Buscar

Aula 2 Nelson

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Prof. Nelson Rosenvald
Procurador de Justi€a do Ministrio P‚blico do Estado de Minas Gerais
Doutor e Mestre em Direito Civil pela PUC/SP
Professor de Direito Civil no Curso Praetorium BH/RJ, especializado na prepara€ƒo de candidatos a 
concursos na „rea jur…dica
Membro do IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Fam…lia
DIREITO CIVIL
Teoria Geral
Aula 1. Direitos da Personalidade - Teoria Geral; Aula 2. Direitos da Personalidade em 
espÄcie; Aula 3. Teoria das Incapacidades; Aula 4. Teoria Geral do NegÅcio JurÇdico; 
Aula 5. Defeitos do NegÅcio JurÇdico; Aula 6. PrescriÉÑo e decadÖncia;
Prof. Nelson Rosenvald 2
Este trabalho destina-se ao grupo do m€dulo de Direito Civil do Prof. Nelson 
Rosenvald, Parte Geral.
Aula 02 - 26/03/2010 – Direito Civil – Nelson Rosenvald.
Introdu‚ƒo:
Boa noite, gente. Prazer em rev€-los. Nosso segundo encontro de Direito Civil. 
Agradeo a voc€s por aguentar hoje at‚ as dez da noite. ƒ o „nico encontro em que 
ficaremos quatro horas. Nas pr…ximas vezes prometo que termino no hor†rio normal e 
hoje qual o nosso tema? Continuando os direitos da personalidade estudaremos os 
direitos da personalidade em esp‚cie.
II - DIREITOS DA PERSONALIDADE EM ESP„CIE
J† que no encontro passado voc€s estudaram a teoria geral dos direitos da 
personalidade, ou seja, nosso primeiro encontro, n…s vimos os traos gerais, as 
caracter‡sticas dos direitos da personalidade, agora nˆo. Agora, eu vou trazer, com 
min„cias, os principais grupos de direitos da personalidade. Qual ‚ a nossa trajet…ria? 
Comearemos a aula de hoje falando de direito ao corpo, depois falaremos do direito 
ao nome, posteriormente do direito ‰ imagem e depois o direito ‰ privacidade e,
finalmente, o direito ‰ honra. Sˆo os cinco blocos de direitos da personalidade mais 
importantes para o nosso estudo. Aquele que vai demandar uma intervenˆo de maior 
tempo ‚ o direito ao corpo. Com ele que n…s comearemos a aula e sempre lembrem, 
n…s abordaremos isso com a necessidade que voc€s estejam com o C.C. na mˆo, quem 
nˆo estiver com o C.C. se aconchegue no amigo do lado. Porque h† uma necessidade 
de consulta permanente para a aula ficar mais valorizada. 
Direito ao corpo
Senhores, quando eu falo de direito ao corpo, eu coloco apenas uma pergunta 
a voc€s: O Joˆo, por exemplo, ele pode usar da autonomia, da autodeterminaˆo, do 
consentimento dele para praticar atos de disposiˆo do pr…prio corpo? 
A resposta traz in„meras consequ€ncias de Direito civil constitucional. Essa 
aula ‚ interessante porque traz perguntas de concurso tanto de Direito civil quanto de 
Direito constitucional o tempo inteiro. Para que voc€s possam me responder, como 
guia: o art. 13, C.C.
Art. 13. Salvo por exig€ncia m‚dica, ‚ defeso o ato de disposiˆo do pr…prio corpo, quando 
importar diminuiˆo permanente da integridade f‡sica, ou contrariar os bons costumes.
Par†grafo „nico. O ato previsto neste artigo ser† admitido para fins de transplante, na forma 
estabelecida em lei especial.
Pela leitura textual desse artigo, voc€s t€m 50% de chance de acertar. Qual a 
regra do C.C.? Pode dispor do pr…prio corpo ou nˆo pode? Porque voc€s sempre 
respondem que nˆo? ƒ claro que pode, ou seja, a regra geral ‚ que pode sim dispor do 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 3
pr…prio corpo desde que nˆo exista reduˆo permanente da integridade f‡sica ou nˆo 
ocorra ofensa aos bons costumes. Entˆo, regra geral, Joˆo, voc€ pode dispor do seu 
pr…prio corpo desde que isso nˆo acarrete reduˆo permanente de integridade f‡sica 
ou ofensa aos bons costumes. 
Vou fazer duas perguntas para voc€s para saber se voc€s estˆo de olho no 
art. 13. Primeira pergunta: Uma mulher tem problema m‚dico grav‡ssimo, cŠncer, 
precisa fazer histerectomia ou mastectomia. Isto implica na reduˆo da integridade 
f‡sica, ela ter† que retirar o „tero, por exemplo, ou ter† que retirar a mama, eu 
pergunto, quer dizer que pelo C.C. esse ato dela de disposiˆo do pr…prio corpo ‚ 
proibido porque acarreta reduˆo permanente de integridade f‡sica? Como ‚ permitido, 
nˆo ‚ isso que est† no art. 13? 
Porque leia, no art. 13, no in‡cio: “salvo exig€ncia m‚dica”. Entˆo, existe sim, 
dentro do art. 13, C.C. uma exceˆo a essa regra geral, ou seja, a reduˆo 
permanente da integridade f‡sica passa a ter legitimidade quando atenda a uma 
exig€ncia m‚dica ou finalidade terap€utica como essa. 
Amiga Maria, uma pergunta para voc€: Se um rapaz dessa sala, ou uma moa 
chegando o verˆo quer fazer uma lipoaspiraˆo para tirar o excesso. Lipoaspiraˆo 
acarreta reduˆo permanente da integridade f‡sica, a pessoa est† cortando na carne, 
est† tirando ali alguns quilos do seu corpo, isso seria proibido pelo ordenamento 
jur‡dico? Nˆo existe exig€ncia m‚dica em uma cirurgia meramente est‚tica. Seria 
proibido? 
Quando o C.C. fala em exig€ncia m‚dica, ele tanto quer se referir ao bem 
estar f‡sico quanto ao bem estar ps‡quico do paciente e aqui se inclui as cirurgias 
est‚ticas de car†ter embelezador. Nesse mesmo sentido, prezados alunos, ‚ o 
Enunciado 6, CJF que diz:
6 – Art. 13: a expresso “exigƒncia m„dica”, contida no art.13, refere-se tanto ao 
bem-estar f†sico quanto ao bem-estar ps†quico do disponente.
J† que voc€s perceberam que a disposiˆo do pr…prio corpo s… pode ser 
obstaculizada nessas situaes, reduˆo permanente da integridade f‡sica, bons 
costumes, mas com esse salvo conduto do “salvo exig€ncia m‚dica”, me digam o 
seguinte, quero perguntar a voc€s: Quando a pessoa faz tatuagem. O ordenamento 
jur‡dico permite que voc€ faa tatuagem? Pode fazer piercing? Se voc€ for um cara 
com a mente aberta, voc€ pode fazer manchas pretas no seu corpo e ficar igual a uma 
vaca holandesa? Pode? 
Mas, espera, tatuagem, piercing, essas manchas de vaca, isso nˆo ‚ reduˆo 
permanente da integridade f‡sica. Isso ‚ algo que o C.C. nˆo tratou que seria uma 
reduˆo nˆo permanente da integridade f‡sica, ou seja, quando a pessoa pratica esses 
atos, isto se chama: body art. O body art ‚ algo que ‚ permitido pelo ordenamento 
jur‡dico, porque sˆo atos de determinaˆo, onde as pessoas usam da sua expressˆo 
Prof. Nelson Rosenvald 4
art‡stica, ou seja, ela quer se desenvolver como ser humano, demonstrar as suas 
potencialidades individuais, praticando esses atos que lhe dˆo uma certa autonomia 
perante o mundo. O que eu quero dizer ‚ que apesar do C.C. nˆo ter se referido a 
reduˆo nˆo permanente da integridade f‡sica, essas atividades sˆo manifestaes 
culturais da pessoa que sˆo plenamente aprovadas pelo ordenamento jur‡dico como 
leg‡timas. 
Agora, e se por acaso, Joˆo, se voc€ resolve ir al‚m e resolve pedir ao m‚dico 
para modelar as suas orelhas como a de duende ou alterar a sua l‡ngua para parecer a 
de um r‚ptil ou colocar pr…teses na testa para parecer o demŽnio, o capeta. Isto ‚ 
permitido pelo ordenamento jur‡dico? Isto ‚ chamado de body transformation. 
Tamb‚m ‚ permitido pelo ordenamento jur‡dico, ‚ manifestaˆo de autodeterminaˆo, 
onde h† uma reduˆo nˆo permanente da integridade f‡sica, ou seja, voc€ nˆo est† de 
forma nenhuma destacando partes do seu corpo, mas que dentro de um ordenamento 
jur‡dico marcado pela pluralidade ‚ algo que tem que ser aceito.
Mas uma pessoa que faz essas coisas, isso ‚ repugnante para os bons 
costumes, deveria ser ofensivo esse ato contra o pr…prio corpo. Amigos que estˆo em 
sala de aula: a doutrina civil constitucional nˆo aceita essa expressˆo “bons costumes”. 
Quero dizer que em um Estado plural, onde existe o multipluralismo, onde as pessoas 
pensam de uma maneira muito diferente umas das outras, esse conceito de bons 
costumes ‚ extremamente subjetivo e fluido. Pelo seguinte, se uma pessoa faz uma 
transformaˆo do seu corpo, pode ser que para uma parte conservadora da sociedade, 
esse ato seja conden†vel, reprim‡vel, il‡cito, mas essa pessoa que transformou o seu 
corpo, elapassa, a partir daquele momento, a ser extremamente aceita pelo grupo 
social com o qual ela convive, ou seja, para aquelas pessoas que desfrutam do mesmo 
modo de pensar, aquela conduta ‚ uma manifestaˆo muito leg‡tima de direitos da 
personalidade. Entˆo, nˆo podemos aceitar essa expressˆo bons costumes, repito, 
extremamente subjetiva e que traria muita dificuldade para o legislador e o juiz 
interpretar cada caso. 
Qual ‚ a proposta? Onde se l€ bons costumes leia-se que a pessoa nˆo 
poder† dispor do pr…prio corpo quando essa disposiˆo implique em lesˆo ‰ liberdade 
e garantias fundamentais, a‡ nˆo pode. 
Exemplo: Teve um programa de r†dio nos EUA, h† pouco tempo, que oferecia 
um Nintendo, olha como a necessidade faz com que o ser humano se coisifique, para a 
pessoa que bebesse mais litros de †gua durante um certo tempo. O que aconteceu? 
Uma mulher l†, bebeu, bebeu, ganhou o Nintendo e o que aconteceu no final? 
Ela morreu na sa‡da do programa. Isso ‚ caso real. Aconteceu em Miami. ƒ 
claro que isso foi um ato de disposiˆo do pr…prio corpo que jamais poderia ser 
tolerado pelo ordenamento jur‡dico porque ofendia a liberdade e garantias 
fundamentais, ou seja, a pessoa era instrumentalizada pela sua necessidade, em 
virtude da sua necessidade, ela se tornava fr†gil, se coisificava e acabava dispondo do 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 5
pr…prio corpo. Entˆo, notem sempre, os limites para a disposiˆo do pr…prio corpo: 
reduˆo permanente da integridade f‡sica e qualquer ato que implique em frustraˆo 
de liberdades e garantias fundamentais. Entˆo, body art e body transformation sˆo
leg‡timas manifestaes da personalidade aceitas pelo ordenamento jur‡dico. 
