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DA CONTINUIDADE EM 2011 AO NOVO GOVERNO REELEITO EM 2015 AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS DISCURSOS DE POSSE DE DILMA ROUSSEF AO CONGRESSO NACIONAL CERVI GANDIN

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Da continuidade de Lula em 2011 ao 'novo governo' reeleito em 2015: as 
principais características dos discursos de posse de Dilma Rousseff ao 
Congresso Nacional
From continuity of Lula in 2011 to the "new government" re-elected in 
2015: the main characteristics of presidente Dilma Rousseff inaugurations 
speeches to House
Emerson Urizzi Cervi 
1
 / Lucas Gandin 
2
Resumo: O paper insere-se nas análises de conteúdo de textos oficiais, seguindo a 
linha de pesquisa proposta por Maingueneau e Charaudeau e utilizada por 
Foucault. São comparados os dois discursos de posse da presidente Dilma 
Rousseff ao Congresso Nacional, em 2011 e 2015. O objetivo é identificar as 
principais características de cada um dos textos para depois compará-los. Para 
tanto são usadas técnicas de Análise Fatorial descritiva de conteúdo para 
formação de clusters por similaridade. Os resultados mostram algumas 
semelhanças e diferenças entre os dois discursos. Entre os principais "achados" 
está o fato de que o discurso de 2011 pode ser caracterizado mais de continuidade 
do que o de 2015. Além disso, o termo "corrupção" ganha espaço no segundo 
discurso, quando comparado ao primeiro.
Palavra chave: análise de conteúdo, discursos de posse, Dilma Rousseff, Brasil
Abstract: the paper is part of the content analysis of official texts, following the 
research proposed by Maingueneu and Charaudeau and used by Foucault. Are 
compared the two inaugural speeches of Dilma Rousseff president to brazilian 
National Congress, in 2011 and 2015. The goal is to identify the main features of 
each text and, after, compare them. For this are used descriptive Factorial analysis 
of content for clustering by similarity. The results show some equalities and 
differences between the two speeches. Among the mais result is the fact that the 
2011´s speecha can be characterized over the continuity of 2015. Moreover, the 
term "corruption" gain space in second address when compared to the first.
Keywords: Content analysis, inaugural speeches, Dilma Rousseff, Brazil
1. INTRODUÇÃO
Uma das possíveis definições de política versa sobre a administração de Estados e nações e 
sobre jogo de influência partidária e eleitoral no ato de governar. Contudo, sem pretensões de 
discutir definições e conceitos, há uma série de eventos, situações e atitudes que, embora não 
tanjam diretamente ao governo e à administração do Estado, indicam os caminhos e as direções 
tomadas pelos agentes políticos. Um desses eventos é a investidura de poder, situação em que 
determinados indivíduos assumem, legitimamente ou não, poder que lhes confere soberania para 
governar. Quer seja a coroação de um monarca, a posse de um presidente ou primeiro ministro, a 
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instauração de juntas governativas ou até mesmo a instalação de um corpo dirigente, esses eventos 
servem, além da investidura do poder, para mostrar à população os entes que o exercerão. O 
discurso de posse não pode ser usado como referência para as realizações de um governo, pois isso 
depende de uma série de outros fatores. O discurso indica quais são as intenções iniciais que um 
governante quer tornar públicas e por elas ser identificado.
No Brasil, a cerimônia de posse do presidente eleito é marcada por dois eventos que 
simbolizam a investidura do poder: a assunção do compromisso constitucional e a passagem da 
faixa presidencial. Ambos são seguidos de um discurso de posse proferido pelo novo presidente. 
Após o juramento e a assinatura do compromisso, o discurso é feito perante o Congresso Nacional, 
presidido pelo presidente da Câmara dos Deputados. Conforme a legislação brasileira, todo 
funcionário público deve tomar posse perante um superior; O mesmo acontece com o presidente, 
mas o seu único superior é o povo brasileiro (representado pelos deputados federais). O segundo 
discurso é realizado à nação e geralmente costuma ser similar ao de posse, porém mais curto e 
informal.
Assim, não seria imprudente afirmar que o discurso de posse torna-se tão simbólico quando 
os demais atos da cerimônia de posse. Tal como a assinatura do compromisso constitucional ou a 
passagem da faixa presidencial, o discurso proferido trabalha elementos do imaginário coletivo 
que, em virtude da ocasião, compactuariam o compromisso firmado, uma vez que todo e qualquer 
discurso está revestido do princípio da veracidade – ou seja, os participantes da cena discursiva 
partem da premissa de que todos os falantes falam a verdade até que se prove o contrário 
(FOUCAULT, 2009).
