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Universidade Federal de Goiás Escola de Agronomia Curso: Engenharia Florestal Disciplina: Administração Rural Profa. Dra. Cleonice Borges de Souza A gestão da empresa rural no mundo contemporâneo1 1. Introdução O processo de globalização, entre outros fatores, vem redirecionando significativamente e de forma irreversível nos últimos anos o cenário político e econômico mundial, de tal sorte que, nitidamente, os países ditos “subdesenvolvidos”, de “terceiro mundo” ou mais recentemente “emergentes” vêm ganhando destaque neste contexto geopolítico. Com a crise econômica das grandes potências mundiais no final de 2008, a perspectiva de mudança no contexto geopolítico e macroeconômico ganhou ainda mais força mesmo que os rumos das finanças mundiais estejam completamente incertos neste momento. A escassez de terras agricultáveis, de água doce para uso na agricultura, o aumento do preço dos fatores de produção (terra, trabalho e capital) e insumos são uma realidade. Assim, a exploração dos recursos naturais, inclusive para a produção de alimentos, começa a beirar o limite. Por outro lado, a sinalização de aumento do poder aquisitivo (renda) de populações até recentemente tidas como miseráveis (China e Índia, principalmente), associada ao emprego gradual de tecnologia nas áreas já exploradas com atividades agropecuárias em países emergentes e o aumento da eficiência dos processos agrícolas, poderá acabar compensando a escassez de fronteiras agrícolas para a produção de alimentos. O que no passado parecia tão distante parece que finalmente chegou. 1 Profa. Cleonice Borges de Souza. Mestre em Agronegócio (UFMS) e Doutora em Ciências Ambientais (UFG). 2 Neste contexto, o Brasil ratifica sua aptidão natural e desempenha um papel chave na produção e exportação de alimentos e bioenergia. No entanto, ainda se depara com problemas estruturais graves (infraestrutura, logística, falta de políticas públicas coerentes e ajustadas ao potencial do país). Destaca-se que ainda assim, a soja e a carne bovina brasileiras deverão atender cerca de 40% da população mundial. A cana-de-açúcar e outras fontes de energia verde (plantas forrageiras tropicais) também desempenharam papel fundamental na produção de combustíveis renováveis e ecologicamente corretos. Além disso, não se pode deixar de mencionar a relevância do Brasil no tocante às suas reservas naturais de água (cerca de 12% da água doce disponível no planeta), fauna e flora (espécies encontradas somente nos biomas cerrado e amazônico), ímpares em todo o mundo, em breve deverão ocupar o lugar do petróleo na lista de interesses dos líderes políticos e econômicos mundiais. No âmbito macroeconômico, pode-se considerar ainda que as pressões dos países emergentes contra os mecanismos de protecionismo e subsídios para a produção agropecuária adotados pelos países desenvolvidos vêm ganhando força, praticamente na mesma proporção em que cresce a produção agrícola e a população destes países. Ao mesmo tempo em que esta nova conjuntura macroeconômica vai se estruturando, o estabelecimento de um cenário bastante competitivo a partir da abertura de mercados globais tem criado uma forte pressão sobre as empresas, inclusive as rurais. A busca pela eficiência sobre as etapas e processos empresariais (planejamento, organização, direção e controle), bem como, em suas áreas administrativas (produção, finanças, comercialização e marketing e recursos humanos), além da capacidade de adaptação a estas mudanças e as novas pressões externas por parte dos empresários rurais passará a determinar a viabilidade, a competitividade e a longevidade dos negócios. Sob esta ótica, a completa profissionalização da empresa rural será um dos requisitos para a sobrevivência frente aos novos rumos e desafios da humanidade. Ou seja, chegou o momento da empresa passar por uma revisão completa dos conceitos técnicos, econômicos e financeiros em que 3 está alicerçada. É hora de se fazer um diagnóstico do ambiente interno com vistas à detectar pontos de estrangulamento e entraves à produtividade, à eficiência e à eficácia da empresa rural nos âmbitos técnico, mercadológico, econômico, social, legal e ambiental. 2. A Administração Rural Conforme Souza et al. (1992, p. 15), “a administração é uma ciência e também uma arte. Ciência porque possui um referencial teórico próprio, passível de ser tratado pelo método científico. E arte porque inclui, na resolução dos problemas que surgem na condução das organizações, habilidade, sensibilidade e intuição”. Podemos citar algumas definições de Administração Rural: 1. “É o ramo da Ciência Administrativa que se preocupa com a análise dos aspectos inerentes a empresa rural e suas inter-relações com o meio ambiente” (SOUZA et al., 1992, p. 16). 2. “É estudo que considera a organização e operação de uma empresa agrícola com vistas ao uso mais eficiente dos recursos para obter resultados compensadores e contínuos” (HOFFMANN et al., 1987, p. 2). Conhecer as condições de mercado e os recursos naturais municia o produtor rural dos elementos básicos para o desenvolvimento de sua atividade econômica. Cabe-lhe, então, decidir o quê, quanto e como produzir, controlar a ação após iniciar a atividade e, por fim, avaliar os resultados alcançados e compará-los com os previstos inicialmente. Tarefas de responsabilidade do Administrador Rural: 1. tomar decisão sobre o quê produzir, baseando-se nas condições de mercado e dos recursos naturais de seu estabelecimento rural; 2. decidir sobre o quanto produzir, levando em consideração, essencialmente a quantidade de terra disponível e o capital e a mão de obra que poderá empregar; 4 3. estabelecer o modo como irá produzir e a tecnologia que será empregada, ou seja, se irá mecanizar ou não a lavoura, o tipo de adubo a ser aplicado, a forma de combater as pragas e doenças etc. 4. controlar a ação desenvolvida, verificar se as práticas agrícolas recomendadas estão sendo aplicadas corretamente e no tempo certo; 5. avaliar os resultados obtidos na safra, verificar os lucros ou prejuízos e analisar quais as razões implicaram para que o resultado alcançado fosse diferente ou não do que foi previsto no planejamento. O conjunto das ações de decidir o quê, quanto e como produzir, controlar o andamento do trabalho e avaliar os resultados alcançados constitui o campo de ação da Administração Rural. A Administração Rural é, portanto, o complexo de atividades que facilita aos empresários rurais tomar decisões ao nível de sua unidade de produção – a empresa rural – cujo objetivo é o de obter o melhor resultado econômico e manter a produtividade da terra (CREPALDI, 2006, p. 24-25). 