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UNIASSELVI 2013 NEAD EDUCAÇÃO INCLUSIVA Prof.ª Tatiana dos Santos da Silveira Prof.ª Luciana Monteiro do Nascimento Educação a Distância GRUPO Caderno de Estudos CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br Copyright UNIASSELVI 2013 Elaboração: Prof.ª Tatiana dos Santos da Silveira Prof.ª Luciana Monteiro do Nascimento Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo Da Vinci - UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 371.0952 S587e Silveira, Tatiana dos Santos da Educação inclusiva / Tatiana dos Santos da Silveira; Luciana Monteiro do Nascimento. Indaial : Uniasselvi, 2013. 221 p. : il ISBN 978-85-7830-772-1 1. Educação inclusiva – Aspectos sociais. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Prezado/a acadêmico/a! Iniciamos agora a disciplina de Educação Inclusiva. Esta disciplina discute a necessidade de repensarmos as práticas excludentes e homogêneas da escola. Trata-se da possibilidade de inserção e participação de indivíduos que até então não tinham qualquer espaço dentro da instituição escolar. Para tanto, conjuntamente, trabalharemos para compreender o processo de inclusão de pessoas com necessidades especiais e o nosso papel perante a escola que todos desejamos: a escola inclusiva. Para facilitar nossa abordagem acerca deste conteúdo e melhorar a compreensão de todos, dividimos nosso Caderno de Estudos em três unidades. Cada uma destas unidades apresenta os principais aspectos referentes à inclusão de pessoas com necessidades especiais no cotidiano escolar. Além disso, há ainda várias sugestões de atividades que podem complementar o seu estudo nesta área, que ao mesmo tempo é tão frágil e tão fascinante. Portanto, aproveite bem esta disciplina, pois ela nos fala de uma nova sociedade que poderemos formar, compreendendo os sujeitos dentro de suas particularidades, porém com igualdade de direitos. Uma sociedade que valorize, aprenda e cresça com a diversidade, ou seja, mais justa, humana e sensível! Desejamos muita sensibilidade em seus estudos e que esta disciplina possa contribuir com o desejo e busca de conhecimentos acerca da inclusão escolar no cotidiano de cada um. Então, vamos lá e bons estudos!!! Prof.ª Tatiana dos Santos da Silveira Prof.ª Luciana Monteiro do Nascimento iii UNI Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas. Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações. Desejo a você excelentes estudos! UNI EDUCAÇÃO INCLUSIVA iv SUMÁRIO UNIDADE 1: CAMINHOS PERCORRIDOS PELA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ................. 1 TÓPICO 1: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ....................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3 2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ....................................................................... 4 2.1 INTEgrAção ESCoLAr ........................................................................................... 8 2.1.1 Compreendendo nomenclaturas .............................................................................. 9 2.2 INTroDUção À INCLUSão ESCoLAr ................................................................. 12 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 14 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 15 TÓPICO 2: FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA .......................................... 17 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 17 2 INCLUSÃO ESCOLAR ................................................................................................ 18 3 CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR ....................... 25 4 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS ESCOLAS INCLUSIVAS ............................ 28 5 ADAPTAÇÕES DE PEQUENO E GRANDE PORTE .................................................. 29 5.1 ADAPTAçÕES DE PEQUENo PorTE .................................................................... 30 5.2 ADAPTAçÕES DE grANDE PorTE ....................................................................... 33 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 34 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 37 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 38 TÓPICO 3: LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA .............................................. 41 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 41 2 DOCUMENTOS INTERNACIONAIS ............................................................................ 41 3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ....................................................................................... 43 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................. 49 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 50 TÓPICO 4: O QUE SÃO NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS? ................. 51 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 51 2 DE QUEM ESTAMOS FALANDO? .............................................................................. 52 3 CONCEITOS HISTÓRICOS SOBRE DEFICIÊNCIA ................................................... 52 4 INTRODUÇÃO À DEFECTOLOGIA – PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO ATRAVÉS DA INTERAÇÃO SOCIAL .......................................................................... 54 4.1 PrINCÍPIo DA CoMPENSAção SoCIAL ............................................................... 56 RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................................................. 58 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 59 TÓPICO 5: CONDUTAS TÍPICAS .................................................................................. 61 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 61 2 COMO SÃO OS ALUNOS COM CONDUTAS TÍPICAS? ........................................... 62 3 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E/OU HIPERATIVIDADE – TDAH ........ 63 3.1 CoNCEITo ................................................................................................................ 63 EDUCAÇÃO INCLUSIVA v 3.2 CAUSAS .................................................................................................................... 65 3.2.1 relação familiar ...................................................................................................... 65 RESUMO DO TÓPICO 5 ................................................................................................. 68 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 69 AVALIAÇÃO ....................................................................................................................70 UNIDADE 2: DEFICIÊNCIAS SENSORIAIS, DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA E ALTAS HABILIDADES ............................................................................................ 71 TÓPICO 1: DEFICIÊNCIA VISUAL ................................................................................. 73 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 73 2 CONCEITO ................................................................................................................... 73 3 FATORES DE RISCO .................................................................................................. 74 4 COMO IDENTIFICAR? ................................................................................................ 75 5 INFORMAÇÕES IMPORTANTES PARA O RELACIONAMENTO COM A PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL ......................................................................................... 76 6 INTERVENÇÃO PRECOCE PARA CRIANÇAS COM BAIXA VISÃO ........................ 78 6.1 ATIVIDADES DE ESTIMULAção VISUAL E INTErVENção PrECoCE .............. 78 7 RECURSOS ÓPTICOS E NÃO ÓPTICOS .................................................................. 81 8 RECURSOS PEDAGÓGICOS PARA CRIANÇAS CEGAS ........................................ 84 8.1 SISTEMA BrAILE ..................................................................................................... 84 8.2 ALFABETo BrAILE .................................................................................................. 87 8.3 PoNTUAção ............................................................................................................ 88 8.4 NÚMEroS ................................................................................................................ 89 8.5 SoroBã ................................................................................................................... 91 8.5.1 Estrutura do sorobã ................................................................................................ 92 9 ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE .................................................................................. 96 10 AVD – ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA ...................................................................... 98 10.1 SALAS MULTIFUNCIoNAIS ................................................................................... 99 10.2 EXEMPLoS E ATIVIDADES DA VIDA DIÁrIA (AVD) ........................................... 