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(x, y) um polinoˆmio em duas varia´veis.2 Suponha que exista (x, y) com F (x, y) = 03 Se ∂F (x,y) ∂y 6= 0 quando avaliada em (x, y), enta˜o para x, y em (possivelmente pe- quenos) intervalos abertos centrados em x, y: • a curva F (x, y) = 0 e´ um gra´fico do tipo y = y(x) e • y′(x) = − ∂F (x,y) ∂x ∂F (x,y) ∂y . Se ∂F (x,y) ∂x 6= 0 quando avaliada em (x, y), enta˜o para x, y em (possivelmente pe- quenos) intervalos abertos centrados em x, y:: • a curva F (x, y) = 0 e´ um gra´fico do tipo x = x(y) e • x′(y) = − ∂F (x,y) ∂y ∂F (x,y) ∂x . Esse Teorema tem va´rios detalhes, que se veˆem melhor nos Exemplos. Exemplo 2.1. No c´ırculo F (x, y) = x2+y2−r2 = 0 temos ∂F (x,y) ∂y = 2y 6= 0 se y 6= 0. Nesse caso: y′(x) = − ∂F (x,y) ∂x ∂F (x,y) ∂y = − 2x 2y(x) , como vimos antes. Mas se P no c´ırculo tem y = 0 enta˜o P = (−r, 0) ou P = (r, 0) e nesse caso ∂F (x,y) ∂x = 2x 6= 0. Enta˜o e´ preciso usar func¸o˜es x = x(y) para descrever o c´ırculo como gra´fico. O Teorema 2.1 tem sutilezas que ficam evidentes no Exemplo a seguir: 2ha´ verso˜es mais gerais desse enunciado, onde F e´ muito geral, sujeito apenas a certas exigeˆncias de derivabilidade 3Na˜o queremos ter conjuntos vazios como F (x, y) = x2 + y2 + 3 = 0. 2. TEOREMA DA FUNC¸A˜O IMPLI´CITA 210 Exemplo 2.2. Voltando ao exemplo que analisamos acima, F (x, y) = x2y2 − 3y2 + y4 − 8y + 2y3 − 4 = 0 temos ∂F (x, y) ∂x = 2xy2, que se anula em P = (0, 2), mas temos ∂F (x, y) ∂y = x22 y − 6 y + 4 y3 − 8 + 6 y2 que na˜o se anula em P = (0, 2). Logo ha´ um gra´fico y = y(x) em torno de (0, 2) e ja´ calculamos y′(0) = 0 acima. Ate´ agora na˜o comentei o fato de que P = (0,−1) tambe´m satisfaz: x2y2 − 3y2 + y4 − 8y + 2y3 − 4 = 0. Isso e´ interessante pois diz que para o mesmo valor x = 0 ha´ dois valores y que satisfazem F (x, y) = 0 ! Ou seja que e´ so´ num pequeno entorno de (0, 2) que pode ser descrito como gra´fico de y = y(x) , mas na˜o todo o conjunto F (x, y) = 0. Por outro lado, em (0,−1) tanto ∂F (x,y) ∂x = 2xy2 quanto ∂F (x, y) ∂y = x22 y − 6 y + 4 y3 − 8 + 6 y2 se anulam ! Nessa caso o Teorema 2.1 na˜o tem nada a dizer ! Ele na˜o pode garantir nenhum tipo de gra´fico local y = y(x) ou x = x(y). Ainda bem que o Teorema se calou nessa caso, pois em (0,−1) a curva F (x, y) = 0 tem uma espe´cie de lac¸o, que na˜o se deixa descrever nem como gra´fico de y = y(x) nem como gra´fico de x = x(y). A Figura a seguir da´ uma ide´ia da curva, que na˜o por acaso se chama concho´ide: y 1 2 x 0 40 2-2 -2 -1 -4 CAPI´TULO 15. DERIVADAS DE FUNC¸O˜ES IMPLI´CITAS 211 Figura: Em (0, 2) vemos um pequeno gra´fico horizontal y = y(x). Mas em (0,−1) forma-se um lac¸o. Exemplo 2.3. O caso de x3 + xy2 − 3x 2 2 − y2 = 0 expo˜e outra sutileza do Teorema 2.1. Note que essa curva tem sobre o eixo dos x exatamente dois pontos: (0, 0) e (0, 3 2 ). Em (0, 3 2 ) temos (como o leitor pode verificar) ∂F (x, y) ∂y = 0, ∂F (x, y) ∂x = 9 4 e o Teorema 2.1 diz que a curva F (x, y) = 0 se representa localmente como gra´fico x = x(y). Ademais calcula x′(3 2 ) como x′( 3 2 ) = − 0 (9 4 ) = 0, ou seja que o gra´fico e´ vertical. Mas em (0, 0) temos ∂F (x, y) ∂y = ∂F (x, y) ∂x = 0. De fato esse ponto e´ completamente isolado do resto da curva ! Ou seja, na˜o pode ser visto como gra´fico de uma func¸a˜o cujo domı´nio e´ um intervalo aberto em torno de x = 0. Na Figura a seguir o Maple na˜o enxerga o (0, 0) na curva ! 