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arbitragem 2016 2

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ROTEIRO DE CURSO
 2016.2
1ª EDIÇÃO
ARBITRAGEM
PROF. FABIANO ROBALINHO CAVALCANTI
Sumário
Arbitragem e Mediação
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................................3
BlOCO I – INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ 10
 Aula 1. A Eficácia do Processo e os Métodos Alternativos de Solução de disputas ......................... 10
 Aula 2. Natureza Jurídica da Arbitragem ...................................................................................... 35
 Aula 3. O Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional e a Arbitragem no 
 Ordenamento Jurídico Brasileiro .................................................................................................. 40
BlOCO II - ARBITRAgEM - FUNDAMENTOS ....................................................................................................................................... 62
 Aula 4. As Partes na Arbitragem – Arbitrabilidade Subjetiva ......................................................... 62
 Aula 5. O Objeto de Arbitragem – Arbitrabilidade Objetiva ...................................................... 113
 Aula 6. Árbitros (funções, poderes e deveres) .............................................................................. 115
BlOCO III – CONvENÇÃO DE ARBITRAgEM .................................................................................................................................... 117
 Aula 7. Cláusula compromissória e Compromisso Arbitral ......................................................... 117
 Aula 8. Questões diversas sobre a cláusula compromissória (I) .................................................... 120
 Aula 9. Questões diversas sobre a cláusula compromissória (II) .................................................. 127
BlOCO Iv – PROCEDIMENTO ARBITRAl......................................................................................................................................... 130
 Aula 10. Instauração da Arbitragem ........................................................................................... 130
 Aula 11. Processo de escolha e nomeação dos árbitros ................................................................ 132
 Aula 12. Procedimento Arbitral.................................................................................................. 135
 Aula 13. Sentença arbitral .......................................................................................................... 137
BlOCO v - A RElAÇÃO ENTRE O JUízO ARBITRAl E O PODER JUDICIáRIO .......................................................................................... 139
 Aula 14. Hipóteses de intervenção do Judiciário antes do procedimento arbitral ........................ 141
 Aula 15. Cooperação entre o Judiciário e a arbitragem ............................................................... 145
 Aula 16. Nulidade do Laudo Arbitral: Ação de nulidade (art. 32) e Embargos de Devedor ......... 148
 Aula 17. Execução das Sentenças Arbitrais ................................................................................. 152
Sumário
Arbitragem
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 33fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
1 ZUCKErman, adrian a.S. Civil 
Justice in Crisis: Comparative 
Perspectives of Civil Procedure. 
new York, oxford, 1999, p. 12.
iNtrodução
Apesar das críticas feitas ao judiciário brasileiro, estudos recentes demonstram 
que o sistema estatal de resolução de disputas enfrenta problemas em todo o mun-
do. Analisadas três variáveis básicas (tempo, custo e isenção das decisões), é difícil 
encontrar algum país cujo judiciário apresente uma relação equilibrada entre elas 
na solução dos litígios. Se, por um lado, o Judiciário brasileiro é criticado pela sua 
lentidão e pela quantidade de recursos, o Judiciário norte-americano, muitas vezes 
usado como referência de eficiência, é criticado pelos seus custos e pelo excesso de 
estímulos à realização de acordos. Estudos demonstram que, desde 1985, apenas 
1,8% das ações iniciadas chegaram a ser julgadas nos Estados Unidos.
A.A.S. ZUCKERMAN, no livro Civil Justice in Crisis, analisa a crise mundial 
do Judiciário e seus efeitos na sociedade. Segundo o autor, a maioria dos sistemas 
de solução de litígios apresenta sérias falhas, que comprometem a efetividade das 
decisões:
“A sense of crisis in the administration of civil justice is by no means universal, 
but it is widespread. Most countries represented in this book are experiencing diffi-
culties in the operation of their system of civil justice. Whether the difficulties take 
the form of exorbitant costs or of excessive delays, they have serious implications. 
As we have seen, cost can place access to justice beyond the reach of citizens with 
limited means. Delays may render access to justice useless. Each of these phenome-
na may have many and varied ramifications for the social fabric. A denial of justice 
to the poor contributes to deprivation and social alienation. Delays can render the 
judicial protection of rights ineffectual, reduce the value of rights, adversely affect 
economic activity, and lead to economic distortions. Of course, there are always cost 
implications to justice, as we have observed, and there are inevitable delays. But no 
society can remain indifferent when cost and delay reach proportions that threaten 
the justice system as a whole”1.
O autor também compara os países de civil law, como a França, a Itália e a Ale-
manha, com os países que adotam o sistema da common law, como a Inglaterra e os 
Estados Unidos, para concluir que há imperfeições em ambos os sistemas:
“In England, the cost and delay involved in civil litigation have been a source of 
concern for some time now. The cost of litigation is not only high, but also unpre-
dictable and often disproportionate. Indeed, it is possible for the costs to each party 
to exceed the value of the subject matter in dispute. The urgency of the situation 
may be inferred from the attempts that the British government is current making to 
reform the administration of civil justice in order to reduce costs.
The situation is not much better in other common law countries. In Australia 
there has been a huge increase in the volume and complexity of litigation, especially 
over the last four or five decades. The present system simply cannot cope. It is too 
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 44fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
labour intensive, too costly, and too slow. As in England, the strain of the legal aid 
budget has proved insupportable. As a result, Australia has seen a drastic reduction 
in the availability of legal aid. (…)
In most civil law countries the state of the administration of justice is a source 
for concern. In France there has been an explosion in the volume of litigation and 
a substantial increase in delays. Costs are also worrying. Although these problems 
are not as serious as in some other continental countries, the French system seems 
to suffer from low public confidence; a majority of the population see civil justice 
as being too difficult to attain, too expensive, and unequal. Moreover, judges and 
lawyers share the public’s sense of dissatisfaction”2.
A crise do judiciário ao redor do mundo faz ressurgir a demanda pelos métodos 
alternativos de resolução de disputas. MAURO CAPPELLETI, sem dúvida um 
dos principais mestres do direito processual, em seu clássico estudo sobre o acesso 
à justiça, destaca a relevância dos métodos alternativos de solução de disputas na 
pacificação dos conflitos sociais:
“Devemos estar conscientes de nossa responsabilidade; é nosso dever contribuirpara fazer que o direito e os remédios legais reflitam as necessidades, problemas e 
aspirações atuais da sociedade civil; entre essas necessidades estão seguramente as 
de desenvolver alternativas aos métodos e remédios, tradicionais, sempre que sejam 
demasiado caros, lentos e inacessíveis ao povo; daí o dever de encontrar alternativas 
capazes de melhor atender às urgentes demandas de um tempo de transformações 
sociais em ritmo de velocidade sem precedente”3.
Os métodos alternativos de solução de disputas são, em geral, formas utilizadas 
pelas partes para pacificar um determinado litígio, sem a necessidade de utilização 
de um processo judicial perante o Judiciário. Tratam-se de institutos antiqüíssimos, 
usados em Roma e nos grandes centros de comércio desde a Idade Média. CAR-
REIRA ALVIM, citando a lição de MOREIRA ALVES, relata a evolução dos méto-
dos utilizados para a resolução de conflitos, sem a interferência do Estado:
“No princípio, quando ainda inexistia o Estado, como poder político, os con-
flitos de interesses eram resolvidos pelos próprios litigantes, ou pelos grupos a que 
pertenciam, sendo a transposição dessa modalidade de justiça privada para a justiça 
pública produto de uma lenta e segura evolução. Registra Moreira Alves, com base 
em indícios, que essa evolução se fez em quatro etapas:
a) na primeira, os conflitos entre particulares são, em regra, resolvidos pela força 
(entre a vítima e o ofensor, ou entre os grupos de que cada um dele faz parte), mas o 
Estado — então incipiente — intervém em questões vinculadas à religião; e os cos-
tumes vão estabelecendo, paulatinamente, regras para distinguir a violência legítima 
da ilegítima;
b) na segunda, surge o arbitramento facultativo: a vítima, em vez de usar a vin-
gança individual ou coletiva contra o ofensor, prefere, de acordo com este, receber 
2 ZUCKErman, adrian a.S. Civil 
Justice in Crisis: Comparative 
Perspectives of Civil Procedure. 
new York: oxford, 1999, pp. 
12/13.
3 CaPPEllEti, mauro. os mé-
todos alternativos de Solução 
de Conflitos no Quadro do mo-
vimento Universal de acesso à 
Justiça, in revista de Processo, 
nº 74, ano 19, abril-junho de 
1994, p. 97.
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 55fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
uma indenização que a ambos pareça justa, ou escolher um terceiro (o árbitro) para 
fixá-la;
c) na terceira etapa, nasce o arbitramento obrigatório: o facultativo só era utili-
zado quando os litigantes o desejassem e, como esse acordo nem sempre existia, daí 
resultava que, as mais das vezes, se continuava a empregar a violência para a defesa do 
interesse violado; por isso o Estado não só passou a obrigar os litigantes a escolherem 
árbitro que determinasse a indenização a ser paga pelo ofensor, mas também a asse-
gurar a execução da sentença se, porventura, o réu não quisesse cumpri-la; e
d) finalmente, na quarta e última etapa, o Estado afasta o emprego da justiça 
privativa e, por meio de funcionários seus, resolve os conflitos de interesses surgidos 
entre os indivíduos, executando, à força se necessário, a decisão.
