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Universidade Federal de Roraima Centro de Ciências Agrárias Departamento de Solos e Engenharia Agrícola Nutrição de Plantas – AGR 051 O Fósforo e as Plantas Prof. Dr. Armando J. Silva O fósforo e as plantas INTRODUÇÃO O P no metabolismo vegetal: • Transferência e armazenamento de energia, • Síntese de ácidos nucléicos e glicose, • Respiração, • Síntese e estabilidade da membrana plasmática, • Ativação e desativação de enzimas, • Reações redox, • Metabolismo de carboidratos e • Fixação de N2. O fósforo e as plantas INTRODUÇÃO Contudo, é um dos nutrientes menos disponíveis na rizosfera, porque: • Interage com Fe, Al e Ca, formando compostos insolúveis, • Predomina em formas orgânicas de lenta mineralização, • Lenta taxa de difusão, com mobilidade extremamente baixa no solo. O fósforo e as plantas INTRODUÇÃO Mesmo quando aplicado como fertilizante, uma grande parte torna-se indisponível, porque: • É fortemente adsorvido pelos colóides do solo, • Liga-se a Fe, Ca e Al, formando compostos insolúveis, • É imobilizado pela atividade microbiana, transformando-se em P orgânico. O fósforo e as plantas INTRODUÇÃO Devemos manejar o P na agricultura com parcimônia, porque: • “O suprimento mundial de P para a fabricação de fertilizantes é um recurso natural finito, exigindo aproveitamento consciente deste nutriente para garantir a sustentabilidade da agricultura nos moldes atuais” (Araújo e Machado, 2006). 07/07/2016 6 Figura 1 – O ciclo do fósforo no sistema solo-planta FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS • As formas de P estão em equilíbrio no sistema solo-planta, como mostra a figura 1. O fósforo e as plantas O FÓSFORO NO SISTEMA SOLO • Crosta terrestre – 0,12% de P • Reservas de P no planeta: • Sedimentos marinhos, • Solos • Oceanos • Rochas e minerais (apatitas); • Segundo Araújo e Machado (2006) “O intemperismo liberou o P das apatitas, que foi absorvido pelas plantas e reciclado, incorporado à matéria orgânica dos solos e sedimentos, ou precipitado como minerais pouco solúveis de Ca, Fe e Al”. 07/07/2016 8 FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS P total no solo – concentrações podem ser altas, oscilando entre 0,2 e 5,0 g.kg-1. P disponível – teores baixíssimos nos solos tropicais. De acordo com Barber (1984) o P na solução do solo varia entre 0,1 e 10 µmol.L-1. Mais de 80% do P aplicado no solo como fertilizante torna-se indisponível devido a fatores como: Adsorção às partículas do solo; Precipitação na presença de outros elementos (Fe e Al) Transformação em P orgânico (imobilização). O FÓSFORO NO SISTEMA SOLO 07/07/2016 9 FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS Formas no Solo – 4 categorias: Formas iônicas (HPO4 2- e H2PO4 -) e orgânicas de baixo peso molecular, na solução do solo; P adsorvido na superfície dos constituintes minerais do solo; Minerais cristalinos e amorfos de P e Componente da matéria orgânica (P orgânico). O FÓSFORO NO SISTEMA SOLO 07/07/2016 10 FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS Formas no Solo Em solos tropicais ácidos, a forma que predomina na solução é o H2PO4 -, ocorrendo em concentrações extremamente baixas: 0,1 a 10 µmol.L-1. Os teores de P orgânico (Po) podem variar de quase zero até mais de 2 g.kg-1. Dependendo da classe de solo o Po pode representar de 20 a 80% do P total. A liberação de Po para a solução do solo é controlada pela taxa de mineralização da matéria orgânica e depende da atividade microbiana. O FÓSFORO NO SISTEMA SOLO 07/07/2016 11 FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS O contato até as raízes O P se movimenta até as raízes por difusão. De acordo com Araújo e Machado (2006), como o coeficiente de difusão de P no solo é muito baixo (10-12 a 10-15 m2.s-1), a rápida absorção pelas plantas cria uma zona de depleção em volta da raiz. Após poucos dias de absorção, O P da rizosfera diminui entre 30 e 50% e a zona de depleção estende-se até 2 mm da superfície radicular. Como se sabe, o movimento de difusão do fosfato e de outros íons depende da umidade. Assim, este movimento torna-se mais difícil em solos com baixa umidade. O FÓSFORO NO SISTEMA SOLO 07/07/2016 12 FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS As Raízes e a Absorção do Fósforo Quando o fornecimento de Pi é limitado, as plantas priorizam a formação de raízes, aumentando a absorção. Assim, as plantas desenvolveram sistemas radiculares mais extensos, aumentando a área de contato entre as raízes e o solo. 07/07/2016 13 FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS As Raízes e a Absorção do Fósforo Devido aos problemas mencionados quanto à absorção de fósforo pelas plantas, a colonização das raízes por fungos micorrízicos vem ocorrendo a milhões de anos na maioria das plantas cultivadas. Em condições de baixa disponibilidade de P, esta simbiose tende a ser mais expressiva. As micorrizas podem aumentar o influxo de Pi três a cinco vezes, em comparação com plantas que não apresentam essas associações. Além disso, algumas espécies formam raízes especializadas na absorção de nutrientes imóveis, chamadas raízes proteóideas ou “raízes em cluster” (figura). 07/07/2016 14 FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS Figura – Raízes proteóides ou raízes em Cluster de diferentes espécies. (a) Lupinus albus;. (b) Hakea sp; (c) Lupinus sp.; (d) imagem obtida por endoscopia de solo. 07/07/2016 15 FÓSFORO NOS SOLOS TROPICAIS Figura – Modificações na arquitetura radicular pela disponibilidade de fósforo no solo: a baixa disponibilidade de P (à direita) estimula a produção de raízes adventícias, diminui o ângulo de crescimento das raízes basais, estimula a produção de raízes laterais e aumenta a densidade e o comprimento de pêlos radiculares. Fonte: Araújo e Machado (2006) O fósforo e as plantas A ABSORÇÃO DE P PELAS PLANTAS • A baixa disponibilidade de P no solo fez com que as plantas desenvolvessem uma alta eficiência na absorção deste elemento; • Elas adquirem P contra um elevado gradiente de concentração, através da membrana plasmática; • Segundo Araújo e Machado (2006), as concentrações de Pi nas células vegetais são mais de 100 vezes superiores às concentrações na solução do solo. O fósforo e as plantas A ABSORÇÃO DE P PELAS PLANTAS • Concentração média nas plantas: 0,05 a 0,4% (Ver Tabela 1); • As plantas absorvem o P na forma aniônica: H2PO4 - (principalmente) ou HPO4 2-, dependendo do pH (Figura 2); • As plantas geralmente apresentam um número de sítios de absorção no sistema radicular dez vezes maior para H2PO4 - do que para HPO4 2-. O fósforo e as plantas FORMAS ABSORVIDAS PELAS PLANTAS • Os mecanismos que participam da absorção de Pi ainda não estão totalmente esclarecidos. • É provável que o Pi atravesse a membrana em co-transporte (simporte) com H+. (Figura) • Há dois mecanismos que podem participar da absorção de Pi: • Mecanismo de alta afinidade e • Mecanismo de baixa afinidade. O fósforo e as plantas O fósforo e as plantas Figura – Transporte de fósforo inorgânico Pi através da plasmalema e do tonoplasto. ATPases na plasmalema e no tonoplasto provêem a energia necessária para conduzir os processos de transporte de Pi. Os mecanismos de efluxocontribuem para manter a homeostase das células. O transporte do Pi no tonoplasto é bidirecional. O fósforo e as plantas FORMAS ABSORVIDAS PELAS PLANTAS • O mecanismo de alta afinidade tem um baixo Km (3 a 7 µM de Pi), sendo de grande importância em solos deficientes em fósforo. • O mecanismo de baixa afinidade tem um alto Km (50 a 330 µM de Pi) sendo acionado em