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~ ~ ~. s-,.., UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM· CADERNOS DEESTVOOS LIN6VISTI COe'19~"à. ~ ••~ O DISCURSO E SUAS ANÁLISES Organizadores:Eni PulcinelliOrlandi João WanderleyGeraldi Cad.Est.ling. I Campinas Ju1Jdez.1990 27.Estaexpressãosedevea RégisDebray,queem suaModeste ContribUlÍCn aux cérémoniesojJü:iel/esdu db:ibneanniversaire(Maspero,1978) evocaestedis- curso aparentementesem propósitodo "qualquer coisa", que florecehoje em nossasmetrópoles.Imagemesclarecedora,com a condiçãodeentenderqueeste discursodo "qualquercoisa"nãosealimentajustamentede "qualquercoisa". 28.Porqueo olho éaindamaiscrrvelqueo ouvido:diferentementede um enuncIa- do, uma imagemnão tem alhures;não se podll aplicara elauma"transforma- ção" negativaou lnterrogativa. 24 Cad. Est. Ling., Campinas. (19): 25-42.julJdez. 1990 HETEROGENEIDADE(S) ENUNCIATIVAS(S) JACQUElINE AUTHIER-REVUZ !Tradução de Celane M. Cruz e João Wanderley Geraldi) A "complexidade enunciativa" está na moda: distanciamento, graus de compromentimento, desnivelamentos ou deslocamentos enuncia- tivos, polifonia, desdobramentos ou divisão do sujeito enunciador ... tantas são as noções que - em quadros teóricos diferentes1 - dão conta de formas lingursticas discurslvas ou textuais alterando a imagem de uma mensagem monódica. Numerosos trabalhos o testemunham, nestes últimos anos, tra- tando do discurso refatado (direto, indireto, indireto livre), aspas, itálicos, citações, alusões, ironia, pastiche, estereótipo, pressuposição, pré-cons- trutos, enunciado dividido, palavras "argumentativas" ... Gostaria, aqui, de me interrogar sobre um conjunto de formas que chamo de formas de "heterogeneidade mostrada" por inscreverem o outro na seqüência do discurso - discurso direto, aspas, formas de retoque ou de glosa, discurso indireto livre, ironia2- relativamente ao estatuto das noções enunciativas ("distância" etc,) evocadas acima, bastante problemá- tico a despeito ou em razão de seu caráter "natural", "intutivamente fa- lando" . Parece-me que estas noções estão, de fato, necessariamente ancoradas no exterior da Iingu/stica trazendo - de modo ingênuo ou teóri- co· concepções do sujeito e de sua relação com a linguagem; e que é ina- dequado para a lingu/stica não explicitar sua relação com este exterior, pois quaisquer que sejam as precauções tomadas para delimitar um campo autonomamente Ijngu/stico, num dominio como o da enunciação, o exte- rior inevItavelmente retorna implicitamente ao interior da descrição e isto sob a forma "natu ral" de reprodução, na análise, das evidências vivencia- das pelos sujeitos falantes quanto a sua atividade de linguagem. Assim. é. explicitamente que eu gostaria de não recorrer a abordagens que, do exte- rior da Iingufstica, seduzi das irreversive/mente pelas evidências narc/sicas do sujeito fonte e senhor de seu dizer, para recorrer a um exterior perti~ tI li! (, d I nentepara o campolingulstico da enunciação,a fim de poder trabalhar nestecamposemparticiparda "operaçãode salvamentodo sujeito" que P. Kuentez(1972)denunciavahádezanos3• Para propor o que chamode heterogeneidadeconstitutivado sujeitoe de seu discurso,apoiar-ma-el,de um lado, nos trabalhosque to- mamo discursocomoprodutode interdiscursosou, emoutraspapalvras, a problemáticado dialogismobakhtinlano;de outro lado,apoiar-ma-elna abordagemdo sujeito e de sua relaçãocom a linguagempermitidapor Freude sua releiturapor Lacan. É emrelaçãoa esseexteriorà lingulstica- Istoé,levando-oem contamassemcomele se confundir,tentandomostrara Irredutibilidadee a articulaçãodos dois planos - que propore; umadescriçãoda heteroge- neidademostradacomoformaslingufsticasde representaçãodeeHie.rentes 1nío~?s~dênegoci~çã~do sujeito falantecoma heiêrogeneLdadeqonstituti-ya do seu discurso.Nesteartigo, restringir-ma-elapenasàsformasmarca-das de heterogeneidademostradaque manifestam,sob a formada dene- gação, um desconhecimentoprotetor da heterogeneldadeconstitut/va, deixandopara outra oportunidadeo tratamento,sob a mesmaótica das formasnãomarcadasdestanegociação. -, . Faceà pretensão- espontâneaou teoricamenteconduzida•do sujeito como fonte autônomado sentidoque comunicaatravésda IIngua, abordagensteóricasdiversas têm mostradoque toda fala é determinada de fora da vontadedo sujeito e queeste"ómaisfaladodo quefala". Este"de fora" nãoé o que, inevitavelmente,o sujeitoportador de umsentido encontrariae em função do qual se determinariamas for- masconcretasde sua existênciae (lquelade seudiscurso;estáno exterior ao sujeito,no discurso,comocondiçãoconstitutivade existência. Não pretendo apresentaraqui, ainda que esquematicamente, qualquerdestasabordagensemsuacoerência,multo menosaindapreten- do "articular" estas abordagens:contentar-me-elem evocarfragmenta- riamenteos pontosa que meremetereiespecificamenteao que chamode heterogeneidadeconstitutivado sujeitoe do seudiscurso. 