No entanto, mesmo nessa etapa, se as partes concordassem, era lícito dirimir o 
conflito mediante a designação do árbitro.
No direito romano — o registro é ainda do emérito romanista — encontram-se 
exemplos de cada uma dessas quatro etapas: da primeira, na pena de talião (vingança 
privada: olho por olho, dente por dente), estabelecida ainda na Lei das Doze Tábuas; 
da segunda, durante toda a evolução do direito romano, pois sempre se admitiu que 
os conflitos individuais fossem resolvidos por árbitros escolhidos pelos litigantes, 
sem interferência do Estado; da terceira, nos dois primeiros sistemas de processo civil 
romano — o das legis actiones e o per formulas; da quarta, no terceiro desses sistemas 
— a cognitio extraordinária”.4
Entre os métodos alternativos de solução de disputas, a arbitragem e a mediação 
revelam sua importância. A arbitragem é o método pelo qual as partes outorgam 
a uma pessoa ou um grupo de pessoas a tarefa de pacificar um litígio. São pessoas 
escolhidas pelas partes para proferirem decisões com o mesmo conteúdo e a mesma 
força das sentenças judiciais. Em outras palavras, as partes buscam pessoas de con-
fiança delas, que entendem da matéria objeto do conflito e decidem permitir que 
esta parte componha o litígio existente entre elas. A doutrina especializada aponta 
como principais benefícios da arbitragem a celeridade, a confidencialidade, o co-
nhecimento técnico da matéria objeto do litígio pelo árbitro que decidirá o litígio, a 
informalidade do procedimento e o custo, este último questionado por muitos.
Já a mediação, é um método pelo qual um terceiro imparcial ajuda as partes a 
encontrar uma solução aceitável para ambas. O mediador não julga, não compõe o 
litígio. Ele apenas estimula as partes a chegarem a um acordo. A mediação, além de 
apresentar alguns benefícios comuns à arbitragem, como a celeridade na pacificação 
do litígio e a confidencialidade, possui ainda outras vantagens como o fato de ser 
mais justa e produtiva. Por ser um mecanismo de autocomposição, a mediação ten-
de, também, a aumentar a possibilidade de as partes manterem uma relação mesmo 
após o surgimento do conflito — ao passo que os métodos de heterocomposição, 
via de regra, fomentam a litigiosidade entre as partes.
A arbitragem não é novidade no Brasil. O instituto já era previsto no ordena-
mento jurídico brasileiro pela Constituição do Império, em 18245. Embora as cons-
tituições que se seguiram não a tenham expressamente consagrado, a arbitragem foi 
4 alvim, J.E. Carreira. tratado 
Geral da arbitragem. belo ho-
rizonte: mandamento, 2000, 
pp. 15 e 16.
5 “art. 160. nas [causas] cíveis, e 
nas penais civilmente intenta-
das, poderão as Partes nomear 
Juizes Árbitros. Suas Sentenças 
serão executadas sem recurso, 
se assim o convencionarem as 
mesmas Partes”.
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 66fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
mantida pela legislação infraconstitucional, destacando-se, neste ponto, o Decreto 
nº 3.084, de 5 de novembro de 1898, e os Códigos de Processo Civil de 1939 e de 
1973.
O instituto da arbitragem só volta a ser consagrado na Constituição da Repúbli-
ca de 1988, que o prevê expressamente nos §§ 1º e 2º do artigo 114. Contudo, por 
diversos motivos que serão estudados ao longo do curso, foi somente com a promul-
gação da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, que a arbitragem passou a ser 
efetivamente utilizada como um método alternativo de resolução de conflitos.
A mediação, por sua vez, não possui um conjunto normativo que a regulamen-
te. A doutrina estabelece um procedimento padrão, que, no entanto, não deve ser 
seguido como um modelo rígido, inflexível. Nada obstante, há um projeto de lei 
em trâmite no Congresso Nacional (PL nº 4.827/98), apresentado pelo Instituto 
Brasileiro de Direito Processual, que pretende instaurar a mediação paraprocessual. 
Os mediadores funcionariam como auxiliares da justiça, como expõe PETRÔNIO 
CALMON:
“O ponto central da proposta é a instituição da mediação como novo paradigma 
de justiça, em que todas as pessoas e empresas, antes de propor qualquer medida 
judicial, busquem resolver o conflito pela mediação.
Para tanto, a proposta contempla a instituição de um quadro de mediadores 
judiciais, registrados perante cada Tribunal de Justiça, composto dentre advogados 
formados por cursos específicos, mantidos ou supervisionados ela Ordem dos Advo-
gados do Brasil e pelos Tribunais de Justiça. As atividades dos mediadores-advogados 
serão fiscalizadas pela Ordem dos Advogados. A proposta não exclui as entidades 
especializadas em mediação e os mediadores independentes, prevendo o cadastro de 
todos esses que desejarem atuar também para os fins previstos na lei que se propõe.
Com a formação eficiente dos mediadorese seu registro perante os Tribunais, 
espera-se o redirecionamento dos conflitos para o novo mecanismo, em atitude es-
pontânea daqueles que estão na iminência de buscar o Poder Judiciário para resolver 
o conflito”6.
Hoje em dia, os métodos alternativos de solução de disputas são ferramentas 
essenciais na pacificação de litígios. A dinâmica e a complexidade das relações co-
merciais no mundo de hoje exigem que os operadores do direito busquem soluções 
adequadas para cada situação específica, para prevenir e resolver os litígios entre as 
partes.
Parece claro que dificilmente um sistema de solução de controvérsias padrão 
atenderá de forma adequada as necessidades de cada um desses conflitos. Por isso, é 
importante que os bacharéis de direito tenham pleno domínio desses institutos, de 
forma a que possam usá-los da maneira mais adequada possível.
É inegável que as disputas entre uma sociedade anônima e um acionista minori-
tário; um construtor de uma hidrelétrica e o contratante da obra; um consumidor e 
a empresa de telefonia; um locador e um locatário demandam soluções diferentes. 
Pergunta-se:
6 Calmon, Petrônio. funda-
mentos da mediação e da Con-
ciliação. rio de Janeiro: forense, 
2007, p. 136.
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 77fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
1) É eficaz um sistema de solução de conflitos que leva 3 anos para julgar uma 
disputa entre um locador e um locatário a respeito de uma indenização de 
R$ 3.000,00, quando o custo incorrido pelo Estado para manter esse proces-
so do início ao fim é de R$ 30.000,00?
2) É eficaz um sistema de solução de conflitos que mantém parada a construção 
de uma hidrelétrica por 3 anos para decidir se o construtor, de acordo com o 
projeto, deve passar um determinado cano pelo teto ou pelo piso, enquanto 
as partes seguem arcando com os gigantescos custos fixos de um projeto deste 
porte?
3) É eficaz um sistema de solução de conflitos que leva 3 anos para julgar um 
pedido de anulação de uma deliberação de uma empresa com ações negocia-
das em bolsa, enquanto ao longo de todo esse tempo diversas pessoas com-
praram e venderam ações?
Eis a relevância da matéria a ser examinada.
METODOLOGIA
O curso será divido em seis blocos.
No primeiro, estudaremos o conceito de arbitragem e a sua evolução no orde-
namento jurídico brasileiro. Analisaremos as questões referentes à natureza jurídi-
ca do instituto, questionando-se se a arbitragem possui natureza jurisdicional ou 
contratual, ou, ainda, natureza mista ou intermediária, tema ainda controverso na 
doutrina.
A definição de arbitragem oferecida pela doutrina é a seguinte:
A arbitragem é a instituição pela qual as pessoas capazes de contratar confiam a 
árbitros, por elas indicados ou não, o julgamento de seus litígios relativos a direitos 
transigíveis. Esta definição põe em relevo que a arbitragem é uma especial modali-
dade de resolução de conflitos; pode ser convencionada por pessoas capazes, físicas 
ou jurídicas; os árbitros são juízes indicados pelas partes, ou consentidos por elas por 
indicação de terceiros, ou nomeados pelo juiz, se houver ação de instituição judicial 
de arbitragem; na arbitragem existe o ‘julgamento’ de um litígio por uma ‘sentença’ 
com força de coisa julgada.7
A arbitragem – meio alternativo de solução de controvérsias através da interven-
ção de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada, 
decidindo com base nela, sem intervenção estatal, sendo a decisão destinada a assu-
mir a mesma eficácia da sentença judicial – é colocada à disposição de quem quer 
que seja, para a solução de conflitos relativos a direitos patrimoniais acerca dos quais 
os litigantes possam dispor.
Trata-se de mecanismo privado de solução de litígios, através do qual um ter-
ceiro, escolhido pelos litigantes, impõe sua decisão, que deverá ser cumprida pelas 
7 alvim, J. E. Carreira. tratado 
Geral da arbitragem. belo ho-
rizonte: mandamento, 2005, 
p.14.
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 88fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
partes. Esta característica impositiva da solução arbitral (meio heterocompositivo de 
solução de controvérsias) a distancia da mediação e da conciliação, que são meios 
autocompositivos de solução de litígios, de tal sorte que não existirá decisão a ser 
imposta às patês pelo mediador ou pelo conciliador, que sempre estarão limitados à 
mera sugestão (que não vincula as partes).8
A partir destes conceitos, será feito um debate em sala, expondo as diferentes 
posições acerca da natureza jurídica do instituto e os fundamentos nos quais se 
baseiam as diversas correntes.
