Buscar

Relações Internacionais Teoria e História - Evolução

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 97 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 97 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 97 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MÓDULO II - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS - DA ERA MODERNA AO ENTRE-GUERRA 
 
 
 
Unidade 1 - As Relações Internacionais na Era Moderna 
Unidade 2 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX 
Unidade 3 - A Primeira Guerra Mundial e o Entre-Guerras 
 
 
 
 
 
 
 
Esta aula apresenta um panorama histórico das Relações Internacionais. 
Assista com atenção! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 1 - As Relações Internacionais na Era Moderna 
 
 
 
 
Ao término desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar os principais 
aspectos da evolução histórica da Sociedade Internacional, do início da Idade 
Moderna (século XV) ao fim das Guerras Napoleônicas (século XIX). Deverá, 
portanto, estar apto a discorrer sobre: 
• As grandes navegações; 
• As lutas entre católicos e protestantes; 
• A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648); 
• A paz de Westfália(1648) e 
• Europa no século XVIII e a ascensão da França como Potência hegemônica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 2 - A Sociedade Europeia da Era Moderna 
 
 
O período que vai do ano 1000 até 1800 corresponde à transição do feudalismo 
para o capitalismo. Nesse período, a sociedade europeia feudal – rural, 
fragmentada no nível nacional, unida pela religião e marcada pelos vínculos de 
vassalagem – transformou-se em outra completamente distinta, a sociedade 
capitalista. Nesta, o importante era a vida urbana, influenciada pelas transações 
comerciais e fundada nas relações de trabalho assalariado. 
 
 
 
Quatro acontecimentos são especialmente importantes nesse processo: o 
Renascimento, as Grandes Navegações, o advento dos Estados nacionais 
absolutistas e a Reforma. 
 
 
 
 
 
O Renascimento 
 
Marvin Perry observa que “o termo Renascimento foi cunhado em referência à 
tentativa de artistas e filósofos de recuperar e aplicar a antiga erudição e modelos 
da Grécia e de Roma”. O movimento surgiu na Itália, aproximadamente em 1350 
e se estendeu até meados do século XVII. Não surgiu na Itália por acidente. No 
século XIV, ela era a região mais dinâmica da Europa: inúmeros centros 
comerciais, como Gênova, Veneza, Florença e Milão se desenvolviam com vigor. 
Essas cidades italianas dominavam o comércio com o Oriente e, com isso, 
destacavam-se no contexto europeu como Potências comerciais e, algumas 
vezes, militares. 
 
O período é um ponto de inflexão. Os contemporâneos tinham a percepção de 
que davam início a um novo tempo. Tanto é assim que, para se diferenciarem, 
criaram o termo “Idade Média” para se referirem aos seus predecessores. 
 
O Renascimento é especialmente marcado pelas mudanças ocorridas nas artes 
– destacadamente na pintura, escultura e arquitetura – e nas ciências. Na Idade 
Média, as artes tinham o propósito fundamental de servir à religião cristã, 
vinculando-se, muitas vezes, às determinações da Igreja. Na Renascença, o 
importante era a valorização do ser humano: tinha-se o antropocentrismo 
renascentista se contrapondo ao teocentrismo da Igreja de Roma. 
 
Essa percepção antropocêntrica de mundo não significa, todavia, que houvesse 
uma rejeição à religião. Sem se afastarem da religião, os renascentistas 
admitiam considerar o homem, obra máxima da Criação divina, o centro de suas 
atenções. 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 3 - A Sociedade Europeia da Era Moderna 
O Renascimento (cont.) 
 
E o Renascimento não ocorreu apenas nas Artes. A Ciência, da mesma forma, 
foi afetada pelas investigações de Copérnico, Kepler e Galileu. Copérnico, por 
exemplo, foi o criador da teoria heliocêntrica, que estabelecia o Sol como o 
centro do universo. Isso era uma revolução, porque tirava da Terra a primazia 
sobre os demais corpos celestes. 
 
O Mapa 1 ilustra o desenvolvimento do Humanismo na Europa e a expansão 
renascentista da Itália para todo o continente. 
 
Mapa 1: O Humanismo e a Renascença na Europa 
(Séculos XV e XVII) 
Fonte :http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm30.html 
 
Interessante notar nos círculos vermelhos e verdes os principais pontos de 
florescimento do Renascimento na Itália e em toda a Europa, respectivamente. 
O quadrado rosa marca o local do surgimento da imprensa, e os principais focos 
artísticos estão assinalados pelos pontos negros, de fato, importantes cidades 
europeias. Já as setas representam a difusão do renascimento italiano. 
 
Sugerimos pesquisa mais aprofundada a respeito da importância do 
Renascimento na formação da sociedade europeia. Uma fonte importante é A 
Evolução da Sociedade Internacional, de Adam Watson (Brasília: Editora UnB, 
2004). 
 
 
Pág. 4 - A Sociedade Europeia da Era Moderna 
 
As Grandes Navegações 
 
 
 
As Grandes Navegações, iniciadas no final do século XV, são um marco na 
evolução histórica da Sociedade Internacional. Por meio delas, os europeus 
aventuram-se além dos limites tradicionais de seu continente e, de maneira 
generalizada, lançam-se pelos oceanos e seguem para os “quatro cantos do 
mundo”, entrando em contato com as sociedades asiática, africana e americana 
como nunca ocorrera antes. Com as Grandes Navegações, tem início um 
processo que culminaria na hegemonia europeia no mundo e na supremacia da 
chamada “civilização ocidental” sobre outros povos – muitas vezes, com 
resultados fatais para as civilizações não europeias. 
 
As Grandes Navegações podem ser consideradas o primeiro processo de 
globalização da era moderna. Com elas, o comércio internacional se 
desenvolveu e foram estabelecidos vínculos entre as diversas sociedades 
internacionais que existiam na época. Ademais, graças ao estabelecimento dos 
vínculos mercantilistas com o Novo Mundo – as Américas –, com a África e com 
o Extremo Oriente, a Europa se desenvolveu, o modelo capitalista se estruturou, 
e os Estados-nações europeus se tornaram Grandes Potências. Chegou-se ao 
ponto em que os conflitos entre os Estados europeus repercutiam pelo planeta. 
 
Três fatores levaram às Grandes Navegações do século XV e seguintes. O 
primeiro foi o surgimento de um vívido interesse pelas vantagens que poderiam 
ser obtidas por meio do comércio. Para alcançarem a Europa, os produtos do 
Oriente ou da África subsaariana passavam por uma quantidade significativa de 
intermediários. Tal fato encarecia substancialmente os produtos tão desejados 
pelos europeus, como cravo, canela, pimenta, gengibre, noz-moscada, seda ou 
porcelana. A Economia, como força profunda, impulsionaria os europeus para as 
Grandes Navegações. 
 
Em segundo lugar, havia que se considerar a escassez de metais preciosos na 
Europa. Sem eles, era muito mais difícil a compra de bens da Ásia ou da África. 
Isso também dificultava o desenvolvimento das relações comerciais e, 
consequentemente, das relações sociais e políticas entre as diversas regiões da 
Europa. 
 
Em terceiro lugar, o século XV foi um momento de grandes melhorias na 
construção de navios, nos conhecimentos geográficos e nas habilidades navais. 
Nesse sentido, a tecnologia passou a ser outra força profunda a produzir 
mudanças na conduta dos Atores internacionais do período. Vale lembrar que o 
conhecimento, tanto de construção de embarcações quanto de técnicas de 
navegação, era considerado um bem de extremo valor e cuja proteção era 
questão de Estado, fundamental para países como Portugal e Espanha. 
 
 
Pág. 5 - A Sociedade Europeia da Era Moderna 
 
As GrandesNavegações (cont.) 
 
Foram os portugueses que primeiro se lançaram em busca de novas rotas de 
comércio, desafiando não só a realidade do desconhecido oceano, mas também 
as ideias e temores do desconhecido gerados pelo imaginário medieval. Apesar 
dos custos e dos riscos altíssimos, as viagens compensavam pelos também 
altíssimos lucros obtidos. As viagens geravam, muitas vezes, lucros de até 
6.000%. 
 
Os lucros serviam, pois, de motor que levava às incursões no litoral da África e 
à posterior circum-navegação desse continente, bem como às viagens até a 
Índia e à “descoberta”, pelos europeus, da América. E não tardou para que os 
europeus – primeiro, os portugueses e espanhóis e, depois, holandeses, 
franceses e ingleses – instalassem feitorias em locais da Ásia, África e América, 
que, posteriormente, se transformaram em colônias. 
 
O Mapa 2 ilustra os impérios coloniais português (em vermelho) e espanhol (em 
verde) em seu apogeu. Destaque-se a linha divisória do mundo estabelecida por 
Portugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas (1494), por meio do qual, com 
o assentimento do Papa, os dois Estados católicos buscavam legitimar seus 
direitos sobre as terras “descobertas”. Claro que nem os povos que viviam 
nessas terras e nem os demais monarcas europeus foram consultados, de modo 
que rapidamente Inglaterra, França e Holanda questionariam essa hegemonia 
luso-espanhola, inclusive com a irônica requisição do “testamento de Adão” que 
garantira aos ibéricos a herança do mundo. 
 
 
Mapa 2: Impérios Coloniais do Século XV (Portugal e Espanha) 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm36.html 
 
 
 
O fato é que logo as principais potências europeias se lançariam em busca de 
novas terras e novas rotas, e uma nova era se iniciaria nas relações 
internacionais. 
 
Como observa Perry (1999, p. 280), “num desenvolvimento sem precedentes, 
uma pequena parte do globo, a Europa ocidental, tornara-se a senhora das vias 
marítimas, dona de muitas terras em todo o mundo e o banqueiro e recebedor 
de lucros numa economia mundial que começava a despontar”. O pequeno 
continente dava sinais de seu poder e da dominação que exerceria nos séculos 
seguintes sobre povos e impérios de todo o globo. 
 
 
 
 
Sugerimos a leitura da obra de Paul Kennedy (1991), Ascensão e Queda das 
Grandes 
Potências, em que o autor comenta, entre outras coisas, como os povos de 
um 
continente fragmentado, com sociedades atrasadas em relação a outras 
sociedades do planeta, conseguem se lançar nos oceanos e conquistar o 
mundo e as sociedades mais prósperas e desenvolvidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 6 - A Sociedade Europeia da Era Moderna 
As Grandes Navegações (cont.) 
 
Os efeitos para as outras regiões do mundo foram profundos: populações inteiras 
– especialmente nas Américas – foram dizimadas; outras tantas, particularmente 
na África, foram reduzidas à condição de escravas; plantas, animais e doenças 
foram espalhadas pelos quatro cantos do mundo, e, principalmente, dava-se 
início a um tipo de economia global nunca antes visto. São forças profundas que 
merecem atenção: a tecnologia, dado o aprimoramento das capacidades bélicas 
dos europeus e a religião, uma vez que, junto com os conquistadores, iam os 
catequizadores e a ideia de “obrigação” que tinham os europeus de “difundir o 
cristianismo aos povos mais atrasados” (missões). 
 
O Mapa 3 ilustra a época das grandes navegações e da expansão europeia. A 
partir das terras conhecidas pelos europeus na Idade Média (trecho em laranja), 
há a expansão por terra – com as viagens de Marco Pólo que apresentaram a 
Europa ao Império Chinês – e por mar – graças a intrépidos navegadores como 
Cristóvão Colombo (que descobriu a América), Vasco da Gama (o qual, ao 
dobrar o 
 
 
 
 
Mapa 3: As Grandes Navegações e as “Descobertas” Européias 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm34.html 
 
“Cabo das Tormentas”, passando a chamá-lo de “Cabo da Boa Esperança”, 
estabeleceu a rota marítima para as Índias, garantindo a Portugal a hegemonia 
no comércio com a Ásia) e Fernando de Magalhães (primeira viagem ao redor 
do mundo – apesar de ele mesmo ter morrido no caminho) –, e um Novo Mundo 
surge diante do europeu renascentista. Cite-se ainda as viagens do inglês Jean 
Cabot, que em 1497 chega à Nova Inglaterra, e do francês Jacques Cartier, que 
em 1534 chega à foz do rio São Lourenço e “toma as terras do Canadá para a 
Coroa Francesa”. O mapa revela as terras conhecidas pelos europeus no fim do 
século XVI (em amarelo). 
 
 
Para melhor compreender o significado das grandes navegações e seu 
impacto nas relações internacionais dos séculos XV e XVI, um filme 
interessante é 1492: A Conquista do Paraíso, de Ridley Scott. Para saber mais 
sobre o filme, veja o resumo e o contexto histórico na internet. 
Leia também o texto As Grandes Navegações . 
 
 
 
 
Pág. 7 - A Sociedade Europeia da Era Moderna 
O Advento do Estado Absolutista 
 
A partir do século XIII, ocorreu na Europa o fenômeno do fortalecimento do rei e 
da monarquia. Por intermédio de guerras, alianças e casamentos, os reis se 
fortaleceram e foram decisivos nos processos de construção dos Estados 
nacionais europeus. Os Estados nacionais se formaram, então, como uma cunha 
entre o poder local da nobreza e das cidades e o poder universal da Igreja. 
Alguns, como Espanha, França e Inglaterra, foram bem-sucedidos. Outros, como 
Itália e Alemanha, não conseguiram constituir-se em unidades nacionais até a 
última metade do século XIX. 
 
O Mapa 4 revela a divisão da Europa no século XIII. 
 
Mapa 4: A Europa no Século XIII 
Fonte: http://perso.wanadoo.fr/alain.houot/index.html 
 
No processo de fortalecimento da monarquia, foi importante a criação de 
algumas instituições. A primeira delas foi a do imposto nacional, que se 
diferenciava da cobrança de tributos feita pelos senhores feudais. Enquanto esta 
se fundava nas relações pessoais de vassalagem, o imposto moderno baseava-
se na ideia de que a contribuição era feita para a construção de um bem comum. 
 
A segunda importante instituição foi a de exércitos nacionais. Se, antes, os reis 
dependiam das relações pessoais com a nobreza, pois precisavam dos senhores 
feudais e de seus exércitos particulares, agora tinham uma força militar própria, 
mantida com os novos impostos arrecadados. 
 
Pág. 8 - A Sociedade Europeia da Era Moderna 
O Advento do Estado Absolutista (cont.) 
 
O terceiro aspecto importante para o desenvolvimento do Estado absolutista foi 
a criação de uma administração civil ligada ou ao rei ou ao Estado. Dessa forma, 
o soberano se desligava das relações particulares com a nobreza para poder 
governar. Ademais, tinha-se aí o embrião do que seria a burocracia estatal, 
essencial para o governo dos Estados modernos. 
 
 
 
 
Uma obra importante sobre o Absolutismo é "Linhagens do Estado 
Absolutista", de Perry Anderson. 
 
 
 
Os Estados absolutistas eram, pois, Estados em que o poder se encontrava 
concentrado, em razão das instituições como o sistema tributário, o exército 
nacional e a administração pública, nas mãos do rei. A figura do Estado se fundia 
com a do soberano. Daí as palavras atribuídas a Luís XIV, soberano absolutista 
francês: “L’Etat c’est moi!” (“o Estado sou eu!”). 
 
Importante considerar, também, a preocupação dos Estados absolutistas com a 
economia nacional, especialmentecom o comércio. Essa preocupação se dava, 
porque visava à arrecadação de fundos, especialmente sob a forma de metais 
preciosos e impostos. Nesse sentido, uma nova classe, cada vez mais próxima 
do soberano, se estruturou: a burguesia. Era formada pelos comerciantes e 
outros profissionais liberais das cidades que ganhavam força frente à nobreza 
ao contribuir para o financiamento do Estado moderno. 
 
Por fim, o aparecimento dos estados absolutistas provocou grande mudança no 
sistema internacional. Hélio Jaguaribe (2001, p. 481) observa que “o século XVII 
se caracterizou na Europa pela emergência de grandes potências, contrastando 
com o mundo do Renascimento, quando as cidades-estado da Itália 
desempenhavam os principais papéis na arena internacional, cercadas por 
países potencialmente poderosos, como a França, a Espanha e a Inglaterra, que, 
no entanto, viviam em condições medievais. No princípio do século XVII, esses 
países tinham conseguido em grande parte alcançar sua integração nacional, e 
começavam a ter um papel internacional importante." 
 
Pág. 9 - A Sociedade Europeia na Era Moderna 
 
A Reforma (cont.) 
 
No ano de 529, a Academia de Platão, em Atenas, fora fechada. Em um decreto 
desse ano, o imperador romano Justiniano manifestou-se contra a filosofia, 
iniciando uma acomodação do desenvolvimento cultural em direção à Igreja. No 
mesmo ano, é fundada a Ordem dos Beneditinos, a primeira grande ordem 
religiosa. Dali em diante, os mosteiros passariam a deter o monopólio da 
educação, da reflexão e da meditação. Na Idade Média, teve plena vigência o 
clássico ensinamento de Agostinho: “é necessário compreender para crer e crer 
para compreender”. 
 
No século XVI, iniciou-se um amplo movimento de reforma religiosa, que marcou 
o fim do monopólio religioso da Igreja Católica Romana sobre a Europa 
Ocidental. Esse movimento afetaria definitivamente a política, a economia, a 
cultura, a sociedade, enfim, as relações de poder no cenário europeu e mundial. 
 
Até a Reforma, além do monopólio sobre a fé da cristandade, a Igreja Católica 
tinha um domínio cultural, político, econômico e espiritual único. Cada aspecto 
da vida era rigidamente controlado. A força do Papa, o Bispo de Roma, tanto 
política quanto religiosa, sobre a Europa Ocidental era tamanha que, no século 
XIII, a Igreja podia proclamar que cada pessoa, praticamente em toda a Europa 
Ocidental, tinha fé em Deus de acordo com sua doutrina e seus sacramentos. 
 
Esse controle, no entanto, acabou por se voltar contra a própria instituição. Como 
observa Perry (1999, p. 231), “obstruído pela riqueza, viciado no poder 
internacional e protegendo seus próprios interesses, o clero, do papa abaixo, 
tornou-se alvo de um bombardeio de críticas.”. De um lado, criticava-se a 
supremacia da Igreja sobre os reis. De outro, a corrupção, o nepotismo, a busca 
de riqueza pessoal por parte dos bispos e do papa, o relaxamento do 
cumprimento das obrigações espirituais e a venda de indulgências. Inúmeros 
cristãos passaram a criticar abertamente as práticas da Igreja e do clero. O mais 
famoso e mais importante crítico da Igreja foi o monge Martinho Lutero. 
 
A Reforma se iniciou em 1517, com as críticas de Lutero à venda de 
indulgências. Indulgências eram obras que os cristãos faziam, em vida, para 
reduzir o seu tempo, após a morte, no purgatório. A maior parte dessas obras 
era constituída de doações à Igreja. Lutero questionava a validade moral da 
venda de indulgência e a possibilidade de que elas poderiam redimir o homem 
pecador. Lutero defendia que o homem, apesar de ser intrinsecamente 
condenado pelo pecado original, poderia obter a redenção por meio da fé, do 
arrependimento pessoal, do arrependimento pelos pecados e pela confiança na 
piedade de Deus. 
 
 
 
 
Pág. 10 - A Sociedade Europeia na Era Moderna 
A Reforma (cont.) 
Aspecto importante das teses de Lutero repousa no fato de que o monge 
propunha, em última instância, a dispensa da necessidade da própria Igreja para 
que o homem tivesse sua religiosidade e seu contato com o Criador. As 
consequências da doutrina luterana ultrapassavam a esfera religiosa, pois 
ameaçavam a dominação político-ideológica que a Igreja de Roma exercia sobre 
os reinos europeus e seus soberanos. 
 
 
 
Lutero, ao contrário de outros que atacaram a Igreja, obteve proteção da 
aristocracia europeia. Mais especificamente, foi protegido por Frederico, príncipe 
da Saxônia, na Alemanha. Posteriormente, Lutero deixou claro que não desejava 
de forma alguma ser uma ameaça à autoridade política dos príncipes alemães. 
Além disso, declarou que o bom cristão era aquele que obedecia às leis e à 
ordem. 
 
De fato, Martinho Lutero obteve a simpatia de príncipes e de cidades em toda a 
Alemanha. As razões foram simples. Ao se desqualificar a Igreja Católica, abria-
se a possibilidade de confisco das terras desta pelos príncipes e nobres e do fim 
dos pesados tributos que a ela eram pagos. Além disso, os príncipes alemães 
sentiam-se livres para resistir ao Sacro Império Romano, do católico Carlos V. 
Este, pressionado por ameaças externas – a França, a oeste, e os turcos, a leste 
– acabou por assinar a Paz de Augsburgo, em 1555. Esse acordo basicamente 
definiu que cada príncipe poderia determinar a religião de seus súditos. 
 
 
 
 
 
Filme indicado: Lutero, de Eric Till, conta a história do monge alemão que se 
rebelou contra o abuso de poder na Igreja Católica há 500 anos. Trata-se de 
filme interessante para auxiliar na compreensão da Reforma e da 
Contrarreforma. 
 
As 95 teses de Lutero que abalaram a Europa renascentista estão disponíveis 
em um sitio interessante: a Revista Espaço Acadêmico. Veja, também, a 
biografia do monge. 
 
 Pág. 11 - A Sociedade Europeia na Era Moderna 
Reforma (cont.) 
 
No Mapa 5, temos a Europa no século XVI, dividida entre os diferentes grupos 
de protestantes (em verde) – calvinistas, luteranos e anglicanos –, católicos fiéis 
a Roma (em rosa) e ortodoxos (em laranja). Cite-se ainda a constante pressão 
do Império Otomano, baluarte do mundo islâmico e um Ator muito relevante no 
cenário europeu da época. Claro que as disputas da cristandade centravam-se 
em católicos x protestantes, mas alianças com Constantinopla muitas vezes 
eram consideradas. 
 
Mapa 5: A Europa à Época da Reforma: a Divisão da Cristandade 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm32.html 
 
 
 
É importante observar que o descontentamento com a Igreja era grande em boa 
parte da Europa. O protestantismo, não só da linha luterana, espalhou-se com 
muita rapidez por todo o norte do continente. A reação católica, a 
Contrarreforma, deu-se sob diversas formas. A primeira delas foi no campo da 
atuação religiosa. Como observa Perry (1999, p. 242), “a princípio, a energia 
para a reforma veio do clero comum, bem como de leigos como Inácio de 
Loyola”. Loyola foi o fundador da famosa Companhia de Jesus. Como fora 
treinado como soldado, ele organizou os jesuítas de forma rígida e altamente 
disciplinada. 
 
A Contrarreforma também enfatizava a pregação, a reconversão dos que se 
afastaram da Igreja, a construção de templos, a censura, a perseguição a 
protestantes e a outros hereges. Também é importante ressaltar que a Igreja, 
por intermédio do Concílio de Trento, de 1545 a1563, modificou ou eliminou 
muito dos pontos criticados pelos protestantes, como, por exemplo, a venda de 
indulgências. Por outro lado, o Concílio não fez nenhuma concessão ao 
protestantismo. 
 
A Reforma significou o enfraquecimento da Igreja e o consequentefortalecimento dos Estados. Além disso, a Europa se viu dividida em duas: uma 
protestante, no norte, e outra católica, no sul do continente. Essa tensão 
permaneceria e seria especialmente sentida no século seguinte. 
 
De fato, as disputas entre católicos e protestantes teriam um importante reflexo 
nas relações internacionais europeias durante mais de dois séculos, em especial 
porque estavam associadas também às rivalidades entre as Potências 
europeias. Do ponto de vista das relações internacionais, os novos Estados 
protestantes aliavam-se para se contrapor à dominação hegemônica da Igreja e 
de seu principal defensor político, a dinastia dos Habsburgos, o grandehegemon 
europeu, que tinha um império que englobava a Espanha e a Áustria. Essas 
rivalidades religiosas e políticas culminariam na Guerra dos Trinta Anos. 
 
 
 Os conflitos entre católicos e protestantes marcaram a Europa por dois séculos, 
e seus efeitos alcançam nossos dias. Um filme muito interessante para se 
compreender o período é A Rainha Margot, de Patrice Chéreau. Veja o resumo 
e o contexto histórico do filme. 
 
 
 
 
 
Pág. 12 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) 
 
A Guerra dos Trinta Anos, de 1618 a 1648, primeiro grande conflito armado dos 
tempos modernos, envolveu grande parte da Europa. Essa grande confrontação 
do século XVII poria termo ao período de um século de disputas entre católicos 
e protestantes e daria início a um novo sistema europeu de relações 
internacionais cujos fundamentos alcançariam o século XXI. 
 
O sistema internacional no século XVII foi marcado inicialmente pela 
preponderância da Espanha. Seus concorrentes, porém, não tardaram a ocupar 
o seu lugar de destaque. A França surgiu como um país importante enquanto a 
Inglaterra preparou o terreno, especialmente nas últimas décadas do século, 
para se tornar hegemônica no século seguinte. A perda da hegemonia espanhola 
esteve ligada a vários fatores. Jaguaribe (2001, p. 486) observa que a 
decadência espanhola “resultou da combinação de quatro causas principais: 
certas debilidades institucionais; estruturas sociais predatórias; compromissos 
ideológicos utópicos; e a adoção de políticas equivocadas” 
 
Importante lembrar que a Espanha, católica, era a potência hegemônica no início 
do século XVII. O domínio de Felipe III (1598-1621) abrangia toda a Península 
Ibérica, as colônias da América, incluindo o Brasil, o sul da Itália, Milão, ilhas no 
Mediterrâneo, Filipinas e enclaves na África. 
Especialmente equivocada foi a decisão espanhola de ser defensora da fé 
católica. Isso não apenas fez ressurgir, em grau muito maior, as guerras 
religiosas do século anterior, mas também levou a Espanha a perder a sua 
condição de principal potência do continente europeu. 
 
 
O século XVII, ressalta Jaguaribe (2001, p. 485), "foi marcado pelos conflitos 
religiosos mais agudos já ocorrido no ocidente. Herdados do século precedente, 
eles culminaram na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)", que foi, pois a tentativa 
militar dos católicos de conter o protestantismo. 
 
 
O Mapa 6 ilustra a Europa em 1600, dividida entre reinos católicos e 
protestantes. 
 
Fonte: 
http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr7.html 
 
 
Antes de entrarmos diretamente na Guerra dos Trinta Anos, convém um rápido 
parêntese. Em 1556, o Imperador Carlos V, após ter assinado a Paz de 
Augsburgo, abdicou e dividiu em dois os seus domínios: de um lado, a Espanha, 
Países Baixos, colônias americanas e Itália ficaram para seu filho Felipe II (no 
mapa, em laranja); de outro, a Áustria, que ficou com seu irmão Fernando (em 
amarelo). Com isso, a família Habsburgo ficou dividida em dois ramos, ambos 
católicos e, frequentemente, aliados. 
 
 
 
Pág. 13 - A Guerra dos Trinta Anos ( 1618-1648) 
A Guerra 
 
A chamada Guerra dos Trinta Anos começou em 1618 como conflito religioso 
entre católicos e protestantes na Boêmia e adquiriu caráter político em torno das 
contradições entre Estados territoriais e principados. Envolveu a Alemanha, 
Áustria, Hungria, Espanha, Holanda, Dinamarca, França e Suécia. 
 
Importante para o início da Guerra dos Trinta Anos foi a ascensão de Fernando 
II ao trono austríaco, em 1619. Na época, Fernando II, imperador do Sacro 
Império Romano-Germânico era também rei da Boêmia. Os rebeldes negaram-
lhe esse título e entronizaram o príncipe eleitor calvinista Frederico do 
Palatinado. Segundo Perry (1999, p. 266): 
 
A Guerra dos Trinta Anos começou quando os boêmios (...) tentaram colocar no 
seu trono um rei protestante. Os Habsburgos austríacos e espanhóis reagiram, 
mandando um exército ao reino da Boêmia; de súbito, todo o império foi forçado 
a tomar partido dentro de linhas religiosas. A Boêmia sofreu uma devastação 
quase inimaginável: três quartos de suas cidades foram saqueadas e queimadas 
e sua aristocracia foi praticamente exterminada. 
 
O resultado foi o envolvimento de outros príncipes protestantes. O mais 
importante deles na primeira fase da Guerra, que vai até 1632, foi o rei da Suécia, 
Gustavo Adolfo, morto em batalha naquele ano. A possibilidade de paz entre 
Fernando II e os príncipes alemães leva à cena um novo Ator, a França, 
preocupada com a excessiva força que poderia ter a Áustria. 
 
Sob o comando do cardeal Richelieu, a França, apesar de católica como os 
austríacos, posicionou-se contra estes. Primeiramente, de forma encoberta, 
depois de maneira ostensiva. Richelieu estava convencido de que a continuidade 
da França como grande poder internacional dependia da guerra contra os 
Habsburgos. Assim, a França financiava ou apoiava todos os que se opusessem 
ao domínio austríaco ou espanhol, ou, quando necessário, guerreavam 
diretamente contra eles. A França, aliás, derrotou o até então imbatível exército 
espanhol na batalha de Rocroy, em 1643. Para a Espanha, o custo dessa derrota 
foi altíssimo, pois significou o fim da invencibilidade de seu poderoso exército e 
a vida de 15 mil soldados. 
 
A maneira como Richelieu se portou politicamente influenciaria o sistema 
internacional pelos próximos séculos. Richelieu criou ou ajudou a criar conceitos 
como o de “razão de estado” e “equilíbrio de poder”. Henry Kissinger (1999, p. 
60) analisa que “de início, ele [Richelieu] queria impedir a dominação dos 
Habsburgos sobre a Europa, mas ao final deixou um legado que por dois séculos 
provocou seus sucessores a tentarem o primado francês na Europa. Do fracasso 
dessas tentativas, brotou o equilíbrio de poder, primeiro como um fato da vida, 
depois como forma de organizar relações internacionais (...). Quando a guerra 
terminou, em 1648, a Europa Central fora devastada e a Alemanha perdera 
quase um terço de sua população. No tumulto desse conflito trágico, o cardeal 
Richelieu enxertou o princípio da raison d´état (razão de estado) na política 
externa francesa, princípio que os outros estados europeus adotaram nos cem 
anos seguintes”. 
 
Convém reproduzir mais algumas das conclusões de Kissinger (1999, p. 63): “o 
objetivo de Richelieu era romper o que ele considerava o cerco da França, 
exaurir os Habsburgos e impedir a emergência de uma grande potência nas 
fronteiras da França – especialmente na fronteira alemã. Seu único critério para 
alianças era que elas atendessem aos interesses da França, aplicado 
primeiramente aos estados protestantes, mais tarde até ao Império Otomano 
muçulmano”. 
 
Assim, a conduta da França reflete a maneira racional e pragmática como as 
grandes Potências atuam no cenário internacional. Apesar de católica, a França 
não hesitou em aliar-se aos protestantespara se contrapor à hegemonia 
espanhola. Essa conduta garantiria o fortalecimento da França nos anos 
seguintes, de modo que, com o fim da guerra e o declínio do poder espanhol, o 
Estado francês assumiria o papel de nova Potência hegemônica no continente. 
 
A Guerra dos Trinta Anos chegaria a termo por meio da Paz de Westfália (1648), 
e uma Nova Ordem seria estabelecida no cenário europeu e, 
consequentemente, nas relações internacionais da Era Moderna. 
 
 
 
Leia mais sobre a Guerra dos Trinta Anos acessando o sítio “Vultos e episódios 
da Época Moderna”. 
 
 
 
 
Pág. 14 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) 
 
A Paz de Westfália (1648) 
A paz foi alcançada porque a guerra, após as suas várias fases, se mostrou 
impossível de ser vencida de maneira efetiva. Segundo Jaguaribe (2001, p. 483), 
“se foi possível chegar finalmente a um acordo negociado, depois de disputas 
ferozes, isso se deveu à incapacidade dos Atores em conflito de impor pela força 
os seus respectivos dogmas”. 
 
O primeiro dos tratados, assinado em janeiro de 1648, pôs fim à guerra entre 
Espanha e Holanda. Em outubro do mesmo ano, pressionada por seus aliados 
alemães, a Espanha também selou a paz com os franceses. 
 
Os tratados de Westfália significaram o fim das ambições dos Habsburgos 
austríacos e espanhóis e a vitória da política externa francesa, iniciada com 
Richelieu. Os franceses, além de acabarem com as pretensões dos seus 
adversários, ainda tiveram algumas importantes conquistas territoriais. O 
fantasma de uma Alemanha unificada, ameaça à França pelo leste, manteve-se 
afastado por duzentos anos. 
 
Carpentier e Lebrun (1993, p. 229) anotam que a Europa era “politicamente muito 
diferente da de 1560 ou 1600. A Casa da Áustria já não era um perigo para a 
paz europeia. (...) A Espanha, enfraquecida e amputada, já se não contava entre 
as potências de primeira plana. A Inglaterra, saída do isolamento em que havia 
ficado a seguir à guerra civil (...), as Províncias Unidas [Holanda], independentes 
e aumentadas, a Suécia, dominadora do Báltico, eram já grandes potências (...). 
O facto essencial era, todavia, a situação de preponderância adquirida pela 
França. O reino (...) não só era mais vasto e mais bem defendido como também 
dispunha de uma clientela em que se contavam quase todos os países europeus. 
De resto, o prestígio intelectual e artístico da França não cessava de crescer. 
Começara a era da preponderância francesa na Europa”. 
 
No Mapa 7, pode-se perceber a nova configuração de poder no continente 
europeu, com destaque para as fronteiras nacionais e os limites assegurados 
pelo Tratado de Westfália. A maior parte dessas fronteiras acabaria modificada 
nos séculos seguintes. 
 
Mapa 7: A Europa em 1648 
Fonte: 
http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr9.html 
 
 
 
 
 
 
Pág. 15 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) 
O Legado de Westfália 
 
Importante sublinhar que o Tratado de Westfália marca o fim de cento e 
cinquenta anos de conflito entre os nascentes Estados europeus e o fim das 
ambições dos Habsburgos. Nasce, então, um novo tipo de Sistema 
Internacional, cujos Atores eram, essencialmente, os Estados. Além disso, a 
história posterior da Europa caracterizar-se-ia pelo princípio da anti-hegemonia, 
isto é, os Estados agiriam no sentido de evitar que um se tornasse a potência 
hegemônica (balanço de poder). O Tratado de Westfália, assim, foi responsável 
por grandes mudanças no sistema internacional europeu. Ao contrário de boa 
parte dos acordos e pactos que eram firmados anteriormente, ele não serviu 
apenas para pôr fim a um conflito, mas também para tornar o Estado o principal 
Ator das relações internacionais. Além disso, os Estados, independentemente 
do tamanho, se viram como iguais e participantes de um mesmo Sistema 
Internacional. 
 
 
Trata-se de um momento histórico fundamental para as Relações Internacionais. 
O Tratado de Westfália, de 1648, inaugurou uma nova fase na história política 
daquele continente, propiciando o triunfo da igualdade jurídica dos Estados, com 
o que ficaram estabelecidas sólidas bases para uma regulamentação 
internacional mínima. Essa igualdade jurídica elevou os Estados ao patamar de 
únicos Atores nas políticas internacionais, eliminando o poder da Igreja nas 
relações entre os mesmos e conferindo aos mais diversos Estados o direito de 
escolher seu próprio caminho econômico, político ou religioso. Ficou, então, 
consagrado o modelo da soberania externa absoluta, tendo início uma ordem 
internacional protagonizada por Atores com poder supremo dentro de fronteiras 
territoriais estabelecidas. Mais tarde, os contratualistas (Locke, Rousseau) e, em 
1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, trariam os elementos 
caracterizadores da soberania que seriam adotados por várias Constituições: 
unidade, indivisibilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade. 
 
Importante também sublinhar que o primeiro ponto em que os diplomatas em 
Westfália acordaram foi que as três confissões religiosas dominantes no Sacro 
Império (o catolicismo, o luteranismo e o calvinismo) seriam consideradas iguais. 
Revogava-se, assim, a disposição anterior nesse assunto, firmada pela Paz de 
Augsburgo, em 1555, que dizia que o povo tinha que seguir a religião do seu 
príncipe (cuius regios, eius religio). Isso não só abria uma brecha no despotismo 
como abria caminho para a concepção de tolerância religiosa, que, no século 
seguinte, se tornaria bandeira dos iluministas, como John Locke e Voltaire. Além 
disso, a nova doutrina da Razão de Estado, extraída das experiências 
provocadas pela Guerra dos Trinta Anos, exposta e defendida pelo Cardeal 
Richelieu, defendia que um reino tem interesses permanentes que o colocam 
acima das motivações religiosas. O antigo sistema medieval, que depositava a 
autoridade suprema no Império e no Papado, dando-lhes direito de intervenção 
nos assuntos internos dos reinos e principados, foi substituído pelo conceito de 
soberania de Estado, inaugurando-se um novo sistema em que os Estados têm 
direitos iguais baseados numa ordem constituída por tratados e pela sujeição à 
lei internacional. 
 
Essa situação político-jurídica perdura até os nossos dias, apesar de haver hoje, 
particularmente da parte dos EUA, um forte movimento supranacional 
intervencionista, com o objetivo de suspender as garantias de privacidade de 
qualquer Estado frente a uma situação de emergência ou de flagrante violação 
dos direitos humanos. 
 
 
 
 
 
Pág. 16 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) 
A Nova Ordem Internacional a partir de Westfália 
 
A história europeia após o tratado de Westfália é a contínua busca, por parte da 
França, de obtenção da hegemonia europeia e a resistência, por parte dos 
demais Atores europeus, a esse intento. Na busca desses objetivos, imperam as 
relações pragmáticas e as alianças de ocasião. No século que se seguiu à Paz 
de Westfália, “a raison d’état [razão de estado] passou a ser o princípio 
orientador da diplomacia europeia”, registra Kissinger (1999, p. 66). 
 
O período pode ser divido em três fases: 
 
A primeira vai de 1648 a 1740 e é de preponderância francesa. A Áustria recuou 
de suas pretensões na Alemanha e conquistou, gradativamente, vastas regiões 
ao longo do rio Danúbio. A Espanha lentamente se retirava do papel de potência 
de primeira ordem. A Inglaterra, a partir da Revolução Gloriosa, de 1688, tornou-
se uma monarquia em que o Parlamento tinha papelpreponderante. A França, 
especialmente sob Luís XIV “esforçou-se (...) por reforçar o absolutismo 
monárquico em França e por impor, mais ou menos diretamente, a sua lei à 
Europa. Falhou, porém, nesta sua última pretensão perante a coligação dos 
Estados europeus – enquanto, na Europa Central e Oriental, a Prússia começava 
a salientar-se, e Pedro, o Grande, procurava conseguir que a Rússia saísse do 
seu isolamento” (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 233). 
Essa Europa do início do século XVIII encontra-se no Mapa, veja: 
Mapa 8: A Europa no Início do Século XVIII 
Fonte: 
http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr11.html 
 
 
Pág. 17 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) 
A Nova Ordem Internacional a partir de Westfália (cont.) 
 
A segunda fase vai de 1740 a 1792 e se caracteriza pela preponderância 
marítima da Inglaterra e pelo equilíbrio das potências continentais. “A luta, no 
mar e nas colônias, entre a Inglaterra – onde, a despeito das tendências de poder 
pessoal de Jorge III, prosseguia a evolução para o regime parlamentar – e a 
França – onde o absolutismo de Luís XV e Luís XVI enfrentava dificuldades cada 
vez maiores – veio a dar a vantagem à Inglaterra, que se tornou a primeira 
potência mundial graças à sua superioridade marítima e ao avanço resultante 
dos começos da revolução industrial. Na Europa Central e Oriental, a Prússia de 
Frederico II, a Áustria de Maria Teresa e José II e a Rússia de Isabel e de 
Catarina II eram concorrentes entre si, mas equilibravam-se e chegaram a 
acordo para crescer à custa do Império Otomano e da Polônia, que foi totalmente 
desmembrada” (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 247). 
 
O último período vai de 1792 a 1815 e se caracteriza por ser o momento do 
apogeu e do fracasso do projeto de uma Europa francesa. “Entre 1789 e 1815, 
a Europa respirou ao ritmo da França. A ‘Grande Nação’ impôs-se, primeiro, pela 
força das ideias e, depois, pela das armas. De 1792 até 1815, a guerra opôs 
permanentemente a França às monarquias europeias. Napoleão Bonaparte, 
herdeiro dessa guerra, tentou construir uma Europa Continental francesa. Mas a 
obstinação britânica, que inspirava e financiava as diversas coligações das 
coroas, acabaria por vencer o Grande Império. A França foi, então, vítima não 
só dos reis como também dos povos, cujos sentimentos ajudara a despertar” 
(CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 277). 
 
 
 
 
Sob o prisma das Relações Internacionais, convém observar a importância da 
Potência hegemônica em um sistema e o grau de influência sobre os outros 
Atores. Na Nova Ordem estabelecida a partir de Westfália, a França ascendeu à 
condição de Potência hegemônica, que havia sido da Espanha sob os 
Habsburgos. O século que se seguiu à Guerra dos Trinta Anos foi um século 
francês, no qual a sociedade internacional era influenciada pela sociedade 
francesa. Daí a expansão do Iluminismo pela Europa e Américas, os costumes 
e até o idioma francês influenciando outros povos ou gerando reações 
nacionalistas, como ocorre hoje com a língua inglesa e o american way of life. 
 
Assim, o sistema passou a gravitar em torno da França. Essa ordem começou a 
ruir quando se modificou o equilíbrio de poder no continente, em virtude de 
transformações radicais no interior do hegemon. A maior dessas transformações 
foi a Revolução Francesa, que abalou a estrutura de poder no interior da 
Potência hegemônica e acabou repercutindo em todo o continente – chegando 
inclusive ao Novo Mundo – com as guerras napoleônicas. 
 
Mais um livro útil como referência sobre o período a partir de uma perspectiva 
de 
Relações Internacionais, além do já sugerido anteriormente - “Ascensão e 
Queda 
das Grandes Potências", de Paul Kennedy -, é "Diplomacia", de Henry 
Kissinger. 
 
 
Leia mais sobre a Guerra dos Trinta Anos acessando o sítio “Vultos e episódios 
da Época Moderna”. 
 
 
 
 
Unidade 2 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX 
 
 
Ao concluir o estudo desta Unidade, o aluno deverá ser capaz de discorrer 
sobre os 
principais aspectos das relações internacionais do século XIX, particularmente 
sobre: 
• Os antecedentes da Nova Ordem do século XIX: a Revolução Francesa e as 
Guerras Napoleônicas; 
• O congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu; 
• As Revoluções do século XIX; 
• os nacionalismos e as unificações da Itália e da Alemanha; 
• a ascensão da Alemanha unificada como Grande Potência; 
• o neocolonialismo; 
• os novos atores entre as Grandes Potências fora da Europa; 
• Estado-nação. 
 
 
 
 
 
Bom estudo! Não se esqueça de fazer anotações, de abordar com 
comprometimento os exercícios de fixação oferecidos e de, 
sempre que possível, realizar atividades propostas para tornar o curso mais 
dinâmico: filmes, livros, links na Internet. 
 
 
 
 
Pág. 2 - A Nova Internacional do Século XIX - Antecedentes 
 
A Revolução Francesa 
 
 
 A Revolução Francesa (1789) foi um evento que marcou profundamente a 
sociedade europeia. Inspirada pelos ideais iluministas e liderada pela burguesia 
com apoio popular, a Revolução tinha por lema "Liberdade, Igualdade, 
Fraternidade" e ressonou em todo o mundo, da Europa ao continente americano, 
pondo abaixo regimes absolutistas e ascendendo os valores burgueses. Foi 
marco e referência para grandes transformações sociais e políticas que 
aconteceriam pelo mundo nos séculos seguintes. 
 
 
O Mapa 9 apresenta a configuração política da Europa à época da Revolução 
Francesa. Note-se como a França Revolucionária estava cercada pelas 
potências absolutistas defensoras do Antigo Regime. Apesar disso, os ideais 
revolucionários se expandiriam para muito além das fronteiras do Reino da 
França. 
Mapa 9: A Europa à época da Revolução Francesa 
 
 Fonte: 
http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr13.html 
 
 
Registre-se que essa ressonância da Revolução Francesa foi tanto prática 
quanto simbólica. A Revolução foi marcante por ter atingido a principal 
monarquia europeia e o maior e mais populoso país europeu (se excluída a 
Rússia). De fato, as transformações que marcariam a Europa e a civilização 
ocidental no século XIX seriam influenciadas diretamente por aquelas mudanças 
ocorridas no âmbito doméstico da França, então a Potência hegemônica no 
continente. Nesse sentido, podemos perceber como transformações nas 
Grandes Potências acabam afetando todo o sistema internacional, 
proporcionalmente ao grau de poder dessa Potência. 
 
 
Exemplo disso são as mudanças ocorridas nos EUA após o 11 de setembro de 
2001 e seus efeitos em todo o globo. 
 
 
 
Pág. 3 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
Revolução Francesa (cont.) 
 
Assim, para os defensores da ordem, a Revolução era perigosa, porque retirava 
os alicerces do Antigo Regime. A título de exemplo, foi apenas em 1789 que, 
pela primeira vez na história da França, uma Assembleia Nacional foi eleita e 
aboliu o feudalismo e seus privilégios. Além disso, também naquele ano, a 
Bastilha, o símbolo do poder real, foi tomada de assalto, palácios foram 
saqueados e revoltas ocorreram no campo, com os camponeses se sublevando 
e questionando, de maneira praticamente inédita no país, o modelo de servidão 
estabelecido pelo sistema feudal. Como se não bastasse, uma Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão foi proclamada como preparativo para uma 
Constituição, e a Igreja foi subordinada ao Estado. Eram mudanças que 
afetavam o cerne de uma ordem doméstica tradicionale que acabariam afetando 
as estruturas da ordem internacional que tinha a França como principal 
protagonista. 
Denominou-se Antigo Regime à ordem estabelecida na Idade Moderna na qual 
a monarquia absolutista conjugou-se com as principais forças políticas da 
sociedade: por meio do Mercantilismo, a monarquia aliou-se à burguesia e ao 
mesmo tempo manteve-se unida à nobreza e ao alto clero, concedendo 
privilégios a esses dois últimos grupos, muitas vezes em detrimento da burguesia 
e sempre às custas dos impostos cobrados do povo. 
 
 
Não tardou, pois, a reação. As Potências Europeias promoveram ataques contra 
o território francês na tentativa de restabelecer o trono de Luís XVI e o Antigo 
Regime (vide Mapa 10 – em roxo, a ofensiva dos países da coalizão). As 
cabeças coroadas da Europa não poderiam arriscar que um de seus membros 
mais importantes fosse derrubado por um levante popular. 
 
Nesse contexto, Luís XVI tentou fugir para o exterior. Preso no meio do caminho, 
foi levado de volta a Paris e guilhotinado. A República foi proclamada, e a França 
se viu, externamente, em um estado quase permanente de guerra. Internamente, 
a Revolução mergulhou no Terror – aproximadamente 40 mil pessoas morreram 
– e na luta entre as diversas facções. Após um período de contrarrevolução e de 
agravamento dos conflitos internos, o poder passou para as mãos dos generais. 
Um deles, Napoleão Bonaparte, assumiu o controle do governo em novembro 
de 1799. 
 
 
Mapa 10: A Revolução Ameaçada (1792-1794) 
 Fonte: 
http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/Rev_Emp/revemp3.html 
 
Pág. 4 - A nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
Napoleão Bonaparte 
 
Napoleão, “na verdade, pertencia à tradição do despotismo esclarecido do 
século XVIII. Da mesma maneira que os déspotas reformadores, admirava a 
uniformidade e a eficiência administrativas, era avesso ao feudalismo, à 
perseguição religiosa e à desigualdade civil e defendia a regulamentação 
governamental na indústria e no comércio” (PERRY, 1999, p. 339). 
 
