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trabalho ortega e gasset

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INSTITUTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA MATER ECCLESIAE
O RESGATE DO HOMEM-MASSA NA PERSPECTIVA ORTEGUIANA
ANDERSON, CAVALHEIRO SAMPAIO[1: SAMPAIO, Anderson Cavalheiro. Seminarista diocesano, acadêmico do terceiro ano de filosofia, no IFITEME – Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae, pela diocese de Ponta Grossa.]
RESUMO
Este artigo apresenta fragmentos da filosofia de Ortega y Gasset, filósofo espanhol, preocupado com o desenvolvimento do homem. Tendo em vista a realidade concreta em que a Espanha encontrava-se emergida, chega à conclusão que se não salvá-la, também não se salvará. No final do século XIX a Espanha passava por uma crise conjuntural e de identidade histórica, enquanto a Europa canalizava suas conquistas cientificas numa concepção progressista e positivista, a Espanha sucumbia em seu atraso sob a visão universal das coisas, renunciava seus direitos de soberania sobre algumas colônias, e isto deixava o país em uma situação econômica instável. Mas esta não era a única preocupação, estavam também persuadidos os espanhóis com a baixa na intelectualidade do país. Encontravam-se preocupados em encontrar o problema da degradação espanhola. Ortega vê uma Espanha invertebrada, pois está inserida em uma crise de identidade, onde já não se enxerga uma vértebra capaz de unir os homens num projeto comum. Ortega y Gasset propõe através deste pressuposto uma filosofia da transformação. Uma transformação que deverá levar o homem a compreender a sua vocação enquanto homem dentro de uma circunstância, retirando-o de uma circunstância de massa, levando o homem para uma singularidade, para uma autenticidade, fazendo com que ele realize seu projeto vital. Um homem que querfazer, quer inventar a si próprio dentro da circunstância que está inserido.
Palavras – chave: Desenvolvimento. Crise. Invertebrada. Circunstância. Quefazer.
1 INTRODUÇÃO
	Este trabalho irá abordar o pensamento de José Ortega y Gasset, filósofo espanhol que afirmava que não é possível chegar ao entendimento sem perceber e superar as próprias circunstâncias. Este artigo é desenvolvido como método avaliativo, a partir da pesquisa de referências bibliográficas e dados via internet. Ortega y Gasset nasceu em Madri no ano de 1883, foi um filósofo espanhol jornalista e ativista político. A família de sua mãe, Dolores Gasset, era proprietária do jornal El Imparcial. Seu pai, José Ortega Munilla, era jornalista e diretor desse jornal. Ortega realizou seus estudos em Madri, numa faculdade de jesuítas, onde fez o curso de filosofia. Doutorou-se na Universidade Central de Madri, em 1904. Na mesma universidade, obteve a cátedra de metafísica.[2: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. V. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 166.]
	Ortega publicou seu primeiro livro em 1914, Meditações de Quixote. Em 1917, começou a escrever para o jornal El Sol, onde publicaria em 1930 sua principal obra, a Rebelião das Massas; esta obra teve grande impacto nas mentes de intelectuais importantes do ocidente, principalmente, os ligados à filosofia política. Pelas suas posições políticas, exilou-se voluntariamente para a Argentina, na época da Guerra Civil Espanhola. Vítima de câncer, Ortega morre em Madri, sete anos depois que regressou do autoexílio na Argentina. Ortega é considerado depois de Nietzsche o maior escritor europeu.