Entˆo, deixa eu ver. Joˆo, e se por acaso, voc€ ‚ um cara chiqu‚rrimo, 
frequenta Barcelona e l† tem um neg…cio legal. Voc€ pode introduzir um micro chip 
intracutŠneo para entrar na ala VIP de uma boate? Ao inv‚s de voc€ ser identificado 
por um cartˆo, voc€ pe o seu pulso, tem um micro chip e voc€ entra. Voc€ pode 
praticar esse ato que ‚ um ato de reduˆo nˆo permanente da integridade f‡sica, 
porque pode retirar, mas esse ato de disposiˆo do pr…prio corpo ‚ aceito? Ou voc€ 
utilizar esse micro chip para abrir as portas da sua casa ou para algum m‚dico utilizar 
como um crit‚rio de sa„de. Amanhˆ, voc€ est† l†, doente no hospital e ele sabe seus 
dados pessoais. Ou para cartˆo de cr‚dito, ao inv‚s de levar o cartˆo, voc€ chega na 
loja, e mostra o seu pulso. Isto para voc€s ‚ um ato de disposiˆo do pr…prio corpo 
admiss‡vel? 
Claro que ‚ e sabe por qu€? Porque, novamente, a finalidade desse ato ‚ 
atender aos interesses pessoais. Sˆo atos existenciais perfeitamente garantidos e 
tutelados pelo sistema. Diferente seria se minha amiga Maria, para voc€ ser admitida 
como funcion†ria para uma f†brica de lingeries, voc€ tivesse que colocar o micro chip 
para que todos os dias, na hora de entrar no servio, ao inv‚s do cartˆo de ponto, 
voc€ colocar o seu pulso. Esse ato seria leg‡timo? Nˆo. Por qu€? 
Nˆo estaria atendendo a um interesse pessoal, estaria dispondo do seu corpo 
para atender um interesse patrimonial de terceiros. Isso seria uma ofensa ‰s suas 
liberdades e garantias fundamentais que nˆo seria justificada pelo ordenamento 
jur‡dico porque o sujeito colocar aquele neg…cio no joelho, no p‚, preso para ser 
controlado quando ele est† em regime de liberdade, existe uma justificativa 
constitucional que ‚ o direito ‰ segurana, para justificar essa restriˆo ‰ liberdade de 
uma garantia fundamental. Pois est†, de certa forma, dispondo do seu pr…prio corpo 
ao colocar a pulseira eletrŽnica. Nˆo ‚ uma reduˆo permanente, mas ‚ uma reduˆo 
nˆo permanente da integridade f‡sica.
Sabe o que eu quero com isso, eu jamais seria capaz nessa aula, de trazer 
todas as hip…teses em que uma situaˆo de disposiˆo ao corpo por reduˆo 
permanente ou nˆo permanente poderia acontecer. Meu objetivo com voc€s ‚ trazer 
os crit‚rios, mostrar, a partir do C.C., at‚ que ponto existe manifestaes da 
personalidade de disposiˆo do corpo que sˆo toleradas pelo sistema e a partir de que 
sistema esses atos de liberdade j† sˆo considerados atos il‡citos. Para saber se voc€s, 
verdadeiramente, entenderam eu pergunto: Se uma pessoa quer dispor do seu s€men, 
um homem. Esse ‚ um ato de disposiˆo do pr…prio corpo? 
Prof. Nelson Rosenvald 6
ƒ. Mas nˆo ‚ uma reduˆo permanente da integridade f‡sica porque o s€men, 
assim como o sangue e a saliva, sˆo as chamadas partes renov†veis e destac†veis do 
corpo humano. Sangue, esperma, …vulo. Entˆo, mesmo que isso seja uma parte 
renov†vel, existem v†rias questes jur‡dicas que dizem respeito a um ato ligado a uma 
disposiˆo de s€men. Vou dar um exemplo em concurso p„blico para que voc€s 
possam responder tr€s questes. 
Maria, voc€ ‚ casado com Joˆo e ele falece em um acidente, mas antes de 
morrer, ele deixa em uma cl‡nica de inseminaˆo artificial o s€men dele, com uma 
autorizaˆo pr‚via para que, mesmo ap…s a morte dele, voc€ junte o material gen‚tico 
dele ao seu …vulo e da‡ venha o embriˆo. Como ‚ que n…s chamamos isso? 
Inseminaˆo hom…loga que est† previsto no art. 1597, III, C.C.
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constŠncia do casamento os filhos:
III - havidos por fecundaˆo artificial hom…loga, mesmo que falecido o marido;
Esse artigo permite e considera que haver† presunˆo de paternidade 
quando o seu material gen‚tico, ele ‚ juntado ao material gen‚tico da sua esposa, 
mesmo ap…s a sua morte. Porque hom…loga? Porque o material ‚ do marido e da 
mulher. Pergunta a todos os alunos detr†s. Nasceu a criana dois anos ap…s a morte 
do Joˆo. Ele ‚ o pai? Sim, pois esse artigo afere a condiˆo da presunˆo de 
paternidade. Est† claro ali no caput. Esse menino vai herdar a fortuna dele? Em regra, 
nˆo vai. Por qu€? H† um div…rcio entre o mundo dos direitos da personalidade e o 
mundo do direito patrimonial. O art. 1798, C.C. diz:
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou j‡ concebidas no 
momento da abertura da sucesso.
“Aqueles que foram concebidos antes da morte”. E a concepˆo nˆo 
aconteceu antes da morte. Aconteceu depois da morte. Antes, o que existia, era 
s€men. E s€men nˆo ‚ pessoa. ƒ bem da personalidade. Entˆo nˆo h† possibilidade, a 
priori, deste menino que vem a nascer herdar. Pergunta de concurso: qual a „nica 
chance deste moleque herdar?
Se, antes de morrer, Joˆo fizer o testamento com uma cl†usula de disposiˆo 
em favor de prole eventual. Art. 1800, … 4†, C.C. 
Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da heranˆa sero 
confiados, ap‰s a liquidaˆo ou partilha, a curador nomeado pelo juiz.
Š 4‹ Se, decorridos dois anos ap‰s a abertura da sucesso, no for concebido o 
herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposiˆo em contr‡rio do testador, 
cabero aos herdeiros leg†timos.
Mas, como o C.C. nˆo quer criar situaˆo de insegurana, mesmo quando 
voc€ fizer essa cl†usula, sabe o que o  4 diz? Que ap…s a sua morte esse moleque
tem que ser concebido no prazo m†ximo de dois anos a contar da data da morte. 
Justamente para que essa herana nˆo fique vaga por muito tempo. Se entˆo a 
concepˆo ocorreu ap…s dois anos da sua morte, esse valor do patrimŽnio vai para os
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 7
demais herdeiros leg‡timos. Percebam como uma questˆo que ‚ ligada a uma parte 
renov†vel do corpo humano exorbita o mundo dos direitos da personalidade e vem 
para o direito patrimonial. 
E a segunda. A Maria est† reclamando, dizendo que voc€ ‚ um marido fraco, 
ausente, que nˆo comparece, que est† com os “far…is arriados”. Ela anda muito 
deprimida. Um dia, ela chegou aqui no curso, toda feliz, rindo: Amor, porque esse 
semblante tˆo belo, voc€ que estava tˆo deprimida esses anos todos? ƒ que vou ser 
mˆe. Como voc€ vai ser mˆe se eu nˆo estou contribuindo? Voc€ vai serpai porque eu 
fui a uma cl‡nica de reproduˆo artificial e eu peguei o s€men de um alemˆo, 1.96 de 
altura, loiro de olhos azuis, Q.I. 180, campeˆo ol‡mpico de gin†stica e eu vou ser mˆe 
e voc€ vai ser pai. Primeiro: porque voc€ ser† pai? Porque o art. 1597, V, C.C. diz 
que isso ‚ uma inseminaˆo artificial heter…loga. Por qu€? 
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constŒncia do casamento os filhos:
V - havidos por inseminaˆo artificial heter‰loga, desde que tenha pr„via 
autorizaˆo do marido.
O material gen‚tico do progenitor nˆo ser† o mesmo do marido da mulher 
gr†vida, ou seja, o progenitor ‚ um, s… que o pai afetivo ‚ outro. Uma inseminaˆo 
heter…loga, na qual, o que o alemˆo fez? Fez uma cessˆo de material gen‚tico, um 
contrato, onde ele cedeu uma parte destacada do seu corpo e voc€, em contraposiˆo, 
que ‚ o marido, assinou um termo na qual voc€ concorda com a doaˆo do material 
gen‚tico. Por esse artigo quando nasce aquela criana, h† uma presunˆo de que a 
paternidade ‚ sua. ƒ uma paternidade afetiva presumida pelo C.C.
Pergunta de concurso p„blico: Essa criana que a Maria teve, quando nasceu, 
era tˆo parecida com o pai biol…gico, alemˆo, que com seis meses de idade essa 
criana j† falava quatro l‡nguas e a primeira frase que essa criana balbuciou com seis 
meses foi: ”Eu querer conhecer meu pai”. Eu pergunto para voc€: Essa criana pode 
ajuizar aˆo de investigaˆo de paternidade contra o alemˆo? Nˆo. Por qu€? 
Porque a paternidade pela presunˆo do art. 1597 ‚ absoluta do pai afetivo. 
Constituiu-se a paternidade s…cio afetiva, ou seja, a figura do pai ‚ do marido da mˆe. 
Quem prestara o nome ‚ o Joˆo, quem prestar† alimentos ‚ o Joˆo. Amanhˆ o direito 
a sucessˆo dir† respeito ao Joˆo. Nˆo h† legitimaˆo nem interesse de agir para 
ajuizar uma aˆo de investigaˆo de paternidade porque a aˆo de investigaˆo de 
paternidade s… se aju‡za quando voc€ tem um buraco na sua paternidade, nˆo existe 
algu‚m para compor o papel paterno e j† existe. Nˆo h† uma aˆo de investigaˆo de 
paternidade, mas eu indago a toda a sala de aula. Esse moleque pode ajuizar uma 
aˆo de conhecimento de origem gen‚tica? Sim. Por qu€? 
Essa aˆo nˆo ‚ uma aˆo de direito de fam‡lia, e sim de direito da 
personalidade. E qual ‚ a finalidade dela? ƒ para que esta criana tenha acesso a sua 
origem biol…gica. A sua ascend€ncia gen‚tica, que ela saiba de onde veio. Trocando 
Prof. Nelson Rosenvald 8
em mi„dos, quando essa aˆo de conhecimento de origem gen‚tica for julgada 
procedente, o que o juiz, apenas, vai dizer? Ele vai declarar que o alemˆo ‚ o 
progenitor, mas nˆo haver† efeitos de direito de fam‡lia, o pai continua sendo voc€ 
com todos os consect†rios patrimoniais da‡ decorrentes. Entˆo, notem, ‚ por isso que 
o Enunciado 104, C.C. diz: 
104 – Art. 1.597: no Œmbito das t„cnicas de reproduˆo assistida envolvendo o 
emprego de material fecundante de terceiros, o pressuposto f‡tico da relaˆo 
sexual „ substitu†do pela vontade (ou eventualmente pelo risco da situaˆo jur†dica 
matrimonial) juridicamente qualificada, gerando presunˆo absoluta ou relativa de 
paternidade no que tange ao marido da me da crianˆa concebida, dependendo da 
manifestaˆo expressa (ou impl†cita) da vontade no curso do casamento.
Ou seja, essas consideraes que eu fao e trago para voc€s agora sˆo para 
mostrar a todos como: discussˆo do art. 13, C.C. Qual a discussˆo? Disposiˆo do 
pr…prio corpo. Sempre levem em consideraˆo. H† reduˆo permanente de integridade 
f‡sica? Essa reduˆo ‚ justificada por uma exig€ncia m‚dica? H† uma ofensa ‰
liberdade e garantias fundamentais e que na reduˆo nˆo permanente da integridade 
f‡sica, tamb‚m, o ato ‚ leg‡timo? Quando se trata de partes renov†veis tamb‚m, h† 
toda uma discussˆo no C.C.