Nesta fase introdutória também trataremos do princípio da autonomia da vonta-
de, pilar fundamental dos métodos alternativos de resolução de disputas. Por último, 
analisaremos as vantagens e desvantagens da arbitragem e a utilidade deste instituto.
Analisaremos, ainda, a evolução do instituto da arbitragem no ordenamento 
jurídico brasileiro e o tema da constitucionalidade da arbitragem no Brasil. Neste 
ponto, destaca-se o julgamento da SE nº 5.206, em que Ministros de direita e de 
esquerda se uniram em defesa do conservadorismo, na tentativa de decretar a in-
constitucionalidade da Lei nº 9.307/96 (Lei de Arbitragem).
No bloco II, estudaremos o que pode ser objeto de um processo arbitral. Con-
forme estabelece o artigo 1º da Lei nº 9.307/96, somente são arbitráveis litígios en-
tre partes capazes envolvendo direitos patrimoniais disponíveis. Em nosso estudo, 
analisaremos quais são esses direitos e porque somente eles podem ser objeto de um 
processo arbitral.
Por fim, estudaremos as partes e os árbitros. Quais partes podem se submeter à 
arbitragem? Pode haver intervenção de terceiros no processo arbitral? Analisaremos, 
ainda, a possibilidade de submissão de empresas públicas e de sociedades de econo-
mia mista à arbitragem. Veremos também quem pode exercer a função de árbitro, 
quais são suas responsabilidades e os efeitos da equiparação dos árbitros aos funcio-
nários públicos (art. 14, da Lei de Arbitragem). 
O bloco III tratará da convenção de arbitragem.
A finalidade deste bloco é estudar como as partes se submetem à arbitragem. Ex-
plicaremos as diferenças entre cláusula e compromisso arbitral. Qual forma exigida 
por lei para a convenção de arbitragem? Qual a validade das cláusulas de arbitra-
gem anteriores à entrada em vigor da Lei nº 9.307/96? Pode haver cláusula arbitral 
tácita? É válida e eficaz convenção de arbitragem prevista em estatutos e contratos 
sociais de empresas? Examinaremos os efeitos negativos da cláusula de arbitragem, 
que afasta a possibilidade das partes submeterem um determinado litígio ao juízo 
estatal. Veremos, ainda, os tipos de cláusulas arbitrais, diferenciando as cheias e as 
vazias, e os prós e contras da arbitragem institucional e ad hoc.
No bloco IV, trataremos das questões referentes ao juízo arbitral. Estudaremos o 
procedimento arbitral desde sua instauração, com a formação do tribunal, passando 
pela fase cognitiva, até sua extinção. Analisaremos, também, a sentença arbitral e 
suas características e, ainda, os efeitos da coisa julgada na arbitragem.
No bloco V, estudaremos a relação entre a arbitragem e o Poder Judiciário. A 
cooperação entre ambos é essencial, sobretudo em razão do árbitro não possuir o 
8 Carmona, Carlos alberto. 
arbitragem e Processo – Um 
Comentário à lei nº 9.307/96. 
São Paulo: Ed. atlas S.a., 2004, 
2ª edição, p. 51-52.
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 99fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
poder de coerção que os juízes togados detém. Assim, em diversas situações, será 
preciso que o árbitro recorra ao Judiciário para efetivar suas decisões. Exemplo é o 
caso de uma testemunha que se recusa a prestar depoimento, ou o caso de uma das 
partes se tornar relutante à exibição de documentos essenciais para o julgamentoda 
lide. Veremos como o árbitro deve proceder diante destas situações.
Estudaremos, ainda, as ações de nulidade de laudo arbitral e se há possibilidade 
de uma sentença arbitral ser objeto de ação rescisória.
Por fim, será examinado o modo de execução de laudos arbitrais — estrangeiros 
ou domésticos — e a necessidade, ou não, de homologação.
Concluído nosso estudo sobre a arbitragem, passaremos, no bloco VI, a tratar de 
outro importante mecanismo de solução de conflitos: a mediação. Examinaremos 
as diferenças entre a arbitragem e a mediação, e as situações nas quais se recomenda 
a opção entre uma ou outra. Veremos quais são as funções do mediador e como a 
mediação e a conciliação são utilizadas em outros países.
Ao longo do curso será realizado um procedimento arbitral simulado, no qual 
a turma será separada entre partes, advogados e árbitros. Serão realizados todos os 
atos de um processo arbitral normal, desde a redação das peças até a sentença.
Acreditamos que essa divisão da matéria permitirá aos alunos compreender a re-
levância desses métodos alternativos de solução de disputas, permita-se a repetição, 
ferramentas essenciais para a pacificação de conflitos no mundo moderno.
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 1010fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
bloco i – iNtrodução
aula 1. a eficácia do Processo e os métodos alterNativos de 
solução de disPutas
A evolução histórica dos métodos de solução de litígios mostra que o Estado 
foi, paulatinamente, assumindo o papel de pacificador social. Após a dissolução da 
sociedade medieval, houve a passagem da concepção jusnaturalista para uma con-
cepção positivista, que predomina até hoje na maior parte dos países. Essa transfor-
mação está diretamente atrelada ao advento do Estado moderno, conforme noticia 
NORBERTO BOBBIO:
“A sociedade medieval era uma sociedade pluralista, posto ser constituída por uma 
pluralidade de agrupamentos sociais cada um dos quais dispondo de um ordenamen-
to jurídico próprio: o direito aí se apresentava como um fenômeno social, produzido 
não pelo Estado, mas pela sociedade civil. Com a formação do Estado moderno, ao 
contrário, a sociedade assume uma estrutura monista, no sentido de que o Estado 
concentra em si todos os poderes, em primeiro lugar aquele de criar o direito: não se 
contenta em concorrer para esta criação, mas quer ser o único a estabelecer o direito, 
ou diretamente através da lei ou indiretamente através do reconhecimento e controle 
das normas de formação consuetudinária. Assiste-se, assim, àquilo que em outro cur-
so chamamos de processo de monopolização da produção jurídica por parte do Estado”9.
O processo de monopolização da produção jurídica pelo Estado foi acompa-
nhado da monopolização da jurisdição. Esta tem como essência o ato de “dizer 
o direito”, conforme leciona SERGIO BERMUDES, cujos ensinamentos sobre o 
conceito de jurisdição serão abordados com mais profundidade na próxima aula:
“A etimologia do substantivo jurisdição – jurisdicto, em latim – já lhe revela o 
conteúdo. A palavra é formada pela aglutinação de duas outras: juris, genitivo singu-
lar da 3ª declinação, significando do direito, e dictio, nominativo singular da mesma 
declinação, isto é, dicção, ou dição, ato de dizer; de dicere, dizer. Nisto consiste a 
jurisdição na sua essência: dizer o direito, no sentido de identificar a norma de di-
reito objetivo preexistente (ou de elaborá-la, se inexistente) e de fazê-la atuar numa 
determinada situação (…)”10.
Por meio do Poder Judiciário, o Estado exerce sua função jurisdicional, ao impor 
aos titulares de interesses em conflito uma decisão, aplicando as leis abstratamente 
concebidas a um determinado caso concreto. O Estado assumiu, assim, o papel de 
garantidor da paz social, limitando o âmbito da autotutela. O ministro LUIZ FUX 
expõe os motivos para o êxito deste modelo:
“A supremacia dessa solução revelou-se pelo fato incontestável de a mesma provir 
da autoridade estatal, cuja palavra, além de coativa, torna-se a última manifestação 
9 bobbio, norberto. o Positivis-
mo Jurídico: lições da filosofia 
do Direito. São Paulo: Ícone, 
1995, p. 27.
10 bErmUDES, Sergio. introdução 
ao Processo Civil. rio de Janeiro: 
forense, 2006, 4ª ed., p. 19.
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arbitraGEm E mEDiação
do Estado soberano acerca da contenda, de tal sorte que os jurisdicionados devem-na 
respeito absoluto, porque haurida de um trabalho de reconstituição dos anteceden-
tes do litígio, com a participação dos interessados, cercados, isonomicamente, das 
mais comezinhas garantias”11.
Diversos fatores, contudo, fizeram com que o Estado não fosse mais capaz de 
atender à demanda da sociedade, gerando uma crise deste modelo: a globalização, 
que dinamizou as relações sociais, fazendo com que as normas jurídicas perdes-
sem efetividade diante de casos concretos cada vez mais complexos; o processo de 
conscientização de direitos, sobretudo após a consolidação da ordem democrática, 
gerando uma demanda maior por justiça; o advento dos direitos sociais e dos direi-
tos de 3ª geração, que exigem uma atuação positiva do Estado; a judicialização dos 
conflitos sociais; entre diversas outras razões.
Além desses, outros elementos decorrentes do próprio modelo estatal de solu-
ção de disputas também contribuíram para a falência do Estado como pacificador 
social, dentre os quais se destacam o excesso de formalismo, a falta de recursos e 
investimentos por parte dos governos, os elevados custos e a demora na entrega da 
prestação jurisdicional.
ADRIAN ZUCKERMAN, ao realizar um estudo nos sistemas judiciários de 
diversos países, publicado em 1999, aponta três principais problemas do judiciário 
brasileiro:
“The state of the Brazilian administration of civil justice reflects the complexity 
of the social and political conditions of this vast and variable country. Three types of 
problems can be identified. First, there is a shortage of well-educated and properly 
trained lawyers and judges. Second, the administration of justice is poorly equipped 
for dealing with the volume of litigation that enters the courts. Many tasks are 
performed manually which, in more developed systems, are automated or simply 
obsolete. Every new piece of paper is actually sewn to the file of the case with needle 
and thread, and there are few, if any, document reproduction facilities.