solos com altos teores de P. • O mecanismo de alta afinidade pode ser induzido em função das condições do meio, o que não ocorre com o de baixa afinidade, que é constitutivo. O fósforo e as plantas Tabela 1 – Concentração de macronutrientes na parte aérea de algumas culturas Planta Nutriente (%) N P K Ca Mg Girassol 1,74 0,08 3,47 1,68 0,73 Feijão 1,48 0,05 1,19 1,46 0,57 Trigo 2,26 0,06 4,16 0,46 0,23 Cevada 1,94 0,13 4,04 0o,68 0,29 O fósforo e as plantas Figura 2 – Influência do pH na distribuição de íons ortofosfato na solução do solo O fósforo e as plantas Outras Formas de Absorção • Pesquisas recentes mostram que compostos fosfatados orgânicos são também absorvidos pelas plantas. • Exemplos: ácidos nucléicos e fitinas – absorvidos em soluções nutritivas e substratos de areia. • Desta forma, produtos da decomposição da matéria orgânica podem ser absorvidos pela planta, antes de sofrer mineralização. O fósforo e as plantas Fatores que Afetam a Absorção • Presença de fungos micorrízicos; • Substâncias expelidas pela raíz – ácidos orgânicos solubilizam fosfatos naturais; • Atividade microbiana – Microrganismos solubilizadores de fosfatos naturais e fertilizantes fostatados (Penicillium, Pseudomonas, Aspergillus, etc.). O fósforo e as plantas Assimilação do Fósforo pelas Plantas • Dez minutos após ser absorvido, o fosfato é incorporado aos compostos orgânicos (ácidos nucléicos, membranas, nucleotídeos, etc.); • A maior parte do P é absorvida pelos pêlos radiculares e células superficiais; • O fósforo apresenta uma boa mobilidade dentro da planta, podendo ser translocado para cima e para baixo. • Quando uma deficiência ocorre, o elemento contido nos tecidos mais velhos é redistribuído para regiões meristemáticas ativas. • A concentração de fósforo inorgânico no citoplasma (Pi citossólico), depende da absorção, re-translocação e tamponamento/armazenamento vacuolar, exportação para outras células e incorporação em moléculas orgânicas (Figura 3) O fósforo e as plantas Figura 3 – Representação esquemática da absorção e partição do fósforo em plantas superiores. O fósforo e as plantas Figura – Lecitina ou fosfatidil colina, um fosfolipídio presente nas membranas plasmáticas das células vegetais. O fósforo e as plantas Figura – Nucleotídeos, compostos orgânicos com P presentes nas plantas superiores. O fósforo e as plantas Figura 3 – Adenosina Trifosfato (ATP). O fósforo e as plantas Figura 3 – Ácido fítico (hexafosfato de inositol). O fósforo e as plantas Funções do Fósforo • Componente estrutural da célula (fosfolipídeos de membrana), ácidos nucléicos e coenzimas; • O mais importante papel do P é a promoção do armazenamento e transferência de energia para processos metabólicos (ATP) (Figuras 4 e 5) O fósforo e as plantas Funções do Fósforo Armazenamento e Transferência de Energia Adenosinas di e tri fosfato atuam como correntes de energia dentro das plantas (Figura 4). O fósforo e as plantas Figura 5 – Reação de fosforilação de um composto vegetal. Este composto é carregado com energia, podendo participar de futuros processos metabólicos dentro da planta. O fósforo e as plantas Figura 4 – Estrutura da adenosina tri fosfato (ATP). O fósforo e as plantas Funções do Fósforo Armazenamento e Transferência de Energia A energia do ATP se torna disponível quando ocorre a hidrólise de um ou dois radicais fosfatados terminais, liberando cerca de 7.600 cal/mol. O fósforo e as plantas Funções do Fósforo Armazenamento e Transferência de Energia A síntese das ligações altamente energéticas do ATP se processa nas reações de FOSFORILAÇÃO, que podem ser de três tipos: Ao nível do substrato Oxidativa Fotossintética. O fósforo e as plantas Fosforilação ao nível do substrato – metabolismo anaeróbico dos carboidratos na respiração: O fósforo e as plantas