100 RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................... 103 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 104 TÓPICO 2: DEFICIÊNCIA AUDITIVA ........................................................................... 105 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 105 2 CONCEITO ................................................................................................................. 105 3 TIPOS DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA ......................................................................... 106 4 PRINCIPAIS CAUSAS ............................................................................................... 107 5 EDUCAÇÃO DE ALUNOS SURDOS ........................................................................ 108 6 INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO SURDO ............................................................ 109 7 ALFABETO MANUAL .................................................................................................112 8 EXEMPLOS DE ATIVIDADES ....................................................................................113 8.1 Jogo DA MEMÓrIA – NÚMEroS EM LIBrAS .....................................................113 8.2 BINgo CoM NÚMEroS E CArTELAS EM LIBrAS ..............................................114 8.3 ADAPTAção SoBrE ANIMAIS TErrESTrES .....................................................115 8.4 CALENDÁrIo ADAPTADo ......................................................................................116 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ..........................................................................................................118 EDUCAÇÃO INCLUSIVA vi TÓPICO 3: DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA ...........................................................................119 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................119 2 INCLUSÃO DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA NA ESCOLA COMUM .. 120 3 SURDOCEGUEIRA .................................................................................................... 121 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 125 RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 126 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 127 TÓPICO 4: ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO ............................................... 129 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 129 2 TIPOS DE ALTAS HABILIDADES ............................................................................. 130 3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ............................................................................ 131 4 INCLUSÃO DO ALUNO COM ALTAS HABILIDADE/SUPERDOTAÇÃO ................ 132 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 133 RESUMO DO TÓPICO 4 ............................................................................................... 136 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 137 AVALIAÇÃO .................................................................................................................. 138 UNIDADE 3: DEFICIÊNCIA FÍSICA, INTELECTUAL, SÍNDROMES E TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO ........................ 139 TÓPICO 1: DEFICIÊNCIA FÍSICA ................................................................................ 141 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 141 2 CONCEITO ................................................................................................................. 141 3 FATORES DE RISCO ................................................................................................ 142 4 COMO IDENTIFICAR A DEFICIÊNCIA FÍSICA? ...................................................... 143 5 PRINCIPAIS CAUSAS DA DEFICIÊNCIA FÍSICA .................................................... 143 6 PARALISIA CEREBRAL ............................................................................................ 144 6.1 PrINCIPAIS CAUSAS ............................................................................................. 145 6.2 TIPoS DE PArALISIA CErEBrAL ........................................................................ 146 6.3 ADAPTAção DE rECUrSoS PEDAgÓgICoS ................................................... 146 6.4 rECUrSoS E ATIVIDADES ................................................................................... 148 6.5 PrANCHAS TEMÁTICAS ....................................................................................... 158 6.5.1 Dicas de outras pranchas: ....................................................................................159 RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 162 TÓPICO 2: DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ................................................................... 163 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 163 2 CONCEITO ................................................................................................................. 163 3 FATORES DE RISCO ................................................................................................ 164 3.1 FATorES DE rISCo E CAUSAS PrÉ-NATAIS .................................................... 164 3.2 FATorES DE rISCo E CAUSAS PErINATAIS ..................................................... 165 3.3 FATorES DE rISCo E CAUSAS PÓS-NATAIS .................................................... 165 5 INCLUSÃO DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL .............................. 166 6 ESTRATÉGIAS PARA AS ADAPTAÇÕES CURRICULARES .................................. 167 RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................... 168 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 169 EDUCAÇÃO INCLUSIVA vii EDUCAÇÃO INCLUSIVA TÓPICO 3: SÍNDROMES .............................................................................................. 171 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 171 2 COMPREENDENDO ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS ...................................... 171 3 SÍNDROME DE DOWN .............................................................................................. 173 3.1 CArACTErÍSTICAS DA SÍNDroME DE DoWN .................................................. 175 4 SÍNDROME DE TURNER .......................................................................................... 177 4.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................... 178 5 SÍNDROME DE KLINEFELTER ................................................................................. 178 5.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................... 179 6 SÍNDROME DO X-FRÁGIL ........................................................................................ 180 6.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................... 181 7 SÍNDROME DE PRADER-WILLI ............................................................................... 182 7.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................... 183 8 SÍNDROME DE ANGELMAN .................................................................................... 184 8.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................... 185 9 SÍNDROME DE WILLIAMS ....................................................................................... 185 9.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................... 186 10 SÍNDROME DO CRI-DU-CHAT OU MIADO DE GATO ........................................... 187 10.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................. 188 11 SÍNDROME DE CORNÉLIA DE LANGE ................................................................. 188 11.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................. 188 12 SÍNDROME DE MARFAN ........................................................................................ 189 12.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................. 189 13 SÍNDROME DE WEST ............................................................................................. 191 14 SÍNDROME DE APERT ........................................................................................... 191 15 SÍNDROME DE OSSOS DE CRISTAL .................................................................... 194 15.1 CArACTErÍSTICAS ............................................................................................. 194 16 SÍNDROME DE TOURETTE .................................................................................... 195 17 SÍNDROME ALCOÓLICA FETAL ............................................................................ 197 RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 199 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 200 TÓPICO 4: TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO ........................... 201 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 201 2 TRANSTORNO AUTISTA .......................................................................................... 