O presente artigo tem como objetivo analisar o discurso de posse perante o Congresso 
Nacional da presidente Dilma Rousseff proferidos por ocasião de sua assunção ao cargo em 2011 e 
da recondução em 2015. Para tal, o artigo se norteará pelo seguinte problema de pesquisa: Quais as 
semelhanças e diferenças nos discursos de Dilma Rousseff, proferidos na cerimônia de posse 
perante o Congresso Nacional em 2011 e 2015? O estudo parte do pressuposto que o discurso 
realizado na posse do primeiro mandado se concentra nas propostas da presidente para os quatro 
anos de governo e o discurso do segundo mandado, além de reafirmar propostas e traçar outras, 
avalia as realizações do primeiro mandado.
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2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
O discurso é a palavra em movimento, uma prática de linguagem que, por sua vez, se 
estabelece como uma mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social 
(ORLANDI, 2000). No entanto, como nos diz Maingueneau (1997), a palavra “discurso” pode 
adquirir vários significados. Para Foucault (2009), os discursos encontram-se dispersos, cabendo à 
Análise de Discurso buscar as regras de formação que regem a produção de determinado discurso. 
Por isso o autor diz que a expressão “Formação Discursiva” daria conta de exprimir um conceito 
mais próprio àquilo que denominamos discurso: o que pode e deve ser dito a partir de uma posição 
dada em uma conjuntura determinada. Basicamente, as formações discursivas ocorrem por meio da 
paráfrase – espaço no qual os enunciados são retomados e onde se delimitam as fronteiras para 
evitar perda de identidade –; da polissemia – quando os discursos se cruzam, gerando 
multiplicidade de sentido –; e do pré-construído – construção anterior e exterior ao discurso 
enunciado (PANKE, 2010). A formação discursiva inscreve-se na história, adquirindo sentido e 
significando algo para alguém. Conforme expõe Brandão (2004, p. 10),
a palavra é signo ideológico por excelência, pois, produto da interação social, ela se 
caracteriza pela plurivalência. Por isso é o lugar privilegiado da ideologia; retrata as diferentes 
formas de significar a realidade, segundo vozes, pontos de vista daqueles que há empregam. 
Dialógica por natureza, a palavra se transforma em arena de luta e vozes que, situadas em 
diferentes posições, querem ser ouvidas por outras vozes.
Justamente por estar vinculada a um contexto específico, Foucault afirma que o discurso se 
torna ideológico, pois pode consolidar ou mudar ideias que interessam a quem profere o discurso:
a produção de discursos é regulada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo 
número de procedimentos que tem por finalidade conjurar seus poderes e perigos, dominar seu 
acontecimento aleatório, esquivar seu peso, sua temível materialidade. (2009, p.8-9).
Aqui, vale lembrar a noção de ideologia de Chauí (1984): o conjunto de ideias e valores 
aceitos por aqueles que são dominados e que imaginam que a sociedade se realiza em função 
dessas ideias e valores.Foucault (2009) ainda concebe o discurso como uma reunião de enunciados 
pertencentes a uma mesma família discursiva, apropriados e agrupados por um autor, que lhe 
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confere unidade e sentido. A apropriação, segundo o autor, ocorre mediante um conjunto de regras, 
definições, técnicas e instrumentos que controlam a produção dos discursos.
Na orientação francesa da Análise do Discurso, não há discurso que não tenha sido 
enunciado anteriormente. O discurso é sempre uma relação entre dizeres realizados, imaginados ou 
possíveis, em que todos os enunciados já formulados são retomados a título de verdade admitida, e 
um campo de concomitância, nos enunciados diferentes que atuam no enunciado estudado, e o 
domínio da memória (BRANDÃO, 2004). Já Orlandi (2000, p. 33 e 34) afirma que:
só podemos dizer (formular) se nos colocamos na perspectiva do dizível. Todo dizer, na 
realidade, se encontra na confluência dos dois eixos: o da memória (constituição) e o da atualidade 
(formulação). (...) É desse jogo que tiram seus sentidos. É preciso que o que foi dito por alguém se 
apague na memória para que possa fazer sentido em “minhas” palavras.
Para a formação discursiva ocorrer, é preciso que ela seja enunciada por alguém legitimo 
para fazê-lo, em uma situação legítima, que pressupõe receptores legítimos e sob formas legítimas 
a se fazer (FOUCAULT, 2009). Ou seja, um poema dadaísta recitado por meio de marteladas em 
uma reunião de chefes de Estado torna-se irreconhecível como formação discursiva. Porém, se este 
poema for recitado em um sarau literário a um grupo de escritores por meio da fala será admitido 
como uma formação discursiva plausível e legítima.
O autor ainda considera que toda formação discursiva liga-se a duas faces, uma social e 
outra linguística. Na social encontra-se a comunidade discursiva, o grupo no interior dos quais os 
enunciados são gerados e geridos. Nesta mesma comunidade, os discursos ganham a estrutura 
linguística e ideológica pelas quais ficará marcado, servindo de espaço para as representações de 
mundo e de organização dos homens (MAINGUENEAU, 1997).