1.1. O "dialogismo" do circulo de Bakhtin,comose sabe,não temcomopreocupaçãocentralo diálogofacea face, masconstitui,através de umareflexãomultiforme,semióticae literária, umateoriada diatogiza- ção interna do discurso. As palavrassão, sempree inevitavelmente,"as palavrasdos outros": estaintuiçãoatravessaas análisesdo plurilinguismo 26 e dos jogos de fronteirasconstitutivasdos "falares sociais", das formas lingulsticase discursivasdo hidrismo,da bivocalidadeque permitema re- presentaçãono discursodo discursodo outro, gênerosliteráriosmanifes- tandouma"consciênciagalileanada linguagem",um rir carnavalesco,um romancepolifÓnic04• "Somenteo Adão mltico,abordandocom suaprimeirafala um mundoainda não postoemquestão5, estariaemcondiçõesde ser elepró- prio (J produtor de umdiscurso isentodo já dito na fala de outro. Nenhu- ma palavra é '·neutra". mas inevitavelmente"carregada", "ocupada", "habitada", "atravessada"pelosdiscursosnOSquals "viveusuaexistência socialmentesustentada".O que Bakhtindesignapor saturaçãoda lingua- gemconstitui umateoria da produçãodo sentio e do discurso:colocaos outrosdiscursosnãocomoambientequepermiteextrairhalosconotativos a partir de umnó desentido,mascomoum"centro" exteriorconstitutivo, aqueledo já dito, como que se tece,inevitavelmente,a tramamesmado discurso. O estatutodo sujeitodo discursotal comoaparecenasnoç6es de"intenção" ou de "orientaçãode umdiscursoa umobjeto" édeslocado demaneiracentrale torna-seproblemático6:esteé umdospontosqueim- pedem,a despeitode encontrosirrecusáveis,umaaproximaçãodemasia- damente sistemáticadas perspecivasdialógicas e "estruturalista" na abordagemdo discurso. 1.2.E à problemáticado discursocomoprodutodo interdiscur- so, tal como foi desenvolvidanumconjuntode trabalhosconsagradosao discursoe à análise do discurs07 que estou me referindo. Baseadasao mesmotempona reflexãode Foucaulte nade Althusser,tais análisespos- tulamum funcionamentoreguladodo exterior,do interdiscurso,paradar contada produçãodo discurso,maquinariaestruturalignoradapelo sujei- to que,na ilusão, se crê fonte desteseu discurso,quandoele nadamaisé doqueo suportee o efeito. "0 próprio de toda formaçãodiscursivaé o de dissimu- lar, na transparênciado sentido que nela se forma. a objetividadematerialcontraditóriado interdiscursode- terminantedestaformaçãodiscursivacomotal. objetivi- dade materialque resideno fato de que "isso fala" Iça parle)sempre,"antes,alhurese independenemente"8. A noçãode pré-construto,marcado interdiscursono intradis- curso - em outras palavras, recuperávelna sequênciadiscursiva- é, por 27 '( I. ~ 'I ~ I I . , J exemplo,a caracterfsticadestaproblemáticana sua oposiçãoà pressupo- siçãocomoatode linguagem. A evidênciadestesprocessosreaisquedeterminamo sentidoe o discursoé,comefeito,indissociávelde umateoria da ilusãosubjétivada fala9e de um questionamentodasteoriasIlngulsticasdaenunciaçãolime- didaque estascorremo risco de refletir "a Ilusão necessáriaconstitut\va do sujeito", contentando-seemreproduzir,no nlval te6rico,estalIusêodo sujeitoenuncladorcapazde escolhas,intençõese decisões10. ' 1.3.Numa outra perspectiva- a da teoria de seu objeto pró. prio, o inconsciente- a psicanálise,tal comose explícita,apoiadana teoria de Saussure,na leituralacanianade Freudl1,produza duplaconcepçãode umafala fundamentalmenteheterogêneae de umsujeitodivldido12• Sempresob as palavras,"outras palavras"sãoditas:éa estru- tura materialda Iinguaque permiteque,na Iinearidadede umacadeia,se façaescutara polifonianão intencionaldetodo discurso,atravésda qual a análisepodetentarrecuperaros indlciosda "pontuaçãodo inconsciente". Esta concepçãodo discurso atravessadopelo inconscientese articulaàquelado sujeito que não é umaentidadehomogêneaexteriorà linguagem,maso resultadode umaestruturacomplexa,efeitoda lingua- gem:sujeito descentrado,dividido,clivado,barrado.••poucoimportaa pa- lavradesdeque longe do desdobramentodo sujeito13ou da divisãocomo efeitosobre o sujeito do seu encontrocomo mundoexterior,divisãoque se poderia tentar apagar por um trabalho de restauraçãoda unidadeda pessoa,mantidoo caráterestrutualconstitutivoda clivagempelo sujeito. Nisto resideo caráterda"ferida narclsica"queFreudreconhe- ce na descobertado inconscientepelo sujeito que "não é maissenhorde sua morada" e é aI que está,de fato, a possibilidadedo mascaramento. Assim, pode-seconsiderarque, atravésde inscriçõespolftlcasopostas,a antipsiquiatriade laing, por exemplo.onde se denunciao caráteeralie- nantedo meiosocial, causado "divided self"14e a ego-psicologiaadapta- tlva se esforçando para construir um "eu forte", autÔnomo,que teria deslocadoo isso15,reencontrando-se16como irmãos inimIgosno desco· nhecimentodo inconscientefreudianoe do sujeito descentradoque elees- trutura. O que,de fato, Freudcolocaé que nãohá centroparao sujeito fora da ilusão e do fantasmagórico,masque é função destainstânciado sujeitoqueéo eu ser portadoradestailusãonecessária.