201 3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO AUTISTA ..................................................... 203 4 INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO AUTISTA .......................................................... 204 5 TRANSTORNO DE ASPERGER ............................................................................... 206 5.1 CArACTErÍSTICAS Do TrANSTorNo DE ASPErgEr ................................... 206 6 TRANSTORNO DE RETT .......................................................................................... 207 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 210 RESUMO DO TÓPICO 4 ............................................................................................... 215 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 216 AVALIAÇÃO .................................................................................................................. 217 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 219 viii E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A UNIDADE 1 CAMINHOS PERCORRIDOS PELA EDUCAÇÃO INCLUSIVA OBjETIVOS DE APRENDIzAGEM A partir do estudo desta unidade você será capaz de: contextualizar o caminho percorrido pela educação inclusiva até os dias atuais; analisar as mudanças relacionadas ao conceito de necessidades especiais; discutir o processo de inclusão escolar como uma trajetória histórica e social; conceituar necessidades especiais e condutas típicas. TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA TÓPICO 2 – FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA TÓPICO 4 – O QUE SÃO NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS? TÓPICO 5 – CONDUTAS TÍPICAS PLANO DE ESTUDOS Esta primeira unidade está dividida em cinco tópicos. No final de cada tópico, você encontrará atividades que contribuirão para sua reflexão e análise dos estudos que já realizamos. E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 Neste momento, iniciamos os estudos de uma disciplina que se fundamenta na ideia de uma sociedade que reconheça e valorize as diferenças. Esta valorização mostra que a diversidade é inerente à construção de toda e qualquer sociedade. Partindodesse pressuposto, nossas discussões nos levarão para a necessidade de garantir a participação efetiva de todos a todas as oportunidades, independente de suas peculiaridades. ou seja, ao processo de inclusão escolar. Assim, a inclusão escolar deve negar toda a prática de exclusões e de segregações que as pessoas com deficiência passaram durante muito tempo e definir alguns padrões sociais que, anteriormente, eram considerados comuns e que, atualmente, foram substituídos por outros como aceitação, valorização, convivência e aprendizagem através da cooperação. Para tanto, durante esta disciplina, vamos analisar as diversas mudanças que já ocorreram na história da humanidade e transformar nossas práticas em ações que viabilizem o processo de aceitação e valorização da diferença, como algo enriquecedor para todos os participantes desta caminhada. Estes desafios estão aqui lançados. Convidamos você, através de sua formação docente, a participar desta nova estruturação social – Inclusão Escolar. IMP OR TAN TE! � Caro/a acadêmico/a!!! O desafio foi lançado. Iniciaremos neste momento um caminhar teórico sobre o processo de inclusão. Porém, trataremos de algumas orientações metodológicas para a nossa ação docente nas Unidades 2 e 3. Bom trabalho! UNIDADE 1 UNIDADE 1TÓPICO 14 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A 2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA As pessoas com necessidades especiais, ao longo dos tempos, foram vistas pela sociedade de várias maneiras e sob diferentes enfoques, ou seja, foram consideradas conforme as concepções de homem e de sociedade, valores sociais, morais, religiosos e éticos de cada momento histórico. os registros artísticos são grandes comprovações históricas dessa visão das diferentes civilizações. Segundo a arte egípcia, por exemplo, no Egito antigo a pessoa com deficiência integrava- se nas diferentes classes e hierarquias. observe essa comprovação nas imagens que seguem: FIgUrA 1 – ArTE EgÍPCIA FoNTE: Disponível em: <http://www.ampid.org.br/Artigos/PD_Historia.php>. Acesso em: 22 ago. 2011. Para Gugel (2011, p. 1), as obras indicam uma pessoa com deficiência física, como o guardião de roma e um músico anão da V Dinastia. “Já os papiros contendo ensinamentos morais no Antigo Egito, ressaltam a necessidade de se respeitar as pessoas com nanismo e com outras deficiências”. Ainda, segundo a autora, o antigo Egito também ficou conhecido como a terra dos cegos, pois o povo era constantemente atingido por infecções nos olhos que UNIDADE 1 TÓPICO 1 5 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A levavam à cegueira. os papiros médicos apresentam procedimentos para curar os olhos. Mesmo com os dados artísticos e históricos do Antigo Egito, a nossa história assinala políticas extremas de exclusão em relação à pessoa com deficiência na sociedade. Exemplo disto ocorreu em Esparta, na antiga grécia, onde a beleza física e o culto ao corpo eram as condições para a participação social. As crianças com deficiência física eram colocadas nas montanhas e, em roma, atiradas ao rio Tibre. Estes casos eram vistos como perigo para a continuidade da espécie. os livros de Platão e Aristóteles assinalavam a eliminação das pessoas nascidas “disformes”. Porém, mesmo com a prática de eliminação encontramos registros importantes de pessoas com deficiência neste período, como é o caso de “Homero”, poeta grego com indicações históricas de cegueira. FIgUrA 2 – HoMEro FoNTE: Disponível em: <http://arquetelos.blogspot.com/2010/10/as-pecas- gregas-e-os-itografos.html>. Acesso em: 22 ago. 2011. Homero criou o personagem Hefesto, que, segundo a mitologia, era filho de Hera e teria nascido com os pés atrofiados. UNIDADE 1TÓPICO 16 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A FIgUrA 3 – VASo grEgo FoNTE: Disponível em: <http://www.ampid.org.br/Artigos/PD_Historia.php>. Acesso em: 22 ago. 2011. Na Idade Antiga, os humanos que apresentavam um comportamento diferente foram associados à imagem do diabo, da feitiçaria, da bruxaria e do pecado, sendo novamente isolados e exterminados. Neste momento, as pessoas com necessidades especiais tinham um comportamento consequente de forças sobrenaturais. Na antiguidade clássica as pessoas com deficiência foram consideradas pos- sessas de demônios e de maus espíritos. [...]. os modelos econômicos, sociais e culturais impuseram às pessoas com deficiência uma inadaptação geradora de ignorância, preconceitos e tabus que, ao longo dos séculos e séculos, ali- mentaram os mitos populares da ‘perigosidade’ das pessoas com deficiência mental e do seu caráter demoníaco, determinando atitudes de rejeição, medo e vergonha. (VIEIrA; PErEIrA 2003, p. 17). DIC AS! Com base no clássico de Victor Hugo, o filme de Peter Medak conta a história de Quasímodo (Mandy Patinkin), um rapaz deficiente físico que foi educado e enclausurado pelo perverso padre Frollo (Richard Harris). As coisas se complicam quando o religioso começa a ficar obcecado pela bela cigana Esmeralda (Salma Hayek), pondo em risco a segurança de todos ao utilizar-se de seu poder e influência para conseguir o que quer. UNIDADE 1 TÓPICO 1 7 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A No início do século XIX ocorreu a tentativa de recuperação ou remoldagem (física, fisiológica e psíquica) da criança com necessidades especiais, com o objetivo de ajustá-la à sociedade, num processo de socialização concebido para eliminar alguns de seus atributos negativos, reais ou imaginários. A igreja pregava a existência do pecado, do bem e do mal. Assim, este processo de remoldagem assumia formas estranhas, como práticas exorcistas. Ainda no mesmo século, médicos e outros profissionais das ciências dedicavam-se ao estudo das necessidades especiais. A medicina, então, passa a conquistar espaço no estudo das deficiências. A mudança resumiu-se à descoberta de patologias. Assim, as pessoas com necessidades especiais continuavam segregadas em instituições como asilos e hospitais, porém, agora, com o objetivo de tratamento médico. NO TA! � O modelo médico é bastante expressivo, inclusive nos dias atuais. Este processo estendeu-se pelo século XX, levando a educação inclusiva a trabalhar com uma visão clínica, preconceituosa e medicamentosa das necessidades especiais. Assim, até o início do século XIX, as necessidades especiais estavam associadas à incapacidade, e não havia nenhuma tendência em mudar este quadro. o abandono e a eliminação destas pessoas eram atitudes normais nesta época. A sociedade, em todas as culturas, atravessou diversas fases no que se refere às práticas sociais. Ela começou praticando a exclusão social de pessoas que – por causa das condições atípicas – não lhe pareciam pertencer à maioria da população. Em seguida desenvolveu o atendimento segregado dentro de instituições, passou para a prática da integração social e recentemente adotou a filosofia da inclusão social para modificar os sistemas sociais gerais. (SASSAKI, 1997, p.16). No Brasil, houve, na década de 60, uma explosão de instituições segregativas