Essa ‚ a primeira parte, ou seja, eu comecei, para quem chegou atrasado, 
indagando uma f…rmula geral se o brasileiro pode usar do seu consentimento, da sua 
liberdade para dispor do seu pr…prio corpo. Em princ‡pio, voc€s estˆo vendo que a 
resposta, com certas ressalvas, ‚ positiva, mas o meu objetivo ‚ ir al‚m. O que eu 
coloco para voc€s? 
O Joˆo estava falando para mim, antes da aula comear: Nelson j† que a sua 
aula ‚ sobre direitos da personalidade, tenho uma situaˆo que me aflige desde 
criana. Qual ‚ o seu problema? Nelson, desde pequeno, eu me sinto no corpo como 
se fosse Maria. Entˆo voc€ ‚ um transexual. Quem ‚ o transexual? 
ƒ aquela pessoa, segundo a medicina, sofre de uma patologia chamada
disforia de g€nero. Essa patologia seria, na verdade, uma inadequaˆo psicof‡sica. 
Como assim? O transexual, o caso do Joˆo, vamos supor, tem um corpo masculino, a 
morfologia ‚ masculina, s… que o sexo ps‡quico dele ‚ feminino. H† uma 
incompatibilidade entre a fisiologia dele e toda a forma dele pensar e refletir a sua 
condiˆo e orientaˆo sexual, ou seja, o transexual ‚ uma pessoa que sofre demais. ƒ 
como fosse, no teu caso, um homem que viesse ao mundo com um …rgˆo obsoleto, 
viesse com um defeito de f†brica, com um …rgˆo sem serventia nenhuma. E qual o 
maior desejo do transexual? 
Fazer uma cirurgia de transgenitalizaˆo ou tamb‚m chamada de 
redesignaˆo do estado sexual, para que haja essa adequaˆo psicof‡sica. A medicina 
permite essa cirurgia? Sim, j† existe h† muito tempo a resolu‚ƒo 1652 de 2002, do 
Conselho Federal de Medicina permitindo a cirurgia de transgenitalizaˆo desde 
que o transexual tenha vinte e um anos de idade e tenha sido submetido a uma junta 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 9
m‚dica que comprovou o diagn…stico de transexualismo. A‡ o cara vai para a faca e 
sofre a cirurgia de oblaˆo do …rgˆo sexual. Aquele …rgˆo sexual obsoleto ‚ suprimido 
e ele sai da cirurgia com o corpo de Maria, ‚ mulher no corpo. Ele vai a uma vara de 
fam‡lia no RJ pleiteando a alteraˆo do seu prenome e do seu sexo. Ele leva? 
O que eu vou dizer ‚: questˆo de concurso p„blico. Porque 50% dos tribunais 
sˆo favor†veis a alteraˆo do prenome e do sexo e 50% dos tribunais sˆo contra? 
Quais sˆo os argumentos e seriam tr€s argumentos da doutrina conservadora 
que seria contr†ria a alteraˆo? 
Primeiro: Seria que a Lei de registros p„blicos que trata de alteraˆo de nome 
nˆo prev€ a alteraˆo do nome do transexual e as hip…teses de alteraˆo dessa lei 
seriam numerus clausulus. Entˆo nˆo haveria a possibilidade, segundo a legislaˆo 
vigente, de alteraˆo do nome do transexual. Lei 6.015/73.
Segundo: Seria que, por mais que o transexual tenha uma inadequaˆo 
psicof‡sica, o sexo da pessoa nˆo seria um sexo ps‡quico e sim cromossŽmico, 
gen‚tico. E muitos transexuais, apesar de terem um diagn…stico de transexualismo, a 
carga de cromossomas deles ‚ masculina. Roberta Close, o mais famoso transexual do 
RJ, teve o seu primeiro pedido denegado na justia carioca porque a carga 
cromossomial era masculina. 
Terceiro: A meu ver ‚ o mais esdr„xulo. Se a justia permitisse a alteraˆo do 
prenome e do sexo do transexual isso acarretaria insegurana jur‡dica. Imagina o Joˆo
que fez a alteraˆo e agora ‚ Maria, vai para a Europa, conhece um italiano, se 
apaixona pela Maria, sem saber que um dia j† foi homem, casa-se com Maria e depois 
do casamento vem a descobrir qual ‚ o passado de Maria. Isso, portanto, geraria 
insegurana jur‡dica, uma quebra da paz social. Tem um examinador aqui no RJ, 
professor de direito de fam‡lia, que nˆo vem ao caso o nome, inclusive, nas aulas dele, 
‚ contr†rio a alteraˆo do prenome e do sexo, e diz, que se isso for permitido , vai ter 
muita gente mudando de sexo para fugir de credor. Gente, a d‡vida tem que ser muito 
grande! O sujeito praticar fraude contra credores a ponto de mudar de sexo. Isso ‚ um 
absurdo.
Quais sˆo os tr€s argumentos civis constitucionais que determinam a 
proced€ncia? 
Primeiro: direito a diferena. O que ‚? Quando voc€s estudam as dimenses 
de direitos fundamentaisexiste uma ordem. Primeira dimensˆo: os direitos ligados ‰
proteˆo da liberdade que vieram no s‚c. XIX. O cidadˆo pleiteando um espao de 
autonomia, perante o jugo do Estado.
Segunda geraˆo, qual ‚, que veio ap…s a 2‘ Guerra Mundial? Os direitos 
ligados ‰ igualdade social. Terceira dimensˆo de direitos fundamentais que veio ap…s a 
Prof. Nelson Rosenvald 10
2‘ Guerra Mundial, qual seria? Os direitos ligados ‰ solidariedade, ‰ humanidade. 
Direito ao meio-ambiente, ao consumidor. E qual seria a 4‘ dimensˆo dos direitos 
fundamentais, que vem agora, no in‡cio desse s‚culo?
Segundo Bobbio, seria exatamente o direito a diferena. O que ‚? Nas 
sociedades plurais como a nossa que sˆo aquelas sociedades onde existe o 
multiculturalismo, sociedades democr†ticas onde existem diversas vises de mundo, 
pessoas que se colocam perante a vida de forma distinta, qual ‚ a conduta dos 
majorit†rios? Aqueles que formam o pensamento majorit†rio, sua posiˆo, hoje em 
dia, ‚ de respeitar os diferentes. Quem sˆo? Os minorit†rios. E como ‚ que n…s 
concedemos direitos aos diferentes, no caso, aos transexuais? Inserindo-os na 
sociedade respeitando as suas diferenas, ou seja, n…s temos que conceder cidadania 
a essas pessoas, respeitando as suas peculiaridades. 
Vou dar um exemplo: Qual ‚ a moda que se pratica com um surdo-mudo? 
Tentar inserir ele na sociedade obrigando-o a falar, ou seja, voc€ est†, na verdade, 
tendo uma conduta autorit†ria com o diferente. Voc€s acham que ‚ algo democr†tico 
trazer um transexual para a sociedade, mantendo o documento dele na condiˆo inicial 
mesmo ap…s a cirurgia? Nˆo? Ou colocando no documento dele que ele ‚ transexual? 
Nˆo. Como ‚ que n…s respeitamos o direito a diferena do transexual? Dando a ele 
documentos que sejam fi‚is a sua atual condiˆo humana. Isto que ‚ o respeito ao 
direito a diferena em um Estado plural. 
Segundo: ƒ o Direito constitucional ‰ liberdade de orientaˆo sexual, ou seja, 
quando o art. 5, CRFB protege a liberdade do indiv‡duo, essa liberdade nˆo ‚ apenas 
uma liberdade de crena, opiniˆo, ‚ uma liberdade, tamb‚m, de orientaˆo sexual e 
ele, voc€s acabaram de ver, tem uma inadequaˆo ps‡quica porque ele se sente desde 
sempre como membro do outro sexo. Entˆo para que n…s possamos conceder a essa 
pessoa o direito ‰ felicidade, para que ele possa desenvolver os seus direitos da 
personalidade, qual ‚ a autonomia que a Constituiˆo lhe permite? Ajustar a sua 
orientaˆo sexual ao seu corpo e aos seus documentos tamb‚m.
Terceiro e „ltimo argumento: ‚ o princ‡pio da Dignidade da Pessoa Humana. 
Por qu€? Se o ordenamento jur‡dico nˆo concede a um transexual que j† fez a cirurgia 
a documentaˆo que seja compat‡vel com a sua atual condiˆo f‡sica, essa pessoa ser† 
objeto de discriminaˆo, ser† coisificada, instrumentalizada e submetida a situaes 
altamente vexat…rias. Pelo princ‡pio da Dignidade da Pessoa Humana para que ele seja 
tratado como pessoa e respeitado h† necessidade da alteraˆo dos documentos e para 
a felicidade de voc€s, o STJ tem tr€s precedentes favor†veis ‰ alteraˆo de prenome e 
sexo do transexual. Sendo que os dois „ltimos sˆo muito recentes. Informativo 415 
e 411 do final de 2009. 
Informativo n. 411
ALTERAÄÅO. PRENOME. DESIGNATIVO. SEXO.
O recorrente autor, na inicial, pretende alterar o assento do seu registro de 
nascimento civil, para mudar seu prenome, bem como modificar o designativo de 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 11
seu sexo, atualmente constante como masculino, para feminino, aduzindo como 
causa de pedir o fato de ser transexual, tendo realizado cirurgia de 
transgenitalizaˆo. Acrescenta que a aparƒncia de mulher, por contrastar com o 
nome e o registro de homem, causa-lhe diversos transtornos e dissabores sociais, 
al„m de abalos emocionais e existenciais. Assim, a Turma entendeu que, tendo o 
recorrente se submetido  cirurgia de redesignaˆo sexual nos termos do ac‰rdo 
recorrido, existindo, portanto, motivo apto a ensejar a alteraˆo do sexo indicado 
no registro civil, a fim de que os assentos sejam capazes de cumprir sua verdadeira 
funˆo, qual seja, a de dar publicidade aos fatos relevantes da vida social do 
indiv†duo, deve ser alterado seu assento de nascimento para que nele conste o 
sexo feminino, pelo qual „ socialmente reconhecido. Determinou, ainda, que das 
certidŽes do registro pblico competente no conste que a referida alteraˆo „ 
oriunda de deciso judicial, tampouco que ocorreu por motivo de redesignaˆo 
sexual de transexual. REsp 1.008.398-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/10/2009.
Informativo n. 415
REGISTRO CIVIL. RETIFICAÄÅO. MUDANÄA. SEXO.