É atal posição,a da funçãodo desconhecimentodo eu que, no imagináriodo sujeitodividi- do, reconstróia imagemdo sujeitoautônomo,apagandoa divisão(eviden- tementeInconciliávelcom todasasvariantesde concepçõesdo sujeito que 28 p reduzemao eu ou o centramsobre si próprio) a que remeteo ponto de vistasegundoo qual"0 centro é umailusãoproduzidaparao sujeito,que . ps ciências do homem[e no nosso campo,as teorias da enunciaçãoJto- rnamcomoobjeto Ignorandoqueele é imaginário"17. 1.4.Em rupturacomo EU, fundamentoda subjetividadeclâssi- ,ca concebidacomoo Interior dianteda exterioridadedo mundo,o funda- mentodo sujeito é aqui deslocado,desalojado, "em um lugar múltiplo, fundamentalmenteheterõnimo,emque a exterioridadeestáno interior do Ilujeito18,Nestaafirmaçãode que, constitutivamente,no sujeito e no seu discurso está o Outro, reencontram-seas concepçõesdo discurso. da Ideologia,e do inconsciente,queas teoriasda enunciaçãonãopodem,sem rIscosparaa lingulstica,esquecer. -2- Totalmenteoutro é o ponto de vista Jingulstico da descrição dasformasde heterogeneidademostradano discurso,atravésdasquaisse alteraa unicidade aparenteda cadeiadiscursiva,pois elas aI inscrevem o outro (segundomodalidadesdiferentes,comou semmarcasunlvocasde ancoragem}. 2.1. Para o conjunto das formasmarcadasde que meocuparei aqui,ésignificativoque um fragmentotem,na cadeiadiscursiva,umesta- tutooutro que relevada autonlmia19. Na autonlmia simples. a heterogeneidadeque constitui um fragmentomencionado,entreos elementoslingulsticosde quefaz U5020, é acompanhadade umaruptura sintática.O fragmentocitado no interior de umdiscursorelatadodiret021ou introduzidopor umtermometalingulstico (a palavra,o termo,a expressão,a fórmula"X"l, nitidamentedelimitado na cadeia discursiva,é apresentadocomo objeto; é extrafdoda cadeia enunciativanormal e remetidoa outro lugar: aquele de um outro ato de enunciação(Z disse:"X", na expressãode Z, "X" ...) ou, numgestometa- lingulsticono sentidoestrito,aqueleda IJngua(a palavra,o termo"X")22. No caso em que me apóio aqui. maisprecisamenteo da cono- taçá:>autonlmica,o fragmentomencionadoé ao mesmotempoum frag- mentodo qual se faz uso: é o casodo elementocolocadoentreaspas,em itálico ou (às vezes) glosado por uma incisa23, Contrariamenteao caso precedente,o fragmentodesignadocomoum outro é integradoà cadeia discursivasem ruptura sintática:de estatutocomplexo,o elementomen- cionadoé inscrito na continuidadesintáticado discursoao mesmotempo 29 \··..·ll .. : II· \ que,pelasmarcas,que nestecasonão são redundantes,6 remetidoao ex-! terior do discurso. Uma dupla designaçãoé assimoperada pelasformas'da hete-· rogeneidademostrada:a de um lugarpara umfragmentodeestatutodIfe- rente na Iinearldadeda cadelae a de umaalterldadea que o fragmento remete. 2.2. A naturezadestaalteridade6 ou não especlflcadano con- . textodo fragmentomencionado.Nas formasda autonlmlaevocadosacima, a alterldadeé explicitamenteespecificadoe remetesejaparaumoutro ato de enunciaçãoseja para a Ilngua enquantoexteriorao discursoemenun- clação24• Ela é implfcita,ao contrário,pelasaspase pelo Itáliconãoglo- sados;emoutraspalavras,todacompreensão,Interpretaçãodestasmarcas passa por umaespecificaçãoda alteridadea que remetem,emfunção de seu ambientediscursivo:por exemplo,umaoutra IIngua,variedadede IIn- gua,umoutro discursodiferente,umdiscursooposto, etc.25• A propósito, vejo como de particularInteresse,na mesmaes- trutura de conotaçãoautonlmica,as formasinumeráveis- nosentidoespe- cifico de conjunto infinito de expressões- de glosas, retoques,comentá- rios sobre um fragmentode cadeia(assinaladoou não por aspasou Itâli- co26).É que elas especificamos parãmetros,ângulos, pontos de vista, atra- vésdos quais umdiscursopõeexplicitamenteumaalteridadeemrelaçãoa si pr6prio. São assimdesignadoscomo"exteriores" emrelaçãoao discur- so, vindo interferir na cadeiado discurso em enunciaçãosob a forma de umpontode heterogeneidade: - umaoutra IIngua27; - um outro registro discursivo,familiar, pedante,adolescente, grosseiroetc.28 - umoutro discurso,t6cnlco,feminista,marxista,jacobino,mo- ralista etc.29 que pode Ser somentecaracterizadocomo discursodos ou- tros, discursousual se assimse quiser,dealgunsoutros,deumoutro par- ticular3O; • umaoutra modalidadede consideraçãode sentidoparauma palavra,recorrendoexplicitamenteao exterior,um outro discursoespaci- ficado31, ou aqueleda IInguacomolugar da polissemia,homonlmia,metá- fora,etc•..afastadasou ao contrárioinvocadasparaconstituiro