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APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 1 NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA: Orçamento público. Orçamento público no Brasil. O ciclo orçamen- tário. Orçamento programa. Planejamento no orçamento programa. Orçamento na Constituição da República. Conceituação e classificação de receita pública. Classificação orçamentária de receita pública por categoria econô- mica no Brasil. Classificação de gastos públicos. Tipos de créditos orçamentários. Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei Complementar nº 101/2000. Orçamento público. Orçamento público no Brasil. O ciclo orçamentário. Orçamento programa. Planejamento no orçamento programa. Orçamento na Constituição da República. DOS ORÇAMENTOS Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais. § 1º - A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regi- onalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. § 2º - A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prio- ridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. § 3º - O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o encerramen- to de cada bimestre, relatório resumido da execução orçamentária. § 4º - Os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição serão elaborados em consonância com o plano pluria- nual e apreciados pelo Congresso Nacional. § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. § 6º - O projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstra- tivo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financei- ra, tributária e creditícia. § 7º - Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste artigo, compatibili- zados com o plano plurianual, terão entre suas funções a de reduzir desi- gualdades inter-regionais, segundo critério populacional. § 8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à pre- visão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. § 9º - Cabe à lei complementar: I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elabo- ração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentá- rias e da lei orçamentária anual; II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da adminis- tração direta e indireta bem como condições para a instituição e funciona- mento de fundos. Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreci- ados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. § 1º - Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores e Deputados: I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste artigo e sobre as contas apresentadas anualmente pelo Presidente da República; II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição e exercer o acompanha- mento e a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais comissões do Congresso Nacional e de suas Casas, criadas de acordo com o art. 58. § 2º - As emendas serão apresentadas na Comissão mista, que sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma regimental, pelo Plenário das duas Casas do Congresso Nacional. § 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos proje- tos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso: I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias; II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenien- tes de anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre: a) dotações para pessoal e seus encargos; b) serviço da dívida; c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e Distrito Federal; ou III - sejam relacionadas: a) com a correção de erros ou omissões; ou b) com os dispositivos do texto do projeto de lei. § 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano plurianual. § 5º - O Presidente da República poderá enviar mensagem ao Con- gresso Nacional para propor modificação nos projetos a que se refere este artigo enquanto não iniciada a votação, na Comissão mista, da parte cuja alteração é proposta. § 6º - Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes orçamentá- rias e do orçamento anual serão enviados pelo Presidente da República ao Congresso Nacional, nos termos da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º. § 7º - Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo, no que não contrariar o disposto nesta seção, as demais normas relativas ao processo legislativo. § 8º - Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas corresponden- tes poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica autorização legislativa. Art. 167. São vedados: I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual; II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais; APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 2 III - a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determi- nado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autori- zação legislativa esem indicação dos recursos correspondentes; VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados; VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, inclusive dos mencionados no art. 165, § 5º; IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia autoriza- ção legislativa. X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de emprésti- mos, inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Esta- duais e suas instituições financeiras, para pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) § 1º - Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício fi- nanceiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade. § 2º - Os créditos especiais e extraordinários terão vigência no exercí- cio financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente. § 3º - A abertura de crédito extraordinário somente será admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, observado o disposto no art. 62. § 4.º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos im- postos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação de garantia ou con- tragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º. Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Esta- dos, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. § 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remunera- ção, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusi- ve fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas: (Renumerado do parágrafo único, pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorren- tes; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mis- ta. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar referida nes- te artigo para a adaptação aos parâmetros ali previstos, serão imediata- mente suspensos todos os repasses de verbas federais ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que não observarem os referidos limites. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste ar- tigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes provi- dências: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções de confiança; (Incluído pela Emenda Constitucio- nal nº 19, de 1998) II - exoneração dos servidores não estáveis. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não fo- rem suficientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes especi- fique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo anterior fará jus a indenização correspondente a um mês de remuneração por ano de serviço. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos anteriores se- rá considerado extinto, vedada a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obedecidas na efetivação do disposto no § 4º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) NATUREZA JURÍDICA Grassa notória divergência entre os doutrinadores no pertinente em se estabelecer a natureza jurídica do orçamento, alguns destacados estudio- sos consideram o orçamento corno simples ato administrativo e outros não menos importantes, consideram-no como uma lei, id est, um ato formal legal. Falar da natureza jurídica de um instituto é identificar o que significa esse instituto no mundo do dever ser. Régis Fernandes noticia que para León Duguit: “o orçamento é ao mesmo tempo um ato administrativo em relação aos gastos, porque basta mera operação administrativa para despesa e em relação à arrecadação dos tributos, adquire caráter de lei em seu sentido material, porque gera obrigações fiscais de conteúdo jurídico para o contri- buinte e é geral e abstrata.” Para Yves Gandra da Silva Martins, reconhecido tributarista pátrio, e Celso Ribeiro Bastos, renomado constitucionalista: “orçamento é materialmente constitucional, posto que é essencial ao Estado de Direito, que se constitui na vida fiscal e nos gastos públicos." Entretanto, em que pese essas divergências de ordem doutrinária, é indiscutível reconhecer que em nosso ordenamento jurídico o orçamento público é uma Lei