A questo posta no REsp cinge-se  discusso sobre a possibilidade de retificar 
registro civil no que concerne a prenome e a sexo, tendo em vista a realizaˆo de 
cirurgia de transgenitalizaˆo. A Turma entendeu que, no caso, o transexual 
operado, conforme laudo m„dico anexado aos autos, convicto de pertencer ao sexo 
feminino, portando-se e vestindo-se como tal, fica exposto a situaˆŽes vexat‰rias 
ao ser chamado em pblico pelo nome masculino, visto que a intervenˆo cirrgica, 
por si s‰, no „ capaz de evitar constrangimentos. Assim, acentuou que a 
interpretaˆo conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei de Registros Pblicos confere 
amparo legal para que o recorrente obtenha autorizaˆo judicial a fim de alterar 
seu prenome, substituindo-o pelo apelido pblico e not‰rio pelo qual „ conhecido no 
meio em que vive, ou seja, o pretendido nome feminino. Ressaltou-se que no 
entender juridicamente poss†vel o pedido formulado na exordial, como fez o 
Tribunal a quo, significa postergar o exerc†cio do direito  identidade pessoal e 
subtrair do indiv†duo a prerrogativa de adequar o registro do sexo  sua nova 
condiˆo f†sica, impedindo, assim, a sua integraˆo na sociedade. Afirmou-se que 
se deter o julgador a uma codificaˆo generalista, padronizada, implica retirar-lhe a 
possibilidade de dirimir a controv„rsia de forma satisfat‰ria e justa, condicionando-
a a uma atuaˆo judicante que no se apresenta como correta para promover a 
soluˆo do caso concreto, quando indubit‡vel que, mesmo inexistente um expresso 
preceito legal sobre ele, h‡ que suprir as lacunas por meio dos processos de 
integraˆo normativa, pois, atuando o juiz supplendi causa, deve adotar a deciso que 
melhor se coadune com valores maiores do ordenamento jur†dico, tais como a 
dignidade das pessoas. Nesse contexto, tendo em vista os direitos e garantias 
fundamentais expressos da Constituiˆo de 1988, especialmente os princ†pios da 
personalidade e da dignidade da pessoa humana, e levando-se em consideraˆo o 
disposto nos arts. 4‹ e 5‹ da Lei de Introduˆo ao C‰digo Civil, decidiu-se autorizar 
a mudanˆa de sexo de masculino para feminino, que consta do registro de 
nascimento, adequando-se documentos, logo facilitando a inserˆo social e 
profissional. Destacou-se que os documentos pblicos devem ser fi„is aos fatos da 
vida, al„m do que deve haver seguranˆa nos registros pblicos. Dessa forma, no 
livro cartor‡rio,  margem do registro das retificaˆŽes de prenome e de sexo do 
requerente, deve ficar averbado que as modificaˆŽes feitas decorreram de sentenˆa 
judicial em aˆo de retificaˆo de registro civil. Todavia, tal averbaˆo deve constar 
apenas do livro de registros, no devendo constar, nas certidŽes do registro pblico 
competente, nenhuma referƒncia de que a aludida alteraˆo „ oriunda de deciso 
judicial, tampouco de que ocorreu por motivo de cirurgia de mudanˆa de sexo, 
evitando, assim, a exposiˆo do recorrente a situaˆŽes constrangedoras e 
discriminat‰rias. REsp 737.993-MG, Rel. Min. Joo Ot‚vio de Noronha, julgado em 10/11/2009 
(ver Informativo n. 411).
Nesses precedentes, tirou-se uma d„vida. Vamos supor, Joˆo, voc€ conseguiu 
a sua alteraˆo de prenome e sexo e na sua certidˆo j† est† escrito Maria,sexo 
feminino, no documento dele, que fica na mˆo dele e ‚ demonstrado para qualquer 
Prof. Nelson Rosenvald 12
pessoa, ficar† averbado que antes ele era homem e houve a alteraˆo de sexo. Claro 
que nˆo. O que acontece? 
No documento, na certidˆo que ele tem em mˆos, nˆo haver† qualquer 
refer€ncia ao fato da alteraˆo sexual, contudo, no arquivo p„blico, haver† no livro de 
registro sim, essa menˆo, para que qualquer pessoa que prove ao juiz que tenha 
leg‡timo interesse em conhecer o passado daquela pessoa tenha acesso, ou seja, 
amanhˆ vem um italiano que quer casar com a Maria, ele tem acesso porque ‚ um 
leg‡timo interesse. Tem um credor, vamos supor, que quer saber se aquela pessoa ‚ 
quem ela ‚, ele tem leg‡timo interesse de acesso e por a‡ vai. Voc€ defende aquela 
pessoa dentro da sua atual condiˆo humana de transexualismo. 
Amigos, vou querer falar duas coisas para fechar essa id‚ia.
O transexual est† dispondo o seu pr…prio corpo, principalmente no caso do 
pr…prio homem, ele est† decepando um …rgˆo do seu corpo, ‚ uma reduˆo 
permanente da sua integridade f‡sica, concordam? Nˆo coloquem em uma prova de 
concurso que essa reduˆo permanente da integridade f‡sica ‚ permitida porque h† 
uma exig€ncia m‚dica. Voc€s poderiam: Ah Nelson, est† l† no art. 13, C.C.: O 
transexual pode fazer cirurgia de oblaˆo porque h† uma exig€ncia m‚dica. Se voc€s 
colocam que o caso transexual ‚ de exig€ncia m‚dica, voc€s estˆo transformando a 
situaˆo do transexual em uma patologia e o problema dele nˆo ‚ uma patologia, ‚ 
uma questˆo de orientaˆo sexual, ou seja, o que ele est† afirmando ‚ uma garantia 
fundamental de acesso ao sexo novo e nˆo uma simples doena sabe por qu€? Porque 
se voc€s entrarem nessa de que ‚ uma patologia voc€s tamb‚m vˆo aceitar, em uma 
questˆo de concurso, a possibilidade de amputaˆo de membros do †rabe. O que ‚? 
Eu coloco isso no meu livro de parte geral. Eles sˆo pessoas compulsivas por 
amputaˆo. Sˆo pessoas que tem problemas ps‡quicos e at‚ hoje nˆo se descobriu a 
causa, mas eles entendem, por exemplo, que o brao dele nˆo ‚ uma parte do corpo 
dele, ‚ como se fosse um filme de terror, como se fosse um …rgˆo estranho ao corpo, 
entˆo, eles tem uma compulsˆo enorme para se ver livre daquela parte do corpo. Se 
n…s entendermos que a situaˆo deles ‚ uma patologia, amanhˆ, qualquer m‚dico 
permitir† a reduˆo permanente, que o cara v† se cortando, porque h† uma exig€ncia 
m‚dica. 
S… que voc€s nˆo t€m que interpretar essa questˆo na base da t‚cnica porque 
nem tudo que ‚ tecnicamente admiss‡vel ‚ eticamente justific†vel. E a extirpaˆo de 
…rgˆos dessas pessoas eticamente nˆo ‚ legitima, ‚ um ato il‡cito porque nˆo existe 
fundamento jur‡dico para que se permita que essa pessoa possa praticar ato de 
amputaˆo do corpo, j† para o transexual existe. ƒ uma questˆo de liberdade, de 
orientaˆo sexual, n…s temos que tratar de maneira diferente, apesar de que uma 
pessoa que queira discriminar acha que ‚ tudo maluco. Porque esse maluco pode tirar 
o p€nis dele e esse maluco nˆo pode tirar o brao dele?
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 13
E antes da pergunta do amigo mais duas colocaes. L† no RS, eles j† estˆo 
tˆo a frente na questˆo do transexual, as cŠmeras c‡veis do TJ permitem que o 
transexual pea a alteraˆo do prenome antes mesmo da cirurgia da 
transgenitalizaao. Porque a cirurgia ‚ apenas, o gran finale, o ato final, o diagn…stico 
de transexualismo j† ‚ bem anterior, portanto nada impede que ela altere o seu nome 
mesmo antes da cirurgia, mas s… o nome. O sexo nˆo, porque ele ainda pode 
reproduzir, se ‚ o caso de homem, antes da cirurgia. Entˆo olhem como j† se avanou.
Segundo: Hoje em metade dos estados da federaˆo (porque sˆo leis 
estaduais) j† se permite aos transexuais, mesmo antes do €xito no judici†rio da 
alteraˆo do prenome e do sexo, j† se permite a eles a adoˆo do nome social. O que 
‚? 
ƒ o nome de guerra. Ou seja, v†rias leis estaduais, isso ‚ um avano, 
permitem, por exemplo, que o sujeito se chama Joˆo e como transexual ele ‚ a Maria 
e que na hora da chamada escolar ele s… seja chamado por Maria, na lista de 
chamada, nas notas dele, no controle escolar, em todos os documentos escolares ele 
seja Maria. Esse ato ‚ interessant‡ssimo porque essas pessoas, transexuais e travestis, 
nˆo frequentam o col‚gio, justamente, em razˆo do preconceito. Nˆo conseguem ser 
atendidos pelo nome deles real. Entˆo com o nome social, voc€ nˆo s… respeita a 
condiˆo humana diferenciada deles como promove a interaˆo com as pessoas que 
sˆo diferentes e majorit†rias na sala e esse estigma passa a ser, de certa forma, 
mitigado. Entˆo o nome social nˆo ‚ o nome registrado. ƒ aquele apenas utilizado em 
estabelecimentos p„blicos, hospitais e col‚gios, para que, de certa forma, seja 
removida a repulsa que a sociedade tem perante aqueles que, em tese, sˆo vistos 
como diferentes. 
Pergunta do Aluno: 
Resposta do Professor: Vara de fam‡lia porque ‚ questˆo de estado. Sendo assim, a alteraˆo do prenome 
e do sexo tem que ser feita na vara de fam‡lia.
Pergunta do Aluno:
Resposta do Professor: Porque a lei de registros p„blicos regula a alteraˆo de prenome, s… que essas 
alteraes, em 99% dos casos, nˆo tem nada a ver com o estado da pessoa e aqui nˆo , voc€ est† tratando do estado 
porque existe uma alteraˆo de sexo.
Pessoal, essa questˆo de transexual foi regulada pelo Enunciado 276, CJF. 
276 – Art.13. O art. 13 do C‰digo Civil, ao permitir a disposiˆo do pr‰prio corpo 
por exigƒncia m„dica, autoriza as cirurgias de transgenitalizaˆo, em conformidade 
com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a 
conseqente alteraˆo do prenome e do sexo no Registro Civil.
Eu concordo com o Enunciado no m‚rito, s… nˆo concordo que a justificativa 
seja a exig€ncia m‚dica do art. 13, C.C.
Pergunta do Aluno:
Prof. Nelson Rosenvald 14
Resposta do Professor: O hermafrodita. A “Buba”. Hermafrodita joga nas duas posies. Com relaˆo a ele, 
n…s tamb‚m aplicamos a mesma l…gica do transexual com as suas adaptaes. ƒ at‚ menos traum†tico, porque ele j† 
porta, como se chama que o carro tem que pode usar tanto ‰ †lcool ou gasolina? j† ‚ “flex”. Nˆo tem tanta dificuldade, 
j† tem uma resist€ncia menor com relaˆo ao Judici†rio.
Agora, n…s temos que entrar em um outro ponto, outra discussˆo sobre a 
disposiˆo do pr…prio corpo. Voc€ pode, hoje, escrever um documento dizendo: 
“depois da minha morte eu quero que os meus …rgˆos sejam utilizados para fins de 
transplante para salvar a vida de outras pessoas”? Pode dispor do seu pr…prio corpo, 
em vida, para depois da sua morte? Art. 14, C.C. 
Art. 14. ‘ v‡lida, com objetivo cient†fico, ou altru†stico, a disposiˆo gratuita do 
pr‰prio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Par‡grafo nico. O ato de disposiˆo pode ser livremente revogado a qualquer 
tempo.
J† dei a resposta que pode, mas em um concurso p„blico o que ‚ mais 
interessante ‚ que esta questˆo de disposiˆo de …rgˆos post mortem sofreu, em um 
intervalo de seis anos, tr€s fases: ‚ como se fossem tr€s cap‡tulos de uma novela 
mexicana que comea com a ediˆo da lei 9434/97 at‚ a vig€ncia do C.C. em 
11/01/03. Em seis anos, muita coisa aconteceu. Por qu€? O que dizia o art. 4† da lei 
de transplantes que ainda est† em vigor. Redaˆo original. Se qualquer brasileiro 
morresse sem declarar se seria favor†vel ou contr†rio a doaˆo de seus …rgˆos ele 
seria doador?
REDA‡ˆO ORIGINAL 
Art. 4† Salvo manifestaˆo de vontade em contr†rio, nos termos desta Lei, presume-se 
autorizada a doaˆo de tecidos, …rgˆos ou partes do corpo humano, para finalidade de 
transplantes ou terap€utica post mortem.