Nas palavras de Orlandi (2000), o discurso se estabelece como uma mediação necessária 
entre o homem e a realidade natural e social. A vida em sociedade implica uma relação entre 
indivíduos e é desta relação que seus membros organizam a vida coletiva. Conforme nos explica 
Charaudeau (2008), é pela política que a comunidade toma decisões coletivas para o bem-estar de 
todos, ou seja, a ação política age em prol do bem comum. Para chegar à ação, os agentes políticos 
ultrapassam diversas instâncias nas quais é necessária a utilização da palavra, instaurando, 
inclusive, uma “luta discursiva na qual muitos golpes são permitidos [...], estando em jogo a 
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conquista de uma legitimidade por meio da construção de opiniões” (CHARAUDEAU, 2008, 
p.23). Tem-se, portanto, a prerrogativa de que o discurso político costuma ser uma fala carregada 
de significado e intenções, pois o objetivo é convencer o ouvinte a aderir à causa do falante. 
Cyrre (2008) e Panke (2010) afirmam que o discurso político não se refere somente aos 
assuntos do Estado; antes disso, referem-se a uma forma de sociabilidade, materializada sob a 
forma de manifestação pública e linguística, mediante as quais ideias e opiniões são conhecidas e 
compartilhadas. Ou seja, nas palavras de Charaudeau (2008), o discurso político é produzido 
enquanto um sistema de pensamento, que visa fundar um ideal político em função de princípios 
que devem servir de referência para a construção de opiniões e posicionamentos; enquanto ato de 
comunicação, que comunga os atores que participam de uma cena política com o objetivo de obter 
adesões, rejeições ou consensos; e como um comentário, um discurso inscrito fora do campo 
político, mas a seu respeito.
Para Panke (2010), o discurso político se caracteriza por legitimar um falante, ou seja, o 
orador do discurso pode se apresentar em nome de um determinado grupo, que o legitima como seu 
representante. Essa legitimidade é, de acordo com Foucault (2009, p. 37), uma das condições para a 
existência do discurso, posto que “ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer a certas 
exigências ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo”. Outra característica descrita por 
Panke (2010) é a busca pela manutenção ou alteração da ordem vigente. “Enquanto espaço de 
divulgação ideológica, [o discurso político] procura levar o público a se tornar favorável a: 
primeiro prestar atenção, segundo pensar a respeito, terceiro mudar a percepção sobre o que foi 
tratado” (PANKE, 2010, p. 36). Para a autora, se a intenção do discurso político é mudar a ordem 
estabelecida, o objetivo recai em levar o ouvinte a tomar uma atitude, se o desejo é manter as 
normas vigentes, o discurso se configurará como um espaço para a manifestação de ideias. Em 
função disso, o pensamento de Charaudeau (2008) vem reforçar a noção de que o discurso político 
é um espaço de trocas simbólicas, resultando uma mistura sutil entre a palavra que funda a política 
e que deve geri-la. Para isso, é estabelecido um contrato que articula a política, os cidadãos e a 
mídia.
Courtine (1999) e Pollak (1989) colocam a questão da memória como uma característica do 
discurso que pode ser aplicado ao discurso político e que de certa forma se relaciona à estruturação 
de mundos possíveis formulada por Figueiredo et al (2000). Para Pollak (1989), a memória é capaz 
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de dotar os fatos de qualquer sociedade de duração e estabilidade. Segundo Courtine (1999), é pelo 
discurso que esses fatos serão registrados ou anulados da memória coletiva. É nesse sentido que 
Pollak (1989) afirma que a memória se torna um elemento determinante para a construção dos 
imaginários coletivos. Imaginários porque, segundo os dois autores, o discurso que se utiliza da 
memória provoca um embate entre a memória oficial e a memória não oficial e entre a história real 
e a história fictícia, pois
o trabalho de enquadramento da memória se alimenta do material fornecido pela história. 
Esse material pode sem dúvida ser interpretado e combinado a um sem-número de referências 
associadas; guiado pela preocupação não apenas de manter as fronteiras sociais, mas também de 
modificá-las, esse trabalho reinterpreta incessantemente o passado em função dos combates do 
presente e do futuro. (POLLAK, 1989, p. 11).
Nesse jogo de (re)significação dos imaginários coletivos, a instância política lança mão de 
imaginários sociais, ou seja, de universos que fundam a identidade de um grupo. Tais imaginários 
são materializados no discurso político sob a forma de mensagens de efeito, slogans, elegias, 
manifestos e outros enunciados diversos que atingem os sentimentos de formação e unidade do 
grupo: tradição, modernidade e soberania popular. Essa fala política exige, pois, que o locutor 
ultrapasse o nível da convicção e seja persuasivo, que passe a investir no aspecto emocional com o 
objetivo de gerar uma resposta do público.