em sua natureza, conforme estatui a própria Constituição Federal de 1988 em seus arts. 165 e seguintes. APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 3 Daí que, para nós não resta dúvida de que o orçamento é lei em senti- do formal, posto que previsto na lei maior de nosso ordenamento e que atende os requisitos do processo legislativo tratado no art. 59 da Constitui- ção Federal de 1988. Logo o orçamento é uma lei ordinária temporária, haja vista ser elaborada para vigorar num determinado exercício financeiro, que entre nós é de um ano, conforme preceitua o art. 34 da Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. O Orçamento Público, em sentido amplo, é um documento legal (apro- vado por lei) contendoa previsão de receitas e a estimativa de despesas a serem realizadas por um Governo em um determinado exercício (geralmen- te um ano). Os primeiros Orçamentos que se têm notícia eram os chamados or- çamentos tradicionais, que se importavam apenas com o gasto (ênfase no gasto). Eram meros documentos de previsão de receita e autorização de despesas sem nenhum vínculo com um sistema de planejamento gover- namental. Simplesmente se fazia uma estimativa de quanto se ia arrecadar e decidia-se o que comprar, sem nenhuma prioridade ou senso distributivo na alocação dos recursos públicos. O Orçamento evoluiu ao longo da história para um conceito de Orça- mento-Programa, segundo o qual o Orçamento não é apenas um mero documento de previsão da arrecadação e autorização do gasto, mas um documento legal que contém programas e ações vinculados a um processo de planejamento público, com objetivos e metas a alcançar no exercício (a ênfase no Orçamento-Programa é nas realizações do Governo). O Orçamento Público no Brasil (Orçamento Geral da União) inicia-se com um texto elaborado pelo Poder Executivo e entregue ao Poder Legislativo para discussão, aprovação e conversão em lei. O docu- mento contém a estimativa de arrecadação das receitas federais para o ano seguinte e a autorização para a realização de despesas do Governo. Porém, está atrelado a um forte sistema de planejamento público das ações a realizar no exercício. O OGU é constituído de três peças em sua composição: o Orçamento Fiscal, o Orçamento da Seguridade Social e o Orçamento de Investi- mento das Empresas Estatais Federais. Existem princípios básicos que devem ser seguidos para elaboração e controle dos Orçamentos Públicos, que estão definidos no caso brasileiro na Constituição, na Lei 4.320/64, no Plano Plurianual, na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na recente Lei de Responsabilidade Fiscal. A Constituição Federal de 1988 atribui ao Poder Executivo a responsa- bilidade pelo sistema de Planejamento e Orçamento, e a iniciativa dos seguintes projetos de lei: Plano Plurianual (PPA) Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) Lei de Orçamento Anual (LOA) O orçamento público brasileiro. Suas origens, princípios norteadores e forma de execução Antônio Carlos da Cunha Gonçalves 1.INTRODUÇÃO A relevância do tema em apreço e a sua essencialidade para o Estado seduz o constituinte a fertilizar os textos constitucionais com princípios destinados a orientar a futura elaboração legislativa, retirando previamente do legislador ordinário parcela de seu poder legiferante. O princípio constitucional da legalidade das despesas públicas, corolá- rio do princípio da legalidade tributária, conquistado a duras penas, informa- nos que nenhuma despesa pode ser feita sem uma prévia aprovação legislativa. No entanto, não podemos esquecer que todo o poder emana do povo e, em última análise, é ele quem acaba aprovando ou reprovando a utilização da receita pública em determinada despesa (!). Como cediço, é a lei do orçamento que fixa as despesas do exercício, sendo vedada a concessão de créditos ilimitados. Mas de onde surgiu a ideia de criar um orçamento para gerir a receita pública? Quais são os princípios que devem ser observados na elaboração de tal planejamento? Como é elaborado o nosso orçamento? Procuraremos responder essas perguntas neste ensaio, sem muitas delongas. Um orçamento, em contabilidade e finanças, é a expressão das recei- tas e despesas de um indivíduo, organização ou governo, relativamente a um período de execução determinado. Deriva do processo de planejamento da gestão, onde se deve estabelecer objetivos e metas materializados em um plano financeiro, isto é, contendo valores em moeda, para o devido acompanhamento e avaliação da gestão. Não é apenas a mera fixação de receitas visando o pagamento de cer- tas despesas, mas sim o direcionamento das receitas públicas para cum- primento das diversas finalidades estatais, atribuindo verbas a cada uma das diversas dotações orçamentárias, desdobrando-se cada uma delas em vários elementos de despesas, atendendo ao princípio da transparência orçamentária e possibilitando a fiscalização e o controle eficiente dos gastos públicos pelo Legislativo. No entanto, o orçamento público não nasceu do modo como o temos hoje. Como parte do ordenamento jurídico, que é dinâmico e se modifica conforme a sociedade se evolui, o orçamento público, também, foi se modificando com o tempo, ganhando cada vez mais um aspecto social e deixando de ser a simples análise das contas públicas. Hoje, o exame do orçamento permite identificar o plano de ação gover- namental, bem como saber se as promessas de campanhas do governante eleito estão refletidas ou não nesse programa de governo. O nosso intuito, nesse artigo, é demonstrar a evolução do orçamento público desde seu surgimento na Idade Média, passando pela Idade Mo- derna e chegando à Idade Contemporânea. Mas não é só! Buscaremos demonstrar a evolução principiológica orçamentária brasileira em nossas Cartas Constitucionais e, por fim, esclarecer como é elaborado o orçamento que, hoje, possuímos. Não temos o intuito de esgotar o assunto, mas de trazer importantes considerações que, certamente, irão auxiliar o leitor a compreender os programas contidos em nossas leis orçamentárias, e, principalmente, o motivo pelo qual o governo decide por executar determinada obra ou colo- car em prática determinado programa. Certo é que a Administração é dotada de uma grande parcela de dis- cricionariedade, no entanto, tal discricionariedade da Administração deve ser positivada, tornando-se um plano de metas, um orçamento, que como já sabido, deve ser cumprido. 2.ASPECTOS HISTÓRICOS DO ORÇAMENTO PÚBLICO O estudo do orçamento público, com características contemporâneas, remota à década de 1920 nos Estados Unidos da América, quando a ges- tão empresarial deu enormes saltos de qualidade, propiciando o desenvol- vimento de diversas técnicas de gestão e de elaboração do orçamento. Desde 1916, o francês JULES HENRI FAYOL, em sua obra Adminstração Industrial e Geral, já defendia que as empresas eram conjuntos de funções (técnicas, comerciais, financeiras, segurança, contábil e administrativas). Assim, com o desenvolvimento do pensamento empresarial e acadêmico, para efetuar o acompanhamento e controle da função administrativa, era necessário estabelecer mecanismos que propor- cionassem bases seguras na condução das atividades empresariais. Nesse sentido, surgiram as técnicas orçamentárias que conhecemos, dentre elas, o Orçamento Público. Orçamento Público é o instrumento de planejamento e execução das finanças públicas. Na atualidade, tal conceito está intimamente ligado à previsão das Receitas e fixação das Despesas públicas. Em outras pala- vras, o Orçamento Público é o documento legal (ou o cojunto de documen- tos legais) contendo aprevisão de receitas e despesas de um gover- no, durante um determinado exercício. Na verdade, a origem do orçamento advém desde o período de transi- ção do Mercantilismo para o Liberalismo. Inicialmente, o orçamento vincu- lou-se às reivindicações da burguesia, que buscava a limitação dos pode- res do Soberano que, durante o Absolutismo, era visto como fonte de poder absoluto, divino, acarretando que a vontade do Rei se confundia com o próprio ordenamento normativo. Se, hoje, o orçamento se apresenta como um método utilizado pela Administração para coordenar as despesas e receitas públicas, imprimindo- lhe organização e possibilitando um panorama geral dos negócios públicos APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 4bem como a avaliação e a correção do emprego dos recursos públicos, fato é que a origem do orçamento não se deu a partir de um olhar financeiro contemporâneo, que é marcado pela técnica e racionalidade financeiras [01]. As origens históricas do orçamento têm em conta as características so- ciais, políticas e econômicas existentes na Idade Média, que definiam e contextualizavam o seu aspecto financeiro. Como, na época, não existiam os Estados Nacionais, a