sentidoda palavra32•Nos dois casos,ao ladodo sentidodadocomocorrente,umsen- tido é constituldopor umapalavrapor referênciaa umou outrossentidos produzidosalhures,no interdiscursoou na IIngua. - uma outra palavra, potencialou expllcita nas figuras de re- 30 serva(X, enfimX, se assimse quer;X seassimsepodedizer;dequalquer forma,admitimos...) de hesitaçãoe de retificação(X ou melhorV; X, eu . deveriater dito Y; X, querdizer•••; X, ou quasediria V),de confirmação(X e é bamX o que estouquerendodizer; X é o que deveser dito),variante, Inversadas precedentes: - um outro, o interlocutor,diferentedo locutor e a estetitulo suscetlvalde não compreender,ou de não admitir (sevocêentendeo que querodizer: se o senhor mepermitea expressão;perdoe-meo termo;se vocêquiser assim..•), operaçõesimplicitamenteadmitidascomaindo da si parafora do discurso,por partedo inter!ocutor- engrenagemdo funcio- namentonormaldacomunicação. 2.4.1.A dupla designaçãode um fragmentooutro e da alteri- dadea que remeteconstitui,por diferença,umaduplaafirmaçãodo um. Ao nlvel da cadeiado discurso, localizar um pontode hetere- geneidadeé circunscreveresteponto,ou seja,opô-Io por diferençado res. to da cadeia,à homogeneidadeou à unicidadeda lingua,do discurso,do sentidoete.;corpo estranhodelimitado,o fragmentomarcadorecebeniti- damenteatrav6sdasglosas de correção,reserva,hesitação... um caráter de particularidadeacidental,de defeito local. Ao mesmotempo,remetea umalhures,a umexteriorexplicitamenteespecificadoou dadoa especifi- car,determinaautomaticamentepeladiferençaUm interior, aqueledo dis- curso;ou seja, a designaçãode um exteriorespecIficoé,atravésde cada marcade distância,uma operaçãode constituiçãode identidadepara o discurso.Tambéma zona de "contato" entre exterior(es)e interior que mostraas marcasde distâncianumdiscursoé profundamentereveladora destediscurso, de um lado pelos pontos escolhidosparacolocar explici- tamentefronteiras, limites, demarcações- querdizer, de queoutro é pre- cisosedefender,a queoutros éprecisorecorrerparaseconstituir- deou- tro lado, pelo tipo de relaçãoquearse jogacomo outro, relaçãoexplícita- dapelasglosasou interpretávelpelocontexto:hádiferenciaçõesque rele. vamdo preciosismocúmplicede um discursocomseusexteriores.do es- forço de um discurso teórico, por exemplo,para ultrapassara tecedura dosdiscursospré-existentesna qual ele é tomadoe na qual ele se fAZ,da marcaçãode posiçãode afrontamentopolêmico,e de uma"Iuta pelavida" quandoo que se joga na zona de contatonão é da .ordemda discussão, por maisviolentaque seja, masdo direito à existênciapara um dos dois apenas,casoextremoda solidariedadeconstitutivade umdiScursoem re- laçãoao outro33. Em resumo.as distinçõesoperadaspelas formasmarcadasde heterogeneidademostradarelevamde umarelaçãode umaooutro, inseri. 31 ~·'r· . , " . '~ ' ~ ,j ,', 11 ,\ ta no comparável,no comensurável,na pluralidade. 2.4.2.Ao mesmotempoque elascolocamumexterioremrela- çlio ao qual se constituio discurso,estasformaspostulamumaoutra exte-- rloridade:aquelado enunciadorcapazdese colocaremqualquermomento distantede sua Ilnguae deseudiscurso,isto é, de se ocupar,diantedeles, tomando-oslocalmentecomo objeto, numa posição exteriorde observa- dor. É toda formamarcadade distânciaque remetea estafigurado anun- ciador,utilizador e dono de seu pensamento,masestafigura é particular- menteapresentadanasglosas de retificação,de reserva•••que a especifi- camcomojuiz, comentador ... deseu própriodizer. -3- 3.1. Heterogeneidadeconstitutivado discurso e heterogenei- dademostradano discurso representamduasordensde realidadediferen- tes:a dos processosreaisde constituiçãodumdiscursoe a dos processos nãomenosreais,de representação,numdiscurso,de suaconstituição. Não se trata de assimilarum ao outro, nemde imaginarum relacionamentosimples,de imagem,de tradução,nemde projeçãode um no outro; essa relaçãode correspondênciadireta é interditadatanto por- queela faria supor umatransparênciado dizer emSUaS condiçõesreaisde existênciaquantopela irredutibilidademanifestadas duasheterogeneida- des. A umaheterogeneidaderadical,exterioridadeinternaao sujei- to e ao discurso,não localisávele não representávelnodiscursoquecons- titui, aquelado Outrodo discurso- ondeestãoemjogo o Interdiscursoe o inconsciente-, se opõe à representação,no discurso, as diferenciações, disjunções,fronteirasinterior/exteriorpelasquais o um· sujeito,discurso •se delimitana pluralidadedos outros,e ao mesmotempoafirmaa figura dumenunciadorexteriorao seudiscurso. Face aO "isso fata" da heterogeneidadecOl'lstitutivaresponde- se atravésdos "como diz o outro" e "se eu posso dizer" da hetarogenei- dade mostrada,um"eu sei o queeudigo", isto é,sei quemfala,euou um outro,e eu sei comoeu falo, comoutilizo as palavras. Se todo relacionamentosimplesdessesdois planoscomporta inevitavelmenteumaassimilaçãoredutorade um ao outro34, não se deve, por isso, na basede sua irredutibilidade,admitiro fechamentona descri· ção de um dos dois planos, havendorisco permanenteda fazê-Iocomoa realidadeenunciativa,explicitamenteou não, recusandotodo direito de cidadaniaao outro plano, ou, maisprudentemente,postulandoa indepen. 