especializadas, eram as escolas especiais, centros de reabilitação, oficinas protegidas, entre outras. Esta expansão da educação especial no Brasil estava ligada ao atendimento clínico às pessoas com necessidades especiais, e apresentavam um caráter filantrópico em suas atividades. IMP OR TAN TE! � Nesta visão de atendimento, o “problema” das necessidades especiais era visto como um “problema do indivíduo com necessidades especiais” e, portanto, ele deveria ser adaptado à sociedade. UNIDADE 1TÓPICO 18 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A 2.1 INTEgrAção ESCoLAr “Meu irmão entrou para a escola. Não era uma escola como a minha; parece quelá todos eram um pouco parentes. Todos tinham o mesmo jeito esquisito de andar, de mover os braços, e eram poucos os que falavam”. (PorTELA, 1998, p. 8). “Não era uma escola como a minha; parece que lá todos eram um pouco parentes”, relata Portela (1998). Podemos compreender, pelas palavras da autora, que essa escola é uma escola de atendimento especializado, o que nos permite dizer que não é um ambiente com o olhar voltado para a inclusão escolar que educa para a diversidade e, muito menos, uma escola inclusiva. Ao final da década de 60, iniciou-se o movimento pela integração social que planejava “[...] inserir as pessoas com deficiência nos sistemas sociais gerais como a educação, o trabalho, a família e o lazer [...]”, (SASSAKI, 1999, p. 31), mas este processo foi mais vivenciado na década de 80. Assim, a integração social surgiu da necessidade de inserir na sociedade o indivíduo com necessidades especiais, sem que a sociedade se modifique. Na realidade, quem deveria, então, estar preparada e capacitada para ser inserida no meio social era a pessoa com necessidades especiais. Para isto, recorriam-se aos métodos clínicos, para poder ensinar esta pessoa a socializar-se de maneira “normal”, conforme a sociedade estava organizada. o processo de integração escolar foi um movimento forte e decisivo nas novas conquistas da educação inclusiva, porém não satisfazia as premissas dos direitos das pessoas com necessidades especiais, pois nada era modificado na sociedade, nem suas estruturas, seus métodos e, principalmente, seu preconceito, pois ainda acreditava-se na permanência do método clínico de atendimento. UNI Perceba, estimado/a acadêmico/a, como o atendimento clínico foi evidenciado no decorrer de nossa história! UNIDADE 1 TÓPICO 1 9 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A Hoje, a história segregativa no mundo e no Brasil atua como influenciadora da postura social que temos. As práticas preconceituosas de nossa sociedade refletem esta história massacrante e limitante da pessoa com necessidades especiais. “A ideia de que poderiam ser ajudadas em ambientes segregados, alijadas do resto da sociedade, fortaleceu os estigmas sociais e a rejeição”. (KARAGIANNIS; STAINBACK; STAINBACK apud STAINBACK; STAINBACK, 1999, p. 43). IMP OR TAN TE! � Acadêmico/a!!! A partir da década de 90 inicia-se a concepção de educação inclusiva. No entanto, você pôde perceber que no decorrer do nosso texto utilizamos esta nomenclatura, educação inclusiva, e não educação especial como esta categoria foi nomeada durante muito tempo. A seguir conceituaremos cada um destes termos utilizados pela educação inclusiva. 2.1.1 Compreendendo nomenclaturas Podemos dizer que a história da Educação inclusiva iniciou-se com a declaração dos direitos humanos em 1948, apontando a “igualdade de direitos”, no entanto durante toda sua trajetória a educação inclusiva recebeu várias nomenclaturas diferenciadas. De forma objetiva e ilustrada apontaremos as diferenças entre cada uma delas. Educação Especial: trata-se do atendimento em instituições especializadas. Educação Inclusiva: trata-se da inclusão de alunos com necessidades especiais em escolas comuns. Integração: segundo Mantoan (2003, p. 23), a integração insere o aluno no contexto escolar, porém não garante a inclusão deste aluno. o aluno transita entre o sistema escolar, mas não participa como sujeito ativo em meio a uma educação para a diversidade, trata-se do “especial na educação”. UNIDADE 1TÓPICO 110 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A FIgUrA 4 - INTEgrAção FoNTE: Adaptado de: <portalmec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ ensaiospedagpgicos2006>. Acesso em: 22 ago. 2011. Inclusão: a inclusão insere todos os alunos em salas de aula comuns. garante o acesso, a permanência e a efetiva participação em prol da educação para a diversidade. Considera as necessidades de todos os alunos. FIgUrA 5 – INCLUSão FoNTE: Adaptado de: <portalmec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ensaiospedagpgicos2006>. Acesso em: 22 ago. 2011. UNIDADE 1 TÓPICO 1 11 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A Exclusão: a exclusão acontece quando separamos os alunos com necessidades especiais, quando trabalhamos à parte, quando não consideramos a educação para a diversidade e limitamos a participação de todos os alunos. A exclusão pode acontecer em qualquer esfera da sociedade. FIgUrA 6 – EXCLUSão FoNTE: Adaptado de: <portalmec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ensaiospedagpgicos2006>. Acesso em: 22 ago. 2011. Segregação: por muito tempo as pessoas com necessidades especiais foram segregadas. Isto acontece quando as crianças são isoladas e separadas em grupos, em instituições de atendimento especializado, não frequentam a escola comum e não interagem com diversidade. UNIDADE 1TÓPICO 112 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A FIgUrA 7 – SEgrEgAção FoNTE: Adaptado de: <portalmec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ensaiospedagpgicos2006>. Acesso em: 22 ago. 2011. DIC AS! Você percebeu que utilizamos a imagem da borboleta para ilustrar as nomenclaturas relacionadas ao processo de inclusão escolar? Não escolhemos este inseto aleatoriamente, mas inspiradas em uma literatura que trabalha muito bem esta temática. Gostaríamos de sugerir a leitura do livro Romeo e Julieta de Ruth Rocha. Esta obra narra a história de duas crianças-borboletas, que vão mostrar que a amizade não se abala se os amigos não têm a mesma cor. FONTE: Disponível em: <www.livrariasaraiva.com.br/livros/>. Acesso em: 22 ago. 2011. 2.2 INTroDUção À INCLUSão ESCoLAr A partir da década de 90, na Conferência de Jomtien, em 1990, e na Conferência Mundial de Educação Especial, ocorrida em 1994, na cidade de Salamanca, na Espanha, que através da “Declaração de Salamanca”, surge então a Inclusão escolar que veio para romper o paradigma educacional existente e para romper com a estrutura curricular fechada e com a homogeneidade na escola. Depois de tantos anos de isolamento e segregação, as pessoas com necessidades especiais estão sendo reconhecidas como cidadãos e aceitas na escola comum. UNIDADE 1 TÓPICO 1 13 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A Neste sentido, Mittler (2003, p. 25) contribui para nossa reflexão, pois para ele a inclusão no campo educacional, “[...] envolve um processo de reforma e de reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas as gamas de oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela escola”. Ensinar é comprometer-se com o outro e a inclusão escolar desafia uma mudança de atitude diante deste outro, que não é mais um indivíduo qualquer, mas, sim, alguém que é essencial para a construção da sociedade que queremos formar. É necessário percebermos a mudança que já está ocorrendo em nossos sistemas de ensino e, consequentemente, influenciam a sociedade como um todo. Preparar-nos e preparar os alunos para a convivência harmoniosa e respeitosa uns com os outros é o importante papel da escola inclusiva. UNI Este último parágrafo nos mostra a importância do professor na busca pela escola inclusiva. Fique tranquilo, pois no decorrer deste caderno estaremos juntos, no intuito de descobrir como enfrentar este desafio. UNIDADE 1TÓPICO 114 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você pôde perceber que existem diversas fases da história da educação inclusiva até chegarmos ao processo Inclusão escolar. Para resumir, apresentamos a história em fases distintas. Porém, não se esqueçam de que cada uma apresenta consequências significativas na outra. • Fase I: as pessoas com necessidades especiais eram mortas e abandonadas ao nascer. • Fase II: na idade antiga,as pessoas com necessidades especiais tinham ligações demoníacas. • Fase III: no século XIX, a igreja começa a impulsionar uma visão caritativa. • Fase IV: em meados do século XIX, inicia uma visão médica sobre as necessidades especiais. • Fase V: na década de 60, começam a surgir instituições segregadas de atendimento às pessoas com necessidades especiais. • Fase VI: as ideias sobre a Integração surgiram no final da década de 60, mas foram vivenciadas na década de 80. Significa inserir a pessoa com necessidades especiais na vida social, sem que o meio sofra qualquer alteração, ou seja, a pessoa já deveria ter sido preparada para ingressar neste meio. • Fase VII: no início da década de 90, o processo de Inclusão Escolar passa a ser o foco principal da educação especial, mantendo estes princípios até os dias atuais. Significa uma transformação da estrutura