2.1 Peculiaridades da produção rural O setor agrícola apresenta algumas características peculiares, que dificulta o administrador nas suas tomadas de decisões, e que o distingue dos demais setores da economia. O conhecimento dessas características condiciona e exige uma adequação dos princípios da Administração para o setor agropecuário (SOUZA et al., 1992, p. 25-29; CREPALDI, 2006, p. 29-31): a) dependência do clima: o clima condiciona a implantação e o manejo da maioria das explorações agropecuárias. Determina épocas de plantio, tratos culturais, colheitas, escolha de espécies, vegetais e animais; b) tempo de produção maior que o tempo de trabalho: o processo produtivo agropecuário se desenvolve, em algumas de suas fases, independentementeda existência do trabalho; c) produtos perecíveis: diversos produtos agrícolas e pecuários são perecíveis, o que condiciona a utilização de técnicas específicas de 5 conservação e de planejamento da produção, da comercialização e da distribuição; d) dependência de condições biológicas: não se pode alterar a sequência da produção, como por exemplo interromper uma lavoura de milho para obter soja; e) terra como participante da produção: a terra participa diretamente do ciclo produtivo, é importante conhecê-la, analisá-la em suas condições químicas, físicas, biológicas e topográficas; f) estacionalidade da produção: a dependência do clima e as condições biológicas determinam a estacionalidade da oferta, ou seja, épocas em que ocorrem excesso ou falta de produtos; g) trabalho disperso e ao ar livre: as atividades estão dispersas por toda a empresa, podendo ocorrer em locais distantes um do outro; h) incidência de risco: toda e qualquer atividade econômica está sujeita a risco, mas na agropecuária os riscos são maiores, pois as explorações podem ser afetadas por problemas causados pelo clima, pragas e flutuação dos preços dos produtos (riscos climáticos, biológicos e econômicos); e i) sistema de competição econômica: existência de um grande numero de produtores e consumidores, com pequenas diferenças entre os produtores. j) alto custo de saída e/ou entrada: Algumas explorações exigem altos investimentos em benfeitorias e máquinas e, consequentemente, condições adversas de preço e mercado devem ser suportadas a curto prazo, pois o prejuízo, ao abandonar a exploração, poderá ser maior. Observa-se que os efeitos dessas características, isoladas ou em conjunto, são mais prejudiciais do que benéficos. O administrador rural deve assumir ações administrativas eficazes para diminuir esses efeitos. A solução dos problemas pode ser alcançada com a utilização das habilidades de transformar conhecimentos em ações. Essas habilidades necessariamente não são inatas às pessoas, mas podem ser desenvolvidas. São divididas em três categorias: 6 a) habilidade técnica – compreende o conhecimento especializado, a facilidade no uso de tecnologias e de instrumentos que levem a algum resultado. Como, por exemplo, a tecnologia, a quantidade de fertilizantes, a forma de aplicação, como realizar as colheitas, os plantios, beneficiar produtos, efetuar inseminação artificial, regular uma plantadeira, quer dizer, os diversos conhecimentos práticos e a utilização de instrumentos de administração (contabilidade agrícola, utilização de formulários para controle e planejamento, etc.); b) habilidade humana – é a capacidade das pessoas trabalharem umas com as outras. O administrador deve criar um clima de trabalho favorável, agindo, quando a situação assim o exigir com autoridade, benevolência ou com uma atitude intermediária. Ele será eficiente se souber se conduzir de acordo com a natureza do problema. São exemplos de habilitação humana o tipo de liderança exercido (mais positivo ou mais consultivo, conforme a situação), a satisfação dos empregados no trabalho e o relacionamento produtor/empregado. É facilitada pela comunicação clara e bilateral e pela descrição das tarefas; e, c) habilidade conceitual – é a capacidade de o administrador visualizar a empresa como um todo, como um subsistema composto por partes que se inter-relacionam entre si e, também, com um sistema maior (os ambientes operacionais em geral), reconhecendo os relacionamentos com outras de mesma atividade, com os fornecedores, a comunidade e as instituições políticas, econômicas e sociais. O nível de habilitação conceitual do administrador está relacionado à sua estratégia empresarial, sua capacidade de coordenar as partes do todo, ajustando a empresa às normas e às situações decorrentes das forças externas à organização. A habilidade conceitual do empresário rural pode ser expressa em sua percepção de mercado, na determinação do que explorar e no conhecimento da realidade econômica de sua empresa. Um alto nível de habilitação conceitual do empresário rural mostra que ele não está isolado em seu mundo e que tem uma visão da agricultura como um negócio. 7 Um empresário rural de sucesso apresenta muitas qualidades, das quais destacamos: a) capacidade de assumir riscos: ter coragem de enfrentar desafios, de tentar um novo empreendimento, de buscar os melhores caminhos e ter autodeterminação; b) aproveitar oportunidades: um empresário de sucesso percebe, no momento certo, as condições propícias para a realização de um bom negócio; c) conhecer seu negócio: quanto mais o empresário rural conhece o ramo do negócio que pretende explorar, maior é a sua possibilidade de sucesso; d) ser organizado: o empresário de sucesso deve ser capaz de utilizar os recursos disponíveis de forma lógica, racional e organizada. e) ter iniciativa e vontade: a iniciativa de ser pioneiro em uma atividade e a vontade de vencer obstáculos que apareçam no caminho pode garantir o sucesso do empreendimento; f) possuir liderança e relacionamento interpessoal: liderança é a capacidade de definir e orientar a realização de tarefas, de combinar métodos e procedimentos práticos e de conduzir pessoas para alcançar os objetivos almejados. Relacionamento interpessoal é a capacidade que as pessoas têm de conviver, comunicando-se umas com as outras; g) ter espírito empreendedor: um empresário de sucesso deve ter a capacidade de transformar ideias em fatos concretos e dinâmicos. h) ter otimismo: é a capacidade que determinadas pessoas têm de enxergar somente o sucesso; i) possuir tino empresarial: o tino empresarial pode ser explicado como um sexto sentido que determinadas pessoas possuem. Na verdade, é a combinação de todas as qualidades inerentes ao empresário de sucesso. 8 2.2 O Processo Administrativo Processo é qualquer fenômeno que apresente mudanças contínuas no tempo, fazendo com que os acontecimentos e as relações sejam dinâmicos, e não algo inerte, estático. É móvel, não tem começo, nem fim, nem sequência fixa de eventos. Os elementos do processo agem uns sobre os outros, e cada um pode afetar todos os demais. De acordo com Souza et al. (1992, p. 38), à medida que analisamos as empresas rurais, seja do ponto de visto interno (que se relaciona com a tecnologia, a estrutura, os objetivos etc.), seja do ponto de vista externo ou do contexto ambiental (que se relaciona com as variáveis políticas, econômicas, sociais, ambientais etc.) percebemos uma ampliação de sua complexidade. Essa complexidade, aliada à crescente limitação e escassez de recursos gerada pela competição entre os concorrentes, prescinde o estabelecimento de estratégias e respostas adequadas e, que assegurem a sobrevivência das empresas no longo prazo. AMBIENTE EMPRESA RURAL AMBIENTE TOMADA DE DECISÃO Funções Administrativas Sistema de Informação Objetivos Recursos 9 Para tanto, as empresas rurais precisam continuamente realocar, reajustar e reconciliar seus recursos disponíveis com os objetivos e oportunidades oferecidos pelo ambiente. A estratégia empresarial é o recurso que a empresa dispõe para atingir essa capacidade de articulação. O importante é que essas articulações sejam realizadas a tempo, com ações rápidas, para que a empresa acompanhe, evolua e se adapte ao seu ambiente. As estratégias são implementadas por meio da ação empresarial,que, por sua vez, para ser eficaz precisa ser planejada, organizada, dirigida e controlada. O planejamento, a organização, a direção e o controle são funções da administração, as quais quando tomadas em conjunto, formam o processo administrativo. 