2 0 -2 x 1,51,41,31,21,1 y 3 1 -1 -3 3. RETA TANGENTE DE CURVA E PLANO TANGENTE DE SUPERFI´CIE212 3. Reta tangente de curva e plano tangente de superf´ıcie O Teorema 2.1 nos diz que, se uma curva F (x, y) = 0 e´ localmente, em torno de (x, y), da forma y = y(x) enta˜o y′(x) = − ∂F ∂x (x, y) ∂F ∂y (x, y) . A reta tangente em (x, y) ao pedac¸o de gra´fico y = y(x) foi definida na Sec¸a˜o 2 do Cap´ıtulo 8 como: y = y′(x) + (y − y′(x) · x), ou seja, y = − ∂F ∂x ∂F ∂y · x+ (y − ∂F ∂x ∂F ∂y · x). Multiplicando por ∂F ∂y (x, y) e simplificando obtemos: ∂F ∂x (x, y) · (x− x) + ∂F ∂y (x, y) · (y − y) = 0, por isso defino: Definic¸a˜o 3.1. Seja F (x, y) = 0 curva contendo o ponto (x, y) para o qual ∂F ∂x (x, y) 6= 0 ou ∂F ∂y (x, y) 6= 0. Enta˜o sua reta tangente em (x, y) e´ definida por: ∂F ∂x (x, y) · (x− x) + ∂F ∂y (x, y) · (y − y) = 0, Podemos dar uma definic¸a˜o ana´loga quando ao inve´s de uma curva no plano (x, y) tivermos uma superf´ıcie no espac¸o (x, y, z), dada em forma impl´ıcita pela equac¸a˜o F (x, y, z) = 0: Definic¸a˜o 3.2. Seja F (x, y, z) = 0 contendo o ponto (x, y, z). Se ∂F ∂x (x, y, z)) 6= 0 ou ∂F ∂y (x, y, z) 6= 0 ou ∂F ∂y (x, y, z) 6= 0, enta˜o seu plano tangente em (x, y, z) e´ definido por: ∂F ∂x (x, y, z) · (x− x) + ∂F ∂y (x, y, z) · (y − y) + ∂F ∂z (x, y, z) · (z − z) = 0. Exemplos: • por essa definic¸a˜o a esfera de raio 1 dada por x2 + y2 + z2 − 1 = 0 tem em (0, 0, 1) o plano tangente ∂F ∂z (0, 0, 1) · (z − 1) = 2 · (z − 1) = 0, que e´ o mesmo que o plano horizontal z = 1 no espac¸o (x, y, z). CAPI´TULO 15. DERIVADAS DE FUNC¸O˜ES IMPLI´CITAS 213 • a equac¸a˜o z2 − x2 − y2 = 0 define uma superf´ıcie conhecida como cone de duas folhas. No ponto (0, 0, 0): ∂F ∂x = ∂F ∂y = ∂F ∂x = 0, e nele portanto na˜o esta´ definido um plano tangente. Por isso esse ponto e´ especial ou singular. 4. Tangentes, pontos racionais de cu´bicas e co´digos secretos Consideremos uma cu´bica em forma impl´ıcita, ou seja, uma curva dada por: y2 − x3 − b x− a = 0, a, b ∈ R, ou equivalentemente: y2 = x3 + b x+ a a, b ∈ R. Quando se trabalha com computadores, o melhor dos mundos e´ lidar com nu´meros Racionais. E duas questo˜es muito importantes e atuais, que esta˜o relacionadas com a aplicac¸a˜o da matema´tica a` criptografia, sa˜o: Questa˜o 1: Seja a curva dada por y2 = x3 + b x+ a a, b ∈ Q. Quem sa˜o ou quantos sa˜o os pontos P = (x, y) da curva que teˆm ambas coordenadas Racionais ? Questa˜o 2: Dado um ponto P dessa curva com coordenadas Racionais, como produzir outros pontos dela que tambe´m tenham coordenadas Racionais ? Usaremos a notac¸a˜o P = (x, y) ∈ Q×Q para dizer que ambas as coordenadas sa˜o Racionais. A seguinte Afirmac¸a˜o e´ um me´todo para atacar a segunda questa˜o: Afirmac¸a˜o 4.1. (Me´todo das secantes e das tangentes) Considere uma cu´bica com coeficientes Racionais da forma F (x, y) = y2 − x3 − b x− a a, b ∈ Q. • i) sejam P1 = (x1, y1) ∈ Q × Q e P2 = (x2, y2) ∈ Q × Q de F (x, y) = 0, distintos. Se a reta que os liga na˜o e´ vertical enta˜o ela intersecta a cu´bica em P3 = (x3, y3) ∈ Q×Q. • ii) Suponha que ∂F ∂y = 2y na˜o se anula em P = (x, y) ∈ Q×Q. Enta˜o a reta tangente a F (x, y) em P intersecta a cu´bica num ponto Q que tambe´m tem coordenadas Racionais. Demonstrac¸a˜o. De i): 4. TANGENTES, PONTOS RACIONAIS DE CU´BICAS E CO´DIGOS SECRETOS 214 A reta ligando P1 e P2 e´: y = ( y 2 − y 1 x2 − x1 ) · x+ x2y1 − x1y2 x2 − x1 = = A · x+ b, ou seja, tem coeficientes angular A e linear B Racionais. Queremos resolver a equac¸a˜o (Ax+B)2 − x3 − b x− a = 0, mas (Ax+B)2 − x3 − b x− a = (x− x1) · (x− x2) · q(x), onde o grau do polinoˆmio q(x) e´ 3− 2 = 1. Mas, como se viu na prova do Teorema 7.1 do Cap´ıtulo 6 e na Digressa˜o que se seguiu, os coeficientes de q(x) sa˜o Racionais. Logo a terceira soluc¸a˜o e´ a ra´ız de p(x) = p1 q1 · x+ p2 q2 = 0 e portanto produz um ponto P3 da cu´bica com coordenadas Racionais. De ii): Pelo Teorema 2.1, F (x, y) localmente em torno de P e´ um gra´fico de y = y(x), com y′(x) = − ∂F ∂x ∂F ∂y = −−3x 2 − b 2y