32. dência,a autonomiados doIs planos,ou sejaa não-pertinênclade umpia- no emrelaçãoao outro. Estesprocedimentosmeparecemser, de maneira geral,os da pragmáticapor umladoe os dasabordagensteóricasda hete· , : rogeneldadeconstltutlvado discurso por outro lado. Acredito ser IndIs- pensávelreconhecerque essasduas ordens de realidadesão Irredutlveis m.asartlculévelse atémesmo,necessariamente,solldérlas3S• .p', 3.2.1O paradoxoda expressão"heterogeneidadeconstltutiva" capta'a ameaçade se desfazera todo momentoo que sujeito e discurso dãopor feitos: no que se constituie emquemse constitui,por heterogê- neo,lhe escapa. Para o sujeito dividido, o papel indispensáveldo Eu, é aquele dumainstânciaque, no imaginário,se ocupa de reconstruira Imagemda um sujeito autÔnomo,anulando, no desconhecimento,o descentramento real. As formasmarcadasde heterogeneidademostradarepresentam umanegociaçãocomas forças centrlfug8s,de desagregação,da heteroge~ neidadeconstitutiva:elas constroemno desconhecimentodesta, uma re- presentaçãoda enunclação,que, por ser ilusória,é umaproteçãonecessá- riaparaque umdiscursopossaser mantido.36 Assimessa representaçãoda anunciaçãoé igualmente"constl· tutiva",emumoutro sentido:alémdo "eu" quese colocacomosujeito de seudiscurso,"por esseato individual da apropriaçãoque Introduzaquele quefala emsua fala"37,as formasmarcadasda heterogeneidademarcada reforçam,confirmam,asseguramesse"eu" por umaespeclficaçãode iden- . tidade,dandocorpo ao discurso- pelaforma,pelo contorno,pelasbordas, peloslimitesque elastraçam- e dando forma80sujeito enunciador ~pela posiçãoe atividademetalingülsticaqueencenam. 3.2.2.O ,quecaracterizaas formasmarcadasda heterogeneida- demostradacomoformasdo desconhecimentoda heterogeneidadeconsti- tutivaé que elas operamsobreo mododadenegação.Por umaespéciede compromissoprecárioque dá lugar ao heterogêneoe portantoo reconhe- ce,maspara melhor negar sua onipresença.Elas manifestama realidade destaonipresençaprecisamentenos lugaresquetentamencobri-Ia. A presençado Outro emergeno discurso,comefeito, precisa- mentenos pontos em que se insiste em quebrara continuidade,a homo· geneidadefazendo vacilar o domlnio do sujeito; voltando o peso perma- nentedo Outro localmentedesignado;convertendoa ameaçado Outro· nãodizlvel - no jogo reparadordo "narcisismodas pequenasdiferenças" ·dltas,opera-seumretorno à segurança,umreforçodo domlniodo suejtio, 33 ! I da autonomiado discurso,mesmoemsituaçõesque Ihesescampam. O lapso não li a ~nlcaformade emergênciatangfveldo Outro no discurso; as formasmarcadasda heterogeneldaderrx>stradatambémo são,massob as formasdesvlantesdo domlniodo dito; emconflitosolidá- rio coma heterogeneidadeconstltutlvaestasformassão emrelaçãoàque- las ao mesmotempoum sintomae umadefesa;justamenteonde o lapso, emergênciabruta,produz "buraco" no discurso,élas dãoa Imagemdeum espaço,de umasuturasublinhadapelacosturaqueo anula. Ao conjuntode flssuras,junçõesquefuncionamcomocosturas escondidassob a unidadeaparentede umdiscursoe quea análise· análi- se do discurso,descriçãodos textos literáriose poéticos,pslcanál1se-po- de emparte evidenciarcomo pistasdo Interdiscursoou do jogo do signifi- cante,as formasmarcadasda heterogeneidademostradaopõema retól'lca dafalha mostrada,da"costura aparente". 3.2.3.É ao corpo do discursoe à identidadedo sujeito que re- metemas diversas formas da heterogeneidademostradaem sua relação coma heterogeneidadeconstitutiva:proibidos, protegidosna denegação, por formasmarcadas,discursoe sujeitosão,ao contrário,expostosao ris- . co de umjogo incertopetasformasnão marcadase devotadosà perda,fa- ce à ausênciade toda heterogeneidademostrada,no emaranhadoda hete- rogeneidadeconstltut;va. Efetivamente,as formas não marcadas da heterogeneidade mostrada- discursoindireto livre, ironia...de umlado, metáforas,jogos de palavras•.•de outro lado - representam,pelo continuum,a incertezaque caracterizaa referênciaao outro, umaoutra forma de negociaçãocom a heterogeneidadeconstitutiva;umaformamaisarrriscada,porquejogacom a diluiçãO, com a dissolução do outro no um, onde este,precisamente aqui, pode ser enfaticamenteconfirmadomastambémonde pode se per- der. É destemodoque tais formas,semruptura,conduzemaosdis- cursos que, bem mais próximosda heterogeneldadeconstitutlva,renun- ciam a toda proteçãodiante dela, e tentamo Impossfvel"fazer fatar", no vertiginosoapagamentodo enunciadoratravessadopelo "isso fala" do in- terdiscursoou do significantetal como o desenham,absolutosmlticos,o livro "inteiramenterecopiado" de Flaubertcujo Dietlonnairedasidéesre- çuese Bouvardat P~cuchetforam elementosou esbo90s,e o Livro "que existe sozinho", "sem voz do autor", produzido por uma"ãlgebra" do significante,de Mallarmé,cujo Coupde déseraumaabordagem. 