construção das relações sociais, econômicas e militares se estabeleciam nos feudos, nas relações de subordinação dos servos ao senhor feudal, em troca de alimen- tos, abrigo e segurança, e nas relações de apoio recíproco deste com o Rei, essencial à segurança e a manutenção daquela sociedade. O Rei cobrava dos senhores feudais um valor referente à utilização das terras reais. Tal preço dominial era o que proporcionava a formação e manuten- ção do exército real. Na insuficiência dos ingressos dominiais para o atendimento das ne- cessidades supervenientes e extraordinárias, o Rei lançava tributos adicio- nais o que, desde já, demonstrava a arbitrariedade na formação e recebi- mento dos recursos reais. Em outras palavras, o Rei podia dispor de nume- rários obtidos mediante a cobrança de impostos conforme os desígnios reais. Tal situação só foi alterada quando se passou a exigir o consentimento dos principais vassalos reais para a cobrança dos tributos adicionais, gerando a impossibilidade do Monarca, coativamente, arrecadar os tributos almejados. A partir de então, a instituição de tributos só seria possível se existisse um caráter extraordinário e o consentimento dos principais súditos, que se reuniam em conselhos ou assembleias, para autorizar a instituição do tributo tido como extraordinário e essencial. Nesse sentido, ALIOMAR BALEEIRO preleciona que: com o tempo, essas assembleias, em cada país, receberam nomes es- pecíficos. Viriam a tomar caráter periódico e, no mundo contemporâneo, passaram a ser permanentes. Esses estilos provam que desde a alta Idade Média, no seio de vários povos da Europa, os monarcas encontravam dificuldade em criar impostos novos e manejar os antigos, ou levantar empréstimos forçados, sem o consentimento de certos órgãos colegiados, que pretendiam falar em nome dos contribuintes. [02] Diante da mobilização dos barões ingleses, que obrigaram o Rei João- Sem-Terra a se submeter ao conselho do reino (que mais tarde viria a se tornar o Parlamento inglês), vedando a cobrança de qualquer tributo sem o consentimento deste, a assinatura da Magna Carta, em 1215, externou o sentimento de que o Poder Real deveria ser exercido dentro de limites, dentre os quais se incluía a impossibilidade de cobrança arbitrária de tributos. No Absolutismo, as origens orçamentárias estão identificadas, funda- mentalmente, à limitação do poder absoluto do soberano por meio de pressupostos legais que impediam a cobrança arbitrária de tributos. Se, por um lado, as origens orçamentárias são identificadas nas Revo- luções Liberais europeias ocorridas, sobretudo, nos séculos XVII e XVIII, através da exigência de autorização parlamentar para a cobrança de tribu- tos, por outro, não se pode deixar de reconhecer, nas palavras de RICAR- DO LOBO TORRES, que: esses impostos, a rigor, não se confundem com os que permanente- mente passam a ser cobrados a partir da instauração da estrutura liberal de Governo, posto que eram apropriados privadamente, sem a nota da publi- cidade que marca os tributos permanentes. [03] Com a criação do Estado de Direito, fruto das Revoluções Liberais, foi possível organizar e publicizar as finanças públicas, o que possibilitou o lançamento e a cobrança regular de tributos efetuados, por uma autoridade fortalecida devido à unidade nacional, além de definir os requisitos e limites para a utilização dos recursos públicos. O fortalecimento da autoridade real, expresso na possibilidade de co- brança de tributos direta e permanentemente, sem a necessidade de inter- mediação dos senhores feudais, não significou discricionariedade relativa às finanças públicas. O Estado liberal traçou limites claros ao exercício do poder pela autoridade real ou republicana: a Teoria Constitucional, as garantias individuais, a separação dos poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário e a criação de um Parlamento permanente demonstravam a existência de um novo panorama filosófico, político e econômico que refleti- ria na própria concepção orçamentária. Pautado em normas constitucionais, o orçamento liberal tanto assegu- rava a cobrança permanente de tributos com vistas ao atendimento das despesas dos Estados Nacionais, como garantia, normativamente, a liber- dade de seus cidadãos. Investida no poder, a burguesia concebeu o Estado de Direito, cujos valores advieram do liberalismo, passando o orçamento a ser utilizado para a avaliação da compatibilidade anual entre as despesas e as receitas públicas [04]. O dogma liberal, que era pautado na ideia de que não cabia ao Estado a intromissão no setor econômico, estabeleceu um modelo de Estado em que a preocupação financeira, particularmente a orçamentária, limitava-se a assegurar a inexistência de déficits fiscais através da harmonização entre os recursos gastos e os impostos arrecadados [05]. O Estado liberal, identificava-se por um comportamento eminentemente negativo, limitando-se à interferência mínima na economia. Escreve ALIO- MAR BALEEIRO que para o liberalismo "o melhor governo seria o que governasse menos, a melhor despesa a menor possível (...) a sociedade como estava, a atividade financeira obedecia a uma política eminentemente conservadora". [06] Diante da crise do Estado Liberal, ficou evidente a insuficiência desse modelo orçamentário, já que sequer oferecia soluções às reivindicações dos direitos sociais, levadas a cabo pelos trabalhadores a partir do século XIX , nem garantia o pleno funcionamento do mercado ou soluções que pusessem fim às constantes crises econômicas. Aconteceu que o agravamento da crise econômica do Estado e a ne- cessidade de que este interviesse no domínio econômico possibilitou o advento de um novo modelo de Estado, o Estado de Bem-estar Social. Nesse contexto, para que o Estado cumprisse o seu novo papel, não bastava o simples equilíbrio das contas estatais por meio de uma equaliza- ção entre receitas e despesas; era necessário um, verdadeiro, planejamen- to financeiro-estatal para atender às novas demandas surgidas. Nesse contexto, fortalecido com o surgimento da teoria geral de JOHN MAYNARD KEYNES (Teoria Keynesiana), houve o rompimento da ideia de um orçamento neutro e se procurou ampliar o papel do Estado na socieda- de e na economia, custeado através do aumento de tributos e da criação de outras receitas orçamentárias. Atuando funcionalmente, a atividade finan- ceira estatal devia orientar-se para influir sobre a conjuntura econômica, sobrepondo-se à iniciativa privada, inclusive a benefício desta nos momen- tos de desequilíbrios cíclicos. Ao aumentar as prestações públicas, sobretudo na esfera da previdên- cia e seguridade social e dos subsídios, o Estado de Bem-Estar Social criou um sistema baseado na solidariedade que visava reduzir as desigualdades sociais. Noutro giro, no campo econômico, o orçamento passava a ser utilizado para combater as crises do sistema capitalista e, principalmente, o proble- ma da falta de empregos. É imperioso ressaltar que a teoria keynesiana foi fomentada na crise capitalista da terceira década do século XX, período em que se exigiu do Estado uma maior intervenção sobre o domínio econômi- co, em busca do crescimento econômico, controlando os preços, instituindo monopólios e criando barreiras aos mercados internos. Estudando a forte influência keynesiana sobre o orçamento, ALIOMAR BALEEIRO,escreveu que o orçamento se inclina a transformar-se em alavanca de comando da conjuntura econômica. Diante disso: as ideias e práticas buscam empregar o orçamento como o aparelho para combater fases de depressão e de desemprego, promover investimen- tos, ou para conter os quadros inflacionários. Os velhos princípios de técni- ca orçamentária consagrados pelas gerações anteriores, vergam ao peso dessa tarefa enorme.