3. ANÁLISE DOS DADOS
O corpus empírico utilizado aqui é composto pelos dois discursos proferidos por Dilma 
Rousseff (PT) no dia da posse de seus dois mandatos (2011 e 2015) como presidente da república 
ao congresso nacional. Chamados de “discursos de posse”, os textos são emblemáticos porque 
representam a apresentação das intenções de governo da novapresidente aos integrantes do poder 
Legislativo. No primeiro mandato, em 2011, a posse da presidente coincidiu com a posse dos 
novos integrantes do congresso, em 1º de janeiro. Em 2015, devido a uma mudança na lei a 
presidente foi empossada no dia 1º de janeiro pelo congresso anterior e os novos deputados 
tomaram posse no dia 1º de fevereiro, um mês depois. Para esse tipo de análise o texto é a unidade 
básica e indivisível de análise. Já os segmentos de texto são excertos dimensionados pelo próprio 
software, cujo tamanho é definido pela similaridade do conteúdo de um conjunto de orações 
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(CAMARGO e JUSTO, 2013).
A estratégia de análise está dividida em duas partes. Na primeira, descrevemos os 
principais componentes de cada um dos discursos, centrando-se nas ocorrências de sujeitos, verbos 
e adjetivos mais recorrentes em cada um dos discursos, a partir da interface “Iramuteq” utilizando a 
técnica de análise fatorial (Fernandes, 2014). Essa técnica permite identificar o número de 
“clusters” em um texto. Aqui, cluster é definido como o conjunto de palavras que tendem a 
aparecer próximas no texto, formando um segmento próprio. A partir desses clusters é possível não 
só identificar os pontos centrais do texto, como também de que forma cada termo está associado a 
outros. A segunda parte de análise é uma comparação entre as características de cada um dos 
discursos estudados aqui.
Em 2011, no primeiro mandato, Dilma Rousseff proferiu um discurso com 3.658 palavras 
no Congresso Nacional. Nesse discurso o nome/sujeito que mais se repetiu foi “país”, citado 25 
vezes. Em segundo lugar veio “governo”, com 19 menções. “Brasil” (17), “povo” (15) e “vida” 
(12) foram outros sujeitos recorrentes no primeiro discurso de Dilma. O verbo mais repetido por 
Rousseff foi “dar” (11), seguido de “querer” (9). Os adjetivos mais presentes no primeiro discurso 
foram “brasileiro” (25), “grande” (12) e “social” (12).
A análise fatorial (FCA) do primeiro discurso de Dilma Rousseff retornou cinco clusters ou 
classes de palavras em conjunto. O teste também indica o grau de significância estatística das 
palavras que mais ocorrem em cada um dos clusters. A presença de significância estatística indica 
que determinados termos tenderam a se concentrar em um cluster, enquanto a ausência de 
significância mostra que os termos estiveram presentes em vários grupos. Portanto, quanto mais 
significativa a presença de determinado termo, mais específico ele é naquele cluster. O gráfico 1 a 
seguir mostra a composição de cada um deles para, em seguida, descrever os conjuntos dentro do 
discurso. O maior cluster está na classe 3, representando 23,8% do discurso. Seguido da Classe 2, 
com 22,2%; e da classe 5, com 20,6%. As outras duas classes compõem menos de 20% do discurso 
cada uma. As classes 1, 2 e 5 saem do mesmo ramo, portanto, tendem a ter maior conexão entre si. 
O mesmo acontece com o outro ramo, que reúne as classes 3 e 4.
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Na classe 3 estão presentes principalmente os termos “privado” e “uso”, enquanto que na 4, 
“ensino” e “jovem”. No outro ramo encontra-se, separada, a classe 2, com referências 
principalmente a “presidente” e “Lula”. O ramo seguinte divide-se na classe 1, com 
“desenvolvimento” e “econômico”, e na classe 2, onde aparecem principalmente “paz” e “externo”. 
Ou seja, no que diz respeito à formação geral do discurso de Dilma em 2011, podemos dividi-lo em 
dois grandes ramos. Em um trata-se de política de ensino, da juventude e da relação com a 
iniciativa privada. Em outro, trata-se de política econômica e o papel do Brasil nas relações 
externas. Com um destaque para trecho específico que se refere ao ex-presidente Lula.
Além das descrições dos clusters, também é possível identificar a força da presença de 
termos em cada uma das classes. A tabela 1 a seguir mostra as principais palavras em cada uma das 
classes. As que são seguidas de asteriscos apresentam significância estatística para aquele cluster. 