3.3.Assim,no campoda enunciação,estãoemjogo demaneira 34 .: solidáriaessesdois planos distintos- masnõo disjuntos •condiçõesreais i~\deel<!stênclade umdiscursoe da representaçãoque delesedê. .,~, Na descrição,circunscrever~sea umdos dois planosé eviden- tementelegitimo:mascolocaresseplano comoumtodo autônomo,fecha- do a esse exterior pertinen~eque constitui o outro plano,é fonte, creio . Inevitável,de enganoe de mutilaçãodo terrenoescolhido. Não penso que seja necessériose fechar na alternativapela qualopta O. Ducrotao concluir suadiscussãocom P. Henry:quer a de se Interes!Jarpela maneiracomque o locutorpode "se representarumsenti· do de suas palavras",quer a de ter por "uma Ilusão, a eventualidadede que o locutor seja sujeito", "se desinteressardessas representaçõesdo sentidopor X ou por Y"38. Na pragmática,a consideraçãoda realidadedo interdiscursoe do inconsciente,atravessandoa lIngua, não recusariaa descriçãolingúls- ticadas formasda representação;ela s6 invalidaessadescriçãoemfunção de uma metodologiageral que tendea se dar como o todo da realidade enunciativaque reproduzem sua teoria da enunciação39 o gestodenega- dor do locutorquantoa esseOutroqueo atravessa.Nessesentido,parece esclarecedora40a maneira pelaqual O. Ducrottentase precavercontraes- se obstáculo:um sistemade defesasteóricasem torno da autonomiade seuobjeto - levadoao limiteemqueo conceitode enunciação"não impli- caa hipótesede que o enunciadoé produzidopor umsujeito falante"41, pela"representaçãoda enunciação"estritamentefechadasobre si mesma que ai é proposta,uma espécie"fora de lugar" - teatral- habitadopor "seresda fala" que, fora de qualquerligaçãoexplicitacomo sujeitofalan- te e sua realidadede ser de fala, aparecemcomo"suspensos","desanco- rados"• Reconhecere darcontadesseOutroque lheescapa,nãoé para 8 Iingülsticada enunciação"abrir suas comportase afogar-se,masdes- centralizar-sefora de um lugar ilusório elou dar-se um arlcoramentoreal masfora de si pr6pria.42 Ao contrário, no quadro das teorias não subjetivasda fala, a consideraçãodas formas Iingüfsticasmarcadasde heterogeneidademos- tradarepresentariaum passo paraa descriçãodas formaspráticas,na rrn- guae no discurso,segundoasquais funcionaa ilusãodo sujeito. O princIpio segundoo qual "a incertitudeprecedee dominaa asserção"pôdefuncionar nos trabalhosde análisedo discursocomocau- çãoteóricaao desinteressepelasformasconcretasda asserção.Comoob- .servaA. Culioli43: 35 ',i, '8,Pêcheux(75b)p. 147- grifos meus. 9.A da"interpelação"dos indivlduosemsujeitosfalantesfontesdeseudiscurso. 10.M. Pêcheuxe C. Fuchsin Pêcheux(75a)p. 19. 11.Referêncianão eusenteevidentemente.de numerosostrabalhosconsagradosao discursoevocadosacima;cf. em particularHenry(nI,Coneinetalii (81l. 12.Por razões editoriais, o desenvolvilnentoinicialmenteredigidofoi substituldo pelo resumoa seguir.Para umaapresentaçãomaisdetalhadanamesmaótica,cf.Authier-Revuz(82). ,)'::.' ,t; ","I:\~;i':',~Lvaide encontroàs evidênciasn<Jrclsicasdossujeitosfalantes.ver-se-é facilmente '\" \, suspeitade afogarou destruiro objetoIingülsticono do não IIngOlsUco.1 l~'\,. •l '.. ,I" .',,:.\4.Sobre estespontos,ver na mesmaótica.Authier-Revuz(82).p. 101-123e para ,"r,'\ • tl:~1\suaapresentaçilodaconjunto.Todorov (81). ,",'I:::';~'Bakhtine(75),p.100.102,114(ediçãofrancesa). ~6. Cf. Krlsteva(70)"O trabalhode Bakhtlnenoslevae umateoriado sujeito.i(~' , 7. Por exp. Pêchaux(75a)(75b).Henry (n). Maradin(79).Courtine(81I. eonein etanHal). "A medida que enunciamos,construlmos um espaço enunciativo,ou seja, estamosao mesmotempoconstl-~; ruindo 8S regrasdo jogo. (...) Parece-meque freqOente- ' menteos especialistasda análisedo discurso,não dão a devida importênclaa eSSematarialldade,daatlyldede enunciatlva," Ora,aindaaqui, esseesvaziamentode umdosplanosnãodeixa de Incldir na descriçãodo outro: as formasda heterogeneidademostrada. quetraduzema ilusão do sujeitona suafala,manifestamtambém.nÓsjá o vimos.a brechano domlnio. pelo gestoque tenta colmatá-la.Ou seja, a Ilusãoque se manifestano discursonão apagaradicalmenteo queela ten- ta reprimir;ela não é esseengodoperfeitoproduzidopor umdeterminls- mo sem falhas, completamenteignorado pelo sujeito. que as teorias da "interpelaçãoideológica" transferiram,durante certo tempo,aos traba- lhosconsagradosao discurso44• Assim, a atenção às formas concretas da rElpresentaçãoda enunciaçãoquesão,entreoutras,as formasda heterogeneldademostrada,. podecontribuir. no âmbitodo discurso.paramanterB distinçãoentreo eu pleno e o sujeito que, ele. atropelae para evitarde denunciaro domlnlo comoilusão do sujeito.para recolocartardistinçãono nlvaldos mecanis- mosprodutoresdessailusão. NOTAS 13.Cf. as descriçõespré·freudianas(Janet, Breueddesegund<Jpersonalidadeligada a uma "fraqueza da slntase psicológica".ICf. por exemplo"Clivage du moi" e "Subconscient"in Laplancheat Pontalis1681. 