[07] Nesse sentido, o orçamento deixa de ser mero documento financeiro ou contábil para passar a ser o instrumento de ação do Estado. APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 5 Através dele é que se fixam os objetivos a serem atingidos pelo Esta- do. Por meio dele é que o Estado assume funções reais de intervenção no domínio econômico. Em resumo, o orçamento deixou de ser um mero documento estático de previsão de receitas e autorização de despesas para se constituir em um documento dinâmico, solene, de atuação do Estado perante a sociedade, intervindo e dirigindo seus rumos. Assim, os governos contemporâneos não se resignam a planejar ape- nas a administração pública e passaram a planejar, também, a economia, colocando-a como centro da política. Essa nova perspectiva resultou na alteração da perspectiva eminente- mente política do orçamento, que servia, sobretudo, como escudo de defesa dos contribuintes para conter as despesas governamentais e, impli- citamente, o aumento na tributação e passou a ser utilizado pelos governos para o planejamento econômico recaindo sobre todos os setores da eco- nomia. Usando as palavras de RINALDO SEGUNDO: Os sucessivos déficits orçamentários, as exacerbadas subvenções ao capital privado e o volume de receitas incompatíveis com as despesas a serem despendidas, dentre outros fatores, conduziram à crise do Estado de Bem-estar Social a partir dos anos 70. Atualmente, desenham-se modelos de superação da crise do Welfare State. Para o discurso conservador, o neoliberalismo tem sido a alternativa. Redução dos gastos sociais e redu- ção de intervenção estatal na ordem econômica compõe algumas das características desse Estado Mínimo. Para outros, a alternativa estaria fundada na redução dos excessos provenientes duma época em que a doutrina Keyneseana dominava a política econômica e fiscal dos Estados. Na formação dessa nova concepção fiscal, retoma-se a preocupação com a compatibilização entre receitas e despesas, inaugurando um modelo em que a saúde financeira do Estado é mantida por suas próprias fontes. A Lei de Responsabilidade Fiscal reforçaria essa perspectiva. Do ponto de vista dos investimentos sociais, parece-nos que a melhor interpretação é aquela que procura redirecionar os gastos públicos para os setores mais carentes de cidadania. A própria Constituição Federal de 1988, numa interpretação calcada na vedação do retrocesso, desautoriza a interpretação que propõe a redução dos gastos sociais. Contrariamente, os gastos sociais devem ser empregados em maior volume e de forma mais racional. [08] No Brasil, a partir da Lei nº. 4.320, de 17.03.1964, e com o advento da Lei Complementar nº 101, de 04.05.2000, o orçamento público ganhou o status com de orçamento-programa, integrado aos sistemas de contabili- dade pública. Em direito administrativo brasileiro, o orçamento público é o ato administrativo através do qual o Poder Legislativo autoriza o Poder Executivo a executar determinada despesa pública, destinada a cobrir o custeio do ente ou a seguir a sua política econômica. O orçamento público brasileiro, conforme estudaremos adiante, com- preende a elaboração e a execução de três leis básicas: (i) o Plano Pluria- nual ("PPA"), (ii) a Lei de Diretrizes Orçamentárias ("LDO") e a Lei de Orçamento Anual ("LOA"), que em conjunto materializam o planejamento e a execução das políticas públicas de cada ente da Federação. 3.OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO ORÇAMENTO PÚBLICO BRASILEIRO Ensina-nos RICARDO LOBO TORRES, que: Os princípios, sendo enunciados genéricos que quase sempre se ex- pressam em linguagem constitucional ou legal, estão a meio passo entre os valores e as normas na escala da concretização do direito e com eles não se confundem. Os princípios representam o primeiro estágio de concretiza- ção dos valores jurídicos a que se vinculam. A justiça e a segurança jurídi- ca começam a adquirir concretitude normativa e ganham expressão escrita. Mas os princípios ainda comportam grau elevado de abstração e indetermi- nação. (...) Os princípios financeiros são dotados de eficácia, isto é, produ- zem efeitos e vinculam a eficácia principiológica, conducente à normativa plena, e não a eficácia própria da regra concreta, atributiva de direitos e obrigações. [09] Nesse sentido, JORGE MIRANDA afirma que: Os princípios não se colocam, pois, além ou acima do Direito (ou do próprio Direito positivo); também eles - numa visão ampla, superadora de concepções positivistas, literalista e absolutizantes das fontes legais - fazem parte do complexo ordenamental. Não se contrapõem às normas, contrapõem-se tão-somente aos preceitos; as normas jurídicas é que se dividem em normas-princípios e normas-disposições. [10] Como resultado da história da gestão dos recursos públicos, os princí- pios orçamentários foram desenvolvidos pela doutrina e pela jurisprudência, permitindo que as normas orçamentárias adquirissem crescente eficácia, ou seja, que produzissem o efeito desejado, tivessem efetividade social e fossem observadas por seus receptores, em especial o administrador. Como princípios informadores do direito, os princípios orçamentários foram sendo, gradativa e cumulativamente, incorporados ao sistema norma- tivo, projetando efeitos sobre o processo legislativo, possibilitando a colma- tagem das lacunas existentes no ordenamento e auxiliando na interpreta- ção do direito orçamentário, colaborando no exercício da função jurisdicio- nal ao permitir a aplicação de uma norma a uma situação não regulada especificamente. Alguns desses princípios foram adotados determinados momentos por condizerem com as necessidades da época e posteriormente abandona- dos, ou pelo menos transformados, relativizados, ou mesmo mitigados, é o que ocorreu, por exemplo, com o princípio do equilíbrio orçamentário, tão precioso ao Estado Liberal do século XIX, como visto no Capítulo 1 deste ensaio, e que foi em parte relativizado com o advento do Estado do Bem- estar social no período pós-guerra. Nas décadas de oitenta e noventa, o princípio do equilíbrio orcamentá- rio foi revigorado com uma nova roupagem em face dos crescen- tes déficits estruturais advindos da dificuldade do Estado em financiar os extensos programas de segurança social e de alavancagem do desenvol- vimento econômico. Nossas Constituições, desde a Imperial até a atual, sempre deram tra- tamento privilegiado à matéria orçamentária. De maneira crescente, foram sendo incorporados novos princípios orçamentários às várias cartas consti- tucionais reguladoras do Estado brasileiro, conforme passaremos a anali- sar. Foi com a Constituição Imperial, outorgada em 25.03.1824, que se ins- taurou, no Brasil a ordem constitucional. Tal diploma constitucional, de conturbada elaboração (sendo redigido, às portas fechadas, por um grupo de dez cidadãos pertencentes ao Partido Português), em seus artigos 171 e 172, instituiu as primeiras normas sobre o orçamento público brasileiro, estatuindo a reserva de lei - a aprovação da peça orçamentária deveria observar um regular processo legislativo - e a reserva de parlamento - a competência para a aprovação é privativa do Poder Legislativo, sujeita à sanção do Poder Executivo - paraa aprovação do orçamento. Eis os dispo- sitivos em comento: Art. 171. Todas as contribuições directas, á excepção daquellas, que estiverem applicadas aos juros, e amortisação da Divida Publica, serão annualmente estabelecidas pela Assembléa Geral, mas continuarão, até que se publique a sua derogação, ou sejam substituidas por outras. Art. 172. O Ministro de Estado da Fazenda, havendo recebido dos ou- tros Ministros os orçamentos relativos ás despezas das suas Repartições, apresentará na Camara dos Deputados annualmente, logo que esta estiver reunida, um Balanço geral da receita e despeza do Thesouro Nacional do anno antecedente, e igualmente o orçamento geral de todas as despezas publicas do anno futuro, e da importancia de todas as contribuições, e rendas publicas. [11] (SIC) Inseriu-se, também, o princípio da anualidade ou temporalidade, que significa que a autorização legislativa do gasto deve ser renovada a cada ano, pois o orçamento era para viger por um ano, sendo a sua elaboração uma competência do Ministro da Fazenda, e cabendo à Assembleia-Geral a sua discussão e aprovação. Com a inserção da anualidade, fixou-se o princípio da legalidade da despesa - advindo do princípio geral da submissão da Administração à lei - onde a despesa pública deve ter prévia autorização legal. Todavia, no período compreendido entre 1822 e 1829, o Brasil somente teve orçamen- tos para a Corte e a Província do Rio de Janeiro, não sendo observado APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 6 o princípio da universalidade, o qual previa que o orçamento deveria conter todas as receitas e despesas da entidade, de qualquer natureza, procedên- cia ou destino, inclusive a dos fundos, dos empréstimos e dos subsídios. Somente com o Decreto Legislativo de 15.12.1830 é que o primeiro or- çamento geral do Império brasileiro veio a ser aprovado, referente ao exercício de 1831/32. Tal orçamento continha normas relativas à elabora- ção dos orçamentos futuros e dos balanços, à instituição de comissões parlamentares para o exame de qualquer repartição pública e à obrigatorie- dade dos ministros de Estado apresentarem relatórios impressos sobre a situação dos negócios a cargo das respectivas pastas e a utilização das verbas sob sua responsabilidade. A reforma da Constituição Imperial de 1824, em 12.08.1834, regulou o funcionamento das assembleias legislativas provinciais definindo-lhes a competência na fixação das receitas e despesas municipais e provinciais, bem como regrando a repartição entre os municípios e a sua fiscalização. Com o advento do governo republicano e a promulgação da