social para que a pessoa com necessidades especiais seja inserida no meio social. UNIDADE 1 TÓPICO 1 15 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A AUT OAT IVID ADE � Chegando ao final deste primeiro tópico, você deve ter percebido que a história de exclusão, percorrida pelas pessoas com necessidades especiais, construiu uma sociedade com inúmeras barreiras em relação à aceitação e à valorização das diferenças. Neste sentido, sugerimos que você elabore um texto sobre a sua trajetória profissional ou escolar, analisando as experiências que teve com a educação inclusiva. UNIDADE 1TÓPICO 116 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 2 A vida se renova constantemente e, nessa renovação, ocorrem as mudanças, os retrocessos e os avanços. E, nestes momentos estamos nos envolvendo e nos encontrando com o novo, mesmo que não façamos nada para participar destas mudanças. Porém, estas mudanças, sendo radicais ou não, são cercadas de incertezas, de medos e de muita vontade de encontrar novas maneiras de ver o problema, para que se tenha sustentação para a realização da mudança. Neste sentido, a Inclusão pressupõe mudança de velhas práticas. Mudança supõe novas formas de pensar e, ao mesmo tempo, de organizar a realidade. A inclusão é o resultado de um processo de acumulação de necessidades históricas, e este acúmulo de necessidades resulta nas transformações que vêm ocorrendo na sociedade. DIC AS! Antes de tratarmos da inclusão escolar, sugerimos que você assista ao filme Meu nome é rádio. Este filme dará maior conhecimento daquilo que buscamos quando lutamos pela inclusão de pessoas com necessidades especiais na escola, na família, na comunidade, ou seja, a inclusão social. Anderson, Carolina do Sul, 1976, na escola secundária T. L. Hanna. Harold Jones (Ed Harris) é o treinador local de futebol americano, que fica tão envolvido em preparar o time que raramente passa algum tempo com sua filha, Mary Helen (Sarah Drew), ou sua esposa, Linda (Debra Winger). Jones conhece um jovem "lento", James Robert Kennedy (Cuba Gooding Jr.), mas Jones nem ninguém sabia o nome dele, pois ele não falava e só perambulava em volta do campo de treinamento. Jones se preocupa com o jovem UNIDADE 1 UNIDADE 1TÓPICO 218 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A 2 INCLUSÃO ESCOLAR A Inclusão surge, então, para romper o paradigma educacional existente, rompendo com a estrutura curricular fechada e com a homogeneidade na escola. os antigos paradigmas começam a ser repensados por uma nova visão educacional. Depois de tantos anos de isolamento e segregação, as pessoas com necessidades especiais estão sendo reconhecidas como cidadãs e aceitas na escola comum. Para iniciarmos a nossa conversa sobre a inclusão escolar é importante uma reflexão acerca das terminologias e expressões utilizadas para designar as pessoas com necessidades especiais através da história. Para essa reflexão apresentamos de forma adaptada, um texto de Romeu Kazumi Sassaki: “TERMINOLOGIA SOBRE DEFICIÊNCIA NA ERA DA INCLUSÃO” Usar ou não usar termos técnicos corretamente não é uma mera questão semântica ou sem importância, se desejamos falar ou escrever construtivamente, numa perspectiva inclusiva, sobre qualquer assunto de cunho humano. E a terminologia correta é especialmente importante quando abordamos assuntos tradicionalmente eivados de preconceitos, estigmas e estereótipos, como é o caso das deficiências que aproximadamente 14,5% da população brasileira possuem. os termos são considerados corretos em função de certos valores e conceitos vigentes em cada sociedade e em cada época. Assim, eles passam a ser incorretos quando esses valores e conceitos vão sendo substituídos por outros, o que exige o uso de outras palavras. Estas outras palavras podem já existir na língua falada e escrita, mas, neste caso, passam a ter novos significados. Ou então são construídas especificamente para designar conceitos novos. o maior problema decorrente do uso de termos incorretos reside no fato de os conceitos obsoletos, as ideias equivocadas e as informações inexatas serem inadvertidamente reforçados e perpetuados. quando alguns dos jogadores da equipe fazem uma "brincadeira" de péssimo gosto, que deixou James apavorado. Tentando compensar o que tinham feito com o jovem, Jones o coloca sob sua proteção, além de lhe dar uma ocupação. Como ainda não sabia o nome dele e pelo fato de ele gostar de rádios, passou a chamá-lo de Radio. Mas ninguém sabia que, pelo menos em parte, a razão da preocupação de Jones é que tentava não repetir uma omissão que cometera, quando era um garoto. MEU NOME É RÁDIO. Direção de Michael Tollin. Estados Unidos: Dist. Columbia Pictures / Sony Pictures Entertainment, 2003. 1 filme (109 min), dublado e legendado. UNIDADE 1 TÓPICO 2 19 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A Este fato pode ser a causa da dificuldade ou excessiva demora com que o público leigo e os profissionais mudam seus comportamentos, raciocínios e conhecimentos em relação, por exemplo, à situação das pessoas com necessidades especiais. o mesmo fato também pode ser responsável pela resistência contra a mudança de paradigmas como o que está acontecendo, por exemplo, na mudança que vai da integração para a inclusão em todos os sistemas sociais comuns. Trata-se, pois, de uma questão da maior importância em todos os países. Existe uma literatura consideravelmente grande em várias línguas. No Brasil, tem havido tentativas de levar ao público a terminologia correta para uso na abordagem de assuntos de necessidades especiais a fim de que desencorajemos práticas discriminatórias e construamos uma verdadeira sociedade inclusiva. A seguir, apresentamos várias expressões incorretas seguidas de comentários e dos equivalentes termos corretos, frases corretas e grafias corretas, com o objetivo de subsidiar o trabalho de estudantes de qualquer grau do sistema educacional, pessoas com necessidades especiais e familiares, profissionais de diversas áreas (reabilitação, educação, mídia, esportes, lazer etc.), que necessitam falar e escrever sobre assuntos de pessoas com necessidades especiais no seu dia a dia. ouvimos e/ou lemos esses termos incorretos em livros, revistas, jornais, programas de televisão e de rádio, apostilas, reuniões, palestras e aulas. TERMINOLOGIAS EXEMPLOS DE FRASES E EXPRESSÕES Adolescente normal: desejando referir-se a um adolescente (uma criança ou um adulto) que não possua necessidades especiais. A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado. TERMOS CORRETOS: adolescente (criança, adulto) sem deficiência ou, ainda, adolescente (criança, adulto) não deficiente. “Apesar de deficiente, ele é um ótimo aluno”: nesta frase há um preconceitoembutido: ‘A pessoa com deficiência não pode ser um ótimo aluno’. FRASE CORRETA: “ele tem deficiência e é um ótimo aluno”. Aleijado, defeituoso, incapacitado, inválido. TERMO CORRETO: pessoa com deficiência. “Aquela criança não é inteligente”: todas as pessoas são inteligentes, segundo a Teoria das Inteligências Múltiplas. FRASE CORRETA: “aquela criança é menos desenvolvida na inteligência [por exemplo] lógico-matemática”. Cadeira de rodas elétrica: trata-se de uma cadeira de rodas equipada com um motor. TERMO CORRETO: cadeira de rodas motorizada. Deficiência mental leve, moderada, severa, profunda. TERMO CORRETO: deficiência intelectual (sem especificar nível de comprometimento). A partir da Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, aprovada em 6/10/04 pela organização Mundial de Saúde (oMS, 2004), em conjunto com a organização Pan-Americana da Saúde (opas), o termo “deficiência mental” passou a ser “deficiência intelectual”. UNIDADE 1TÓPICO 220 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A UNI Ceguinho: o diminutivo ceguinho denota que o cego não é tido como uma pessoa completa. TERMOS CORRETOS: cego; pessoa cega; pessoa com deficiência visual. Deficiente mental: (quando se referir a uma pessoa com transtorno mental). TERMOS CORRETOS : pessoa com transtorno mental, paciente psiquiátrico. Consultar BrASIL (2001), “lei sobre os direitos das pessoas com transtorno mental. Classe normal ou escola normal: TERMOS CORRETOS: classe comum; classe regular. No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da palavra classe sem adjetivá- la. Doente mental: (quando se referir a uma pessoa com deficiência intelectual). TERMO CORRETO: pessoa com deficiência intelectual. Criança excepcional: TERMOS CORRETOS: criança com deficiência intelectual. “Ela é cega, mas mora sozinha”: nesta frase há um preconceito embutido: ‘Todo cego não é capaz de morar sozinho’. FRASE CORRETA: “ela é cega e mora sozinha”. Defeituoso físico: TERMO CORRETO: pessoa com deficiência física. “Ela é retardada mental, mas é uma atleta excepcional”: Nesta frase há um preconceito embutido: ‘Toda pessoa com deficiência mental não tem capacidade para ser atleta’. FRASE CORRETA: “ela tem deficiência mental [intelectual] e se destaca como atleta” Deficiências físicas ou deficientes físicos: (como nome genérico englobando todos os tipos de deficiência). TERMO CORRETO: deficiências (como nome genérico, sem especificar o tipo, mas referindo-se a todos os tipos). “Ela é surda [ou cega], mas