2.3 Funções básicas da Administração Planejamento - planejar é decidir antecipadamente o que deve ser feito, levando-se em conta as condições da organização e do contexto da mesma. Implementação - consiste em colocar o plano em ação. Envolve a organização dos recursos da empresa (humanos e físicos) e a direção que se realiza sobre as pessoas (envolve motivação, liderança e comunicação). Controle - consiste em verificar se as ações estão sendo desempenhas corretamente e se os objetivos estão sendo alcançados. 3. A empresa rural Conceitua-se como empresa rural a unidade de produção em que são exercidas atividades que dizem respeito a culturas agrícolas, criação de animais ou culturas florestais, com a finalidade de obtenção de renda. É, também, o complexo família-fazenda, cujos recursos são dedicados à produção agropecuária, sem necessariamente assumir personalidade jurídica. 10 Ou ainda, empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condições de rendimento econômico da região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel, segundo padrões fixados, pública e previamente, pelo Poder Executivo. O objetivo desta unidade produtiva é maximizar o valor presente do patrimônio líquido da empresa. 3.1 Características e particularidades da empresa rural Algumas das principais particularidades desta modalidade de organização são: 1. origem e gestão familiar; 2. ciclo econômico da empresa caracterizado por transmissões por herança (subdivisão sucessiva da empresa); 3. pouco ou nenhum controle sobre parte importante dos fatores de produção, na maior parte das situações; 4. linha de produção viva e, portanto, sujeita às adversidades biológicas e, 5. a terra (solo) assume importância como fator de produção. 3.2 Principais desconformidades em empresas rurais O atual cenário mundial, marcado pela evolução da internacionalização da economia e associado mais recentemente a um quadro de incertezas e instabilidade, além das características intrínsecas à produção rural, tais como: 1. alto grau de ociosidade sobre os fatores de produção em parte das áreas cultivadas com culturas temporárias (anuais); 2. falta de entendimento sobre a diferença entre os conceitos de máxima produtividade agronômica e máxima produtividade econômica (otimização x maximização); 3. alto nível de endividamento; 4. diversificação mínima ou ausente da matriz produtiva; 11 5. pequena capacidade de gerenciamento e falta de planejamento sustentável da propriedade para enfrentar períodos de preços baixos e custos altos, contribuem para o aumento da fragilidade e vulnerabilidade da empresa rural, bem como, determinam o aumento e o risco do negócio como modalidade de exploração econômica do capital. Outras desconformidades observadas com freqüência nas empresas rurais referem-se à 1. ausência de planejamento formalizado das atividades operacionais e administrativas; 2. a falta de padronização das rotinas e controles gerenciais e operacionais; 3. excesso de gastos com peças de reposição e combustíveis; 4. consumo excessivo de defensivos agrícolas e fertilizantes; 5. ociosidade sazonal de máquinas (períodos de falta de ocupação); 6. problemas com recursos humanos (rotatividade excessiva, excesso de temporários na capina, ineficiência operacional, baixa qualificação da mão-de-obra), e 7. custo médio de capitais de terceiros incompatível com os resultados da atividade. Ademais o foco do produtor encontra-se voltado, na maioria das vezes, aos processos operacionais ligados à produção e, concomitantemente, por uma questão de definição de prioridades as atividades gerenciais e administrativas (tributos e fisco, análise financeira, avaliação da lucratividade e rentabilidade, análises contábeis gerenciais) acabam sendo negligenciadas, muitas vezes, inclusive nem sequer sendo realizadas. Desta forma, é importante que o produtor rural compreenda rapidamente que administrar profissionalmente a empresa é uma questão de sobrevivência e não de escolha. Assim, concentrar os esforços unicamente na produção é uma condição necessária, mas não suficiente para o êxito do empreendimento rural. O resultado de uma empresa não se define apenas produzindo. Aliás, a cada dia fica evidente que as etapas que antecedem o processo produtivo (antes e depois da ‘porteira’) vem ganhando relevância 12 quando se analisa o sucesso de uma organização e, no meio rural, isso não está ocorrendo de modo diferente. 3.3 Perfil: produtor rural versus empresário rural Na prática, a distinção do produtor rural tradicional de um empresário rural se dá pela forma de atuação e gerenciamento do negócio. As principais diferenças entre ambos são apresentadas abaixo: Parâmetro Produtor Tradicional Empresário Rural Visão do negócio Pontual Sistêmica ou holística Forma de gerenciamento do negócio Familiar e Paternalista Empresarial Planejamento do negócio Na cabeça (informal) No papel (formalizado) Estrutura Gerencial Inexistente Presente Controles Gerenciais Inexistentes ou incipientes Presentes Tomada de Decisão Baseadas em sentimento Baseadas em Controles Métricas de desempenho (Operacional e Financeiro) Inexistentes Presentes e Periódicos Contas Bancárias (família e negócios) Misturadas Separadas Base para premiação dos colaboradores Produtividade (receita bruta) Lucratividade (margem líquida) Consultoria Gerencial Inexistente Presente Fonte: Lupinacci, 2012, p. 46. Ressalta-se, no entanto, que essa caracterização é apenas didática e serve somente para demonstrar os opostos existentes na gestão da empresa ou negócio rural. Na prática, existem infinitas formas de combinação entre os parâmetros utilizados para a caracterização da gestão de uma organização. Dirime-se do exposto que, quanto mais próximo da coluna da direita, maior a proximidade do negócio funcionar efetivamente como uma empresa. 4. Visão empresarial das organizações rurais 4.1 Máxima produtividade agronômica versus máxima produtividade econômica 13 Por definição, o ponto no qual ocorre a maximização da produtividade agronômica (kg/ha, sacas/ha, arrobas/ha) não coincide com a otimização do retorno econômico (R$/ha), em virtude do enunciado da Lei dos Acréscimos Decrescentes ou Lei de Mitscherlich (1909)2. Portanto, quando o foco do produtor direciona-se por produzir mais (muitas vezes a qualquer custo ou sem conhecer o custo de produção e estimar o retorno econômico), por definição, o lucro da operação não será otimizado (lucro ótimo coincide com a máxima relação benefício-custo). Salienta-se, contudo, que esses conceitos são desconhecidos da maioria dos produtores e dos técnicos, fato que impacta enormemente na rentabilidade e sustentabilidade das empresas rurais. Com a introdução das tecnologias ocorre o aumento dos custos operacionais variáveis, o que gera a necessidade de desembolsos maiores no fluxo de caixa da empresa rural. Em compensação, o aumento da produção tende a dissolver os custos operacionais fixos, fazendo com que o custo operacional unitário seja menor (custo marginal). Esses resultados serão melhores ou piores de acordo com a região