Constitui- ção da República dos Estados Unidos do Brasil, em 24.02.1891, foram introduzidas profundas alterações no processo orçamentário. A elaboração do orçamento passou à competência privativa do Congresso Nacional (artigo 34, 1º, CR/1891), no entanto, nas palavras de ARIZIO DE VIANA, "a iniciativa sempre partiu do gabinete do ministro da Fazenda que, mediante entendimentos reservados e extra-oficiais, orientava a comissão parlamen- tar de finanças na confecção da lei orçamentária" [12]. Contudo, a experiência orçamentária da República Velha se revelou inadequada. Os parlamentos, em toda parte, são mais sensíveis à criação de despesas do que ao controle do déficit. A reforma Constitucional de 1926 tratou de eliminar as distorções observadas no orçamento da Repú- blica, a qual ALIOMAR BALEEIRO costumeiramente chamava de "o parto da montanha". Buscou-se, para tanto, promover duas alterações significati- vas: (i) a proibição da concessão de créditos ilimitados e (ii) a introdução do princípio constitucional da exclusividade, ao inserir-se preceito prevendo: Art. 34. (...) § 1º As leis de orçamento não podem conter disposições estranhas à previsão da receita e à despesa fixada para os serviços anteriormente criados. Não se incluíam nessa proibição (i) a autorização para abertura de cré- ditos suplementares e para operações de crédito como antecipação da receita e a (ii) determinação do destino a dar ao saldo do exercício ou do modo de cobrir o deficit. O princípio da exclusividade, ou da pureza orçamentária, limita o con- teúdo da lei orçamentária, impedindo que nela se pretendam incluir normas pertencentes a outros campos jurídicos, como forma de se tirar proveito de um processo legislativo mais rápido, as denominadas "caudas orçamentá- rias" (tackings dos ingleses, os riders dos norte-americanos, ou os Bepackungen dos alemães, ou ainda os cavaliers budgetaires dos franceses). Prática essa denominada por EPITÁCIO PESSOA, em 1922, de "verdadeira calamidade nacional" e pelo saudoso RUY BARBOSA como "orçamentos rabilongos", que introduziram o registro de hipotecas no Brasil e até a alteração no processo de desquite propiciaram. Essa foi a primeira inserção deste princípio em textos constitucionais brasileiros, já na sua formulação clássica, segundo a qual a lei orçamentária não deveria conter matéria estranha à previsão da receita e à fixação da despesa, ressalva- das: a autorização para abertura de créditos suplementares e para opera- ções de crédito como antecipação de receita; e a determinação do destino a dar ao saldo do exercício ou do modo de cobrir o déficit. O princípio da exclusividade sofreu duas modificações na Constituição da República Federativa do Brasil de 05.10.1988. Na primeira, não mais se autoriza a inclusão na lei orçamentária de normas sobre o destino a dar ao saldo do exercício como o fazia a Constituição da República Federativa do Brasil, de 24.01.1967. Na segunda, podem ser autorizadas quaisquer operações de crédito, por antecipação de receita ou não. A mudança refletiu um aprimoramento da técnica orçamentária, princi- palmente, com o advento da Lei nº 4.320, de 17.03.1964, que regulou a utilização dos saldos financeiros apurados no exercício anterior pelo Tesou- ro ou entidades autárquicas e classificou como receita do orçamento o produto das operações de crédito. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934, promulgada 16.07.1934, que reformou profundamente a organização da chamada República Velha (buscando "organizar um regime democrático, que assegure à Nação a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico", segundo o próprio preâmbulo) restaurou, no plano constitu- cional, a competência do Poder Executivo para elaboração da proposta, que passou à responsabilidade direta do Presidente da República. Cabia ao Poder Legislativo a análise e votação do orçamento, que po- dia, inclusive, ser emendado. Além disso, a Constituição de 1934 estabele- ceu que a despesa deveria ser discriminada, obedecendo, pelo menos a parte variável, à rigorosa especialização. Trata-se do princípio da especifi- cação, ou especialidade, ou ainda, da discriminação da despesa, que se confunde com a própria questão da legalidade da despesa pública e é a razão de ser da lei orçamentária, prescrevendo que a autorização legislati- va se refira a despesas específicas e não a dotações globais. O princípio da especialidade abrange tanto o aspecto qualitativo dos créditos orçamentários quanto o quantitativo, vedando a concessão de créditos ilimitados. Tal princípio só veio a ser expresso quando promulgada a Constituição de 1934, encerrando a explicitação da finalidade e da natu- reza da despesa e dando efetividade à indicação do limite preciso do gasto, ou seja, a dotação. Tal norma de limitação dos créditos orçamentários permaneceu em quase todas as constituições subsequentes à reforma de 1926, sendo exceção a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, outor- gada por Getúlio Vargas em 10.11.1937.Expõe EBER SOEHLER SANTA HELENA, que: O princípio da especificação tem profunda significância para a eficácia da lei orçamentária, determinando a fixação do montante dos gastos, proibindo a concessão de créditos ilimitados, que na Constituição de 1988, como nas demais anteriores, encontra-se expresso no texto constitucional, art. 167, VII (art. 62, § 1º, "b", na de 1969 e art. 75 na de 1946). Pode ser também de caráter qualitativo, vedando a transposição, remanejamento ou a transferência de recursos de uma catergora (SIC) de programação para outra ou de um órgão para outro, como hoje dispõe o art. 167, VI (art. 62, §1º, "a", na de 1969 e art. 75 na de 1946). Ou, finalmente pode o princípio referir-se ao aspecto temporal, limitando a vigência dos créditos especiais e extraordinários ao exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que reabertos nos limites dos seus saldos, serão incor- porados ao orçamento do exercício financeiro subsequente, ex vi do atual art. 167, § 2º (art. 62, § 4º, na de 1969 e sem previsão na de 1946). [13] Tal princípio, no entanto, não constou da Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937, outorgada em 10.11.1937 (mesmo dia em que foi implantado o regime ditatorial do Estado Novo), que previa a aprovação pelo Legislativo de verbas globais por órgãos e entidades. Nessa Constituição, a elaboração do orçamento continuava sendo de responsabilidade do Poder Executivo - agora a cargo de um departamento administrativo a ser criado junto à Presidência da República - e seu exame e aprovação seria da competência da Câmara dos Deputados e do Conse- lho Fiscal. Durante o Estado Novo, entretanto, tal prerrogativa não chegou a ser exercida, uma vez que as casas legislativas não foram instaladas e os orçamentos do período compreendido entre 1938 e 1945 terminaram sendo elaborados e aprovados pelo Presidente da República, com o assessora- mento do recém criado Departamento Administrativo do Serviço Público ("DASP"). Assim, o período do Estado Novo marcou de forma indelével a ausência do estado de direito, demonstrando cabalmente a importância da existência de uma lei orçamentária, soberanamente aprovada pelo Parla- mento, para a manutenção dos poderes constituídos, esteio da democracia. Com o fim do Estado Novo, em 18.09.1946, foi promulgada a Constitui- ção dos Estados Unidos do Brasil de 1946, que junto do Ato das Disposi- ções Constitucionais Transitórias, de mesma data, consagrou as liberdades individuais previstas na Constituição de 1934, que haviam sido retiradas pela Constituição de 1937 (igualdade de todos perante a lei; liberdade de manifestação, consciência e crença, inviolabilidade do sigilo de correspon- dência, separação dos Poderes, dentre outros) e no campo financeiro reafirmou a competência do Poder Executivo quanto à elaboração da proposta orçamentária, devolvendo ao Poder Legislativo suas prerrogativas APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 7 quanto à análise e aprovação do orçamento, inclusive emendas à proposta do governo. Além disso, manteve intactos os princípios orçamentários até então consagrados. Sob a égide da Constituição de 1946 foi aprovada e sancionada a Lei nº 4.320, de 17.03.64, estatuindo "Normas Gerais de Direito Financeiro para a elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal". Verdadeiro estatuto das finanças públicas, com statusde Lei Complementar, que incorporou impor- tantes avanços em termos de técnica orçamentária, inclusive com a intro- dução da técnica do orçamento-programa a nível federal. A Lei nº 4.320/64, em seu artigo 15, estabeleceu que a despesa fosse discriminada no mínimo por elementos ("Art. 15. Na Lei de Orçamento a discriminação da despesa far-se-á no mínimo por elementos." Dispositivo que teve a expressão no mínimo vetada