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DISCIPLINA: OPTATIVA I – DIREITO PREVIDENCIÁRIO Autoria: VALTEMIR DUTRA SOUZA JUNIOR Vitória, 2016 1 Optativa I – Direito Previdenciário Diretor Executivo: Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretora Acadêmica: Eliene Maria Gava Ferrão Diretor Administrativo Financeiro: Fernando Bom Costalonga NEAD – Núcleo de Educação à Distância GESTÃO ACADÊMICA - Coord. Didático Pedagógico GESTÃO ACADÊMICA - Coord. Didático Semipresencial GESTÃO DE MATERIAIS PEDAGÓGICOS E METODOLOGIA Coord. Geral de EAD BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) S719o Souza Júnior, Valtemir Dutra Optativa I: direito previdenciário / Valtemir Dutra Souza Júnior – Vitoria : Multivix, 2016. 43 f. ; 30 cm Inclui referências. 1. Direito previdenciário I. Faculdade Multivix. II. Título. CDD: 341.6 2 Optativa I – Direito Previdenciário Disciplina: Optativa I – Direito Previdenciário Autoria: Valtemir Dutra Souza Junior Primeira Edição: 2016 3 Optativa I – Direito Previdenciário SUMÁRIO 1º BIMESTRE.............................................................................................................. 5 1 UNIDADE 1 – SEGURIDADE SOCIAL .................................................. 6 1.1 CONCEITO DE SEGURIDADE SOCIAL (ART. 194 DA CRFB) ........................ 6 1.2 A SEGURIDADE COMO CONJUNTO DE AÇÕES......................................... 6 1.1.1 SAÚDE............................................................................................................... 8 1.1.2 ASSISTÊNCIA SOCIAL (ARTS. 203 E 204 DA CRFB) ............................................... 10 1.1.3 BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.............................................................. 12 1.1.4 PREVIDÊNCIA SOCIAL.......................................................................................... 15 2 UNIDADE 2 – PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL .................. 17 2.1 UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO......................... 17 2.2 SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS.............................................................................. 17 2.3 UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS............................................................. 18 2.4 EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO NO CUSTEIO........................... 18 2.5 DIVERSIDADE NA BASE DE FINANCIAMENTO............................................. 19 2.6 CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA ADMINISTRAÇÃO 19 3 UNIDADE 3 – BENEFICIÁRIOS DO RGPS .......................................... 21 3.1 SEGURADOS .................................................................................................. 21 3.1.1 MANUTENÇÃO E PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO.......................................... 23 3.2 DEPENDENTES .............................................................................................. 24 4 UNIDADE 4 – SALÁRIO CONTRIBUIÇÃO .......................................... 25 2º BIMESTRE.............................................................................................................. 32 5 UNIDADE 5 – PRESTAÇÕES DO RGPS.............................................. 33 5.1 AUXÍLIO-DOENÇA........................................................................................... 34 5.1.1 DOENÇA E LESÃO DE ACIDENTE PRÉ-EXISTENTE..................................................... 35 4 Optativa I – Direito Previdenciário 5.1.2 EXIGÊNCIAS PESSOAIS........................................................................................ 36 5.1.3 CARÊNCIA.......................................................................................................... 37 5.1.4 DIB.................................................................................................................... 38 5.1.5 OBSERVAÇÕES ADICIONAIS................................................................................. 38 5.2 APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.......................................................... 39 5.3 APOSENTADORIA POR IDADE....................................................................... 40 5.4 APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO................................... 41 6 REFERÊNCIAS............................................................................................ 43 5 Optativa I – Direito Previdenciário 1º Bimestre 6 Optativa I – Direito Previdenciário 1 UNIDADE 1 – SEGURIDADE SOCIAL 1.1 CONCEITO DE SEGURIDADE SOCIAL (ART. 194 DA CRFB) CRFB, Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. A palavra seguridade é um neologismo da Constituição, ou seja, fruto de uma tradução imperfeita da expressão Seguridad Social, que seria, na verdade, uma segurança social. A segurança é um valor social, do qual todos, de modo geral, necessitam. A segurança pública, por exemplo, é importante para que o indivíduo saia na rua sem maiores preocupações, sem a qual a própria liberdade do indivíduo é limitada. De igual forma, a segurança jurídica. Por sua vez, a segurança social objetiva garantir ao indivíduo condições mínimas para o convívio em sociedade. Assim, seguridade social significa proteger o indivíduo contra alguns infortúnios. Se a pessoa ficar doente, por exemplo, ela pode ter a certeza de que vai ter um tratamento de saúde. A partir dessa ideia, o constituinte apresentou o conceito de seguridade social no art. 194 da CRFB. Esse conceito pode ser dividido em três partes, a serem analisadas mais adiante: saúde, assistência social e previdência social. 1.2 A SEGURIDADE COMO CONJUNTO DE AÇÕES A seguridade social reflete um atuar positivo por parte do Estado, sendo efetivamente um direito prestacional. O Estado vai atuar positivamente para garantir ao indivíduo um patamar de igualdade. Pela teoria tradicional de Marshall, a seguridade social seria um direito de segunda geração. Os direitos de primeira geração objetivam proteger o indivíduo contra o Estado; já nos direitos de segunda geração, chama-se o Estado para atuar 7 Optativa I – Direito Previdenciário positivamente, pois o indivíduo sozinho não possui condições de se manter. A história dos direitos sociais, insta salientar, começa com o próprio direito à seguridade social. O fato de esse ser um direito prestacional traz algumas consequências. Para todos os direitos há um custo para o Estado. Porém, os direitos de segunda geração possuem uma estrutura que torna inevitável a relação entre direito e custeio. Tanto é que o próprio constituinte preocupou-se em estabelecer o custeio da seguridade antes mesmo de especificá-la. CRFB, o art. 195, §5º da CRFB apresenta a regra da contrapartida, diante da qual, se for criado um novo benefício, deve-se indicar a fonte de custeio. O mesmo vale para estender o benefício para outras pessoas ou até mesmo majorá-lo. CRFB,Art. 195, § 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. Ao mesmo tempo em que a regra da contrapartida proíbe a majoração do benefício, ela está implicitamente autorizando a criação de novos benefícios, bem como a majoração e a extensão a outras pessoas, desde que haja fonte de custeio. Essas ações não são exclusivas do governo, mas de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade. O art. 194 deixa muito claro que toda a sociedade é responsável pela seguridade social; cada indivíduo tem sua parcela de responsabilidade. Assim, é possível chamar um indivíduo para que ele ofereça uma parcela de sacrifício em nome dessa responsabilidade. Para tanto, justifica-se um atuar menos individualista e mais solidário. Geralmente, esse sacrifício ocorre por meio do pagamento da contribuição, através da qual o Estado retira uma parte da riqueza do indivíduo, limitando a sua liberdade, em favor da coletividade. Isso aparece com mais ênfase no julgamento do STF sobre a previdência dos servidores públicos e contribuição dos inativos. Portanto, o princípio da solidariedade justifica que o indivíduo pague a contribuição, mesmo que não tenha direito a qualquer benefício. Esse princípio está presente no próprio conceito de seguridade, estampado 8 Optativa I – Direito Previdenciário no art. 194 da CRFB. O indivíduo vai contribuir em favor da coletividade e, ao mesmo tempo, essa coletividade vai ter recursos para socorrer aqueles que necessitam. O slogan de Alexandre Dumas, nos três mosqueteiros, representa bem a ideia da seguridade social: “um por todos e todos por um”. A seguridade social vai atuar em três seguimentos: saúde, assistência social e previdência social. Quando se fala, por exemplo, no fornecimento de medicamentos para o tratamento de saúde, fala-se em uma parte da seguridade social. O mesmo vale para o bolsa família, que é parte da assistência, espécie do gênero seguridade social. 1.1.1 SAÚDE A saúde está tratada nos artigos 196 a 200 da CRFB. No art. 196, há o núcleo da disciplina constitucional da saúde. Esse dispositivo dispõe que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas públicas. CRFB, Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. A previsão de que esse é um direito de todos já representa um avanço porque, quando se fala que saúde é direito de todos, não está se restringindo o seu fornecimento a quem paga algum tipo de contribuição. Até a Constituição de 1988, a realidade era outra. O INAMPS era o responsável pelo fornecimento da saúde, serviço destinado a quem era contribuinte da previdência social. Isso acaba na Constituição de 1988, que foi fruto de um movimento sanitarista, que defendeu que esse direito deveria ser garantido a todos. Assim, a saúde pública foi marcada pelo princípio da universalidade, e passou a ser um direito universal. Ou 9 Optativa I – Direito Previdenciário seja, todos têm direito ao serviço público de saúde, quem precisa e quem não precisa. Uma pessoa tem o direito a fazer, por exemplo, uma cirurgia em um hospital público de referência, ainda que tenha condições de pagar o melhor hospital da região. Esse direito que, segundo a Constituição, é um direito de todos, também é um dever do Estado. A Constituição cria, assim, um direito subjetivo público, atribuindo ao Estado o dever de garantir o seu fornecimento. É possível, pela jurisprudência, extrair eficácia direta do texto da Constituição, mesmo que não haja previsão em lei ou nos ordenamentos administrativos. Em razão dessa eficácia direta, fala-se na possibilidade, por exemplo, de um medicamento que não é fornecido pelo SUS ser conferido a um indivíduo por meio de tutela jurisdicional. Leitura fundamental sobre os limites do Judiciário no fornecimento de medicamentos é o voto do Ministro Gilmar Mendes, na suspensão de tutela antecipada (STA) 175. O Supremo realizou, na oportunidade, uma audiência pública sobre a saúde e o caso em questão foi essa suspensão de tutela antecipada, criando parâmetro para a atuação do Judiciário em matéria de fornecimento de medicamentos. O art. 198 da CRFB dispões sobre a forma de prestação desse direito público subjetivo, por meio do SUS. Há uma divisão de atribuições entre as três esferas federais, estando a base da saúde nos municípios (art. 30, VII da CRFB). Essa é uma prioridade desse ente, portanto, a quem cabe fornecer apoio técnico e financeiro. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. Art. 30. Compete aos Municípios: VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do 10 Optativa I – Direito Previdenciário Estado, serviços de atendimento à saúde da população; A política pública atual (pacto pela saúde) indica que, quanto mais o Município conseguir fazer, mais dinheiro ele ganha. Apesar dessa repartição de atribuições, no momento em que o indivíduo exige o fornecimento desse serviço de saúde, a jurisprudência sustenta a solidariedade das três esferas da Federação. Observação: a lei orgânica da saúde é a lei nº 8.080/90. 1.1.2 ASSISTÊNCIA SOCIAL (ARTS. 203 E 204 DA CRFB) Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a 11 Optativa I – Direito Previdenciário aplicação desses recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra despesa corrente não vinculadadiretamente aos investimentos ou ações apoiados. A assistência se assemelha à saúde por ser um sistema gratuito. A assistência social é universal, mas, como princípio, essa universalidade é ponderada, ou seja, somente será fornecida assistência a quem necessita. Exemplo: um executivo muito bem remunerado tem direito ao serviço de saúde pública, mas não tem direito à assistência social. Diferentemente, um morador de rua tem direito à saúde pública e à assistência social. O conceito de assistência social pode ser encontrado na lei orgânica de assistência social (lei 8.742/93) – LOAS e pode ser resumido da seguinte forma: a assistência social é o ramo da seguridade social que tem por objetivo atender as necessidades básicas do indivíduo, fornecendo-lhe o mínimo existencial por meio de prestações gratuitas. A função da assistência social é pegar uma pessoa em situação crítica, excluído da vida democrática do país, fora das relações sociais, e fazer com que ela tenha um mínimo para viver com dignidade. Não se objetiva garantir conforto, mas o mínimo. A Constituição deixou a seguinte pergunta: quem necessita de assistência social? A resposta, olhando para o próprio conceito, é que necessita de assistência social aquele que não tem o mínimo existencial. O próprio constituinte resolveu estabelecer metas para a assistência social e fez isso indicando, nos incisos do art. 203, algumas diretrizes mais concretas. Destaca-se, dentre essas diretrizes, o inciso V, em que há a previsão da garantia de um salário mínimo para o idoso ou pessoa com deficiência que não consegue se sustentar nem ser sustentado por sua família. Isso é denominado de benefício de prestação continuada. 12 Optativa I – Direito Previdenciário 1.1.3 BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA Esse benefício é regulamentado no art. 20 da Lei 8.742/93. A Constituição estabelece metas, mas não garante direitos para retirar a pessoa do estado de pobreza; esse direito garantido no art. 203 da CRFB é o único encontrado no texto constitucional que tenta garantir esse objetivo da República. Lei 8.742/93, art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Para ter direito a esse benefício, basta ser idoso ou pessoa com deficiência. Além disso, a pessoa tem que ter necessidade. Muitos utilizam a expressão miserabilidade para se referir a essa necessidade. Para fins desse benefício, será idoso quem tem idade a partir de 65 anos, independentemente de ser mulher ou homem. O próprio estatuto do idoso (art. 34, Lei 10.741/03) indica essa idade para a concessão desse benefício. Lei 10.741/03, art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas. A Convenção de Nova Iorque sobre os direitos das pessoas com deficiência é o único tratado de direitos humanos incorporado pelo ordenamento jurídico pátrio na forma do art. 5º, §3º da CRFB. As normas previstas nessa convenção integram o bloco de constitucionalidade. Isso é importante porque, a partir desse documento, é possível alcançar um conceito de deficiência, no seu art. 1º. Dessa forma, o art. 20 da Lei 8.742/93 foi modificado para abarcar o conceito de deficiência previsto no tratado, sendo uma repetição daquele conceito. 13 Optativa I – Direito Previdenciário Deficiência é o impedimento de longo curso, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que, associado a barreiras de diversas espécies, coloca o indivíduo em uma situação de desigualdade de oportunidades. O objetivo principal desse conceito é afastar a noção de invalidez, que era a ideia que fomentava o conceito anterior, no qual se afirmava que deficiente era o inválido. Entendeu-se, assim, que a deficiência não gera necessariamente a invalidez, mas a desigualdade de oportunidades. O que vai gerar a situação de desigualdade é o impedimento associado a barreiras. Existe, então, para a pessoa com deficiência o direito à adaptação razoável. O exemplo mais citado é o de pessoas que não podem exercer atividades em determinados dias, por convicção religiosa. Hoje é possível ter uma pessoa com deficiência que seja válida, mas que não tenha condição de se sustentar. Se ela tem ou não condições de se sustentar, esse conceito será tratado no campo da necessidade. Uma polêmica que existe hoje em torno desse conceito de deficiência é que tanto a Lei 8.742/93 quanto a Convenção Internacional indicam que a deficiência depende de impedimento de longo curso. Isso quer dizer que se admite uma deficiência temporária. Para tanto, longo curso não é a mesma coisa que permanência. A lei define longo curso como o impedimento cujos efeitos durem no mínimo dois anos. Há a necessidade de um prognóstico quanto aos efeitos sendo projetados para mais de dois anos. Mas esse conceito não está no tratado, o que gera um questionamento doutrinário. Outro critério fundamental a ser analisado é o critério da necessidade. A Constituição afirma que essa é não apenas do indivíduo, mas da família como um todo. Se a família puder atender o indivíduo, o Estado não irá intervir. Critério também presente no art. 20 da lei 8.742/93 diz respeito à renda familiar per capita inferior a 1/4 do salário mínimo. A renda familiar per capita é alcançada pela soma da renda de todos os membros da família, dividida pelo número de integrantes. Se o resultado for inferior a 1/4 do salário mínimo, a pessoa idosa ou deficiente terá direito ao benefício. 14 Optativa I – Direito Previdenciário Se uma mulher viúva ganha um salário mínimo e convive com três filhos menores, sendo um deficiente, a princípio, pela literalidade, não teria direito à assistência. Para o Supremo, abstratamente, o critério da Lei 8.742/93 é constitucional. A grande dúvida, entretanto, é como aplicar esse critério. O STF está discutindo a questão, já tendo reconhecido a repercussão geral. No passado, o Supremo chegou a afirmar que esse critério deveria ser rígido. Inicialmente, muitros tribunais começaram a afastá-lo e, em razão disso, muitas reclamações chegaram ao Supremo, que instado a se manifestar, afastou tais decisões. No entanto, posteriormente, entendeu-se que esse critério pode ser flexibilizado. O Ministro Gilmar Mendes, analisando uma reclamação do INSS, quando o Supremo começou a rejeitar as reclamações, entendeu que, abstratamente, a lei é constitucional, porém quando ela é aplicada ao caso concreto é possível produzir um resultado inconstitucional. Assim, é possível aferir os elementos do caso concreto para verificar se a pessoa tem ou não necessidade do benefício. Ainda há outra questão colocada para a análise do Supremo. Por exemplo, um casal de idosos está junto há 70 anos. A mulher, então, resolve requerer o benefício, tendo em vista que ambos não possuem renda. O art. 34 do Estatuto do Idoso diz que a renda decorrente de outro benefício da mesma natureza não é considerada no cálculo da renda per capita. Assim, ainda que a mulher receba, o marido também poderá requerer o benefício, pois a família continua sem renda per capita. Se esse casal, ainda, tiver um filho com deficiência, questiona-se a possibilidade deestender essa possibilidade do art. 34 do Estatuto do Idoso ao deficiente. A ideia central é que essa renda será tirada da renda per capita, porque esse benefício tem o objetivo de sustentar o idoso, e não a sua família. Assim, a princípio, exclui-se o benefício da renda per capita porque ele não integra o sustento da família, mas do próprio idoso. O Supremo analisa, então, se é possível estender essa possibilidade à pessoa com deficiência. O entendimento majoritário é de que é possível, em que pese a resistência 15 Optativa I – Direito Previdenciário do INSS. Há, ainda, um requisito negativo para o fornecimento do benefício continuado: É preciso que a pessoa não tenha direito a nenhum outro benefício previdenciário ou assistencial. Um detalhe: é possível ter bolsa família, pois esse é um benefício pago à família. O mesmo não se aplica ao auxílio-reclusão. Os recursos são provenientes da assistência social, mas a administração fica a cargo do INSS. A consequência disso é que quem tem que figurar no polo passivo é o INSS, sem litisconsórcio necessário com a União. 1.1.4 PREVIDÊNCIA SOCIAL Fala-se em um ramo da seguridade que possui características diferentes da assistência e da saúde. A previdência traz a ideia de seguro social. Uma pessoa previdente, que toma precauções, está se assegurando contra eventuais riscos no futuro. Há, portanto, uma participação direta do segurado na garantia do seu futuro. Um indivíduo que faz um seguro privado de carro precisa pagar o prêmio para que a seguradora possa oferecer a garantia. A previdência, de igual forma, é um seguro, em que a pessoa tem que pagar uma quantia para garantir o seu futuro. Portanto, a previdência é naturalmente contributiva, diferentemente da assistência e da saúde. A seguridade passa a ter evidência com a lei dos pobres (poor law act), que trouxe a ideia de uma assistência social como se fosse uma caridade do Estado, a ponto de que competia à igreja administrar o benefício. No entanto, foi através dos seguros operários na Alemanha, no final do século XIX, que se fundamentou o atual sistema da previdência. Bismarck, além de ser o responsável pela unificação da Alemanha, foi o responsável pela origem da previdência social. Ainda hoje se aplica o modelo bismarckiano. A Alemanha do final do século XIX estava vivenciando a sua revolução industrial, o que acarretou um elevado êxodo rural. No campo, entretanto, havia grandes famílias que garantiam a proteção social do indivíduo. A própria família que cuidava dos 16 Optativa I – Direito Previdenciário idosos e dos doentes. Quando a pessoa migra para a cidade, perde-se essa rede natural familiar que existia. Ao mesmo tempo, vivenciava um ambiente com poucas preocupações trabalhistas, o que acarretava em um elevado questionamento operário. Bismarck, então, obrigou o trabalhador, enquanto goza de boas condições de saúde, a pegar uma parte da sua renda e guardar para o futuro, obrigando-o a fazer um seguro. Diante disso, o empregado se viu compelido a contribuir, garantindo uma rede de proteção social. Entendeu-se que o Estado não poderia ser responsável por aquela pessoa se, quando ela teve a oportunidade de armazenar recursos, não o fez. Essa é a ideia de previdência que até hoje influencia o modelo. 17 Optativa I – Direito Previdenciário 2 - UNIDADE 2 – PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. 2.1 UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO Determina que a seguridade social seja levada para tudo e para todos. Universalidade da cobertura significa que a seguridade social deve abarcar todos os riscos sociais, ou seja, todas as situações de necessidade social devem ser cobertas pela seguridade. Já a universalidade do atendimento significa que todas as pessoas devem ser atendidas pela seguridade. Não se pode olvidar que um princípio aponta uma diretriz e a regra atribui um comando concreto. A interferência na hora de aplicá-los é que a regra é aplicada por subsunção, enquanto o princípio é aplicado por ponderação. Muitas vezes, os princípios apontam para direções distintas. Um exemplo é que na saúde a universalidade abrange todos, enquanto na assistência ela é aplicada de maneira mais restrita. Na previdência, por sua vez, a universalidade é bem tênue, embora ela exista em todos os elementos. 2.2 SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DOS BENEFÍCIOS E 18 Optativa I – Direito Previdenciário SERVIÇOS Seletividade significa que devem ser selecionadas as pessoas que serão abrangidas pela seguridade. Esse princípio, então, confronta-se com a universalidade. A seletividade indica que pequenas incapacidades não são contempladas, como, por exemplo, um advogado que fica incapacitado somente por dez dias. Nota-se que a seletividade caminha ao lado da distributividade, que indica que a seguridade social é um instrumento de redistribuição de rendas. Há, ainda, a solidariedade, segundo a qual o indivíduo será obrigado a fornecer uma parcela em favor do indivíduo. Ao mesmo tempo, a coletividade protege quem precisa. Assim, a seguridade social não possui natureza retributiva. A previdência complementar, por sua vez, possui. Diversamente, a previdência básica possui uma natureza mais distributiva. 2.3 UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS Esse princípio é uma densificação do princípio da isonomia. Diante disso, deve- se atentar para a sua aplicação em uma vertente material, em detrimento de uma aplicação meramente formal. Durante muito tempo, os trabalhadores rurais, até 1991, estavam excluídos do regime da previdência social. É possível, com isso, ter compensação de desigualdades, como ocorre com a redução da idade do trabalhador rural para a aposentadoria. 2.4 EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO NO CUSTEIO Esse princípio denota que será distribuído de modo justo o ônus pelo custeio da seguridade social. Essa equidade na participação do custeio possui várias formas de se apresentar, como, por exemplo, em alíquotas progressivas. Por outro lado, quando se trabalha com a equidade, pode-se levar em conta situações específicas do contribuinte, como o porte da empresa, o grau de utilização de mão 19 Optativa I – Direito Previdenciário de obra, as condições de mercado, etc. Isso está expressamente autorizado no art. 195, §9º da CRFB. Art. 195, § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotasou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. Exemplo: instituições financeiras possuem alíquota adicional sobre folha de pagamento (art. 22, §1º da Lei 8.212/91). O Supremo já declarou constitucional esse parágrafo por anteder a noção de equidade e solidariedade na contribuição. Lei 8.212/91, art. 22, § 1 o No caso de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros privados e de crédito e entidades de previdência privada abertas e fechadas, além das contribuições referidas neste artigo e no art. 23, é devida a contribuição adicional de dois vírgula cinco por cento sobre a base de cálculo definida nos incisos I e III deste artigo. 2.5 DIVERSIDADE NA BASE DE FINANCIAMENTO Segundo esse princípio, será pulverizado o ônus pelo custeio da seguridade social, que será trabalhada tendo diversas formas de receita. Isso fica muito claro no texto do art. 195 da CRFB. Exemplo: O concurso de prognóstico (loteria) financia a seguridade social. 2.6 CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA ADMINISTRAÇÃO 20 Optativa I – Direito Previdenciário Trata da gestão democrática e descentralizada da seguridade social. A seguridade social não pode ser concentrada em uma única pessoa. Diante disso, nos órgãos colegiados, essa gestão democrática precisa se manifestar com a participação dos quatros setores interessados na seguridade: governo, trabalhadores, empregadores e aposentados. 21 Optativa I – Direito Previdenciário 3 UNIDADE 3 – BENEFICIÁRIOS DO RGPS Os beneficiários dividem-se em segurados e dependentes. Os segurados, por sua vez, podem ser facultativos ou obrigatórios. 3.1 SEGURADOS Os segurados obrigatórios podem ser de cinco espécies: I Empregados; II Empregados domésticos; III Trabalhadores avulsos; IV Contribuintes individuais; V Segurados especiais. Essa classificação irá depender da atividade desenvolvida pelo segurado. É pelo exercício da atividade remunerada que uma pessoa adquire a qualidade de segurado obrigatório. A filiação é a constituição do vínculo jurídico entre o segurado e a previdência. Essa filiação do segurado obrigatório ocorre com o exercício de uma atividade remunerada. Assim, essa pessoa não depende da inscrição no INSS para virar segurado. A inscrição do segurado obrigatório, portanto, tem efeito meramente declaratório. Exemplo: médico atende seus pacientes sem que tenha se inscrito no INSS. Ele é um segurado, diante do exercício da sua atividade. Mesmo sem inscrição, pode o INSS inscrever a contribuição não paga em dívida ativa e efetuar a sua cobrança. A filiação é automática. A inscrição deve ser realizada assim que o segurado começa a exercer sua atividade. Porém, pode ser feita extemporaneamente, quando a pessoa já estiver exercendo a atividade. Não se pode, contudo, realizar a inscrição antecipadamente, pois essa depende da filiação. Os Segurados Facultativos são: 22 Optativa I – Direito Previdenciário Lei 8.213/91, Art. 13. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, desde que não incluído nas disposições do art. 11. O foco do RGPS, como visto, é o segurado obrigatório. Para ser segurado facultativo, a pessoa, naturalmente, não pode exercer atividade própria de segurado obrigatório. É o caso, por exemplo, de um estudante, de um estagiário ou de uma dona de casa. Além disso, há o requisito etário. De acordo com o art. 13, a idade mínima seria de 14 anos. Hoje, contudo, essa idade é de 16 anos, uma vez que a EC 20/98 modificou a idade mínima para o trabalho na CRFB. Prevaleceu o entendimento de que, com a mudança da CRFB, isso geraria a alteração da idade para o segurado facultativo. O decreto 3.048/99 já possui previsão conforme a CRFB. Decreto 3.048/99, Art. 11. É segurado facultativo o maior de dezesseis anos de idade que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 199, desde que não esteja exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório da previdência social. O segurado facultativo não se filia automaticamente; a sua filiação é ato complexo, que envolve duas etapas: a inscrição e o pagamento da primeira contribuição. Desse modo, o segurado facultativo, diversamente do obrigatório, precisa da inscrição para constituir o vínculo jurídico com a previdência. Assim, enquanto a inscrição do obrigatório tem efeito declaratório, a do facultativo tem efeito constitutivo. Comprovando que trabalhou, pode o segurado obrigatório efetuar o pagamento referente ao período retroativo. Já o segurado facultativo não pode fazer o mesmo, pois, antes da inscrição, não era segurado. É possível um filiado a regime próprio também filiar-se como segurado facultativo do regime geral? Não é possível, diante do art. 201, §5º da CRFB. Porém, se essa pessoa exerce outra 23 Optativa I – Direito Previdenciário atividade, será filiado ao regime próprio e ao regime geral, como segurado obrigatório. Aconselha-se a remissão do art. 13 da lei 8.213/91 ao art. 201, §5º da CRFB e vice- versa. 3.1.1 MANUTENÇÃO E PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO A forma ordinária de manutenção da qualidade de segurado, para o obrigatório, é a continuidade do trabalho e, para o facultativo, é a continuação da contribuição. Existe, contudo, uma forma de manutenção extraordinária da qualidade de segurado, que corresponde a um período no qual, mesmo sem contribuir ou trabalhar, a pessoa mantém a proteção previdenciária. É o chamado período de graça. Lei 8.213/91, Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições: I - sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício; II - até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração; III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de segregação compulsória; IV - até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso; V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar; VI - até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo. § 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses se o segurado já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado. § 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. § 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus direitos perante a Previdência Social.24 Optativa I – Direito Previdenciário § 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do prazo fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos fixados neste artigo e seus parágrafos. 3.2 DEPENDENTES Lei 8.213/91, Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; § 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes. § 2º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento. § 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal. § 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada. Cada inciso do art. 16 apresenta uma categoria de dependentes. São elas: a) Cônjuge, companheiro e filho. Também se incluem nessa categoria, embora não estejam no dispositivo, o enteado, tutelado, e o menor sob guarda; b) Pais; c) Irmãos. 25 Optativa I – Direito Previdenciário 4 UNIDADE 4 – SALÁRIO CONTRIBUIÇÃO Salário-de-contribuição é a base de cálculo da contribuição previdenciária dos segurados da Previdência Social, com exceção do segurado especial. O conceito, em relação a cada um dos segurados, pode ser extraído do artigo 214 do Decreto nº 3048/99: Art. 214. Entende-se por salário-de-contribuição: I - para o empregado e o trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; II - para o empregado doméstico: a remuneração registrada na Carteira Profissional e/ou na Carteira de Trabalho e Previdência Social, observados os limites mínimo e máximo previstos nos §§ 3º e 5º; III - para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês, observados os limites a que se referem os §§ 3º e 5º; IV - para o dirigente sindical na qualidade de empregado: a remuneração paga, devida ou creditada pela entidade sindical, pela empresa ou por ambas; V - para o dirigente sindical na qualidade de trabalhador avulso: a remuneração paga, devida ou creditada pela entidade sindical; e VI - para o segurado facultativo: o valor por ele declarado, observados os limites a que se referem os §§ 3º e 5º. Algumas regras importantes vêm previstas nos parágrafos de referido dispositivo (os temas serão explicitados em aula): 26 Optativa I – Direito Previdenciário § 1º Quando a admissão, a dispensa, o afastamento ou a falta do empregado, inclusive o doméstico, ocorrer no curso do mês, o salário-de-contribuição será proporcional ao número de dias efetivamente trabalhados, observadas as normas estabelecidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social. § 2º O salário-maternidade é considerado salário-de- contribuição. § 4º A remuneração adicional de férias de que trata o inciso XVII do art. 7º da Constituição Federal integra o salário-de-contribuição. § 6º A gratificação natalina - décimo terceiro salário - integra o salário-de-contribuição, exceto para o cálculo do salário-de- benefício, sendo devida a contribuição quando do pagamento ou crédito da última parcela ou na rescisão do contrato de trabalho. § 7º A contribuição de que trata o § 6º incidirá sobre o valor bruto da gratificação, sem compensação dos adiantamentos pagos, mediante aplicação, em separado, da tabela de que trata o art. 198 e observadas as normas estabelecidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social. § 15. O valor mensal do auxílio-acidente integra o salário-de- contribuição, para fins de cálculo do salário-de-benefício de qualquer aposentadoria, observado, no que couber, o disposto no art. 32. Ressalte-se que a regra da proporcionalidade, contida no §1º, não se aplica aos segurados facultativo e contribuinte individual Segundo o §2º do art. 28 da Lei nº 8.212/91, o salário-maternidade é considerado salário-de-contribuição. Ademais, o 13º salário (gratificação natalina) integra o salário-de-contribuição para a contribuição previdenciária, mas não servirá de base de cálculo para o benefício. O §15º determina que o valor do auxílio-acidente integra o salário-de-contribuição, mas apenas para o cálculo do salário-de-benefício. Limite mínimo do salário-de-contribuição: para empregados e avulsos, é o piso salarial da categoria, legal ou normativo, e inexistindo estes, o salário mínimo mensal, diário ou horário, conforme o ajustado e o tempo de trabalho efetivo durante o mês. Para contribuintes individuais e facultativos, é o salário mínimo. 27 Optativa I – Direito Previdenciário Limite máximo do salário-de-contribuição é o valor divulgado pelo Ministério da Previdência Social, que é reajustado na mesma época e com os mesmos índices que os do reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social. O legislador especifica, nos parágrafos do art. 214, quais as parcelas que integram ou não o salário-de-contribuição (e, consequentemente, constituem base de cálculo para as contribuições). Como regra geral, pode-se afirmar que as parcelas de natureza indenizatória (i.e., atribuídas ao empregado não como contraprestação ao serviço prestado, como o são as verbas de caráter salarial) não integram o salário de contribuição. Porém, recentes alterações na legislação de regência propõem questionamentos quanto à acuidade de tal critério. Ademais, é importante diferenciar os pagamentos efetuados para o trabalho daqueles realizados pelo trabalho. Com efeito, como regra geral, os primeiros não integram o conceito de salário-de-contribuição, enquanto os últimos nele se incluem, salvo quando previsto de forma diversa pela legislação. A distinção possui relevância principalmente no que se refere às prestações in natura fornecidas ao segurado: assim, se a utilidade é concedida em razão do trabalho, sendo necessária às atribuições normais do empregado, não integrará o salário-de- contribuição. Ao contrário, se a utilidade não é imprescindível à prestação do trabalho, adquire caráter remuneratório e integra o salário-de-contribuição. Exemplo pode ser a moradia concedida pelo empregador ao empregado. Se estaé essencial para a