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D. Civil Dr. Nelson Rosenvald Data: 29/03/10. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: 2223-1327 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: 2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br / coordenacao@enfasepraetorium.com.br 1/6 DIREITOS DA PERSONALIDADE. Direito subjetivo é o poder que o ordenamento jurídico confere a cada um para satisfazer uma vontade pessoal. O direito subjetivo patrimonial tem o intuito de satisfazer o interesse financeiro/patrimonial. E tem como pilar o direito real (cujo objeto é a coisa e o sujeito passivo é independente a universalidade que tem dever de abstenção) e o direito obrigacional (cujo objeto é uma prestação de dar fazer ou não fazer, e o sujeito passivo é um devedor determinado ou determinável). No direito patrimonial prevalece a noção do ter, indivíduo é titular de bens ou de créditos. A idéia é a apropriação de bens e de crédito. Estão ligados a 1ª geração de direitos fundamentais, chamados no direito civil de atos da autonomia privada. Princípio da autonomia privada é o poder de autodeterminação do indivíduo. É o princípio que rege o direito civil. O negócio jurídico é o instrumento do exercício da autonomia privada. Através do negócio jurídico tem-se a satisfação dos interesses patrimoniais A partir do momento em que a dignidade da pessoa humana tornou-se eixo estruturante do regime jurídico das constituições. A visão do direito patrimonial passou a ser insuficiente, surgindo assim um terceiro grupo de direitos subjetivos, que são os direitos da personalidade O direito subjetivo da personalidade – situações jurídicas existenciais que tutelam os atributos essências do ser humano e o livre desenvolvimento da vida em relação. Os direitos da personalidade têm como objeto os bens da personalidade, quais sejam os atributos existenciais da pessoa humana, ou seja, todo o conjunto de valores que diferenciam a pessoa humana e lhe dá individualidade. São todos os atributos da pessoa humana, intrínsecos a esta e capaz de individualizá-la. Os direitos da personalidade se dividem em três grupos: tutela da integridade física, tutela da integridade psíquica e tutela da integridade moral. E seu objeto é indissociável da pessoa humana, é intrínseco à pessoa humana. Também o direito da personalidade tem a universalidade como sujeito passivo. Universalidade em seu sentido lato, ou seja, coletividade e estado. E estes não têm dever de abstenção, mas sim dever de respeito, ou seja, dever de proteção e promoção do direito da personalidade. Quanto à proteção, o Estado e a coletividade têm que proteger o ser humano de qualquer violação aos seus bens da personalidade. No que tange a promoção, o Estado e a coletividade têm que promover o ser humano para que ele possa fruir de sua personalidade, ou seja, para que a pessoa possa exercer sua autonomia existencial. O Estado promove o indivíduo concedendo a este o mínimo existencial. Os direitos da personalidade elencados no Código Civil (arts. 11 a 21) são meramente exemplificativos, porque no CC há um direito geral a personalidade, a medida que existe uma cláusula geral de tutela à pessoa humana presente no art. 1º, III CF. D. Civil Dr. Nelson Rosenvald Data: 29/03/10. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: 2223-1327 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: 2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br / coordenacao@enfasepraetorium.com.br 2/6 OBS: Cláusula geral é técnica legislativa onde se cria normas que são abertas, de perfil impreciso/vago, que são constantemente modificadas e preenchidas a medida que surge a necessidade. A dignidade da pessoa humana é a fonte dos direitos fundamentais, é a principal cláusula geral de nosso ordenamento jurídico. Em razão dela o indivíduo tem a proteção de todos os bens da personalidade, ainda que não previstos no rol do CC. Os direitos da personalidade são direitos em expansão, direitos elásticos porque tutelam o indivíduo contra qualquer violação à pessoa humana em razão da cláusula geral da dignidade da pessoa humana. A dignidade da pessoa humana faz surgir quatro direitos fundamentais: Direito fundamental à liberdade; Direito fundamental à igualdade; Direito fundamental à solidariedade e Direito fundamental à integridade psicofísica. (aqui estão os bens da personalidade. Os direitos da personalidade são direitos fundamentais na órbita privada). Em havendo colisão entre os direitos da personalidade e os direitos patrimoniais a preferência tutelar do legislador e do julgador é preservar os direitos da personalidade, vide RE 466.343 – Info. 531 Toda relação contratual cujo objeto seja de agressão à pessoa humana não tem legitimidade, não terá valoração jurídica. A atividade patrimonial deve observar a primazia da dignidade da pessoa humana. Exemplo disso é a súmula 364 STJ – proteção ao bem mínimo da pessoa humana. Isto é, proteção de parte do patrimônio que não está afetado ao interesse dos credores, mas sim a promoção da dignidade da pessoa humana. OBS: no caso do fiador, como ele está no rol de exceções do bem de família, o STF entende que ele não possui esta proteção ao patrimônio mínimo, tendo em vista uma possível insegurança jurídica. Características do Direito da Personalidade 1. Absolutos São absolutos porque são oponíveis erga omnes, ou seja, pode-se exigir de qualquer pessoa, tanto da sociedade como do Estado, a tutela do direito da personalidade. OBS: o direito subjetivo é oponível contra qualquer pessoa, porém a pretensão é exigível apenas do violador, ou seja, é individualizada, posto que pretensão é sinônimo de exigibilidade, pessoa só pode exigir o direito daquele que o violou. Toda violação aos direitos da personalidade gera como pretensão a reparação pelo dano moral esta é tutela reparatória e repressiva, posto que somente se manifesta depois da ocorrência do ato ilícito. Reparação pelo dano moral – é o efeito/consequência patrimonial de uma condenação por uma violação a bem extrapatrimonial. Há tendência no Estado democrático de direito de em detrimento da tutela reparatória, aplicar-se uma tutela inibitória, é tutela de caráter de urgência/cautelar, ou seja, uma tutela cuja finalidade é constranger o causador do dano no intuito de evitar futura violação dos bens da personalidade. D. Civil Dr. Nelson Rosenvald Data: 29/03/10. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: 2223-1327 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: 2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br / coordenacao@enfasepraetorium.com.br 3/6 A tutela inibitória é medida de cunho restritivo e no ordenamento jurídico está positivada no art. 12 CC: ao proteger a ameaça o legislador previu a tutela inibitória do ato ilícito. Há possibilidade de cumular a tutela inibitória com astreintes, para que esta tutela tenha caráter coercitivo. Tal possibilidade está preconizada no art. 461, §5º CPC. Importante observar que embora sejam absolutos os direitos da personalidade não são direitos de conteúdo absoluto, posto que são direitos fundamentais, e não existe direito fundamental absoluto, estes são relativos, resolvem-se pela técnica da ponderação de interesses. OBS: o enunciado 274 do CJF trabalha a temática da ponderação de interesses. 2. Inatos ou Originários Significa que os direitos da personalidade são inerentes a pessoa humana, são intrínsecos a condição humana de cada um. Apenas excepcionalmente, como é o caso dos direitos autorais, existem direitos da personalidade que não são inatos, mas sim adquiridos pela pessoa humana.Sendo inatos, os direitos da personalidade também são universais, ou seja, se aplicam a todo e qualquer ser humano. E por serem inatos são também essenciais. Existem três teorias, todas interpretadas com base no art. 2º do CC, que determinam o momento de aquisição dos direitos da personalidade: 1ª teoria: Teoria natalista (teoria clássica) – para esta teoria a personalidade é adquirida no nascimento com vida. Afirma que o nascituro é apenas objeto e tem direito por simples concessão legal. Tem como fundamento o art. 2º, 1ª parte do CC. 2ª teoria: Teoria da personalidade condicional – sustentada por Maria Helena Diniz, afirma que o nascituro tem personalidade sob a condição suspensiva de nascer com vida, ou seja, o nascituro teria mera expectativa de direito, que somente se converteria em direito subjetivo quando do seu nascimento com vida. O nascituro, portanto seria uma pessoa em formação, dotada apenas de personalidade formal, posto que a personalidade material fica condicionada ao nascimento com vida. É uma teoria furada, pois não se pode conceber a existência de uma pessoa fracionada. Baseia-se no art. 2º, 2ª parte do CC. 3ª teoria: Teoria Concepcionista – defendida por Francisco Amaral, Gustavo Tepedino, Nelson Rosenvald, e adotada pelo MPF também. Essa teoria é interpretação do art. 2º CC conforme a CF, baseia-se na diferença entre capacidade e personalidade. Capacidade é a aptidão para ser sujeito de direitos e ser sujeito de direitos depende do nascimento com vida. Capacidade é a medida de um valor e pode ser fracionada. É conjunto de normas que podem ser alteradas de acordo com a política legislativa. Enquanto personalidade é valor que emana da pessoa. É valor inato ao ser humano. Diz respeito aos atributos existenciais da pessoa humana, os quais são adquiridos desde a época do nascituro. A aquisição da personalidade, portanto é incondicionada, existe desde a nidação. Personalidade antecede o ordenamento jurídico, enquanto a capacidade é concedida pelo ordenamento jurídico. Exemplo da afirmação acima é o art. 1798 CC que determina que aquele que já estava concebido no momento da sucessão é legitimado para suceder, logo já é pessoa, D. Civil Dr. Nelson Rosenvald Data: 29/03/10. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: 2223-1327 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: 2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br / coordenacao@enfasepraetorium.com.br 4/6 porém a capacidade, ou seja, a aptidão para titularizar o direito a sucessão só ocorrerá quando do nascimento com vida. Igual entendimento se percebe no art. 542 CC que dispõe ser válida a doação ao nascituro (tendo em vista que este é pessoa), porém tal doação só produzirá efeitos patrimoniais se houver o nascimento com vida. O art. 27 ECA afirma que o conhecimento do estado de filiação é direito existencial, logo o nascituro pode ser legitimado para propor ação de investigação de paternidade. A lei 11804/08 estabelece que os alimentos gravídicos são o mínimo existencial, bastando, em caráter de urgência, apenas o indício de paternidade para sua concessão. Sendo assim, admite ao nascituro a capacidade de ser parte. Segundo o Info. 370/2008 STJ o nascituro tem direito a reparação por dano moral. Pois este não é dor ou mágoa, mas sim lesão ao direito da personalidade do indivíduo e o nascituro já tem direito da personalidade. Para esta 3ª teoria em razão da interpretação conforme, o art. 2º do CC deve ser lido substituindo em sua 1ª parte personalidade civil por capacidade civil e fazendo enxerto na parte final afirmando que “a lei põe a salvo desde a concepção os direitos da personalidade do nascituro”. Todos os atributos da personalidade são direitos do nascituro. Pois a personalidade é incondicional, independe do nascimento com vida, ela decorre simplesmente da nidação. Para a teoria concepcionista mesmo o natimorto teve direitos da personalidade, embora ausente a personalidade, por isso tem direito ao nome, a imagem e a cultura. Assim, o enunciado 01 do CJF afirma que os direitos da personalidade também se aplicam ao natimorto. OBS: nascituro é aquele que está por vir, ou seja, já foi nidado, logo o pré-embrião não está previsto no CC. Quanto aos direitos da personalidade da pessoa jurídica, existe controvérsia. Para uma 1ª corrente a PJ tem sim direitos da personalidade, pois embora não possua honra subjetiva, a PJ tem honra objetiva – nome imagem e identidade – a qual deve ser protegida. Como fundamento se utiliza do art. 5º, X CF, pois este, em sua disposição, não faz distinção de pessoas. É o entendimento adotado pelo STJ. Em sentido contrário uma 2ª corrente afirma que a PJ não tem direitos da personalidade. Afirma que tais direitos são inequivocadamente utilizados apenas pela pessoa humana, pois não existe dignidade da PJ, tendo em vista que esta é ficção, é ente técnico criado pelo ordenamento jurídico. Assim, conforme este entendimento a PJ, em função de sua natureza jurídica não titulariza direitos morais, seus danos são de cunho exclusivamente materiais. Tem como fundamento o art. 52 CC, pois segundo este a PJ não tem direito a personalidade, mas por concessão o CC confere a ela a proteção que o ser humano tem quando são ofendidos seus direitos da personalidade, ou seja, a PJ faz jus ao dano moral por construção legislativa. Assim, opção legislativa, a PJ tem como meio de proteção tanto a tutela inibitória, como a reparatória dos direitos da personalidade. D. Civil Dr. Nelson Rosenvald Data: 29/03/10. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: 2223-1327 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: 2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br / coordenacao@enfasepraetorium.com.br 5/6 O enunciado 286 CJF afirma que a PJ não é titular de direitos da personalidade. OBS: Dano institucional (matéria de Gustavo Tepedino) – aquele dano que atinge a honra objetiva da PJ sem fins lucrativos. 3. Vitalícios Os direitos da personalidade começam na concepção encerrando-se com a morte da pessoa. Não se transmite direito da personalidade com a morte, são intransmissíveis causa mortis. Entretanto, a memória do morto transcende a morte, ou seja, a honra, a imagem, o nome do morto passam a fazer parte da família dele, da integridade moral e psíquica da família. Assim, fato direcionado contra o morto reflete em toda a integridade da família, são eles lesados indiretos, posto que sofrem dano reflexo – art. 12, parágrafo único CC. O art. 12, parágrafo único CC trás rol dos lesados pelos danos reflexos. O qual é semelhante ao rol da sucessão hereditária. Em razão dessa semelhança discute-se se a técnica utilizada é a mesma, ou seja, se os mais próximos excluem os mais remotos. A técnica melhor será a de que a reparação dos mais próximos tem maior intensidade do que a dos mais remotos. O rol do art. 12, parágrafo único CC não é numerus clausus. Assim, se a pessoa não estiver presente no rol do dispositivo, mas comprovar a sua afinidade com o morto, pose ser legitimada. A intransmissibilidade do direito da personalidade não se confundo com a transmissibilidade da ação em andamento, posto que o direito de ação é direito patrimonial, logo é transmissível. REsp 978.651-SP – o direito que se sucede é o direito de ação que tem natureza patrimonial. 4. Relativamente Indisponíveis Da leitura do art. 11 CC, tem-se que os direitos da personalidade são totalmente indisponíveis. Indisponibilidade é gênero, do qual são espécies a intransmissibilidade, a irrenunciabilidade e a insuscetibilidade de limitações. Ocorre que o ordenamento jurídico permite aprática de atos de disposição de direitos da personalidade através do consentimento do indivíduo, desde que esses atos não afetem a dignidade da pessoa humana. A própria dignidade da pessoa humana também admite relativização, porém existe um núcleo essencial da dignidade, chamado de “limite dos limites” que deve ser respeitado, ou seja, que não admite relativização, não admite disposição. O “limite dos limites” busca a proteção do ser humano de sua própria conduta. O “limite dos limites” se dá no momento em que o ser humano se objetifica. Intransmissíveis – os direitos da personalidade não se transmitem causa mortis, a transmissão intervivos também é vedada, o que se permite é a cessão do conteúdo econômico dos direitos da personalidade, porém esta cessão não pode ser vitalícia – enunciado 04 CJF Insuscetíveis de limitação voluntária – em que pese a vedação do legislador existem limitações voluntárias que são possíveis/aceitáveis ex: o contrato de trabalho em situação D. Civil Dr. Nelson Rosenvald Data: 29/03/10. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: 2223-1327 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: 2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br / coordenacao@enfasepraetorium.com.br 6/6 insalubre. Observa-se que não há vedação quanto à limitação legal, logo pode haver restrição dos direitos da personalidade por imposição legal. Irrenunciáveis – o ordenamento jurídico pode sim, em determinadas situações, admitir a renúncia ao direito da personalidade, inclusive renúncia permanente do direito da personalidade, ex: ortotanásia – renuncia ao direito a vida para ter acesso uma morte digna; transsexual – com a mudança de sexo, há a renuncia a permanentemente a parte de seu corpo. OBS: o poder de autodeterminação do indivíduo permite a este consentir ou revogar a livre disposição sobre seus direitos da personalidade. Entretanto o ato de revogação pode gerar perdas e danos e não execução específica, posto que os direitos da personalidade sejam incoercíveis. 5. Imprescritíveis Os direitos da personalidade não se perdem pelo não uso, são permanentes, não se perdem pela prescrição ou pela caducidade. Não se separam do indivíduo mesmo que ele não os utilize. Entretanto, a pretensão que decorre da lesão ao direito subjetivo prescreve, porque esta tem fundo econômico. OBS: STJ entende que a reparação pelo dano moral no caso de tortura é imprescritível, pois a tortura não diz respeito a situação individual, mas sim, universal, uma vez que a dignidade da pessoa humana foi ferida – Info. 337/2007 Também a reparação por dano ambiental não prescreve, pois o meio ambiente é bem difuso de titularidade coletiva, cuja importância transcende a imprescritibilidade – Info. 415/2009. 6. Extrapatrimonialidade Os direitos da personalidade não podem ser auferidos economicamente. Não se pode comercializar os bens da personalidade, são inalienáveis, tendo em vista que não pode haver a mercantilização da pessoa humana. A retratação, o direito de resposta e a publicação da sentença são tutelas alternativas que visam fixar um teor não pecuniário a sentença – desmonetarização da sentença.
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