pelo Presidente da República João Goulart, veto que foi derrubado pelo Congresso Nacional, conforme publicado no Diário Oficial do dia 05.05.1964). A Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 ("promulga- da" em 15.03.1967, buscando legalizar e institucionalizar o regime militar, decorrente da Revolução de 1964) registrou pela primeira vez em um texto constitucional o princípio do equilíbrio orçamentário. O axioma clássico de boa administração para as finanças públicas per- deu seu caráter absoluto, tendo sido abandonado pela doutrina o equilíbrio geral e formal, embora não se deixe de postular a busca de um equilíbrio dinâmico. Inserem-se neste contexto as normas que limitam os gastos com pessoal, acolhidas nas Constituições de 1967 e de 1988 [14] e a vedação à realização de operações de créditos que excedam o montante das despe- sas de capital (art. 167, III, da CF/88). Assim, atualmente, não mais se busca o equilíbrio orçamentário formal, mas sim o equilíbrio amplo das finanças públicas, como nos ensina MARCO NÓBREGA ao analisar a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 04.05.2000) e o princípio do equilíbrio: O grande princípio da Lei de Responsabilidade Fiscal é o princípio do equilíbrio fiscal. Esse princípio é mais amplo e transcende o mero equilíbrio orçamentário. Equilíbrio fiscal significa que o Estado deverá pautar sua gestão pelo equilíbrio entre receitas e despesa. Dessa forma, toda vez que ações ou fatos venham a desviar a gestão da equalização, medidas devem ser tomadas para que a trajetória de equilíbrio seja retomada. [15] Os princípios da unidade e da universalidade também sofreram altera- ções na Constituição de 1967. Tais princípios são complementares e pre- veem que todas as receitas e todas as despesas de todos os Poderes, órgãos e entidades devem estar consignadas num único documento, numa única conta, de modo a evidenciar a completa situação fiscal para o perío- do. A partir de 1967, a Constituição deixou de consignar expressamente o mandamento de que o orçamento seria uno, inserto nas Cartas Constituci- onais brasileiras desde 1934. Coincidentemente, foi nessa Constituição que, ao lado do orçamento anual, introduziu-se o orçamento plurianual de investimentos. Surgia, assim, um novo princípio constitucional- orçamentário, o da programação – a programação constante da lei orça- mentária relativa aos projetos com duração superior a um exercício finan- ceiro devem observar o planejamento de médio e longo prazo constante de outras normas preordenadoras. Sem ferir o princípio da unidade, por se tratar de instrumento de plane- jamento complementar à autorização para a despesa contida na lei orça- mentária anual, ou o princípio da universalidade, que diz respeito unica- mente ao orçamento anual, o princípio da programação veio propiciar uma ligação entre o planejamento de médio e longo prazo com o orçamento anual. O Orçamento Plurianual de Investimentos ("OPI") não chegou a ter eficácia, não encontrando abrigo na Constituição de 1988, que estabeleceu, ao invés, um Plano Plurianual ("PPA"). Não obstante o fato das Constituições e das legislação infraconstitucio- nal alardearem os princípios da universalidade e unidade orçamentária, na prática, até a metade da década de 80, parcela considerável dos dispên- dios da União não passavam pelo Orçamento Geral da União ("OGU"). O orçamento discutido e aprovado pelo Congresso Nacional não incluía os encargos da dívida mobiliária federal, os gastos com subsídios e pratica- mente a totalidade das operações de crédito de responsabilidade do Tesou- ro, como fundos e programas. Tais despesas eram realizadas autonoma- mente pelo Banco Central ("BACEN") eBanco do Brasil ("BB") por intermé- dio dos denominados Orçamento Monetário ("OM"), do BACEN, e Conta- movimento, do BB. Ainda tinha-se o chamado Orçamento-SEST, que consistia no orçamento de investimento das empresas estatais (empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas direta ou indiretamente pela União). Todos estes documentos eram apro- vados, exclusivamente, pelo Presidente da República. [16] Somente a partir de 1984, com a gradativa inclusão no OGU do OM, e com a extinção da Conta-movimento, no Banco do Brasil e de outras medi- das administrativas, coroadas pela promulgação da Carta Constitucional de 1988, é que se passou a dar efetividade aos princípios da unidade e da universalidade orçamentária. [17] A aplicação do princípio da unidade foi elastecido, na Constituição de 1988. No entanto, embora o parágrafo quinto de seu artigo 165 diga o que "A lei orçamentária anual compreenderá", deixou de fora do orçamento fiscal as ações de saúde e assistência social, tipicamente financiadas com os recursos ordinários do Tesouro Nacional, para compor com elas um orçamento distinto, em relação promíscua com as prestações da Previdên- cia Social, que também foi merecedora de tratamento em documento separado, observadas em seu âmbito a unidade e a universalidade, já que se trata de um sistema distinto de prestações e contraprestações de caráter continuado, que deve manter um equilíbrio econômico- financeiro auto- sustentado. Outra inovação da Constituição de 1988 foi o orçamento de investimen- tos das empresas estatais. Não há aqui, entretanto, quebra da unidade orçamentária, uma vez que se trata, obviamente, de um segmento nitida- mente distinto do orçamento fiscal, a não ser no que se refere àquelas unidades empresariais dependentes de recursos do Tesouro Nacional para sua manutenção, caso em que devem ser incluídas integralmente no orça- mento fiscal, como vem ocorrendo por força de disposições contidas na últimas LDOs. A adoção do Orçamento de Investimento nas empresas nas quais a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital com direito a voto, nos termos do artigo 165, § 5º, correspondeu a um avanço na aplica- ção do princípio da universalidade dos gastos, ainda que excluídos os dispêndios relativos à manutenção destas entidades. O princípio da não afetação de receitas determina que essas não se- jam previamente vinculadas a determinadas despesas, a fim de que este- jam livres para sua alocação racional, no momento oportuno, conforme as prioridades públicas. A Constituição de 1967 o adotou, ressalvada a sua aplicação nos impostos únicos e naqueles tributos cuja própria Constituição e as leis complementares vedava. A Carta de 1988, por sua vez, restringe a aplicação de tal princípio aos impostos, observadas as exceções indicadas própria Constituição, não permitindo sua ampliação mediante lei comple- mentar. A Emenda Constitucional de Revisão nº 1, de 01.03.1994, ao criar o Fundo Social de Emergência ("FSE") e desvincular, ainda que somente para os exercícios financeiros de 1994 e 1995, 20% (vinte por cento) dos impostos e contribuições da União, demonstrou a necessidade de se permi- tir a flexibilidade na alocação dos recursos na elaboração e execução orçamentária. A Constituição de 1988, ainda, inovou em termos de constitucionaliza- ção de princípios regentes dos atos administrativos em geral e aplicando-os à matéria orçamentária, elevando a nível constitucional os princípios da clareza e da publicidade, a exemplo do previsto no art. 165, § 6º - que determina que o projeto da lei orçamentária venha acompanhado de de- monstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decor- rentes de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia - e no art. 165, §3º - que estipula a publica- ção bimestralmente de relatório resumido da execução orçamentária. 4.AS LEIS ORÇAMENTÁRIAS BRASILEIRAS E A EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO Como cediço e já ressaltado no Capítulo 1 deste ensaio, o orçamento público brasileiro compreende a elaboração e a execução de três leis básicas: (i) o Plano Plurianual ("PPA"), (ii) a Lei de Diretrizes Orçamentárias ("LDO") e a Lei de Orçamento Anual ("LOA"), que em conjunto materializam APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 8 o planejamento e a execução das políticas públicas de cada ente da Fede- ração (União, Estados, Municípios e Distrito Federal). Nesse capítulo, analisaremos cada uma das leis, buscando demonstrar a sua função no sistema orçamentário brasileiro, e de que forma respeitam os orçamentários pátrios, vistos no Capítulo 2. 