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Júri Marcos Paulo Nathália Moreira Nunes de Souza Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 2 Conteúdo Princípios que regem o Júri ........................................................................................... 4 Plenitude de Defesa .................................................................................................. 4 Sigilo das Votações .................................................................................................... 6 Incomunicabilidade ............................................................................................... 7 Soberania dos Vereditos ........................................................................................... 8 Competência do Tribunal do Júri ................................................................................ 8 Genocídio.................................................................................................................... 9 Procedimento do Júri .................................................................................................. 12 Pronúncia .................................................................................................................. 16 Natureza Jurídica .................................................................................................. 16 Suficiência dos indícios de autoria .................................................................... 16 Crime Conexo ....................................................................................................... 17 Prova da existência do crime ............................................................................. 18 Prisão decorrente da pronúncia ........................................................................ 18 Desclassificação ....................................................................................................... 20 Desclassificação própria x Desclassificação imprópria .................................. 20 Impronúncia .............................................................................................................. 21 Natureza Jurídica .................................................................................................. 21 Recurso ................................................................................................................... 21 Crimes Conexos .................................................................................................... 21 Coisa Julgada ....................................................................................................... 22 Absolvição Sumária ................................................................................................. 24 Desclassificação ....................................................................................................... 26 Art. 417 CPP ............................................................................................................... 28 Intimação da pronúncia ......................................................................................... 30 Segunda Fase do Júri .................................................................................................. 34 Preparação do processo para julgamento em plenário................................... 34 Fato novo .................................................................................................................. 34 Desaforamento ......................................................................................................... 36 Plenário do Júri ......................................................................................................... 42 Abertura ................................................................................................................. 42 Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 3 Ausências ........................................................................................................... 43 Escolha dos jurados .......................................................................................... 46 Plenário e sua dinâmica de julgamento ........................................................... 49 Colheita de prova oral ..................................................................................... 49 Debates .............................................................................................................. 52 Tempo reservado para os debates ............................................................ 52 Vedações ....................................................................................................... 54 Lapso temporal para apresentação de prova nova .............................. 56 Apartes ............................................................................................................ 58 Reinquirição de testemunha ....................................................................... 59 Quesitação ............................................................................................................ 60 Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 4 Aula 01 – 23/10/2015 – pt. 01 Princípios que regem o Júri Plenitude de Defesa Art. 5º, XXX, VIII, a, CF Art. 5º, LV, CF. A plenitude de defesa não pode ser justaposta à ampla defesa. A ampla defesa dialoga com o princípio do livre convencimento motivado do juízo. Qualquer tese só poderá ser acolhida quando tiver respaldo legal lato sensu (lei, doutrina, jurisprudência), ou seja, respaldo técnico, já que o juízo deve fundamentar racionalmente suas decisões. O Conselho de Sentença é norteado pela íntima convicção (os jurados julgam conforme a sua convicção), o que potencializa o direito de defesa. Isso torna no plenário do júri a defesa PLENA. Plenitude e limites semanticamente são conceitos excludentes. Pleno não conhece limitação. É a possibilidade de serem articuladas teses defensivas supralegais, sem o menor amparo técnico, que são possíveis no Júri ante o sistema da íntima convicção. A plenitude permite que sejam articuladas teses defensivas supralegais, no que se difere da ampla defesa, que tem limitação ditada pelo princípio do livre convencimento motivado, diferentemente do Conselho de Sentença, que é norteado pelo princípio da íntima convicção. Um argumento comum na nossa sociedade passional é a “legítima defesa da honra”. Juridicamente, é uma excrescência, ante a ausência de proporcionalidade. Imagine a ofensa à honra justificar homicídio! Isso não tem cabimento devido aos valores díspares. Não afasta a culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. Entretanto, se há uma assistida que era arrimo de família, que jogava dinheiro em casa enquanto o marido era um beberrão, fanfarrão, e um dia ela é liberada mais cedo do trabalho, como faxineira, e quando chega em casa encontra o marido na cama com outro. Desesperada, ela pega um facão e dá duas facadas na jugular do marido infiel, matando-o. A defensora não Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 5 pede apenas o privilégio, mas também tenta a absolvição alegando inexigibilidade de conduta diversa. Só subsidiariamente pede o reconhecimento do privilégio. Aliás, há maior probabilidade de vencer a tese da defesa do que da acusação. Esse é um júri ganho. Na nossa sociedade, um caso como esse é júri de absolvição. Consequências: a) É absolutamente nula a quesitação se o juiz não quesitar a referida tese ao argumento de que não teria respaldo legal (S. 156 STF), sendo que o art. 483 CPP reforça a plenitude ao estatuir obrigatoriamente o quesitoabsolutório genérico, dispensando a exigência de detalhamento da tese absolutória nos quesitos1; 1 A S 156 revela que é causa de nulidade absoluta a ausência de um quesito absolutório. O juiz estaria cerceando a plenitude de defesa e deixando de formular quesito de uma tese que foi suscitada pela defesa no plenário. Em reforço à plenitude de defesa, temos hoje obrigatoriamente o quesito absolutório genérico. Imaginemos que o defensor faz um plenário em que se restringe a pedir desclassificação de imputação dolosa contra a vida para outra não dolosa contra a vida. O Conselho pode refutar esse quesito. Ainda assim, o 3º quesito será sobre absolvição. Não há como descartar o quesito absolutório genérico. Ele hoje é obrigatório. Se não for formulado, estará ausente quesito obrigatório, gerando nulidade absoluta. A ausência de quesito obrigatório e quesitos contraditórios entre si são os dois vícios da quesitação passíveis de arguição a qualquer momento. Os demais exigem impugnação pela parte que se sentir prejudicada assim que apresentada a quesitação pelo juiz-presidente, sob pena de preclusão, nos termos do art. 571, VIII, CPP. As nulidades no Plenário devem ser arguidas a partir do momento em que forem ocorrendo. Quando ocorre a nulidade, ela deve ser prontamente apontada pela parte. Quando o juiz Presidente apresenta quesitos às partes, se elas tiverem “senãos” aos quesitos, isso deve ser prontamente deduzido, do contrário ocorrerá preclusão. Há duas exceções a isso – ausência de quesito obrigatório e quesitos contraditórios entre si que conduzem a respostas contraditórias. Art. 565 CPP – ninguém pode arguir nulidade de um ato para o qual deu causa. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 6 Sigilo das Votações Atualmente, não há necessidade de se revelar o número de votos afirmativos e negativos, conforme estabelecia o CPP originário no então art. 487, cuja regra foi reproduzida no atual art. 488, sem esta exigência. O julgamento se dá todo por maioria, sem mencionar o número de votos positivos e negativos. Antes, sempre que havia resultado unânime, o sigilo das votações caía por terra, porque sabíamos como votaram os 7 jurados. Isso nunca ensejou a nulidade do plenário. Mas isso era algo que incomodava muito a doutrina. A crítica doutrinária foi implementada na reforma de 2008. Diante do atual cenário, a Súmula 206 STF transmuda-se de nulidade relativa para absoluta porque não revelado o placar de cada votação, não se pode descartar a influência do jurado impedido ou suspeito no resultado final do julgamento. Os jurados permanecem incomunicáveis. Essa incomunicabilidade não é absoluta, versa sobre os fatos que constituem a acusação. Os jurados não podem conversar sobre os fatos narrados na denúncia e que foram admitidos na pronúncia, nem sobre fatos a ele correlatos. Mas nada impede que conversem sobre amenidades, só não pode ser relacionado ao que está sendo julgado. Qualquer contribuição que o jurado tenha no resultado final do julgamento será quantitativa. Não se pode dizer que um jurado influenciou o animo do outro, a influência é quantitativa. Segundo o STF, a participação de jurado impedido ou suspeito é causa de nulidade do plenário. Antes, nulidade relativa. Ainda que excluíssemos o voto desse jurado, isso não alteraria o veredito de 7x0, 6x1, 5x2. Se o resultado fosse 4x3, anularíamos o plenário, porque um dos jurados ser impedido ou suspeito foi determinante para o resultado do julgamento, sendo o prejuízo escancarado. Eventualmente, um 5x2 também poderá ser nulificado por incompatibilidade entre os jurados. Por exemplo, marido e mulher integram o mesmo Conselho de Sentença e só posteriormente se conhece que eles eram casados à época. Haverá 2 jurados incompatíveis / impedidos. Logo, o 5x2 seria alcançado pela nulidade nessa hipótese. Atualmente, não há mais esse placar, que não é documentado. Apenas diz que por maioria se entendeu que a conduta existiu, que por maioria se absolve, etc. O MP descobre que um dos jurados era a amante do réu. Posso Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 7 descartar a possibilidade de esse julgamento ter sido 4x3. Posso descartar a possibilidade de esse julgamento ter sido 4x3? Não, porque isso não está documentado. A nulidade que era relativa se torna absoluta. Haveria uma forma de se conservar a S. 206 STF no seu formato originário, ou seja, como nulidade relativa e não absoluta? Sim, porque não deixaríamos de respeitar o sigilo das votações. Nada impediria que o Juiz-Presidente estabelecesse ao final de cada votação que o resultado NÃO foi 4x3, ou que o resultado foi SIM 4x3. Se você diz que o resultado foi 4x3, não há como saber quem votou, como se deram os votos, e se preserva o sigilo. Se você diz que o resultado NÃO foi 4x3, preserva o sigilo, porque pode ter sido 7x0, 6x1, 5x2. Se revelar-se posteriormente impedimento ou suspeição de um jurado, podemos ainda trabalhar a S 206 STF como uma nulidade relativa e não absoluta. Se não houver essa ressalva pelo magistrado, passamos a trabalhar com nulidade absoluta. Incomunicabilidade A quebra da incomunicabilidade é causa de nulidade absoluta do Plenário porque não há como precisar até onde o entendimento explicitado indevidamente por um jurado teria influenciado os demais, ressalvada a hipótese em que o resultado do julgamento tenha sido contrário ao entendimento indevidamente externado do jurado, pois comprovadamente não influenciou o Conselho. Segundo os livros em geral, a quebra da incomunicabilidade é causa de nulidade absoluta do Plenário, o que em regra é verdade, uma vez que pelo sistema da íntima convicção não temos como precisar até onde essa opinião influenciou os demais jurados. Mas se o jurado externa uma opinião e o resultado é o contrário dessa opinião, não há prejuízo e, portanto, não há nulidade a ser declarada. O sigilo das votações perpassa pela incomunicabilidade dos jurados. É um sigilo externo e interno, para que os jurados não saibam como os demais pares votaram. Nosso sistema é o FRANCÊS e não o norte-americano. No norte-americano, há troca de ideias entre os jurados. Um jurado mais articulado tende a capitanear os demais. Por exemplo, um estudante de Direito pode ser jurado e poderia acabar convencendo os demais, o que desnaturaria a ideia de um júri POPULAR. O veredito deixará de ser representativo da vontade do povo para ser representativo da maior persuasão dum dos 7 jurados. A participação do jurado impedido ou suspeito, no sistema norte-americano, sempre seria causa de nulidade absoluta. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 8 Pt. 02 Soberania dos Vereditos V. aula sobre art. 593, III, CPP (em recursos) e a aula sobre revisão criminal, bem como a temática envolvendo reformatio in pejus de ofício no júri (art. 617 CPP). Competência do Tribunal do Júri - processar e julgar crimes dolosos contra a vida. Este é o núcleo mínimo de competência do Júri. O legislador infraconstitucional pode criar outras hipóteses de julgamento pelo Tribunal do Júri, o que ampliaria o alcance de uma garantia constitucional. O que o legislador não pode é restringir a competência do Tribunal do Júri. O STF validou lei catarinense segundo a qual crime doloso contra a vida de mulher no âmbito doméstico-familiar tem a 1ª fase julgada no JVD – Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e, sobrevindo a pronúncia, vai-se ao Júri. Invocou-se o art. 125, §1º, CF, salientandoque a competência do Conselho de Sentença resta preservada. Esse precedente merece críticas porque se retirou uma atuação do Júri. Apenas SE sobrevier a pronúncia é que o caso irá para o Tribunal do Júri. E SE houver a absolvição sumária no JVD? Será uma absolvição sumária pertinente a crime doloso contra a vida transitando em julgado num JVD, o que inegavelmente representa supressão de competência do Tribunal do Júri. Quais foram os argumentos dessa posição? - autonomia política administrativa dos Tribunais no que toca à sua própria organização (art. 125, §1º, CF); - de toda forma a palavra final do crime doloso contra a vida será do Conselho de Sentença. Essa 2ª fundamentação só se aplica se o réu for pronunciado. Do contrário, pode haver trânsito em julgado e CJ de crime doloso contra a vida fora do Tribunal do Júri, em JVD. Em termos de legislação federal, a competência do Tribunal do Júri não foi ampliada. Excluímos os crimes qualificados pelo resultado morte. Até porque o dolo não é atentar contra a vida, mas sim contra outro bem jurídico. S. 603 STF Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 9 Potencializaremos essa S 603 STF para qualquer crime qualificado para o resultado morte: lesão corporal qualificada pela morte, extorsão mediante sequestro qualificada pela morte, estupro qualificado pela morte, latrocínio, etc. Genocídio Art. 1º, Lei 2.889/56 -> crime de genocídio. O crime de genocídio tem 5 modalidades. As alíneas b, c, e não envolvem práticas dolosas contra a vida, de modo que a competência será de VARA CRIMINAL FEDERAL (grave ofensa a direitos humanos, a justificar competência da Justiça Federal). Cada alínea remete a pena cominada para certo injusto, sendo fácil identificar se há práticas dolosas contra a vida. A alínea ‘b’ se reporta a penas da lesão corporal. ‘c’ reporta às penas do art. 270 CP. ‘e’ remete às penas do sequestro ou cárcere privado. Logo, nessas alíneas não há crime doloso contra a vida, de modo que a competência é de VARA CRIMINAL FEDERAL. As alíneas ‘a’ e ‘d’ geram dúvidas. ‘a’ remete a penas do homicídio qualificado e ‘d’ remete a penas do aborto. Uma posição minoritária pondera que a competência é do Júri, porque este é garantia fundamental, para a qual se deve conferir a máxima efetividade. Enquanto garantia fundamental, que deve receber máxima efetividade, incluiríamos o genocídio na competência do Tribunal do Júri. Essa posição NÃO prosperou no STJ / STF, por conta do bem jurídico tutelado. No genocídio, o bem jurídico perpassa pela subsistência de raça, religião, etnia, etc. Existe um especial fim de agir – exterminar total ou parcialmente raça, nação, etnia, religião. Por isso, em razão da matéria, também nas alíneas ‘a’ e ‘d’ haverá competência de Vara Criminal Federal. Como o bem jurídico tutelado no genocídio extrapola a vida, objetivando a subsistência de raça, nação, etnia ou religião, a competência será, em razão da matéria, da Vara Criminal Federal também nas alíneas ‘a’ e ‘d’ do art. 1º da Lei 2.889/56. Aplicamos o princípio da consunção? Na alínea ‘a’, temos homicídios; na alínea 'd’, temos abortos. Só chegamos ao extermínio total ou parcial de raça, nação, etnia ou religião por conta dos homicídios e dos abortos perpetrados (art. 1º, L 28898), sendo razoável pensarmos no p. da consunção. Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence assim entendem. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 10 Gritou muito no STF a razoabilidade sob o prisma da proporcionalidade, e isso acertadamente. O genocídio tem penas remetidas. Se eu aplicasse o p. da consunção, tanto faria matar 1 índio ou 100. Se matasse 1 índio por ser índio, a tipificação é homicídio qualificado por torpeza. Se mata 100 índios, a pena seria a mesma. Seria o mesmo teto para ambas as situações. É uma situação em que primeiro vem a conclusão, depois se cria a fundamentação. A fundamentação versou sobre o p. da consunção na sua dimensão originária, segundo a qual o p. da consunção só se aplica a crimes atentatórios ao mesmo bem jurídico. Adotou-se a posição de MAURACH, segundo o qual o p. da consunção só se aplica a crimes que atentem contra o mesmo bem jurídico. Com base nisso, o STF entendeu que os crimes subsistem autonomamente. Os homicídios ou abortos atentarão contra a vida, ao passo que o genocídio atenta contra a existência da raça, nação, etnia ou religião. No dia-a-dia, essa não é a orientação que o STF abraça, tanto que o falso é absorvido pelo estelionato quando o falso se exaure no estelionato. Mesmo quando o falso se exaure no estelionato, por Maurach não poderíamos falar em consunção, já que o falso atenta contra a fé pública, enquanto que o estelionato é crime contra o patrimônio. Se o STF adotasse Maurach ao pé da letra, não haveria consunção do falso pelo estelionato. Em apreço à razoabilidade sob o prisma da proporcionalidade, não se aplica o p. da consunção entre o genocídio e os ‘n’ abortos ou homicídios, porque do contrário seria neutro em termos de escala penal em abstrato matar um ou mil. Os homicídios ou abortos subsistem autonomamente em relação ao genocídio. Teríamos N homicídios ou abortos. Há liame subjetivo entre eles, qual seja, exterminar total ou parcialmente a raça, etnia, nação ou religião. Entre os homicídios ou abortos, há crime continuado, mais o genocídio. Entre o genocídio e tal crime, haverá o concurso formal imperfeito (art. 70, caput, 2ª parte, CP), já que geralmente há o mesmo contexto espacial, temporal e mecânico. Ao metralhar 100 índios, eu pretendi matar cada um dos 100 para com isso exterminar parcialmente a raça indígena. Se for hipótese de um serial killer que matou 2 índios por dia durante 2 meses, entre os homicídios haverá crime continuado. Entre os homicídios e o genocídio, haveria um cúmulo material (art. 69 CP). De todo modo, somaríamos a pena do genocídio com a pena dos homicídios ou abortos. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 11 Quanto às penas dos homicídios ou abortos, aplicaremos as regras da continuação delitiva. Isso alterará a competência. Em razão da matéria, o genocídio será julgado na VARA CRIMINAL FEDERAL. Mas esse genocídio conviverá com vários homicídios ou abortos, que pedem competência do Tribunal do Júri. Se houver concurso formal, temos hipótese de continência (art. 77, II, CPP) a justificar unidade de processo e de julgamento. Se houver cúmulo material, haverá conexão lógica entre os crimes, já que só chegamos ao genocídios através dos N homicídios ou abortos. Concorrendo Tribunal do Júri com a Vara Criminal Federal, vai tudo para o Tribunal do Júri Federal. Ao final, isso será julgado no TRIBUNAL DO JÚRI, mas não em razão da matéria, mas por conexão e/ou continência. Como os crimes dolosos contra a vida subsistem autonomamente em relação ao genocídio, a competência acaba sendo do Tribunal do Júri pelas regras de conexão ou continência, e não em razão da matéria. - em razão da matéria: Vara Criminal Federal - pelas regras de conexão ou continência: Tribunal do Júri Pt. 03 Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 12 Procedimento do Júri O procedimento do júri é bifásico ou escalonado. A 1ª fase do procedimento do júri é dirigida ao judicium accusationis, ou seja, o juízo de admissibilidade da acusação. A 2ª fase se reserva ao julgamento da causa propriamente dito, ou seja, o judicium causae. A 1ª fase é idêntica ao rito ordinário, com alguns complementos: São oito testemunhas (art. 406, §3º, CPP), não se computandoaqui informantes ou eventual vítima sobrevivente. São oito testemunhas por crime e por réu. Cada réu tem direito de arrolar oito testemunhas pro crime. Em princípio, a audiência de instrução, interrogatório e julgamento deve ser concentrada, sem cisão. Art. 394, §§ 2º e 5º, CPP. O procedimento comum é aplicável subsidiariamente aos procedimentos especiais. Dentro destes, inclui-se o Júri. O §5º informa que dentre as vertentes do procedimento comum, aplicaremos o rito ordinário. No rito ordinário, temos a possibilidade de cisão da instrução (arts. 402 e 404 CPP), mais a possibilidade de serem apresentadas alegações finais através de memoriais. Isso se aplica à 1ª fase do júri. Se estamos numa audiência de interrogatório, instrução e julgamento complicadíssima e um defensor público substituto está ali, pode achar mais pertinente requerer, pela aplicação subsidiária do rito ordinário aos demais, com previsão de apresentação de alegações finais por memoriais quando a causa for complexa, tal apresentação de memoriais. Se tem 1º contato na audiência com o preso, o que fica minimizado com as audiências de custódia, pedirá a cisão (arts. 402 e 404 CPP). Pode haver videoconferência na 1ª fase do Júri (art. 185, §4º, CPP). Autores como Nucci propõem a aplicação do art. 409 CPP ao procedimento comum ordinário e sumário, para que não seja o MP surpreendido com eventual absolvição sumária, fortalecendo o contraditório. Tal orientação subverte o princípio da especialidade, sem contar que o contraditório já foi observado. denúncia recebimento citação resposta à acusação art. 409 CPP: pronunciamento do MP sobre a resposta à acusação Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 13 Essa posição do Nucci não é adotada, porque significaria aplicar regra especial ao regramento geral. O que nasceu para ser especial se generalizaria. O contraditório já foi observado: a denúncia é a tese; a resposta à acusação é a antítese; que venha a decisão do juízo com a síntese. O STF não exige essa audiência, mas, se for oportunizada, tampouco caracterizaria constrangimento ilegal. Ou seja, por detrás do discurso do STF não há uma aprovação à proposta do Nucci, já que a audiência do MP não é peremptória. Mas os Tribunais Superiores também não entendem que o excesso de zelo do magistrado, abrindo essa oportunidade de manifestação, enseje alguma nulidade por violação a contraditório. Como já há absolvição sumária do art. 415 CPP, parte da doutrina pondera a inaplicabilidade do art. 397 do CPP, até para não macular a competência constitucional do Conselho de Sentença. A ideia central é que como há absolvição sumária ao final da 1ª fase do júri, seria descabida a absolvição do art. 397 CPP, até para não haver usurpação indevida da competência constitucional do Conselho de Sentença. Ainda não temos posicionamento dos Tribunais Superiores a esse respeito. Em sentido contrário, articula-se a disposição topográfica dos parágrafos 3º e 4º do art. 394 CPP, bem como o fato de serem absolvições situadas em momentos processuais distintos, pautadas em níveis de cognição distintos a tornar a do art. 415 CPP, porque exauriente, mais ampla. Não há incompatibilidade alguma. A absolvição do art. 397 se dá depois do depósito da resposta à acusação, em cognição sumária. Nem começamos a colher a prova. Por isso, não podemos ter absolvição para impor medida de segurança (art. 397, II). Não há previsão expressa de reconhecimento de inexistência do fato e nem negativa de autoria. Já na absolvição do art. 415, por ser exauriente, ao final da instrução, pode ser imprópria (imposição de medida de segurança), abrange o reconhecimento de inexistência da conduta e de negativa de autoria. São momentos processuais distintos. Há compatibilização. A do art. 397 é cognição sumária; a do art. 415 apenas evita a 2ª fase, mas a cognição é exauriente haja vista o número de testemunhas (8). O nível de cognição é igual ao do rito ordinário. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 14 O art. 394, §3º anuncia o procedimento do júri. O §4º diz que a todos os procedimentos de 1º grau previstos ou não no Código são aplicados os arts. 395, 396 e 397 CPP. O legislador, com a topografia, deixa clara a possibilidade de absolvição sumária do art. 397 CPP também no júri. Aliás, se não houvesse, por que ouvir o MP? Ouvimos o MP exatamente para que ele se pronuncie se eventualmente houver pedido de absolvição sumária. Se não houvesse absolvição do art. 397 CPP no júri, não faria sentido a audição do MP nos termos do art. 409 CPP. O réu é citado, apresenta resposta à acusação imediatamente posterior à juntada do auto de exame cadavérico. A imputação é morte por disparo de arma de fogo, mas o laudo diz que quando do disparo, a vítima já estava morta, fulminada por um enfarto. Não há crime, o crime é impossível por absoluta impropriedade do objeto. Realizaremos audiência de instrução e julgamento com 8 testemunhas de defesa e 8 testemunhas de acusação? Não, é melhor absolver sumariamente por absoluta impropriedade do objeto. Se não houvesse o art. 397 CPP, teríamos que realizar a audiência para só ao final absolver com base no art. 415 CPP. O art. 410 CPP prevê que a audiência de instrução, interrogatório e julgamento deve ser realizada em 10 dias. Se o prazo não for observado, não haverá constrangimento ilegal. Este é observado à luz do art. 412: toda a 1ª fase deve estar encerrada em 90 dias. Eventual inobservância do prazo do art. 410 não representa constrangimento ilegal. Art. 412 CPP: Se o réu estiver solto, a inobservância do prazo é mera irregularidade. O prazo engloba do recebimento da denúncia até a decisão final, mas, para os Tribunais Superiores, cabe dilação desde que não excessiva e justificável pela complexidade da instrução. O art. 411 encerra dizendo que o decisão proferirá decisão em 10 dias (§4º). O art. 412 diz que tudo deve estar encerrado em 90 dias. O júri começa já do recebimento da denúncia. O dispositivo imediatamente anterior do art. 412 CPP já fala da sentença, decisão final. Para os Tribunais Superiores, cabe dilação desde que seja excessiva e justificada pela complexidade da instrução, como grande volume de testemunhas a serem ouvidas e necessidade de expedir carta precatória. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 15 Sobrevindo a pronúncia, eventual excesso de prazo fica superado, a não ser que seja teratológico (S. 21 STJ). Após a pronúncia, é possível o relaxamento por excesso posterior, desde que teratológico. Se em 90 dias toda a prova acusatória foi colhida, descabe o excesso porque causado pela defesa (S. 64 STJ). Nos diz a S. 64 STJ que não configura constrangimento ilegal o excesso de prazo causado pela defesa. Em sua origem, a súmula quis se referir à prática protelatória deliberada da defesa, não o exercício regular do direito de defesa. Hoje, não se faz mais essa distinção. Hoje, entende-se que se eu tive a colheita probatória no prazo legal no que toca à acusação, qualquer excesso será causado pela defesa na produção da sua prova, ainda que seja exercício regular de defesa. Não é uma situação de exercício abusivo do direito de defesa. Agora o excesso é causado pela defesa na colheita da sua prova, o que afasta a possibilidade de relaxamento por excesso de prazo. Todas essas ponderações são aplicáveis à S. 52 STJ. A S 52 STJ se refere ao encerramento da instrução criminal. O parâmetro da S 21 é a pronúncia; o parâmetro da S 52 é o encerramento da instrução criminal.Após o encerramento da instrução, podemos ter relaxamento por excesso de prazo, mas ele deve ser teratológico e posterior. Ainda que estejamos diante de exercício regular do direito de defesa, se o excesso se operou na hora de apresentação da testemunha de defesa, não se reconhece o constrangimento ilegal. A 1ª fase do procedimento do júri pode desaguar em PRONÚNCIA, IMPRONÚNCIA, DESCLASSIFICAÇÃO OU ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. Pt. 04 Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 16 Pronúncia Natureza Jurídica Decisão interlocutória mista não terminativa. Decisão interlocutória mista porque encerra a 1ª fase do júri. Mas não terminativa porque, como é um juízo de admissibilidade positiva, dá início à 2ª fase, ao invés de encerrar o processo. Obs.: Sobre o excesso de linguagem da pronúncia, ver aula sobre apelação. Art. 581, IV, CPP. Suficiência dos indícios de autoria A pronúncia exige indícios de autoria. Como o art. 413 CPP se refere a “indícios” de autoria, a possibilidade de o réu ser o autor é suficiente para a pronúncia. Daí ser prevalente o entendimento de que, na dúvida, pronuncia-se, até para não usurpar a competência constitucional do júri. O in dubio pro reo norteia o julgamento da causa e não o juízo de admissibilidade, haja vista o art. 386 CPP. Art. 413, caput e §1º. Essa posição é assente nos Tribunais Superiores. Na dúvida, pronuncia-se. Como o art. 413 exige apenas INDÍCIOS de autoria, a possibilidade de o réu ser autor da infração é suficiente para que ele seja pronunciado, até para não se usurpar do Conselho de Sentença a sua competência constitucional. O art. 386 é fundamento da SENTENÇA, norteia o judicium causae. Aqui, estamos diante de mero juízo de admissibilidade da acusação, e daí pronunciar-se quando há dúvida. Em sentido contrário, podemos articular o art. 5º, LVII, CF e o art. 414 CPP. A solução acima discrepa da presunção de inocência ou não culpabilidade. Na dúvida, a solução é a impronúncia, o que não ofende a soberania do Conselho ante a formação de coisa julgada apenas formal. Não se pode perder de vista que, ao cabo da primeira fase, a cognição já é exauriente, o que justifica ainda mais a impronúncia, sob pena de o juiz presidente dar margem a uma eventual condenação que ele, se juiz fosse, não implementaria. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 17 Se assim não fosse, a impronúncia se tornaria letra morta. Usar essa 2ª posição para a DP. Pelo art. 414, se o juiz presidente não estiver convencido da existência de indícios de autoria ou da existência do crime, ele impronunciará. Ou seja, a dúvida se resolverá pela impronúncia. Isso não compromete a soberania do Conselho de Sentença porque a impronúncia só faz CJ formal. As provas materialmente novas permitem renovar a demanda. Na dúvida, um juiz absolve. A 1ª fase do júri existe para fazer uma filtragem da imputação originária, de modo que só seja levado ao Conselho de Sentença a imputação que se mostra factível. Se ao cabo da 1ª fase o juiz tem dúvidas, caso pronunciasse estaria margem a condenação que o próprio juiz não firmaria. Não é usurpação do Conselho de Sentença, porque não é decisão que faz coisa julgada material, mas formal, exatamente porque não está pautada na certeza e sim na dúvida, ao contrário da absolvição sumária. No caso de crime não doloso contra a vida, haveria desclassificação. No caso de estar convicto de que descabe imputação, absolve-se sumariamente. No caso de estar convicto da viabilidade da pretensão, pronuncia. Se na dúvida também pronunciasse, nada restaria para a impronúncia. Todavia, em provas que não sejam DP, escrever que para a pronúncia in dubio pro societate. Crime Conexo O juízo de admissibilidade positivo quanto à imputação dolosa contra a vida estende-se, em regra, para os conexos, já que firmada a competência do Conselho de Sentença, exceto se absolutamente débil for a imputação a eles referente. Nada impede que o juiz pronuncie um crime e impronuncie ou absolva em relação a outro. Mas isso não significa uma carta branca ao juiz-presidente. Qualquer resposta de prova aqui deve dar ênfase que a pronúncia de crime doloso contra a vida, em regra, importará em pronúncia dos crimes conexos, a não ser que em relação aos conexos a imputação se mostre totalmente débil. De todo modo, deve haver fundamentação em relação aos conexos. Isso não pode ocorrer automaticamente. Art. 93, IX, CF – há exigência constitucional de fundamentação de todos os pronunciamentos jurisdicionais. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 18 O art. 413 CPP também fala em fundamentação da pronúncia. Prova da existência do crime Em relação à prova da existência do crime, trabalhamos com os arts. 158 e 167 CPP. Quando o crime deixar vestígios, deve haver exame do corpo de delito direto ou indireto. Qualquer prova em direito admitida e não só testemunhal poderá suprir a ausência destes vestígios. Para fins de pronúncia, qualquer prova admissível em direito vale para demonstrar a existência de crime doloso contra a vida, e não apenas a testemunhal. Mas, se os vestígios persistirem (corpo encontrado, por exemplo), imprescindível será o exame direto. Poderia ser uma microfilmagem, por exemplo, ou uma fotografia. Nem precisa ser da autoria – basta a prova da existência. Por exemplo, uma microfilmagem ou fotografia do corpo esquartejado. É desnecessária a prova testemunhal. Mas se o corpo foi encontrado, deve ser feito o exame direto, não fazendo sentido o exame indireto. Prisão decorrente da pronúncia A prisão decorrente da pronúncia é cautelar, além de não ser pressuposto de admissibilidade do RESE contra a pronúncia. O art. 155 CPP, caput, é aplicável à pronúncia. Da mesma forma que não pode haver condenação arrimada somente no inquérito, não pode haver pronúncia arrimada somente no inquérito. Do contrário, nem faria sentido a 1ª fase do júri, que existe para ratificar minimamente o que se apurou durante o inquérito. Parte da doutrina pondera que após a pronúncia deve ser o inquérito desentranhado dos autos, a exceção das provas cautelares, antecipadas e irrepetíveis (periciais)2 para evitar que se tenha um eventual veredito condenatório pautado no inquérito. Tanto isso seria verdade que o art. 473, §3º, CPP não alude ao inquérito. Essa proposta foi aventada e descartada em 2008, sendo as restrições ao contraditório no plenário apenas as previstas no art. 478 CPP. Parte da doutrina sustenta que pós-pronúncia manteríamos nos autos do processo as provas cautelares, antecipadas e irrepetíveis. O contrário seria 2 Posição a ser adotada na DP e na polícia civil do RJ caso o Nicolitt esteja lá. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 19 desentranhado, sem possibilidade de o MP fazer menção a esses elementos quando no júri. A base seria o art. 473, §3º, CPP. Há menção a possibilidade de partes aludirem a provas antecipadas, irrepetíveis e cautelares, não ao inquérito. Isso foi pensado ao longo do processo legislativo que desaguou na reforma de 2008, mas a hipótese foi descartada. Por isso, cabe interpretação histórica, não havendo qualquer restrição à alusão ao inquérito policial, aplicando-se apenas as restrições do art. 478 CPP. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 20 Desclassificação Desclassificação própria x Desclassificação imprópria Desclassificaçãoprópria é a propriamente dita, prevista no art. 419 CPP. Efetivamente temos desclassificação: o juiz presidente reconhece que não houve infração dolosa contra a vida, desclassificando a infração para alguma não dolosa contra a vida. Desclassificação imprópria é aquela prevista no art. 418 CPP. Tenho a desclassificação, mas ela é considerada imprópria porque ainda assim desaguamos numa pronúncia. A regra do art. 418 CPP remete à emendatio libelli, ou seja, restringimo-nos a analisar a causa de pedir, mas mesmo assim vislumbramos crime diverso daquele capitulado pelo MP. O juiz classifica diversamente do que fizera o MP, mas com isso ocorre desclassificação imprópria, já que ainda assim haverá pronúncia. Por exemplo, o infanticídio tem causa de pedir mais ampla do que o homicídio: são as mesmas elementares do homicídio simples + estado puerperal. Um laudo pericial é negativo quanto ao estado puerperal da ré, o que não afasta a ação dolosa contra a vida. Migramos de infanticídio para o homicídio, do crime menos grave para o crime mais grave. A desclassificação é imprópria. Noutro exemplo, a denúncia é por homicídio simples, mas o juiz verifica que o caso é de infanticídio. É preciso o aditamento pelo MP. Não consta na causa de pedir a menção ao estado puerperal. O art. 418 CPP é exemplo de emendatio libelli. Se for caso de mutatio libelli, é imprescindível o aditamento. Aula 02 – 26/10/2015 – pt, 01 Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 21 Impronúncia Natureza Jurídica SENTENÇA TERMINATIVA. Ou, caso se conceitue sentença como provimento que examina o pedido e equaciona o mérito, não será o caso da impronúncia. Nos termos do art. 414, parágrafo único, CPP, a impronúncia tem qualidade de coisa julgada apenas formal. Se sobrevierem provas materialmente novas, é possível renovar a mesma demanda. Logo, por esse viés a impronúncia deixa de ser sentença terminativa e passa a ser DECISÃO INTERLOCUTÓRIA MISTA TERMINATIVA. De todo modo, a impronúncia põe fim ao processo. Se entendermos que sentença é provimento que põe fim ao processo, aí sim é sentença terminativa, com formação de coisa julgada formal. Se entendermos sentença como provimento que equaciona em definitivo o mérito, falaríamos em decisão interlocutória mista terminativa. O importante é que se trata de decisão terminativa, extinguindo o processo sem julgamento de mérito. Recurso Hoje, a impronúncia desafia apelação (art. 416 CPP). Crimes Conexos Art. 81, p. único, CPP – imagine que tenhamos crime doloso contra a vida + conexo não doloso contra a vida. Em relação ao crime doloso contra a vida, há impronúncia ou a absolvição sumária. A imputação que justificava a competência do Tribunal do Júri não mais subsiste, seja porque houve a impronúncia, seja porque houve absolvição sumária, seja porque se reconheceu que a imputação não era mais dolosa contra a vida. Se tivermos um desses 3 cenários, o que fazer com o crime conexo? Declínio. Deveremos ter declínio da competência em relação ao crime conexo. Imaginamos que tenhamos múltiplas imputações dolosas contra a vida. Basta que em relação a uma delas haja a pronúncia para fixar a competência do Tribunal do Júri para analisar a admissibilidade de todas as demais. A partir do momento em que há várias imputações dolosas contra a vida e outras conexas, de crimes não dolosos contra a vida, quando numa das imputações dolosas contra a vida ocorre a pronúncia, o juízo reconhece a Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 22 competência do Conselho de Sentença, o que o obriga a fazer juízo de admissibilidade em relação a todas as demais. Sob esse ângulo, pode haver aqui uma desclassificação imprópria. A desclassificação imprópria é quando se tem a migração de imputação dolosa contra a vida para outra dolosa contra a vida. Ainda assim, haverá pronúncia (art. 418 CPP). O que pode ocorrer é termos a pronúncia em relação a imputação dolosa contra a vida. Em relação a outra imputação dolosa contra a vida, ocorre a desclassificação. O fato duma imputação ter sido desclassificada a outra não dolosa não apaga o fato de que é conexa a outra ainda dolosa contra a vida. Por isso, essa imputação também será pronunciada. Será desclassificação imprópria, aplicando-se a regra da pronúncia, art. 413 CPP. Coisa Julgada Até por se pautar em juízo de dúvida, a impronúncia só faz coisa julgada formal, com objetivo de preservar a competência constitucional do Conselho de Sentença. Se sobrevierem provas materialmente novas, pode ser reproposta a demanda. Não basta novo documento, nova perícia, etc. Há necessidade da nova testemunha, perícia ou documento trazerem informações até então ignoradas. O juízo de admissibilidade que o juiz-presidente exerce é integral, abrangendo infrações dolosas contra a vida e as conexas. Se houver pronúncia da primeira, a regra é a pronúncia das demais para não haver usurpação indevida da competência do Conselho de Sentença. Digamos que o crime conexo é impronunciado. A impronúncia em relação ao conexo não doloso contra a vida também faz só CJ formal ou faz CJ material? A impronúncia também em relação ao crime conexo faz coisa julgada formal porque não se pode diferençar onde a lei não o fez, sem contar que o crime conexo ao doloso contra a vida também é da competência do Conselho de Sentença. Essa é a interpretação literal, mais textual. Mas não é essa a orientação prevalente, por uma série de razões. A impronúncia faz coisa julgada formal para assegurar a competência CONSTITUCIONAL do Júri. Mas quando pensamos a competência constitucional do Júri, ela é para imputações dolosas contra a vida. A competência para os conexos é ditada pela regra do art. 78, I, CPP, que nos diz que, havendo competência ou continência entre júri e outro órgão de Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 23 competência comum, vai para o Júri. Nos crimes conexos, a competência do Júri é por conexão ou continência, ou seja, tem matiz infraconstitucional. A impronúncia se dá ao final da 1ª fase do Júri, depois de serem ouvidas 8 testemunhas, mesmo número de testemunhas do rito ordinário. Aqui, estamos diante de uma cognição exauriente. A impronúncia nada mais é do que uma decisão de improcedência do pedido, mais precisamente por insuficiência probatória. Toda decisão no processo penal de improcedência do pedido faz coisa julgada MATERIAL. Toda exceção há de ser interpretada restritivamente e não ampliativamente, por regra básica de hermenêutica. A impronúncia em relação ao crime conexo não doloso contra a vida faz coisa julgada MATERIAL. Imaginemos que a imputação dolosa contra a vida pronunciada seja levada ao plenário do Júri e tenhamos o trânsito em julgado. Não há conexão e nem continência entre processos findos. Se sobreviessem provas materialmente novas a desautorizar a impronúncia em relação ao crime conexo não doloso contra a vida, a denúncia iria para uma Vara Criminal qualquer. Que preocupação é essa de resguardar a competência do Júri se a imputação conexa na maioria das vezes nem é apreciada no Júri? A impronúncia do conexo não doloso contra a vida faz coisa julgada material porque é uma decisão de improcedência do pedido por insuficiência probatória, cuja regra é a formação de coisa julgada material. Exceções a essa regra hão de ser interpretadas restritivamente. Tampouco está em jogo a Constituição, já que a competência do Júri para os conexos é infraconstitucional (art. 78, I, CPP). Tanto isso é verdade que, se sobrevieremprovas materialmente novas e a imputação dolosa contra a vida já tiver sido sentenciada, esta hipotética nova denúncia não será dirigida ao Júri (art. 82, CPP) e sim a uma Vara Criminal respectivamente competente. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 24 Absolvição Sumária Art. 415 CPP Esta absolvição sumária difere daquela prevista no art. 397. A cognição do art. 415 já é exauriente, enquanto que a cognição do art. 397 é sumária. Por isso, a absolvição sumária do art. 397 não tem modalidade imprópria, com imposição de medida de segurança, que exige exaurimento do devido processo legal para desconstituição da presunção de não culpabilidade. Já a absolvição sumária do art. 415, como tem cognição exauriente, permite absolvição imprópria (p. único). Por ser uma cognição exauriente, a absolvição sumária do art. 415 pode ter por fundamento a inexistência do fato ou a negativa de autoria (inc. I e II).Não há esta correspondência na absolvição sumária do art. 397 CPP, ao menos segundo a lei. Parte da doutrina contesta isso. Se a absolvição do art. 397 permite alcançar excludentes da ilicitude, da culpabilidade e da tipicidade, então não há como inadmitir absolvição quando reconhecidamente o fato não existiu ou quando obviamente o réu não foi o autor. mas esta é uma crítica doutrinária. Em provas objetivas, dizer que na absolvição do art. 397 NÃO há fundamento na negativa do fato e inexistência de autoria. A absolvição sumária do art. 415 CPP previu no seu inc. III a atipicidade da conduta, no inc. IV as excludentes da ilicitude e da culpabilidade. Temos, em se tratando de absolvição sumária do art. 397, IV, a extinção da punibilidade. Isso não vem explicitado no art. 415 CPP, nem é necessário: o próprio CPP já anuncia que causas extintivas da punibilidade são cognoscíveis de ofício a qualquer tempo (art. 61 CPP). Seria uma redundância inserir isso no art. 415. Logo, a extinção da punibilidade pode ser reconhecida pelo juízo de ofício a qualquer tempo, o que está naturalmente englobado pelo art. 415 CPP. O art. 415 desafia recurso de APELAÇÃO (art. 416 CPP). Não há mais reexame necessário em se tratando de absolvição sumária no Júri. Nesse ângulo, foi tacitamente revogado o art. 574, II, CPP. A absolvição sumária imprópria do art. 415 deve ser preterida em prol da pronúncia quando a defesa apontar existência de teses que, embora não permitam absolvição sumária, podem ser sustentadas no Plenário do Júri. O parágrafo único do art. 415 revela a imprescindibilidade também das alegações finais na 1ª fase do Júri porque é a defesa que deve apontar a existência ou não de outras teses defensivas passíveis de levar no Plenário à absolvição, afinal a evidente inimputabilidade já “garantiria” a absolvição imprópria. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 25 Não obstante, os Tribunais Superiores insistem no entendimento de que, por ser um juízo de mera admissibilidade da acusação e não dedicado ao julgamento da causa propriamente dito, é imprescindível a notificação para apresentar as alegações. O seu oferecimento ou não traduz questão de estratégia. Pode ser que a defesa técnica prefira discutir tudo no Plenário do Júri. Em que pese as alegações finais terem papel importante na 1ª fase do júri, até porque a defesa mostra ao juiz se há ou não teses defensivas articuláveis no Plenário do Júri que justificariam uma pronúncia, em que pese evidente inimputabilidade mental, os Tribunais Superiores continuam entendendo que a 1ª fase encerra mero juízo de admissibilidade da acusação e o oferecimento das alegações finais seriam facultativo. Imprescindível seria a notificação para apresentá-las. Trata-se de uma absolvição sumária, que faz COISA JULGADA MATERIAL e, portanto, é unívoca a sua natureza de SENTENÇA DEFINITIVA. Pt. 02 Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 26 Desclassificação Art. 419 CPP Trata-se de uma DECISÃO INTERLOCUTÓRIA MISTA NÃO TERMINATIVA. Não é uma sentença, mas decisão interlocutória. Ocorre o equacionamento do elemento subjetivo do tipo, ou seja, reconhece-se que não houve dolo de matar. Por conseguinte, ocorre a desclassificação da imputação, sem pôr fim ao processo, que apenas prosseguirá perante outro juízo. O recurso cabível é o RESE, porque estaremos atacando decisão conclusiva da incompetência do juízo (art. 581, II, CPP). No caso do art. 419, teremos uma imputação originária não dolosa contra a vida. Ocorre o declínio para outra imputação agora não mais dolosa contra a vida. Chegando os autos ao novo juízo, o primeiro passo é dar vista ao MP para que este providencie o aditamento (art. 384 CPP). Se não for promovido o aditamento, estaremos fora do Júri ainda analisando imputação dolosa contra a vida, o que gera problema de competência. Ademais, o p. da correlação exige o aditamento, porque a denúncia não pode narrar crime doloso contra a vida enquanto o juiz julga crime não doloso contra a vida. Art. 419, art. 383, §2º, CPP => houve o declínio da competência para o novo juízo. Será que o MP lá oficiante pode se recusar a aditar por discordar dessa desclassificação? Por exemplo, o juiz Presidente vislumbrou desistência voluntária e houve desclassificação para lesão corporal grave. O promotor em atuação na Vara Criminal fica horrorizado, porque para ele fica claríssima a tentativa, não desistência voluntária. Ele pode recusar o aditamento? Há duas posições: 1) Afrânio Silva Jardim (MP) => a unidade e a indivisibilidade são do órgão e, mesmo assim, projeta-se no plano administrativo, e não processual. Logo, o promotor pode invocar a independência funcional, nos termos do art. 127, §1º, CF, e recusar o aditamento. Afinal, não está vinculado à opinião delitiva do outro órgão. Ele próprio poderia requerer, nos termos do art. 115, II, do CPP, conflito de competência.3 3 Quando pensamos no conflito de competência e na possibilidade de ser requerido pelas partes (art. 115), pensamos que o juízo reconhece ab ovo sua incompetência e remete os autos a outro juízo. Ou seja, algo num estágio embrionário do processo. Não seria o caso aqui, porque atravessamos toda uma 1ª fase, testemunhas já foram ouvidas. O declínio de competência ocorre a partir de equacionamento de questão de mérito contra a qual haveria recurso perante o juízo processante, qual seja, RESE. Se não foi interposto RESE, a questão precluiu para as partes, inclusive para o MP que lá se fazia presente. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 27 2) O processo há de ser uma marcha para frente e não para trás. A desclassificação já é, nesses casos, julgamento de uma questão de mérito. Logo, eventual discordância não mais versaria sobre um error in procedendo e sim in judicando contra o qual cabe recurso adequado. Se não interposto, é porque transitou em julgado para o MP, que é uno e indivisível. Admitir a rediscussão do tema via conflito negativo de competência não deixaria de camuflar uma reformatio in pejus de ofício, vedada no art. 617 CPP. Ademais, a alegação de preservação da independência funcional do MP é indevida, afinal se o Tribunal, ao apreciar o hipotético conflito de competência, reafirmasse o acerto da desclassificação, este mesmo promotor teria que aditar, contra a sua vontade, sob pena de o juiz processante não ter alternativa senão absolver. A argumentação em sentido contrário dá ênfase a algumas questões bem relevantes, quais sejam: - Não estamos, nesse caso, perante error in procedendo.Não é um mau processamento da causa pelo juízo, mas o juiz, ao final de cognição exauriente, equacionando questão de mérito. Eventual discordância não apontaria error in procedendo, mas error in judicando contra o qual, por lei, cabe o RESE. Se este não é interposto, isto importa em preclusão. - O discurso de independência funcional é indevidamente potencializado. Se for suscitado o conflito de competência e o Tribunal apreciá-lo, fixando a competência do juízo processante, o mesmo promotor não teria alternativa senão aditar mesmo contra a sua vontade. Se não o fizer, a solução será a absolvição. Continuaremos diante de imputação dolosa contra a vida. O juiz não pode, por sua conta, condenar o réu por crime diverso. Para isso, precisaria de aditamento que não existiu, somente lhe restando a absolvição. - Embora a solução proposta pela 1ª posição seja bem concatenada, atenta contra a instrumentalidade do processo. Ao invés de ser marcha evolutiva, seria marcha involutiva. Usar a 1ª posição para o MP, já que potencializa independência funcional do MP. Usar a 2ª posição em prova da DP. Se pensarmos em unidade e indivisibilidade do MP, estaríamos admitindo que em outro juízo questão de mérito já equacionada porque não interposto recurso adequado pudesse ser simplesmente reaberta. O processo que nasceu para ser marcha para a frente se transformaria em marcha para trás. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 28 Em termos de jurisprudência, embora reduzida, tem prevalecido o 2º entendimento. O 1º dá azo a reviravoltas na persecução penal, em detrimento da segurança jurídica.4 Na prática, geralmente não é questionada a decisão de desclassificação proveniente do Júri. Os promotores e juízes da Vara Criminal costumam simplesmente seguir com o processo. Art. 417 CPP Art. 4175 => imaginemos as seguintes hipóteses: - Houve a pronúncia de A. Ao final do processo, descobrimos a identidade de B, coautor. - Houve a impronúncia de A. Descobrimos então a identidade de B, coautor. Uma das grandes inovações da reforma de 2008 é que a denúncia persiste como peça acusatória até o plenário do Júri. Antes de 2008, não persistia, porque quando sobrevinha a pronúncia e alcançávamos a preclusão, os autos eram encaminhados ao MP para oferecer nova peça acusatória, o libelo crime acusatório. Este era um espelho da pronúncia. Hoje, isso não existe mais: a denúncia subsiste como peça acusatória até o Plenário do Júri. A denúncia é levada ao conhecimento do Conselho de Sentença na forma em que admitida na pronúncia, mas a denúncia em si é peça acusatória. Deve haver um ADITAMENTO para resolver a questão do surgimento de B. é certo que haverá toda uma fase separando o réu A do réu B, objeto do aditamento. A regra, por conta da distância procedimental, é que se aplique o art. 80 CPP, ou seja, que se tenha uma cisão do procedimento. Ou seja, tiraríamos cópia de todos os autos originais e, em cima das cópias, seria processado e julgado B. No caso de impronúncia, o processo terminou. A impronúncia é um provimento terminativo, extingue o processo. No caso de impronúncia, como vamos demandar B? Através de uma nova denúncia. 4 Acompanhar este tema nos informativos, porque são poucos os julgados no tema! 5 Importante sobretudo para provas do MP. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 29 Sabemos que não há conexão e nem continência entre processos já findos. A regra seria pensarmos numa nova denúncia contra B com livre distribuição, não por dependência. Só que o art. 417 nos diz que o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, portanto, o próprio Presidente do Júri, determinando o retorno dos autos ao MP em 15 dias. Implicitamente, esse artigo determina não a livre distribuição, mas que essa denúncia seja encaminhada ao mesmo juízo. Como o 1º processo está findo, a nova denúncia será distribuída por dependência. Pt. 03 Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 30 Intimação da pronúncia A 2ª fase se inicia quando todas as partes forem intimadas da pronúncia. Art. 420 CPP O MP e a DP gozam da prerrogativa da intimação pessoal (art. 370, §4º, CPP), como também estipula a legislação de regência destas instituições6. Em relação ao advogado constituído, a intimação se dá pela imprensa oficial, conforme art. 370, §1º, CPP + art. 420, II, CPP. Em relação ao réu, a regra é intimação pessoal, conforme prega o art. 351 CPP + art. 370, caput, CPP. O art. 370, que cuida das intimações, diz-nos que elas obedecerão o mesmo regramento reservado às citações. E a citação do réu é pessoal. Só que o p. único diz que, se frustrada a intimação pessoal, haverá a intimação do réu por edital (Lei 11.689/2008). Antes da reforma de 2008, o réu tinha que ser pessoalmente intimado da pronúncia E, se o crime fosse inafiançável, o processo ficava suspenso até o implemento da intimação pessoal. Havia, assim, a chamada crise de instância: processo suspenso com fluência do prazo prescricional. Nesse caso, a prescrição acabara de ser interrompida com a pronúncia, mas de todo modo se operava a crise de instância – o processo ficava suspenso indefinidamente até que o réu fosse pessoalmente intimado, mas a prescrição fluía. Isso só ocorria para os crimes INAFIANÇÁVEIS pronunciados. Hoje, não é mais assim. Frustrada a intimação pessoal, promove-se a intimação POR EDITAL, de modo que o processo seguirá. A 1ª questão que surge é: essa inovação foi só processual ou foi híbrida (processual e material)? Se entendermos essa inovação como sendo apenas processual, a incidência é imediata, conforme prega o art. 2º CPP. Se entendermos que essa inovação foi híbrida (também material), trabalharemos com a CF, art. 5º, XL. Ou seja, reconheceríamos que seria inovação híbrida e só alcançaria os CRIMES COMETIDOS após entrada em vigor da Lei 11.689/2008. Majoritariamente (Tribunais Superiores), entende-se que a inovação seria apenas processual, pois repercutiu na marcha do processo e não na prescrição, tendo incidência automática. 6 Lei 8.625/93 + LC 75/93 + LC 80/94. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 31 A prescrição se interrompia com a pronúncia, continua a ser interrompida com a pronúncia e a partir daí continua a fluir. A inovação foi só no processo: se antes ele ficava suspenso até que o réu pronunciado em crime inafiançável, agora ele fluirá, com o réu sendo intimado por edital. P/ DP: A inovação foi híbrida porque se eliminou a crise de instância, que é foco para a conquista da prescrição. E, por outro lado, permitiu o prosseguimento do feito em face de um réu intimado fictamente em detrimento da autodefesa, que é uma garantia constitucional e, portanto, material. Antes, tínhamos a crise de instância, com possibilidade de conquista da prescrição. Hoje, não há mais isso, o que tem repercussão material. Ademais, a autodefesa é garantia constitucional. Antes, no crime inafiançável não havia a possibilidade de o sujeito ser levado a plenário sem ciência pessoal da pronúncia. Hoje, essa possibilidade existe. Essa diminuição na autodefesa afeta o direito material, merecendo a irretroatividade. Por esse raciocínio, esta inovação só alcançaria os crimes dolosos contra a vida cometidos posteriormente à lei 11.689. Nessa controvérsia, há posiçãoclaríssima definida pelo 1º entendimento, no sentido de que é inovação processual de incidência imediata. Art. 366 CPP Art. 420, p. único, CPP – intimaremos pessoalmente o réu, mas, citada a intimação pessoal, intimamos por edital e prosseguimos, porque o réu já conhece a imputação. Ele não foi processado e julgado à revelia. Se ele tivesse sido citado POR EDITAL, nunca teríamos tido a pronúncia. Não aparecendo o réu, teríamos a suspensão do processo e a suspensão da prescrição. Denúncia Réu citado pessoalmente ou que apareceu pessoalmente e constituiu advogado Pronúncia Intimação da pronúncia, que será pessoal ou, subsidiariamente, por edital Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 32 Essa alteração veio com a Lei 9271/1996. Sendo lei que previu a suspensão do processo e também da prescrição, ela é irretroativa, só alcançando os crimes cometidos APÓS a sua vigência. Quando examinamos o art. 366 CPP, estudamos que quanto aos crimes anteriores à L 9271, a solução não era a suspensão do processo e da execução, mas o prosseguimento do feito. Imaginemos que houve uma pronúncia, mas ante um réu CITADO POR EDITAL. O processo evoluiu porque o fato era anterior à lei 9271/1996. Quando tivermos esse cenário, de réu denunciado, citado por edital, mas por ter sido o crime anterior à lei 9271, a premissa do art. 420 cai por terra. Nesse caso, daremos uma sobrevida aos então arts. 413 e 414, ou seja, para esses casos não podemos abrir mão de intimação pessoal da pronúncia. A premissa do parágrafo único do art. 420, CPP é a de um réu citado pessoalmente, porque do contrário se aplicaria o art. 366 CPP e o processo ficaria suspenso. Ocorre que se o fato delituoso é anterior à Lei 9271/96, irretroativa, o réu citado por edital verá o processo prosseguir até a pronúncia, hipótese em que o STJ já assentou a necessidade, sob pena de nulidade absoluta, de o acusado ser pessoalmente intimado, quando inafiançável a imputação, nos termos do preceituado nos então artigos 413 e 414 do CPP originário. ANTES DA LEI 9.271/1996 Denúncia Citação por edital Processo segue Pronúncia Se o crime for inafiançável, intimação pessoal. Na impossibilidad e, suspensão da prescrição. DEPOIS DA LEI 9.271/1996 Denúncia Citação pessoal; na impossibilidad e, citação por edital e suspensão do processo e da prescrição. Réu aparece e apresenta defesa. Pronúncia. Se não for possível a intimação pessoal, faz- se a intimação por edital e o processo segue. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 33 Problema prático: Leva-se em conta a inafiançabilidade prevista à época dos fatos. Ex.: homicídio simples, reclusão 6 a 20 anos. A essa época, era crime inafiançável. Afiançáveis eram crimes reclusivos com pena mínima de até 02 anos. Ou seja, hoje os crimes inafiançáveis são, por mandamento infraconstitucional, os constitucionalmente inafiançáveis. Não houve ampliação, mas restrição pelo legislador, que deixou apenas as hipóteses da CF. Isso significa incluirmos homicídio simples e homicídio qualificado, com penas altas e prazo prescricional máximo. Entre a data do fato e a pronúncia, sempre há um marco interruptivo da prescrição, o recebimento da denúncia. Pt. 04 Prática do crime Vigência da Lei 9.271/96 Denúncia Citação por edital. Pronúncia. Tentativa de citação pessoal frustrada. Suspensão do processo. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 34 Segunda Fase do Júri Preparação do processo para julgamento em plenário Depois que todos forem devidamente intimados da pronúncia, o juiz dará vista dos autos ao MP para que, em 05 dias, requeira as diligências probatórias que entender necessárias e arrole as suas testemunhas, que podem ser até 05. São 05 testemunhas por crime. Esse teto se refere a TESTEMUNHA, ou seja, aquela compromissada com a verdade. Não inclui vítima sobrevivente e nem informante. Depois disso, será vez de a Defesa fazer a mesma coisa, também no prazo de 05 dias. Art. 422 CPP Os autos irão para o juiz, que fará uma espécie de despacho saneador (art. 423). O relatório mencionado no inc. II do art. 423 não pode ser valorativo, para não sugestionar o Conselho de Sentença. É um relatório estritamente descritivo. O juiz saneará, apresentará relatório e já designará data para a realização do plenário do júri. Fato novo Não há mais libelo acusatório. O Conselho de Sentença conhece da denúncia na forma em que foi admitida na pronúncia. A pronúncia não tem caráter definitivo, até porque é juízo de admissibilidade. Seu caráter é rebus sic stantibus, conforme art. 421, §§ 1º e 2º CPP. Por exemplo, o sujeito é denunciado por um homicídio tentado, mas posteriormente à pronúncia a vítima falece. É um fato novo, superveniente, a justificar a mudança de um crime tentado para um crime consumado. Como se leva ao Conselho de Sentença a denúncia na forma em que foi admitida na pronúncia, o fato novo deve ser objeto de aditamento. O recebimento do aditamento não deixa de ter natureza de uma pronúncia complementar. Art. 421, §1º e §2º - em casos como esse, segundo interpretação textual7, o juiz dará vistas ao MP, de modo que o aditamento é PROVOCADO. Formalizado o aditamento, o processo vai diretamente para o juiz recebê-lo ou não, sem 7 A ser usada em provas objetivas. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 35 previsão de vista prévia à Defesa, como seria normal aos aditamentos em geral. O art. 421, §§ 1º e 2º CPP excepcionam o novo art. 384 CPP porque ainda contemplam hipótese de aditamento provocado e recebimento sem oitiva prévia da defesa. Como essa regra é anterior ao novo art. 384 CPP, oriundo da lei 11.719, a ele deve se adequar, até porque mais consentâneo com o sistema acusatório e com a ampla defesa. A primeira posição, textual, ganha força porque estamos tratando de duas leis bem contemporâneas, que integraram o mesmo bloco de reformas. Em provas objetivas em geral, a banca trabalha o art. 384 como regra e o art. 421 como exceção. Aqui, a regra ainda seria o aditamento provocado. Ademais, no geral é prevista a vista à Defesa, enquanto que haveria uma exceção no âmbito do art. 421, porque o aditamento seria feito sem vista à defesa. E se o fato novo for revelado no plenário do Júri? Haveria o confronto entre duas regras: o art. 421, §§ 1º e 2º (que assenta o caráter rebus sic stantibus da denúncia) e o art. 479 CPP (qualquer prova nova deve ser apresentada faltando ao menos 3 dias úteis para o Plenário do Júri, prestigiando-se assim o contraditório). Se vem a notícia do óbito durante o Plenário, a defesa poderia se preparar para isso, inclusive alegando ausência de nexo causal, tentando mostrar que o óbito foi causado por razões absolutamente independentes da ação dolosa contra a vida. Sabemos que é uma tese juridicamente complicada, porque as causas supervenientes são relativamente independentes. Mas perante o Conselho de Sentença, leigo em Direito, são aumentadas as chances de êxito. Ignorar o fato novo significaria negar cumprimento aos parágrafos do art. 421. Como equilibrar isso? Se a prova nova, ao alterar a pronúncia, vier durante o Plenário do Júri, o juiz não pode ignorá-la diante dos parágrafos 1º e 2º do art. 421 do CPP. Contudo, dar prosseguimento ao plenário nessas condições maculariao art. 479 CPP, logo a solução é dissolvê-lo, abrindo vista ao MP para aditamento, depois à Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 36 defesa8, inclusive quanto à prova que pretende produzir, e depois receber o aditamento designando novo plenário. Nesse caso, compatibilizamos os §§ 1º e 2º do art. 421 com o art. 479 CPP. Quando se critica os §§ 1º e 2º do art. 421 à luz do art. 484, propõe-se que o aditamento a uma pronúncia siga o mesmo procedimento do art. 484, ouvindo-se a defesa, recebendo-se o aditamento e oportunizando à acusação e à defesa a produção de provas, mudando o rol de prova oral inicialmente indicada no art. 422 CPP. Aula 03 – 26/10/2015 – pt. 01 Desaforamento O desaforamento é uma causa superveniente de modificação da competência territorial do Júri. O desaforamento do art. 427 CPP objetiva garantir a imparcialidade do julgamento, ao passo que o desaforamento do art. 428 CPP objetiva a celeridade, ou seja, está inspirado no art. 5º, LXXVIII, CF (duração razoável do processo). Em relação ao desaforamento do art. 428, podemos anotar o seguinte: Parte da doutrina, como Nicolitt, sustenta a inconstitucionalidade do art. 428 CPP à luz das garantias do juiz natural, devido processo legal, ampla defesa e contraditório, porquanto não seria necessário o deslocamento da competência em detrimento da oralidade para garantir a celeridade do julgamento. Por conta da demora na realização do julgamento, desaforamos para outro Tribunal do Júri. O desaforamento é horroroso para o processo, por inúmeras razões. Quando eu desaforo e vou para outra comarca, as testemunhas seguramente estarão na comarca de origem. Não há nenhuma regra que obrigue uma testemunha a se deslocar de sua comarca para prestar depoimento noutro Plenário do Júri. Ou seja, o plenário, ao invés de oral, acabará sendo procedimento escrito. Orais mesmo serão apenas os debates. As testemunhas não estarão presentes. Toda a sustentação oral acusatória e defensiva se baseará em depoimentos, perante Conselho de Sentença que não é o natural, o que ofende contraditório e ampla defesa. Ofende-se juiz natural, contraditório e ampla defesa. 8 Até porque a defesa pode mudar o seu rol de testemunhas, p.e., pedindo oitiva de um médico para afastar o nexo causal. Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 37 Todavia, essa crítica “não emplacou”. Já havia esse modelo antes da reforma de 2008, mas ele foi mantido e aperfeiçoado. 2ª posição (Tribunais Superiores): O art. 428 CPP é inspirado em uma garantia constitucional (art. 5º, LXXVIII, CF), a garantia razoável do processo, e não banaliza esta modificação superveniente da competência territorial, ao contrário, pois a demora tem que ser creditada ao excesso de trabalho, ou seja, pauta de julgamento completamente tomada e não mais administrável. A demora na realização do julgamento não é o único critério para deferimento do desaforamento: há necessidade de um plus, creditar a demora a excesso de trabalho, ou seja, pauta de julgamento totalmente lotada naquele Tribunal do Júri, tornando-a ao menos temporariamente inadministrável. Se não for comprovado o excesso de serviço, indefere-se o desaforamento e exige-se imediata realização do plenário. Por conta disso, o dispositivo é constitucional. Art. 427 – sua preocupação é a imparcialidade do julgamento. - interesse da ordem pública - dúvida sobre imparcialidade do júri - segurança pessoal do acusado. Numa linha textual (p/ provas objetivas), são esses três os fundamentos para o desaforamento previsto no art. 427 CPP. Se articularmos interesse da ordem pública para justificativa para o desaforamento, é porque não temos clima para esse plenário na ordem jurídica. O mesmo no caso de risco à segurança pessoal do acusado, em que não há clima propício na comarca. Logo, não há clima para se ter um julgamento idôneo na comarca de origem, o que justifica o desaforamento. O desaforamento para a oralidade do júri é terrível, porque dependemos da boa vontade das testemunhas e vítimas sobreviventes para saírem de sua comarca de origem e irem a outra comarca prestar depoimento. A ideia, portanto, é minimizar o deslocamento de testemunhas. O art. 427, por isso, diz que devemos sempre preferir a comarca mais próxima, sob pena de nulidade absoluta. Só preteriremos comarca mais próxima a Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 38 outra mais distante se os fundamentos do desaforamento também se constatarem na outra comarca. Por exemplo, o réu ou vítima é uma pessoa notória em toda a região (ex.: Região dos Lagos). Não sendo este o caso, deve-se desaforar para uma comarca mais próxima, minimizando o deslocamento das testemunhas. E se for um crime que tenha uma comoção nacional? Não haverá desaforamento, porque este seria inútil. Se o crime tiver comoção nacional, não será feito o desaforamento, o qual se mostraria inútil. Se um crime é da competência da Justiça do EMG, o desaforamento deve se dar dentro do EMG. Descabe desaforar para o ERJ, o que representaria ofensa ao pacto federativo. No âmbito federal, deve-se respeitar as regiões. Art. 427, in fine. A legitimidade para requerer o desaforamento é de todas as partes. Antes da reforma, não havia previsão para o assistente de acusação desaforar, hoje isso é possível. As faculdades do assistente em geral vêm listadas no art. 271 CPP. Ali, merece uma remissão ao art. 427 CPP. O querelante também tem legitimidade para requerer desaforamento. Obs.: lembrar da ação penal privada subsidiária da pública e da possibilidade de haver crime de ação penal privada conexo ou continente a um crime doloso contra a vida. O próprio juiz pode representar pelo desaforamento. A regra é ouvir o juízo, até para que este diga se há mesmo animosidade a justificar o desaforamento. Não será ouvido o juiz, obviamente, se foi ele quem representou pelo desaforamento. O desaforamento representa decréscimo em termos de juiz natural, à exceção de comprovada a parcialidade daquela comunidade. A única justificativa para o desaforamento é justamente o resguardo da imparcialidade. O desaforamento do art. 427 se abebera do próprio art. 5º, CF, mas deve haver Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 39 mesmo a parcialidade, sob risco de ofendermos o juiz natural, contraditório e ampla defesa. Se não foi a defesa quem postulou o desaforamento ao Tribunal, a defesa deve ser ouvida. É preciso oportunizar a oitiva da defesa, salvo se foi ela quem requereu o desaforamento. - ouvir o juiz-Presidente, a não ser que tenha representado - ouvir a defesa, a não ser que ela tenha representado S. 712 STF Art. 427, §3º, CPP O desaforamento é terrível para o processo em si. Ele não se satisfaz com juízo de probabilidade, é necessário haver um juízo de quase certeza. Na dúvida, não se desafora. A defesa requereu o desaforamento. Obviamente, ela não precisa mais ser ouvida. Pela regra do §3º do art. 427, deve-se ouvir o juiz. E se o Juiz-Presidente trouxer informações que não constam nos autos? Nas suas explicações, contrárias ao desaforamento, o juiz articula fatos que até então não estavam nos autos do processo. O Tribunal deve ouvir a defesa, sob pena de nulidade absoluta. O desaforamento é enfrentado pelo Tribunal, através de um acórdão. Quais os recursos adequados? Há uma decisão tomada em última instância pelos Tribunais. Os nossos recursos ficam restritos
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