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1 OS ANIMAIS NO ANTIGO EGITO

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13/06/2016 OS ANIMAIS NO ANTIGO EGITO
http://www.fascinioegito.sh06.com/introduz.htm 1/3
OS DEUSES EGÍPCIOS ERAM REPRESENTADOS ora sob forma humana, ora sob forma de um
corpo humano com cabeça de animal e ora ainda sob a forma de animais, considerados sagrados. O
culto de tais animais era um aspecto importante da religião popular dos egípcios e remonta a épocas
pré­históricas. Os homens da pré­história egípcia tinham o maior respeito em relação aos fenômenos
da natureza e às características amedrontadoras ou admiráveis dos animais, seja a ferocidade do leão,
a força do crocodilo ou os desvelos da vaca com sua cria. Ao irem paulatinamente surgindo as
divindades, passavam a ser representadas sob a forma de animais, ainda que dirigissem as atividades
humanas ou, pelo menos, com elas se preocupassem. A adoração de divindades sob a forma
zoomorfa, ou seja, sob forma de animais, é atestada pela primeira vez por volta da metade do IV
milênio a.C. Dessa época foram encontradas sepulturas de animais, tais como chacais, gazelas,
carneiros e touros, arranjadas com bastante cuidado e contendo oferendas. Paletas de culto passam a
ser esculpidas com formato de animais e trazem, tanto na frente quanto no verso, animais gravados em
relevo. No final daquele milênio, são criadas pequenas figuras que representam com grande
vivacidade os macacos, as rãs, os hipopótamos e outros bichos. Por sua vez, as representações
antropomorfas das divindades, ou seja, deuses com forma humana, surgem por volta de 2700 a.C. De
maneira geral a divindade com forma humana traz o seu atributo na cabeça ou no lugar dela, tratando­
se normalmente do hieróglifo do seu nome. Finalmente, a forma compósita associando os elementos
animais aos elementos humanos é atestada pela primeira vez na III dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.) e
esse tipo de representação passa a ser tão normal quanto as duas anteriores. Excepcionalmente pode
aparecer a divindade com corpo de animal e cabeça humana.
 OS TEÓLOGOS OFICIAIS AFIRMAVAM que nos animais — como no boi Ápis,
por exemplo — encarnava­se uma parcela das forças espirituais e da personalidade de um ou mais
deuses. O fato de se representar deuses na forma animal permitia tornar as forças da divindade menos
abstratas para o povo. Uma imagem familiar como a de um animal passava às pessoas um conceito
mais concreto dos poderes da divindade e essa é uma das razões pela qual um deus podia ser
representado por vários animais diferentes. Em essência, os poderes e as características de um deus
eram transmitidos pela forma ou formas que ele assumia e, dessa maneira, podiam ser entendidos
mais facilmente. Citemos como exemplo a deusa Hátor, que além de aparecer na forma de vaca,
também podia figurar como leoa, serpente, hipopótamo ou, ainda, deusa­árvore. Cada uma destas
manifestações — esclarece o pesquisador Ernst Fahmuller — refere­se a um traço característico da
deusa. Elas não têm nada a ver com seu verdadeiro aspecto exterior, pois a forma real da divindade
permanece com efeito "oculta" e "secreta". Só o defunto, justificado e iluminado, tem o direito de
conhecê­la e está em condições de fazê­lo. Os textos religiosos relatam o encontro nos sonhos ou no
além­túmulo com a divindade, mas ela jamais é descrita. Só a proximidade do deus é perceptível, seja
por um tremor de terra ou uma tempestade, seja por seu perfume ou seu raio luminoso.
 AS DIVERSAS MANEIRAS DE REPRESENTAR as deidades só podem mostrar uma
parte da natureza divina de cada uma delas e disso resulta, inevitavelmente, a multiplicidade das
formas de representar os deuses. Ainda mais, se duas ou mais divindades são associadas, como por
exemplo Amon e Rá em Amon­Rá, o número de formas de aparição possíveis se multiplica pelas
13/06/2016 OS ANIMAIS NO ANTIGO EGITO
http://www.fascinioegito.sh06.com/introduz.htm 2/3
diversas combinações. Cada deus preserva, não obstante, sua autonomia, que não é absorvida pela
outra divindade, limitando um pouco o número de tais combinações. A imagem de culto era um corpo
da divindade, o qual ela poderia habitar temporariamente. Ficava fechada no santuário do templo e só
o sacerdote estava autorizado a visitá­la. O animal vivo, considerado em alguns santuários como a
encarnação da divindade, é uma forma especial de imagem de culto. Tal como na imagem esculpida
do santuário, o deusPtah podia residir no touro de Mênfis, Khnum no carneiro de Elefantina
e Sebek no crocodilo de Kom Ombo.