Third, numerous laws, some of them quite antiquated, govern civil procedure. 
This aggravates the problem of disparity in the interpretation of the law which, in 
turn, creates uncertainly and further complexity. One of the problems faced when 
a new procedural law comes into effect in Brazil is the very strong conservatism of 
those in charge of the administration of justice, who seek to apply the new rules 
according to obsolete principles. Professor Bermudes suggests that at the root of 
the problems lie not complex and difficult procedures, but the unhelpful attitudes 
of those who operate the procedures and the deep infrastructural flaws of the court 
system”12.
O Judiciário está inegavelmente sobrecarregado. As mais recentes estatísticas in-
dicam que um processo judicial dura, em média, oito anos. Segundo dados do Supe-
rior Tribunal de Justiça, foram julgados, somente neste tribunal, 328.447 processos 
em 2007 — uma média de quase 900 processos por dia. Esse problema, contudo, 
11 fUX, luiz. tutela jurisdicional: 
finalidade e espécie. informati-
vo jurídico da biblioteca minis-
tro oscar Saraiva, v. 14, n.2, jul./
dez. 2002, p. 153/168.
12 ZUCKErman, adrian a.S. Civil 
Justice in Crisis: Comparative 
Perspectives of Civil Procedure. 
new York: oxford, 1999, p. 28.
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não é novo e, tampouco, exclusivo do Brasil. A Ministra NANCY ANDRIGHI 
informa que o problemaremonta à China Imperial13:
“Sob a ótica da busca das soluções é oportuno trazer à baila um singular decreto 
imperial chinês, onde se pode constatar que a falta de acesso ao Poder Judiciário e 
a morosidade da Justiça sempre, desde os mais remotos tempos, são problemas que 
acompanham o Poder Judiciário e já exigiram muita dedicação.
Referido decreto mostra uma trajetória da Justiça no mundo oriental, de milenar 
sabedoria. Na China do século VII, o imperador Hang Hsi, (cf. Legal Institutions 
in Manchú China /Van der Sprenkel, 1962, p. 77), no exercício das suas funções 
imperiais, expediu o seguinte decreto externando a sua vontade, verbis:
Ordeno que todos aqueles que se dirigirem aos tribunais
Sejam tratados sem nenhuma piedade
Sem nenhuma consideração,
de tal forma que se desgostem tanto
da idéia do Direito,
quanto se apavorem com a perspectiva de comparecer
perante um magistrado.
Assim o desejo para evitar que os processos
se multipliquem assombrosamente.
O que ocorreria se:
inexistisse o temor de se ir aos tribunais.
O que ocorreria se:
os homens concebessem a falsa idéia de que teriam à sua
disposição uma justiça acessível e ágil.
O que ocorreria se:
pensassem que os juízes são sérios e competentes.
Se essa falsa idéia se formar, os litígios ocorrerão em
número infinito e a metade da população será insuficiente
para julgar os litígios da outra metade.
É inegável que, hoje, a visão plúmbea do Imperador Chinês mostra-se, absoluta-
mente, inoportuna e extemporânea e incompatível com o regime democrático”.
O Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS retratou sua consternação 
com o Poder Judiciário por meio de um poema, escrito na ocasião em que o Supe-
rior Tribunal de Justiça atingiu a marca de dois milhões de julgamentos14:
“Acromegalia
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) atingiu, em 4 de agosto de 2006, aos 17 
anos de idade, a cifra de dois milhões de julgamentos! Dois milhões de processos! 
Integrante do Tribunal, contribuí com praticamente cinco por cento desse gigantes-
co montante.
De fato, números apurados pela Assessoria de Gestão Estratégica do STJ dão 
conta de que, nos 15 anos em que atuo como ministro, decidi 95.789 processos. 
13 anDriGhi, nancy. mediação e 
outros meios alternativos. au-
diência pública, ministério da 
Justiça, brasília, 17 de setembro 
de 2003.
14 GomES DE barroS, humber-
to. Disponível em: www.stj.gov.
br/portal_stj/publicacao/engi-
ne.wsp?tmp.area=365&tmp.
texto=82724. acesso em 1 de 
fevereiro de 2008.
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arbitraGEm E mEDiação
Não há engano: até a tarde do dia 30 de agosto de 2006, eu decidira 95.789 pro-
cessos. Dividido esse número por 15 (número de anos em que estou no Tribunal), 
obtém-se a média de 6.386 em cada ano ou 532 por mês ou, ainda, 17,73 diários. 
Sou, então, um herói – um mártir da distribuição da Justiça? Coisa nenhuma!
Esses números absurdos traduzem, em verdade, a deformação do Superior Tribu-
nal. Concebido para atuar em situações especiais, unificando a interpretação da lei 
federal, o STJ transformou-se em terceira instância ordinária, com função de alongar 
inda mais a duração dos processos. A apregoada reforma do Poder Judiciário só fez 
substituir o Código de Processo Civil por uma colcha de retalhos, cujas complica-
ções prometem aumentar o trabalho da Corte Superior.
Isso se fez porque interessa à chamada “Fazenda Pública” utilizar o Poder Judi-
ciário como insólito gerente de banco, cuja maior utilidade é “alongar o perfil” da 
dívida interna. À semelhança daqueles gigantes vítimas de acromegalia, o STJ tende 
a crescer. E crescerá indefinidamente, enquanto funcionar como bancário, “rolador 
de dívidas”, a juros irrisórios.
Assim, em lugar de considerar-me herói, quebrador de recordes, merecedor de 
louros olímpicos, sinto-me vítima de doença crônica. O recorde bimilionário, longe 
de trazer alegria, reaviva a memória do poema que escrevi, em 14/8/99, quando a 
Primeira Turma do STJ julgou, em uma sessão, mais de 500 processos. Eis a poesia, 
a que chamei QUATORZE DE AGOSTO:
Votos iguais
Recursos inúteis
Da monotonia
O tédio profundo 
Faz com que a turma 
Se alheie do mundo 
Quinhentos processos 
Passaram por nós 
Que os deglutimos 
Sem dó e sem pena 
Com a indiferença 
De férrea moenda 
O STJ 
Tão bem concebido 
Sucumbe à sina 
De se transformar 
Em reles usina 
E cada ministro 
Perdendo o valor 
Torna-se um chip 
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De computador 
Quatorze de agosto 
Oh, quanto desgosto 
Fazemos agora 
Bem desatentos 
a sessão mais aborrecida 
E mais enervante 
De todos os tempos”
A crise do Judiciário se acentua quando a sociedade não recorre a métodos al-
ternativos de resolução de conflitos, ou quando tais métodos não são aceitos como 
legítimos. Pesquisa realizada em 2005 pela AMB (Associação dos Magistrados Bra-
sileiros) revela que 89,8% dos magistrados consideram que o Poder Judiciário deve 
ter o monopólio da função jurisdicional e que 79,6% acreditam que todas as formas 
alternativas de solução de conflitos (juiz leigo, juiz de paz, juiz arbitral, comissão de 
conciliação prévia) devem estar subordinadas ao Poder Judiciário.
Ocorre que os métodos alternativos de solução de litígios, como expusemos na 
Introdução, são institutos antiqüíssimos, que remontam à Roma antiga, e não uma 
novidade, uma moda, que aparece e desaparece com a mesma facilidade.
O chamado fenômeno da ADR (Alternative Dispute Resolution), movimento sur-
gido nas décadas de 70 e 80 nos Estados Unidos, enfatiza o uso de métodos que 
amenizam a litigiosidade entre as partes. Cada vez mais, surge a consciência de que 
a melhor forma de pacificar a sociedade é simplesmente evitar os litígios. Assim, 
privilegiam-se métodos de autocomposição, caso da conciliação e da mediação, ou 
mecanismos que compõe o litígio, tal qual o Judiciário, mas de forma mais adequa-
da às necessidades das partes, caso da arbitragem.
A utilização dos métodos alternativos de solução de disputas, especialmente o 
uso excessivo desses mecanismos não é uma unanimidade entre os autores. Muitos 
criticam a informalidade desses métodos e os excessivos estímulos, quase coerções, 
à composição entre as partes.
A leitura obrigatória desta aula é composta de dois artigos, um favorável e outro 
crítico ao uso de métodos alternativos de solução de disputas.
O objetivo desta aula é instaurar um debate sobre os benefícios e malefícios da 
utilização destas ferramentas.
CASO
Ronaldo, certo dia, descobre que tem um aneurisma cerebral e que necessita 
de tratamento sério. Ciente disso, entra em contato com seu plano de saúde para 
que este arcasse com todos os custos iniciais do referido tratamento, que custaria 
R$ 1.500,00 para os exames iniciais. Acionado, o plano se posiciona no sentido de 
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não pagar o tratamento. Ronaldo então resolve ajuizar uma ação judicial contra seu 
segurador.
Iniciada a ação, o réu requer a produção de perícia médica, que custará R$ 
2.000,00, para analisar se o tratamento é realmente necessário.
Percebe-se, através do exposto, que o valor para instituir o processo e dar segui-
mento a ele (custas + R$ 2.000,00) é maior do que o valor da causa.
Segundo Richard Posner, um dos grandes estudiosos de law in economics, em 
uma situação como esta, em que o custo do processo se torna maior do que o valor 
da causa, o Judiciário deve se desestimular a instauração desses processos. Será que 
esta é uma saída viável?