eescala de produção ou tamanho da propriedade, o sistema de produção e o nível de intensificação adotado. Nesse sentido, torna-se fundamental a mensuração e a avaliação dos resultados dos processos produtivos com vistas a identificar possíveis lacunas que possam ser corrigidas para possibilitar a otimização dos resultados econômicos da empresa (faixa de resultado econômico ótimo). As estratégias de atuação também devem estar em sintonia com a disponibilidade de capital para investimento, o risco e a taxa de retorno para cada cenário analisado. Vale destacar que situações em que ocorrem baixos índices produtivos, o impacto das medidas proporcionam retornos maiores, mais rápidos e mais evidentes. Com o aumento gradativo dos índices produtivos o investimento em tecnologia passa a ser cada vez maior e os resultados proporcionalmente cada vez menores, indicando que deverá se compreender e definir claramente a 2 Os aumentos de produção de uma cultura, obtidos pela adição de quantidades crescentes de um nutriente, serão decrescentes 14 faixa de ótimo resultado econômico para se evitar investimentos demasiados com retorno abaixo do desejado por unidade de capital aplicado. As decisões agronômicas devem ser, portanto, consoantes e sintonizadas com os objetivos econômicos da organização. Destaca-se que, dentro de uma visão sistêmica, o gestor deverá compreender que para atingir a faixa ótima de resultado econômico, tem-se que gerenciar ineficiências parciais ao longo dos processos operacionais para, então, alcançar os resultados previamente definidos. Salienta-se que, toda e qualquer tomada de decisão nesse sentido depende da determinação do custo de produção e, embora seja essencial para se identificar a saúde da organização, a determinação efetiva desse custo de produção é negligenciada pela maioria dos agropecuaristas, que muitas vezes operam em circunstâncias adversas, sem ao menos conhecer os fatos. Com exceção de alguns produtores mais tecnificados, a maioria não tem conhecimento quanto à exatidão dos lucros ou prejuízos, e ainda dos ajustes que podem ser feitos para diminuir custos e maximizar a rentabilidade de suas propriedades. A falta de controles gerenciais acaba levando os produtores ao uso de regras de decisão muitas vezes inadequadas no sentido de maximizar seus lucros. 4.2 Níveis empresariais As empresas fabricam seus produtos, empregam pessoas, utilizam tecnologia, requerem recursos e, acima de tudo, necessitam de administração. Uma empresa é racional se os meios escolhidos para alcançar seus objetivos são os mais eficientes. A racionalidade conduz a empresa a uma infinidade de comportamentos diferentes para alcançar suas metas, envolvendo tomada de decisões frente aos vários problemas que deve resolver. Independentemente de sua natureza ou tamanho, a responsabilidade pela solução desses problemas é atribuída a três níveis diferentes dentro da empresa: nível institucional, intermediário e operacional. 4.2.1 Nível institucional ou estratégico 15 Corresponde ao nível mais elevado, e é composto pelos proprietários, diretores ou responsáveis pelos assuntos globais da empresa, pessoas que definem os objetivos empresariais e as estratégias para atingi-Ios adequadamente. As decisões desse nível são do tipo o que fazer e quanto fazer, baseadas nas condições ambientais, que representam para a empresa, a um só tempo, as incertezas, ameaças e oportunidades, e, na capacidade estrutural e financeira, de se manter tais decisões. Assim, as estratégias de ação empresarial, traçadas em nível institucional, são decorrentes da análise ambiental, de forma a neutralizar as ameaças que trazem insegurança, tratar as contingências que trazem incertezas e aproveitar as situações favoráveis. É a partir da análise organizacional, em última instância, que os recursos disponíveis são levantados, as capacidades e habilidades conhecidas e os pontos fortes e fracos da empresa determinados. As estratégias definidas nesse nível envolvem um longo prazo, geralmente carregado de incertezas, pois é o nível que mantém contato e interação com as forças ambientais, não havendo possibilidade de maior controle sobre elas. Um exemplo de decisão em nível estratégico será dado a seguir. Um empresário, analisando as condições internas e externas de sua empresa, decide implementar duas atividades: • cultura do café - plantio de 40 hectares para uma produção média de 800 sacas beneficiadas por ano, a partir do quarto ano; • pecuária leiteira - implantação de 80 hectares em pastagens e capineiras para um rebanho de 100 matrizes holandesas, para uma produtividade média de 15 litros por cabeça ao dia, a partir do terceiro ano. 4.2.2 Nível intermediário ou gerencial Corresponde ao nível normalmente ocupado por gerentes; administradores ou técnicos, que irão definir como fazer para atingir os objetivos estabelecidos no nível institucional. Nesse estágio, as decisões são a médio prazo, envolvendo a escolha e a captação de recursos e a distribuição e colocação de produtos. É também o nível em que as estratégias são 16 transformadas em planos de ação, normas e diretrizes, reduzindo as incertezas trazidas do ambiente. As decisões tomadas nesse nível são por atividade, ou seja, a variedade, espaçamento, adubação, quantidade de mão de obra, utilização de máquinas e equipamentos etc. são definidos para cada exploração. Continuando o exemplo anterior, tem-se: Cultura do café: • plantio e condução nesse primeiro ano de 40 hectares de café, variedade catuai amarelo, com espaçamento de 4,0 x 1,20 m; • definição de um sistema de registro e controle. Pecuária leiteira: • implantação de 30 hectares de pastagens com capim andropogon; • plantio de 4 hectares de capineira de capim cameroum; • construção de um curral de 20 X 40 m; • construção do estábulo de 8,0 X 30,0 m; • aquisição de 30 matrizes holandesas, com 3 anos, após seis meses do plantio das forrageiras; • definição de um sistema de registro e controle. 4.2.3 Nível operacional Esse nível se refere às operações e tarefas do dia a dia da empresa, tendo como base as decisões definidas no nível intermediário. Continuando o exemplo, tem-se: Cultura do café (para o mês de setembro): • distribuir calcário, arar e gradear 40 hectares para o plantio; • elaboração das fichas de controle. Pecuária leiteira (setembro) • arar, gradear 30 hectares; • arar, gradear 4 hectares; • adquirir material para a construção do curral; • iniciar a construção; • elaboração das fichas de controle. 17 As decisões dos diversos níveis não devem ser isoladas nem definitivas. Ao contrário, elas devem ser tomadas de uma forma lógica e dinâmica e ser sempre revistas, a fim de se adaptar às mudanças do ambiente. De um modo geral, é o empresário rural que toma as decisões em todos os níveis, em função da simplicidade da estrutura organizacional de sua empresa. Dessa forma, muitas vezes a maior parte de seu tempo é dedicada ao nível operacional, deixando de aproveitar as inúmeras oportunidades que o ambiente oferece. 