1. L1ngOlsticadaenunciação,pragmática.análisedo discurso.teoriado signo.descri- çãodetextosou de gênerosliterários. 2. Nesteconjuntode formas marcadas.distingo aquelasque mostramo lugar do outro de forma unlvoca(discursodireto.aspas,itãlicos,incisosde glosas)e aque- las não marcadasonde o outro édadoa reconhecersem marcaçãounlvoca(dis- cursoindiretolivre,ironia.pastiche,imitação•••.). 14.Leing(19601. 15.Cf. Anna Freude sobretudoH. Hartmann.Cf. Clément(721. 16.Isto peladiferençada sua relaçãoexplfcitacom Fraud.já que Laingrecusaa psi- canáliseparase apoiar nos filósofosexistenciaisondeas teoriasdo eu autônomo seapresentamcomo"escoremento"dasconcepç6as freudianas. 3. O locutorintencionalda pragmática.calculendoestratégIasno contextoda intera- çãocomunlcacional- cf. Gruning.(79)- tem,sobre estaquestãode relaçãoexpU· citaao exteriorda lingülsticaum estatutofreqüentementeamlguo:éclaroqueimo plicacertasconcepçõesfilosóficas,psicológicas.sociológicasdo sujeitoe dasrela- çõesinterindividuais,mas comoestasaquivãona direçAodasevidênciasvivencie· das por sujeitosfalantes.podem integrar-seconvenientementeàsdescriçõeslin- gOlsticassem estasprecis<Jremter necessariamentedaquelasumadefinição- es- colhasteóricasextra-Iingüfsticas• mas com a aparênciade neutralidadeteórica própriaao bom senso.Ao contrário,toda referênciaa teori<Jsnão subjetivasdo sujeHoe da fala,necessariamente- explicitam•"provocaçõesteóricas"- tudoque 17.Roudinesco(n).p.42. 18.ClémentC. (72). " 19.Ver em Rey-Dabove(78)o ordenamentodessasnoçõesque utilizeina descrição dasformas do discursorelatadoe das "palavrasmantidasà distância",aspeadas(Authier(78)-(81). 20.Retomoaqui a oposição uso/mençãoclássicana tradiçãológica;o domlnio ins- trumentaldo sujeitona IInguasupostapor estestermos vaicontraos pontos de 36 37 vistadesenvolvidosem 1••remetendoao n(velda representaçãoqueo sujeitodá desuaatividadeenunciativa. 21.Por oposiçãoao dIscurso Indiretoque êum modo homogenelzsntederestltulçJo de um outro atode enunciação. 22.Entreestesdois palas,remissãodo fragmentoa um atode enunclaçiíoindividual vs remissãoà lfngua(a fala de De Gaule.Na intendênciasegui"''', passouparaa posteridadevs a palavra"cavalo" temtrês slIabaslexisteda fatoum contlnuum que relevadaordemdo discurso. 23. /1) o "sit-in" dos estudantesse prolongou. (2}o sit-in dos estudantes•.•/31 o "sit-in" dos estudantes,como sediz atualmente.••(41o sit-ln dosestudantes,co- mo se diz atualmente••.A incisa pode glosar uma mençãojá marcada(3), ou conferir por si mesmao estatuto"mencionado"a um fragmento(41;nestacaso, os eventuais problemasde incidênciasintático-semântica da loclsB colocam pro- blemasde delimitaçãodo fragmentomencionado. 24. Formas autonfmicas,sem explicaçãopor um termo metalingalstico,evidente- mentetambém podemser encontradas ("cavalo" tem tr~ssnabasle podam pro- duzirambigüidadesna oralidade(diga-me"por qus"'diga-me porqual. 25.Cf. o estudodosvaloresdaspalavrasaspeadasin.Authler (81l. 26.Sobreestasformasdeglosa,cf.Authier·Revuz(82:92-96l. 27.Ex.:ai dentecomodizemos italianos. 28.Ex.:parausarumaexpressãodos jovens,algunsmodelos"detonam". - a "dialêtica",paraser pedante. 29. Ex.: o socialismoreal,como o partidocomunistaInsisteem dizer.Ou: a lingua- gem(naturalcomo necessitamdizeros lógicos). 30. Ex.: o que chamamosde "ciênciashumanas".Ou: e isto ndosignificaqualquer coisa (como se diz hoje}•••Ou: IJ necessário,desculpem-mepelo lugar comum, que pode parecerestereótipotrabalharum conceito.Ou: cortejar,comodiziaml· nhaavó. 31.Ex.: Uma contradiçáo.no sentidomaterialistado termo.Ou:o destino,no sentido dos gregos.Ou: "lugares românticos"no sentidoem que sãoatôhojeentendi· dos. A especificaçãopor um outro discurso,"materialista","grego" ..•pretende afastaro riscode atraçãoda palavra,faceaointerdiscurso,no Interiorde um ou- tro discurso,aqui,o discurso16gicopara contradiǧo,o discursocristãoparades- tino. 32.Cf. todos os "X omsentidopróprio"."X, metaforicamante,ete.Ex.:a rlnguaéum jogo, como se diz; cheio de duplicidades.nos dois sentidosda palavra;moças 38 : ','\'"presas- sem metáfora- pelospatrões;marcamosestanoiteum acontecimento, ',1" Um felil acontecimento,se mepermitemestaexpressão:a publicaÇãonesteano de umconjuntodetrabalhos. 