BIBLIOGrAfIA OBrIGATórIA
CAPPELLETTI, Mauro. Os Métodos Alternativos de Solução de Conflitos no 
Quadro do Movimento Universal de Acesso à Justiça, in Revista de Processo, 
nº 74, ano 19, abril-junho de 1994, pp. 82/97.
OWEN, Fiss. Against Settlement in The YaleLaw Journal, vol. 93, n. 6, maio de 
1984, pp. 1073/1090. ANEXO I
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AnExO I
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aula 2. Natureza Jurídica da arbitragem
A arbitragem pode ser definida como “a instituição pela qual as pessoas capazes 
de contratar confiam a árbitros, por elas indicados ou não, o julgamento de seus 
litígios relativos a direitos transigíveis”15. Com algumas variações esse conceito de 
arbitragem é adotado pela doutrina especializada.
Diante disso, levanta-se a questão sobre a natureza jurídica do instituto, tema 
ainda não pacífico na doutrina. Questiona-se se a arbitragem possui natureza juris-
dicional, contratual ou privatista, ou, por fim, natureza mista ou intermediária.
Essa discussão se dá devido a características particulares deste instituto.
Por um lado, a arbitragem decorre unicamente da vontade das partes. Um deter-
minado conflito somente será submetido à arbitragem se houver manifestação das 
partes neste sentido. Vigora, portanto, o princípio da autonomia da vontade, que é 
eminentemente privatista. Essa característica se evidencia na medida em que cabe às 
partes determinar qual será a lei (material ou processual) aplicável no procedimento 
arbitral, podendo, ainda, optar por arbitragem de direito ou de eqüidade (art. 2º, 
caput e §1º, da Lei nº 9.307/96). Sobre a manifestação de vontade nos negócios 
jurídicos, discorre CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA:
“Detendo-nos um instante mais sobre o elemento vontade frisamos que o prin-
cípio pelo qual se lhe reconhece o poder criador de efeitos jurídicos denomina-se 
autonomia da vontade, que se enuncia por dizer que o indivíduo é livre de, pela de-
claração da sua própria vontade, em conformidade com a lei, criar direitos e contrais 
obrigações”16.
Os poderes dos árbitros decorrem desta manifestação de vontade e são por ela 
limitados. Os árbitros só podem dirimir os conflitos que forem expressamente sub-
metidos a eles, por partes absolutamente capazes, restando inegavelmente limitado 
o seu escopo de jurisdição. A Lei de Arbitragem determina, ainda, que os árbitros 
estão obrigados a seguir as regras estipuladas pelas partes na cláusula ou compro-
misso arbitral. O inciso IV do art. 32 da referida lei estabelece que é nula a sentença 
arbitral que for proferida fora dos limites estabelecidos pelas partes. Tudo isso con-
tribui para que se conclua pela natureza contratual da arbitragem.
Entretanto, por outro lado, arbitragem possui características que a distanciam 
dos conceitos privatistas.
A lei estabelece que os árbitros são juízes de fato e de direito e que a sentença por 
eles proferidas não está sujeito a recurso ou homologação pelo Judiciário (art. 18, 
Lei nº 9.307/96). Além disso, a sentença proferida pelos árbitros constitui título 
executivo judicial, com a mesma força que qualquer sentença ou acórdão proferido 
pelos órgãos do Poder Judiciário (art. 475-N, IV do Código de Processo Civil).
Assim, para que se possa prosseguir na discussão sobre a natureza jurídica da ar-
bitragem, cabe abordar, primeiramente, o conceito de jurisdição. Para tanto, trans-
crevam-se os ensinamentos de SERGIO BERMUDES sobre o tema:
15 alvim, J. E. Carreira. tratado 
Geral da arbitragem belo ho-
rizonte: mandamento, 2005, 
p.14.
16 PErEira, Caio mario da Silva. 
instituições de Direito Civil, vol. 
i. rio de Janeiro: forense, 2005, 
21ª edição, pp. 478/479.
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“A etimologia do substantivo jurisdição – jurisdicto, em latim – já lhe revela o 
conteúdo. A palavra é formada pela aglutinação de duas outras: juris, genitivo singu-
lar da 3ª declinação, significando do direito, e dictio, nominativo singular da mesma 
declinação, isto é, dicção, ou dição, ato de dizer; de dicere, dizer. Nisto consiste a 
jurisdição na sua essência: dizer o direito, no sentido de identificar a norma de di-
reito objetivo preexistente (ou de elaborá-la, se inexistente) e de fazê-la atuar numa 
determinada situação…
(…)
A jurisdição só o Estado pode exercê-la. Trata-se de um atributo da sua sobera-
nia. Giuseppe Chiovenda a vê, corretamente, como uma atividade substitutiva. No 
exercício da jurisdição, o Estado substitui por sua vontade, coativamente imposta, a 
vontade das partes em lide ou – diga-se por extensão – a vontade do titular da pre-
tensão concernente à matéria de relevância social. Pode acontecer, como acontece no 
mais das vezes, que a vontade do Estado coincida com a de um dos litigantes ou com 
a do titular do interesse não conflituoso. Todavia, não é a vontade deles que prevale-
ce, senão a vontade do Estado, enunciada no ato pelo qual ele presta a jurisdição. A 
vontade jurisdicional do Estado é substitutiva da vontade das partes, ainda quando 
parte seja o próprio Estado por um dos componentes do seu imenso e formidável 
organismo.
Já que se falou em Chiovenda, cabe a nota, em páginas de introdução ao processo 
civil, de que ele é o pai da processualística moderna. Hauriu a ciência dos grandes 
mestres alemães, como Oskar von Bülow e Adolf Wach, que divulgou em italiano, 
em inúmeras publicações e na sua cátedra, na Universidade de Roma, tornando-os 
acessíveis aos muitos que, como eu, não transpõem as barreiras íngremes do idioma 
de Goethe, mas juntou à sistematização que empreendeu muitas concepções magis-
trais dele próprio, na obra que constitui ponto de partida para os grandes avanços 
alcançados no século XX, que o viu desaparecer em 1937.
A jurisdição é função estatal de aplicação do direito objetivo para a prevenção 
ou solução de lides, ou para a administração de interesses sociais relevantes. Eis a 
sua natureza, distinguida pelo fato de que os atos jurisdicionais são autoritários, 
impondo-se aos litigantes ou aos titulares de interesses sociais significativos, e substi-
tuindo-lhes a vontade. Desprovida de autoridade e despida do seu caráter substituti-
vo, a jurisdição converte-se-ia numa espécie de atividade consultiva, ou conselheiral, 
frustrando-se, assim, a função estatal de promover a paz e o equilíbrio sociais pela 
administração da justiça.
(…)
No sistema constitucional brasileiro (não necessariamente noutros), a jurisdi-
ção é entregue a um poder do Estado, o Poder Judiciário (de judiciarius, adjetivo 
de judicium, julgamento, ato de julgar, que vemde judex, juiz; de judicare, julgar, 
este último de jus, direito, e dicere, dizer), integrado sempre por agentes estatais, 
chamados juízes, substantivo cuja etimologia se acaba de explicar (não importa que 
o órgão onde atuam lhes confira denominação especial, como a de ministro ou de-
sembargador), investidos de dignidade especialíssima, e cercados das garantias de 
vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios (CF, art. 95, I, II, III), 
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não em proveito próprio, mas em benefício dos jurisdicionados, para que exerçam 
sua função com independência, pois, ao se desincumbirem dela, como adverte Chio-
venda, só estão sujeitos à lei (CPC, art. 126) e aos ditames da sua consciência” 17.
A corrente defensora da natureza jurisdicional afirma que, uma vez que a arbi-
tragem declara o direito aplicável ao caso concreto, não há como não reconhecer 
sua jurisdicionalidade. Entre os defensores dessa primeira corrente18, está CARLOS 
ALBERTO CARMONA, que afirma:
“O art.32 [da Lei 9.307/96] afirma que a decisão final dos árbitros produzirá os 
mesmos efeitos da sentença estatal, constituindo a sentença condenatória título exe-
cutivo que, embora não oriundo do Poder Judiciário, assume a categoria de judicial. 
O legislador optou, assim, por adotar a tese jurisdicional da arbitragem, pondo 
termo à atividade homologatória do juiz, fator e emperramento da arbitragem. Cer-
tamente continuarão a surgir críticas, especialmente de processualistas ortodoxos 
que não conseguem ver a atividade processual – e muito menos jurisdicional – fora 
do âmbito da tutela estatal estrita. Para rebater tal idéia tacanha de jurisdição, não 
há lição mais concisa e direta que a de Giovanni Verde19: ‘A experiência tumultuosa 
destes últimos quarenta anos nos demonstra que a imagem do Estado onipotente e 
centralizador é um mito, que não pode (e talvez não mereça) ser cultivado. Deste 
mito faz parte a idéia de que a justiça deva ser administrada em via exclusiva pelos 
seus juízes’”.20
Ainda em defesa do caráter jurisdicional da arbitragem, independente da manei-
ra que se constitui o tribunal arbitral, veja-se o entendimento do Desembargador 
CARREIRA ALVIM:
“Quando se afirma a base convencional da arbitragem, não se define a sua natu-
reza jurídica, senão identifica-se a forma por que ela se constitui. Por idêntica razão, 
ninguém diria que o Tribunal do Júri tem natureza jurídica aleatória pelo simples 
fato de serem os jurados escolhidos por sorteio”21.
Em sentido oposto, os defensores da corrente contratual ou privatista, afirmam 
que a arbitragem possui natureza eminentemente contratual, uma vez que as partes, 
utilizando-se da autonomia da vontade, pactuam no sentido de que seus respectivos 
direitos transigíveis serão decididos por juízo próprio, que não a jurisdição forneci-
da pelo Estado. Essa posição é sustentada por diversos autores estrangeiros, valendo 
destacar, dentre eles, Giuseppe Chiovenda e Salvotore Satta.
Em posição intermediária, na qual é reconhecido o patente caráter privado exis-
tente no momento em que as partes escolhem a arbitragem como meio de resolução 
de um conflito, sem, contudo, deixar de conhecer o caráter público da arbitragem 
no momento em que ocorre a resolução de um conflito, filia-se ALEXANDRE 
FREITAS CÂMARA, que afirma:
17 bErmUDES, Sergio. introdu-
ção ao Processo Civil. rio de 
Janeiro: Ed. forense, 2006, 4ª 
ed., pp. 19, 21, 22, 24 e 29.
18 anGEliS, Dante barrios de. El 
proceso civil, comercial y penal 
de américa latina; PalÁCio, 
lino Enrique. manual de de-
recho procesal civil; aroCa, 
montero. Comentário breve a 
la ley de arbitraje; alvim, J.E. 
Carreira. tratado geral da arbi-
tragem; fiGUEira JÚnior, Joel 
Dias. arbitragem, jurisdição e 
execução.
19 vErDE, Giovanni. arbitrato 
e giurisdizione, in l’arbitrato 
secondo la legge 28/83. ná-
poles: Jovene Editore, 1985, p. 
161/182.
20 Carmona, Carlos alberto. 
arbitragem e Processo – Um 
Comentário à lei nº 9.307/96. 
São Paulo: Ed. atlas, 2004, 2ª 
ed., p. 45.
21 alvim, J. E. Carreira. tratado 
Geral da arbitragem. belo hori-
zonte: Ed. mandamentos, 2000, 
p. 133.
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“Parece-me que as duas posições são criticáveis. Em primeiro lugar, deve-se afir-
mar, a meu juízo, a função exercida pelos árbitros é pública, por ser função de paci-
ficação de conflitos, de nítido caráter de colaboração com o Estado na busca de seus 
objetivos essenciais. De outro lado, parece inegável que a arbitragem, se inicia por 
ato de direito privado, qual seja, a convenção de arbitragem, que será estudada mais 
adiante. Não se pode, porém, confundir a convenção de arbitragem, ato que institui 
o procedimento arbitral, com arbitragem em si. É a natureza desta, e não daquele, 
que se busca, e tal natureza é, a meu juízo, a de função pública.
Pública, mas não estatal, e – por conseguinte – não se poderia considerar que tal 
função é jurisdicional. Pensar de outra forma, a meu ver, seria infringir o monopó-
lio estatal da jurisdição, o que não me parece possível. Relembre-se agora o que já 
disse anteriormente: o Estado não possui o monopólio da Justiça, mas possui o da 
Jurisdição.
É preciso, ainda, afirmar minha convicção no sentido de que a arbitragem é 
verdadeiro processo. Esta afirmação deve ser explicada com cuidado, para que não 
seja mal compreendida. Encontra-se superado pela melhor doutrina processual o 
velho preconceito de afirmar que só existe processo jurisdicional. Mas moderna-
mente, encontra-se em doutrina a afirmação de que deve-se considerar processo todo 
procedimento realizado em contraditório. Explique-se: há no direito uma série de 
procedimentos, entendidos estes como seqüências ordenadas de atos destinados à 
elaboração de um provimento. Toda vez que um procedimento se realiza em con-
traditório, isto é, toda vez que na seqüência de atos que compõe o procedimento se 
tem assegurada a participação (ao menos potencial) dos interessados no provimento 
(assim entendidos todos aqueles que serão alcançados pelos efeitos de tal provimen-
to), ter-se-á um processo.
Assim sendo, pode-se falar em processo administrativo, em processo legislativo e, 
até mesmo, em processo arbitral, ao lado do tradicionalmente reconhecido processo 
jurisdicional. Este se distingue dos demais processos por ter como elemento intrín-
seco uma relação processual que se estabelece entre Estado-Juiz, autor e réu (além de 
alguns outros sujeitos que podem se incorporar a tal relação, como o assistente). O 
processo jurisdiciona, portanto, é processo como os outros (o administrativos, por 
exemplo), por ser um procedimento realizado em contraditório, mas se distingue 
dos demais por ter intrínseca uma relação jurídica diferente das que se apresentam 
nos demais tipos de processo. Pode-se, assim, afirmar que o procedimento em con-
traditório é um ‘módulo processual’, cuja presença é capaz de atribuir a determinado 
instituto a natureza de processo, mas para que tal processo seja jurisdicional é ne-
cessário que, além deste ‘módulo processual’, forme-se a relação jurídica processual 
entre as partes e o Estado.
No processo arbitral, além do procedimento em contraditório, instaura-se uma 
relação processual entre as partes e o árbitro (ou Tribunal Arbitral). Esta relação pro-
cessual é diferente da que se estabelece no processo jurisdicional na medida em que 
o árbitro, por não ter poder de império, não se põe acima das partes (embora, assim 
como o Estado-juiz, delas seja eqüidistante). Assim sendo, processo arbitral e pro-
cesso jurisdicional se distinguem intrinsecamente, uma vez que possuem distintas 
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FGV DIREITO RIO 3939fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
relações processuais, ainda que ambos possam ser muito semelhantes(e até mesmo 
iguais) do ponto de vista extrínseco (ou seja, do ponto de vista do procedimento, que 
se realiza obrigatoriamente em contraditório).
Sendo a arbitragem um procedimento que se realiza obrigatoriamente em con-
traditório (o que, aliás, é determinado de forma cogente pela lei de arbitragem, que 
impõe a observância de tal princípio no procedimento arbitral), faz-se presente o 
‘módulo processual’, devendo-se considerar, pois, que a arbitragem é um processo. 
Não, porém, um processo jurisdicional, pois a jurisdição é monopólio do Estado, 
não podendo ser exercida pelo árbitro, o qual é um ente privado. Ademais, não se faz 
presente na arbitragem a relação jurídica processual jurisdicional, qual seja, aquela 
que se estabelece entre as partes e o Estado-Juiz. Não há, portanto, como se admitir 
a natureza jurisdicional da arbitragem, embora não se possa negar o múnus públi-
co exercido pelo árbitro, em sua atividade privada, de busca da pacificação social. 
Com isto, coloco-me numa posição publicista frente à arbitragem, negando a tese de 
quem vê neste instituto uma figura exclusivamente regulada pelo direito privado”22.
Tal discussão acerca da natureza jurídica da arbitragem ainda não encontra so-
lução pacífica, contudo, é possível notar que grande parte da doutrina se filia ao 
entendimento de que prevalece a natureza jurisdicional da arbitragem.
Apesar desta discussão não impedir o avanço do uso da arbitragem como meio 
de resolução de conflitos, ela é de extrema relevância, conforme veremos adiante.
BIBLIOGrAfIA OBrIGATórIA
ALVIM, J. E. Carreira. Direito Arbitral. Rio de Janeiro: Forense, 2007, 3ª edição, 
pp. 33/50.
22 CÂmara, alexandre de freitas. 
Arbitragem – Lei nº9.307/96. 
rio de Janeiro: Ed. lumen Júris, 
4ª Ed., 2005, pp. 12-15
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 4040fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
aula 3. o PriNcíPio da iNafastabilidade do coNtrole JurisdicioNal 
e a arbitragem No ordeNameNto Jurídico brasileiro
Nas fases primitivas da civilização, quando ainda não havia o “Estado” como o 
concebemos, os conflitos surgidos no âmbito social eram resolvidos à força, pelos 
próprios sujeitos que figuravam no litígio. Vigia o regime da vingança privada 
e da autotutela. Não havia o conceito de imparcialidade ou a idéia de que era 
preciso entregar a um terceiro a tarefa de dirimir o conflito; não havia sequer a 
noção de estabelecerem-se regras abstratas e neutras para serem aplicadas no caso 
concreto.
Com o passar do tempo, iniciou-se a consciência de que seria possível alcançar 
uma solução amigável e imparcial, por meio da indicação de um terceiro, alheio ao 
conflito e de dotado de confiança de ambas as partes, para que este buscasse a me-
lhor solução. JOSÉ CRETELLA NETO afirma que a idéia de arbitragem remonta 
à Grécia Antiga:
“Ténékides sugere que a arbitragem era tão comum na Grécia Antiga que os he-
lenos a faziam remontar na sua origem à própria Mitologia.
A Mitologia grega refere-se a Paris, filho de Príamo e Hécula, no monde Ida, 
funcionando como árbitro entre Atena, Príamo e Afrodite, que disputavam a maçã 
de ouro, destinada à mais bela. O litígio foi decidido em favor de Afrodite, que 
subornou o árbitro, prometendo-lhe, em troca, o amor de Helena, raptada, poste-
riormente, por Paris, daí resultando a Guerra de Tróia. E o rei Acrision, da cidade de 
Argos, pai de Danae, teria instituído o primeiro tribunal internacional, ao qual se 
referem Pausanias e Plutarco, em suas obras. A mais antiga arbitragem teria ocorrido 
entre Messenia e Esparta, em 740 a.C”23.