não é retardada mental”: Esta frase contém um preconceito: ‘Todo surdo ou cego tem retardo mental’. FRASE CORRETA: “ela é surda [ou cega] e não tem deficiência intelectual”. Intérprete de LIBRAS: TERMO CORRETO: intérprete de Libras (ou de Libras). GRAFIA CORRETA: Libras. Libras é sigla de Língua de Sinais Brasileira: Li = Língua de Sinais, bras = Brasileira. “Ela foi vítima de paralisia infantil”: A palavra vítima provoca sentimento de piedade. FRASES CORRETAS: “ela teve [flexão no passado] paralisia infantil” e/ou “ela tem [flexão no presente] sequela de paralisia infantil”. Inválido: (quando se referir a uma pessoa que tenha uma deficiência). Inválido significa sem valor. Assim, como já estudamos no tópico anterior, eram consideradas as pessoas com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda guerra Mundial. TERMO CORRETO: pessoa com deficiência. “Ela teve paralisia cerebral”: (quando se referir a uma pessoa viva no presente) A paralisia cerebral permanece com a pessoa por toda a vida. FRASE CORRETA: “ela tem paralisia cerebral”. Que tal você aprofundar seus conhecimentos sobre esta língua, com o Caderno de Estudos da disciplina de Libras. Vamos lá... é muito bom aprender!!! UNIDADE 1 TÓPICO 2 21 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A Lepra, leproso, doente de lepra: TERMOS CORRETOS: hanseníase; pessoa com hanseníase; doente de hanseníase. Prefira o termo as pessoas com hanseníase ao termo os hansenianos. A Lei federal nº 9.010, de 29/3/95, proíbe a utilização da palavra lepra e seus derivados, na linguagem empregada nos documentos oficiais. “Ele atravessou a fronteira da normalidade quando sofreu um acidente de carro e ficou deficiente”: A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável. A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ele teve um acidente de carro que o deixou com uma deficiência”. LIBRAS – Linguagem Brasileira de Sinais: GRAFIA CORRETA: Libras. TERMO CORRETO: Língua brasileira de sinais. Trata-se de uma língua e não de uma linguagem. “Ela foi vítima da pólio”: A palavra vítima provoca sentimento de piedade. TERMOS CORRETOS: pólio, poliomielite e paralisia infantil. FRASE CORRETA: “ela teve pólio”. Louis Braile GRAFIA CORRETA: Louis Braille. o criador do sistema de escrita e impressão para cegos foi o educador francês Louis Braille (1809-1852), que era cego. “Ele é surdo-cego”: GRAFIA CORRETA: “ele é surdo-cego”. Também podemos dizer ou escrever: “ele tem surdo-cegueira”. Mongoloide; mongol: TERMOS CORRETOS: pessoa com síndrome de Down, criança com Down, uma criança Down. “A síndrome de Down é uma das anomalias cromossômicas mais frequentes encontradas e, apesar disso, continua envolvida em ideias errôneas. “Ele manca com bengala nas axilas”: FRASE CORRETA: “ele anda com muletas axilares”. No contexto coloquial, é correto o uso do termo muletante para se referir a uma pessoa que anda apoiada em muletas. Mudinho: Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. o diminutivo mudinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa. TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Há casos de pessoas que ouvem (portanto, não são surdas), mas têm um distúrbio da fala (ou deficiência da fala) e, em decorrência disso, não falam. “Ela sofre de paraplegia” [ou de paralisia cerebral ou de sequela de poliomielite]: FRASE CORRETA: “ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou sequela de poliomielite]. Necessidades educativas especiais: TERMO CORRETO: necessidades educacionais especiais. “A palavra educativo significa algo que educa. ora, necessidades não educam; elas são educacionais, ou seja, concernentes à educação”. “Esta família carrega a cruz de ter um filho deficiente”: Nesta frase há um estigma embutido: ‘Filho deficiente é um peso morto para a família’. FRASE CORRETA: “esta família tem um filho com deficiência”. Pessoa normal: TERMO CORRETO: pessoa sem deficiência; pessoa não deficiente. A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado. “Infelizmente, meu primeiro filho é deficiente; mas o segundo é normal”: A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável, ultrapassado. FRASE CORRETA: “tenho dois filhos: o primeiro tem deficiência e o segundo não tem”. UNIDADE 1TÓPICO 222 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A Portador de deficiência: TERMO CORRETO: pessoa com deficiência. O termo preferido passou a ser pessoa com deficiência no texto da Convenção Internacional de Proteção e Promoção dos Direitos e da Dignidade das Pessoas com Deficiência, em fase final de elaboração pelo Comitê Especial da ONU. Consultar SASSAKI (2003). O incapacitado (ou a pessoa incapacitada): TERMO CORRETO : a pessoa com deficiência. PPD’s: GRAFIA CORRETA: PPDs. Não se usa apóstrofo para designar o plural de siglas. Hoje, o termo preferido passou a ser pessoas com deficiência, motivando o desuso da sigla PPDs.Devemos evitar o uso de siglas em seres humanos. Mas, torna-se necessário usar siglas em circunstâncias pontuais, como em gráficos, quadros, colunas estreitas, manchetes de matérias jornalísticas etc. Nestes casos, a sigla recomendada é PcD, significando “pessoa com deficiência”, ou PcDs para “pessoas com deficiência”. O paralisado cerebral (ou a pessoa paralisada cerebral): TERMO CORRETO: a pessoa com paralisia cerebral. Quadriplegia, quadriparesia: TERMOS CORRETOS: tetraplegia; tetraparesia. No Brasil, o elemento morfológico tetra tornou-se mais utilizado que o quadri. Ao se referir à pessoa, prefira o termo pessoa com tetraplegia (ou tetraparesia) no lugar de o tetraplégico ou o tetraparético. O epilético (ou a pessoa epilética): TERMOS CORRETOS: a pessoa com epilepsia, a pessoa que tem epilepsia. Evite “o epilético”, “a pessoa epilética” e suas flexões em gênero e número. Retardo mental, retardamento mental: TERMOS CORRETOS: deficiência intelectual. São pejorativos os termos retardado mental, mongoloide, mongol, pessoa com retardo mental, portador de retardamento mental, portador de mongolismo etc. Tornaram-se obsoletos, desde 1968, os termos: deficiência mental dependente (ou custodial), deficiência mental treinável (ou adestrável), deficiência mental educável. “paralisia cerebral é uma doença” FRASE CORRETA: “paralisia cerebral é uma condição” Muitas pessoas confundem doença com deficiência. Sistema Braille: GRAFIA CORRETA: Sistema Braile. Conforme MArTINS (1990), grafa-se Braille somente quando se referir ao educador Louis Braille. Por ex.: ‘A casa onde Braille passou a infância [...]’. Nos demais casos, devemos grafar: [a] braile (máquina braile, relógio braile, dispositivo eletrônico braile, sistema braile, biblioteca braile etc.) ou [b] em braile (escrita em braile, cardápio em braile, placa metálica em braile, livro em braile, jornal em braile, texto em braile etc.). Pessoa presa [confinada, condenada] a uma cadeira de rodas: TERMOS CORRETOS: pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda em cadeira de rodas; pessoa que usa cadeira de rodas. No contexto coloquial, é correto o uso dos termos cadeirante e chumbado. UNIDADE 1 TÓPICO 2 23 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A FONTE: Disponível em: <http://www.fiemg.com.br/ead/pne/Terminologias.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2011. ATEN ÇÃO! Prezado/a acadêmico/a!!! Percebemos que em muitas expressões algumas pessoas utilizam a palavra “sofre”. Como o próprio autor atenta, esta palavra induz sentimentos de piedade, os quais não norteiam as práticas inclusivas. o texto de Sassaki (2003) nos remete a várias situações que presenciamos nas escolas no dia dia. Assim, a escola obviamente não poderia ficar ignorando estas evoluções e anulando as diferenças que existem dentro dela. A escola inclusiva parte do pressuposto de que todas as crianças podem aprender e fazer parte da vida escolar e social. A diversidade é valorizada, acreditando que as diferenças fortalecem a turma e oferecem a todos os envolvidos maiores oportunidades para aprendizagem. Esta escola baseia-se em princípios, tais como: Aceitação das diferenças individuais como atributo e não como obstáculo. Educação como direito de todos, ou seja, o direito de pertencer. Igualdade de oportunidades – o igual valor entre os dominantes e os dominados. Surdinho: TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. o diminutivo surdinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa. os próprios cegos gostam de ser chamados cegos e os surdos de surdos, embora eles não descartem os termos pessoas cegas e pessoas surdas. Pessoas ditas deficientes: TERMO CORRETO: pessoas com deficiência. A palavra ditas, neste caso, funciona como eufemismo para negar ou suavizar a deficiência, o que é preconceituoso. Surdo-mudo: GRAFIAS CORRETAS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. Pessoas ditas normais: TERMOS CORRETOS : pessoas sem deficiência; pessoas não deficientes. Neste caso, o termo ditas é utilizado para contestar a normalidade das pessoas, o que se torna redundante nos dias de hoje. Visão subnormal: GRAFIA CORRETA: visão subnormal. TERMO CORRETO: baixa visão. “Sofreu um acidente e ficou incapacitado”: FRASE CORRETA: “teve um acidente e ficou deficiente”. UNIDADE 1TÓPICO 224 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A