4.3 As áreas administrativas da empresa rural A empresa rural deve ser entendida como uma unidade de organização que conduz atividades agropecuárias em busca dos seus objetivos. E esses objetivos, que podem ser diferentes de empresa para empresa, podem ser basicamente: a obtenção de lucros, sobrevivência na atividade, crescimento ou apenas prestigio junto à sociedade. Assim, para sealcançar esses objetivos, é necessário o uso dos fatores de produção, que no setor agropecuário são basicamente terra, capital e trabalho. A terra é o fator básico da produção agropecuária, pois nela se concentra todo processo biológico das culturas e animais. O capital constitui o meio de pagamento para obtenção de todos os demais fatores de produção (máquinas, sementes, benfeitorias, fertilizantes etc.). O trabalho representa o esforço físico e/ou intelectual do homem sobre os demais fatores de produção possibilitando à empresa rural atingir os seus objetivos. Dessa forma, a divisão do trabalho baseada na especialização de tarefas dos recursos humanos é definida dentro dos níveis de atuação dentro da empresa, de maneira que a mão de obra possa trabalhar com maior eficiência para se alcançar os seus objetivos. Uma vez utilizados todos os fatores de produção e a obtenção do produto, este deve ser distribuído aos consumidores de maneira que a empresa recupere o capital investido e obtenha os lucros da atividade. Para se manter e sobressair na atividade rural, o empresário deve manter uma constante preocupação com a qualidade do produto exposto, pois é crescente 18 a atenção dada pelo mercado consumidor para uma melhoria na qualidade de vida. O outro ponto importante é o desempenho das pessoas que trabalham na empresa rural. Para se alcançar esses dois objetivos, pode-se utilizar uma série de estratégias, tais como recursos físicos ou de produção, recursos financeiros, humanos, mercadológicos e administrativos, dando origem, dessa forma, a quatro áreas funcionais bem distintas (produção, recursos humanos, finanças e comercialização e marketing). 4.3.1 Produção A produção diz respeito à utilização de recursos físicos ou materiais necessários à operação da empresa rural e podem ser classificados em recursos de transformação e recursos de utilização. Recursos de transformação são recursos materiais que são utilizados no processo produtivo, mas não são incorporados ao produto final. Por exemplo, terra, máquinas, equipamentos, instalações físicas, etc. Já os recursos de utilização são aqueles aplicados ao processo produtivo e incorporado ao produto final, como de sementes, fertilizantes, corretivos, defensivos, alimentos, serviços etc. A área de produção está intimamente ligada à transformação de recursos em produtos e, à medida que eles são corretamente utilizados e racionalmente aplicados, obtém-se a eficiência. E uma vez atingidos os objetivos, chega-se à eficácia. Nesse aspecto, o empresário rural deverá estar atento para quatro pontos básicos: produção, produtividade, qualidade e custo. Produção se refere à quantidade física total a ser produzida. Produtividade é a quantidade a ser produzida por unidade de área (por exemplo, sacas de café por hectare, quilos de milho por hectare etc.) ou por outra unidade tomada como referência (quilos de carne por animal, litros de leite por vaca etc.). Qualidade implica a busca constante de melhores padrões, tanto do ponto de vista físico quanto sanitário do produto. Cada produto deve apresentar certas especificações para que possa atender aos desejos e às necessidades de seus clientes. 19 A análise dos custos permite o controle econômico e financeiro das atividades produtivas de modo a se obter produtos de alta qualidade e com o menor valor unitário possível. Assim, a racionalidade na utilização dos recursos é extremamente importante e exige para isso um acompanhamento constante da aplicação de insumos e da utilização de serviços, máquinas e equipamentos. Outros aspectos igualmente significativos devem ser lembrados pelo empresário rural: a localização e o dimensionamento de benfeitorias e instalações necessárias ao empreendimento; o dimensionamento e a aquisição de máquinas, equipamentos e ferramentas utilizados no processo produtivo; e, finalmente, a aquisição de matérias-primas e insumos adequados técnica e economicamente. A área de produção está intimamente relacionada à tecnologia ou aos processos e métodos de produção. Sem perícia tecnológica nas operações de empresa, é quase inevitável que se reduzam as margens de lucro. A tecnologia de produção, já devidamente prevista no planejamento, deve ter sua utilização facilitada, adequar-se à estrutura da empresa e ser economicamente viável. As empresas rurais dividem-se em diversificadas e especializadas. Uma empresa rural é considerada especializada quando mais da metade (acima de 70%, para alguns autores) de sua renda bruta for proveniente de uma única atividade. Do contrário, ela é considerada diversificada. Outros critérios são utilizados para se medir o grau de especialização ou diversificação das empresas rurais, como o número de explorações, áreas, em porcentagem, destinadas a cada atividade da empresa e dias/homem necessários a cada atividade. Tanto a especialização como a diversificação possuem vantagens e desvantagens, que estão resumidas na tabela abaixo: 20 Fonte: Souza et al. 1992. A decisão de o empresário especializar ou não sua propriedade rural dependerá de variáveis internas e externas. Nas atuais condições instáveis do setor agrícola brasileiro, estudos e experiências têm demonstrado que empresas diversificadas apresentam maior possibilidade de resultados econômicos favoráveis. A diversificação pode ser de forma horizontal, quando não há dependência entre as atividades (arroz, feijão, pecuária e café), e de forma vertical, denominada integração, quando há uma dependência entre as atividades (milho x suinocultura x piscicultura). 4.3.2 Recursos Humanos A área de recursos humanos está relacionada a todas as pessoas que ingressam, permanecem ou participam da empresa e que promovem seu funcionamento, independentemente de posições, cargos ou tarefas. Constitui o chamado recurso vivo e dinâmico da empresa, dotado de uma vocação dirigida para o crescimento e desenvolvimento e capaz de manipular e colocar em ação os demais recursos, que são estáticos e inertes por si. Por exemplo, uma máquina agrícola executará tarefas de baixa qualidade caso seja operada por uma pessoa não capacitada. São os diretores, gerentes, chefes, supervisores, funcionários, operários e técnicos que trazem 21 para a empresa suas habilidades, conhecimento, comportamento, atitudes e percepções, desempenhando papéis diferentes dentro de uma hierarquia de autoridade e de responsabilidade. 4.3.3 Finanças Trata-se da previsão dos recursos monetários necessários à aquisição ou obtenção de insumos, serviços, equipamentos e demais recursos ou fatores para a produção e a comercialização de produtos agropecuários, de forma a atender aos objetivos da empresa. A área de finanças da empresa rural diz respeito, basicamente, a receitas e a despesas, a investimentos e a financiamentos. Receitas são as entradas de dinheiro na empresa durante um determinado período oriundo da venda de produtos agropecuários e de subprodutos das atividades (esterco, palhas, etc.), da prestação de serviços (aluguel de máquinas e implementos), do arrendamento de terra e ainda da aplicação de recursos financeiros temporariamente ociosos no mercado de capitais (receitas financeiras). As despesas são todos os gastos de recursos, durante um determinado período de tempo, para aquisição e obtenção dos fatores de produção e comercialização (insumos, serviços, embalagens etc.). Os investimentos são gastos para a obtenção de recursos necessários às atividades agropecuárias cuja utilização ultrapasse um ciclo produtivo,isto é, os recursos são utilizados por mais de um período de produção. Os recursos para investimentos poderão ser obtidos por intermédio de duas fontes: recursos próprios, provenientes dos resultados favoráveis das atividades agropecuárias, e de financiamentos, procedentes de fontes externas à empresa rural. 