33.O discursode Faurisson(cf."Mémolreen dêfense"laVieilleTaupe,estudode G. . Authier-Revuze L. Romeu, in Mots8, 1984,que se balieiana denúnicado discur- i' 50"mltico" (aspasminhaslsobreas "câmarasde gás" (aspasde FaurissonIéum caso exemplar.No espaçodestetexto.nãoanalisotextosqueapresentemestes diversostiposde relaçõesheterogêneas;elementosesquemáticospodemser en- contradosemAuthier /81). 34.Na minhaopinao,éo que fal E. Fooquier(81)em seuestudodasformasde dig- tenclamento,correlacionar"homologia" e "comportamentodiscursivo"de dis- tanciamentoe a divisão do sujeito.A despeitodas referênciasfeitasa Freud e Lacan, esta correlaçãoé incompatlvelcom a concepção psicanalrticade um sujeitodescentrado,efeitoda linguagem;estacorrelação.aocontrário,podeestar de acordo com as concepçõesOpostasdo sujeito reduzidoao eu (cf. , acimal, clivado,alienado,presoaos jogos da má fé e da representaçãoteatral,de Laing, Sartre, Goffman utilizando a Ilngua em sua relação com o outro. Esta mesma correlaçãopodeser reencontrada,por caminhosdiferentes,no locutor(pleno)da pragmlJt(ca e da uma psico'ogia da enunciaçãosurda li heterogeneidade constitutivado inconscientea da Ordem do discurso. 35.Nole"se,no nlveldo vocabulárioutilizadoparadar contade um e outro plano,a presença de palavras capazes de levar ao engodo: a divisão do sujeito psicanalltico vs a divisão do sujeito falante em enunciador, locutor•..; a heterogeneidadeque constitui um discurso no sentido de sua tecidura vs a heterogeneidademostradaque constituium discursono sentidodesua relaçãoa 'um exteriorque lheconfereumaforma própria:a polifoniadetododiscursoque necessariamente"se alinha sobre Os muitos planos de uma partitura" vs os "efeitos" de polifoniaquepermitemcertasformasde heterogeneidade mostrada. Se é indispensávelnãoconfundi-Ios,esteparentes.coque nãoéfortuitopodeser entendidocomo sinal da solidariedadeque existe,de fato,entreos dois planos emuma relaçãodedeterminaçãoassimétrica. 36.Importaprecisarque se estasformas de representaçãose prestamfacilmentea engodos,a enganos,a cálculos,a estratégiasartifidosasdacomédiainteracional; estesjogoS, na relaçãocom o outro,mascarandofundamentalmenteo engodo,o engano.são, antesde tudo, parao sujeito,uma estratégiade proteção para si pr6prio e para seu discurso face li ameaçaincontorriávelda heterogeneidadeconstitutiva. 37.Belweniste(10). 38.Ducrot/77:202-203). 39.Cf. Grunig 1791. 39 41.Duerot(80a:33-34). 40.lndepen,dentementedos problemasqueas interpretaçãesproposta,sme psrocem','I'OUCROT, O. (1977),"Note sur Ia présuppositionet le senslittéral",postfaeeà Henry algumas vezes, suscitar quanto à assepsiu,da .~e9l?rçãovjs~à~visdo ",':' (19n),p.169-203. ' extralingülstico. "r'r : "~r,f,'"~I'""".,,,,,', ; ,:......-.(1980al,"Analyse de textoset Iinguistiquede !'énoneiation",in las matsdu :wb',lJTí discours,Ed.de Minuit, Paria. ' ' ~:"-----. (1980bl,"Analyses prsgmatlques",Communications,Le Seull, Paris, n':!32, , \ p.11-60. . 42. Cf. as reflexõesde C. Fuchs (Bl) sobre "0 papel do sujeito" nes teorias da _. , enunciação,sublinhando o paradoxo que h/í em incorporar na IIngülstlcs aI"~FOUQU1ER,E. (1981),Approcho de Ia dls1unce,Thêse de 3a cyctaEHESS, ronéoté,anunciaçãoparaemseguidafaeM-la sobresi mesma.(p.50-52). : 246P. 43.Mesa-redondain. Coneinet alii (Bl). 44. Cf. por exemplo Pêeheux (75)e a evoluçãobastanteclaramareadasobre este ponto, por exemplo,Henry (77)noapêndicecrIticoà ediçãoinglesade Pêcheux (75)llanguage, semantiesandideology,MacMiltan,1982,p,211-220)et Coneinet alii (Bl). ' BIBLIOGRAFIA AUTHIER, J. 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'tritivaespecificaumaparticularidadedo antecedentequeestariaemques- .~'rtão no enunciado,particularidadeque tornaria posslvelsua identificação ,~,'pr'ticano mundodascoisasou do pensamento.A restritivainterviriaen- ,,:\ão,como outras formas de determinação,na funçãodesignatlvaou refe- , v :;;rencial;ela contribuiria na constituiçãodo objeto do discursoem objeto : Ilexteriorao discurso. Ao contrário, a relativadita explicativaenunciaria ?uma particularidadedo que está em'questãono discurso, massupõe-se li;queestaparticularidadenão intervémna identificaçãopráticado que está "remquestãono discurso, identificaçãoque na práticase daria de maneira '1'completamenteIndependentedesta relativa, a partir do substantivo,ou ~;maisamplamente,do grupo nominaldenominadoantecedente.Em umse- ,':'gundosentido então,nestecaso, é o substantivo- ou o grupo nominal· ,~~antecedenteque determinariana realidadea relativaexplicatlvapermitin- :',dorelacioná-Iaa um objeto já praticamenteidentificadonaordemdascoi- <~sas ou dos pensamentos.Tem-se, então, não uma simplesclassificação , .') !,1 .~~.PublicadooriginalmentenarevistaLANGAGES,n2 37,marçode1975.Agradece- i,r mosaoautoreà editoraÇlidier-Laroussepelaautorizaçãoparapublicaratradução lh' emnossarevista. ,tlt';'f:! ~'
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