ALTERADO PELA LEI N. 10.211
Art. 4† A retirada de tecidos, …rgˆos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes 
ou outra finalidade terap€utica,depender† da autorizaˆo do cŽnjuge ou parente, maior de 
idade, obedecida a linha sucess…ria, reta ou colateral, at‚ o segundo grau inclusive, firmada em 
documento subscrito por duas testemunhas presentes ‰ verificaˆo da morte. (Reda‚ƒo dada 
pela Lei n†. 10.211, de 23.3.2001)
Sim, era o sistema da doaˆo presumida de …rgˆos. Esse foi o primeiro 
sistema. O que era o sistema da doaˆo presumida? Todo o brasileiro silente seria um 
doador de …rgˆos. Eu, Nelson, achava …timo esse sistema porque ‚ um sistema que 
enfatiza o altru‡smo e a solidariedade. Por qu€? 
Porque todo potencial doador ‚ um potencial receptor e se esse sistema 
permanecesse ia acabar com as intermin†veis filas de transplantes, pessoas
desesperanadas que nunca terˆo um …rgˆo ‰ disposiˆo. Por‚m, houve uma reaˆo 
do sistema jur‡dico. Porque muitos doutrinadores entenderam que essa doaˆo 
presumida seria inconstitucional na medida em que uma doaˆo nˆo ‚ um ato de 
liberalidade? Entˆo toda doaˆo tem que ser expressa, nˆo pode ser presumida. O 
entendimento ‚ que se a doaˆo fosse presumida: se voc€ morresse sem declarar 
nada, haveria uma estatizaˆo do corpo humano, ‚ como se o seu corpo virasse res 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 15
nullius, coisa de ningu‚m, e o Estado pudesse pegar o seu corpo para utilizar para a 
doaˆo de …rgˆos. Entˆo esse sistema foi substitu‡do em 2001. Em 2001 houve uma 
alteraˆo do art. 4 desta lei e substituiu o sistema da doaˆo presumida pela doaˆo 
consentida. O que seria o sistema da doaˆo consentida? 
Maria, se voc€ usasse uma camisa em vida, quero doar …rgˆos e fizesse 
quinhentos documentos dizendo que voc€ ‚ doadora de …rgˆos. Ap…s a sua morte 
voc€ seria doadora de …rgˆos pelo sistema da doaˆo consentida? S… se sua fam‡lia 
quisesse. Por esse sistema a decisˆo nˆo caberia mais a pessoa. Caberia a seus 
familiares ap…s a sua morte. Olha que paradoxo, por mais que voc€ quisesse doar 
…rgˆos, essa sua decisˆo nˆo teria efic†cia se a sua fam‡lia fosse contr†ria a esse ato 
de disposiˆo. Porque ‚ que eu sempre achei um absurdo o sistema da doaˆo 
consentida. 
Porque, amigos, a fam‡lia nˆo ‚ mais uma instituiˆo como outrora, nˆo ‚ 
mais algo sagrado. Hoje a concepˆo da fam‡lia p…s moderna nˆo ‚ mais a fam‡lia 
instituiˆo e sim a fam‡lia instrumento. O que significa isso? A fam‡lia, apenas, ‚ um 
instrumento de desenvolvimento de direitos da personalidade dos seus membros. A 
fam‡lia, em outras palavras, ‚ apenas um local, um instrumento para que as pessoas 
que fazem parte dela possam desenvolver seus afetos e tamb‚m colocar as suas 
situaes exist€ncias em desenvolvimento. ƒ s… isso. 
Entˆo, a fam‡lia, olhem bem a inversˆo hermen€utica dessa norma, nˆo sˆo 
as pessoas que existem em funˆo da fam‡lia, ‚ a fam‡lia que existe para proteger a 
liberdade de cada um dos seus membros, ou seja, ‚ um absurdo que a fam‡lia possa 
dizer mais do que a pr…pria pessoa sobre um ato de autonomia e disposiˆo de …rgˆos. 
Para a nossa felicidade o que aconteceu? Voc€s leram o art. 14, C.C. e o que 
ele faz? Derroga o art. 4 da Lei de transplantes porque ele diz que, agora, o ato de 
doaˆo de …rgˆos p…s mortem ‚ um ato de autonomia do doador. ƒ ele apenas que 
decide sem qualquer referendo da sua fam‡lia. ƒ o ato de autodeterminaˆo da pessoa, 
ou seja, se qualquer um de voc€s hoje assinar um documento dizendo que sou doador 
de …rgˆos, acabou. A fam‡lia de voc€s nˆo pode mais barrar. ƒ o que diz o art. 14 e 
mais, se voc€s forem no … ‰nico do art. 14:
Par‡grafo nico. O ato de disposiˆo pode ser livremente revogado a qualquer 
tempo.
Voc€s podem revog†-lo. Se ‚ um ato de autonomia, at‚ o momento da morte,
voc€s que decidem se esse ato ser† ou nˆo eficaz, ‚ uma deliberaˆo de cada um de 
voc€s. Entˆo eu indago: qual ‚ a „nica situaˆo, hoje, que a fam‡lia poder† deliberar? 
Quando a pessoa morrer silente. A‡, subsidiariamente, entra a fam‡lia para dizer se 
voc€ ser† doadora ou se nˆo ser†. Prezados amigos, abram o Enunciado 277, CJF.
277 – Art.14. O art. 14 do C‰digo Civil, ao afirmar a validade da disposiˆo gratuita 
do pr‰prio corpo, com objetivo cient†fico ou altru†stico, para depois da morte, 
Prof. Nelson Rosenvald 16
determinou que a manifestaˆo expressa do doador de ‰rgos em vida prevalece 
sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicaˆo do art. 4‹ da Lei n. 9.434/97 
ficou restrita  hip‰tese de silƒncio do potencial doador.
Portanto, a aplicaˆo do art. 4†, C.C. da lei 9434 fica restrita a hip…tese de
sil€ncio do potencial doador. 
Joˆo, voc€ ‚ um cara pobre, praticamente um indigente, nˆo tem patrimŽnio 
nenhum, voc€ pode, hoje, fazer um testamento? Apenas para dizer, ap…s a minha 
morte, eu quero ou doar meus …rgˆos para fins de transplante ou doar meus …rgˆos 
para a Universidade federal do RJ para fins de pesquisa, para os alunos de medicina 
estudarem. Voc€s estˆo dizendo, que o testamento, que ‚ um neg…cio jur‡dico 
patrimonial, pode ser feito apenas com disposies de car†ter existencial? Sem 
nenhuma norma, preceito de car†ter patrimonial? 
Voc€s estˆo certos. O art. 1857, … 2†, C.C., uma norma nova, permite que 
uma pessoa faa um testamento sem qualquer preceito patrimonial, apenas com 
normas de car†ter existencial. Refora entˆo o art. 14, C.C. Coloca o ser humano como 
protagonista e nˆo as relaes econŽmicas propriamente ditas. 
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus 
bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
Š 2‹ So v‡lidas as disposiˆŽes testament‡rias de car‡ter no patrimonial, ainda 
que o testador somente a elas se tenha limitado.
Saindo dessa discussˆo sobre doaˆo de …rgˆos o que eu quero perguntar 
para voc€s ‚ outra coisa. Vamos supor, Joˆo, que voc€ est† no m‚dico e voc€ tem 
uma determinada doena e o m‚dico diz: O tratamento ‚ esse e vai ser feito da 
seguinte forma e pronto, ou seja, se o m‚dico determina que o tratamento para ser 
realizado ‚ “x”, voc€ ter† que seguir os des‡gnios do m‚dico? Existe um princ‡pio 
tradicional na medicina que se chama princ‡pio da benefic€ncia. O que quer dizer esse 
princ‡pio? Quer dizer que o m‚dico, fez o juramento de Hip…crates na Faculdade, quer 
salvar a sua vida custe o que custar. E como ele tem o conhecimento t‚cnico, vai 
impor a voc€, paciente leigo, o melhor tratamento porque ele quer seu bem. Hoje o 
princ‡pio da benefic€ncia nˆo ‚ mais absoluto. Isso cai muito em concurso. 
Pelo art. 15, C.C. esse princ‡pio hoje sofre uma ponderaˆo com o princ‡pio 
do consentimento informado. O que ‚ isso? 
Art. 15. Ningu„m pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a 
tratamento m„dico ou a intervenˆo cirrgica.
Hoje a relaˆo entre m‚dico e paciente nˆo ‚ mais uma relaˆo sujeito e 
objeto, o paciente nˆo ‚ mais objeto da atuaˆo m‚dica. O paciente ‚ o principal 
sujeito de direitos da relaˆo m‚dica e paciente. O m‚dico s… pode aplicar o 
tratamento se houver o consentimento desse paciente. Tem que haver a autorizaˆo 
do paciente para que ele possa dispor do seu corpo. Tem que haver um ato de 
consentimento de autonomia para que possa acontecer o ato de disposiˆo do corpo. 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 17
Esse consentimento ‚ informado. Por uma razˆo simples. A relaˆo m‚dica e 
paciente ‚ uma relaˆo de consumo. O m‚dico ‚ o fornecedor e o paciente ‚ o 
consumidor leigo que nˆo tem conhecimentos das t‚cnicas m‚dicas. Entˆo o paciente 
s… pode consentir ao tratamento ou recusar o tratamento se ele for devidamente 
esclarecido quanto a todos os riscos daquele procedimento, ou seja, esse 
consentimento tem que ser informado at‚ para que o paciente possa assinar um TCI, 
termo de consentimento informado. 
Consentimento informado significa que a relaˆo entre m‚dico e paciente nˆo 
‚ vertical, de submissˆo. ƒ uma relaˆo horizontal, de cooperaˆo, em que h† boa f‚objetiva. Porque o m‚dico tem que atender ao dever anexo de informaˆo ao paciente. 
Esse ‚ o consentimento informado.
H† dois anos atr†s teve uma prova da Magistratura no RJ que foi o seguinte: 
um sujeito tinha cŠncer de pr…stata, o m‚dico fez a cirurgia com toda a t‚cnica m‚dica 
sem erro nenhum. Salvou o paciente, nˆo teve mais cŠncer, s… que com o resqu‡cio o 
paciente ficou impotente. S… que o paciente nˆo foi informado pelo m‚dico de que 
haveria esse risco de impot€ncia que acontece em um percentual de casos nessa 
cirurgia, apesar dela ter sido tecnicamente um €xito. H† responsabilidade civil do 
m‚dico? 
Sim, porque h† uma responsabilidade pelo defeito do servio (art. 14, CDC), 
porque nˆo basta que o servio seja feito de forma tecnicamente exata. ƒ fundamental 
que o prestador do servio lhe d€ todas as informaes necess†rias relativas ‰ aquele 
trabalho. E como houve uma falha de informaˆo surgiu a responsabilidade do m‚dico 
e a da cl‡nica tamb‚m.
Art. 14. O fornecedor de servios responde, independentemente da exist€ncia de culpa, pela 
reparaˆo dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos ‰ prestaˆo dos 
servios, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiˆo e riscos.
 1’ O servio ‚ defeituoso quando nˆo fornece a segurana que o consumidor dele pode 
esperar, levando-se em consideraˆo as circunstŠncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a ‚poca em que foi fornecido.
 2 O servio nˆo ‚ considerado defeituoso pela adoˆo de novas t‚cnicas.
 3’ O fornecedor de servios s… nˆo ser† responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o servio, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
 4’ A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais ser† apurada mediante a verificaˆo 
de culpa.
Pergunta do Aluno:
Resposta do Professor: Na ligadura de trompas nˆo ‚ aplicado? Nˆo conhecia esse caso. Depois voc€ me 
conta melhor no intervalo. Vou raciocinar. 