realização do trabalho (pense-se, e.g., em um contrato de safra realizado em local distante da residência habitual do trabalhador – nesse caso, se a moradia não for fornecida, inviabiliza-se a prestação dos serviços), não integra o salário-de-contribuição. Ao contrário, se apenas constituir plus salarial, i.e., benefício adicional fornecido ao empregado, sofrerá incidência de contribuições previdenciárias. Feitas essas considerações iniciais, analisemos o regime legal do salário de 28 Optativa I – Direito Previdenciário contribuição, nos termos do Decreto nº 3048/99. Inicialmente, o §8º dita que serão consideradas salário-de-contribuição, pelo valor total, as diárias para viagens excedentes a 50% da remuneração mensal do empregado (cf. §13, que trata do cálculo das diárias + Súm. 101 do TST). Integram, ademais, o salário-de-contribuição, todas as parcelas integrantes do salário, nos termos do art. 457 da CLT + adicionais habituais (hora extra, insalubridade, periculosidade, transferência, etc). Em seguida, o § 9º contempla amplo rol das parcelas não integrantes dos salários de contribuição, a saber (rol taxativo): 1. Os benefícios da previdência social, salvo o salário-maternidade; 2. As ajudas de custo e o adicional mensal recebidos pelo aeronauta nos termos da Lei nº 5.929, de 30 de outubro de 1973 (ajuda de custo e adicional pagos no caso de transferência); 3. A parcela in natura recebida de acordo com os programas de alimentação aprovados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, nos termos da Lei nº 6.321, de 14 de abril de 1976 (PAT – Programa de Alimentação do Trabalho – assim, o benefício não poderá ser concedido em dinheiro, participação do trabalhador fica limitada a 20% do custo direto do benefício concedido, etc); 4. As importâncias recebidas a título de férias indenizadas e respectivo adicional constitucional, inclusive o valor correspondente à dobra da remuneração de férias de que trata o art. 137 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT; 5. As importâncias: a) Previstas no inciso I do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, ou seja, 40% do FGTS, a título de multa rescisória; b) Relativas à indenização por tempo de serviço anterior a 5 de outubro de 1988, do empregado não optante pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS; c) Recebidas a título da indenização de que trata o art. 479 da CLT (50% dos dias faltantes ao término do contrato por prazo determinado, no caso de extinção antecipada sem justa causa); d) Recebidas a título da indenização de que trata o art. 14 da Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973 (indenização ao safrista correspondente a 1/12 do salário mensal, por 29 Optativa I – Direito Previdenciário mês de serviço ou fração superior a 14 dias, quando houver expiração normal do contrato); e) Recebidas a título de incentivo à demissão; f) Recebidas a título de abono de férias na forma dos arts. 143 e 144 da CLT (abono pecuniário); g) Recebidas a título de ganhos eventuais (pecuniários ou in natura) e os abonos expressamente desvinculados do salário (por lei); h) Recebidas a título de licença-prêmio indenizada; i) Recebidas a título da indenização de que trata o art. 9º da Lei nº 7.238, de 29 de outubro de 1984 (indenização de um salário do empregado dispensado 30 dias antes da data-base da categoria – “dispensa obstativa”); j) Indenizações previstas nos arts. 496 e 497 da Consolidação das Leis do Trabalho (indenização aos estáveis no caso de fechamento ou extinção da empresa); k) Outras indenizações, desde que expressamente previstas em lei 6. A parcela recebida a título de vale-transporte, na forma da legislação própria (OBS: segundo a legislação de regência, o vale-transporte deve ser pago separadamente das demais rubricas que compõem a remuneração do empregado; caso contrário, haverá incidência de contribuições previdenciárias); 7. A ajuda de custo, em parcela única, recebida exclusivamente em decorrência de mudança de local de trabalho do empregado, na forma do art. 470 da CLT; 8. As diárias para viagens, desde que não excedam a 50% (cinqüenta por cento) da remuneração mensal (caso contrário, integram pelo valor total); 9. A importância recebida a título de bolsa de complementação educacional de estagiário, quando paga nos termos da Lei nº 11.788/08; 10. A participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica (atualmente, a Lei nº 10.101/00 – pagamento no mínimo semestral e dependente de critérios objetivos); 11. O abono do Programa de Integração Social-PIS e do Programa de Assistência ao Servidor Público-PASEP (“abono salarial”); 12. Os valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de sua residência, em canteiro de obras ou local que, por força da atividade, exija deslocamento e estada, observadas as normas de proteção estabelecidas pelo Ministério do Trabalho (utilidades PARA o trabalho); 30 Optativa I – Direito Previdenciário 13. A importância paga ao empregado a título de complementação ao valor do auxílio-doença, desde que este direito seja extensivo à totalidade dos empregados da empresa; 14. As parcelas destinadas à assistência ao trabalhador da agroindústria canavieira, de que trata o art. 36 da Lei nº 4.870, de 1º de dezembro de 1965 (assistência médica, hospitalar, farmacêutica e social); 15. O valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a programa de previdência complementar privada, aberto ou fechado, desde que disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9º e 468 da CLT; 16. O valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio da empresa ou por ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médico-hospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa; 17. O valor correspondente a vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos ao empregado e utilizados no local do trabalho para prestação dos respectivos serviços; 18. O ressarcimento de despesas pelo uso de veículo do empregado (devidamente comprovadas); 19. O reembolso creche pago em conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite máximo de seis anos de idade, quando devidamente comprovadas as despesas realizadas; 20. O valor relativo a plano educacional que vise à educação básica, nos termos do art. 21 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e a cursos de capacitação e qualificação profissionais vinculados às atividades desenvolvidas pela empresa, desde que não seja utilizado em substituição de parcela salarial e que todos os empregados e dirigentes tenham acesso a ele; 21. Os valores recebidos em decorrência da cessão de direitos autorais; 22. O valor da multa prevista no § 8º do art. 477 da CLT, ou seja, multa pelo não cumprimento dos prazos para pagamento das verbas rescisórias. 23. O reembolso babá, limitado ao menor salário-de-contribuição mensal e condicionado à comprovação do registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social da empregada, do pagamento da remuneração e do 31 Optativa I – Direito Previdenciário recolhimento da contribuição previdenciária, pago em conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite máximo de seis anos de idade da criança; 24. O valor das contribuiçõesefetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a prêmio de seguro de vida em grupo, desde que previsto em acordo ou convenção coletiva de trabalho e disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9º e 468 da Consolidação das Leis do Trabalho; 25. Indenização paga à gestante indevidamente dispensada (§12). OBS: Até 2009, o Regulamento da Previdência Social contemplava como parcela excluída do salário-de-contribuição o aviso prévio indenizado (Art. 214, V, alínea f). Porém, o Decreto nº 6.727/09 revogou tal dispositivo, permitindo a incidência da contribuição previdenciária sobre a parcela paga a título de aviso prévio indenizado. Tal entendimento, entretanto, vem sendo questionado pela doutrina, por conta da natureza indenizatória que reveste a parcela do aviso prévio indenizado. ATENÇÃO: As parcelas excluídas do conceito de salário-de-contribuição, quando pagas ou creditadas em desacordo com a legislação pertinente, integram-no para todos os fins e efeitos, sem prejuízo da aplicação das cominações legais cabíveis. 32 Optativa I – Direito Previdenciário 2 º Bimestre 33 Optativa I – Direito Previdenciário 5 UNIDADE 5 - PRESTAÇÕES DO RGPS As prestações podem ser divididas em benefícios (prestações pecuniárias) e em serviços. Os benefícios, por sua vez, podem ser aposentadorias, auxílio-doença, auxílio- acidente, salário-família, salário-maternidade, pensão por morte e o auxílio- reclusão. As aposentadorias podem ser subdivididas em: por idade, por tempo de contribuição, especial e por invalidez. Já os serviços podem ser: o serviço social e o serviço de habilitação e reabilitação profissional. Por idade Aposentadoria Por tempo de serviço Especial Por invalidez Benefícios Auxílio-doença Auxílio-acidente Prestações Salário-família do RGPS Salário-maternidade Pensão por morte Auxílio-reclusão Serviços Serviço social Habilitação e reabilitação profissional De todos os benefícios, a pensão por morte e o auxílio-reclusão são pagos aos dependentes. Os demais benefícios são destinados somente aos segurados. Já os serviços, são fornecidos tanto ao segurado quanto aos dependentes. 34 Optativa I – Direito Previdenciário Além disso, somente o auxílio-acidente e o salário-família têm por objetivo complementar a renda do segurado. São os chamados benefícios indenizatórios. Os demais benefícios visam substituir essa renda e são chamados de benefícios remuneratórios. Essa distinção é importante para fins de aplicação do art. 201, §2º, da CRFB. Esse dispositivo trata dos benefícios remuneratórios. Sendo assim, os benefícios indenizatórios podem ter valor abaixo do salário mínimo. CRFB, Art. 201, § 2º - Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. 5.1 AUXÍLIO-DOENÇA Esse benefício tem fundamento de validade constitucional no art. 201, I. CRFB, Art. 201 - A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; Esse dispositivo gerou três diferentes benefícios: a aposentadoria por invalidez, o auxílio-acidente e o auxílio-doença. Esse último, por sua vez, está previsto nos arts. 59 e seguintes da lei 8.213/91. O auxílio-doença decorre de uma incapacidade parcial e/ou temporária. A - Benefícios que visam complementar a renda >> Indenizatórios: auxílio-acidente e salário-família; - Benefícios que visam substituir a renda >> Remuneratórios: demais benefícios. 35 Optativa I – Direito Previdenciário incapacidade parcial é aquela que inabilita o segurado para o exercício da sua atividade; já a incapacidade temporária é aquela que tem recuperação. Essa análise é feita, naturalmente, com base em um prognóstico médico. Em outras palavras, a incapacidade temporária é aquela que tem um prognóstico positivo, pautado nos recursos terapêuticos disponíveis no momento. Os aspectos da incapacidade parcial e temporária podem ser conjugados. Exemplo1: um entregador de pizza sofre um acidente, cai de moto e quebra a perna, sendo obrigado a parar de trabalhar por 45 dias. Sua incapacidade é parcial e temporária e ele receberá auxílio-doença. Exemplo2: entregador é atropelado e entra em coma induzido, mas os médicos conseguem prever que em seis meses ele poderá voltar ao trabalho. Essa incapacidade é total, porém temporária. Dessa forma, ele também receberá auxílio-doença. Exemplo3: Motorista está conduzindo ônibus, contra o qual é atirada uma pedra, que atinge o vidro da frente. Os cacos atingem os olhos do motorista, que sofre uma perda de visão parcial, o que o impede de ser motorista profissional. Contudo, continua enxergando o suficiente para dirigir carros de passeio. Trata-se de incapacidade parcial, porém permanente. Receberá, portanto, auxílio-doença, até que o INSS o reabilite para nova atividade. Lei 8.213/91, Art. 62. O segurado em gozo de auxílio-doença, insusceptível de recuperação para sua atividade habitual, deverá submeter-se a processo de reabilitação profissional para o exercício de outra atividade. Não cessará o benefício até que seja dado como habilitado para o desempenho de nova atividade que lhe garanta a subsistência ou, quando considerado não- recuperável, for aposentado por invalidez. Em que pese se chamar auxílio doença, o benefício é destinado aos casos de incapacidade, pouco importando a sua causa. Tampouco interessa se a pessoa agravou o risco. 5.1.1 DOENÇA E LESÃO DE ACIDENTE PRÉ-EXISTENTE 36 Optativa I – Direito Previdenciário Lei 8.213/91, Art. 59, Parágrafo único. Não será devido auxílio- doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão. Esse dispositivo traz uma regra geral, que parece injusta, e uma exceção que a corrige. Em princípio, doença ou lesão pré-existente impedem a concessão do auxílio- doença. No entanto, se a incapacidade decorrer do seu agravamento ou da sua progressão, o benefício será cabível. O art. 59, parágrafo único, tem a finalidade de evitar que a pessoa ingresse no sistema já incapacitada e venha a pleitear o benefício posteriormente. Exemplo1: uma pessoa é portadora de diabetes, bem controlada. Após conseguir seu primeiro emprego, exagera na quantidade de bebidas alcóolicas e alimentos gordurosos e, pelo agravamento da sua doença, adquire um problema de visão. Quando começou a trabalhar, a pessoa não possuía essa incapacidade, que decorreu do agravamento. Assim, terá direito ao benefício. Exemplo2: sujeito que já não enxerga muito bem, após dois anos trabalhando, ingressa com pedido do benefício com base nessa condição. Nesse caso, não poderá receber o benefício. 5.1.2 EXIGÊNCIAS PESSOAIS No caso do auxílio-doença, a única exigência pessoal é a qualidade de segurado, no momento emque a pessoa fica incapacitada. Desempregado pode receber auxílio-doença? Sim, se estiver no período de graça, durante o qual mantém a qualidade de segurado, mesmo sem trabalhar ou contribuir. 37 Optativa I – Direito Previdenciário 5.1.3 CARÊNCIA Carência corresponde ao número mínimo de contribuições necessárias à concessão do benefício. Lei 8.213/91, Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências. A carência do auxílio-doença é de 12 contribuições mensais. Lei 8.213/91, Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26: I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais; Em alguns casos, contudo, essa poderá ser dispensada. Lei 8.213/91, Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações: II - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Previdência Social a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado; Assim, a carência será dispensada quando o auxílio for decorrente de acidentes de qualquer natureza, de doença profissional ou do trabalho, ou de doenças relacionadas pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Previdência Social. 38 Optativa I – Direito Previdenciário O valor do auxílio-doença é de 91% do salário de benefício. 5.1.4 DIB No caso do auxílio-doença, a incapacidade, para qualquer segurado, deve ser superior a quinze dias. Caso contrário, a pessoa não terá direito ao benefício. a) Empregado: sendo o beneficiário um empregado, começará a receber o benefício a partir do 16º dia de afastamento. Os 15 primeiros dias serão pagos pelo empregador; b) Demais segurados: o benefício será pago a partir da data de início da incapacidade. Sendo assim, ficando incapacitado por mais de 15 dias, o segurado receberá o benefício retroativamente ao primeiro dia. Contudo, se o beneficiário demorar mais de 30 dias para pleitear, receberá a partir da data de entrada do requerimento (DER). 5.1.5 OBSERVAÇÕES ADICIONAIS O auxílio-doença é um benefício precário, pois a necessidade social pode desaparecer a qualquer momento. Desse modo, o segurado precisa provar sua incapacidade, preenchendo alguns requisitos, conforme o art. 101 da lei 8.213/91. Lei 8.213/91, Art. 101. O segurado em gozo de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e o pensionista inválido estão obrigados, sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da Previdência Social, processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado, e tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos. Sendo assim, o segurado precisa se submeter a exames periódicos e à reabilitação profissional oferecida pela Previdência. Além disso, se o perito do INSS indica um 39 Optativa I – Direito Previdenciário tratamento, o segurado precisa se submeter a ele, desde que esteja disponível gratuitamente. Só não estará obrigado a se submeter à transfusão de sangue ou à cirurgia, se assim não desejar. 5.2 APOSENTADORIA POR INVALIDEZ Regulamentação básica: artigos 47 a 47, lei 8.213; arts. 43 a 50, RPS. Para quem: há previsão da concessão da aposentadoria por invalidez a todas as classes de segurados do RGPS, uma vez realizados os requisitos legais. A aposentadoria por invalidez será devida ao segurado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser- lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição. Nesse sentido, art. 42, 8.213/91. Deveras, o pagamento da aposentadoria por invalidez é condicionada ao afastamento de todas as atividades laborativas do segurado. Cabimento Segurado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência. Beneficiários Todos os segurados. Carência 12 contribuições mensais (segurado especial 12 meses de atividade rurícola ou pesqueira em regime de economia familiar para a subsistência), salvo acidente de qualquer natureza, doença profissional ou do trabalho e doenças graves listadas em ato regulamentar. Valor 100% do salário de benefício. 40 Optativa I – Direito Previdenciário Outras informações a) Não é definitiva; b) É possível de um acréscimo de 25%, inclusive extrapolando o teto, se o segurado necessitar de assistência permanente de outra pessoa; c) O segurado é obrigado a se submeter a exames médicos periódicos (a cada 2 anos) e reabilitação profissional, mas não a cirurgia e transfusão de sangue; d) Será devida desde a incapacidade (salvo empregado), se requerida até 30 dias. Se após, a data de início será a data do requerimento; no caso do segurado empregado, o empregador deve arcar com os salários por quinze dias antes da concessão da aposentadoria. 5.3 APOSENTADORIA POR IDADE Regulamentação básica: artigo 201, §7º, II, CF; artigos 48 a 51, lei 8.213; artigos 51 a 54, RPS. Em regra, a aposentadoria por idade será devida ao segurado homem que completar 65 anos de idade e a mulher com 60 anos de idade, desde que comprovem a carência de 180 contribuições mensais pagas tempestivamente. Conforme determinação constitucional, haverá redução de idade em 5 anos para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. Ou seja, serão agraciados os segurados especiais, o garimpeiro (contribuinte individual) e produtor rural também enquadrado como contribuinte individual, bem como o empregado rural e o trabalhador avulso rural. Contudo, para a integralização da carência, caso o trabalhador rural tenha que computar período no qual se enquadrava em outra categoria, não será aplicada a redução de idade em 5 anos, na forma do artigo 48, §3º, da lei 8.213. 41 Optativa I – Direito Previdenciário Com o advento da LC 142/2013, que veio a regulamentar a aposentadoria especial dos segurados deficientes, estes também passaram a ter direito à redução em 05 anos na idade na concessão da sua aposentadoria por idade, independentemente do grau da sua deficiência, desde que comprovada à deficiência pelo período de carência de 15 anos. A carência para os trabalhadores rurais de 180 contribuições mensais, mormente para os enquadrados como segurados especiais, será demonstrada pelo exercício da atividade campesina em regime de economia familiar para a subsistência, observada a tabela de transição. Com efeito, essa atividade deverá ser comprovada através do início de prova material (documentos) produzido contemporaneamente ao período probando, mesmo que de maneira descontínua, no período de 180 meses imediatamente anteriorao requerimento do benefício ou à data do implemento da idade mínima. Cabimento Devida ao segurado homem com 65 anos de idade e mulher com 60 anos de idade, com redução de 5 anos para o produtor rural, o segurado especial e o garimpeiro. O segurado deficiente também terá direito à redução em 5 anos na idade. Beneficiários Todos os segurados. Carência 180 contribuições mensais, observada a tabela de transição do artigo 142, da lei 8.213/91. Valor 70% do salário de benefício, acrescido de 1% a cada grupo de 12 contribuições mensais, no máximo de 100%, sendo facultativa a utilização do fator previdenciário; no caso do segurado especial, será de um salário mínimo, salvo se este contribuiu como contribuinte individual. Outras informações Será devida desde o requerimento administrativo, exceto para o empregado e o doméstico, se requerida até 90 dias, sendo devida para estes após o desligamento do emprego. 5.4 APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: 42 Optativa I – Direito Previdenciário Regulamentação básica: artigo 201, §7º, I, CF; artigos 52 a 56, lei 8.213/91; artigos 56 a 63, do RPS. A aposentadoria por tempo de serviço foi extinta pela EC 20/98, surgindo em seu lugar a aposentadoria por tempo de contribuição, em decorrência da substituição do tempo de serviço pelo tempo de contribuição, não mais bastando apenas o exercício do serviço remunerado, sendo curial a arrecadação das contribuições previdenciárias de maneira real ou presumida. Por outro lado, em respeito ao direito adquirido, o tempo de serviço considerado pela legislação vigente para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado do tempo de contribuição, exceto as contagens de tempo fictícias, a exemplo daquelas em dobro perpetradas no passado (art. 4º, EC 20/98). 43 Optativa I – Direito Previdenciário 6 REFERENCIAS 1. AMADO, Frederico – Sinopse Direito Previdenciário. 7ª ed. Salvador. Jus Podivm, 2016. . 2. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm> Acesso em: 06/07/2016 3. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212cons.htm> Acesso em: 06/07/2016 4. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.htm> Acesso em 06/07/2016 5. Disponívelem:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao. htm> Acesso em 06/07/2016 6. Disponívelem:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742compilado.htm > Acesso em 06/07/2016 7. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm> Acesso em 06/07/2016
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