4.1.O Plano Plurianual O Plano Plurianual ("PPA"), no Brasil, previsto no artigo 165 da Constituição Federal de 1988, e regulamentado pelo Decreto nº 2.829, de 29.10.1998, em plena compatibilidade com o princípio do orçamento investimento, estabelece as medidas, gastos e objetivos a serem seguidos pela Administração ao longo de um período (exercício) de quatro anos. É aprovado por lei quadrienal, sujeita a prazos e ritos diferenciados de tramitação e tem vigência do segundo ano de um mandato do Poder Exe- cutivo até o final do primeiro ano do mandato seguinte. Nele se prevê a atuação do Governo, durante o período mencionado, em programas de duração continuada já instituídos ou a instituir no médio prazo, buscando o cumprimento do princípio da continuidade da prestação do serviço público, em prol do interesse público. Com a obrigatoriedade do PPA, tornou-se obrigatório o Governo plane- jar todas as suas ações e também seu orçamento de modo a não ferir as diretrizes nele contidas, somente devendo efetuar investimentos em pro- gramas estratégicos previstos na redação do PPA para o período vigente. A Constituição, também, sugere que a iniciativa privada volte suas ações de desenvolvimento para as áreas abordadas pelo plano vigente. O PPA é dividido em planos de ações, e cada plano deverá conter: (i) objetivo, órgão do Governo responsável pela execução do projeto, (ii) o valor, (iii) o prazo de conclusão, (iv) as fontes de financiamento, (v) o indi- cador que represente a situação que o plano visa alterar, (vi) a necessidade de bens e serviços para a correta efetivação do previsto, (vii) a regionaliza- ção do plano, etc. Cada um desses planos (ou programas), será designado a uma unida- de responsável competente, mesmo que durante a execução dos trabalhos várias unidades da esfera pública sejam envolvidas. Também será desig- nado um gerente específico para cada ação prevista no Plano Plurianual, por determinação direta da Administração Pública. O Decreto nº 2.829, 29.10.1998, que regulamentou o PPA prevê que sempre se deve buscar a integração das várias esferas do poder públi- co (federal, estadual e municipal), e também destas com o setor privado. A cada ano, deverá ser realizada uma avaliação do processo de anda- mento das medidas a serem desenvolvidas durante o período quadrienal – não só apresentando a situação atual dos programas, mas também suge- rindo formas de evitar o desperdício de dinheiro público em ações não significativas. Com base nesta avaliação é que serão traçadas as bases para a elaboração do orçamento anual. A avaliação anual poderá se utilizar de vários recursos para sua efeti- vação, inclusive de pesquisas de satisfação pública, quando viáveis. Embora teoricamente todos os projetos do PPA sejam importantes e necessários para o desenvolvimento sócio-econômico do ente, dentro do mesmo devem ser estabelecidos projetos que detêm de maior prioridade na sua realização. 4.2.A Lei de Diretrizes OrçamentáriasA Lei de Diretrizes Orçamentárias ("LDO") tem a finalidade precípua de orientar a elaboração dos orçamentos fiscal e da seguridade social e de investimento das empresas estatais. Busca sincronizar a Lei Orçamentária Anual ("LOA") com as diretrizes, objetivos e metas da administração públi- ca, estabelecidas no PPA, em estrita observância aos princípios do orça- mento investimento e da unidade orçamentária. De acordo com o parágrafo 2º, do art. 165, da Constituição Federal de 1988, a LDO (i) deverá trazer as metas e prioridades da administração pública, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subse- quente, (ii) orientará a elaboração da LOA, (iii) disporá sobre as alterações na legislação tributária e (iv) estabelecerá a política de aplicação das agên- cias financeiras oficiais de fomento. Em observância do princípio da anualidade orçamentária, a LDO será elaborada, anualmente, pela Administração e aprovada pelo Poder Legisla- tivo que, após aprovação, devolverá ao Executivo para sação. É importante destacar que a Constituição de 1988 não prevê a possibilidade de rejeição do projeto de lei de diretrizes orçamentárias, uma vez que prescreve, em seu art. 57, §2º, que a sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto, logo, o projeto após entregue pelo Executivo deverá ser analisado e encaminhado para aprovação. A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 04.05.2000) ampliou a importância da LDO, determinando a previsão de várias outras situações, além das previstas na Constituição. São elas (i) estabelecer os critérios para o congelamento de dotações, quando as receitas não evoluírem de acordo com a estimativa orçamentária; (ii) esta- belecer controles operacionais e suas regras de atuação para avaliação das ações desenvolvidas ou em desenvolvimento; (iii) estabelecer as condições de ajudar ou subvencionar financeiramente instituições privadas, fornecendo o nome da instituição, valor a ser concedido, objetivo etc., sendo importante ressaltar que serão nulas as subvenções não previstas na LDO, excluindo casos de emergência; (iv) estabelecer condições para autorizar os entes a auxiliar o custeio de despesas próprias de outros entes, como por exemplo, gastos de quartel da Polícia Militar, de Cartório Eleitoral, Recrutamento Militar, de atividades da Justiça etc.; (v) estabelecer critérios para o início de novos projetos, após o adequado atendimento dos que estão em andamento; (vi) estabelecer critérios de programação finan- ceira mensal; (vii) estabelecer o percentual da receita corrente líquida a ser retido na peça orçamentária, como Reserva de Contingência. Além do estabelecimento e definição dos itens acima, a LDO deverá ser acompanhada dos chamados Anexos de Metas Fiscais. Esses Anexos deverão conter: (i) metas anuais para receitas, despesas, resultados nomi- nal e primário e montante da dívida para o exercício a que se referirem e para os dois exercícios seguintes; (ii) a avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior; (iii) o demonstrativo das metas anuais, instruído com memória e metodologia de cálculo que justifiquem os resulta- dos pretendidos, comparando-as com as fixadas nos três últimos exercí- cios, evidenciando a consistência delas com as premissas e os objetivos da política vigente; (iv) o demonstrativo da evolução do patrimônio líquido nos últimos três exercícios, destacando a origem e a aplicação dos recursos obtidos com a alienação de ativos; (v) a avaliação financeira e atuarial de todos os fundos e programas de natureza atuarial; (vi) o demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expan- são das despesas obrigatórias de caráter continuado; (vii) a avaliação dos passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas, infor- mando as providências, caso se concretizem, como por exemplo, é impor- tante verificar os processos judiciais de devolução de tributos questioná- veis, ou demanda de reivindicações salariais não concedidas. Enfim, o Anexo de Metas Fiscais compreenderá: (i) a previsão trienal da receita, da despesa, estimando, assim, os resultados nominal e primário; (ii) a previsão trienal do estoque da dívida pública, considerando os passi- vos financeiro e permanente; (iii) a avaliação do cumprimento das metas do ano anterior; (iv) a evolução do patrimônio líquido ou passivo real descober- to (resultado patrimonial negativo); (v) a avaliação financeira e atuarial dos fundos de previdência dos servidores públicos; (vi) a Estimativa de com- pensação da renúncia de receitas (anistias, remissões, isenções, subsídios etc.) e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. 4.3.A Lei Orçamentária Anual A Lei Orçamentária Anual ("LOA") ou orçamento anual visa concretizar os objetivos e metas propostas no PPA, segundo as diretrizes estabeleci- das pela LDO, em conformidade com o princípio da unidade do orçamento público. É uma lei, em sentido formal, elaborada pelo Poder Executivo e aprovada pelo Poder Legislativo, que estabelece as despesas e as receitas que serão realizadas em determinado ano (princípio da anualidade do orçamento). A Constituição determina que o Orçamento deve ser votado e aprovado até o final de cada Legislatura, sendo competência do Chefe do Poder Executivo de cada ente público enviar ao órgão legislativo a proposta do orçamento. A proposta da LOA compreende os três tipos distintos de orçamentos, a saber: (i) o Orçamento Fiscal, que compreende os poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, os Fundos, Órgãos, Autar- APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 9 quias, inclusive as especiais, e Fundações instituídas e mantidas pelo ente público; abrange, também, as empresas públicas e sociedades de econo- mia mista em que o Poder Público, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto e que recebam desta quaisquer recursos que não sejam provenientes de participação acionária, pagamen- tos de serviços prestados, transferências para aplicação em programas de financiamento atendendo ao disposto na alínea "c" do inciso I do art. 159 da CF e refinanciamento da dívida externa; (ii) o Orçamento de Seguridade Social, que compreende todos os órgãos e entidades a quem compete executar ações nas áreas de saúde, previdência e assistência social, quer sejam da Administração Direta ou Indireta, bem como os