Fosforilação ao nível do substrato – metabolismo anaeróbico dos carboidratos na respiração: O fósforo e as plantas Fosforilação Oxidativa – Associada ao transporte de elétrons que ocorre na fase aeróbica da respiração. Quando os elétrons são transferidos de um transportador mais eletronegativo para outro mais oxidado, parte da energia disponível fica armazenada como ligação terminal do ATP – Figura 6.21 (Malavolta, 1980). O fósforo e as plantas Funções do Fósforo Processos metabólicos dependentes de ATP: – Fotossíntese; – Biossíntese de amido; – Absorção iônica; – Trabalho mecânico; – Biossíntese de membranas; – Formação de ácidos nucléicos; – Respiração; – Biossíntese de giberelinas; – Biossíntese de lipídeos; – Biossíntese de celulose, pectinas, hemicelulose e lignina; – Geração de potenciais elétricos na membrana. O fósforo e as plantas Funções do Fósforo Processos metabólicos dependentes de ATP: – Fotossíntese - Os compostos envolvidos na redução do CO2 são altamente fosforilados, como a ribulose 1,5 di-fosfato (RuDP) que dá duas moléculas de ácido 3-fosfoglicérico (3-PGA), numa reação catalizada pela enzima RuDP-carboxilase: O fósforo e as plantas Funções do Fósforo Processos metabólicos dependentes de ATP: – Biossíntese de amido – O amido, um carboidrato de reserva das plantas é constituído de unidades de glicose, sendo sua síntese catalisada pela enzima sintetase do amido, conforme as reações: – n UDP-Glicose ou – n ADP-glicose + Receptor nUDP ou nADP + receptor-n glicose O fósforo e as plantas – Biossíntese de gorduras Os ácidos graxos saturados são formados pela adição de unidades contendo 2C (acetil Coenzima A) à maionil coenzima A que é o primeiro aceitador; esta é produzida pela acetil-CoA carboxilase que, com a energia fornecida pelo ATP, combina CO2 com o mencionado acetil CoA, um composto fosforilado, o alfaglicerofosfato é o aceitador inicial de grupos ácidos (RCO- para a síntese dos triglicerídeos (óleos e gorduras). O fósforo e as plantas – Absorção Iônica O fornecimento de energia por parte do ATP é essencial para o processo ativo de absorção de nutrientes. – Trabalho Mecânico • Penetração das raízes na terra. • Saída da parte aérea em direção à luz O fósforo e as plantas Figura 3 – Efeito do suprimento localizado de fosfato, nitrato, amônio e potássio no sistema radicular. Plantas testemunha (HHH) receberam solução nutritiva completa em todas as partes do sistema radicular. As outras raízes (LHL) receberam solução nutritiva completa apenas na zona média. As porções superior e inferior foram supridas com uma solução deficiente no nutriente específico. Um bom suprimento de P está associado ao crescimento do sistema radicular O fósforo e as plantas Sintomas visuais de deficiência – O P é altamente móvel dentro das plantas; – Quando ocorre deficiência, o P é translocado dos tecidos mais velhos pararegiões meristemáticas; – Desta forma, os sintomas de deficiência ocorrem primeiramente nas folhas mais velhas; – Em milho e outras gramíneas, os sintomas de deficiência se caracterizam pela coloração arroxeada (acúmulo de antocianina) nas folhas inferiores, principalmente nas porções marginais. Menor crescimento de plantas por causa da deficiência de fósforo – Fonte: Embrapa Hortaliças Deficiência de P em plantas de milho Figura 1. Sintomas observados em campo. Notam- se, no topo da figura, plantas verdes, sem sintomas – Fonte: Rosolem e Tavares (2006) Folhas arroxeadas em razão da deficiência de fósforo – Fonte: Embrapa Hortaliças Folhas arroxeadas em razão da deficiência de fósforo – Fonte: Embrapa Hortaliças Detalhe de folhas de soja com deficiência de P. Notam-se os sintomas de colapso do pecíolo e arroxeamento de folhas e pecíolos – Fonte: Rosolem e Tavares (2006)
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