Apesar de não se identificar com o republicanismo e com a democracia das fases 
mais radicais da Revolução, Bonaparte era visto, pelos demais países europeus 
como seu continuador. Isso se deu, em grande parte, porque o general corso 
estendeu, “com diferentes graus de determinação e sucesso, (...) as reformas da 
Revolução a outras terras. Seus funcionários instituíram o Código Napoleônico, 
organizaram um serviço civil efetivo, abriram carreiras de talento e nivelaram os 
encargos tributários. Além de abolir a servidão, os pagamentos senhoriais e as 
cortes da nobreza, eliminaram os tribunais clericais, fomentaram a liberdade 
religiosa, autorizaram o casamento civil, exigiram que se concedessem direitos 
civis aos judeus e combateram a interferência do clero na autoridade secular. 
(...) Napoleão dera início a uma revolução social de amplitude europeia, que 
atacou os privilégios da aristocracia e do clero – que se referiam a ele como o 
‘jacobino coroado’ – e beneficiou a burguesia” (PERRY, 1999, p. 344). 
 
 
 
Vejamos como se deu a influência das ideias e das novas instituições, segundo 
Duroselle (1976, p. 8): 
 
 
 
- As zonas “assimiladas”, anexadas ao território do grande Império, ou 
efetivamente vassalas (reino da Itália): aí, os direitos feudais foram suprimidos, 
a igualdade estabelecida perante a lei, o código napoleônico adotado e a 
administração calcada sobre a da França. 
 
- As zonas de “influência”, onde a anexação foi indireta, mas o Antigo Regime foi 
eliminado pelas autoridades francesas. É o caso da maior parte da Alemanha 
entre o Reno e o Elba, do Grão-Ducado de Varsóvia, do Reino da Sicília e do 
Reino de Nápoles. 
 
- As zonas de “resistência positiva”, essencialmente a Prússia, onde os dirigentes 
(...) calcularam que o melhor meio de encerrar a luta contra a França era pôr em 
prática extensas reformas sociais (abolição da servidão e dos direitos feudais). 
 
- As zonas de “resistência passiva”, essencialmente a Áustria e a Rússia, onde 
a luta contra a França não se fez acompanhar de nenhuma reforma profunda: o 
sistema senhorial foi mantido na Áustria, a servidão e o Tchin (nobreza ligada à 
função pública) na Rússia. 
 
Enfim, a Inglaterra, depois de 1800 chamada de “Reino Unido da Grã-Bretanha 
e Irlanda”, que, por um lado, jamais havia sido conquistada e, por outro, já 
possuía um regime suficientemente liberal para que tivesse a tentação ardente 
de imitar a França. 
 
 
 
Pág. 5 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
Napoleão Bonaparte (cont.) 
 
Portanto, a Era Napoleônica foi marcada por uma série de conflitos armados 
ocorridos entre 1799 e 1815, quando a França enfrentou várias alianças de 
Potências europeias. O principal motivo das campanhas francesas, após 1789, 
era defender e difundir os ideais da Revolução Francesa, mas, com a ascensão 
de Napoleão, o objetivo passou a ser a expansão da influência e do território 
franceses. O império napoleônico chegou a dominar parte significativa 
daEuropa. Napoleão sonhava com uma Europa em que, sob a hegemonia 
francesa, não houvesse mais espaço para as estruturas absolutistas do Antigo 
Regime. Nessas regiões, as sementes dos ideais revolucionários de 1789 foram 
plantadas e germinariam nas décadas seguintes. Para a contenção do 
expansionismo francês, foram necessárias várias coalizões das Grandes 
Potências. 
 
No Mapa, pode-se ter a ideia da dimensão do Império Napoleônico em seu 
apogeu (em verde). 
 
Mapa 11: O Império Napoleônico em seu Apogeu (1810-1811): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 6 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
Napoleão Bonaparte (cont.) 
Em 1812, Napoleão conduziu uma campanha vitoriosa contra os russos 
chegando até Moscou. Entretanto, a vitória logo se converteu em grande derrota. 
Os russos simplesmente abandonaram Moscou, depois de destruir os campos 
cultivados e de incendiar a cidade. Sem abrigo ou provisões, o exército francês, 
enfrentando o rigoroso inverno, foi obrigado a deixar a Rússia sob o intenso fogo 
do exército russo, perdendo aproximadamente 95% dos cerca de 600 mil 
homens que participaram da desastrosa campanha. 
 
Aproveitando-se do enfraquecimento de Napoleão, Áustria, Prússia, Rússia, 
Inglaterra e Suécia formaram a 6.ª Coalizão e declararam guerra à França. 
Napoleão derrotou os exércitos da Rússia e da Prússia, enquanto os exércitos 
franceses estavam sendo derrotados na Península Ibérica por forças espanholas 
e inglesas. Após a Batalha de Leipzig, a Batalha das Nações, em 1813, os 
exércitos de Napoleão abandonaram os principados alemães. A rebelião contra 
o império se estendeu à Itália, Bélgica e Holanda. 
 
Em 1814, um grande exército da 6.ª Coalizão invadiu a França e ocupou Paris. 
Napoleão, obrigado a renunciar, foi exilado na Ilha de Elba (próxima da Córsega, 
sua terra natal), e a monarquia francesa restaurada com Luís XVIII, irmão de 
Luís XVI. Os membros da Coalizão reuniram-se, então, no Congresso de Viena 
para restaurar as monarquias na Europa. 
 
No entanto, enquanto era traçado o novo mapa europeu, em março de 1815, 
Napoleão fugiu de Elba, voltou à França, e iniciou a formação de um novo 
exército. O rei enviou uma guarnição de soldados para prendê-lo, mas estes 
aderiram a Napoleão. Luís XVIII fugiu para a Bélgica. 
 
Contra Napoleão foi rapidamente formada uma 7.a Coalizão, composta por 
Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia. Sem tempo para preparar um exército, 
Bonaparte enfrentou novos combates, mas foi derrotado definitivamentenaBatalha de Waterloo (18 de junho de 1815). Napoleão foi então mantido 
prisioneiro na Ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu em 1821. Luís 
XVIII reassumiu o trono francês com o apoio do Congresso de Viena. Chegaram 
ao fim as Guerras Napoleônicas. 
 
Apesar da derrota definitiva em 1815, as ações de Napoleão e os ideais 
revolucionários atingiram, de forma irreversível, o Antigo Regime em boa parte 
da Europa e aceleraram o processo de modernização do continente. Seus efeitos 
alcançaram o continente americano, repercutindo nos processos de 
independência de toda a América Latina e nos princípios jurídicos e políticos que 
regeriam os novos governos na região. O mundo passou, portanto, por grandes 
transformações em virtude da Era Napoleônica. As relações internacionais 
nunca mais seriam como antes. 
 
 
Pág. 7 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu 
 
O fim das guerras napoleônicas marcou o início de um sistema internacional 
baseado no equilíbrio de poder entre as Potências europeias que durou cem 
anos, até a Primeira Guerra Mundial. Foi o mais longo período de paz da história 
da Europa ou, pelo menos, o período em que não houve nenhuma guerra que 
envolvesse, de forma generalizada, as Potências europeias. Durante 40 anos, 
isto é, entre o Congresso de Viena e a Guerra da Crimeia (1854), não houve uma 
guerra sequer entre as grandes Potências e, nos 60 anos seguintes, exceto pela 
Guerra Franco-Prussiana de 1871, nenhum conflito importante ocorreu. 
 
O Congresso de Viena foi marcado pelo medo e pelas lembranças trazidas pelos 
25 anos anteriores. Os homens que reconstruíram o mapa da Europa em 1815 
o fizeram preocupados em evitar que a ordem sofresse novos abalos. Apesar de 
todos os negociadores serem adversários da Revolução, estavam perfeitamente 
conscientes de que a Europa de 1815 não poderia voltar a ser aquela de 1792. 
Não obstante, estavam determinados a evitar novas catástrofes. Para isso, 
seriam utilizados dois princípios: o da legitimidade e o do equilíbrio europeu. Nas 
palavras de Duroselle (1976, p. 4): 
 
Primeiro, restabelecer a ‘legitimidade’ dos soberanos. Mas ‘na ordem das 
combinações legítimas, ligar-se de preferência àquelas que podem com maior 
eficácia concorrer para o estabelecimento e conservação de um verdadeiro 
equilíbrio’. Serão, então, utilizados com flexibilidade e em proveito dos grandes 
Estados os dois princípios, um moral e jurídico, o da legitimidade, outro, 
puramente prático, o do equilíbrio europeu. 
 
Como resultado dos debates de Viena, o mapa da Europa sofreu alterações 
importantes que refletiam a nova configuração de poder estabelecida pelas 
Grandes Potências. A Alemanha, por exemplo, passou de 300 Estados para 38 
(comparar o Mapa 12 com o Mapa 11). 
 
Um fato, porém, não pode ser deixado de lado. Na conformação do novo sistema 
de equilíbrio europeu, a França continuava a grande preocupação. Sua condição 
hegemônica tinha sido excessivamente danosa para as outras Potências 
europeias. O Congresso de Viena foi realizado sob o signo de se evitar que ela 
ameaçasse novamente o resto do continente. 
 
Dois tratados pós-Congresso de Viena merecem destaque. O primeiro é o 
Tratado da Santa Aliança, firmado entre o Czar da Rússia, o Imperador da 
Áustria e o Rei da Prússia, em 26 de setembro de 1815. O segundo é o tratado 
conhecido como o da Quádrupla Aliança, entre os Quatro Grandes (Inglaterra, 
Rússia, Áustria e Prússia) em 20 de novembro de 1815. 
 
 
Pág. 8 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu 
O Tratado da Santa Aliança estabelecia a restauração na Europa da ordem 
religiosa e monárquica, fundamento do Antigo Regime que a Revolução 
Francesa quis derrubar. Fundando-se no mundo cristão, excluía o sultão 
otomano, apesar de o Czar desejar que o sistema abarcasse a França e a 
Espanha. Segundo Duroselle (1976, p. 5), “a ‘Santa Aliança’, produto dos sonhos 
do Czar tinha pouca consistência, e que a verdadeira realidade era a Quádrupla 
Aliança, assinada secretamente a 20 de novembro de 1815 entre a Rússia, a 
Inglaterra, a Áustria e a Prússia, contra a França.” 
 
Mapa 12: O Congresso de Viena (1815) 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix1.html 
 
Até 1830, o equilíbrio europeu foi assegurado graças aos entendimentos entre 
Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia – os “Quatro Grandes” – e à estabilização 
política da França. Como resultado de habilidosa diplomacia, já em 1818 os 
franceses conseguiram associar-se à política de garantia da ordem na Europa. 
Estava estruturado o Concerto Europeu, por meio do qual as Grandes Potências 
europeias conduziriam o continente por décadas. O equilíbrio de forças entre 
Inglaterra, Rússia, Áustria, Prússia e França garantia a estabilidade, uma vez 
que nenhum desses Estados ou qualquer outro país europeu era 
suficientemente poderoso para enfrentar sozinho uma coalizão formada pelos 
demais. Assim, estabelecia-se um verdadeiro consórcio entre as Grandes 
Potências europeias, que lhes permitiu projetar seu poder sobre toda a Europa 
e pelo mundo. O século XIX seria o século da Paz na Europa e da hegemonia 
europeia sobre todo o planeta. 
 
A partir de 1815, a ação dos países europeus intensificou-se em escala mundial. 
A Inglaterra, por exemplo, divulgava mais e mais o liberalismo político e 
econômico, e a expansão desses ideais liberais foi um dos objetivos da política 
externa inglesa no século XIX, pela qual os britânicos atuaram, direta ou 
indiretamente, na independência das colônias espanholas e portuguesas na 
América e na organização dessas novas nações americanas. Da mesma forma, 
os russos cada vez mais se preocupavam com a decadência e o fatiamento 
territorial do Império Otomano. Isso explica, em grande parte, a concorrência e 
a inimizade que iriam marcar as relações entre Inglaterra e Rússia em boa parte 
do século XIX. 
 
A Europa que emergiu do Congresso Viena estava ansiosa pela eliminação dos 
traços da Revolução Francesa. Era uma Europa legitimista, clerical, desigual, 
aristocrática e, principalmente, reacionária. 
 
Importante registrar, no entanto, que o fantasma de 1789 não desapareceu. 
Intelectuais, trabalhadores, liberais, democratas, burgueses estavam 
descontentes com o restabelecimento do Antigo Regime. Sob diversos matizes 
ideológicos, o século XIX testemunhou um longo desenrolar de revoluções. 
Pág. 9 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
O Século das Revoluções 
 
A Europa pós-Congresso de Viena foi marcada pelo equilíbrio de poder entre os 
Estados europeus, o que permitia certa estabilidade no cenário internacional. 
Apesar desse quadro de tranquilidade, o século XIX foi tempo de revoluções 
tanto políticas quanto econômicas. 
 
Politicamente, houve três grandes ondas revolucionárias: 1820, 1830 e 1848. O 
período entre 1817 e 1850 foi época de crise econômica e baixa de preços, ou 
seja, período de grande tensão. As grandes ondas revolucionárias de 1830 e 
1848, bem como as investidas contrarrevolucionárias, estão indicadas nos 
Mapas 13 a 15. 
 
A onda revolucionária de 1830 marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo 
poder burguês na Europa Ocidental e o triunfo do liberalismo moderado. 
Propagou-se o sistema parlamentar (com inspiração no modelo britânico) de 
qualificação por propriedade (voto censitário) sob monarquias constitucionais. 
 
No Mapa 13, as estrelas em amarelo apontam as insurreições, as setas pretas 
a propagação da onda revolucionária,e as setas vermelhas os movimentos de 
repressão dessa onda. 
 
Mapa 13: As revoluções de 1830 
 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix4.html 
 
 
Pág. 10 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
O Século das Revoluções 
A França era o ponto de irradiação, dada a classe média liberal e radical que se 
formara com o movimento jacobino na época da Revolução Francesa. Em 1830, 
também já era possível notar o aparecimento de uma classe operária como uma 
força política autoconsciente e independente, que começava a reunir os 
jacobinos mais extremados. Já em 1848, a agitação popular tornava-se contrária 
à classe média liberal (o “perigo vermelho”). 
 
No Mapa 14, as setas vermelhas indicam a difusão da nova onda revolucionária 
francesa e, as setas verdes, a difusão da onda austríaca. As estrelas vermelhas 
e verdes apontam os centros revolucionários. 
Mapa 14: As Revoluções de 1848 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix5.html 
 
Os radicais ficaram desapontados com o fracasso dos franceses em 
desempenhar o papel de libertadores internacionais. Esse desapontamento, 
junto com o crescente nacionalismo da década de 1830 e a nova consciência 
das diferenças nos aspectos revolucionários de cada país, despedaçou o 
internacionalismo unificado (centrado na França) a que os revolucionários 
tinham aspirado durante a Restauração (o pós-1815). Em 1848, as nações de 
fato se sublevaram separadamente. 
 
 
 
Pág. 11 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
O Século das Revoluções 
Os radicais, os republicanos e os novos movimentos proletários se retiraram da 
aliança com os liberais, dado que o liberalismo moderado se tornara hostil em 
razão do seu maior medo, a república social e democrática (em oposição à 
monarquia constitucional), a qual era, nesse momento, o slogan da esquerda. 
 
No Mapa abaixo, os quadrados indicam os centros de contrarrevolução e as 
setas o movimento da contrarrevolução. 
 
Mapa 15: A Contrarrevolução de 1848 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix6.html 
 
 
 
De uma forma geral, as revoluções de 1848 foram revoluções sociais de 
trabalhadores pobres. Quando se viram diante da revolução “vermelha” (ameaça 
à propriedade), os moderados liberais e os conservadores se uniram. Os 
trabalhadores ficaram isolados diante da união de forças conservadoras e ex-
moderadas aliadas ao velho regime. Com essa aliança, os regimes 
conservadores restaurados estavam preparados para fazer concessões ao 
liberalismo econômico. A década de 1850 viria a ser, de fato, um período de 
liberalização sistemática: fim da legislação de guildas e liberdade para se praticar 
qualquer forma de comércio; fim do severo controle estatal sobre a mineração; 
realização de uma série de tratados de livre-comércio etc. Nesse momento, a 
burguesia deixava de ser uma força revolucionária. 
 
Esses fatos abriram o caminho para a Revolução Industrial a partir da segunda 
metade do século XIX (vários autores se referem a ela como “Segunda 
Revolução Industrial”, para distingui-la do avanço industrial no século XVIII). 
Com a retirada da nobreza e a diversificação das formas de se fazer dinheiro 
(início da chamada haute finance – conjugação dos capitais comercial e 
financeiro), as décadas de 1850 e 1860 foram prósperas e capazes de incorporar 
os cidadãos instruídos ao mercado de trabalho. 
 
 
 
 
Pág. 12 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes 
O Século das Revoluções 
 
De 1850 até pelo menos 1873, o tempo foi de prosperidade. Como observa 
Duroselle (1976, p. 21), a prosperidade, “interrompida por alguns recessos, 
rompe o ímpeto revolucionário. Este só voltará a ressurgir na França em 1869 
aproximadamente. Com um nível de vida momentaneamente acrescido, as 
massas toleram mais facilmente o jugo, se tiverem a impressão de que o poder 
favorece a expansão.” 
 
Em termos gerais, em 1850, a ameaça revolucionária estava encerrada. Os 
partidários da ordem estabelecida saíram vitoriosos. Em parte, o fracasso 
revolucionário de 1848 se deveu ao “perigo vermelho”. Na França, Napoleão III 
ascendeu ao poder, criando o II Império. 
 
A outra grande revolução europeia foi de natureza econômica, como já referido, 
com a Revolução Industrial. Após 1850, a economia europeia se expandiu com 
rapidez. Novas máquinas e novas tecnologias apareceram por toda parte. 
 
Napoleão III (1808-1873) foi o criador do Segundo Império francês na metade do 
século XIX. Governou entre 1852 e 1870, até sua derrota na Guerra Franco-
Prussiana. Carlos Luís Napoleão Bonaparte era sobrinho de Napoleão I. Eleito 
presidente da nova República Francesa, deu um golpe de estado em 1851, que 
lhe permitiu assumir poderes ditatoriais e transformar a Segunda República no 
Segundo Império. Entre as ações de política externa de Napoleão III estão a 
intervenção na Guerra da Crimeia, o apoio ao Piemonte nas guerras que 
enfrentou como consequência da unificação italiana e a promoção e instalação 
de um efêmero Império no México, na pessoa de seu sobrinho, Maximiliano da 
Áustria. Em 1870, por ocasião da Guerra Franco-Prussiana, a derrota do Exército 
francês na batalha de Sedan provocou o aprisionamento do Imperador, cujo 
regime foi derrotado. 
 
 
Pág. 13 - Antecedentes 
O Século das Revoluções (cont.) 
 
A Revolução Industrial modificou toda a sociedade europeia. Se na sociedade 
pré-industrial do século XVIII a agricultura ainda era o centro das atividades 
humanas, no século XIX a vida se deslocava progressivamente para as cidades 
e para as indústrias. Simultaneamente, o poder, a influência e os valores da 
aristocracia perderam força. Em seu lugar, ganharam importância o dinheiro e a 
capacidade individual. A modernização da sociedade colaborou, também, para 
a progressiva universalização do voto e para a secularização da sociedade. Por 
fim, a tecnologia ampliou a diferença entre o Ocidente e as demais regiões do 
mundo. 
O Mapa 16 ilustra a Europa do século XIX sob plena efervescência da revolução 
industrial. O mapa destaca as minas de carvão (em marrom), em torno das quais 
se desenvolveram centros siderúrgicos (em vermelho) e industriais (em roxo). 
Também na base da revolução industrial estava a indústria têxtil, cujos centros 
são destacados em azul. O mapa registra, ainda, as principais cidades industriais 
e os centros financeiros (quadrados verdes). 
 
 
Mapa 16: A Europa Industrial no Século XIX 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix3.html 
 
 
 
Procure se informar mais sobre a Revolução Industrial, processo que alterou 
definitivamente os rumos da História e a partir do qual as relações 
internacionais seriam redefinidas, com o poder se concentrando cada vez mais 
nas nações ditas "industrializadas". 
 
 
 
 
 
 
Um livro interessante sobre o século XIX e a Revolução Industrial é Germinal, 
de Émile Zola. 
Amplamente considerada a obra máxima de Émile Zola, Germinal (1885) 
elevou a estética e a descrição naturalistas a um novo patamar de realismo e 
crueza. O romance é minucioso ao descrever as condições de vida subumanas 
de uma comunidade de trabalhadores de uma mina de carvão na França. Após 
ter contato com ideias socialistas que circulavam pela classe operária 
europeia, os mineradores retratados na obra revoltam-se contra a opressão e 
organizam uma greve geral, exigindo condições de vida e trabalho mais 
favoráveis. A manifestação é reprimida e neutralizada, entretanto permanece 
viva aesperança de luta e conquista. 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 14 - Antecedentes 
Divisão da Europa – Nacionalidade X Legitimidade 
 
A Europa de 1815 foi construída sobre o princípio de que era essencial preservar 
o continente de uma possível ameaça francesa. Assim, no redesenho do mapa 
continental, o princípio da nacionalidade fora deixado em segundo plano. Nem 
por isso, no entanto, inexistia a afirmação da nacionalidade. 
O nacionalismo foi um dos filhos das ondas revolucionárias da primeira metade 
do século XIX. O nacionalismo se propagou a partir da classe média e teve nas 
escolas e nas universidades seus grandes defensores. Vários movimentos 
nacionalistas jovens começaram a se espalhar a partir das revoluções de 1830: 
a Jovem Itália, a Jovem Polônia, a Jovem Suíça, a Jovem Alemanha, a Jovem 
França e a Jovem Irlanda. 
Parte da onda nacionalista vinha dos escombros do Império Otomano, o qual, 
nas palavras do Czar, era o ancião enfermo da Europa. 
Progressivamente, o Império Otomano foi perdendo terras para austríacos, 
russos e para nações que iam surgindo de suas fraquezas. A primeira delas foi 
a Grécia, cuja independência foi tema de preocupação durante toda a década de 
1820. Finalmente independente em 1830, serviu como exemplo para muitos 
outros: a Sérvia, alguns anos depois, conquistava autonomia, e, em 1856, 
Romênia e Bulgária se tornaram independentes. 
O Império Otomano existiu aproximadamente de 1300 a 1922 e, no período de 
maior extensão territorial, abrangeu três continentes: da Hungria, ao norte, até 
Aden, ao sul, e da Argélia, a oeste, até a fronteira iraniana, a leste, embora 
centrado na região da atual Turquia. Por meio do Estado vassalo do janato da 
Crimeia, o poder otomano também se expandiu na Ucrânia e no sul da Rússia. 
Seu nome deriva de seu fundador, o guerreiro muçulmano turco Osman (ou 
Utman I Gazi), que fundou a dinastia que governou o império durante sua 
história. 
 
 
No restante da Europa, no entanto, apenas a Bélgica se tornou independente da 
Holanda, em 1830. Para isso, assumiu o caráter de nação neutra, com aval das 
Grandes Potências. A neutralidade belga, garantida pela Grã-Bretanha, seria 
violada em 1914 pelo avanço alemão contra a França e contribuiria para que 
Londres declarasse guerra a Berlim. 
 
 
Outras tentativas de independência no continente europeu fracassaram. A 
Polônia não conseguiu a autonomia diante da Rússia (1830), e a Hungria 
alcançou uma semi-independência em relação à Áustria (1867). Dos 
movimentos nacionais de afirmação, os mais importantes foram os da Itália e da 
Alemanha, países que se unificaram a partir da segunda metade do século. De 
fato, a unificação da Itália e, sobretudo, a da Alemanha, seriam acontecimentos 
importantes para alterar o equilíbrio de poder na Europa estabelecido pelo 
Concerto Europeu, e afetariam diretamente as relações internacionais do 
período, culminando nos processos que levaram à I Guerra Mundial. 
 
 
 
Os processos de unificação da Itália e da Alemanha podem ser percebidos no 
Mapa 17. 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 15 - Antecedentes 
A Unificação da Itália 
 
A unificação da Itália foi resultado de uma habilidosa política externa e do 
aproveitamento das oportunidades quando elas surgiram. O artífice desse 
processo foi Cavour, primeiro-ministro do Estado do Piemonte (norte da 
península itálica). Ele conseguiu, graças às alianças com Napoleão III, um aliado 
contra os austríacos que ocupavam o norte da Itália. A sua primeira vitória se 
deu em 1858. Em troca da cessão da cidade de Nice e da região de Saboia, 
Cavour obteve a promessa de auxílio da França ao Piemonte em uma eventual 
guerra deste contra a Áustria. Por ocasião do conflito, entretanto, a ajuda 
francesa seria menor do que o esperado, e Napoleão III, receoso das possíveis 
implicações que uma aliança contra a Áustria poderia ter, acabou retirando seu 
apoio antes do esperado. Mesmo assim, o Piemonte se viu vencedor e aumentou 
seu território com a conquista da Lombardia. 
 Camillo Benso, conde de Cavour (1810-1861), político italiano, foi Presidente do 
Conselho em 1852. Aliou-se a Napoleão III contra a Áustria, porém este firmou 
a paz em 1859 sem consultá-lo. Cavour demitiu-se quando Victor Emanuel II, 
Rei da Sardenha, aceitou as condições do Imperador francês. No início de 1860, 
ajudou Giuseppe Garibaldi na conquista do Reino das Duas Sicílias. Conseguiu 
a proclamação do Reino da Itália em17 de março de 1861 e de Vítor Emanuel II 
como seu primeiro soberano. 
 
 
Mapa 17: Unificação da Itália e da Alemanha no Século XIX 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix7.html 
 
 
 
Posteriormente, pequenos Estados italianos – Parma, Módena, Toscana e 
Romanha – votaram pela união com o Piemonte. Com as conquistas do sul da 
península, foi proclamado o reino da Itália, em 1861. Faltavam, porém, a cidade 
de Roma e o Vêneto. Só em 1866 La Vénétie foi incorporada, como recompensa 
pelo apoio dos italianos aos prussianos durante a guerra contra a Áustria. Roma, 
por fim, foi ocupada em 1870, quando os franceses retiraram os seus soldados 
da cidade em razão da Guerra Franco-Prussiana. Com a anexação de Roma e 
dos Estados Papais, estava consolidada a unificação da Península Itálica sob 
uma única autoridade: o Reino da Itália. 
 
Pág. 16 - Antecedentes 
A Unificação da Alemanha 
 
Não seria temerário afirmar que a unificação da Alemanha, ocorrida em 1871, 
foi, após o Congresso de Viena, o evento mais importante da política 
internacional do século XIX. A unificação alemã provocou o desmoronamento 
dos fundamentos do equilíbrio internacional surgidos em 1815 e levou a política 
internacional ao retorno às lutas irrestritas do século XVIII. Ademais, seus efeitos 
estariam diretamente relacionados com eventos marcantes do século seguinte, 
como a I e a II Guerras Mundiais, a Guerra Fria e a integração europeia. 
 
O principal temor dos franceses do século XVII era a unificação alemã. Richelieu, 
por exemplo, via na Alemanha unificada uma ameaça potencialmente mais 
perigosa para a França. A unificação, entretanto, somente foi possível porque a 
Prússia conseguiu, ao longo de 150 anos, construir um Estado forte o bastante 
para que pudesse, no fim do século XIX, almejar a preponderância entre os 
Estados alemães. 
 
 
Também não se pode esquecer a ação deBismarck, primeiro-ministro prussiano 
que soube, por meio de uma política interna autoritária e uma política externa 
cuidadosa e pragmática, unificar a Alemanha. A maneira racional, pragmática e 
calculada como Bismarck conduziu a política alemã ficou conhecida como 
Realpolitik. 
 
Assim, externamente, o Chanceler prussiano foi bem-sucedido em três guerras. 
Junto com a Áustria, atacou e conquistou territórios da Dinamarca, em 1864. 
Dois anos depois, a luta pelos espólios dessa conquista fez com que os 
austríacos declarassem guerra à Prússia. Vencedores, os prussianos 
conseguiram afastar a Áustria dos assuntos alemães. Continuando com a sua 
Realpolitik e derrotada a Áustria, Bismarck conquistou territórios e forçou os 
Estados alemães menores a se aliarem a ele. 
 
Em 1871, sabedor de sua vantagem militar, Bismarck provocou os franceses. 
Estes declararam guerra e foram rapidamente derrotados. Como vitória, 
Bismarck conseguiu o apoio suficiente de que necessitava para que os outros 
Estados alemães aceitassem integrar-se à Prússia, formando o Império Alemão, 
ou Segundo Reich 
 
Otto von Bismarck (1815-1898), o “Chanceler de Ferro”, foi o grande artífice e 
primeiro chanceler do segundo império alemão.

Outros materiais