No Brasil, a arbitragem surge pela primeira vez na Constituição do Império de 
1824, que dispunha, no art. 160, a possibilidade das partes de indicarem árbitros 
para solução de controvérsias.
O Código Comercial brasileiro de 1850 previa no artigo 20 que “serão neces-
sariamente decididas por árbitros as questões e controvérsias a que o Código Co-
mercial dá esta forma de decisão”. Como se vê, o Código Comercial estabelecia a 
arbitragem obrigatória para determinadas causas, o que, além de contrariar o texto 
constitucional da época, ia de encontro ao próprio espírito do instituto, que, como 
vimos, tem por fundamento a autonomia da vontade. A obrigatoriedade do institu-
to foi afastada pela Lei nº 1.350 de 14 de setembro 1866.
A arbitragem deixou de ter previsão constitucional a partir da Constituição da 
República de 1891, sendo regulada por normas infraconstitucionais, dentre as quais 
se destacam o Decreto nº 3.900 de 1867, que serviu de base para a legislação sobre 
arbitragem nos planos estaduais, quando não vigia o sistema de unidade processu-
al; o Decreto nº 3.084, de 1898, que consolidou a legislação de arbitragem de sua 
época; o Código de Processo Civil de 1939, que dedicou o Livro IX somente ao 
23 CrEtElla nEto, José. Curso 
de arbitragem. rio de Janeiro: 
forense, 2004, p. 6.
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FGV DIREITO RIO 4141fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
instituto; e, finalmente, o Código de Processo Civil de 1973, que consagrou o juízo 
arbitral em diversos dispositivos24.
A Constituição de 1988 voltou a consagrar o instituto da arbitragem, mas foi a 
Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, que estabeleceu um marco na evolução 
legislativa do instituto.
É inegável o avanço da arbitragem após a entrada em vigor da Lei 9.307/96, 
sobretudo a partir do reconhecimento de sua constitucionalidade pelo Supremo 
Tribunal Federal. Antes da Lei de Arbitragem entrar em vigor, o Supremo Tribunal 
Federal havia adotado posição no sentido de que a cláusula arbitral não poderia ser 
objeto de execução específica, devido ao princípio da inafastabilidade do controle 
jurisdicional. Entendia o Supremo Tribunal Federal que, surgida uma lide especí-
fica, as partes teriam o direito de submetê-la a arbitragem, através da celebração de 
compromisso arbitral. 
Entretanto, o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional vedava a 
possibilidade das partes, antes mesmo do surgimento do litígio, no momento da 
celebração do contrato, estipularem que todo e qualquer litígio que eventualmente 
surgisse na execução daquele contrato seria submetido à arbitragem. Ou melhor: as 
partes poderiam incluir tal cláusula no contrato, mas o Supremo Tribunal Federal 
não reconhecia o direito de uma das partes requerer a execução específica desta 
cláusula, solicitando ao Judiciário que compelisse a parte recalcitrante a se submeter 
à arbitragem. 
A Lei 9.307/96 modificou tal situação, estabelecendo, então, que a cláusula ar-
bitral gera um efeito negativo, que exclui dos tribunais estatais a possibilidade de 
se conhecer e julgar as disputas relativas aos contratos que contêm cláusula arbitral. 
Estabeleceu-se, dessa forma, que se uma parte propuser ação relativa a contrato que 
contenha cláusula arbitral, alegando o réu a existência de convenção de arbitragem 
(art. 301, IX, do CPC), o juiz deverá extinguir o processo, sem julgamento do mé-
rito, conforme prescrito no art. 267 do CPC.
Destaque-se que, ao contrário do afirmado anteriormente à Lei 9.307/96, hoje 
em dia, tanto a cláusula arbitral quanto o compromisso arbitral (espécies do gênero 
convenção de arbitragem), conforme definido no art. 3º da Lei de Arbitragem, 
produzem o mesmo efeito de afastar a jurisdição estatal. Sobre o tema, eis a posição 
da doutrina:
“Segundo a sistemática adotada, tanto a cláusula quanto o compromisso excluem 
a jurisdição estatal, efeito que até o advento da Lei 9.307/96 só era produzido pelo 
compromisso arbitral, ex vi do art. 301, IX, do Código de Processo Civil, em sua 
redação original.
Dessa forma, a cláusula compromissória – pacto através do qual os contratante 
avençam, por escrito, submeter à arbitragem a solução de eventual litígio que possa 
decorrer de uma determinada relação jurídica – passa a ser apta a afastar a compe-
tência do juiz estatal.
OLegislador não quis ousar demais: poderia ter feito, como na Espanha, a com-
pleta identificação entre a cláusula e o compromisso, deixando inclusive de utilizar 
24 alvim, J. E. Carreira. tratado 
Geral da arbitragem. belo hori-
zonte: Ed. mandamentos, 2000, 
pp. 17/20.
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arbitraGEm E mEDiação
terminologia diferenciada (os espanhóis tratam apenas do convenio arbitral, aban-
donando os vocábulos cláusula e compromisso), tudo para se demonstrar a ruptura 
do velho sistema que revelava ser a cláusula um mero pré-contrato do compromisso. 
Muito embora o legislador brasileiro não tenha revolucionado a terminologia pre-
dominante, mudou por completo os conceitos: hoje, no Brasil, pode-se instituir 
arbitragem apenas e tão-somente com base na cláusula compromissória, dispensada 
a formalidade do compromisso.
Este também é o entendimento da jurisprudência:
‘PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CLÁUSULA ARBITRAL. 
LEI DE ARBITRAGEM. APLICAÇÃO IMEDIATA. EXTINÇÃO DO PROCES-
SO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. CONTRATO INTERNACIONAL. 
PROTOCOLO DE GENEBRA DE 1923.
- Com a alteração do art. 267, VII, do CPC pela Lei de Arbitragem, a pactuação 
tanto do compromisso como da cláusula arbitral passou a ser considerada hipótese 
de extinção do processo sem julgamento do mérito.
- Impõe-se a extinção do processo sem julgamento do mérito se, quando invo-
cada a existência de cláusula arbitral, já vigorava a Lei de Arbitragem, ainda que o 
contrato tenha sido celebrado em data anterior à sua vigência, pois, as normas pro-
cessuais têm aplicação imediata.
- Pelo Protocolo de Genebra de 1923, subscrito pelo Brasil, a eleição de compro-
misso ou cláusula arbitral imprime às partes contratantes a obrigação de submeter 
eventuais conflitos à arbitragem, ficando afastada a solução judicial.
- Nos contratos internacionais, devem prevalecer os princípios gerais de direito 
internacional em detrimento da normatização específica de cada país, o que justifica 
a análise da cláusula arbitral sob a ótica do Protocolo de Genebra de 1923. Prece-
dentes.
- Recurso especial parcialmente conhecido e improvido’. (REsp 712.566/RJ, Rel. 
Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, DJ de 05.09.05)
A cláusula arbitral passou a poder ser objeto de execução específica a partir da 
entrada em vigor da Lei de Arbitragem porque o art. 7º da Lei nº 9.307/96 dispõe 
que ‘Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição 
da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a cotação da outra parte para 
comparecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência 
especial para tal fim’”25.
Por óbvio, este dispositivo representava uma inovação, contrariando a jurispru-
dência até então sedimentada no Supremo Tribunal Federal. Isso levou muitos au-
tores a suscitarem a inconstitucionalidade do art. 7º da Lei de Arbitragem -- além de 
outros dispositivos --, sob o fundamento de que afrontaria a garantia constitucional 
de inafastabilidade da jurisdição estatal (art. 5º, XXXV, CF: “a lei não excluirá da 
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito”).
Veja-se o seguinte trecho de tal decisão:
“Voto Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE:
25 Carmona, Carlos alberto. 
arbitragem e Processo – Um 
Comentário à lei nº 9.307/96. 
São Paulo: Ed. atlas S.a., 2004, 
2ª edição, pp. 34/35.
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Ora, essa impossibilidade não a pode suprir a lei ordinária, sem ferir a garantia 
constitucional de que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça de direito” (CF, art. 5º, XXXV).
Só não a transgride o compromisso porque, por força dele, são os próprios titu-
lares dos interesses objeto de uma lide já concretizada que, podendo submetê-la à 
jurisdição estatal, consentem em renunciar à via judicial e optar pela alternativa da 
arbitragem para solucioná-la. E só para isso.
Na cláusula compromissória, entretanto, o objeto dessa opção, posto que con-
sensual, não são lides já determinadas e concretizadas, como se dá no compromisso: 
serão lides futuras e eventuais, de contornos indefinidos; quanto muito, na expressão 
de Carnelutti (ob. Cit., p. 550), Lides determináveis pela referência ao contrato de 
cuja execução possam vir a surgir.
A renúncia, com força de definitiva, que aí se divisasse à via judicial já não se legiti-
maria por derivação da disponibilidade do objeto do litígio, que pressupõe a sua deter-
minação, mas, ao contrário, consubstanciaria renúncia genérica, de abjeto indefinido, 
à garantia constitucional de acesso à jurisdição, cuja validade os princípios repelem.