Entre parênteses está o valor do coeficiente qui-quadrado (q2) e o percentual do número de vezes 
que a palavra aparece na Classe em relação ao total do discurso. Por exemplo, na classe 1, com 
participação de 15,87% do total, as palavras que mais aparecem são “desenvolvimento” e 
“econômico”. As duas têm q2 de 16,73%, acima da participação total da classe e, portanto, com 
participação estatisticamente significativa nessa classe. Dito de outra forma, essas duas palavras 
tendem a aparecer mais na classe 1 do que nas demais classes. É possível perceber que apenas as 
classes 1, 3 e 4 apresentam termos com presença estaticamente significativa. Na classe 2 destacam-
se os termos “presidente” e “Lula”. Na classe 4 os termos “ensino” e “jovem”.
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Em resumo, no primeiro discurso de posse de Dilma houve centralidade de dois temas de 
políticas públicas: i) na área econômica, vinculado à ideia de desenvolvimento, e ii) na área da 
educação, vinculado à juventude. Além disso, o discurso também reservou espaço para vincular as 
conquistas alcançadas até aquele momento à figura do ex-presidente Lula. O gráfico 2 a seguir 
ilustra a distribuição das cinco classes em dois eixos e distribui os temos de cada classe em cada 
um dos eixos. No primeiro é possível perceber que as classes 4 e 3 fazem parte do mesmo 
quadrante, as classes 1 e 5 estão em outro quadrante, enquanto a classe 2 encontra-se sozinha. Essa 
imagem é uma forma alternativa para a informação da distribuição das classes a partir dos ramos 
(gráfico 1). A classe 2 é a única que sai de um ramo sozinha e, portanto, fica isolada em um 
quadrante. Como o fator 1 (eixo X) tem maior capacidade explicativa - 32,29% - que o fator 2 
(eixo Y), com 27,65%, a classe 2 tende a se aproximar mais do ramo das classes 1 e 5 do que do 
ramo das classes 3 e 4. Isso reforça a informação já presente no gráfico anterior.
A segunda imagem do gráfico acima apresenta os termos mais presentes em cada uma das 
classes. Nela é possível perceber que os termos “ensino”, “jovem”, “investimento”, “privado” 
distribuem-se no mesmo quadrante, enquanto “desenvolvimento”, “econômico”, “externo” e “paz” 
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representam duas classes que se localizam no quadrante oposto. Já os termos “presidente”, “Lula”, 
“conquista” e “homenagem”, entre outras, estão em quadrante próprio, indicando uma parte 
específica do discurso reservada a eles. Essa parte está mais próxima da que trata da economia e do 
desenvolvimento do que da educação e juventude. Feitas as descrições do conteúdo do discurso de 
posse do primeiro governo de Dilma Rousseff, foi possível identificar pelo menos três eixos: a) 
economia e desenvolvimento; b) educação e juventude e c) presidente Lula. A seguir, passamos a 
descrever o conteúdo do discurso de posse de 2015.
No discurso do segundo mandato de Dilma Rousseff podem ser identificadas continuidade 
e rupturas com o conteúdo do anterior. Em um discurso um pouco mais longo, com 4.367 termos, 
os adjetivos que mais apareceram foram “brasileiro” (29) e “novo” (19). Os sujeitos mais citados 
foram “Brasil” (27) e “país” (20), enquanto os verbos que mais apareceram foram “querer” (15) e 
“continuar” (11).
A Análise Fatorial (FCA) retornou cinco clusters também no segundo discursode Dilma, 
com uma distribuição equilibrada. Um cluster (classe 4) contém 25% do discurso. Outros dois 
ficam entre 22% e 23% e os dois menores ficam abaixo de 15% do total. Os ramos também 
apresentam distribuições distintas. A classe 3 distingue-se das demais por estar em um ramo 
próprio e único. Das outras classes, a classe 2 (a maior) distingue-se das demais. A classe 4 faz 
parte de um sub-ramo desse grupo, enquanto as classes 1 e 3 são as mais próximas.
No cluster 1 destacam-se os termos “mundo” e “economia”, enquanto no cluster vizinho, o 
3, os termos mais recorrentes são “mandato”, “novo”, “reafirmar”, “investimento”. Esses dois 
segmentos próximos formam um eixo importante do discurso do segundo mandato. O cluster 4 
reúne principalmente o termo “democratizar”. No cluster 2, um pouco mais distante, porém ainda 
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no mesmo ramo, estão presentes “punir” e “controle”. Por fim, no cluster 5, o mais separado dos 
demais, aparecem “medo” e “apoio”. Esses termos aparecem principalmente no final do discurso, 
quando a presidente afirma não temer os desafios e contar com apoio para controlar o medo. Esse 
tipo de construção é uma das novidades no segundo discurso. Assim como as ideias de controle e 
punição, que também não apareceram no primeiro discurso.
