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organizacao juridica da grande empresa 2016 1

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GRADUAÇÃO
 2016.1
ORGANIZAÇÃO 
JURÍDICA DA 
GRANDE EMPRESA
AUTOR: JOÃO PEDRO BARROSO DO NASCIMENTO
COLABORADORES: AMANDA PERES FERNANDES (Graduação FGV Direito Rio – 2016.2); 
ANA CAROLINA MELMAN (Graduação FGV Direito Rio – 2014.2); PEDRO ARMANDO 
CASTELAR PINHEIRO (Graduação FGV Direito Rio – 2014.1)
Sumário
Organização Jurídica da Grande Empresa
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 3
AULA 1: A ERA DAS GRANDES EMPRESAS .................................................................................................................. 6
AULA 2: SOCIEDADE ANÔNIMA: EVOLUÇÃO HISTÓRICA, NOÇÕES GERAIS E CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS............................... 13
AULAS 3 E 4: COMPANHIA ABERTA E FECHADA. MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS. 
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS — CVM. NOÇÕES GERAIS. .................................................................................. 24
AULAS 5 E 6: AÇÕES E OUTROS VALORES MOBILIÁRIOS. .............................................................................................. 44
AULA 7: CAPITAL SOCIAL. .................................................................................................................................... 52
AULA 8 E 9: ASSEMBLEIA GERAL. ........................................................................................................................... 68
AULAS 10 E 11: ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS: CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E DIRETORIA. ................................................ 78
AULA 12: CONSELHO FISCAL. ................................................................................................................................ 92
AULAS 13 E 14: LUCROS, RESERVAS E DIVIDENDOS. ................................................................................................... 98
AULAS 15 E 16: ACIONISTAS E ACIONISTA CONTROLADOR. ......................................................................................... 103
AULAS 17 E 18: SOCIEDADES COLIGADAS, CONTROLADAS E CONTROLADORAS. RESPONSABILIDADE. 
GRUPOS DE SOCIEDADES. SUBSIDIÁRIA INTEGRAL. ................................................................................................. 122
AULAS 19 E 20: ALIENAÇÃO E AQUISIÇÃO DE CONTROLE. ........................................................................................... 132
AULAS 21 E 22: GOVERNANÇA CORPORATIVA. ........................................................................................................ 142
AULAS 23 E 24: TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E CISÃO. ............................................................................ 147
AULA 25: DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA ................................................................... 161
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 3
INTRODUÇÃO
1. EMENTA DO CURSO.
A Era das Grandes Empresas; Sociedade anônima: evolução histórica, no-
ções gerais e características principais; Companhia aberta e fechada. Merca-
do de valores mobiliários. Comissão de Valores Mobiliários. Noções gerais; 
Ações e outros valores mobiliários; Capital social: formação, aumento e redu-
ção; Assembleia Geral: Noções Gerais; Características, espécies, competência 
e funcionamento; Órgãos administrativos: Administração. Conselho de Ad-
ministração e Diretoria: características, composição, funcionamento e com-
petência. Deveres e responsabilidades dos administradores; Conselho Fiscal. 
Exercício Social. Demonstrações financeiras; Lucros, reservas e dividendos. 
Dividendo obrigatório e dividendos intermediários. Dissolução, liquidação e 
extinção da sociedade anônima; Acionistas e Acionista Controlador: Noções 
Gerais; Direitos e obrigações; Poder de controle; Acordos de acionistas; So-
ciedades coligadas, controladoras e controladas. Responsabilidade. Grupos 
de sociedades. Subsidiária integral; Alienação de Controle e Aquisição de 
controle Governança Corporativa Transformação, incorporação, fusão e ci-
são; Dissolução, Liquidação e Extinção da Sociedade Anônima.
2. OBJETIVOS GERAIS.
Esta disciplina tem como objetivos: (i) proporcionar aos alunos apren-
dizado de diversos institutos do Direito Societário, com especial enfoque às 
sociedades anônimas; (ii) provocar o interesse dos alunos para questões jurí-
dicas atinentes ao ambiente empresarial e à dinâmica econômica, abordando 
questões jurídicas à luz da aplicação prática das mesmas; e (iii) desenvolver as 
habilidades dos alunos para identificar e compreender problemas inerentes à 
situações concretas e conceber soluções para superá-las.
3. METODOLOGIA.
Suporte teórico, através do estudo de material didático (sugestão de livros, 
artigos, pareceres, comentários à legislação, dentre outros).
Suporte prático, através do estudo de casos concretos (selecionados de 
acordo com diversas operações societárias). Incentivo ao envolvimento e par-
ticipação dos alunos, em método socrático.
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 4
4. PROGRAMA.
Número da Aula Assunto
Aula 1 A Era das Grandes Empresas.
Aula 2
Sociedade Anônima: Evolução História, Noções Gerais e Características 
Principais.
Aulas 3 e 4
Companhia Aberta e Fechada. Mercado de Valores Mobiliários. Comis-
são de Valores Mobiliários — CVM. Noções Gerais.
Aulas 5 e 6 Ações e Outros Valores Mobiliários.
Aula 7 Capital Social.
Aulas 8 e 9 Assembleia Geral.
Aulas 10 e 11 Órgãos Administrativos: Conselho de Administração e Diretoria.
Aula 12 Conselho Fiscal.
Aulas 13 e 14 Lucros, Reservas e Dividendos.
Aulas 15 e 16 Acionistas e Acionista Controlador.
Aulas 17 e 18
Sociedades Coligadas, Controladas e Controladoras. Responsabilidade. 
Grupo de Sociedades. Subsidiária Integral.
Aulas 19 e 20 Alienação e Aquisição de Controle.
Aulas 21 e 22 Governança Corporativa.
Aulas 23 e 24 Transformação, Incorporação, Fusão e Cisão.
Aula 25 Dissolução, Liquidação e Extinção da Sociedade Anônima.
5. AVALIAÇÃO.
Serão realizadas 02 (duas) provas escritas, em sala de aula, compreenden-
do toda a matéria ministrada até a data de cada prova. Os alunos poderão 
consultar os textos de lei sem comentários ou anotações. Poderão, também, 
ser feitas avaliações baseadas em atividades complementares ou em trabalhos 
sobre temas específicos a serem indicados pelo professor. A média aritmética 
referente à disciplina será obtida com base em tais avaliações
O aluno que obtiver média aritmética inferior a 7 (sete) deverá realizar 
uma terceira prova, que compreenderá toda a matéria do semestre.
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 5
6. ATIVIDADES COMPLEMENTARES.
Poderão ser propostas atividades adicionais que valerão pontos para a mé-
dia aritmética (obtida com base nas duas primeiras provas) referente à disci-
plina, a critério do professor.
7. BIBLIOGRAFIA BÁSICA.
PEDREIRA, José Luiz Bulhões e LAMY FILHO, Alfredo (Coordenadores). 
Direito das Companhias. Rio de Janeiro: Editora Forense. 2009, Vols. I e II.
8. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.
Será indicada bibliografia complementar específica em relação a cada um 
dos tópicos do Programa deste Curso, ao final de cada aula da presente apostila.
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 6
1 Tal foi a afirmação de J. X. Carvalho 
de Mendonça, autor que propôs co-
nhecidíssima classificação dos atos de 
comércio, nos seguintes termos: “Os 
códigos e tratados de direito comercial 
não oferecem conceito jurídico unitário 
e completo sobre os atos de comércio. 
Legislação e doutrina não se harmoni-
zam em tão relevante assunto, o que 
multiplica os embaraços à construção de 
sólido sistema científico.” (J.X. Carvalho 
de Mendonça, “Tratado de Direito Co-
mercial Brasileiro”, vol.I, livro I, 6ª ed., 
Rio de Janeiro: Freitas Bastos,1957, p. 
419). Na mesma obra, o autor revela 
a amplitude do problema no direito 
comparado, citando entre os que 
compartilham de seu entendimento 
Lyon Caen et Renault, na França, Vidari, 
Vivante e Navarrini, na Itália, além do 
suíço Muzinger, do espanhol Estaséne 
e do argentino Segovia (pp. 419-421).
AULA 1: A ERA DAS GRANDES EMPRESAS
LEITURA BÁSICA:
LAMY FILHO, Alfredo e Al. A Lei das S.A. Rio de Janeiro: Editora Renovar. 
1995, Vols. I — pp. 139— 152
HANSMANN, Henry e KRAAKMAN, Reinier. The End of History for Cor-
porate Law. Harvard Law School, 2000. Disponível em: <http://www.law.
harvard.edu/programs/olin_center/papers/pdf/280.pdf>.
LEITURA COMPLEMENTAR:
Fábio Konder Comparato. Aspectos Jurídicos da Macroempresa. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais. 1970.
ROTEIRO DA AULA:
Para que possamos analisar a organização jurídica mais correntemente uti-
lizada pelas grandes empresas, temos que, inicialmente, revisitar o conceito de 
“empresa”, discutido nos períodos anteriores à luz da Teoria Geral da Empresa.
1. O QUE É EMPRESA?
Observada a imprecisão científica e a insuficiência da teoria dos atos de 
comércio1, fez-se necessária a construção de um novo sistema, que se ade-
quasse aos avanços da economia e que delimitasse o âmbito de aplicação das 
normas comerciais, de forma a adaptar a disciplina às necessidades das socie-
dades contemporâneas.
De fato, é inquestionável a importância do papel econômico e social atu-
almente exercido pela empresa — em especial a grande empresa —, tendo 
se tornado imprescindível na ordem econômica globalizada. Tal relevância 
é salientada por economistas e juristas dos mais renomados, chegando-se a 
afirmar, com todo acerto, que:
“A evolução da empresa representa, na realidade, um elemento básico 
para a compreensão do mundo contemporâneo. Do mesmo modo que, no 
passado, tivemos a família patriarcal, a paróquia, o Município, as corpo-
1. Tal foi a afirmação de J. X. Carvalho 
de Mendonça, autor que propôs co-
nhecidíssima classificação dos atos de 
comércio, nos seguintes termos: “Os 
códigos e tratados de direito 
comercial não oferecem con-
ceito jurídico unitário e com-
pleto sobre os atos de comér-
cio. Legislação e doutrina não 
se harmonizam em tão rele-
vante assunto, o que multipli-
ca os embaraços à construção 
de sólido sistema científico.” 
(J.X. Carvalho de Mendonça, “Tratado 
de Direito Comercial Brasileiro”, vol. 
I, livro I, 6ª ed., Rio de Janeiro: Freitas 
Bastos,1957, p. 419). Na mesma obra, 
o autor revela a amplitude do problema 
no direito comparado, citando entre os 
que compartilham de seu entendimen-
to Lyon Caen et Renault, na França, 
Vidari, Vivante e Navarrini, na Itália, 
além do suíço Muzinger, do espanhol 
Estaséne e do argentino Segovia (pp. 
419-421).
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 7
2 WALD, Arnoldo. O Espírito Empresarial, 
a Empresa e a Reforma Constitucional. 
Revista de Direito Mercantil, Industrial, 
Econômico e Financeiro nº 98/51-57. 
São Paulo: Ed. RT, abril/junho, 1995. 
P. 55.
3 COMPARATO, Fábio Konder. Direito 
Empresarial: Estudos e Pareceres. São 
Paulo: Saraiva, 1990. P. 3.
4 LIPPKANN, Walter. A Cidade Livre. 
1938. P. 329 apud Georges Ripert, As-
pectos Jurídicos do Capitalismo Moder-
no. Campinas: RED livros, 2002. P. 67.
5 Tullio Ascarelli vê a manutenção de 
um critério objetivo, pela importância 
que se dá à atividade na qualificação do 
empresário (“O empresário” (Tradução 
de Fábio Konder Comparato, in “Corso 
di Diritto Comerciale — Introduzione 
e Teoria dell’Impresa”, 3ª ed., Milano: 
Giuff rè, 1962; pp. 145-160). Revista 
de Direito Mercantil, Industrial, Econô-
mico e Financeiro n.º 109/183-189, São 
Paulo: Malheiros, janeiro/março, 1998).
6 Constata Rubens Requião que “são 
juristas italianos os que mais se dedi-
cam ao estudo da empresa. Já sabemos 
que o moderno direito privado da Itália 
funda-se sobre a teoria da empresa. 
Mas, antes mesmo da reforma de 1942, 
os comercialistas peninsulares indaga-
vam, como Vivante, sobre o seu conceito, 
em face das referências a ela feitas na 
enumeração dos atos de comércio” (RE-
QUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comer-
cial. Vol. I. 24ª Ed., São Paulo: Saraiva, 
2000. P. 53).
7 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito 
Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2000. P. 50.
8 O jurista italiano Vivante igualou o 
conceito jurídico ao conceito econô-
mico, consoante apontado por Rubens 
Requião. Curso de Direito Comercial. Vol. 
I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 53.
rações profissionais, que caracterizam um determinado tipo de sociedade, a 
empresa representa, hoje, a célula fundamental da economia de mercado”2
No mesmo sentido, Fábio Konder Comparato resume bem a importância 
da empresa nos dias atuais, da seguinte forma:
“Se se quiser indicar uma instituição social que, pela sua influência, di-
namismo e poder de transformação, sirva de elemento explicativo e defini-
dor da civilização contemporânea, a escolha é indubitável: essa instituição 
é a empresa”3
Tal constatação é também com frequência apontada por diferentes econo-
mistas. Referindo-se especificamente às sociedades anônimas, assevera-se que 
“o capitalismo moderno não teria podido se desenvolver se a sociedade por ações 
não existisse”4.
No entanto, sob a égide da Teoria Objetiva, diversas atividades de caráter 
intrinsecamente empresarial eram ignoradas pelo Direito Comercial, visto 
não se enquadrarem nas acepções legais de ato de comércio. Apenas para citar 
um, entre diversos exemplos admissíveis, o desenvolvido setor de serviços, 
por exemplo, por não se enquadrar nas definições elaboradas para os atos de 
comércio, não se encontrava regulado pelas normas comerciais, o que per si 
demonstrava a necessidade de uma nova sistemática.
Como já citado, a Teoria Subjetiva moderna apresenta como núcleo fun-
damental o conceito de empresa5. Ocorre que mesmo entre os adeptos da 
“Teoria da Empresa”, em especial os italianos, marcados pelo seu pioneiris-
mo6, tem-se encontrado dificuldades para definir o seu conceito jurídico, não 
obstante sua pacífica conceituação nas ciências econômicas. A esse propósito, 
vale registrar a lição de Rubens Requião:
“Em vão, os juristas têm procurado construir um conceito jurídico pró-
prio para tal organização. Sente-se em suas lições certo constrangimento, 
uma verdadeira frustração por não lhes haver sido possível compor um 
conceito jurídico próprio para a empresa, tendo o comercialista que se valer 
do conceito formulado pelos economistas. Por isso, persistem os juristas no 
afã de edificar em vão um original conceito jurídico de empresa, como se 
fosse desdouro para a ciência jurídica transpor para o campo jurídico um 
bem elaborado conceito econômico”7
Ensina Giuseppe Ferri que a noção econômica de empresa, sob a qual deve 
se assentar o seu conceito jurídico8, incorpora-se na organização dos fatores 
de produção, baseada em princípios técnicos e leis econômicas, propondo-se 
2. WALD, Arnoldo. O Espírito Empresarial, a Empresa e a Reforma Constitucional. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro nº 98/51-57. São Paulo: Ed. RT, abril/junho, 1995. P. 55.
3. COMPARATO, Fábio Konder. Direito Empresarial: Estudos e Pareceres. São Paulo: Saraiva, 1990. P. 3.
4. LIPPKANN, Walter. A Cidade Livre. 1938. P. 329 apud Georges Ripert, Aspectos Jurídicos do Capitalismo Moderno. Campinas: RED livros, 2002. P. 67.
5. Tullio Ascarelli vê a manutenção 
de um critério objetivo, pela impor-
tância que se dá à atividade na quali-
ficação do empresário (“O empresário” 
(Tradução de Fábio Konder Comparato, 
in “Corso di Diritto Comerciale — Intro-
duzione e Teoria dell’Impresa”, 3ª ed., 
Milano: Giuff rè, 1962; pp. 145-160). 
Revista de DireitoMercantil, Industrial, 
Econômico e Financeiro n.º 109/183-
189, São Paulo: Malheiros, janeiro/
março, 1998).
6. Constata Rubens Requião que 
“são juristas italianos os que 
mais se dedicam ao estudo 
da empresa. Já sabemos que 
o moderno direito privado da 
Itália funda-se sobre a teoria 
da empresa. Mas, antes mes-
mo da reforma de 1942, os 
comercialistas peninsulares 
indagavam, como Vivante, 
sobre o seu conceito, em face 
das referências a ela feitas na 
enumeração dos atos de co-
mércio” (REQUIÃO, Rubens. Curso 
de Direito Comercial. Vol. I. 24ª 
Ed., São Paulo: Saraiva, 2000. P. 53).
7. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 50.
8. O jurista italiano Vivante igualou o conceito jurídico ao conceito econômico, consoante apontado por Rubens Requião. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 53.
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 8
9 MARCONDES, Sylvio. Questões de Direi-
to Mercantil. São Paulo: Saraiva, 1977. 
P. 8. No mesmo sentido, temos a lição 
de Waldírio Bulgarelli, nos seguintes 
termos: “Os economistas vêm se esfor-
çando desde a Revolução Industrial em 
conceituar a empresa, nem sempre com 
êxito. Hoje, contudo, é quase unânime a 
ideia de que a empresa é uma unidade 
organizada de produção e comercializa-
ção de bens e serviços para o mercado”. 
BULGARELLI, Waldírio. Sociedades, 
Empresa e Estabelecimento. São Paulo: 
Atlas, 1980. P. 19. O mesmo autor, em 
obra diversa, demonstra o seu aceite 
pelo conceito econômico de empresa: 
“Uma vez, portanto, que há verdadeira 
unanimidade em relação ao conceito 
econômico de empresa, como aliás 
assinala muito bem Sylvio Marcondes, 
nada há de errado na sua aceitação por 
parte do Direito, e foi nessa conformida-
de que a legislação veio regulando os 
seus vários aspectos (...)”.BULGARELLI, 
Waldírio. Estudos e Pareceres de Direito 
Empresarial: o Direito das Empresas. São 
Paulo: Ed. RT, 1980. P. 17. 
10 Apud MARCONDES, Sylvio. Questões 
de Direito Mercantil. São Paulo: Saraiva, 
1977. P.8.
11 Apud REQUIÃO, Rubens. Curso de Di-
reito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000. P. 55.
12 Referida tese foi publicada na Rivista 
del Diritto Commerciale, fascs. 1 e 2, em 
1943, sob o titulo “Profi lidell’Imprensa”, 
conforme REQUIÃO, Rubens. Curso de 
Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Pau-
lo: Saraiva, 2000. P. 71. Em português, 
a tese foi publicada, com tradução de 
Fábio Konder Comparato, na Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico 
e Financeiro n.º104/109-126, São Pau-
lo: RT, outubro/ dezembro, 1996.
13 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito 
Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000. 
14 Art. 2.082 do Codice Civile italiano 
de 1942: “Imprenditore — È imprendi-
tore chi esercita professionalmente una 
attività economica organizzata al fi ne 
della produzione o dello scambio di beni 
o di servizi”.
15 Art. 966 do Novo Código Civil: 
“Considera-se empresário quem exerce 
profissionalmente atividade econômica 
organizada para a produção ou a circu-
lação de bens ou de serviços”.
16 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito 
Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2000. P. 55.
à satisfação de necessidades alheias, vale dizer, do mercado. A este propósito, 
vale citar, pela clareza, os ensinamentos de Sylvio Marcondes:
“O conceito econômico de empresa está na organização dos fatores de 
produção de bens ou de serviços para o mercado, coordenada pelo empre-
sário, que lhe assume os resultados. Sobre este conceito econômico ninguém 
põe dúvida. Mas, como o Direito trata este conceito econômico?”9
Para responder à indagação formulada pela doutrina, deve-se atentar para 
uma observação feita por Alberto Asquini, o qual com muito acerto indicou 
que as dificuldades da conceituação jurídica de empresa derivam do fato de 
esta ser um “fenômeno poliédrico”.