Sendo a vontade da parte, manifestada na cláusula compromissória, insuficien-
te – dada a indeterminação do objeto – e, pois, diversa da necessária a compor o 
consenso exigido à formação do compromisso, permitir o suprimento judicial seria 
admitir a instituição de um juízo arbitral com dispensa da vontade bilateral dos li-
tigantes, que, só ela, lhe pode emprestar legitimidade constitucional: entendo nesse 
sentido a lição de Pontes (ob. Cit., XV/224) de que fere o princípio constitucional 
invocado – hoje, art. 5º, XXXV, da Constituição – atribuir, ao compromisso que 
assim se formasse por provimento judicial substitutivo do assentimento de uma das 
partes, ‘eficácia fora do que é a vontade dos figurantes em se submeterem’”. (SE 5206 
AgR/EP – Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTECE, J 12.12.01, DJ 30.04.04)
Esta posição sustentada por dois dos mais influentes ministros do STF, Sepúlve-
da Pertence e Moreira Alves, ficou vencida, tendo o STF reconhecido a constitucio-
nalidade dos dispositivos da Lei de Arbitragem, por maioria:
1. Sentença estrangeira: laudo arbitral que dirimiu conflito entre duas sociedades 
comerciais sobre direitos inquestionavelmente disponíveis - a existência e o montan-
te de créditos a título de comissão por representação comercial de empresa brasileira 
no exterior: compromisso firmado pela requerida que, neste processo, presta anuên-
cia ao pedido de homologação: ausência de chancela, na origem, de autoridade ju-
diciária ou órgão público equivalente: homologação negada pelo Presidente do STF, 
nos termos da jurisprudência da Corte, então dominante: agravo regimental a que se 
dá provimento,por unanimidade, tendo em vista a edição posterior da L. 9.307, de 
23.9.96, que dispõe sobre a arbitragem, para que, homologado o laudo, valha no Brasil 
como título executivo judicial. 2. Laudo arbitral: homologação: Lei da Arbitragem: 
controle incidental de constitucionalidade e o papel do STF. A constitucionalidade da 
primeira das inovações da Lei da Arbitragem - a possibilidade de execução específica 
de compromisso arbitral - não constitui, na espécie, questão prejudicial da homolo-
ARBITRAGEM
FGV DIREITO RIO 4444fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
gação do laudo estrangeiro; a essa interessa apenas, como premissa, a extinção, no 
direito interno, da homologação judicial do laudo (arts. 18 e 31), e sua conseqüente 
dispensa, na origem, como requisito de reconhecimento, no Brasil, de sentença arbitral 
estrangeira (art. 35). A completa assimilação, no direito interno, da decisão arbitral à 
decisão judicial, pela nova Lei de Arbitragem, já bastaria, a rigor, para autorizar a ho-
mologação, no Brasil, do laudo arbitral estrangeiro, independentemente de sua prévia 
homologação pela Justiça do país de origem. Ainda que não seja essencial à solução do 
caso concreto, não pode o Tribunal - dado o seu papel de “guarda da Constituição” - se 
furtar a enfrentar o problema de constitucionalidade suscitado incidentemente (v.g. 
MS 20.505, Néri). 3. Lei de Arbitragem (L. 9.307/96): constitucionalidade, em tese, 
do juízo arbitral; discussão incidental da constitucionalidade de vários dos tópicos da 
nova lei,especialmente acerca da compatibilidade, ou não, entre a execução judicial 
específica para a solução de futuros conflitos da cláusula compromissória e a garantia 
constitucional da universalidade da jurisdição do Poder Judiciário (CF, art. 5º, XXXV). 
Constitucionalidade declarada pelo plenário, considerando o Tribunal, por maioria de 
votos, que a manifestação de vontade da parte na cláusula compromissória, quando da 
celebração do contrato, e a permissão legal dada ao juiz para que substitua a vontade da 
parte recalcitrante em firmar o compromisso não ofendem o artigo 5º, XXXV, da CF. 
Votos vencidos, em parte - incluído o do relator - que entendiam inconstitucionais a 
cláusula compromissória - dada a indeterminação de seu objeto - e a possibilidade de a 
outra parte, havendo resistência quanto à instituição da arbitragem, recorrer ao Poder 
Judiciário para compelir a parte recalcitrante a firmar o compromisso, e, conseqüen-
temente, declaravam a inconstitucionalidade de dispositivos da Lei 9.307/96 (art. 6º, 
parág. único; 7º e seus parágrafos e, no art. 41, das novas redações atribuídas ao art. 
267, VII e art. 301, inciso IX do C. Pr. Civil; e art. 42), por violação da garantia da 
universalidade da jurisdição do Poder Judiciário. Constitucionalidade - aí por decisão 
unânime, dos dispositivos da Lei de Arbitragem que prescrevem a irrecorribilidade 
(art. 18) e os efeitos de decisão judiciária da sentença arbitral (art. 31). (SE 5206 AgR/
EP – Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTECE, J 12.12.01, DJ 30.04.04)
 
O reconhecimento da constitucionalidade do art. 7º da Lei de Arbitragem, per-
mitindo a execução específica da cláusula de arbitragem foi um passo essencial para 
o desenvolvimento da arbitragem no Brasil.
BIBLIOGrAfIA OBrIGATórIA
SE nº 5206 AgR/EP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTECE, j. 12.12.01, DJ 
30.04.04.
BIBLIOGrAfIA OpCIOnAL
RTJ 68/382 – Caso Lage – ANEXO II
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AnExO II
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bloco ii - arbitragem - fuNdameNtos
aula 4. as Partes Na arbitragem – arbitrabilidade subJetiva
A Lei de Arbitragem estabelece que “as partes capazes de contratar poderão valer-
se da arbitragem para dirimir litígios (...).” (art. 1º).
O dispositivo legal refere-se à capacidade jurídica estabelecida na legislação civil 
(art. 1º e seguintes do Código Civil). Também é relevante atentar para a regra pre-
vista no art. 7º da Lei de Introdução ao Código Civil, segundo a qual a capacidade 
da parte para celebrar um determinado negócio jurídico é regida pela lei do seu 
domicílio.
Uma primeira discussão que surge sobre quais partes podem se submeter à ar-
bitragem diz respeito aos entes despersonalizados. Um condomínio, por exemplo, 
não tem personalidade, mas é indiscutível a capacidade deste ente ser parte num 
processo judicial. O mesmo ocorre com os Espólios e as sociedades de fato ou irre-
gulares.
Por isso, a doutrina tende a reconhecer a legitimidade destes entes para figurar 
como partes em procedimentos arbitrais.
Outra questão relevante é suscitada pela parte final do artigo 1º da Lei de Arbi-
tragem, que estabelece que as partes capazes podem submeter à arbitragem litígios 
sobre “direitos patrimoniais disponíveis.”
A leitura deste dispositivo na sua integralidade leva à conclusão de que a parte 
tem que ser capaz e poder dispor, transigir sobre o direito submetido à arbitragem.
Daí, conclui-se que as partes que têm apenas capacidade de administração de 
bens, e não de disposição, não têm poderes para celebrar uma convenção de arbi-
tragem válida. É o caso do inventariante, do administrador judicial na falência e 
o síndico de um condomínio. Para celebrar uma convenção de arbitragem, essas 
partes necessitam das respectivas autorizações exigidas por lei para dispor de direi-
tos (autorização judicial no caso do inventariante e do administrador judicial e da 
assembléia de condôminos no caso do condomínio).
CASO 
PRAÇABRAS, empresa estatal, criada para cuidar da manutenção de praças e 
outros logradouros públicos, celebrou contrato com a CAPITAL S.A., empresa pri-
vada, outorgando a esta última o direito de expor a sua logomarca em diversas 
praças, mediante a assunção da obrigação pela CAPITAL de arcar com os custos de 
manutenção dessas áreas.
O contrato contém cláusula compromissória, na qual as partes se comprome-
tem a submeter qualquer litígio decorrente do contrato à arbitragem, a ser realiza-
da no Rio de Janeiro, de acordo com as regras da Câmara FGV de Conciliação e 
Arbitragem.
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FGV DIREITO RIO 6363fGv DirEito rio
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Surgido um conflito entre as partes no curso da execução do contrato, a CA-
PITAL deu início ao procedimento arbitral. Ao responder o requerimento de ar-
bitragem, a PRAÇABRAS recusou-se a se submeter a arbitragem, alegando ser ela 
empresa estatal e que, por isso, não teria capacidade de dispor sobre os seus direitos, 
sendo a cláusula compromissória, por essa razão, nula de pleno direito.
Devem os árbitros reconhecer a nulidade da cláusula compromissória e a incapa-
cidade da PRAÇABRAS de se submeter à arbitragem? 
BIBLIOGrAfIA OBrIGATórIA
Acórdão Processo nº 8.217/93, TCU. Revista de Direito Administrativo nº 193, 
jul/set de 1993. ANEXO III
AgRg no MS 11.308/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julga-
do em 28.06.2006, DJ 14.08.2006 p. 251 – ANEXO IV
BIBLIOGrAfIA COMpLEMEnTAr
TALAMINI, Eduardo, Sociedade de Economia Mista. Distribuição de Gás. Dis-
ponibilidade de direitos. Especificidades técnicas do objeto litigioso. Boa-fé 
e Moralidade Administratia (parecer) in Revista de Arbitragem e Mediação 
nº 5, ano 2, abril/jun de 2005.
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FGV DIREITO RIO 6464fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
AnExO III
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FGV DIREITO RIO 7070fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
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FGV DIREITO RIO 7171fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
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FGV DIREITO RIO 7272fGv DirEito rio
arbitraGEm E mEDiação
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FGV DIREITO RIO 7373fGv DirEito rio
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FGV

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