fundos e funda- ções instituídas e mantidas pelo Poder Público; compreende, ainda, os demais subprojetos ou subatividades, não integrantes do Programa de Trabalho dos Órgãos e Entidades mencionados, mas que se relacionem com as referidas ações, tendo em vista o disposto no art. 194 da CF; e (iii) o Orçamento de Investimento das Empresas Estatais: previsto no inciso II, parágrafo 5º do art. 165 da CF, que abrange as empresas públicas e socie- dades de economia mista em que o Estado, direta ou indiretamente, dete- nha a maioria do capital social com direito a voto. 4.4.A Execução Orçamentária A execução orçamentária ocorre concomitantemente com a financeira! Esta afirmativa tem como sustentação o fato de que a execução tanto orçamentária como financeira estão atreladas uma a outra. Havendo orça- mento e não existindo o financeiro, não poderá ocorrer a despesa. Por outro lado, havendo recurso financeiro, mas não se podendo gastá-lo, não há que se falar em disponibilidade orçamentária. Em consequência, pode-se definir execução orçamentária como sendo a utilização dos créditos na LOA. Já a execução financeira, por sua vez, representa a utilizaçãode recursos financeiros, visando atender à realiza- ção dos projetos e/ou atividades atribuídas às Unidades Orçamentárias pelo Orçamento. Na técnica orçamentária, inclusive, é habitual se fazer a distinção entre as palavras crédito e recursos. O primeiro termo designa o lado orçamentá- rio e o segundo, o lado financeiro. Crédito e Recurso são duas faces de uma mesma moeda! O crédito é a dotação ou autorização de gasto ou sua descentralização, e o recurso é o dinheiro ou saldo de disponibilidade bancária. Uma vez publicada a LOA, observadas as normas de execução orça- mentária e de programação financeira para o exercício, e lançadas as informações orçamentárias, cria-se o crédito orçamentário e, a partir daí, tem-se o início da execução orçamentária propriamente dita. Executar o orçamento é, portanto, realizar as despesas públicas nele previstas, ressaltando que para que qualquer utilização de recursos públi- cos seja efetuada, a primeira condição é que esse gasto tenha sido legal e oficialmente previsto e autorizado pelo Poder Legislativo e que sejam seguidos à risca os três estágios da execução das despesas previstos na Lei nº 4.320/64, isto é, (i) o empenho, (ii) a liquidação e (iii) o pagamento – atualmente se encontra em aplicação a sistemática do pré-empenho ante- cedendo esses estágios, já que, após o recebimento do crédito orçamentá- rio e antes do seu comprometimento para a realização da despesa, existe uma fase geralmente demorada de licitação obrigatória junto a fornecedo- res de bens e serviços que impõe a necessidade de se assegurar o crédito até o término do processo licitatório. Pois bem, o empenho é o primeiro estágio da despesa e pode ser con- ceituado como sendo o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado a obrigação de pagamento, pendente ou não, de implemento de condição. Nele se registra o comprometimento da despesa orçamentá- ria, obedecidos os limites estritamente legais, bem como aos casos em que se faça necessário o reforço ou a anulação desse compromisso. Não se deve confundir, entretanto, empenho da despesa com nota de empenho; esta, na verdade, é a materialização daquele, embora, no dia-a-dia haja a junção dos dois procedimentos em um único. Todavia, ocorre que estando a despesa legalmente empenhada, nem assim o Estado se vê obrigado a efetuar o pagamento, uma vez que, o implemento de condição poderá estar concluído ou não. Seria um absurdo se assim não fosse, pois a Lei nº 4.320/64 determina que o pagamento de qualquer despesa pública, seja ela de que importância for, passe pelo crivo da liquidação. É nesse segundo estágio da execução da despesa que será cobrada a prestação dos serviços ou a entrega dos bens, ou ainda, a realização da obra, evitando, dessa forma, o pagamento sem o implemento de condição. O segundo estágio da despesa pública é a liquidação, que consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito, ou seja é a comprova- ção de que o credor cumpriu todas as obrigações constantes do empenho. Esse estágio tem por finalidade reconhecer ou apurar a origem e o ob- jeto do que se deve pagar, a importância exata a pagar e a quem se deve pagar para extinguir a obrigação e é efetuado pelo documento Nota de Lançamento ("NL"). Ele envolve, portanto, todos os atos de verificação e conferência, desde a entrega do material ou a prestação do serviço até o reconhecimento da despesa. Ao fazer a entrega do material ou a prestação do serviço, o credor de- verá apresentar a nota fiscal, fatura ou conta correspondente, acompanha- da da primeira via da nota de empenho, devendo o funcionário competente atestar o recebimento do material ou a prestação do serviço corresponden- te, no verso da nota fiscal, fatura ou conta. O último estágio da despesa é o pagamento, que consiste na entrega de numerário ao credor do Estado, extinguindo dessa forma o débito ou obrigação. Esse procedimento normalmente é efetuado por tesouraria, que deve ter como favorecido o credor do empenho. O pagamento normalmente é efetuado por meio de crédito em conta bancária do favorecido. Se houver importância paga a maior ou indevidamente, sua reposição aos órgãos públicos deverá ocorrer dentro do próprio exercício. Todo esse processo ocorre observando, estritamente, os princípios constitucionais orçamentários, bem como aqueles que regem a Administra- ção Pública, dentre eles a moralidade, a publicidade e a eficiência, de modo que o interesse público seja sempre garantido. 5.CONCLUSÃO Os argumentos aqui trazidos não dizem respeito somente ao orçamen- to público, mas à própria essência do Estado, entendido como provedor de bens e serviços, cujas relações com a comunidade são de subordinação e domínio. Como submisso, o Estado, ao ordenamento normativo gerado em seu próprio seio, pela sociedade por ele regulada, a partir do instrumento da representação política, deve observar os princípios e normas no momento de elaboração de suas políticas, com vistas à promover o interesse social. Como demonstrado, a relevância do orçamento e sua essencialidade para o Estado seduz o constituinte a fertilizar os textos constitucionais com princípios destinados a orientar a futura elaboração legislativa, retirando previamente do legislador ordinário parcela de seu poder legiferante. Não é preciso chamar a atenção para a importância do orçamento na vida política e administrativa de determinado Estado como o plano das suas necessidades monetárias, em determinado período de tempo, exercendo grande influência na vida estatal e produzindo reflexos negativos na tarefa da consecução de suas atividades quando for deficiente ou mal-elaborado. É através do orçamento que se fixam os objetivos a serem atingidos pelo Estado. Por meio dele é que o Estado assume funções reais de inter- venção no domínio econômico. O estudo do orçamento, desde sua origem, e principalmente de seus princípios auxiliará o administrador público a não cometer erros no momen- to da elaboração de sua proposta, ajudará o legislador a aprovar a propos- ta, que se tornará lei, influenciará o administrador na execução das metas e programas lançados na lei orçamentária e trará facilidades ao intérprete do direito no momento da análise da legislação orçamentária. Como visto, com o tempo e as evoluções sociais, o orçamento deixou de ser um mero documento estático de previsão de receitas e autorização de despesas para se constituir em um documento dinâmico, solene, de atuação do Estado perante a sociedade, intervindo e dirigindo seus rumos. Mais do que isso! O orçamento deixou de ser instrumento de reivindicação da burguesia medieval e passou a ser um instrumento de solidariedade, que busca garantir os direitos constitucionais dos cidadãos, em um Estado de Bem-estar social. APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Direito Financeiro A Opção Certa Para a Sua Realização 10 Pode-se afirmar que o orçamento faz parte de uma política de descentralização do governo, que já é prevista na Constituição vigente. Pois, nas diretrizes estabelecidas em cada plano, é fundamental a participação e apoio das esferas inferiores da administração pública, que sem dúvida têm mais conhecimento dos problemas e desafios que são necessários enfrentar para o desenvolvimento sustentável local. Nesse giro, é interessante notar que os municípios vêm assumindo um novo papel, que era dever do ente Federal e dos Estados: assegurar aos cidadãos as condições básicas de sobrevivência e também impor limites ao processo de exclusão. Esse novo papel é um dos resultado do processo de descentralizaçãoadministrativa brasileira, onde a
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