimada. Não é por acaso, por exemplo, que muitas dai principais lideranças presidencia- listas no Congresso são de Estados do Nordeste. Com a implantação do Parlamentarismo, segura- mente haveria uma maior transferência.de poder para as regiões Sudeste e Suldo país, seja em fun- ção da reformulação da representação por Estado na Câmara dos Deputados, seja pela inevitável restruturação do poder do Senado, que deixaria de funcionar como Câmara alta para dedicar-se a outras funções como resolver conflitos entre Es- tados membros da Federação aprovação de acor- dos internacionais etc. Ainda no que diz respeito ao aprimoramento da representatividade e diminuição dos custos das campanhas, uma das propostas mais ventila- das se refere à-implantação do voto distrital, on- de o eleitor escolheria entre um número reduzi- do de candidatos, cada um deles representando um partido. Segundo os defensores desta tese, o voto
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