4.3.4 Comercialização e Marketing A área de comercialização está diretamente relacionada com o cliente ou o consumidor dos produtos da empresa rural. Trata-se de um setor 22 essencial, pois todas as ações das empresas devem ter como propósito atingir o consumidor. É necessário que se saiba como e onde colocar o produto, quais os melhores canais de distribuição, bem como os pontos de venda. Dois aspectos importantes nessa área devem ser observados pelo empresário rural: a pesquisa e análise de mercado e os canais de comercialização. A pesquisa e a análise de mercado consistem na busca constante de informações de preços de produtos nos principais pontos de consumo do país e na própria região onde se localiza a empresa rural. Para isso, o empresário conta com informes de instituições governamentais, bem como informações diárias nos jornais fornecidas por bolsas de mercadorias. Dados como esses permitem observar as variações e tendências de preços de diversos produtos agropecuários, facilitando as tomadas de decisões do empresário no sentido de melhor comercializar sua produção Os canais de comercialização são os diversos caminhos que os produtos percorrem até atingir o consumidor. Certos produtos, devido à sua maior perecibilidade, exigem mais agilidade de comercialização ou devem ser armazenados convenientemente, o que quase sempre acarreta altos investimentos. Todavia, alguns produtos menos perecíveis podem percorrer um caminho mais longo entre a empresa e o consumidor final. A boa comercialização é parte integrante do êxito da empresa. Entretanto, o empresário rural deverá se preocupar igualmente com todas as áreas empresariais, dando igual importância a cada uma delas, pois se obtêm resultados satisfatórios quando se administra a empresa como um todo. 4.4 Diagnóstico da empresa rural Conforme citado anteriormente, à medida que o empresário tem a consciência da diferença entre a máxima produtividade agronômica e econômica e, esteja disposto a realizar mudanças no ambiente organizacional, o primeiro passo é a execução de um diagnóstico empresarial. O diagnóstico é o procedimento que proporciona uma visão ampla e segura da organização, constituindo-se na primeira etapa do processo de planejamento estratégico e permite que as respostas para perguntas básicas 23 relativas ao desempenho da organização em relação ao seu potencial sejam devidamente esclarecidas, contribuindo significativamente para a identificação dos pontos fortes e fracos dos processos operacionais e administrativos. Ademais, alicerça significativamente o desenvolvimento de estratégias e ferramentas que nortearão a empresa em momentos de crise, minimizando os impactos negativos nessas circunstâncias. O diagnóstico compreende ainda a coleta de dados e informações que possibilitam a mensuração do desempenho da empresa sob a ótica de produtividade e rentabilidade, da apuração de resultados, dos controles e da qualidade dos produtos que serão oferecidos ao mercado. Visa indicar os pontos fortes e fracos da organização frente ao mercado, detectando adicionalmente as oportunidades e possíveis ameaças. Essa ferramenta pode garantir ao empresário maior segurança na tomada de decisões, por meio dos resultados apurados, tornando possível traçar objetivos e metas de curto, médio e longo prazo. A necessidade de diagnóstico é motivada também porque na maior parte das organizações rurais as decisões são tomadas deforma empírica, ou seja, pelo sentimento do proprietário. Da mesma forma que o resultado pode ser o sucesso dessas decisões, poderá também haver perdas consideráveis e, nessas circunstâncias, dependendo da magnitude da desconformidade da decisão, a empresa pode até entrar em decadência, às vezes irreversível, em completo colapso e a perda parcial ou integral do patrimônio. Esse tipo de diagnóstico dirige seus esforços para a ampliação do conhecimento que se tem da organização, sua performance financeira, seus funcionários, seus produtos, sua estrutura organizacional, seus concorrentes e seus clientes. Estes fatores podem ser controlados pela empresa, uma vez que são resultado das estratégias de atuação definidas pelos seus próprios membros e, desta forma, a organização deve buscar ao máximo os pontos fortes e controlar, ou ao menos minimizar, os seus pontos fracos. 4.5 Análise SWOT nas empresas 24 Os ambientes com os quais a empresa rural se relaciona devem ser, constantemente estudados por seus gestores, principalmente aqueles que estão começando a empreender. Isto é necessário porque, geralmente, tudo é novo para o empreendedor. E ter uma forma de analisar o ambiente em que está inserindo o seu negocio é uma arma fundamental para ampliar o ciclo de vida da empresa. Uma das ferramentas que possibilita esta analise é a matriz SWOT, sigla em inglês originária das palavras Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) ou matriz “FOFA”. Desenvolvida na escola de negócios de Harvard na década de 1970, passou desde então a ser obrigatória dentro das cadeiras de ensino de planejamento estratégico das escolas de negócios. Através desses dados, é possível ter uma maior noção dos pontos fracos e fortes, do cenário em que a empresa está inserida, além de servir como auxílio para que profissionais e empresários fiquem atentos ao movimento do mercado. O que é a Matriz SWOT? A matriz SWOT funciona montando inicialmente um inventário de todas as forças e fraquezas internas da organização. Por exemplo, um atendimento de primeira é uma força de sua empresa, uma vez que além de ser um ponto positivo, ela possibilita sua influência direta, seja em treinamento ou metodologias. Posteriormente é feita uma averiguação das ameaças e oportunidades que circundam a empresa, no mercado e no ambiente global. O principal objetivo da matriz SWOT é permitir um olhar objetivo das forças que compõem o negócio, isto possibilita ao empresário desenvolver e firmar bem sua estratégia empresarial. 25 4.5.1 Como montar a análise SWOT 1) Divida o cenário empresarial em duas partes Com o objetivo de entender melhor o cenário em que a empresa está inserida, é necessário dividi-lo em ambiente externo (variáveis que afetam a empresa de fora para dentro) e ambiente interno (variáveis que partem da companhia, de dentro para fora). 2) Defina o ambiente interno No ambiente interno, é necessário determinar as forças e fraquezas de uma companhia em comparação com outras empresas do mesmo ramo de atuação. Tais variáveis são determinadas por meio do próprio contexto da companhia, das ações realizadas, e devem ser sanadas pelos líderes e suas equipes. 2.1) Forças A força descreve quais as competências mais fortes da empresa, aquelas que estão sobre sua influência. Uma forma de encontrá-las é utilizando as seguintes perguntas: 1) O que a empresa faz bem? 2) O que a empresa tem de melhor está sob seu comando? 3) Quais são os recursos que ela tem? 4) O que possui melhor que seus concorrentes? 