Considerando a participação dos termos em cada cluster, a tabela 2 a seguir indica quais 
foram os principais termos e se foram estatisticamente significativos ou não. Na classe 1 os termos 
“mundo”, “economia” e “muito” são todos estatisticamente significativos, indicando uma presença 
majoritária nesse segmento do discurso. No cluster 2, “punir” e “controle”, da mesma forma. O 
mesmo acontece com o cluster 3, com “mandato”, “novo” e “reafirmar”, todos estatisticamente 
significativos nesse segmento do discurso. O cluster 4 destaca apenas “democratizar”, que não é 
estatisticamente significativo. Já o 5 tem “medo”, “apoio” e “senhor”, todos concentrados nesse 
mesmo segmento do discurso.
Excetuando pela presença do termo "economia", percebe-se claramente uma ausência de 
centralidade de outros termos relacionados a políticas públicas no discurso de posse do segundo 
mandato. Aqui predominam termos mais genéricos, ligados a questões simbólicas como “medo” e 
“apoio” ou respostas às acusações públicas recebidas durante praticamente todo o primeiro 
mandato, com “punir” e “controle”. O gráfico 4 a seguir mostra a distribuição dos clusters em dois 
eixos. Como o eixo X apresenta o maior fator de impacto, daremos prioridade a ele. Como já 
descrito antes, o cluster 2 é o mais distante, ficando em um quadrante próprio. O cluster 5 fica em 
outro quadrante, também separado dos demais, enquanto os clusters 1, 3 e 4 encontram-se mais 
próximos entre si e em torno do ponto centróide, indicando que eles tendem a fazer parte dos 
mesmos segmentos do discurso.
A segunda imagem, que identifica as principais palavras de cada cluster, mostra claramente 
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como o cluster 2, o mais distante dos demais, é composto por "punir", "controle" e, também, 
"corrupção", "Petrobrás". O cluster 5, no quadrante oposto, apresenta "medo", "senhor", "apoio". 
Os outros três clusters, que se mesclam em torno do ponto centróide, apresentam os termos 
"economia", "democratizar", "mandato", "reafirmar", "novo".
As descrições individuais dos dois discursos nos permitiram apresentar as principais 
características de cada um deles, assim como, analisar as formas de construção e prioridades de 
termos no primeiro e segundo discursos de abertura de mandatos de Dilma Rousseff. O próximo 
passo da análise é comparar a frequência relativa dos principais termos em cada um dos discursos 
entre si para identificar quais tenderam a se destacar ou desapareceram em 2015 em relação a 2011. 
As comparações serão feitas exclusivamente entre termos e suas participações relativas em cada 
um dos discursos, portanto, desconsideraremos aqui as formações dos clusters. A partir das tabelas 
1 e 2 anteriores foi possível montar a tabela 3 a seguir com os sujeitos, verbos e adjetivos que mais 
apareceram em cada um dos discursos de Dilma (2011 e 2015). A última coluna da tabela (dif.) 
indica a diferença da participação relativa de cada termo de 2015 em relação a 2011. Diferenças 
positivas significam que o termo apareceu mais no segundo do que no primeiro discurso e o 
inverso vale para as diferenças negativas.
Entre os sujeitos, o que mais apresentou crescimento em participação relativa em 2015 
quando comparado a 2011 foi "corrupção", com +3,6 de diferença, seguido de "Brasil" (+2,6) e 
"Povo" (+2,4). Os sujeitos que com menor participação em 2015 foram "país" (-4,2) e "governo" (-
4,6). Quanto aos sujeitos nos discursos de Dilma pode-se dizer que os termos que remetem mais 
diretamente aos governantes, como governo, por exemplo, foram substituídos por sujeitos mais 
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abrangentes, como povo e Brasil. Além da maior centralidade da "corrupção" no discurso do 
segundo mandato, termo quase inexistente no primeiro discurso.
Quanto aos verbos, houve maior estabilidade entre os dois discursos. “Querer” (+1,7) e 
“continuar” (+0,5) tiveram crescimento da presença relativa em 2015. “Dar” (-2,2) apresentou 
queda. Quanto aos adjetivos, o que mais cresceu em 2015 foi “novo” (+4,4), enquanto “brasileiro” 
(-0,5) e “grande” (-2,3) tiveram menor participação relativa. Isso é curioso, pois o verbo que remete 
à novidade aparece mais no discurso de posse da reeleição e não no de primeiro governo de Dilma 
Rousseff. Nesse sentido é possível imaginar um discurso de continuidade do primeiro governo 
Dilma em relação ao segundo de Lula e não entre os dois governos Dilma.
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Para complementar as informações da tabela 3, o gráfico 5 a seguir apresenta dois tipos de 
distribuições das frequências relativas. O primeiro é a comparação das frequências no discurso de 
2011 (eixo X) com o de 2015 (eixo Y). As linhas tracejadas dividem os quadrantes pelos valores 
medianos de ocorrências relativas de cada ano. Termos no primeiro quadrante (superior esquerdo) 
indicam presença alta em 2015 e baixa em 2011. No segundo quadrante (superior direito) estão os 
termos que tiveram alta participação nos dois anos. Já no terceiro quadrante (inferior esquerdo) 
ficam os que tiveram baixa presença relativa nos dois discursos, enquanto que no quarto quadrante 
(inferior direito) os termos que tiveram presença relativa alta em 2011 e baixa em 2015. No 
quadrante 2, onde estão os termos que mais aparecem nos dois discursos, estão “brasileiro”, 
“Brasil”, “povo” e “país”, como vocativos mais comuns nos discursos de Dilma Rousseff. No 
quadrante oposto, com menor participação nos discursos estão “continuar” e “corrupção”. Com 
isso é possível perceber que embora a presença de “corrupção” tenha crescido em 2015, ela 
continua sendo uma das mais baixas nos dois discursos. Nos demais quadrantes estão o termo 
“novo”, com alta presença relativa apenas em 2015 e "governo" com alta presença relativa apenas 
em 2011.
A segunda imagem do gráfico acima complementa as informações mostrando os pontos 
relativos de cada termo em cada um dos discursos. Agora os pontos (círculo e quadrado) 
representam a participação relativa em cada um dos anos.Quanto mais distantes os pontos, maior a 
diferença de participação relativa do termo nos discursos de 2011 e 2015, sendo possível comparar 
não apenas as posições em relação a outros termos, mas em relação ao próprio termo nos dois 
momentos. Aqui os termos estão organizados por tipo (sujeitos, verbos e adjetivos). Entre os 
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sujeitos, “país” e “governo” aparecem mais em 2011 e recuam em 2015. O inverso acontece com 
“Brasil”, “povo” e “corrupção”, com a diferença de que embora tenha avançado em sua 
participação relativa no segundo discurso, o termo “corrupção” continua com valores bastante 
baixos. Entre os verbos, “dar” recua em 2015 em relação a 2011, “continuar” fica praticamente 
estável e “querer” apresenta o maior avanço. Quanto aos adjetivos, “novo” é o que mais avança em 
2015, “brasileiro” fica estável, com maior presença relativa nos dois anos, e “grande” apresenta 
recuo em relação a 2011.
4. CONCLUSÕES
Mesmo não tendo sido objeto deste artigo, os slogans das campanhas de Dilma Rousseff 
“Para o Brasil seguir mudando” em 2010 e “Governo Novo, Ideias Novas” em 2014 já 
apresentavam indícios dos achados desta pesquisa. Conforme apontado acima, a análise fatorial dos 
discursos de posse apontam para um discurso de continuidade do primeiro governo Dilma em 
relação ao segundo de Lula e de inovação no segundo mandato[1]. Também é a questão da 
continuidade que justifica a presença de Lula no discurso de posse do primeiro mandato, outro 
achado da pesquisa. O ex-presidente figura como líder transformador do Brasil e a continuidade, 
consequência natural de tais mudanças.
Como abordamos na trajetória teórica deste artigo, o discurso é essencialmente ideológico e 
simbólico. O trecho a seguir exemplifica tal noção:
Venho, antes de tudo, para dar continuidade ao maior processo de afirmação que este país 
já viveu nos tempos recentes. Venho para consolidar a obra transformadora do Presidente Luiz 
Inácio Lula da Silva, venho para consolidar a obra transformadora do Presidente Lula, com quem 
tive a mais vigorosa experiência política da minha vida e o privilégio de servir ao país, ao seu lado, 
nestes últimos anos. De um presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a 
confiar ainda mais em si mesmo e no futuro do país. A maior homenagem que posso prestar a ele é 
ampliar e avançar as conquistas do seu governo. Reconhecer, acreditar e investir na força do povo 
foi a maior lição que o Presidente Lula deixa para todos nós. (ROUSSEFF, 2011).
Beirando à ode – poema clássico de homenagem e enaltecimento à personalidades ou 
pessoas amadas – o trecho elucida, de modo qualitativo, dois dos três grandes grupos temáticos do 
discurso de posse do primeiro mandado: os avanços econômicos e sociais promovidos pelo ex-
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presidente Lula. Vale lembrar que a análise fatorial identificou 5 classes temáticas, partindo o 
discurso em dois ramos; as palavras que apontam à política econômica e aos feitos de Lula 
pertencem ao mesmo ramo. Quanto ao terceiro grande grupo temático – política de ensino, da 
juventude e da relação com a iniciativa privada – pertencente ao segundo ramo de classes da 
análise fatorial, percebe-se que os feitos do governo Lula são inseridos no discurso de forma 
referencial às ações e propostas para o primeiro governo de Dilma.