Com esta afirmação, o comercialista italiano demonstra que a empresa 
apresenta um conceito econômico unitário, o mesmo não ocorrendo com 
o seu conceito jurídico, recebendo a empresa tratamentos legislativos diver-
sos10.
Firmado esse entendimento, sugere o jurista italiano que se abdique da 
tentativa de elaboração de um conceito jurídico de empresa, devendo-se fo-
car no estudo dos “aspectos jurídicos da empresa econômica”, na expressão de 
Giuseppe Ferri11.
Sob esses argumentos, Asquini elabora a sua difundida Teoria dos Perfis da 
Empresa12, bem resumida por Rubens Requião:’
“Vislumbra, então, Asquini a empresa sob quatro diferentes perfis: a) o 
perfil subjetivo, que vê a empresa como o empresário; b) o perfil funcional, 
que vê a empresa como atividade empreendedora; c) o perfil patrimonial 
ou objetivo, que vê a empresa como estabelecimento; d) o perfil corporativo, 
que vê a empresa como instituição”13
O Codice Civile italiano de 1942, pioneiro ao sugerir um modelo que 
superasse o sistema francês, não chega a estabelecer um conceito jurídico de 
empresa, preferindo definir o seu perfil subjetivo — o empresário — em seu 
art. 2.08214, como sendo aquele que exerce profissionalmente uma atividade 
econômica organizada para a produção e circulação de bens ou serviços.
O legislador brasileiro, inspirado pelo modelo italiano, não apresenta ino-
vações em relação ao Codice Civile de 1942, ao definir, em seu artigo 966, 
o empresário como sendo “quem exerce profissionalmente atividade econômica 
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.15
Das definições legais supracitadas decorrem os elementos essenciais à em-
presa, quais sejam, no entendimento de Rubens Requião: (i) o sujeito de di-
reito, (ii) a sua atividade particular, (iii) a finalidade produtiva e (iv) o caráter 
profissional16. Waldírio Bulgarelli também faz referência a quatro elementos. 
9. MARCONDES, Sylvio. Questões 
de Direito Mercantil. São Paulo: 
Saraiva, 1977. P. 8. No mesmo sentido, 
temos a lição de Waldírio Bulgarelli, 
nos seguintes termos: “Os econo-
mistas vêm se esforçando des-
de a Revolução Industrial em 
conceituar a empresa, nem 
sempre com êxito. Hoje, con-
tudo, é quase unânime a ideia 
de que a empresa é uma uni-
dade organizada de produ-
ção e comercialização de bens 
e serviços para o mercado”. 
BULGARELLI, Waldírio. Sociedades, 
Empresa e Estabelecimento. 
São Paulo: Atlas, 1980. P. 19. O mesmo 
autor, em obra diversa, demonstra o 
seu aceite pelo conceito econômico de 
empresa: “Uma vez, portanto, 
que há verdadeira unanimi-
dade em relação ao conceito 
econômico de empresa, como 
aliás assinala muito bem Syl-
vio Marcondes, nada há de 
errado na sua aceitação por 
parte do Direito, e foi nessa 
conformidade que a legisla-
ção veio regulando os seus 
vários aspectos (...)”.BULGARELLI, 
Waldírio. Estudos e Pareceres de 
Direito Empresarial: o Direito 
das Empresas. São Paulo: Ed. RT, 
1980. P. 17. 
10. Apud MARCONDES, Sylvio. Questões de Direito Mercantil. São Paulo: Saraiva, 1977. P.8.
11. Apud REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 55.
12. Referida tese foi publicada na 
Rivista del Diritto Commerciale, fascs. 
1 e 2, em 1943, sob o titulo “Profi 
lidell’Imprensa”, conforme RE-
QUIÃO, Rubens. Curso de Direito 
Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000. P. 71. Em português, a 
tese foi publicada, com tradução de 
Fábio Konder Comparato, na Revista de 
Direito Mercantil, Industrial, Econômico 
e Financeiro n.º104/109-126, São Pau-
lo: RT, outubro/ dezembro, 1996.
13. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 
14. Art. 2.082 do Codice Civile italia-
no de 1942: “Imprenditore — È 
imprenditore chi esercita pro-
fessionalmente una attività 
economica organizzata al fi 
ne della produzione o dello 
scambiodi beni o di servizi”.
15. Art. 966 do Novo Código Civil: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.
16. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. I. 24ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. P. 55.
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 9
17 BULGARELLI, Waldírio. Sociedades, 
Empresa e Estabelecimento. São Paulo: 
Atlas, 1980. P. 22.
18 LAMY FILHO, Alfredo. A reforma da Lei 
de Sociedades Anônimas. IN: Temas de 
Direito Societário. Rio de Janeiro: Reno-
var, 2006. P. 18.
19 Disponível em <http://www.se-
braecom.br/br/aprendasebrae/estu-
dosepesquisas.asp.> Acesso em 2 de 
fevereiro de 2016. 
Contudo, o renomado comercialista os apresenta como sendo (i) a organiza-
ção, (ii) a atividade econômica, (iii) o fim lucrativo e (iv) a profissionalida-
de17. Bugarelli acrescenta o fim lucrativo como elemento essencial à empresa, 
posto que não há empresa que não vise a obtenção de lucro.
Por esse contexto, cabe observar que, no esforço de construir um conceito 
jurídico de empresa, pouco se afastou da noção econômica. A esse propósito, 
é incisiva a conclusão de Waldírio Bulgarelli, centralizando o conceito de em-
presa no seu perfil subjetivo, seguindo a opção legislativa italiana e brasileira:
“Dessume-se, assim, o conceito de empresa daquele de empresário, po-
dendo-se conceituá-la como a organização da atividade econômica para 
o fim de produção ou de troca de bens ou serviços. Verifica-se, portanto, a 
transmutação que ocorreu no conceito econômico na sua passagem para o 
âmbito jurídico, sob a égide do empresário, ou seja, de organização da ati-
vidade econômica para o de exercício profissional da atividade econômica 
organizada”18
2. O QUE É A GRANDE EMPRESA?
Relembrado o conceito de empresa, cabe, neste momento, uma indaga-
ção: o que é precisamente a grande empresa? É notório que a grande empresa 
exerce atualmente influência dominante no cenário econômico-social con-
temporâneo, igualando ou, em muitos casos, superando o poder antes atribu-
ído aos Estados. Mas quais são os critérios para definir uma grande empresa? 
O que a diferencia da pequena empresa?
Diversos critérios podem ser utilizados. Por exemplo, o SEBRAE classifica 
a empresa em função do número de pessoas empregadas. Ao definir a micro e 
pequena empresa, entender-se-ia, a contrario sensu, que o SEBRAE classifica 
como grandes empresas aquelas que, na indústria e na construção, empregam 
mais de 100 (cem) pessoas, e que, no comércio e serviços, empregam mais de 
50 (cinquenta)19 pessoas.
Também, por via indireta, a interpretação conjunta da Lei nº 9.841/1999 
(Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) com o Decreto 
nº 5.028/2004 levaria à conclusão de que são grandes empresas aquelas que 
obtiverem uma receita bruta anual superior a R$ 2.133.222,00 (dois mi-
lhões, cento e trinta e três mil, duzentos e vinte e dois reais).
A Lei 11.638/2007, que estende às sociedades de grande porte as dispo-
sições da Lei das Sociedades Anônimas sobre escrituração e elaboração de 
demonstrações financeiras, define como sendo de grande porte “a sociedade 
ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social ante-
rior, ativo total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de 
17. BULGARELLI, Waldírio. Sociedades, Empresa e Estabelecimento. São Paulo: Atlas, 1980. P. 22.
18. LAMY FILHO, Alfredo. A reforma da Lei de Sociedades Anônimas. IN: Temas de Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. P. 18.
19. Disponível em <http://www.sebraecom.br/br/aprendasebrae/estudosepesquisas.asp.> Acesso em 2 de fevereiro de 2016. 
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FGV DIREITO RIO 10
20 LAMY FILHO, Alfredo. A Reforma da 
Lei de Sociedades Anônimas. IN: Temas 
de Direito Societário. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2006. P. 39.
reais) ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões 
de reais)”. Seria essa, então, a grande empresa no Brasil? É um critério.
No entanto, estes critérios exemplificativos são insuficientes para definir o 
fenômeno que se pretende analisar, por não coadunarem com a realidade so-
cioeconômica. O conceito de grande empresa é histórico, variando de acordo 
com cada época e lugar. Na verdade, constata-se que, apesar da noção quase 
intuitiva acerca do que é a grande empresa, é difícil a tarefa de apresentar 
critérios objetivos e precisos que a definam. Em geral, podemos utilizar pa-
râmetros comparativos: compara-se uma empresa com outra de uma mesma 
região, ou, ainda, faz-se uma confrontação com os dados do país ou do mun-
do. A grande empresa de Moçambique poderá ser uma pequena ou média 
empresa nos Estados Unidos.
Em geral, as sociedades anônimas são o instrumental adequado para a 
constituição da grande empresa, pois por meio delas é possível realizar uma 
dupla função, primordial para o desenvolvimento econômico: (i) limitar a 
responsabilidade da sociedade e de seus participantes e (ii) capitalizar a socie-
dade sem necessidade de pagamento de juros, nem de constituição de dívi-
das. Para Alfredo Lamy Filho:
“(...) admitindo a limitação de responsabilidade de todos os sócios, a S/A 
tornou possível a mobilização de recursos em montante ilimitado, através 
de junção de capitais das mais variadas procedências de grandes e pequenos 
investidores, movidos pelas mais diversas inspirações, embora com o deno-
minador comum da colimação de lucros. Por outro lado, a livre transferibi-
lidade do papel que incorporava essa participação tornava-o extremamen-
te atraente porque possibilitava liquidez imediata. Com esses atributos, 
revela-se a S/A dotada de explosiva força de expansão”20
Embora a sociedade anônima seja a forma jurídica mais adotada para a 
grande empresa, não é a única. São muitas as grandes empresas no Brasil 
que adotam a forma de limitadas e até mesmo de consórcios, cooperativas e 
sociedades profissionais.