Prof. Nelson Rosenvald 18
Pergunta do Aluno:
Resposta do Professor: Com relaˆo ‰ cirurgia de cŠncer seria uma obrigaˆo de meio. Mas quando se fala 
de obrigaˆo de meio e resultado, diz respeito apenas ‰ t‚cnica m‚dica e aqui n…s s… estamos falando da informaˆo. 
Tanto nas cirurgias de meio quanto nas de resultado, a informaˆo ‚ um detalhe fundamental. ƒ comum nas duas. 
Esse consentimento informado ‚ tˆo importante, vou entrar na parte 
fundamental da mat‚ria, nem pisca, olha o que diz o art. 15, C.C.
Art. 15. Ningu‚m pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento 
m‚dico ou a intervenˆo cir„rgica.
Qualquer um de voc€s, ap…s ouvir do m‚dico as explicaes respeitantes ao 
procedimento, voc€ pode usar a sua autodeterminaˆo para se recusar a se submeter 
a esse tratamento, ou seja, aqui diz que ‚ leg‡tima a recusa ao consentimento 
informado. 
Exemplo: Jorge Guinle era um milion†rio aqui do RJ. Com vinte anos de idade 
recebeu uma fortuna que hoje era algo em torno de cem milhes de d…lares. O que ele 
fez dos vinte aos oitenta anos de idade? Torrou e nˆo trabalhou. Foi um hedonista. 
Muitos homens queriam ser que nem ele. Ele teve pal†cio, manses, namorou as 
atrizes mais belas de Holywood, al‚m de ter sido um cara excessivamente generoso 
com os amigos. Porque ele calculou que iria gastar toda a fortuna aos oitenta? 
Aos oitenta eu vou morrer, morro sem nada, mas morri feliz. S… que a vida 
traiu ele. Nˆo morreu aos oitenta. Estava pobre sem nada, s… que por ele ter sido um 
sujeito tˆo bacana com os amigos em vida, continua morando na su‡te do Copacabana 
Palace ajudado pelos amigos. Aos oitenta e sete anos, sete anos depois, sem dinheiro 
nenhum, comeou a ter dores de cabea e perguntou: Dr., o que eu tenho? Desculpe 
dizer, mas voc€ tem tumor cerebral. Quais sˆo as minhas perspectivas? Vou ser 
direto. Voc€ tem 30 % de chance de sair da mesa de cirurgia morto, 30% de chance 
de sair um vegetal e mais 30% de sair vivo. 
Jorge Guinle falou: Dr. eu nˆo vou me submeter a essa cirurgia. Recusou o 
consentimento informado. Chegou ao hotel, comeu a refeiˆo predileta dele, o drink 
predileto dele e morreu dormindo. Teve uma morte tˆo digna quanto a vida dele 
porque ele nˆo quis ser submetido ‰ tortura ou tratamento degradante nos seus 
momentos finais. Usou a sua autodeterminaˆo para se recusar ao consentimento 
informado. Percebam. O m‚dico, pelo C.C., tem que concordar ‰ medida que o 
paciente est† em estado de consci€ncia, nitidamente capaz, ou seja, se o paciente est† 
na sua frente, consciente, nˆo ‚ doido, nˆo est† b€bado, drogado, essa recusa ao 
consentimento informado vai ser perfeitamente legitimada pelo ordenamento jur‡dico. 
ƒ evidente que se o paciente chega ‰ mˆo do m‚dico, desacordado, em 
estado grave de risco de morte, nesse caso, o consentimento informado, a 
possibilidade de ele recusar nˆo ocorrer† porque prevalecer† o chamado privil‚gio 
terap€utico. O que ‚? ƒ aquela situaˆo em que o m‚dico nˆo consulta o paciente 
porque ele tem que agir. A intervenˆo do m‚dico, o princ‡pio da benefic€ncia vai 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 19
ponderar sobre o consentimento informado. Caso cl†ssico de privil‚gio terap€utico ‚ 
aquele, justamente, em que o paciente nˆo tem possibilidade de consentir ou nˆo, 
est† em risco iminente de morte e a necessidade de atuaˆo do m‚dico ‚ clara. 
Em concurso p„blico o que mais se discute a respeito do consentimento 
informado ‚ quando acontece a chamada objeˆo de consci€ncia. O que ‚? 
O caso que voc€s mais ouvem ‚ o do Testemunho de Jeov†. Nˆo ‚ um doente 
mental nem perturbado, ‚ uma pessoa como qualquer um de n…s, sˆo milhes nos 
EUA para voc€s terem uma id‚ia, e eles h† alguns s‚culos j†, pela sua crena, fazem 
uma interpretaˆo literal do livro Lev‡ticos. Para eles ‚ abomin†vel a recepˆo de 
sangue de outra pessoa. Nˆo aceitam a recepˆo do sangue alog€nico. ƒ um preceito 
vital para eles. 
S… para voc€s terem uma id‚ia se um Testemunho de Jeov† cai na rua, 
ningu‚m sabe o que ‚. Chega ao hospital, pergunta a enfermeira: onde estou? Voc€ 
est† no hospital, salvamos a sua vida com uma transfusˆo de sangue. Esse cara vai 
levantar da maca e se jogar da primeira ponte porque a vida para essas pessoas ‚ 
insustent†vel ap…s a transfusˆo de sangue. Perdem o contato com a sua religiˆo, 
perdem o contato com a fam‡lia. Para eles h† objeˆo de consci€ncia quando o 
tratamento ‚ v†lido. 
Eu pergunto: Se h† um testemunha de jeov† consciente, adulto, maior e 
capaz, o m‚dico explica o tratamento e ele diz: Dr. nˆo vou me submeter a esse 
tratamento porque tem transfusˆo de sangue. N…s devemos respeitar a 
autodeterminaˆo dessa pessoa. Nˆo estou falando isso isoladamente. ƒ a opiniˆo de 
Luis Roberto Barroso, Daniel Sarmento. ƒ a opiniˆo majorit†ria no direito norte 
americano e europeu e vou explicar o porqu€.
Existe aqui uma ponderaˆo de direitos fundamentais: a vida, que pode 
chegar at‚ mesmo a perder se recusar o tratamento versus a liberdade religiosa dele. 
A‡ voc€s falam: Nelson, ‚ claro que a vida ‚ muito mais importante. Eu tenho que fazer 
uma ponderaˆo no caso concreto, olhando para a testemunha de Jeov† e, vendo ali, 
naquela situaˆo espec‡fica, qual ‚ desses princ‡pios o que est† mais pr…ximo da 
dignidade da pessoa humana. Eu garanto a voc€s que, nesse caso concreto, ‚ a 
liberdade religiosa porque na cabea do testemunha de jeov† a t†bua axiol…gica dele, 
o quadro valorativo dele, a liberdade religiosa tem um valor de preced€ncia com 
relaˆo a qualquer outro direito fundamental, inclusive a vida. ƒ algo que est† claro na 
mente dessa pessoa. Em funˆo disso, a posiˆo atual ‚ de respeitar a auto 
determinaˆo dessa pessoa. Inclusive, Ronald Dworkin tem uma frase, que eu acho 
exemplarsobre tudo isso, quando ele trabalha sobre os testemunha de jeov†: “N…s 
devemos respeitar as decises alheias, mesmo que as julguemos imprudentes, pois 
cada um sabe dos seus interesses”. 
Prof. Nelson Rosenvald 20
O Luis Roberto Barroso chama isso aqui de um desacordo moral razo†vel e 
quando isso acontece, o Estado de Direito deve respeitar a vontade dessa pessoa. 
Quais sˆo as duas situaes que o Estado de Direito nˆo vai respeitar a vontade da 
testemunha de Jeov†? 
Quando ele chega desacordado em estado de grave risco de morte no hospital 
e a fam‡lia dele fala: Dr., sem transfusˆo de sangue. Porque olha aqui, a declaraˆo 
dele dizendo que ‚ testemunha de Jeov† que fez isso quando consciente. Nesse caso, 
os m‚dicos nˆo podem aceitar essa declaraˆo, eles devem agir sobre o paciente por 
qu€? 
Porque nˆo est† em estado consciente para emitir a sua vontade. A vontade 
dele nˆo pode ser substitu‡da pelos des‡gnios da sua fam‡lia. At‚ porque, n…s nˆo 
sabemos, se ele estivesse acordado na hora, no momento em que a “cobra est† 
fumando” se ele nˆo iria deixar um pouco de lado as suas convices religiosas para 
salvar a sua vida. Nesse caso, o privil‚gio terap€utico se coloca em preced€ncia.
Segunda situaˆo. ƒ quando ele ‚ um “testemuinha de Jeov†”. Imagina que 
ele tem dezesseis anos de idade e fala: Dr. estou consciente aqui na sua frente e nˆo 
vou me submeter a esse tratamento porque tem transfusˆo de sangue. Azar. Se ele 
nˆo quiser, o Juiz deve pedir uma ordem judicial para que ele seja submetido ao 
tratamento porque, apesar do adolescente pela Constituiˆo Federal ter certa liberdade 
para a pr†tica de atos existenciais, ele ainda nˆo tem discernimento suficiente para 
dispor da sua vida, afinal, aquela convicˆo religiosa ‚ dos pais dele, ele ainda nˆo 
pode como uma forma autŽnoma dizer que aquela convicˆo ‚ dele. Entˆo h† a 
necessidade de salvar a vida dele, at‚ para que quando ele se torne adulto, ele tenha 
a liberdade para decidir, de forma refletida, se ele, em uma outra situaˆo, ir† querer
ou nˆo se submeter a esse tratamento m‚dico. 
Percebam que a hist…ria dos testemunhas de Jeov† est† ligada a uma 
ponderaˆo de interesses no caso concreto. Fiquem tranquilos que a medicina ‚ tˆo 
fundamental que, hoje em dia, o risco de uma testemunha de Jeov† morrer pela falta 
de transfusˆo de sangue ‚ baix‡ssimo. Existem v†rias t‚cnicas m‚dicas que a 
substituem. Em Ribeirˆo Preto fizeram uma cirurgia cerebral fant†stica s… para 
testemunhas de Jeov† eliminando a transfusˆo de sangue. Tem autotransfusˆo, 
sangue artificial, tem uma s‚rie de situaes. S… uma observaˆo para terminar. 
Quando eu digo objeˆo de consci€ncia nˆo ‚ s… testemunhas de Jeov† nˆo. 
Ano passado, nˆo sei quem viu esse caso, tinha um ‡ndio ianomŠmi chamado ‡ndio 
Zico que vivia em Manaus. Zico gostava de uma cachaa, bebeu muito, teve cirrose 
hep†tica, precisou fazer um transplante de f‡gado. Quando falaram para ele que 
precisava de um transplante de f‡gado: Nˆo vou fazer. Porque na crena dos 
ianomŠmis nˆo podemos receber …rgˆos de outras pessoas. A Funai, que tem a tutela 
dos ‡ndios, concordou com o ato dele de recusa ao tratamento e ele deve estar morto 
hoje em dia. Mas, foi respeitada a crena dele, ou seja, o que eu quero dizer, em 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 21
resumo, ‚ que muitas vezes o m‚dico nˆo pode colocar o seu conhecimento t‚cnico 
acima das escolhas ‚ticas dos seus pacientes. Essa que ‚ a questˆo da 
autodeterminaˆo. Essa que ‚ a questˆo importante do consentimento informado. 
Quando eu trabalho esse art. 15, C.C. eu vou al‚m pelo seguinte. Se o C.C. diz:
Art. 15. Ningu‚m pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento 
m‚dico ou a intervenˆo cir„rgica.