5) O que faz os clientes voltarem à empresa? Com estas respostas o empresário consegue desenvolver esta parte da análise, sempre lembrando que quanto maiora vantagem competitiva que uma força traz à empresa, mais importante ela é dentro da análise. 2.2) Fraquezas 26 As fraquezas são as competências que estão sobre a influência da empresa, mas que, de alguma forma, atrapalham e/ou não geram vantagem competitiva. Pode-se encontrá-las fazendo as seguintes perguntas: 1) Os funcionários são capacitados para suas funções? 2) Onde deveria melhorar a empresa? 3) Por que os clientes escolhem os concorrentes? 4) Quais são as deficiências dos colaboradores? 5) Por que os clientes não voltam depois de uma compra? As fraquezas devem ser bem estudadas e mensuradas, pois muitas vezes é possível revertê-las em forças. Uma pequena parte das causas costuma causar a maior parte dos problemas. 3) Determine o ambiente externo As oportunidades e ameaças estão dentro do chamado ambiente externo. Elas variam de acordo com o mercado em que o empreendimento está inserido. 3.1) Oportunidades As oportunidades são as forças externas à empresa que influenciam positivamente sua organização, mas que não se tem controle sobre elas. As oportunidades muitas vezes podem vir por meio de algum aspecto econômico novo, como o advento da classe média, o aumento do número de filhos dos consumidores, a melhoria da renda e do crédito, entre outros. Outro fator que pode influenciar o fomento de oportunidades são as ações políticas do governo, como a escolha de investir em infraestrutura. 3.2) Ameaças As ameaças são as forças externas que não sofrem a influência da empresa e que pesam negativamente para ela. Elas podem ser consideradas 27 como um desafio imposto à empresa e que pode deteriorar sua capacidade de gerar riqueza. Devem ser constantemente monitoradas pelos gestores pois, muitas vezes, podem apresentar um risco muito maior que a capacidade de retorno. Por exemplo, para uma empresa importadora, uma forte desvalorização da moeda pode causar um aumento muito forte no custo de aquisição, em um cenário onde não é possível repassar este valor ao mercado, deteriorando assim as margens da empresa. Por isso, é importante que a empresa crie políticas que possam combater as ameaças. Como no exemplo anterior, onde ela poderia ter feito uma proteção cambial (Hedge) para manter suas margens em segurança. 4) Coloque os dados em formato de diagrama Determinados os dados do ambiente interno e do ambiente externo, colocam-se as informações numa tabela 2x2, com duas colunas e duas linhas. Confira abaixo um exemplo da matriz SWOT: Pontos fortes Pontos Fracos Ambiente interno S Forças W Fraquezas Ambiente externo O Oportunidades T Ameaças 5) Analise o cenário encontrado A análise SWOT ajuda a ter clareza do negócio, possibilitando que se identifiquem quais pontos fortes explorar e quais pontos a trabalhar no âmbito de toda a gestão empresarial. Essa ferramenta ajuda a determinar a posição atual da empresa e antecipar o futuro, visando as oportunidades e precavendo as ameaças. 4.6 Planejamento organizacional 28 O planejamento da atividade rural é, normalmente, a segunda etapa do processo de profissionalização da gestão ou estruturação empresarial, sendo construído com base no diagnóstico organizacional. Nessa etapa os produtores poderão determinar diretrizes, objetivos e metas a serem alcançados pela empresa, estabelecer as atividades econômicas que serão exploradas, bem como, regular todo o processo produtivo referente a estas atividades econômicas e definir previamente os controles gerenciais que serão implementados visando a avaliação dos resultados globais (técnicos, contábeis, econômicos e financeiros) da organização. O planejamento também serve para alicerçar as definições referentes á demanda de capital e avaliar dentre as fontes de recursos disponíveis para captação, quais se apresentam mais atrativas, sobremaneira quando os produtores não dispõem de recursos próprios suficientes para a alavancagem da atividade produtiva. A falta de planejamento pode deixar as empresas vulneráveis em relação ao futuro, principalmente porque a ausência de uma análise prévia e sistêmica de cenários pessimistas no futuro impossibilita que as mesmas definam antecipadamente as estratégias (processos, ferramentas, mecanismos de atuação em processos operacionais e gerenciais) que deverão ser utilizados no caso de ocorrência dos mesmos e, portanto, não permite que os impactos ocorridos nessas situações possam ser devidamente minimizados. 4.7 Ciclo PDCA na empresa rural Em primeiro lugar, é preciso definir aonde se quer chegar e saber qual a razão da existência da empresa rural, etapa essa compreendida pelo planejamento e definição das estratégias de atuação. Antes dos objetivos serem definidos, é preciso estar ciente de que um objetivo (qualitativo) precisa ter meta (quantificação do objetivo), prazo (escala temporal) e valor (montante para investimento e giro da atividade). 29 Muitas são as empresas que não sabem para onde estão indo; qual é o objetivo do trabalho ou do projeto e quando elas pretendem atingir este objetivo; basicamente por negligenciarem a etapa de formalização e análise do planejamento. Após esta definição é necessário planejar e definir as estratégias que permitam alcançar o objetivo preestabelecido, por meio da construção do plano de ação. Cabe destacar que, o planejamento não tem como função prever o futuro, mas permitir ao gestor identificar de forma mais rápida as melhores soluções para solucionar os problemas que irão aparecer ao longo da vida da organização e suportar melhor as tomadas de decisão. O Ciclo PDCA é um método geral de modelo gerencial que foi desenvolvido nos Estados Unidos por Walter A. Shewhart, em 1930, e tinha o objetivo de ser um controle estatístico de processo que pode ser repetido continuamente sobre qualquer processo ou problema. É também conhecido por ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming, no qual este último foi discípulo de Shewhart, disseminando e aperfeiçoando tal ferramenta a partir da década de 1950 no Japão (BONILLA, 1994, p. 35). Atualmente, é conhecido como ciclo PDCA e consiste em um método para atingir os resultados necessários à sobrevivência da empresa, tendo por princípio tornar mais claros e ágeis os processos envolvidos na gestão, dividindo-a em quatro passos principais: Plan (Planejar), Do (Fazer, executar), Check (Checar, conferir) e Act (Agir, ação corretiva). O ciclo começa pelo planejamento das atividades da empresa, o qual irá orientar a execução da tarefa ou conjunto de tarefas que deverão ser implementadas, as quais, por sua vez, serão checadas (controladas ou monitoradas) e, por fim, serão implementadas, em caso de necessidade, as ações corretivas necessárias para otimizar a perfomance da organização. O ciclo PDCA é representado por um círculo com quatro quadrantes, conforme a figura a seguir: 30 Fonte: BONILLA (1994, p. 35). Essa ferramenta é uma sequência de atividades que são realizadas de forma cíclica para melhorar os resultados e/ou atingir as metas estabelecidas e, pode ser aplicada continuamente na organização enquanto conveniente. E para que se obtenham melhorias contínuas nos processos, é necessário que o final de cada ciclo represente o início de um novo ciclo. Assim, o último ponto sobre o ciclo PDCA se torna o mais importante, onde o ciclo assumirá um novo começo, de acordo com a rampa de melhorias a seguir: 31 Explicitando um pouco mais,temos: 1) Planejar (P): consiste basicamente no estabelecimento de um plano composto de metas, assim como pelos meios que permitirão atingi-los, acompanhados do respectivo cronograma. 2) Executar, fazer (D): nesta fase, o plano é executado por meio de tarefas específicas, devendo-se colher dados com o propósito de posterior controle do processo. Antes da execução do plano há uma etapa fundamental: o treinamento decorrente daquelas, o que deverá ser iniciado previamente. A execução, o fazer, corresponde ao processo. Nesta fase, as causas começam a agir sobre os efeitos. Portanto, é o momento que corresponde ao monitoramento dos itens de verificação. Um exemplo muito singelo desta fase é o da dona de casa preparando um bolo, quando durante sua elaboração (execução) é possível testar os itens de verificação. 3) Conferir, checar (C): agora o processo terminou, tem-se o produto acabado, já elaborado, manifestando-se nele uma série de efeitos. Portanto, é a oportunidade adequada para comparar as metas definidas em P com os resultados obtidos, mensurados por meio dos itens de controle. 32 4) Ação corretiva, agir (A): no caso de serem constatados desvios entre as metas estabelecidas e os resultados obtidos, o gestor deverá fazer correções tendentes à sua neutralização. A adoção do PDCA elimina a cultura de “planejação”, que predomina em parte significativa das empresas rurais brasileiras cujos gestores insistem em realizar os trabalhos ao mesmo tempo em que planejam informalmente as ações, desprezando parte importante do processo de planejamento (diagnóstico, análise do ambiente, avaliação de cenários e impacto das medidas adotadas em curto, médio e longo prazos). Segue um exemplo do ciclo PDCA na agricultura: Planejar (P): 1) Estabelecer a meta, a qual deverá basear-se no desempenho atual do processo, para o qual deverão ser levantados dados sobre o mesmo, definindo seu valor médio e tolerâncias. Por exemplo, atingir, num plantio de milho a produtividade média de 3000 +/- 200 kg/ha. 2) Estabelecer os meios pela definição de uma série de padrões, capaz de fornecer ao responsável pela tarefa todas as informações de que necessita para uma correta execução da mesma, o que implica uma linguagem clara e acessível. Executar, fazer (D): A partir dos padrões estabelecidos, a tarefa é executada. Neste caso, o milho é semeado, adubado, protegido, irrigado, manejado etc. Durante essa fase são monitorados os itens de verificação correspondentes, tais como acidez do solo, ataque de pragas, intensidade das chuvas etc. Conferir, executar (C): O processo “produção de milho” terminou, agora é momento de medir os itens de controle, tais como produtividade, peso da espiga, sanidade etc. No exemplo, o item a ser controlado é a produtividade, cuja meta correspondia a 3000 +/- 200 kg/ha. 33 Suponha-se que a produtividade encontrada foi de 3100 kg/ha. Como ela é compatível com a meta, tudo poderá continuar normalmente no próximo ciclo produtivo ou se desejarmos, deverá ser colocada uma meta mais alta. 2500 kg/ha, aconteceu algum problema, que pode ter ocorrido pelo não cumprimento dos padrões. Se for este o motivo, há a necessidade de um novo treinamento da mão-de-obra, com vistas a sanar a dificuldade de compreensão ocorrida. Mas, se o padrão foi obedecido e, ainda assim, aconteceu o desvio, pode ser que o padrão esteja errado. Deve ser revisto na próxima etapa do ciclo. No caso da agricultura, podem acontecer causas incontroláveis, de origem climática (calor excessivo, granizo, geadas, ventos fortes, inundações, falta de chuva etc.), biológica (ataque de pragas ou pestes fora de controle, invasão de animais etc.) ou antrópica (incêndio, devastação etc.). Ação corretiva (A): Como já foi mencionado, no caso de desconformidade do padrão, a ação corretiva é treinamento. Se ele foi obedecido e a meta não foi atingida, há um problema. Portanto, para poder alterá-lo corretamente precisamos identificar a causa fundamental do mesmo. Por exemplo, a falha pode ter acontecido devido à dose insuficiente de fertilizante oriunda de defeitos de regulagem do respectivo equipamento. A correção deverá ser realizada em duas etapas: na primeira, é necessário eliminar o sintoma, ou seja, regular corretamente o equipamento. Na segunda, deve-se procurar de forma obstinada a causa fundamental do problema para que, uma vez localizada, seja bloqueada de vez. Esta causa fundamental poderá, no exemplo, corresponder à necessidade de implantar uma norma geral relativa à revisão contínua da regulagem do equipamento. Salienta-se que no caso da agricultura, a constatação de falhas no produto acabado pode significar que a solução do problema somente será implantada no próximo ciclo produtivo. Portanto, é essencial trabalhar de forma preventiva. Uma vez encontrada a causa fundamental do problema e sua solução, tem-se que usar o pensamento lateral, que pode ser sintetizado com a seguinte pergunta: em que outros locais da empresa poderá ser utilizada a mesma solução? Isso significa fazer regulagem preventiva de forma continua 34 em todos os equipamentos. Constata-se, dessa forma, que o ciclo PDCA é uma ferramenta muito relevante para o bom desempenho das atividades. 5. Considerações finais O esforço necessário para se obter sucesso na atividade rural é, atualmente, muito maior do que já foi no passado e, deverá ser cada vez maior, na medida em que o mundo se torna mais competitivo. Nesse contexto, exige- se do produtor rural maior capacitação, dedicação e atenção no tocante à gestão da organização rural. Sob esta ótica, a completa profissionalização da empresa rural no campo gerencial será um dos novos requisitos para a sobrevivência da organização frente aos novos caminhos e desafios da humanidade. A empresa deverá passar por uma revisão completa dos conceitos técnicos, econômicos e financeiros em que está alicerçada, de modo que a primeira etapa desse processo consiste no diagnóstico do ambiente organizacional, sendo seguido pela elaboração do planejamento estratégico e definição dos planos de ação, monitoramento e análise de resultados globais do empreendimento. Ainda no contexto da gestão da empresa rural, nota-se oportunidades, claramente negligenciadas por parte representativa dos empresários rurais. Nesse particular, uma análise crítica, orientada e educada de parte significativa dos modelos de produção existentes no País permite visualizar a possibilidade de melhorias na direção de modelos mais eficientes, econômicos e sustentáveis no longo prazo. Referências: BONILLA, José A. Qualidade total na agricultura: fundamentos e aplicações. MG: Centro de Estudos de Qualidade Total na Agricultura, 1994. CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2006. 340 p. 35 HOFFMANN, Rodolfo et al. Administração da Empresa Agrícola. 7ª. ed. São Paulo: Pioneira, 1987. LUPINACCI, Adriano Vecchiatti. Gestão da empresa rural: oportunidades para maximizar o retorno econômico. In: Agro em Foco. nr. 01, fev./março 2012. SOUZA et al. A Administração da Fazenda. Coleção do Agricultor, Economia. 4ª. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1992.
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