As grandes empresas têm um relevante papel na economia mundial. Em 
algumas situações, o poderio econômico de determinadas empresas é tama-
nho que ultrapassa o PIB de inúmeros países. Nas palavras de Gustavo Fran-
co:
“Países e empresas vivem em dimensões diferentes, e são medidos com es-
calas próprias, os primeiros por meio do PIB, ou seja, pelo valor adicionado 
total gerado dentro de suas fronteiras, enquanto o tamanho das empresas é 
medido pelo faturamento. Conciliando as escalas, um cálculo para o ano 
2000, feito pela Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o De-
20. LAMY FILHO, Alfredo. A Reforma da Lei de Sociedades Anônimas. IN: Temas de Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. P. 39.
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21 FRANCO, Gustavo. Globalização e 
Poder. IN: VEJA, Edição 1857, de 09 
de junho de 2004. IN: <http://www.
econpuc-rio.br/gfranco/VEJA121.
htm> Acessado em 2 de fevereiro de 
2016.
22 COMPARATO, Fábio Konder. Aspectos 
Jurídicos da Macroempresa. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 1970. 
Pp. 4 e 5.
senvolvimento (Unctad), mostrou que, entre os cinquenta maiores países e 
empresas, há apenas duas empresas, mas, dentro dos cinquenta seguintes, 
27 são empresas. Ou seja, para o total dos 100 maiores países e empresas, 
29 eram empresas, sendo que a maior delas, a Exxon Mobil, tinha um 
“PIB” estimado em cerca de 63 bilhões de dólares, ligeiramente inferior ao 
do Chile e das Filipinas e maior que o do Paquistão”21.
Percebe-se que o poder econômico das grandes empresas pode, em última 
instância, influenciar social e politicamente uma determinada sociedade e, 
até mesmo, a ordem mundial.
Esta constatação se mostra ainda mais presente quando se verifica a expan-
são do fenômeno da concentração. A concentração, em seu sentido econô-
mico, representaa aquisição de mais meios de produção. A tendência à con-
centração e à necessidade de crescimento de empresas refere-se, em última 
instância, à capacidade de realizar de forma mais adequada os investimentos 
de que determinada empresa necessita para a realização da sua atividade.
De acordo com Fábio Konder Comparato:
“(...) a evolução da economia capitalista nos últimos 40 anos, e no-
tadamente a partir da Segunda Guerra Mundial, tem sido comandada 
pelo fenômeno da concentração empresarial. Desde a primeira Revolução 
Industrial as vantagens da constituição dessas ‘economias internas de es-
cala’, segundo expressão consagrada por Alfred Marshall, eram de todos 
conhecidas: baixa do custo unitário de produção com o aumento do volume 
de unidades produzidas; possibilidade de autofinanciamento, libertando 
a empresa das injunções do mercado financeiro; multiplicação de estabe-
lecimentos, permitindo que atingissem diretamente os diferentes centros de 
consumo, com a supressão dos intermediários; estocagem de matéria-prima, 
atenuando as variações de preços; estudos de mercado e publicidade em 
larga escala”.22
Quanto maior uma empresa, mais vantagens, portanto, ela retira de sua 
posição dominante no mercado, pois maior é a sua capacidade de diminuir 
custos de produção, angariar lucros e aumentar seus investimentos.
Atualmente, além do processo de integração econômica internacional, por 
meio das grandes empresas e da concentração, percebe-se uma nova onda de 
crescimento das empresas, por meio do fenômeno da pulverização de capi-
tal, em que se estabelece uma difusão das ações entre milhares de acionistas, 
sendo o controle da companhia exercido não mais por acionistas, mas por 
meio de órgãos de administração, fenômeno que classicamente se denomina 
“controle gerencial”.
21. FRANCO, Gustavo. Globalização e Poder. IN: VEJA, Edição 1857, de 09 de junho de 2004. IN: <http://www.econpuc-rio.br/gfranco/VEJA121.htm> Acessado em 2 de fevereiro de 2016.
22. COMPARATO, Fábio Konder. Aspectos Jurídicos da Macroempresa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1970. Pp. 4 e 5.
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FGV DIREITO RIO 12
23 COMPARATO, Fábio Konder. Aspectos 
Jurídicos da Macroempresa. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 1970. 
Pp. 4 e 5.
A pulverização do controle acionário existe em todos os países em que há 
um mercado de valores mobiliários forte, que atrai a poupança popular e que 
é acessado em grande escala pelas sociedades anônimas locais (as corporations 
americanas, ou public limited companies inglesas).
Em geral, as empresas nascem por iniciativa e capacidade de um líder, o 
empreendedor sob a qual crescem e se afirmam. Para se expandirem, con-
tudo, precisam de recursos financeiros, recorrendo ao mercado de capitais, 
onde encontram capital farto e barato23.
23. COMPARATO, Fábio Konder. Aspectos Jurídicos da Macroempresa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1970. Pp. 4 e 5.
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AULA 2: SOCIEDADE ANÔNIMA: EVOLUÇÃO HISTÓRICA, NOÇÕES 
GERAIS E CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
LEITURA BÁSICA:
LAMY FILHO, Alfredo et Al. A Lei das S.A. Rio de Janeiro: Editora Reno-
var. 1995, Vols. I — pp. 19-60 e pp. 203-219
ROTEIRO DE AULA:
Na aula anterior, foi avaliada a importância da grande empresa no atual 
cenário econômico e social. Ainda, concluiu-se que a sociedade anônima é a 
principal forma jurídica adotada, em escala mundial, pelas grandes organiza-
ções empresariais.
Passaremos, agora, a analisar as principais características que distinguem 
as sociedades anônimas — também denominadas “companhias” — dos de-
mais tipos societários no ordenamento jurídico brasileiro.
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA.
A doutrina diverge quanto à origem das Sociedades Anônimas. Em um 
breve resumo, há quem diga que a Casa di San Giorgio, uma associação de 
credores da cidade de Gênova, criada para financiar a guerra contra Veneza 
na Renascença italiana foi o “embrião” da Sociedade Anônima, na medida 
em que os credores trocaram seus créditos por frações ideais dessa associação 
e passaram a administrar seus créditos conjuntamente. Muitos, contudo, re-
jeitam a ideia que a Casa di San Giorgio foi a origem das S.A.s, assemelhan-
do-se mais a uma comunhão de credores.
Na verdade, a Sociedade Anônima como conhecemos hoje se originou nas 
grandes sociedades coloniais do Século XVII, que financiaram o comércio 
com o oriente e a exploração de colônias, empreendimentos com custos ele-
vadíssimos e forte interesse do Estado. A primeira dessas grandes empresas foi 
a Companhia das Índias Orientais holandesa, fundada em 1602. Em 1621 
foi fundada a Companhia das Índias Ocidentais, que teve grande importân-
cia na história do Brasil, tendo patrocinado a invasão holandesa no Nordeste 
brasileiro.
Várias sociedades similares foram criadas na França, Inglaterra e Portugal, 
sempre com o intuito de financiar grandes empreendimentos ultramarinos. 
O primeiro grande movimento especulativo com ações de uma sociedade 
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FGV DIREITO RIO 14
anônima aconteceu em 1720 com as ações da South Sea Company, uma com-
panhia formada para explorar o monopólio do comércio entre a Inglaterra e 
a América espanhola. Esse movimento especulativo, conhecido como “South 
Sea Bubble”, gerou o famoso “Bubble Act”, obrigando todas as novas empre-
sas a serem formadas apenas mediante um ato de outorga do parlamento.
No seu início, portanto, as sociedades anônimas começaram como verda-
deiras sociedades de economia mista, com forte participação e interesse esta-
tal, buscando a poupança privada para financiar grandes empreendimentos 
de interesse público. As sociedades eram criadas por outorga estatal, criando 
um mecanismo de controle da captação de recursos da poupança popular.
No Brasil, exemplos de sociedades constituídas sob o regime de outorga 
são a Companhia Geral do Grão Pará, criada para colonizar o norte do país 
e o Banco do Brasil.
Na França, o Código Civil napoleônico instituiu, em 1807, um sistema de 
autorização governamental para a constituição de uma sociedade por ações, 
que passou a vigorar em todo o continente. Para a constituição de uma so-
ciedade anônima não era mais necessária a outorga estatal, mas apenas uma 
autorização regulatória.
Em meados do Século XIX, Inglaterra e Estados Unidos, em plena Re-
volução Industrial, buscavam maneiras de facilitar o acesso ao capital para o 
financiamento dos empreendimentos, o que fizeram mediante a abolição do 
sistema de outorga, substituindo-o por um sistema de regulamentação. Em 
outras palavras, desde que seguisse a regulamentação vigente, a constituição 
de uma sociedade anônima não dependia mais da autorização governamen-
tal. Esse sistema foi adotado pela França em 1867, após o acordo de livre 
comércio com a Inglaterra firmado em 1862, que fez com que as sociedades 
anônimas constituídas na França ficassem em desvantagem comercial em re-
lação às sociedades anônimas constituídas na Inglaterra.
No Brasil, o regime de outorga da colônia e do primeiro reinado foi subs-
tituído pelo regime de autorização primeiro por Decreto de 1849, confirma-
do depois no Código Comercial de 1850. Em 1882 o regime de autorização 
foi abolido e o Brasil passou a adotar o regime de regulamentação, sendo 
necessária autorização apenas em casos excepcionais, como bancos, segura-
doras, sociedades estrangeiras, etc.
Com a Lei das S.A., de 1976, e a criação da CVM, o Brasil passou a con-
viver com um regime dualista: regulamentação para as sociedades fechadas e 
autorização para as companhias abertas, que precisam de autorização prévia 
da CVM para se constituírem ou terem suas ações negociadas em bolsa de 
valores.
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FGV DIREITO RIO 15
24 Bulhões Pedreira e Alfredo LamyFI-
lho definem capital social como “a cifra, 
fixada no estatuto social, do montante 
das contribuições prometidas pelos só-
cios para formação da companhia que 
a lei submete a regime cogente, cujo fim 
é proteger os credores sociais. Os funda-
dores (na constituição da companhia) 
e os órgãos sociais (durante a vida da 
sociedade) estipulam no estatuto o valor 
do capital social, que somente pode ser 
modificado com observância das normas 
legais. PEDREIRA, José Luiz Bulhões e 
LAMY FILHO, Alfredo (Coordenadores). 
Direito das Companhias. Rio de Janeiro: 
Editora Forense. 2009, Vols. I, p.193. 
Este será um tema melhor abordado 
na Aula 7.
2. SOCIEDADE ANÔNIMA: DEFINIÇÃO LEGAL.
Segundo o art. 1º da Lei das S.A., Lei Federal nº 6.404/76, companhia é 
a pessoa jurídica de direito privado, cujo capital social é dividido em ações 
e na qual a responsabilidade de cada sócio é limitada ao preço de emissão 
das ações que subscreveu ou adquiriu. Companhia e sociedade anônima são 
termos sinônimos.
A divisão do capital social24 em ações, conforme aludido pelos arts. 1º da 
LSA e 1.088 do Código Civil, significa que “as participações societárias desig-
nadas ações são padronizadas e incorporadas em valores mobiliários”, conforme 
ensina José Luiz Bulhões Pedreira e Alfredo Lamy Filho.
Junto com a sociedade em comandita por ações, a sociedade anônima 
forma o gênero das “sociedades por ações”. Ambas, independentemente de 
seu objeto, são consideradas empresárias, em conformidade com o §único do 
art. 982 do CC/02.
3. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA SOCIEDADE ANÔNIMA.
Como toda forma de sociedade, a companhia possui características mar-
cantes que a diferenciam das demais e, em seu caso particular, fazem dela o 
modelo jurídico mais sofisticado e completo no direito brasileiro para união 
de capital proveniente de indivíduos desconhecidos, os quais, no entanto, 
desejam a concretização de um fim comum.
Eis, a seguir, breves considerações acerca das características mais básicas 
das sociedades por ações.
3.1. Divisão do Capital Social em Ações.
Os direitos e obrigações dos acionistas, nascidos de contribuições para o 
capital social, são incorporados em valores mobiliários, organizados de forma 
jurídica padronizada, dos quais se abstrai a identidade dos titulares das ações.
3.2. Padronização das Posições de Sócio.
A padronização das posições de sócio significa conferir igualdade de direi-
tos às ações da mesma classe e espécie.
3.3. Posições de Sócios não Personalizadas.
Nas sociedades por ações, o Estatuto Social fixa o número, espécies e clas-
ses das ações sem identificar a pessoa do acionista.
24. Bulhões Pedreira e Alfredo Lamy 
FIlho definem capital social como “a 
cifra, fixada no estatuto social, 
do montante das contribui-
ções prometidas pelos sócios 
para formação da companhia 
que a lei submete a regime 
cogente, cujo fim é proteger 
os credores sociais. Os fun-
dadores (na constituição da 
companhia) e os órgãos so-
ciais (durante a vida da socie-
dade) estipulam no estatuto 
o valor do capital social, que 
somente pode ser modificado 
com observância das normas 
legais. PEDREIRA, José Luiz Bulhões e 
LAMY FILHO, Alfredo (Coordenadores). 
Direito das Companhias. Rio de 
Janeiro: Editora Forense. 2009, Vols. I, 
p.193. Este será um tema melhor abor-
dado na Aula 7.
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FGV DIREITO RIO 16
Nesse contexto, o acionista pode transferir a ação para outra pessoa sem a 
necessidade de se alterar o estatuto da companhia. Por isso, não se considera, 
nas sociedades anônimas, diferentemente de outros tipos societários, perso-
nalizadas as posições dos sócios, o que revela o seu caráter institucionalista.
3.4. Natureza Corpórea da Ação.
Em relação às ações, veja-se que elas são incorporadas em título de crédito 
(em sentido lato), designado valor mobiliário, o que lhe confere natureza 
corpórea. A função dos títulos de crédito é facilitar a circulação de direitos. 
Nesse sentido, a incorporação da ação em título de crédito funciona como 
excelente instrumento para reunir capitais de grande número de pessoas e 
desenvolver o mercado.
Também vale registrar que a sociedade anônima está autorizada, por lei, a 
emitir outros títulos, além das ações, que conferem ao seu titular o direito de 
participar nos lucros (partes beneficiárias), o direito de subscrever ações (bô-
nus de subscrição), ou créditos pecuniários contra a companhia (debêntures).
3.5. Livre Circulação das Ações.
As ações e demais títulos emitidos pela companhia seguem a regra da livre 
circulação, sem a identificação da pessoa de seu titular.
3.6. Limitação dos Risco do Acionista.
Como se disse, o art. 1º da LSA limita a responsabilidade do acionista 
perante terceiros ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Por 
assim dizer, limita-se o risco financeiro do acionista. Essa característica incen-
tiva o empresariado.
3.7. Sociedade de Capital vs. Sociedade de Pessoas.
Qualifica-se, de uma maneira geral, a sociedade anônima como “sociedade 
de capitais”, isto é, intuitu pecuniae, pois nela o vínculo entre os sócios tem 
por base a aglutinação de recursos, independentemente da pessoa de seus só-
cios. Neste tipo societário a figura dos sócios não predomina para a formação 
do vínculo societário, tal como ocorre nas sociedades limitadas, por exemplo. 
A relação entre os sócios nas sociedades anônimas ancora-se, precipuamente, 
na disposição para aporte de capital visando a obtenção de resultados econô-
micos, independente das características pessoais de seus sócios.
Em oposição às sociedades de capitais, as sociedades de pessoas são aque-
las em que a pessoa do sócio tem papel fundamental na realização do objeto 
social. As sociedades de pessoas são constituídas com intuitu personae, razão 
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FGV DIREITO RIO 17
pela qual o desentendimento entre os membros, quando torna insuportável 
a vida em sociedade, implica a quebra da affectio societatis. As sociedades de 
pessoas estão previstas no Código Civil.
Nas sociedades anônimas fechadas, isto é, aquelas cujos valores mobili-
ários não estão admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários, 
cf. art. 4º da Lei 6.404/76, embora de cunho eminentemente patrimonial, 
em diversas ocasiões concentra-se na pessoa de seus sócios um de seus ele-
mentos fundamentais. Exemplo disso são as sociedades anônimas familiares, 
inacessíveis a estranhos, cujas ações circulam entre os poucos acionistas que 
as adquirem.
Na realidade, essas sociedades são constituídas intuitu personae, uma vez 
que o animus que se requer dos sócios não é só material: a realização do ob-
jeto social depende fundamentalmente dos atributos individuais dos sócios.
Fábio Konder Comparato entende que a companhia fechada, tanto inter-
na quanto externamente, é uma verdadeira sociedade de pessoas, dominada 
pelo princípio da identificação dos acionistas (sejam eles pessoas físicas ou 
jurídicas), de sua colaboração pessoal no exercício da empresa e da boa-fé em 
seu relacionamento recíproco. No mesmo sentido, entendem Rubens Re-
quião e Sérgio Campinho.
A distinção das sociedades em de pessoas/contratuais ou de capitais/insti-
tucionais traz relevantes consequências, como é o caso de se saber se o insti-
tuto da dissolução parcial, em razão da quebra da affectio societatis, aplicado 
às sociedades de pessoas do Código Civil, pode ou não ser aplicado às socie-
dades anônimas de capital fechado. Ainda, a distinção é relevante para saber 
se o instituto da exclusão de sócio, previsto no art. 1.085 do Código Civil, 
pode ser aplicado às sociedades anônimas fechadas.
A Lei das S.A., ao cuidar dos casos de dissolução da sociedade anônima, 
a partir do art. 206, sempre pressupõe a dissolução integral da companhia. 
Com efeito, a regra prevista emlei para esse tipo societário é a dissolução 
total, tendo em vista a sua natureza e estruturação jurídica. Portanto, não 
há dúvidas de que as sociedades anônimas abertas estão sujeitas à dissolução 
total, nos termos do referido artigo.
Contudo, no que se refere às sociedades anônimas fechadas, a doutrina e a 
jurisprudência não encontram óbices à adoção da dissolução parcial, fundada 
na quebra da affectio societatis.
O instituto da dissolução parcial erigiu-se baseado nas sociedades de pes-
soas/contratuais, como alternativa à dissolução total, como medida mais con-
sentânea ao princípio da preservação da sociedade e sua função social. Con-
tudo, com a complexa realidade das relações negociais, vem se admitindo a 
extensão do referido instituto às sociedades anônimas fechadas, que ostentem 
caráter familiar, nas quais as qualidades pessoais dos sócios adquirem relevân-
cia para o desenvolvimento das atividades sociais.
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FGV DIREITO RIO 18
25 Recurso especial nº 917.531/RS, 
Quarta Turma, acórdão publicado em 
01.02.2012.
A posição que tem prevalecido, atualmente, é a possibilidade de disso-
lução parcial de uma sociedade anônima fechada, com traço nitidamente 
personalista, fundada na quebra da affectio societatis. Assim, possibilita-se ao 
acionista dissidente a sua retirada do empreendimento, mediante o justo pa-
gamento de seus haveres, sem que a companhia e a empresa por ela desenvol-
vida sofram solução de continuidade.
Em julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiça25 reconheceu-
-se que:
“Caracterizada a sociedade anônima como fechada e personalista, o que 
tem o condão de propiciar a sua dissolução parcial — fenômeno até recen-
temente vinculado às sociedades de pessoas —, é de se entender também 
pela possibilidade de aplicação das regras atinentes à exclusão de sócios das 
sociedades regidas pelo Código Civil, máxime diante da previsão contida 
no art. 1.089 do CC: “A sociedade anônima rege-se por lei especial, 
aplicando-se lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código”.
Em seu voto, o Ministro Luis Felipe Salomão reconheceu que, em regra, 
as sociedades anônimas são sociedades de capital (intuitu pecuniae), mas que, 
diante da complexidade das relações negociais, não é possível enquadrá-las de 
forma apriorística numa ou noutra classificação.
Nesse sentido, reconheceu o STJ a possibilidade tanto da aplicação do 
instituto da dissolução parcial às sociedades anônimas de capital fechado, 
que apresentem natureza personalista, quanto a possibilidade de aplicação 
do instituto da exclusão de sócios, previsto no art. 1.085 do Código Civil, 
àquelas sociedades.
Diante disso, pode-se concluir que, em relação às sociedades anônimas 
de capital aberto, prevalece o entendimento de que estão são sociedades de 
capital, com feição institucional, sujeitas, portanto, apenas às disposições da 
Lei das S.A. Entretanto, em relação às sociedades de capital fechado, atual-
mente não é mais possível um rígido enquadramento destas como sociedades 
de capitais, pois, dependendo de sua feição, se personalista, poderão a ela ser 
aplicados institutos próprios das sociedades de pessoas.
4. SISTEMA JURÍDICO DAS COMPANHIAS.
O sistema jurídico da companhia é formado pelo conjunto de todas as 
normas jurídicas que se aplicam a cada companhia existente, compreenden-
do as normas:
25. Recurso especial nº 917.531/RS, Quarta Turma, acórdão publicado em 01.02.2012.
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FGV DIREITO RIO 19
(i) do seu estatuto social;
(ii) da LSA e sua regulamentação;
(iii) de outras leis; e
(iv) estipulações de contratos parassociais ou preliminares.
Fala-se em sistema porque suas normas se acham inter-relacionadas por 
referência a uma mesma companhia.
4.1. Conceito e Espécies de Normas.
A primeira tarefa para se conhecer o sistema jurídico de determinada com-
panhia é ler e interpretar o seu estatuto social. Além do estatuto social, o 
sistema de cada companhia compreende também as normas cogentes da LSA 
e sua regulamentação. Geralmente, o estatuto social da companhia reproduz 
apenas algumas dessas normas.
Por esse motivo, a segunda tarefa para conhecer o sistema jurídico da com-
panhia é comparar o estatuto social com a LSA e sua regulamentação, a fim 
de verificar se o estatuto contém dispositivos inválidos (porque incompatíveis 
com normas cogentes ou por ultrapassarem os limites de normas legais) e in-
terpretar as estipulações estatutárias à luz das normas da LSA, pois essa inter-
pretação sistemática pode modificar o conteúdo das estipulações estatutárias 
consideradas de forma individual.
O conhecimento do sistema jurídico da companhia pode requerer, ainda, 
uma terceira tarefa, consistente na verificação dos efeitos da interpretação 
sistemática que abranja leis gerais (como, por exemplo, o Código Civil), as 
leis especiais sobre institutos referidos na LSA e as leis de direito público que 
contenham normas aplicáveis à classe a que pertence a companhia, ou à ati-
vidade que constitua seu objeto social.
O conhecimento do sistema jurídico da companhia poderá compreen-
der, por fim, uma quarta tarefa, no caso de haver contratos coligados ao da 
companhia, ou dele dependentes, ou se a constituição da companhia foi pre-
cedida de contrato preliminar, que consiste na interpretação sistemática que 
tenha em conta as estipulações desses contratos.
4.2. Normas do Estatuto Social.
As normas do estatuto social formam o chamado sistema jurídico parti-
cular da companhia. A LSA dispõe, no art. 83, que o estatuto social “deverá 
satisfazer a todos os requisitos exigidos para os contratos das sociedades mercantis 
em geral e aos peculiares à companhia, e conterá as normas pelas quais se regerá 
a companhia”.
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 20
O estatuto social compreende as normas particulares ou individuais cria-
das pelas partes do contrato de companhia, como ocorre em qualquer outro 
contrato, mas apresenta duas peculiaridades:
(i) a LSA, além de regular o contrato de companhia, é a legislação de 
organização das companhias; e
(ii) suas normas são genéricas, no sentido de que não são dirigidas a 
pessoas identificadas.
Tais peculiaridades resultam da característica de que os direitos e as obri-
gações dos acionistas são definidos no estatuto como elementos das ações, 
com abstração de seus titulares. O acordo de vontades que cria a companhia 
tem por destinatários quaisquer pessoas que ocupem e venham a ocupar as 
posições jurídicas de acionistas ou os cargos dos órgãos sociais.
Pode-se dizer, portanto, que o estatuto social tem a mesma natureza do di-
reito objetivo, no sentido de que é um sistema de normas jurídicas genéricas, 
obrigatórias e permanentes, que somente podem ser modificadas ou extintas 
com a observância das normas jurídicas que regulam sua produção, vigência 
e eficácia.
A Lei das S.A. reserva aos subscritores das ações (na constituição) e à As-
sembleia Geral dos acionistas (durante a existência da companhia) a compe-
tência para, respectivamente, criar e modificar o estatuto.
A norma do estatuto somente deixa de viger:
(i) por nova deliberação da Assembleia Geral, adotada com a obser-
vância dos preceitos legais aplicáveis; ou
(ii) por decisão judicial que declare a sua invalidade.
4.3. Normas da Lei das S.A.
As normas da Lei das S.A. consistem em um sistema de normas que regu-
lam o contrato de sociedade e integram o estatuto legal da organização social. 
Algumas dessas normas são cogentes (definem características essenciais das 
companhias ou excluem a autonomia de vontade das partes contratantes); 
dispositivas (sua aplicação pode ser afastada pelas partes ao exercerem a li-
berdade de contratar); supletivas (aplicam-se na ausência da manifestação de 
vontade dos contratantes) ou interpretativasdos preceitos legais e das estipu-
lações contratuais.
4.4. Outras Normas Legais.
O Código Civil integra o sistema jurídico da companhia, na medida em 
que contém disposições sobre diversos institutos que se aplicam à companhia 
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 21
(pessoas jurídicas, negócios jurídicos, atos ilícitos, prescrição e decadência, 
direitos das obrigações, responsabilidade civil, entre outros).
Há, ainda, leis de direito público que contêm normas aplicáveis às com-
panhias, como as que regulam os mercados de valores mobiliários (lei nº 
6.385/76) e dispõem sobre companhias abertas, e as do Código Penal, cujo 
art. 177 tipifica os crimes praticados pelos fundadores, administradores e 
acionistas de companhias.
4.5. Contratos Parassociais.
A expressão “contratos parassociais” significa gênero de contratos coliga-
dos ao de sociedade, ou dele dependentes, pelos quais os sócios contraem 
obrigações sobre exercício de seus direitos de sócio e de dispor de suas parti-
cipações societárias, ou sobre obrigações de prover recursos à sociedade. São 
contratos distintos do contrato de sociedade, mas a ele acessórios. A modali-
dade de contrato parassocial mais estudada é o acordo de acionista.
Na definição de Carlos Augusto da Silveira Lobo, os acordos de acionistas 
são modalidades de “contrato parassocial”, que compreendem contratos em 
que as partes regulam ou complementam seus direitos e obrigações como 
sócios de determinada sociedade e por isso são considerados coligados ao 
contrato social, ou acessórios deste.
Por força de expressa disposição legal (art. 118 da LSA), o acordo de acio-
nistas integra o sistema jurídico da companhia quando arquivado na sua sede. 
A lei 10.303/2001 reforçou a eficácia da referida norma ao acrescentar ao art. 
118 da LSA o parágrafo 8º que determina que: “o presidente da assembleia ou 
do órgão colegiado de deliberação da companhia não computará o voto proferido 
com infração de acordo de acionistas devidamente arquivado”.
Ainda, o parágrafo 9º define que:
“O não comparecimento à assembleia ou às reuniões dos órgãos de ad-
ministração da companhia, bem como as abstenções de voto de qualquer 
parte de acordo de acionistas ou de membros do conselho de administração 
eleitos nos termos de acordo de acionistas, assegura à parte prejudicada o 
direito de votar com as ações pertencentes ao acionista ausente ou omisso 
e, no caso de membro do conselho de administração, pelo conselheiro eleito 
com os votos da parte prejudicada.”
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 22
26 Lei 6.404/76: “Artigo 138. A adminis-
tração da companhia competirá, con-
forme dispuser o estatuto, ao conselho 
de administração e à diretoria.
§1º O conselho de administração é 
órgão de deliberação colegiada, sendo 
a representação da companhia privati-
va dos diretores.”
§ 2º As companhias abertas e as de 
capital autorizado terão, obrigatoria-
mente, conselho de administração.”
5. ÓRGÃOS SOCIAIS.
A sociedade anônima, como qualquer outra pessoa jurídica, manifesta a 
vontade social através de seus órgãos. Nesse sentido, a LSA prevê a existência 
de, ao menos, quatro órgãos sociais:
(a) Assembleia Geral;
(b) Diretoria; e
(c) Conselho Fiscal, o qual, entretanto, não precisa funcionar conti-
nuamente; e (d) Conselho de Administração nas companhias aber-
tas (art. 138,§2º, LSA), nas sociedades de capital autorizado (art. 
138,§2º, LSA) e de economia mista (art. 239 LSA) (na sociedade 
anônima fechada, o conselho de administração é facultativo)26.
Ainda, de acordo com o art. 160 da LSA, permite-se que o estatuto crie 
outros órgãos com funções técnicas ou de aconselhamento.
Melhor análise desse tema se dará nos tópicos 5 e 6. Por ora cabe men-
cionar brevemente o seguinte a respeito da cada um dos órgãos sociais legal-
mente previstos:
5.1. Assembleia Geral.
É o órgão supremo da sociedade, no qual reside a fonte maior de todo o 
poder. Formada pela reunião de todos os acionistas, tem competência irres-
trita para deliberar sobre todos os assuntos de interesse da sociedade. Subdi-
vide-se em ordinária ou extraordinária, de acordo com os temas abordados.
5.2. Diretoria.
É o órgão executivo da sociedade, sendo seus membros detentores do po-
der da representação social, competindo, além disso, a direção da sociedade, 
desde o desenvolvimento dos negócios e abertura de mercados ao comando 
dos empregados.
5.3. Conselho Fiscal.
É o órgão da companhia destinado a fiscalizar os atos dos administradores 
e o cumprimento dos seus deveres estatutários e legais. A Lei não impõe o seu 
funcionamento permanente, podendo o estatuto dispor sobre o mesmo. Este 
órgão social será melhor abordado na aula 12.
26. Lei 6.404/76: “Artigo 138. A ad-
ministração da companhia competirá, 
conforme dispuser o estatuto, ao con-
selho de administração e à diretoria.
<nota3>§1º O conselho de adminis-
tração é órgão de deliberação colegia-
da, sendo a representação da compa-
nhia privativa dos diretores.”
§ 2º As companhias abertas e as de 
capital autorizado terão, obrigatoria-
mente, conselho de administração.”
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 23
5.4. Conselho de Administração.
Sua existência só é exigida pela lei nas companhias abertas, de capital au-
torizado e nas sociedades de economia mista, sendo opcional na sociedade 
anônima fechada. Trata-se de órgão colegiado, deliberativo, que se coloca 
entre a assembleia geral e a diretoria na estrutura hierárquica da companhia, 
tendo como função orientar os negócios da companhia, eleger, acompanhar 
e fiscalizar os diretores, entre outras atribuições definidas no art. 142 da LSA.
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 24
27 Nesse sentido, oportunas são as lições 
de Alfredo Lamy Filho: “As característi-
cas da companhia — incorporação dos 
direitos dos acionistas em títulos de 
massa e responsabilidade limitada dos 
sócios — têm origem e fundamento 
em sua função no mercado de capitais:é 
modelo de organização de grupo empre-
sário que as economias de livre empresa 
desenvolveram, adaptado ao funciona-
mento desse mercado, cuja expansão 
moderna é, por sua vez, efeito da difusão 
do modelo de companhia. As demais 
formas de sociedade comercial foram 
inventadas e são reguladas como esque-
mas de associação de pequeno número 
de pessoas e não se prestam à captação 
de capitais no mercado.” PEDREIRA, José 
Luiz Bulhões e LAMY FILHO, Alfredo 
(Coordenadores). Direito das Compa-
nhias. Rio de Janeiro: Editora Forense. 
2009, Vols. I, P. 203.
28 O mercado de valores mobiliários 
brasileiro / Comissão de Valores Mobili-
ários. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Comissão de 
Valores Mobiliários, 2014. P. 122.
AULAS 3 E 4: COMPANHIA ABERTA E FECHADA. MERCADO DE 
VALORES MOBILIÁRIOS. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS — 
CVM. NOÇÕES GERAIS.
LEITURA BÁSICA:
LAMY FILHO, Alfredo et Al. A Lei das S.A. Rio de Janeiro: Editora Reno-
var. 1995, Vols. I — pp. 129-183
EIZIRIK, Nelson et Al. Mercado de Capitais— Regime Jurídico, Rio de 
Janeiro, Editora Renovar, 2011, Capítulos 1 e 2 pp.1-24
ROTEIRO DA AULA:
Na aula passada, vimos algumas noções gerais e características próprias das 
sociedades anônimas. Também identificamos a importância estratégica, do 
ponto de vista econômico, social e político, da constituição de uma sociedade 
anônima quando comparada com a sociedade limitada27.
Assim, passaremos ao exame mais detido da Sociedade Anônima, suas 
classificações e tipos, bem como sua forma de constituição. O conceito de 
valores mobiliários e as suas noções gerais serão aprofundados nas aulas sub-
sequentes.
1. COMPANHIAS ABERTAS VS. COMPANHIAS FECHADAS.
O art. 4 da LSA considerou a existência de duas espécies de sociedade anô-
nima: sociedade anônima de capital aberto esociedade anônima de capital 
fechado. Segundo o referido dispositivo, “a companhia é aberta ou fechada 
conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à 
negociação no mercado de valores mobiliários”. É o que se verifica no esque-
ma abaixo28:
27. Nesse sentido, oportunas são as 
lições de Alfredo Lamy Filho: “As ca-
racterísticas da companhia — 
incorporação dos direitos dos 
acionistas em títulos de mas-
sa e responsabilidade limita-
da dos sócios — têm origem 
e fundamento em sua função 
no mercado de capitais:é 
modelo de organização de 
grupo empresário que as 
economias de livre empresa 
desenvolveram, adaptado ao 
funcionamento desse merca-
do, cuja expansão moderna é, 
por sua vez, efeito da difusão 
do modelo de companhia. As 
demais formas de sociedade 
comercial foram inventadas 
e são reguladas como esque-
mas de associação de peque-
no número de pessoas e não 
se prestam à captação de 
capitais no mercado.” PEDREIRA, 
José Luiz Bulhões e LAMY FILHO, Al-
fredo (Coordenadores). Direito das 
Companhias. Rio de Janeiro: Edito-
ra Forense. 2009, Vols. I, P. 203.
28. O mercado de valores mobiliários brasileiro / Comissão de Valores Mobiliários. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Comissão de Valores Mobiliários, 2014. P. 122.
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 25
29 No mesmo sentido, dispõe o artigo 22 
da Lei 6.835/76: “Art. 22. Considera-se 
aberta a companhia cujos valores mo-
biliários estejam admitidos à negociação 
na bolsa ou no mercado de balcão.”
30 Artigo 2º da Lei 6.385/76: Art. 2o São 
valores mobiliários sujeitos ao regime 
desta Lei: 
I — as ações, debêntures e bônus de 
subscrição; 
II — os cupons, direitos, recibos de 
subscrição e certificados de desdobra-
mento relativos aos valores mobiliários 
referidos no inciso II; 
III — os certificados de depósito de 
valores mobiliários; 
IV — as cédulas de debêntures; 
V — as cotas de fundos de inves-
timento em valores mobiliários ou de 
clubes de investimento em quaisquer 
ativos; 
VI — as notas comerciais; 
VII — os contratos futuros, de op-
ções e outros derivativos, cujos ativos 
subjacentes sejam valores mobiliários; 
VIII — outros contratos derivativos, 
independentemente dos ativos subja-
centes; e
IX — quando ofertados publica-
mente, quaisquer outros títulos ou 
contratos de investimento coletivo, 
que gerem direito de participação, de 
parceria ou de remuneração, inclusive 
resultante de prestação de serviços, 
cujos rendimentos advêm do esforço do 
empreendedor ou de terceiros.
§ 1o Excluem-se do regime desta Lei:         
I — os títulos da dívida pública federal, 
estadual ou municipal; 
II — os títulos cambiais de respon-
sabilidade de instituição financeira, 
exceto as debêntures. 
§ 2o Os emissores dos valores mobili-
ários referidos neste artigo, bem como 
seus administradores e controladores, 
sujeitam-se à disciplina prevista nesta 
Lei, para as companhias abertas. 
§ 3o  Compete à Comissão de Valo-
res Mobiliários expedir normas para 
a execução do disposto neste artigo, 
podendo:
I — exigir que os emissores se 
constituam sob a forma de sociedade 
anônima;
II — exigir que as demonstrações 
financeiras dos emissores, ou que as 
informações sobre o empreendimento 
ou projeto, sejam auditadas por auditor 
independente nela registrado;
III — dispensar, na distribuição pú-
blica dos valores mobiliários referidos 
neste artigo, a participação de socie-
dade integrante do sistema previsto no 
art. 15 desta Lei; 
IV — estabelecer padrões de 
cláusulas e condições que devam ser 
adotadas nos títulos ou contratos de 
investimento, destinados à negocia-
ção em bolsa ou balcão, organizado ou 
não, e recusar a admissão ao mercado 
da emissão que não satisfaça a esses 
padrões. 
Portanto, a distinção entre uma companhia “aberta” e uma “fechada” re-
pousa basicamente numa situação formal, representada pela admissão de tí-
tulos da companhia em bolsa.
Por sua vez, a admissão de negociação dos títulos em bolsa dá-se por meio 
do respectivo registro da companhia na Comissão de Valores Mobiliários — 
CVM, consoante dispõe o art. 4, §1º, da LSA, nos seguintes termos: “So-
mente os valores mobiliários de emissão de companhia registrada na Comissão de 
Valores Mobiliários podem ser negociados no mercado de valores mobiliários.”29 
Exige-se o Registro de Emissão Pública e o Registro de Companhia Aberta 
para negociação em Bolsa ou no Mercado de Balcão Organizado, consoante 
discriminados nas Instruções CVM nº 13/80 e 202/93.
Além das ações, outros valores mobiliários são passíveis de emissão para 
negociação no mercado, consoante expressa lista feita no artigo 2º da Lei 
6.385/7630.
2. DISTRIBUIÇÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS.
Como se viu, a sociedade anônima confere diversos mecanismos para o 
financiamento da atividade empresarial, mediante a emissão e distribuição de 
títulos e valores mobiliários.
Nesse sentido, a distribuição de valor mobiliário pode ser feita de forma 
pública ou privada. A distribuição “privada” consiste na distribuição de títu-
los voltada para um grupo restrito, com ou sem intermediação financeira, e 
dispensada de registro na CVM, podendo, portanto, ser realizada por com-
panhias fechadas.
29. No mesmo sentido, dispõe o 
artigo 22 da Lei 6.835/76: “Art. 22. 
Considera-se aberta a compa-
nhia cujos valores mobiliários 
estejam admitidos à negocia-
ção na bolsa ou no mercado 
de balcão.”