Desse modo, verifica-se que a primeira hipótese desta pesquisa – o discurso realizado na 
posse do primeiro mandado se concentra nas propostas da presidenta para os quatro anos de 
governo – não se validou totalmente. Embora questão da continuidade seja, em sua essência, a 
principal proposta de Dilma para seu primeiro mandado, ela está mais atrelada a um sentido de 
extensão do governo de Lula do que de inauguração de um modo de governar próprio à presidenta.
Já no discurso de posse de 2015 foi possível identificar rupturas e distanciamentos em 
relação ao discurso de 2011. O primeiro elemento de destaque na análise fatorial é a identificação 
da classe de palavras ligada à questões simbólicas, como “medo” e “apoio”. É importante 
contextualizar que a reeleição de Dilma ocorreu no segundo turno, com uma diferença de 
aproximadamente 3,4 milhões de votos – resultado mais apertado das últimas quatro eleições para 
presidente. Ainda que aquelas palavras possam induzir à noção de fraqueza ou receios da 
presidenta, elas na verdade são inseridas em construções que reforçam a coragem de Dilma para 
enfrentar os desafios a certeza do apoio de seus eleitores. Por mais que a análise qualitativa não é 
objetivo deste trabalho, traz-se o trecho a seguir a título de exemplificação:
Eu não tenho medo de encarar estes desafios, até porque sei que não vou enfrentá-los 
sozinha, não vou enfrentar esta luta sozinha. Sei que conto com o apoio dos senhores e das 
senhoras parlamentares, legítimos representantes do povo neste Congresso Nacional. (...) Sei que 
conto com o forte apoio da minha base aliada, de cada liderança partidária de nossa base e com os 
ministros e as ministras que estarão, a partir de hoje, trabalhando ao meu lado pelo Brasil. (...) Sei 
que conto com o apoio dos movimentos sociais e dos sindicatos; e sei o quanto estou disposta a 
mobilizar todo o povo brasileiro nesse esforço para uma nova arrancada do nosso querido Brasil.
Outro eixo temático encontrado na análise fatorial foi o ligado à questão da corrupção e do 
combate à corrupção. Infere-se que a presença desses temas é devido às denúncias e escândalos de 
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corrupção dentro da Petrobrás, investigados na Operação Lava Jato. 
O segundo achado da análise do discurso de 2015 foi o crescimento da presença do verbo 
“continuar”. Ainda que tal indício pudesse indicar um discurso construído na base da continuidade, 
como o de 2011, a presença do adjetivo “novo”, com o maior crescimento na comparação dos dois 
discurso, leva-nos a entender que continuidade é em relação ao modo de governar, mas, desta vez, 
com propostas ou projetos novos. É por este dado que compreendemos o discurso de 2015 como de 
inovação ou inauguração do governo Dilma. Ademais, a troca de slogans ao longo da campanha 
em 2014, possibilita inferir que o discurso da continuidade já não encontrava sustentação depois de 
quatro anos de governo. Aliás, este é um caminho apontando por este artigo para novas pesquisa: a 
viabilidade ou inviabilidade do discurso da continuidade após quatro anos de governo Dilma 
perante o eleitorado brasileiro.
À guisa de conclusão, os achados desta pesquisa revelam que o discurso de 2011 sustenta 
suas bases argumentativas nos feitos e ações do governo de Lula, enquanto o discurso de 2015 
apresenta-se independente, atrelado mais ao próprio governo de Dilma. Contudo, não é possível 
dizer que o discurso de posse do segundo mandado reafirma propostas de 2011 e avalia as 
realizações dos primeiros quatro anos de governo – o que invalida a segunda hipótese desta 
pesquisa.
Os dois discursos são substancialmente diferentes: enquanto o primeiro traz a questão da 
continuidade, o segundo encena inovação e inauguração. Se no de 2011 encontramos pelo menos 
três eixos temáticos – economia e desenvolvimento; educação e juventude; e presidente Lula -–, no 
de 2015 o único eixo temático que permanece é o “economia e desenvolvimento”, atrelado a 
problemáticas mundiais. Os outros eixos temáticos se concentram em questões relativas àcorrupção e combate à corrupção, fortalecimento da democracia e valores simbólicos, reunidos na 
coragem da presidenta e no apoio para enfrentar os desafios impostos para o segundo mandado.
[1] Vale ressaltar que o primeiro slogan de 2014 era “Mais Mudanças, Mais Futuro”, que 
foi trocado no início da campanha do segundo turno.
1
Doutor, Universidade Federal do Paraná, ecervi7@gmail.com
2
Doutorando, Universidade Federal do Paraná, lucaswlk@yahoo.com.br
[1] Vale ressaltar que o primeiro slogan de 2014 era “Mais Mudanças, Mais Futuro”, que foi trocado no início da 
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