Esse artigo permite a ortotan†sia? O que ‚? Tem que saber a diferena entre 
tr€s palavras: eutan†sia, distan†sia e ortotan†sia. 
O que ‚ eutan†sia? Significa morte boa. Termo cunhado por Francis Bacon. 
ƒ um ato m‚dico intencional. O m‚dico v€ o seu paciente com grande sofrimento e dor 
e por comiseraˆo, piedade o que esse m‚dico faz? Ele antecipa a morte do seu 
paciente. O m‚dico, intencionalmente, provoca a morte do seu paciente. Trocando em 
mi„dos, esse paciente, apesar de sofrer demais, ainda teria um tempo indeterminado 
de vida, ainda poderia viver meses ou at‚ anos.
S… que o m‚dico adianta o momento da morte, provoca intencionalmente a 
morte do seu paciente, seja ministrando algum medicamento, seja deixando de 
ministrar algu‚m medicamento. Teve um caso, agora, grav‡ssimo, na Frana, de uma 
mulher que tinha um cŠncer e ela ia perdendo partes do rosto, ia se desfigurando. E,
como na Frana nˆo h† permissˆo de eutan†sia, ela pediu ao Presidente Sarkozy que 
autorizasse. Ele nˆo concordou e ela acabou morrendo tempos depois em virtude de 
um grande sofrimento. Nˆo se pŽde antecipar o momento da morte dela. Isso ‚ 
eutan†sia.
Agora, em um giro de 180 graus, o contr†rio ‚ a distan†sia. Tamb‚m ‚ um 
ato m‚dico. O que acontece? 
O paciente ‚ o terminal. Aquele que tem uma doena crŽnica, grave e 
incur†vel. J† entrou em processo de morte, sua morte ‚ certa, irrevers‡vel. Nˆo se 
sabe se daqui h† uma semana, um m€s. O que o m‚dico faz? Ele, que nˆo consegue 
entender que a morte ‚ um limite que nˆo pode mais ser vencido, que nˆo consegue 
perceber que a pessoa deve viver at‚ o tempo que a natureza permite, ele procrastina 
o momento da morte do paciente. De que forma? 
D† a esse paciente tratamentos f„teis e desproporcionais que lhe causam 
excessivo sofrimento que fazem com que essa pessoa viva al‚m do tempo que a 
natureza lhe deveria ter concedido. Isso ‚ distan†sia. Hoje, s… aumenta com as 
t‚cnicas atuais da medicina, ou seja, ‰ medida que ela tem m†quinas altamente 
modernas: ressuscitaˆo artificial, reanimaˆo cardiopulmonar, as chances de voc€ 
segurar uma pessoa viva s… aumenta. 
Eutan†sia ‚ o ato m‚dico de abreviar a vida e a distan†sia ‚ o ato m‚dico de 
procrastinaˆo da vida. Quem est† no meio do caminho? A ortotan†sia.
Prof. Nelson Rosenvald 22
Significa morte no tempo certo. A ortotan†sia nˆo ‚ um ato m‚dico e sim de 
autonomia do paciente, de autodeterminaˆo existencial do paciente. Na ortotan†sia, o 
paciente est† passando por um momento chamado de terminalidade da vida. Ele ‚ um 
doente crŽnico, grave e incur†vel, estado terminal, o processo de morte j† se instalou. 
O que esse paciente que compreende seu estado terminal, que est† 
consciente, porque na maior parte dos casos ele est† consciente, o que ele pede ao 
seu m‚dico na ortotan†sia? 
A limitaˆo de tratamento. Ele nˆo quer sofrer tratamentos f„teis e 
desproporcionais. Nˆo quer ser submetido a tratamentos dessarrazoados que causam 
intenso sofrimento. Nˆo quer isso. O que ele quer?
Cuidados paliativos. ƒ o que aquela m‚dica japonesa da novela das oito que 
voc€s nˆo v€em faz. O que ‚? Quer que o m‚dico lhe d€ medicamentos apenas como 
suporte de alimentaˆo e que aplaquem a sua dor para que ele possa viver seus 
momentos finais, nˆo isolado, entubado em uma UTI, mas para que possa viver seus 
momentos finais ao lado da sua fam‡lia, em sua casa, com apoio afetivo, psicol…gico e 
religioso, se for o caso. Ele quer uma morte digna. Quer que a morte dele ocorra no 
seu tempo certo, nem antes nem depois. Quer que a natureza siga o seu curso. O 
m‚dico que a pratica, entende que chega certo momento a doena ‚ um inimigo que 
nˆo pode mais ser vencido. Que existe uma hora que nˆo ‚ mais para olhar para a 
doena e sim para o doente. Tem uma hora que nˆo ‚ mais para curar e sim cuidar, 
humanizar a morte e ‚ isso que defende a ortotan†sia.
Vamos ao que cai no concurso. Pelo C.P. a ortotan†sia ‚ conduta il‡cita? Sim,
para ele, infelizmente, eutan†sia e ortotan†sia ‚ a mesma coisa, ou seja, o artigo 
121, C.P. entende que tudo ‚ homic‡dio. A „nica diferena para esse artigo‚ que a 
eutan†sia seria um homic‡dio comissivo e a ortotan†sia seria um homic‡dio por 
omissˆo, um crime comissivo impr…prio. Seria essa a distinˆo, mas os dois seriam 
il‡citos penais. O que eu quero explicar a voc€s?
Art 121. Matar algu‚m:
Pena - reclusˆo, de seis a vinte anos.
Caso de diminui‚ƒo de pena
 1 Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou 
sob o dom‡nio de violenta emoˆo, logo em seguida a injusta provocaˆo da v‡tima, ou juiz 
pode reduzir a pena de um sexto a um tero.
HomicŠdio qualificado
 2’ Se o homic‡dio ‚ cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo f„til;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, 
ou de que possa resultar perigo comum;
IV - ‰ traiˆo, de emboscada, ou mediante dissimulaˆo ou outro recurso que dificulte ou torne 
imposs‡vel a defesa do ofendido;
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 23
V - para assegurar a execuˆo, a ocultaˆo, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusˆo, de doze a trinta anos.
HomicŠdio culposo
 3 Se o homic‡dio ‚ culposo: (Vide Lei n. 4.611, de 1965)
Pena - detenˆo, de um a tr€s anos.
Aumento de pena
 4 No homic‡dio culposo, a pena ‚ aumentada de 1/3 (um tero), se o crime resulta de 
inobservŠncia de regra t‚cnica de profissˆo, arte ou of‡cio, ou se o agente deixa de prestar 
imediato socorro ‰ v‡tima, nˆo procura diminuir as conseq“€ncias do seu ato, ou foge para 
evitar prisˆo em flagrante. Sendo doloso o homic‡dio, a pena ‚ aumentada de 1/3 (um tero) 
se o crime ‚ praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
(Redaˆo dada pela Lei n. 10.741, de 2003)
 5 - Na hip…tese de homic‡dio culposo, o juiz poder† deixar de aplicar a pena, se as 
conseq“€ncias da infraˆo atingirem o pr…prio agente de forma tˆo grave que a sanˆo penal 
se torne desnecess†ria. (Inclu‡do pela Lei n. 6.416, de 24.5.1977)
Gente, porque ‚ que se discute e j† h†, foi no final do ano passado aprovado 
pela Comissˆo de Constituiˆo e Justia, uma reforma do C.P. excluindo a ilicitude da 
ortotan†sia. Entˆo, provavelmente no ano que vem, no m†ximo, isso vai acontecer. 
Sabe por qu€? A ortotan†sia ‚ um fato at‡pico e por qu€? 
A eutan†sia, eu entendo que possa ser um homic‡dio, mesmo que privilegiado, 
porque ‚ o m‚dico que provoca a morte do paciente, mas na ortotan†sia nˆo h† nexo 
causal entre a conduta do m‚dico e a morte, ou seja, simplesmente, a morte 
aconteceu dentro do seu tempo normal, a vida seguiu o seu curso natural. A 
interfer€ncia do m‚dico nˆo provocou a morte desse paciente. Seria um fato at‡pico. 
Essa ‚ uma primeira explicaˆo, mas eu vou mais.
Aconteceu um ba-f†-f† nos „ltimos dois anos violento. Em 2006, o Conselho 
Federal de Medicina expediu uma resoluˆo. Resolu‚ƒo 1805/06. Sabe o que diz?
Que se o paciente for terminal e tivesse diagn…stico de terminalidade ele 
pode pedir aos seus m‚dicos que sejam limitados os tratamentos e os cuidados 
paliativos. Ele pode pedir a ortotan†sia. E que o m‚dico nˆo comete nenhum il‡cito 
administrativo. Sabe o que o meu MP fez? 
Ajuizou uma ACP para revogar essa resoluˆo dizendo que ela ‚ 
inconstitucional porque o CFM estaria usurpando os poderes do Congresso Nacional, 
estaria legislando sobre a vida e a morte e s… o Congresso ‚ que pode descriminalizar 
a ortotan†sia. A ju‡za da 14‘ vara federal caiu nessa conversa, e em antecipaˆo de 
tutela suspendeu essa resoluˆo. Essa questˆo vai para o STF. Tem muito pano para a 
manga, mas o que ‚ o importante dessa resoluˆo mesmo que suspensa? 
Tem muito penalista que entra na sala de aula e fala o seguinte: que a 
ortotan†sia seria crime sim, comissivo por omissˆo, porque o m‚dico ‚ um garante da 
vida do paciente. Entˆo tem um dever de proteger o paciente, se ele se omitiu esse j† 
‚ um ato que deve ser tipificado. O que eu tenho para dizer a voc€s? Realmente, o 
Prof. Nelson Rosenvald 24
m‚dico ‚ um garante da vida do paciente, mas eu lhe indago at‚ aonde vai o dever do 
m‚dico de garantir a vida do paciente? 
Quem ‚ que diz at‚ aonde vai esse dever? Quem diz ‚ o Conselho Federal de 
Medicina. Sabe o que o CFM diz? Que o m‚dico ‚ o garante at‚ o momento da 
terminalidade, porque nesse momento ele nˆo ‚ mais o garante da sua vida e sim da 
sua autonomia, sua dignidade. Por isso ‚ que hoje eu vou falar uma coisa para voc€s. 
Eu nunca gosto de discutir religiˆo, at‚ porque existe um princ‡pio na Constituiˆo que 
‚ a laicidade, art. 19, CRFB que diz:
Art. 19. ƒ vedado ‰ Uniˆo, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Munic‡pios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencion†-los, embaraar-lhes o funcionamento 
ou manter com eles ou seus representantes relaes de depend€ncia ou aliana, ressalvada, 
na forma da lei, a colaboraˆo de interesse p„blico;
II - recusar f‚ aos documentos p„blicos;
III - criar distines entre brasileiros ou prefer€ncias entre si.
No nosso Estado de Direito todas as discusses sˆo baseadas na ‚tica. H† 
muito tempo j† houve a secularizaˆo da vida pol‡tica e que essas questes religiosas 
sˆo questes de foro privado, de cada um. Mas todas as religies concordam com a 
ortotan†sia. Elas concordam porque, justamente, aqui a morte ‚ qualificada pelo 
predicado da dignidade, nˆo ‚ submetida ‰ tortura, ‰ tratamento degradante nos seus 
momentos finais. A pessoa nˆo ‚ instrumentalizada, pode opinar por si mesma, para 
que a morte acontea no tempo certo. Agora, vou falar algo que vai cair em concursos, 
prova oral ‚ certo. 
O examinador vai perguntar: Meu amigo Joˆo, voc€ hoje est† feliz, …timo de 
sa„de, forte, voc€ pode sair daqui, nesse momento da aula, ou amanhˆ de manhˆ 
escrever um documento dizendo: Eu, se no futuro, por um acidente ou alguma doena 
estiver em estado de terminalidade nˆo quero ser submetido a tratamentos 
desproporcionais ou excessivos. E esse documento tem efic†cia. Pode fazer isso? 