DIC AS! Agora, prezado/a acadêmico/a, vamos tentar responder às seguintes questões e refletir sobre elas: • Como isso que acontece comigo se passa com o outro que é diferente de mim? • Como é ser pai ou mãe de um garoto que não enxerga? • Como funciona a casa de uma família de surdos? • Como é a vida de uma pessoa que precisa de uma cadeira de rodas para se locomover? • Como uma pessoa que tem deficiência intelectual aprende? Essas perguntas podem nos levar a pensar sobre as dificuldades e as conquistas dessas pessoas, e, além disto, analisar a possibilidade de concretização dos seus direitos. Ações simples e concretas para que possam estar nas salas de aula; ter plena assistência à saúde; ter qualificação profissional; emprego; prática de esporte; cultura e lazer. Porém, isso só se realizará se cada um de nós se fizer a seguinte pergunta: O que eu posso fazer, como cidadão, para contribuir na inclusão daqueles que são apenas diferentes de mim? IMP OR TAN TE! � Busque respostas para essa pergunta. É um aprendizado nem sempre fácil, que exige o desejo de conhecer, de se arriscar, de se envolver e agir. Convívio social, todos crescem nessa relação. Cidadania – englobam os direitos políticos, civis, econômicos, culturais e sociais. Assim, podemos dizer que sociedade inclusiva é aquela aberta a todos, que reconhece o potencial de todo cidadão, estimula a participação de cada um e aprecia as diferentes experiências humanas. UNIDADE 1 TÓPICO 2 25 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A 3 CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS PARA A INCLUSÃO ESCOLAR Neste item, iremos discutir algumas estratégias de efetivação para a inclusão escolar de crianças e adolescentes com necessidades especiais. Escola Inclusiva significa educar todos os alunos em salas de aula comuns. Isto significa que todos, sem exceção, recebem educação, frequentam as mesmas aulas e, consequentemente, significa que todos recebem oportunidades educacionais adequadas. Além disso, é necessário também que o aluno e seu professor recebam todo o auxílio que necessitarem para oferecer este ensino. Mas, além disto, a escola inclusiva é um local em que todos fazem parte, onde existe aceitação e cooperação entre seus membros. Neste sentido, a inclusão escolar visa às seguintes estratégias: • Este princípio assegura aos alunos a oportunidade de que todos aprendam, uns sobre os outros, e reduz a permanência de estigmas e preconceitos historicamente construídos. FIgUrA 8 – FrEQUÊNCIA DE ToDoS oS ALUNoS EM SALA DE AULA CoMUM, CoM A MESMA FAIXA ETÁrIA FoNTE: Disponível em: <http://professorasimonecruz. blogspot.com>. Acesso em: 22 ago. 2011. UNIDADE 1TÓPICO 226 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A • Esta est ra tég ia assegura maior participação na vida social da comunidade, além dos muros da escola. FIgUrA 9 – FrEQUENCIA Do ALUNo CoM NECESSIDADES ESPECIAIS EM UMA ESCoLA DE SUA CoMUNIDADE FoNTE: Disponível em: <http://eusouluzpazeamor. blogspot.com/>. Acesso em: 22 ago. 2011. • o professor tem a responsabilidade de educar tanto as crianças sem deficiência como aquelas com deficiência, mesmo que tenha um professor auxiliar em sua sala. O aluno com deficiênciadeve fazer parte da turma como qualquer criança. Tem também a responsabilidade de assegurar que o aluno com deficiência seja um membro integrante e valorizado da sala de aula. FIgUrA 10 – o ProFESSor É rESPoNSÁVEL Por ToDoS oS ALUNoS, INDEPENDENTE DE SUAS PECULIArIDADES FoNTE: Disponível em: <http://www.marataizes.com.br/>. Acesso em: 22 ago. 2011. • A educação inclusiva significa que os alunos com necessidades especiais são ensinados no mesmo contexto curricular e instrucional com os demais colegas de sala de aula. Materiais curriculares comuns podem ser adaptados, mas somente até o nível necessário para satisfazer as necessidades de aprendizagem de qualquer aluno. FIgUrA 11 – ADAPTAção CUrrICULAr FoNTE: Brasil (2010) UNIDADE 1 TÓPICO 2 27 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A • Em função da diversidade humana, o professor deve se preparar com diferentes metodologias, para que todos os alunos sejam capazes de adquirir o conhecimento que está sendo ensinado. FIgUrA 12 – METoDoLogIAS DIFErENCIADAS FoNTE: Disponível em: <http://bandeirantesnews.blogspot. com>. Acesso em: 22 ago. 2011. • Sugere-se uma maior colaboração e apoio entre professores e a participação de uma equipe multidisciplinar (educadores especiais, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, entre outros) em oferecer apoio extraescolar, além de proporcionar maior participação na orientação e formação do docente para a efetivação da inclusão escolar. FIgUrA 13 – PArTICIPAção E CoLABorAção DE DIVErSoS ProFISSIoNAIS FoNTE: Disponível em: <http://ne10.uol.com.br>. Acesso em: 22 ago. 2011. • São partes importantes da educação inclusiva os relacionamentos e interações sociais. Para desenvolver relações de amizade, faz-se necessário que a criança com necessidades especiais tenha oportunidades constantes e contínuas de inserção social entre estas outras crianças. o exemplo da atividade a seguir é muito conhecido: trata-se de um jogo intitulado em algumas regiões de “cabo de guerra”. Este jogo trabalha a força e o trabalha em equipe. Este exemplo foi adaptado às necessidades da turma. o jogo é realizado com os alunos sentados, possibilitando a participação de todos. observe a imagem. FIgUrA 14 – INCLUSão Do ALUNo NA VIDA SoCIAL DA ESCoLA FoNTE: Disponível em: <http://www.recantodasletras. com.br/artigos/2409092>. Acesso em: 22 ago. 2011. UNIDADE 1TÓPICO 228 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A FIgUrA 15 – INCLUSão FoNTE: Brasil (2010) 4 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS ESCOLAS INCLUSIVAS o quadro a seguir apresenta as principais características das escolas inclusivas. Essas características devem ser, pelos educadores, conhecidas, respeitadas e exercitadas diariamente, a fim de garantir a inclusão nos ambientes escolares. UNIDADE 1 TÓPICO 2 29 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A QUADro 1 – PrINCIPAIS CArACTErÍSTICAS DAS ESCoLAS INCLUSIVAS 1 Senso de pertencer Filosofia e visão de que todas as crianças pertencem à escola e à comunidade e de que podem aprender juntos. 2 Liderança A equipe gestora envolve-se ativamente com a escola toda no provimento de estratégias inclusivas. 3 Padrão de excelência os altos resultados educacionais refletem as necessidades individuais dos alunos, ou seja, não limitar o nível de ensino. 4 Colaboração e cooperação Envolvimento de alunos em estratégias de apoio mútuo; colaboração da turma. 5 Novos papéis e responsabilidades os professores falam menos e assessoram mais, todo o pessoal da escola faz parte do processo de aprendizagem, e é responsável pelos alunos. 6 Parceria com os pais os pais são parceiros igualmente essenciais na educação de seus filhos. 7 Acessibilidade Todos os ambientes físicos são tornados acessíveis e, quando necessária, é oferecida tecnologia assistiva. 8 Ambientes flexíveis de aprendizagem Espera-se que os alunos se promovam de acordo com o estilo e ritmo individual de aprendizagem e não de uma única maneira para todos. 9. Estratégias baseadas em pesquisas Aprendizado cooperativo, adaptação curricular, ensino de iguais, instrução direta, ensino recíproco, treinamento em habilidades sociais, instrução assistida por computador, treinamento em habilidades de estudar etc. 10 Novas formas de avaliação escolar Dependendo cada vez menos de testes padronizados, a escola usa novas formas para avaliar o progresso de cada aluno rumo aos respectivos objetivos. 11 Desenvolvimento profissional continuado Aos professores são oferecidos cursos de aperfeiçoamento contínuo visando à melhoria de seus conhecimentos e habilidades para melhor educar seus alunos. FoNTE: Adaptado de: SASSAKI, romeu K. Disponível em: <http://www.educacaoonline.pro.br/art _lista_de_checagem.asp?f_id_artigo=68>. Acesso em: 15 jan. 2007. 5 ADAPTAÇÕES DE PEQUENO E GRANDE PORTE Em todo processo de inclusão escolar, faz-se necessária a adaptação de materiais e estratégias que garantam a participação efetiva de todos os alunos no processo ensino aprendizagem. São adaptações de pequeno e grande porte que são assim nomeadas por serem vinculadas a diferentes responsáveis. Vamos ver o significado de cada uma delas. UNIDADE 1TÓPICO 230 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A 5.1 ADAPTAçÕES DE PEQUENo PorTE São adaptações de responsabilidade do professor e referem-se basicamente a: • Criar condições físicas, ambientais e materiais para a participação do aluno. FIgUrA 16 – AMBIENTE FAVorÁVEL À PArTICIPAção Do ALUNo Fonte: Disponível em: <http://www.istoe.com.br/ reportagens/7783_UMA+ESCoLA+PArA+ToDoS>. Acesso em: 22 ago. 2011. • Favorecer os melhores níveis de comunicação e de interação. FIgUrA 17 – MELHorES NÍVEIS DE CoMUNICAção E INTErAção FoNTE: Disponível em: <http://www.istoe.com.br/ reportagens/7783_UMA+ESCoLA+PArA+ToDoS>. Acesso em: 22 ago. 2011. UNIDADE 1 TÓPICO 2 31 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A • Favorecer a participação do aluno nas atividades escolares. FIgUrA 18 – PArTICIPAção Do ALUNo NAS ATIVIDADES ESCoLArES FoNTE: Disponível em: <http://cidapead.pbworks. com>. Acesso em: 22 ago. 2011. • Atuar para a aquisição dos equipamentos, recursos e materiais específicos. FIgUrA 19 – rECUrSoS E MATErIAIS ESPECÍFICoS FoNTE: Disponível em: <http://oolhardoeducador. blogspot.com/2010/07/o-uso-da-tecnologia-assistiva- no.html>. Acesso em: 22 ago. 2011. • Adaptar materiais. FIgUrA 20 – ADAPTAção DoS MATErIAIS FoNTE: Disponível em: <http://www.nominuto.com/ noticias/cidades/ hospital-giselda-trigueiro-investe-em-capacitacao-de- cuidadores/59131/>. Acesso em: 22 ago. 2011. UNIDADE 1TÓPICO 232 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A • Adotar s istemas al ternat ivos de comunicação. FIgUrA 21 – SISTEMAS ALTErNATIVoS DE CoMUNICAção FoNTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com. br/>. Acesso em: 22 ago. 2011. • Favorecer a eliminação de sentimentos de inferioridade. FIgUrA 22 – UM oLHAr INCLUSIVo FoNTE: Disponível em: <http://patatitralala.blogspot. com /2010/12/infancia-na-creche-um-olhar-inclusivo.html>. Acesso em: 22 ago. 2011. Para isto, o professor poderá seguir os seguintes passos: a) ADAPTAção DE CoNTEÚDo: Priorizar os tipos de conteúdos. Priorizar as áreas de estudo. reformular a sequência de conteúdos. Eliminação de conteúdos. b) ADAPTAção DE MÉToDoS DE ENSINo E orgANIZAção DIDÁTICA: Adaptar métodos. Modificar procedimentos de ensino. Complexidade das atividades. Adaptação de materiais. UNIDADE 1 TÓPICO 2 33 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A c) ADAPTAção Do ProCESSo DE AVALIAção: rever os instrumentos avaliativos e a descrição dos resultados.d) ADAPTAção DA TEMPorALIDADE: Adaptar o tempo necessário para a aprendizagem do aluno. IMP OR TAN TE! � Para conseguirmos realizar as mudanças e adaptações necessárias, precisamos derrubar as primeiras barreiras referentes a Educação Inclusiva: as barreiras atitudinais. É necessário aceitar e valorizar a diversidade para, em seguida pensar, refletir e crescer diante dos processos de acessibilidade. Não se esqueça de que algumas adaptações apresentam especificidades de cada área de conhecimento. Atente para a sua área de formação e troque ideias com os seus colegas de trabalho. 5.2 ADAPTAçÕES DE grANDE PorTE As adaptações de grande porte são de responsabilidade de instâncias político- administrativas superiores. referem-se basicamente a: a) ADAPTAção DE ACESSo Ao CUrrÍCULo: Adaptação do ambiente físico escolar. Aquisição de mobiliário específico. Aquisição dos equipamentos e recursos materiais específicos. Adaptação de material de uso comum. Capacitação continuada. Efetivação de ações dos profissionais da área especial com o professor regular. b) ADAPTAção DE oBJETIVoS: Dentro da organização do PPP. c) ADAPTAção DE CoNTEÚDoS ESPECÍFICoS: Dentro da organização do PPP. Participação da gestão na construção das práticas metodológicas. UNIDADE 1TÓPICO 234 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A d) ADAPTAção Do MÉToDo E orgANIZAção DIDÁTICA: organização diferenciada na sala de aula. Número de alunos. e) ADAPTAção Do SISTEMA DE AVALIAção: Sistematização dos resultados. Reformulações nas certificações. f) HoMogENEIDADE ETÁrIA: organização de turmas. g) ADAPTAção DE TEMPorALIDADE: reformulação do currículo escolar para atender as peculiaridades. IMP OR TAN TE! � Prezado/a acadêmico/a!!! Esta organização das adaptações de pequeno e grande porte vai acompanhar nossos estudos e sua prática docente sempre que em sua escola estiver incluído um aluno com necessidades especiais. LEITURA COMPLEMENTAR A ESCOLA o olhar crítico para a história da humanidade revela, com muita clareza, que nenhuma sociedade se constitui bem-sucedida, se não favorecer, em todas as áreas da convivência humana, o respeito à diversidade que a constitui. Nenhum país alcança pleno desenvolvimento, se não garantir, a todos os cidadãos, em todas as etapas de sua existência, as condições para uma vida digna, de qualidade física, psicológica, social e econômica. A educação tem, nesse cenário, papel fundamental, sendo a escola o espaço no qual se deve favorecer, a todos os cidadãos, o acesso ao conhecimento e o desenvolvimento de competências, ou seja, a possibilidade de apreensão do conhecimento historicamente produzido pela humanidade e de sua utilização no exercício efetivo da cidadania. UNIDADE 1 TÓPICO 2 35 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A É no dia a dia escolar que as crianças e jovens, enquanto atores sociais, têm acesso aos diferentes conteúdos curriculares, os quais devem ser organizados de forma a efetivar a aprendizagem. Para que este objetivo seja alcançado, a escola precisa ser organizada de forma a garantir que cada ação pedagógica resulte em uma contribuição para o processo de aprendizagem de cada aluno. Escola inclusiva é aquela que garante a qualidade de ensino educacional a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades. Assim, uma escola somente poderá ser considerada inclusiva quando estiver organizada para favorecer a cada aluno, independente de etnia, sexo, idade, deficiência, condição social ou qualquer outra situação. Um ensino significativo é aquele que garante o acesso ao conjunto sistematizado de conhecimentos como recursos a serem mobilizados. Numa escola inclusiva, o aluno é sujeito de direito e foco central de toda ação educacional; garantir a sua caminhada no processo de aprendizagem e de construção das competências necessárias para o exercício pleno da cidadania é, por outro lado, objetivo primeiro de toda a ação educacional. A escola inclusiva é aquela que conhece cada aluno, respeita suas potencialidades e necessidades, e a elas responde, com qualidade pedagógica. Para que uma escola se torne inclusiva há que se contar com a participação consciente e responsável de todos os atores que permeiam o cenário educacional: gestores, professores, familiares e membros da comunidade na qual cada aluno vive. Sabemos que as escolas públicas geralmente fazem parte de uma rede, o que, historicamente, as manteve em situação de dependência administrativa, funcional e mesmo pedagógica, limitadas na autonomia e controladas sob mandatos. No que se refere ao professor, sua liberdade de ação se restringiu, durante muito tempo, às ações internas das salas de aula. Tal situação, na realidade, limitou e até mesmo impediu o desenvolvimento de ações coletivas compromissadas com o cuidado individualizado que a educação de cada aluno requer. A construção da escola inclusiva exige mudanças nessa cultura e nas suas consequentes práticas. Perrenoud (2000) aponta alguns fatores que dificultam a construção de um coletivo, no contexto educacional: a limitação histórica da autonomia político-administrativa do profissional da Educação e o individualismo dela consequente, a falta do exercício das competências de comunicação, de negociação, de cooperação, de resolução de conflitos, de planejamento UNIDADE 1TÓPICO 236 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A DIC AS! Você pode aprofundar seu conhecimento acerca deste tema realizando uma pesquisa nos seguintes sites: <http://portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/cartilha05.pdf> e <http://portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/cartilha06.pdf>. flexível e de integração simbólica, a diversidade das personalidades que constituem o grupo de educadores, e até mesmo a presença frequente da prática autoritária da direção, ou coordenação do ensino. Tais dificuldades somente poderão ser eliminadas por meio da convicção de que a escola precisa mudar, da vontade política de promover mudanças e a construção de novas formas de relacionamento, no contexto educacional, levando em conta o potencial e o interesse de cada aluno. Constata-se, portanto, que a construção de uma escola inclusiva implica transformações no contexto educacional: transformações de ideias, de atitudes e da prática das relações sociais, tanto no âmbito político, administrativo, como didático-pedagógico. FoNTE: (BrASIL, 2006) UNIDADE 1 TÓPICO 2 37 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A RESUMO DO TÓPICO 2 Vamos rever neste resumo o conteúdo que foi discutido no decorrer deste segundo tópico: Em primeiro lugar, reconhecemos o significado da Inclusão escolar e que ela vem sendo desenvolvida em todos os setores sociais, não somente na escola. Além disto, questionamo-nos acerca de nossas atitudes enquanto cidadão, pois para incluir não basta trabalhar somente em sua sala de aula, devemos ser cidadãos que lutam pela inclusão em todos os âmbitos sociais. Refletimos sobre as terminologias apontadas por Sassaki e sua importância no processo de inclusão escolar. Em um outro momento, discutimos algumas estratégias e características da escola inclusiva, no intuito de preparar os professores e toda a equipe gestora para o acolhimento e para a verdadeira participação destes educandos, que são o foco de estudo nesta disciplina. Cabe aqui ressaltar os fundamentos da escola inclusiva, discutidos durante este tópico: • Educação como direito de todos. • Igualdade de oportunidades. • Convívio social. • Cidadania. • Valorização da diversidade. • Transformação social. UNIDADE 1TÓPICO 238 E D U C A Ç Ã O I N C L U S I V A
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