	Ortega não foi, especificamente, um sociólogo, mas um filósofo, embora alguns lhe neguem essa qualidade, dizendo que ele nos negou um sistema filosófico. Ortega depara-se com um país fragmentado, dividido e semeado, e diante desta perspectiva escreve a obra intitulada, Espanha Invertebrada, escrita em 1921 e editada por quatro vezes pela editora Alianza. No prólogo, Ortega adianta que o objetivo principal da obra é apresentar a enfermidade da Espanha, bem como a dissolução da sociedade espanhola. No entanto, ao verificar os motivos desta fragmentação o filósofo observou que se tratava de uma crise comum do continente europeu. O filósofo explica que não há na Espanha uma vértebra capaz de unir os homens num projeto comum e através deste pressuposto Ortega propõe uma filosofia da transformação.[3: Cf. GASSET, José Ortega. O homem e a gente. 2. ed. Rio de Janeiro: Ibero-Americano, 1973, p. 9.][4: http://www.e-torredebabel.com/OrtegayGasset/Resenas/Santos-Dornas-EspanaInvertebrada.]
	O filósofo tendo em vista a realidade concreta em que a Espanha encontrava-se emergida, chega à conclusão que se não salvá-la, também não se salvará. No final do século XIX a Espanha passava por uma crise conjuntural e de identidade histórica, enquanto a Europa canalizava suas conquistas cientificas numa concepção progressista e positivista, a Espanha sucumbia em seu atraso sob a visão universal das coisas. 	A Espanha renunciava seus direitos de soberania sobre algumas colônias, e isto deixava o país em uma situação econômica instável. Mas esta não era a única preocupação, como também estavam os espanhóis preocupados com a intelectualidade do país, estavam preocupados em encontrar o problema da degradação espanhola. Para Ortega, a Espanha estava passando por uma crise de identidade intelectual.[5: Cf. JUNIOR, Arlindo Ferreira Gonçalves. Ortega Y Gasset. In: Pecorraro Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia. v. 3. Petrópolis: Vozes, 2003, p.9.][6: Cf. ESCÁMEZ, Juan Sanches. Ortega y Gasset. Trad.: José Gabriel Perissé Madureira. Recife: Massagana, 2010, p. 15-16. ]
	Ortega propõe que a realidade espanhola deve ser resgatada, ele percebe que a Espanha não chega aos níveis culturais do restante da Europa, pois está dentro de uma cultura subjetivista, espontânea e particular. Ortega critica a forma individualista com que os cidadãos espanhóis resolvem seus problemas, ele propõe que deve haver uma consonância, uma objetividade, um ideal, uma preocupação com as realidades superiores. Ele percebe que o ideal deve ser voltado para o real, para o que é concreto da vida humana.
Ortega vai descobrindo que um indivíduo assim é uma abstração e que o racionalismo – uma forma de idealismo – esquece o homem real e concreto que vive numa situação real e concreta. É necessário voltar os olhos para esse homem, a fim de que ele se mostre em sua radical realidade.[7: Ibidem, p. 24.]
	A filosofia orteguiana está voltada para o homem enquanto ser que decide por si. Este homem vive e se encontra de repente tendo que ser, que existir em um mundo que para ele é imprevisto, onde mundo significa sempre este mundo de agora. O agir humano é para Ortega o componente fundamental da realização da vida. O homem diante do mundo vê-se obrigado a decidir pelo quefazer. E por isso a vida é uma realidade radical, pois é um constante decidir o que seremos.[8: Cf. GASSET, José Ortega. O homem e a gente. 2. ed. Rio de Janeiro: Ibero-Americano, 1973, p. 81.][9: Cf. JUNIOR, Arlindo Ferreira Gonçalves. Ortega Y Gasset. In: Pecorraro Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia. v. 3. Petrópolis: Vozes, 2003, p.13.][10: Quehacer? Termo definido pelo filósofo hispânico em seus textos para designar em que o homem deve ater-se diante de sua realidade. Designa escolha, o constante ter que escolher para ser fiel a seu destino inalienável. (Cf. Gonçalves Junior, 2005).][11: Cf. Ortega y Gasset, Apud JUNIOR. Arlindo Ferreira Gonçalves. Ortega Y Gasset. In.: PECORRARO Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia. V. 3. Petrópolis: Vozes, 2003, p.13.]
A vida nos é disparada a queima-roupa. [...] onde e quando nascemos ou de onde estejamos, depois de nascer, temos de sair nadando, queiramos ou não. Neste instante, cada qual por si mesmo se encontra submerso em um ambiente que é um espaço em que tem, queira ou não queira, de enfrentar o elemento abstruso que é uma lição de filosofia, com algo que sabe se lhe interessa ou não, que está gravemente consumindo uma hora de sua vida, - uma hora insubstituível, porque as horas de sua vida estão contadas. Esta é a sua circunstância, o seu aqui e o seuagora.[12: GASSET, José Ortega. O homem e a gente. 2. ed. Rio de Janeiro: Ibero-Americano, 1973, p. 81.]
Lançado dentro da circunstância, ao homem cabe constituir sua existência, e realizar o projeto que escolheu ser. O homem é um ser chamado a converter a circunstância em sua própria vocação, é chamado a transformar a necessidade em liberdade.
2 O HOMEM E A CIRCUNSTÂNCIA 
	O homem vive num meio cultural, vive dentro de uma sociedade que é um aspecto da existência humana e faz parte de sua circunstância. 
A princípio somos aquilo que nosso mundo nos convida a ser, e as facetas fundamentais da nossa alma são impressas nela pelo perfil do entorno, como por um molde. Naturalmente, viver não é mais que lidar com o mundo. A aparência geral que ele nos apresentar será a nossa vida.[13: GASSET, José Ortega. Rebelião das massas. 5. ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 18.]
	O homem dentro da circunstância carrega consigo um grande problema e tudo o que realiza está para resolver o problema da vida. Viver tem mais de um ingrediente, há o eu e há a circunstância. [14: Cf. GASSET, José Ortega. Adão no paraíso e outros ensaios de estética. Trad.: Ricardo Araújo. São Paulo: Cortez, 2002, p. 31.][15: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.: Dário Antiseri. V. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 167.]
	A vida de qualquer indivíduo, mesmo que inseridos dentro de uma sociedade tem uma realidade particularíssima, mas é só na sociedade que este indivíduo viverá o desafio de alterar a circunstância e é isso que torna o viver uma realidade absolutamente singular. Vive-se na circunstância, mas ela não é o eu, pois a vida é um quefazer com a circunstância, é uma experiência que se realiza em primeira pessoa. 
Ao homem no entanto lhe é dada a imperiosidade de ter de estar sempre fazendo algo, [...] mas não lhe é, de antemão e de uma vez para sempre, presente o que tem que fazer. Porque o mais estranho e incitante dessa circunstância, ou mundo, em que temos de viver, consiste que sempre nos apresenta, dentro de seu círculo ou horizonte inexorável, uma variedade de possibilidades para a nossa ação, variedade a qual não temos outra escolha senão escolher e, portanto exercitar a nossa liberdade. [...] A circunstância, [...] o aqui e agora, dentro dos quais estamos [...] inscritos e prisioneiros, - não nos impõe a cada instante uma única ação ou afazer, mas vários possíveis e nos deixa cruelmente entregues à nossa iniciativa e inspiração, portanto: à nossa responsabilidade.[16: GASSET, José Ortega. O homem e a gente. 2. ed. Rio de Janeiro: Ibero-Americano, 1973, p. 82.]
	
	O homem está sempre diante de algo que tem que fazer e diante desta situação tem diversas possibilidades, as quais tem de escolher. Esse quefazer é um ingrediente fundamental de realização da vida humana. Em Meditações sobre o Quixote Ortega realiza sua concepção do homem com a seguinte frase: [17: Cf. PECORARO, Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia: v. III. de Ortega y Gasset a Vattimo. Rio de Janeiro: Vozes, 2009, p. 11.]
Eu sou eu e minha circunstância, essa circunstância não é apenas um ambiente físico, mas um ambiente social, onde todas as coisas e os seres do universo estão inseridos. A nossa circunstância é o lugar, o tempo, a sociedade em que cada um de nós é lançado desde o nascimento.[18: REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 167.]
	Analisando a concepção de Ortega, existe um eu que está lançado desde seu nascimento dentro de uma circunstância. Em Eu sou eu afirma que cada homem é responsável por si, pelas suas escolhas, por atender sua vocação e destino inalienável, que é um chamado misterioso que nos atrai para determinada direção que temos que atender. 
Dentro de um momento, quando saírem para a rua, estarão a decidir sobre que direção tomarão, que rota. [...] Descartes deixou ao morrer [...] um velho verso de Aussônio, o qual, por sua vez, traduz uma vetusta sentença pitagórica e que diz: Quod vitae sectabor iters: que estrada, que via tomarei para minha vida? Mas a vida não senão o ser do homem, [...] que é o homem a única realidade, a qual não consiste simplesmente em ser, mas tem de eleger o seu próprio ser.[19: GASSET, José Ortega. O homem e a gente. 2. ed. Rio de Janeiro: Ibero-Americano, 1973, p. 82.]
	
	Esta realidade é sem dúvida distinta do Eu; mas ao mesmo tempo é inseparável dele, de modo que não há como tomar o eu sem sua circunstância. Entretanto o Eu comunica-se com o mundo a partir de sua circunstância. A circunstância é por assim dizer seu cordão umbilical que liga o Eu com o universo todo, e a circunstância significa tudo aquilo que não é o eu, o mundo que o cerca, o outro que dá abertura à uma interdependência. E se não o salvo, não me salvo eu, é o momento de responsabilidade por si e pelas circunstâncias.
	A circunstância se impõe a todo homem como realidade física e social estranha, como fonte perene de preocupações e de problemas. E procurando resolver estes problemas, o homem é forçado a construir a sua própria existência, e a realizar o projeto que escolheu ser. O homem lutando contra as dificuldades inventa não somente instrumentos e ideias, mas também papéis e estilos de vida. 
	Desta forma ele acaba inventando o homem, a cultura e a história. O homem podendo mudar a si mesmo tem a liberdade de inventar sua própria existência. Ele não é determinado, mas está sempre se construindo. O ideal da vida humana é viver e saber avaliar sua vida. A liberdade deve ser entendida a partir do processo em que vive o homem quando elege conscientemente ser o que tem que ser, partindo do pressuposto que ser livre significa não predispor da identidade essencial, o homem realiza um caminho para atingir a liberdade que passa por três momentos, o momento de invenção (fantasia) que torna o homem um ser que projeta, um ser que procura mudar a si mesmo e o ambiente circunstante, colocando em confronto o seu mundo interior com o exterior, a liberdade é inventar o que se quer ser neste mundo; o momento de decisão e o momento de responsabilidade. Este ter-que-ser livre traduz não somente em um quefazer por capricho, mas em um ter-que-ser como projeto vital.[20: PECORRARO, Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia. v. 3. Petrópolis: Vozes, 2003, p.12.]
	Segundo Reale, viver é sentirmo-nos obrigados a exercitar a liberdade, a decidir aquilo que devemos ser neste mundo. A vida está para aceitar a sua própria circunstância e quando aceita deve convertê-la em sua própria vocação, portanto o homem é um ser condenado a transformar a necessidade em liberdade. Deste modo o homem ao buscar transformar sua necessidade em liberdade, acaba caindo na atitude existencial do quefazer, que é uma abertura a possibilidades, é um fazer vital, um impulso a. [21: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.: Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 167.]
[...] o momento de decisão refere-se à realização, através da qual é obrigado a escolher entre as diversas possibilidades, dentre as quais a que permitirá ser plenamente aquilo que tem que ser, ou seja, realizar segundo a sua vocação o que representa o seu eu autêntico, ou também as que se inserem na completa alienação, este é o momento da decisão.[22: JUNIOR, Arlindo Ferreira Gonçalves. Ortega Y Gasset. In.: Pecorraro. Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia. V. 3. Petrópolis: Vozes, 2003, p.13.]
	Tudo aquilo que é realizado precisa ser realizado dentro de um ambiente. O homem porém não exercita a sua liberdade no vazio, ele toma suas decisões dentro de instituições com usos aceitos, papéis e expectativas estabelecidas, hierarquias reconhecidas, tudo isso é selecionado por gente do passado e impostos a gente do presente. O destino do homem é a ação, uma ação informada por crenças e ideias, que transforma a realidade física e social, e que semelas fica impossível que o homem alcance um ponto firme onde se apoiar.[23: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 167.]
3 GERAÇÕES CUMULATIVAS, POLÊMICAS E DECISIVAS
	Todo indivíduo faz parte de uma realidade coletiva, estes agem, mas toda a sua vida é um elemento de uma geração. Dentro de uma geração as pessoas vivem dentro de um mesmo horizonte de expectativas, dificuldades e problemas, assim temos gerações cumulativas que são aquelas que não inovam, também existem gerações polêmicas, contrárias as gerações que as precederam, e temos as gerações decisivas, as revolucionárias que subvertem tudo e todos, imprimindo uma configuração nova à coletividade. Em uma geração são sempre minorias escolhidas, indivíduos dotados de fantasia e coragem, que impõem a multidões passivas (massas miméticas) suas propostas inovadoras.[24: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 167.]
	A história se move, mas o seu desenvolvimento não se enquadra em esquemas determinísticos de filosofias da história, como as filosofias de Comte, Hegel e Marx, mas sim em um desenvolvimento compreensível a partir da ação criativa de indivíduos que sabem interpretar as necessidades e expectativas das massas, de indivíduos que conseguem transformar suas ideias e costumes. 
4 IDEIAS-INVENÇÕES E IDEIAS-CRENÇAS
	
	Todo homem vive em torno de ideias e crenças desenvolvidas na cultura que pertence, mas o homem é mais do que seu pensamento, pois ele é também paixão, medo, angústia, desejo, mas não poderia viver sem ideias. Goete diz que uma ação não é possível sem um projeto, da mesma forma o homem sem a ideia não existe; as ideias ao homem são essenciais para resolver os problemas que encontra continuamente na sua condição humana, através das ideias o homem efetivamente gera soluções e a partir destas consegue deixar o abismo das dúvidas. As ideias são essenciais para a resolução dos problemas práticos da circunstância.
	Ideias crenças segundo Ortega y Gasset são pressupostos de fundo que olhamos o mundo e vivemos; confiamos nelas, estamos em uma crença; como na crença de que, saindo de casa, encontramos ainda o caminho. As ideias-invenções são, ao contrário, ideias que vem na nossa mente ou na mente de outros, ideias que conscientemente construímos juntos e talvez abandonamos. Em todo caso, tanto uma como as outras são atacadas pelo ácido da dúvida. E quando se abrem as brechas da dúvida, eis que intervém a fantasia para produzir novas ideias como tentativas de soluções; ideias que depois serão colocadas no crivo ou na prova dos fatos.[25: REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.: Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 171,]
	Dentro do campo dos pensamentos se faz necessário uma distinção entre crenças, as que temos e ideias-invenções, as que somos, apenas estas últimas devem ser chamadas ideias. As crenças constituem o fundamento de nossa vida. A vida é o terreno sobre o qual ela se desenvolve, dado que nos coloca diante daquilo que para nós é a própria realidade, todo nosso comportamento, inclusive intelectual depende do sistema particular de nossas crenças autênticas. 
	Vivemos, nos movemos e existimos e desta forma em geral não temos uma clara consciência delas, pois não as pensamos, pois elas intervêm em nossa vida de modo oculto, de modo que estão em tudo aquilo que fazemos e pensamos. Quando acreditamos em algo não temos a ideia da coisa que cremos, mas somente contamos com ela. As ideias crenças são aquelas que herdamos do passado, previsíveis, que acabam sendo confundidas com própria realidade. As ideias-crenças e as ideias-invenções não podem ser tidas como seguras e inabaláveis. [26: Cf. REALE. Giovanni, História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. V. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 168.]
	O homem pode encontrar-se em meio a duas crenças antagonistas que se chocam mutuamente, fazendo que se passe de uma à outra; estando diante de uma crença que se enfraqueceu usa do intelecto para procurar novas ideias. Ele cria suas ideias, imagina possibilidades, inventa hipóteses e teorias que depois coloca à prova, descartando as que se apresentam erradas, mas àquelas que se apresentam como erros ele não as descarta totalmente, mas se orgulha, pois foram anos de erros para chegar onde está. 
[...] custou milênios e milênios, e obteve à força de erros, ou seja, embarcando em fantasias absurdas que resultaram em becos sem saída dos quais teve de voltar atrás machucado [...] hoje ao menos, sabe que as figuras do mundo que imaginava no passado não são a realidade.[27: Idem, p. 168.]
	Eis ai um tesouro para o homem, os erros, aos quais não devem ser esquecidos, pois é a partir deles que se tem a história. A realidade não é algo que se tem como um presente, mas é algo construído pelo homem com aquilo que ele possui. Estes inventam ideias e procuram prová-las sobre os fatos que já são interpretações. Entretanto, tudo aquilo que consegue provar não permanecem fora de questão e/ou dúvida. Para Ortega y Gasset, o homem deve sempre duvidar de suas próprias verdades, pois uma verdade é apenas verdade enquanto resiste a toda dúvida possível, isto é, devem ser provadas. Para Ortega algumas verdades podem ser úteis, mas a verdade não pode ser relativa às condições de um sujeito ou espécie, isto é, não há uma verdade para um e outra para outro.[28: Ibidem, p. 169.][29: REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 169]
5 O HOMEM-MASSA EM ORTEGA Y GASSET
	Na decadente circunstância da degradação cultural promovida pelo nivelamento banal das qualidades humanas, vive-se sob o domínio de uma ditadura massificante, na qual se dilui todo destaque pessoal, todo brilho individual. Ortega y Gasset foi um dos primeiros filósofos a evidenciar a questão da massificação da cultura na modernidade ocidental, e suas inúmeras implicações no domínio simbólico e social da vida humana; percebe que a Europa está a padecer da crise mais grave que os povos, nações ou culturas podem ser submetidos. Trata-se da rebelião das massas. O homem-massa declara caídas todas as regras da cultura; pesam-lhe demasiadamente e vê em sua abolição a licença para jogar tudo às urtigas e para deixar a libertinagem à solta. O século XIX introduziu uma inovação radical no destino humano, criou-se um novo cenário para o destino humano, novo materialmente e civilmente.[30: Cf. GASSET, José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5 ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 77.][31: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 169.]
	Ao criar o conceito de homem-massa, o filósofo proveu um importante aparato intelectual para a compreensão de que maneira vive-se sob o escudo moralista do nivelamento humano, e de que forma a criação cultural se submeteu a tais parâmetros normativos motivando, assim, nada mais do que o empobrecimento existencial. Ortega se surpreende com tal fenômeno histórico que segundo ele salta aos olhos da cara, e se pergunta sobre as aglomerações, as lotações que segundo ele antes não eram frequentes. [32: Cf. GASSET, José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5 ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 79.]
Os componentes dessas multidões não surgiram do nada. Existia o mesmo número de pessoas há quinze anos, aproximadamente. Depois da guerra, parecia natural que esse número diminuísse. [...] os indivíduos que integram essas multidões preexistiam, mas não como multidão. [...] Agora aparecem, de repente sob forma de aglomeração e nossos olhos veem multidões por toda a parte. [...] a multidão, de repente, tornou-se visível, instalou-senos lugares preferenciais da sociedade. Antes, se existia, passava despercebida. Ocupava o fundo do cenário social; agora, antecipou-se às baterias, tornou-se o personagem principal. Já não há protagonistas, só coro".[33: GASSET, José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5 ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 79-80.]
	Antes de toda a fatalidade bélica, os indivíduos viviam separados pelo mundo em pequenos grupos, ou solitários. Cada qual, indivíduo ou pequeno grupo ocupava um lugar, talvez no campo, na aldeia, num povoado ou no bairro da grande cidade. Uma sociedade segundo Ortega, é sempre uma unidade dinâmica de dois fatores: minorias e massas. As minorias são indivíduos ou grupos de indivíduos especialmente qualificados; a massa é o conjunto de pessoas que não são especialmente qualificadas. O homem-massa é aquele enquanto não se diferencia dos outros homens, mas que repete em si um tipo genérico. O homem se torna massa por não buscar compreender sua circunstância. O homem-massa não diz respeito à uma classe específica de homens, mas atravessa todas as classes sociais. A massa para Ortega é todo aquele que não se dá valor, bom ou mau, por motivos especiais, que se sente como todo mundo, e no entanto não se angustia, e gosta de se sentir idêntico aos demais.[34: Cf. GASSET, José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5 ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 80.][35: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 170.][36: Cf. GASSET, José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5 ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 81.]
	O homem-massa é para Ortega aquele que se contrapõe à vida nobre, no sentido moral, e se apresenta sob três faces: o homem-satisfeito; o jovem mimado e o bárbaro especialista. Todos como manifestações resultantes da combinação da técnica moderna com a democracia liberal, assim como expressão da crise histórica. O homem-satisfeito é entendido assim pelo fato de esquecer-se de que o que possui é um fruto de um processo de lutas históricas. O homem-satisfeito tem uma ingratidão radical pelo que tronou possível sua existência. E é um jovem mimado e egoísta, por que não limita seus próprios desejos, sendo herdeiro de um passado imenso e genial de inspirações e esforços [...] não tem a experiência de seus próprios limites. É um bárbaro especialista, pois vê o mundo artificial, esquece-se da humanidade, da civilidade e vive da técnica, não com a técnica.[37: Cf. JUNIOR, Arlindo Ferreira Gonçalves. Ortega Y Gasset. In.: Perrocaro Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia. v. 3. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 17.][38: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. Vol. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 169.][39: Cf. GASSET, José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5 ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 130.][40: Cf. GASSET, José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5 ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 156.]
	Ortega y Gasset não se posiciona contra o desenvolvimento, já que ele mesmo, afirma que a vida é um constante quefazer, que projeta sempre para uma nova ação. Entretanto critica a posição do homem que caminha agora num plano individual, um homem sem movimento, que é insensível à sua circunstância. Para Ortega com o desenvolvimento da técnica e da indústria alimentou-se o homem de individualismo.[41: Cf. REALE, Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 170.]
Foi aquilo que se define como individualismo que enriqueceu o mundo e todos os homens do mundo; e foi a riqueza que fundamentalmente multiplicou a planta humana [...] construíram uma civilização que no indivíduo contraposto ao coletivo viu seu mais alto valor. O mundo moderno cresceu, em suma, sobre a fé segundo [...] todo ser humano deve ser livre para preencher seu destino individual e não transferível. Eis [...] vem à luz um homem-massa, um homem-massa que é não tanto porque elemento estandardizado de uma massa, e sim porque inerte como a massa.[42: Ibidem. p. 170.]
	O homem-massa é aquele que virou as costas para os valores da tradição liberal. A massa sufoca tudo o que é diferente, magnânimo, individual, qualificado e seleto. Ortega y Gasset está preocupado com o homem que não se compromete com a sua vocação ou missão. O homem-massa não atribui valor a si e certamente, não se angustia com isso, sente-se bem ao ser idêntico aos demais indivíduos. Essa análise de Ortega y Gasset destaca a preocupação em melhorar a qualidade de vida de cada homem para melhor identificar no corpo da sociedade uma coluna vertebral que une os homens. Dessa forma, o problema social evidente é o aglomerado de homens sem a preocupação de discutir os rumos políticos que devem seguir sua nação, e desorganizados na sociedade, distribuídos em blocos individuais. Esse distanciamento dos homens nos assuntos políticos consolidou lideranças conduzidas pela demagogia e pela ignorância.[43: Cf. GASSET, José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5 ed. São Paulo: Vide editorial, 2016, p. 80.]
	O homem-massa não se preocupa com sua civilização, sua cultura, e sua educação, que são os caminhos que ele tem para sair da condição de vulgaridade. O resultado dessa situação é fatal para a vida de cada ser humano porque os homens passam a viver em função do Estado, tornando-se peças da máquina estatal. Após certo tempo, trabalhando como máquinas, enferrujam. Essa é a razão dos governos totalitários que se espalharam ao longo do século XX; o homem perdeu a responsabilidade e o sentido de uma vida que é única, vivida na primeira pessoa. Os governos totalitários, comunistas e socialistas, e também a sociedade de consumo são potenciais fabricantes de homens massa porque o impedem de viver singularmente.[44: Cf. REALE. Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.; Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006, p. 170.]
	Por isso, é perigoso se render a esses projetos políticos. Nessas formas políticas, o homem não tem nenhum valor próprio, não tem particularidade que o distinga dos demais homens. Está agarrado em suas circunstâncias de “massa” e a ela não se esforça para sair.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	Este artigo teve a pretensão de demonstrar que na abordagem orteguiana à vida humana se realiza moralmente quando se atende ao imperativo de autenticidade e atende-se à vocação pessoal, que é o programa vital do homem para uma realização como ser integral e autêntico, manifestando desta maneira, o rito imperativo do ter-que-ser, e neste sentido expressando a sua autonomia que caminha junto de sua vocação, ao encontro do seu destino particularíssimo, cumprindo assim a fidelidade de si próprio. Sendo o projeto de autenticidade do homem, a sua vocação, Ortega y Gasset define que o homem sendo fiel a sua vocação está realizando seu destino, o eu autêntico. A liberdade estará em realizar ou não este destino, em atender ou não a sua vocação.[45: Cf. JUNIOR. Arlindo Ferreira Gonçalves. Ortega Y Gasset. In.: Pecorraro Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia. v. 3. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 18-19.]
	Enfim, o homem no quefazer, deve buscar sua autenticidade realizando-se vocacionalmente, atingindo desta forma seu destino pessoal dentro de sua circunstância e assim passa a valorizar-se singularmente, deixando de ser massa.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ESCÁMEZ, Juan Sanches. Ortega y Gasset. Trad.: José Gabriel Perissé Madureira. Recife: Massagana, 2010.
GASSET. José Ortega. A rebelião das massas: introdução de Julián Marías. 5. ed. São Paulo: Vide editorial, 2016.
_______. O homem e a gente. 2. ed. Rio de Janeiro: Ibero-Americano, 1973.
JUNIOR, Arlindo Ferreira Gonçalves. Ortega Y Gasset. In.: PECORRARO Rossano.Os filósofos: Clássicos da filosofia. v. 3. Petrópolis: Vozes, 2003.
PECORRARO, Rossano. Os filósofos: Clássicos da filosofia. v. 3. Petrópolis: Vozes, 2003.
REALE. Giovanni. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad.: Dário Antiseri. v. 6. São Paulo: Paulus, 2006.
DORNAS, Danilo Santos. Ortega y Gasset, José. España Invertebrada. http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/lable/revistametanoia_material_revisto/revista06/texto06_resenha_espanhainvertebrada.pdf. Acesso em: 26.05.2016 às 18:45.

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