 AO LONGO DOS SÉCULOS os egípcios prestaram cultos a várias espécies, tais como
gatos, falcões e íbis, e divinizaram alguns animais vivos. Estatuetas, amuletos, e paletas de ardósia
que representavam animais foram encontrados em vários túmulos. Nas representações artísticas os
animais sagrados usavam um enfeite de cabeça que os identificava com o deus que encarnavam. O
disco solar com o uraeus era o enfeite mais comum, mas existiam outros como veremos aqui. Nas
épocas mais primitivas os animais eram adorados em si mesmos. Com o passar dos séculos passou­se
a entender que o deus não residia em cada vaca ou em cada crocodilo. O culto era dirigido a um só
indivíduo da espécie, escolhido de acordo com determinados sinais, com determinadas características
do corpo e entronizado num recinto especial. Tais animais eram considerados a imagem viva do deus,
o corpo no qual a divindade havia decidido habitar para viver entre os homens. A eles eram dedicados
honras e cuidados especiais e ao morrerem os animais sagrados eram cuidadosamente mumificados e
sepultados em cemitérios exclusivos. Essa idolatria cresceu a partir do Império Novo (c. 1550 a 1070
a.C.) e no Período Tardio, iniciado aproximadamente em 712 a.C., na tentativa de reforçar a religião
nativa diante das estrangeiras, nasceu uma zoolatria ilimitada abrigando novamente a concepção de
que cada touro, carneiro ou crocodilo podia encarnar a divindade.
 OS ESCRITORES CLÁSSICOS ACHAVAM que o culto dos animais era objeto no
Egito de uma doutrina secreta. Se dissesse porque são sagrados os animais, diz o historiador grego
Heródoto (aprox. 480­425 a. C.), me introduziria nas coisas divinas, coisas que evito antes de tudo
narrar. Diodoro de Sicília, outro historiador grego, também diz que o culto estranho e incrível que os
egípcios rendem aos animais oferece grandes dificuldades para aquele que investiga suas causas; os
sacerdotes possuem uma doutrina secreta sobre ditas causas.
 O EMINENTE ARQUEÓLOGO Gaston Maspero ensina:
O antigo Egito rendeu culto aos animais, e cada nomo (província) alimentava, junto a seu deus­
homem, um deus­animal, que submetia à veneração dos fiéis (...) todos esses animais foram em
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princípio adorados como tais; alguns, como o leão, a esfinge, o crocodilo, porque eram temidos e
neles reconheciam força, brio, agilidade superior à do homem; outros, como os bois, o ganso, o
carneiro, porque eram bons servidores do homem, facilitando­lhe a vida. Mais tarde, modificou­se a
primeira idéia, ao menos entre os teólogos, e o animal cessou de ser deus, para converter­se em
morada, tabernáculo vivente, o corpo, no qual os deuses infundiam, por assim dizer, uma partícula de
sua divindade. O falcão foi encarnação de Hórus, e não Hórus em si, o chacal e o boi foram
encarnação de Anúbis e Ptah, porém não Anúbis e Ptah pessoalmente. A partir de então, os deuses
foram concebidos indiferentemente em sua forma animal ou em sua forma humana, e algumas vezes
em forma mista, na qual os elementos humanos e animais combinavam­se de acordo com proporções
diversas. Hórus, por exemplo, é ás vezes homem, outras falcão, ora falcão com cabeça humana, ora
homem com cabeça de falcão. Nestas quatro formas é Hórus, sem preferência de uma delas às três
restantes.
 NÃO PODEMOS DEIXAR DE CONSIDERAR que a religião egípcia, ao contrário
do que possa parecerà primeira vista, tinha marcantes aspectos monoteistas. As inúmeras
representações dos deuses do panteão egípcio são evocações dos diversos papéis desempenhados por
um deus único; são facetas do aspecto eterno da divindade. É nesse sentido que devemos entender o
culto que aquele povo rendia a certos animais e até mesmo a certas plantas como é o caso, por
exemplo, da árvore do sicômoro, na qual vivia a deusa Hátor, ou da flor de lótus, associada ao
deus Nefertem. Mas era sobretudo na forma de animais que as divindades se manifestavam a seus
fiéis: Hórus era um falcão; Thoth era um íbis; Bastet uma gata e Khnum um carneiro, para citar
apenas alguns exemplos. Como escreveu Porfírio (234 a 305 d.C.), filósofo da escola de Alexandria,
sob a forma de animais os antigos egípcios adoravam a potência universal que os deuses haviam
revelado nas mais variadas formas viventes da natureza.

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