Isso se chama testamento biol…gico ou vital. Sˆo disposies antecipadas de 
vontade. Daquela pessoa que nˆo quer, no futuro, caso esteja em situaˆo de 
terminalidade, ser submetida a tratamentos desproporcionais e excessivos. Porque 
essa ‚ uma questˆo da ordem? Porque quase todos os pa‡ses da Europa j† legislam 
sobre testamente biol…gico. EUA tamb‚m. E ‚ um …timo meio de no Brasil, a 
sociedade, atrav‚s de documentos, registrados no seu prontu†rio m‚dico, da pessoa 
em situaˆo de consci€ncia, j† manifestar quais sˆo os tratamentos que ela quer e que 
ela nˆo quer, porque normalmente pode ser que no momento de terminalidade, pode 
ser que ela esteja inconsciente e nˆo possa se manifestar sobre isso. 
E porque o testamento biol…gico ‚ chamado de testamento? Porque, 
normalmente, o testamento tem duas caracter‡sticas: ‚ um ato patrimonial e neg…cio 
jur‡dico que s… produz efeitos ap…s a morte. Este nˆo, ‚ um testamento que produz 
efeitos em vida, porque os efeitos se dˆo no momento da terminalidade da vida. Entˆo 
Aula 02 – Direito Civil – Parte Geral 25
essas diretivas antecipadas nˆo foram objeto, ainda, de legislaˆo no Brasil, mas eu 
quero dizer que o art. 15, C.C. permite, implicitamente, a ortotan†sia. Quero dizer que, 
apesar da discussˆo contra essa resoluˆo, esse artigo ao ver de muitos civilistas,
permitiria essa situaˆo. Quais sˆo os dois assuntos de direito ao corpo que nos 
levarˆo ao intervalo da aula? 
Sˆo dois assuntos que foram discutidos no STF. Um j† foi julgado e o outro 
ser† julgado no m†ximo no ano que vem. O que j† foi julgado, h† dois anos atr†s, ‚ a 
ADIN 3510/DF, STF. Discutiu-se nessa ADIN a constitucionalidade do art. 5† da Lei 
11.105/05. Vamos ao m‚rito. Essa lei ‚ a de biossegurana. 
Informativo n. 0497
ADI e Lei da Biosseguran‚a - 1
O Tribunal iniciou julgamento deaˆo direta de inconstitucionalidade proposta pelo Procurador-
Geral da Rep„blica contra o art. 5 da Lei federal 11.105/2005 (Lei da Biossegurana), que 
permite, para fins de pesquisa e terapia, a utilizaˆo de c‚lulas-tronco embrion†rias obtidas de 
embries humanos produzidos por fertilizaˆo in vitro e nˆo usados no respectivo 
procedimento, e estabelece condies para essa utilizaˆo. O Min. Carlos Britto, relator, julgou 
improcedente o pedido formulado, no que foi acompanhado pela Min. Ellen Gracie.
ADI 3510/DF, rel. Min. Carlos Britto, 5.3.2008. (ADI-3510)
ADI e Lei da Biosseguran‚a - 2
Salientou, inicialmente, que o artigo impugnado seria um bem concatenado bloco normativo 
que, sob condies de incid€ncia expl‡citas, cumulativas e razo†veis, contribuiria para o 
desenvolvimento de linhas de pesquisa cient‡fica das supostas propriedades terap€uticas de 
c‚lulas extra‡das de embriˆo humano in vitro. Esclareceu que as c‚lulas-tronco embrion†rias, 
pluripotentes, ou seja, capazes de originar todos os tecidos de um indiv‡duo adulto, 
constituiriam, por isso, tipologia celular que ofereceria melhores possibilidades de recuperaˆo 
da sa„de de pessoas f‡sicas ou naturais em situaes de anomalias ou graves incŽmodos 
gen‚ticos. Asseverou que as pessoas f‡sicas ou naturais seriam apenas as que sobrevivem ao 
parto, dotadas do atributo a que o art. 2 do C…digo Civil denomina personalidade civil, 
assentando que a Constituiˆo Federal, quando se refere ‰ “dignidade da pessoa humana” (art. 
1, III), “direitos da pessoa humana” (art. 34, VII, b), “livre exerc‡cio dos direitos... individuais” 
(art. 85, III) e “direitos e garantias individuais” (art. 60,  4, IV), estaria falando de direitos e 
garantias do indiv‡duo-pessoa. Assim, numa primeira s‡ntese, a Carta Magna nˆo faria de todo e 
qualquer est†dio da vida humana um autonomizado bem jur‡dico, mas da vida que j† ‚ pr…pria 
de uma concreta pessoa, porque nativiva, e que a inviolabilidade de que trata seu art. 5 diria 
respeito exclusivamente a um indiv‡duo j† personalizado.
ADI 3510/DF, rel. Min. Carlos Britto, 5.3.2008. (ADI-3510)
ADI e Lei da Biosseguran‚a - 3
Reconheceu, por outro lado, que o princ‡pio da dignidade da pessoa humana admitiria 
transbordamento e que, no plano da legislaˆo infraconstitucional, essa transcend€ncia 
alcanaria a proteˆo de tudo que se revelasse como o pr…prio in‡cio e continuidade de um 
processo que desaguasse no indiv‡duo-pessoa, citando, no ponto, dispositivos da Lei 
10.406/2002 (C…digo Civil), da Lei 9.434/97, e do Decreto-lei 2.848/40 (C…digo Penal), que 
tratam, respectivamente, dos direitos do nascituro, da vedaˆo ‰ gestante de dispor de tecidos, 
…rgˆos ou partes de seu corpo vivo e do ato de nˆo oferecer risco ‰ sa„de do feto, e da 
criminalizaˆo do aborto, ressaltando, que o bem jur‡dico a tutelar contra o aborto seria um 
organismo ou entidade pr‚-natal sempre no interior do corpo feminino. Aduziu que a lei em 
questˆo se referiria, por sua vez, a embries derivados de uma fertilizaˆo artificial, obtida fora 
da relaˆo sexual, e que o emprego das c‚lulas-tronco embrion†rias para os fins a que ela se 
destina nˆo implicaria aborto.
ADI 3510/DF, rel. Min. Carlos Britto, 5.3.2008. (ADI-3510)
ADI e Lei da Biosseguran‚a - 4
Afirmou que haveria base constitucional para um casal de adultos recorrer a t‚cnicas de 
reproduˆo assistida que inclu‡sse a fertilizaˆo in vitro, que os artigos 226 e seguintes da 
Prof. Nelson Rosenvald 26
Constituiˆo Federal disporiam que o homem e a mulher sˆo as c‚lulas formadoras da fam‡lia e 
que, nesse conjunto normativo, estabelecer-se-ia a figura do planejamento familiar, fruto da 
livre decisˆo do casal e fundado nos princ‡pios da dignidade da pessoa humana e da 
paternidade respons†vel (art. 226,  7), inexistindo, entretanto, o dever jur‡dico desse casal 
de aproveitar todos os embries eventualmente formados e que se revelassem geneticamente 
vi†veis, porque nˆo imposto por lei (CF, art. 5, II) e incompat‡vel com o pr…prio planejamento 
familiar.
ADI 3510/DF, rel. Min. Carlos Britto, 5.3.2008. (ADI-3510)
ADI e Lei da Biosseguran‚a - 5
Considerou, tamb‚m, que, se ‰ lei ordin†ria seria permitido fazer coincidir a morte encef†lica 
com a cessaˆo da vida de uma certa pessoa humana, a justificar a remoˆo de …rgˆos, tecidos 
e partes do corpo ainda fisicamente pulsante para fins de transplante, pesquisa e tratamento 
(Lei 9.434/97), e se o embriˆo humano de que trata o art. 5 da Lei da Biossegurana ‚ um 
ente absolutamente incapaz de qualquer resqu‡cio de vida encef†lica, a afirmaˆo de 
incompatibilidade do „ltimo diploma legal com a Constituiˆo haveria de ser afastada. Por fim, 
acrescentou a esses fundamentos, a rechaar a inconstitucionalidade do dispositivo em 
questˆo, o direito ‰ sa„de e ‰ livre expressˆo da atividade cient‡fica. Frisou, no ponto, que o  
4 do art. 199 da CF (“A lei dispor† sobre as condies e os requisitos que facilitem a remoˆo 
de …rgˆos, tecidos e substŠncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem 
como a coleta, processamento e transfusˆo de sangue e seus derivados, sendo vedado todo 
tipo de comercializaˆo.”) faria parte, nˆo por acaso, da seˆo normativa dedicada ‰ sa„de, 
direito de todos e dever do Estado (CF, art. 196), que seria garantida por meio de aes e 
servios qualificados como de relevŠncia p„blica, com o que se teria o mais venturoso dos 
encontros entre esse direito ‰ sa„de e a pr…pria Ci€ncia (CF, art. 5, IX). Ap…s, pediu vista dos 
autos o Min. Menezes Direito.
ADI 3510/DF, rel. Min. Carlos Britto, 5.3.2008. (ADI-3510)
Informativo n. 0508
ADI e Lei da Biosseguran‚a - 6
Em conclusˆo, o Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em aˆo direta 
de inconstitucionalidade proposta pelo Procurador-Geral da Rep„blica contra o art. 5 da Lei 
federal 11.105/2005 (Lei da Biossegurana), que permite, para fins de pesquisa e terapia, a 
utilizaˆo de c‚lulas-tronco embrion†rias obtidas de embries humanos produzidos por 
fertilizaˆo in vitro e nˆo usados no respectivo procedimento, e estabelece condies para essa 
utilizaˆo - v. Informativo 497. Prevaleceu o voto do Min. Carlos Britto, relator. Nos termos do 
seu voto, salientou, inicialmente, que o artigo impugnado seria um bem concatenado bloco 
normativo que, sob condies de incid€ncia expl‡citas, cumulativas e razo†veis, contribuiria para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa cient‡fica das supostas propriedades terap€uticas de 
c‚lulas extra‡das de embriˆo humano in vitro. Esclareceu que as c‚lulas-tronco embrion†rias, 
pluripotentes, ou seja, capazes de originar todos os tecidos de um indiv‡duo adulto, 
constituiriam, por isso, tipologia celular que ofereceria melhores possibilidades de recuperaˆo 
da sa„de de pessoas f‡sicas ou naturais em situaes de anomalias ou graves incŽmodos 
gen‚ticos. Asseverou que as pessoas f‡sicas ou naturais seriam apenas as que sobrevivem ao 
parto, dotadas do atributo a que o art. 2 do C…digo Civil denomina personalidade civil, 
assentando que a Constituiˆo Federal, quando se refere ‰ "dignidade da pessoa humana" (art. 
1, III), aos "direitos da pessoa humana" (art. 34, VII, b), ao "livre exerc‡cio dos direitos... 
individuais" (art. 85, III) e aos "direitos e garantias individuais" (art. 60,  4, IV), estaria 
falando de direitos e garantias do indiv‡duo-pessoa. Assim, numa primeira s‡ntese, a Carta 
Magna nˆo faria de todo e qualquer est†dio da vida humana um autonomizado bem jur‡dico, 
mas da vida que j† ‚ pr…pria de uma concreta pessoa, porque nativiva, e que a inviolabilidade 
de que trata seu art. 5 diria respeito exclusivamente a um indiv‡duo j† personalizado.
ADI 3510/DF, rel. Min. Carlos Britto, 28 e 29.5.2008. (ADI-3510)
ADI e Lei da Biosseguran‚a - 7
O relator reconheceu, por outro lado, que o princ‡pio da dignidade da pessoa humana admitiria

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes