Buscar

TRABALHO DE SOCIOLOGIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1.     Introdução
 
Por muito tempo, não foi fácil falar sobre idosos no campo jurídico brasileiro. A própria sistematização jurídica do tema costumava ser preconceituosa. Existia o cuidado com o conceito jurídico de idoso apenas para definir limitações civis, penais ou para a aposentadoria. Nem mesmo a política nacional do idoso superava esses limites, pois a Lei n. 8.842/94, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, tem um caráter predominantemente previdenciário e apenas propõe objetivos nacionais. Não traça parâmetros para a socialização do idoso.
A promulgação do Estatuto do Idoso, a Lei n. 10.741/2003, mudou essa condição.  De nota de rodapé em artigos doutrinários sobre direitos fundamentais, exemplo curioso para ilustrar a incapacidade civil ou a imunidade penal, o idoso passou a ser visto como sujeito de direito.
O gigantismo do papel civilizador do Estatuto do Idoso não será explorado nesse artigo. Abordarei, principalmente, sua contribuição para ampliar a participação sociopolítica do idoso pela aplicação do direito constitucional de se deslocar, ou ir e vir. Para abordar o direito a participar da vida social será preciso analisar a questão da acessibilidade.
Tanto para pessoas com deficiência quanto para idosos, a acessibilidade terá peculiaridades e exigirá adaptações da sociedade civil. Essas adaptações serão analisadas em seus pressupostos filosóficos e sociológicos assim como em suas diretrizes sociojurídicas.
 
2.     O idoso como sujeito de direitos
 
“Idoso” e “velho” costumam ser usados como sinônimos. Contudo, “velho” mais facilmente designa uma limitação como aspecto absoluto da existência de alguém, como se fosse possível definir uma pessoa pelas suas perdas de vigor e do funcionamento dos sentidos. Como critério que não seja meramente depreciativo, o Estatuto usou a denominação “Idoso”. Pois, a idade avançada será o parâmetro genérico para o tratamento diferenciado de quem há mais tempo está vivo. Não será, portanto, pela limitação, mas pela longevidade, que será sujeito de direitos segundo o Estatuto do Idoso.
Tanto o atual Código Civil, em seu art. 1.641, quanto o Estatuto do Idoso, em seu art. 2º, definem como idosos aqueles que tiverem idade igual ou superior a sessenta anos. Os diferentes graus da velhice não serão levados em consideração, pois não é possível considerá-los no cotidiano com facilidade. Marco Antonio Vilas Boas lembra um documento do SESC de Minas Gerais que assim se refere a essa uniformização:
“O homem é uno, sua vida é uma: ela não se divide em períodos como a juventude, a maturidade, a velhice, mas continua e se transforma. Cada um de seus elementos tem seu modo de viver, e, portanto de evoluir e regredir. A noção de um limiar de envelhecimento varia e parece muito discutível. A transformação insidiosa que fará do adulto um velho se desenrola em várias dezenas de anos” (apud BOAS, 2005, p. 4).
Não é à toa que, em seu art. 2º, o Estatuto não apenas informa que o idoso tem “todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana”, mas tem direito a todas as oportunidades para preservar sua condição física e mental atual e continuar se aperfeiçoando em todos os sentidos. Todos os direitos sociais previstos no art. 6º da Constituição Federal, bem como a saúde como prevista no seu art. 196, serão garantidos ao idoso.
A Constituição Federal assegura, também, em seu art. 230, que a família, a sociedade e o Estado devem ser solidariamente responsáveis por assegurar ao idoso a sua participação na comunidade. Infelizmente, a Constituição restringia a defesa dos direitos do idoso a terceiros, não o considerando como sujeito ativo de seus direitos, quando afirma que a família, a sociedade e o Estado defenderão sua dignidade e seu bem-estar.
O Estatuto do Idoso foi inovador nesse sentido. Em seu art. 8º, o envelhecimento é considerado um direito personalíssimo. Pois, é inato da pessoa, impossível de transferir a qualquer outro ou, como prefere Boas, uma característica do “próprio segredo de sua individualidade” (BOAS, 2005, p. 15). Em seu art. 10, o Estatuto prevê que o idoso seja visto como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais. Assegura, pois, a presunção de independência do idoso. Não será preciso considerá-lo a partir do que biologicamente o limita, mas da sua posição social como cidadão.
 
3.     Princípios específicos dos direitos do idoso
 
A Constituição trouxe grande auxílio para a sistematização dos direitos das pessoas idosas. O primeiro passo foi à utilização da expressão “idoso”. Em tempos de eufemismos, a palavra deixa de ser vista como ofensiva, não sendo necessário substituir por “melhor idade”, “terceira idade”, entre outras expressões. Ao unificar a nomenclatura, a lei trouxe um ponto de partida comum para as reflexões. Além disto, genericamente, ficaram assegurados os direitos à saúde, à educação, ao transporte público entre outros direitos que podem ser encontrados atribuídos também à população em geral.
Até a chegada dos anos 1990, apenas poderiam ser encontrados dispositivos genéricos, de aplicação continuamente dependente da promulgação de novas leis. A década de 1990 foi ágil no surgimento de estatutos. Este modelo legislativo tornou-se uma prática constante para a defesa de grupos específicos da sociedade brasileira, como crianças e adolescentes, consumidores, torcedores, entre outras categorias. Apesar do Estatuto do Idoso ter surgido na década seguinte, é uma conseqüência do êxito alcançado pelo sistema de proteção especializada em desenvolvimento.
Do mesmo modo, foi pródiga no surgimento de Conselhos Deliberativos ou Consultivos. No caso do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI (Lei n. 8842, de 4 de janeiro de 1994). É importante observar que apenas com a promulgação do Decreto n. 5.109, de 17 de junho de 2004, portanto dez anos após a criação do CNDI, seu caráter deixou de ser meramente consultivo para se tornar consultivo. Porém, suas tarefas ainda não estão claras e os pressupostos necessários para a efetivação da razão para sua existência, como observa Faleiros:
“Resta ainda pressionar o Governo para que o CNDI tenha reais condições de funcionamento, com uma Secretaria Executiva provida de recursos e de pessoal competente. Cabe à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República prover o apoio administrativo e os meios necessários à execução dos trabalhos do CNDI, das comissões permanentes e dos grupos temáticos” (2006, p. 91). A efetivação de um conselho estadual em cada estado-membro da Federação e do próprio CNDI ainda não superam seu caráter programático. Porém, já se torna possível examinar quais princípios são definidos pela Lei n. 8842/94. Veremos que ela não apenas sistematiza a Política Nacional do Idoso, mas delimita os princípios fundamentais dos direitos do idoso.
 
3.1  O princípio da autonomia
 
A participação política do idoso é o aspecto central da política nacional. O idoso será “o principal agente” das políticas públicas sobre sua vida (art. 3º, IV), assim como será de responsabilidade do Estado de direito, da sociedade civil e de sua própria família assegurar que ele possa defender todos os seus próprios direitos (art. 3º, I). Em princípio, presume-se, portanto, que ele seja autônomo. A autonomia das organizações que o representem também é valorizada (art. 4º, II), assegurando-lhe, assim, o direito constitucional à associação para fins pacíficos.
Não apenas é presumida a autonomia, mas é estimulada. Para isso, a educação à distância voltada especialmente aos idosos e a criação de universidades abertas são partes integrantes da Política Nacional do Idoso (art. 4º, III, “f”). Já há resultados preliminares sobre a importância das universidades abertas na melhora das condições de saúde desta parcela da sociedade. Um exemplo é a pesquisa realizada por Lucy Gomes e Marta Carvalho Loures. As pesquisadoras examinaram a incidência de depressão entre os idosos que foram alunos do curso da Universidade Aberta à Terceira Idade,da Universidade Católica de Goiás (UNATI/UCG). Segundo o estudo realizado, a incidência de depressão entre os alunos no começo do curso era de 52,94% e, ao término, de 38,82%. Apesar de ainda se manter uma taxa elevada, a queda foi muito acentuada, lembrando que o curso dura apenas um ano.
Um dos objetivos do curso é, de fato, reduzir a incidência de depressão por meio do surgimento de novos relacionamentos afetivos, de amizade e de confiança (GOMES; LOURES, 2006, p. 151), mas o resultado também tornou perceptível que, à medida que o idoso volta a ser o sujeito ativo da própria vida os fatores depressivos regridem em seu cotidiano. Apesar de defender a autonomia do idoso, os mecanismos para sua efetivação dependerão de terceiros. A lei é frágil ao ser exageradamente programática. São trazidas por ela apenas diretrizes, sem qualquer caminho para a efetivação da maioria das suas propostas.
 
3.2 Princípio da responsabilidade social
 
Ao mesmo tempo em que o idoso é visto como detentor de sua presumida autonomia como sujeito de direitos, a responsabilidade da sociedade também é abordada de modo relevante. Constitui-se como um segundo princípio dirigente dos direitos do idoso, o que não é uma vantagem sistemática. São muitas as referências aos deveres da sociedade. Dividem-se na Política Nacional do Idoso no dever da informação por parte dos órgãos públicos, da ausência de qualquer forma de discriminação por toda a sociedade, bem como desta facilitar a integração genérica do idoso às diferentes gerações.
A gestão desta responsabilidade seria um atributo fundamental do Conselho Nacional do Idoso. Apesar de estar presente na ementa da lei, todos os artigos que a ele correspondiam foram vetados. A lei, pois, perdeu pressupostos para sua efetividade, restando o aspecto de unificador do sistema. Como bem critica Azevedo:
“(...) se não for entendida como obrigatória a criação dos Conselhos do Idoso nos municípios, qual sentido teria estarem eles tão bem definidos, com competências tão bem determinadas e funções tão essenciais e relevantes em diversas leis?” (in PINHEIRO, 2006, p. 43).
Em vez desta lei regulamentar os dispositivos constitucionais, sua promulgação trôpega transferiu essa responsabilidade a uma futura lei posterior. Repete-se, assim, o velho exercício de transferência de responsabilidades, reproduzindo o vício constitucional. Felizmente, o Estatuto do Idoso não persistiu na mesma falha de modo absoluto, permitindo a regulamentação e efetivação dos princípios da Política Nacional do Idoso.
 
4.     A inovação sociojurídica do Estatuto do Idoso
 
Quanto o Estatuto do Idoso regulamenta dispositivos constitucionais e alterna “pessoa idosa” e “idoso”, além de se referir ao envelhecimento como um processo humano, não como uma degradação biológica, traz consigo grandes inovações sociojurídicas. Examinaremos tão somente aquelas pertinentes ao exercício da autonomia do idoso, para acentuar a efetivação de um dos princípios fundamentais da Política Nacional do Idoso.
Em seu art. 8º, o envelhecimento é descrito como um “direito personalíssimo”, o que, segundo Benevides é uma conseqüência dos direitos à vida, dignidade e igualdade, compensando a situação hipossuficiente do idoso (apud PINHEIRO, 2006, p. 47). Há, assim, um retorno ao art. 3º, IV, da Constituição Federal, que veta qualquer discriminação por idade. Além disso, na condição de direito personalíssimo, apenas pode ser exercido pelo próprio idoso. Nesta condição, a percepção da velhice e dos limites a ela correspondentes dependerá plenamente da participação do idoso, sendo resguardados os limites da sua capacidade de participação.
Durante o art. 10, o direito à liberdade corresponde a: I – ir e vir; II – opinião e expressão; III – crença e culto religioso; IV – prática de esportes e diversões; V – participação na vida familiar e comunitária; VI – participação na vida política; VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
A liberdade de expressão e a manifestação de idéias fundem-se num mesmo grande e amplo direito à liberdade. A ênfase na “participação” e a inclusão inovadora da “faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação” permitem que o idoso possa autodeterminar sua vida. Como observa Freire: “O Estado, ao assegurar a liberdade de participação política do idoso, não deve assumir uma postura estática, mas promover incessantemente a participação do idoso na vida política” (in PINHEIRO, 2006, p. 111).
Não se encerra nestes aspectos. O art. 12, ao se referir aos alimentos prestados na esfera cível aos idosos, permite ao idoso optar, entre seus descendentes e ascendentes, optar quem serão os prestadores.
 Do mesmo modo que na esfera do Direito Civil, em termos previdenciários também há mudança de compreensão do idoso. No exercício do direito à saúde, poderá o idoso escolher entre possíveis tratamentos (art. 17). Resguarda, assim, o art. 7º, III da Lei n. 8.080/90, segundo o qual um dos princípios do Sistema Único de Saúde é “a preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral”.
Dando seqüência sistemática, o direito à educação, já abordado na Política Nacional do Idoso, adquire novos matizes no Estatuto. A educação tanto consistirá no acesso à educação formal, por meio da adequação por meio das instituições de ensino dos seus currículos, das suas metodologias e do material didático às necessidades dos idosos, quanto de cursos especiais que permitam “sua integração à vida moderna” bem como sua participação em comemorações de caráter cívico e cultural “para transmissão de conhecimentos e vivência às demais gerações, no sentido da preservação da memória e da identidade culturais” (art. 21). Portanto, o idoso não apenas poderá ser aluno, mas também haverá o dever dos órgãos responsáveis, sejam eles da iniciativa privada ou públicos, de garantir a reciprocidade do processo educacional, o feedback, com a troca de experiências dos idosos sendo, por lei, estimulada durante a prática educacional. É uma grande mudança legislativa, uma vez que não apenas assegura o direito à educação, mas define diretrizes para a educação de idosos.
 
5.     Acessibilidade por idade avançada
 
Sempre que nos referimos à participação do idoso, é preciso lembrar-se daqueles cuja limitação derivada do envelhecimento inviabiliza, no todo ou em parte, sua integração social. Ao mesmo tempo, precisamos recordar que as limitações não são apenas físicas ou mentais, mas a proteção estatal (por meio de asilos e hospitais) e familiar pode inviabilizar a autonomia do idoso. Do mesmo modo, as dificuldades espaciais encontradas para deslocar-se no espaço podem torná-lo presumido como hipossuficiente apenas por estar preso ao espaço seguro do seu lar por ausência de acessibilidade. O idoso que não pode participar do mundo circundante, não pode testar seus limites. Parecerá que o quarto, onde é preso num ambiente que o protege de circunstâncias das quais ele não sabe se precisa ser protegido, é o mundo completo. Monteiro assim se refere a essa condição:
“Quando toca o mundo, ela toca a si mesma. Por isso, quando deixa de se relacionar com o seu meio, o indivíduo passa a ignorar a si próprio, se perdendo dentro de seu corpo. O espaço se contrai, diminuindo suas escolhas, propiciando a produção de um estereótipo social. Assim, o outro é sempre uma oportunidade de o indivíduo ter a sensação de si mesmo” (2003, p. 145).
Quem, durante sua vida adulta, teve oportunidades de ampliar seu mundo, ao vê-lo reduzido a alguns móveis do passado apertados num quarto, tem a redução de si mesmo. Não poderá conhecer o mundo em sua diversidade e constante ampliação de significados coletivos. Amontoar móveis funciona em grande número de instituições como amontoar pessoas que têm como única característica comum a idade.
Como observa Elias, não se presta atenção a, subitamente, pessoas que nunca tiveram quaisquer laços comuns serem obrigados a conviver, sem memórias semelhantes nem práticas comuns. Uma vez que os objetos pessoais ficam presosno quarto, ficará mais fácil que também esse idoso passe cada vez mais tempo no espaço que lhe resta à reprodução da sua individualidade (ELIAS, 2001, p. 85). À medida que o idoso não pode produzir seu próprio espaço, pressuposto pelo poder público, por instituições privadas ou por seus familiares sem a sua participação, morre a sua capacidade de experimentação da vida. Sem a alimentação dos sentidos, eles definham e a biologia rapidamente poderá atribuir, mais como álibi do que como constatação científica, que seria um natural processo de envelhecimento. Sobre isso, assim se expressa Monteiro:
“A exclusão privada favorece o processo de descorporificação, o desaparecimento da pessoa, porque sem corpo não há existência, deixando lugar apenas para o diagnóstico. Assim, todas as perguntas não ficam sem respostas, surgem justificativas ideológicas de que o envelhecimento se explica estritamente pela biologia mecanicista” (2003, p. 146).
Deste modo, para deixar de ver o idoso como apenas um paciente geriátrico, respeitando-o como portador de uma compreensão própria do mundo, como um sujeito ativo da sociedade, o respeito à sua capacidade de se deslocar é uma imposição social e um direito igualmente personalíssimo.
 
6.     Conclusão
 
A Constituição Federal permitiu ao idoso ter proteção do Estado de Direito contra discriminação, tendo sua dignidade resguardada e a proteção às suas necessidades específicas. A Política Nacional do Idoso regulamentou quais seriam essas necessidades específicas e em que condições seriam consideradas a dignidade propriamente do idoso como objeto de proteção. Além disso, sistematizou princípios específicos dos direitos dos idosos e como proceder processualmente à defesa do idoso.
O Estatuto do Idoso inovou ao permitir ao idoso que se proteja. Passa a ser visto como sujeito ativo de direitos, sendo pressuposta sua autonomia na defesa dos seus direitos. Resta a prática da nova lei. É preciso exercitá-la, conhecendo-a e disseminando as possibilidades de aplicação. Contudo, para não ser incoerente com seus princípios, essa prática, esse conhecimento e essa divulgação devem atingir, necessariamente, os idosos. Caso contrário, deixariam mais uma vez de serem agentes ativos sobre suas próprias vidas para depender por completo da boa vontade do mundo circundante.
O ESTATUTO DO IDOSO
O Estatuto do Idoso é um verdadeiro exercício bioético. Começou pelo que poderia chamar de Comissão de Bioética, já que ele é fruto de trabalho conjunto de parlamentares, especialistas, profissionais das áreas de Saúde, Direito, Assistência Social e das entidades e organizações não governamentais voltadas para a defesa dos direitos e proteção aos idosos.
Tudo está contemplado no Estatuto: a saúde, a educação, a habitação, a ação do Ministério Publico para acelerar processos em defesa do idoso.
Poderíamos dizer que o Estatuto do Idoso representa um exercício de cidadania no resgate da dignidade da pessoa humana (contemplado na Bioética). De fato, o Estatuto: - estabelece como dever da família, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, o efetivo direito à vida, à saúde, à alimentação, ao transporte, à moradia, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária; - transforma em crime, com penas que vão até 12 anos de prisão, maus tratos a pessoas idosas; - proíbe a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados por idade; - asseguram o fornecimento de medicamentos, especialmente os de uso continuado, como para tratar hipertensão e diabetes; - assegura aos idosos com mais de 65 anos que vivem em famílias carentes o benefício de um salário mínimo; - garantem prioridade ao idoso na compra de unidades em programas habitacionais públicos. Esses são alguns direitos registrados no Estatuto do Idoso.
O Estatuto do Idoso cria também uma cultura bioética: o maior legado que podemos deixar para as gerações que estão se constituindo é a educação voltada para o respeito aos direitos humanos. Só é possível uma harmonia que escapa da violência, dos maus-tratos na infância e na velhice, dos salários indignos, das piores condições de sobrevivência, do sofrimento e do abandono social quando existir o respeito e a valorização do outro, da natureza e da humanidade. A velhice deve ser considerada como a idade da vivência e da experiência, que jamais devem ser desperdiçadas. O futuro será formado por uma legião de pessoas mais velhas e se não estivermos conscientes das transformações e preparados para enfrentar esta nova realidade, estaremos fadados a viver
em uma civilização solitária e totalmente deficiente de direitos e garantias na terceira idade.
Hoje, em Bioética, fala-se cada vez mais do paradigma de proteção (como dever do Estado) ao vulnerável, isto é, pessoas ou grupos que, por quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação reduzida como, por exemplo, os idosos.
	
METODOLOGIA:
Como não poderia deixar de ser, o Estatuto do Idoso foi uma fonte básica para a realização deste trabalho, além da utilização bibliográfica para o entendimento de categorias utilizadas nesse documento, tais como: idoso, terceira idade, cidadania, velhice (Debert, Guita/ Néri, Anita/ Cachione, Meire/ entre outros). Além disso, observou-se situações em que se aplicariam os preceitos assegurados pelo Estatuto enquanto exercício da cidadania na terceira idade e foram realizadas entrevistas com a população alvo. Uma das principais preocupações na interpretação das entrevistas foi/é compreender como se constrói a representação da velhice nessas classes de menor poder aquisitivo, tendo como referência a aplicabilidade do Estatuto do Idoso.
	CONCLUSÕES:
	
Sabe-se que o Estatuto do Idoso não irá eliminar de uma vez, nem definitivamente, as discriminações e violências praticadas contra a pessoa idosa. Ele surgiu como mais um instrumento de defesa e garantia de direitos das pessoas acima de 60 anos.
Porém, nas classes menos favorecidas economicamente, a aplicação desses direitos mostra-se mais restrita. Isso se dá, entre outros fatores, pela falta de informação, que impede o exercício efetivo da cidadania, já que, como diz Neidsom Rodrigues, para o exercício desta, o individuo deve ter a capacidade de analisar e compreender a realidade, criticá-la e atuar sobre ela; pela falta de políticas públicas, uma vez que o Estado tem se mostrado incapaz de amparar as necessidades da população idosa.
Há uma distância entre o que garante o Estatuto e o que de fato ocorre. O governo, a sociedade e a família, de modo geral, não oferecem condições que assegurem qualidade de vida para essa população. Assim, a discussão da noção do exercício de direitos mostra-se fundamental no entendimento dessa classe para um reconhecimento social enquanto atores independentes e ativos.

Outros materiais

Outros materiais