30. Artigo 2º da Lei 6.385/76: Art. 
2o  São valores mobiliários sujeitos ao 
regime desta Lei: 
<nota3><nota3>I — as ações, 
debêntures e bônus de subscrição; 
<nota3>II — os cupons, direitos, 
recibos de subscrição e certificados de 
desdobramento relativos aos valores 
mobiliários referidos no inciso II; 
<nota3>III — os certificados de 
depósito de valores mobiliários; 
<nota3>IV — as cédulas de de-
bêntures; 
<nota3>V — as cotas de fundos de 
investimento em valores mobiliários ou 
de clubes de investimento em quais-
quer ativos; 
<nota3>VI — as notas comerciais; 
<nota3>VII — os contratos fu-
turos, de opções e outros derivativos, 
cujos ativos subjacentes sejam valores 
mobiliários; 
<nota3>VIII — outros contratos 
derivativos, independentemente dos 
ativos subjacentes; e
<nota3>IX — quando ofertados 
publicamente, quaisquer outros títulos 
ou contratos de investimento coletivo, 
que gerem direito de participação, de 
parceria ou de remuneração, inclusive 
resultante de prestação de serviços, 
cujos rendimentos advêm do esforço do 
empreendedor ou de terceiros.
<nota3>§ 1o Excluem-se do regime 
desta Lei:         I — os títulos da dívida 
pública federal, estadual ou municipal; 
<nota3>II — os títulos cambiais de 
responsabilidade de instituição finan-
ceira, exceto as debêntures. 
<nota3>§ 2o  Os emissores dos 
valores mobiliários referidos neste ar-
tigo, bem como seus administradores e 
controladores, sujeitam-se à disciplina 
prevista nesta Lei, para as companhias 
abertas. 
<nota3>§ 3o  Compete à Comissão 
de Valores Mobiliários expedir normas 
para a execução do disposto neste ar-
tigo, podendo:
<nota3>I — exigir que os emisso-
res se constituam sob a forma de socie-
dade anônima;
<nota3>II — exigir que as de-
monstrações financeiras dos emis-
sores, ou que as informações sobre o 
empreendimento ou projeto, sejam 
auditadas por auditor independente 
nela registrado;
<nota3>III — dispensar, na distri-
buição pública dos valores mobiliários 
referidos neste artigo, a participação 
de sociedade integrante do sistema 
previsto no art. 15 desta Lei; 
<nota3>IV — estabelecer padrões 
de cláusulas e condições que devam ser 
adotadas nos títulos ou contratos de 
investimento, destinados à negociação 
em bolsa ou balcão, organizado ou 
não, e recusar a admissão ao mercado 
da emissão quenão satisfaça a esses 
padrões. 
<nota3>§ 4o  É condição de vali-
dade dos contratos derivativos, de que 
tratam os incisos VII e VIII do caput, 
celebrados a partir da entrada em vigor 
da Medida Provisória no 539, de 26 de 
julho de 2011, o registro em câmaras 
ou prestadores de serviço de compen-
sação, de liquidação e de registro auto-
rizados pelo Banco Central do Brasil ou 
pela Comissão de Valores Mobiliários. 
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 26
§ 4o  É condição de validade dos 
contratos derivativos, de que tratam os 
incisos VII e VIII do caput, celebrados a 
partir da entrada em vigor da Medida 
Provisória no  539, de 26 de julho de 
2011, o registro em câmaras ou pres-
tadores de serviço de compensação, 
de liquidação e de registro autorizados 
pelo Banco Central do Brasil ou pela Co-
missão de Valores Mobiliários. 
A distribuição pública de valores mobiliários, por seu turno, afigura-se o 
meio pelo qual as companhias ou os titulares de valores mobiliários de sua 
emissão, realizam, mediante apelo ao público, a colocação destes ativos no 
mercado de capitais. Nesse caso, a companhia deverá ser de capital aberto. O 
termo utilizado para identificar a primeira vez em que uma companhia emite 
valores mobiliários ao mercado é IPO — Initial Public Offer. As ofertas de 
ações podem ser primárias ou secundárias.
A oferta pública primária ocorre mediante a emissão de novas ações, ofer-
tadas ao mercado, cujo ingresso de novos recursos, em contrapartida à aqui-
sição das novas ações emitidas, destina-se à própria companhia emissora. Este 
tipo de oferta atende a principal função econômica do mercado de capitais, 
consistente no financiamento de médio e longo prazo da sociedade e é de-
nominada subscrição de ações. A aquisição dessas ações dá-se por meio de 
subscrição (cash-in).
Já a oferta pública secundária acontece quando são ofertadas ao mercado 
ações já existentes, pertencentes, geralmente, aos seus sócios. Nesse caso, os 
recursos pagos, em contrapartida da aquisição dessas ações, destinam-se aos 
sócios vendedores. A aquisição dessas ações dá-se por meio de compra e ven-
da de ações (cash-out).
3. MERCADO DE CAPITAIS: O ACESSO À POUPANÇA POPULAR.
A admissão da negociação de valores mobiliários de uma companhia no 
mercado de capitais apresenta uma série de vantagens à companhia, nota-
damente relacionadas à captação de recursos. Isso porque no mercado de 
capitais (ou mercado de valores mobiliários) são efetuadas operações que não 
apresentam a natureza de negócio creditício, nas quais a companhia contrai 
dívidas perante instituições financeiras, obrigando-se a devolver os recursos à 
taxas de juros expressivas.
No mercado de capitais, a canalização de recursos da companhia ocorre, 
em regra, mediante a aquisição de participação acionária (aquisição das ações 
admitidas à negociação em bolsa). Por conta disso, o retorno do investimento 
está, a rigor, relacionado à lucratividade da companhia e à valorização dos 
títulos. Tem-se um novo sócio, em vez de um credor, ao contrário do que 
ocorre quando o financiamento dá-se mediante assunção de mútuos para 
com instituições financeiras.
Daí decorre a natureza do mercado de capitais como um mercado de “ris-
co”, uma vez que seus investidores não possuem qualquer garantia de retorno 
do investimento, o qual dependerá do resultado positivo da companhia.
E mesmo nos casos em que a companhia oferta papéis que não conferem 
aos investidores participação acionária, mas verdadeiro direito de crédito, 
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 27
v. g. debêntures, a emissora pode, consoante dispõe o art. 56 da LSA, espe-
cificar as condições de remuneração do título de acordo com o seu perfil e 
capacidade financeira, em contraste com as duras condições impostas pelas 
instituições financeiras no mercado de créditos.
Além disso, diversamente do que ocorre no mercado de crédito, no mer-
cado de capitais, a mobilização de poupança é realizada diretamente entre a 
unidade econômica deficitária — entidade emissora — e a unidade econô-
mica superavitária — o investidor. Inexiste, nesta hipótese, intermediação 
financeira, porquanto os recursos fluem diretamente dos adquirentes dos va-
lores imobiliários para as empresas que os emitem. Confere-se o acesso direto 
à poupança popular.
4. A COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS.
Por conta do acesso direto à poupança popular conferido pelo mercado 
de capitais às companhias emissoras, criou-se a Comissão de Valores Mobi-
liários — CVM, a fim de regular o mercado de capitais, tendo por princípio 
básico defender os investidores e o mercado de valores mobiliários em geral. 
Nesse sentido, conforme apontam Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhões 
Pedreira:
“Essa orientação é originária dos Estados Unidos, no nível dos Estados-
-Membros, como prolongamento da legislação sobre companhias que, na-
quele país, é de competência dos Estados. As leis estaduais que regularam 
a oferta e venda de valores mobiliários ficaram conhecidas como “blue sky 
laws”, porque objetivavam coibir esquemas especulativos que não tinham 
maior base do que uma pequena área de “céu azul”.
A legislação federal de caráter geral, com o objetivo de proteger os inves-
tidores, surgiu em 1933, como conseqüência do grande “crash” financeiro 
de outubro de 1929 e da depressão econômica que se seguiu. Os prejuízos 
extraordinários sofridos pelo público investidor, após longo período de su-
pervalorização do mercado, e os baixos padrões técnicos e éticos revelados 
em inquéritos públicos realizados naquela época conduziram, no governo 
de Franklin Roosevelt, à intervenção do Governo federal no mercado de 
capitais, com o fim de regular a venda de valores mobiliários e proibir as 
manipulações de preços.
Por iniciativa de Roosevelt e como conseqüência das investigações do 
Congresso foram editados o Securities Atc, de 1933, e o Security Exchange 
Act, de 1934, aos quais se seguiram pouco depois o Public Utility Holding 
ORGANIzAçÃO JURíDICA DA GRANDE EMPRESA
FGV DIREITO RIO 28
31 PEDREIRA, José Luiz Bulhões e LAMY 
FILHO, Alfredo (Coordenadores). Direito 
das Companhias. Rio de Janeiro: Editora 
Forense. 2009, Vols. I, P. 210-211.
Company Act, de 1935, o Trust Indenture Act, de 1939, o Investment 
Company Act, de 1940 e o Investment Advisors Act, de 1940, todos ad-
ministrados pela Security Exchange Commision, criada pela lei de 1934.
Essa solução de criar órgão público especializado para policiamento do 
mercado de valores mobiliários — veio, depois da Grande Guerra, influen-
ciar diversas outras legislações, inclusive a brasileira.”31
A CVM é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda com 
personalidade jurídica e patrimônio próprio. Foi criada pela Lei nº 6.385/76, 
que fixou suas funções especificas, sempre correlacionadas ao mercado de 
títulos emitidos pelas sociedades anônimas.
A CVM visa a consolidar o mercado de valores mobiliários como instru-
mento dinâmico e eficaz na (i) formação de poupanças; (ii) capitalização de 
companhias abertas; e (iii) dispersão de renda e propriedade. Busca a parti-
cipação do público de forma crescente, assegurando acesso às informações 
sobre valores mobiliários negociados e sobre os emitentes.
A CVM tem como atribuições disciplinar e fiscalizar as atividades previs-
tas no art. 1º da Lei nº 6.385/76, a saber: I — a emissão e distribuição de va-
lores mobiliários no mercado; II— a negociação e intermediação no mercado 
de valores mobiliários; III — a negociação e intermediação no mercado de 
derivativos; IV — a organização, o funcionamento e as operações das Bolsas 
de Valores; V — a organização, o funcionamento e as operações das Bolsas 
de Mercadorias e futuros; VI — a administração de carteiras e a custódia de 
valores mobiliários; VII — a auditoria das companhias

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