Buscar

ESTUDO DIRIGIDO HART

Prévia do material em texto

ESTUDO DIRIGIDO HART
A teoria que ve o Direito como coerção, de acordo com Herbert Hart, não compreende em sua totalidade o fenômeno jurídico, pois este trata-se de um fenômeno complexo e que não poderia ser reduzido simplesmente a concepção de Direito como ameaça. Segundo Hart, a teoria anterior a dele possui alguns pontos de falha. O primeiro deles seria que, apesar das leis se assemelharem a ordens baseadas em ameaças de um individuo a outro, elas se distinguem no que tange a aplicabilidade; enquanto as ordens se dirigem apenas aos outros, as leis abrangem inclusive seus criadores. O segundo ponto se refere ao fato de que o Direito não possui apenas ordens coercitivas, pelo contrário, ele abarca inclusive normas que conferem poderes jurídicos sendo que estas não podem ser comparadas a ameaças, uma vez que apenas delegam atribuições. (faltou o terceiro ponto, não entendi). Por fim, Hart levanta a problemática de que a teoria de um soberano normalmente obedecido e não limitado não foi capaz de explicar a perpetuação de suas normas, ou seja, ainda que o soberano não estivesse no gozo de suas funções, suas normas postas continuariam válidas e vigentes. Além disso, Hart também levanta o ponto que os soberanos não puderam ser identificados. 
Em seu presente livro, Hart levanta o exemplo de uma sociedade de estrutura simples. Para ele, este tipo social só seria possível em uma pequena comunidade, com laços familiares e que comungasse das mesmas crenças. Entretanto, esta forma simples de estrutura social seria acometida por três defeitos principais. 
O primeiro deles seria o defeito da incerteza. Sendo esta comunidade composta por regras não-oficiais, elas não formarão um sistema e sim apenas um conjunto de convenções sociais adotadas pelos membros. Desse modo, caso haja alguma dúvida acerca do modo de agir não haveria nenhum tipo de documento ou autoridade capaz de sanar este tipo de questionamento.
O segundo defeito seria o caráter estático. Esta supracitada sociedade que compartilha destas regras primárias, por não possuir um mecanismo de alteração de modo dinâmico característico do sistema jurídico, só poderão efetuar as devidas alterações em suas regras através de um processo demorado de crescimento, através do qual uma regra se tornaria um hábito e, consequentemente, uma obrigação. Por outro lado, para enfraquecer suas regras, também passaria por este processo lento, onde a regra primeiramente seria desviada e, a medida que o seu comportamento fosse caindo em desuso, fosse sendo permitida. 
O terceiro defeito seria a ineficácia. A pressão social, exceto em comunidades menores, seria difusa e, na ausência de uma autoridade competente para dizer se uma regra foi ou não violada, caberia a sociedade chegar a um consenso que, na maioria das vezes, não seria fácil de alcançar. Além disso, a ausência de uma instituição que obtivesse o monopólio das sanções, delegaria o ato coercitivo a parte ofendida ou ao grupo em geral, o que acarretaria ainda mais perda de tempo.
Os remédios para estes defeitos consistem em agregar regras secundárias a essas regras primárias. Partindo dessa premissa, o remédio recomendado por Hart para o problema da incerteza seria a incorporação de uma Regra de Reconhecimento a qual através de diferentes formas (passando pela escrita de suas regras, até um conjunto de regras em sistemas jurídicos mais complexos) se buscaria a identificação da comunidade com as regras vigentes.
O remédio indicado por Hart para o defeito estático seria a introdução de uma Regra de Alteração a qual atribuiria a um individuo ou a um grupo de indivíduos a competência de criar novas regras, bem como a atribuição de eliminar as obsoletas. Tal regra pode obter desde o caráter mais simples ao mais complexo podendo, desse modo, determinar limitações ao uso deste mecanismo pelos indivíduos, além de instruir qual procedimento adotar para efetuar tais alterações.
Por fim, para se sanar o defeito da ineficácia, Hart propõe uma regra secundária intitulada Regra de Julgamento. Esta regra procuraria oferecer além de um modo seguro para se identificar os indivíduos competentes para julgar, também definiria o modo como tal processo deveria acontecer. De certa forma, a regra de julgamento introduz conceitos jurídicos de jurisdição, sentença e tribunal.
Hart defende a idéia que em um sistema onde a regra de reconhecimento seja aceita, tanto as autoridades quanto os cidadãos possuem critérios para identificar as regras primárias. Tais critérios podem ser um texto conferido desta autoridade, a prática consuetudinária, decisões judiciais ou até mesmo atos legislativos. Por um lado, em um sistema mais simples como o exemplificado no livro como o de Rex I possuirá, por conseguinte, formas mais simples de se identificar o Direito – no caso em específico, tudo que Rex I diz é direito -. Por outro lado, logicamente, um sistema mais complexo possuirá maneiras distintas de identificar o Direito, abarcando, dentre estas formas, uma constituição válida, precedentes judiciais e aprovação legislativa. Segundo Herbert Hart, a fim de se evitar conflitos, tais critérios de reconhecimento encontram-se inseridos numa hierarquia de subordinação onde o costume e o precedente estão subjulgados à legislação, ou seja, tais práticas podem ser vetadas por meio de uma lei elaborada pelo legislativo. 
Como Hart procura validar sua teoria afirmando que a mesma pode ser constatada empiricamente, ela pode ser comparada com a figura bifronte de Jano, pois esta se apresenta com duas faces; uma voltada para a frente e outra para trás, ilustrando, desse modo, a teoria hartiana na medida em que a mesma busca analisar as normas sob diferentes óticas – ponto de vista interno e externo - assim como a figura deste demonstra.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes