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Júri Marcos Paulo

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Júri 
Marcos Paulo 
Nathália Moreira Nunes 
de Souza 
Curso Fórum – Carreiras Jurídicas 2015 | Júri – Marcos Paulo 
 
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Conteúdo 
Princípios que regem o Júri ........................................................................................... 4 
Plenitude de Defesa .................................................................................................. 4 
Sigilo das Votações .................................................................................................... 6 
Incomunicabilidade ............................................................................................... 7 
Soberania dos Vereditos ........................................................................................... 8 
Competência do Tribunal do Júri ................................................................................ 8 
Genocídio.................................................................................................................... 9 
Procedimento do Júri .................................................................................................. 12 
Pronúncia .................................................................................................................. 16 
Natureza Jurídica .................................................................................................. 16 
Suficiência dos indícios de autoria .................................................................... 16 
Crime Conexo ....................................................................................................... 17 
Prova da existência do crime ............................................................................. 18 
Prisão decorrente da pronúncia ........................................................................ 18 
Desclassificação ....................................................................................................... 20 
Desclassificação própria x Desclassificação imprópria .................................. 20 
Impronúncia .............................................................................................................. 21 
Natureza Jurídica .................................................................................................. 21 
Recurso ................................................................................................................... 21 
Crimes Conexos .................................................................................................... 21 
Coisa Julgada ....................................................................................................... 22 
Absolvição Sumária ................................................................................................. 24 
Desclassificação ....................................................................................................... 26 
Art. 417 CPP ............................................................................................................... 28 
Intimação da pronúncia ......................................................................................... 30 
Segunda Fase do Júri .................................................................................................. 34 
Preparação do processo para julgamento em plenário................................... 34 
Fato novo .................................................................................................................. 34 
Desaforamento ......................................................................................................... 36 
Plenário do Júri ......................................................................................................... 42 
Abertura ................................................................................................................. 42 
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Ausências ........................................................................................................... 43 
Escolha dos jurados .......................................................................................... 46 
Plenário e sua dinâmica de julgamento ........................................................... 49 
Colheita de prova oral ..................................................................................... 49 
Debates .............................................................................................................. 52 
Tempo reservado para os debates ............................................................ 52 
Vedações ....................................................................................................... 54 
Lapso temporal para apresentação de prova nova .............................. 56 
Apartes ............................................................................................................ 58 
Reinquirição de testemunha ....................................................................... 59 
Quesitação ............................................................................................................ 60 
 
 
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Aula 01 – 23/10/2015 – pt. 01 
Princípios que regem o Júri 
Plenitude de Defesa 
Art. 5º, XXX, VIII, a, CF 
Art. 5º, LV, CF. 
A plenitude de defesa não pode ser justaposta à ampla defesa. 
A ampla defesa dialoga com o princípio do livre convencimento motivado do 
juízo. Qualquer tese só poderá ser acolhida quando tiver respaldo legal lato 
sensu (lei, doutrina, jurisprudência), ou seja, respaldo técnico, já que o juízo 
deve fundamentar racionalmente suas decisões. 
O Conselho de Sentença é norteado pela íntima convicção (os jurados julgam 
conforme a sua convicção), o que potencializa o direito de defesa. Isso torna 
no plenário do júri a defesa PLENA. 
Plenitude e limites semanticamente são conceitos excludentes. Pleno não 
conhece limitação. É a possibilidade de serem articuladas teses defensivas 
supralegais, sem o menor amparo técnico, que são possíveis no Júri ante o 
sistema da íntima convicção. 
 
A plenitude permite que sejam articuladas teses defensivas supralegais, no 
que se difere da ampla defesa, que tem limitação ditada pelo princípio do 
livre convencimento motivado, diferentemente do Conselho de Sentença, que 
é norteado pelo princípio da íntima convicção. 
 
Um argumento comum na nossa sociedade passional é a “legítima defesa da 
honra”. Juridicamente, é uma excrescência, ante a ausência de 
proporcionalidade. Imagine a ofensa à honra justificar homicídio! Isso não tem 
cabimento devido aos valores díspares. Não afasta a culpabilidade por 
inexigibilidade de conduta diversa. 
Entretanto, se há uma assistida que era arrimo de família, que jogava dinheiro 
em casa enquanto o marido era um beberrão, fanfarrão, e um dia ela é 
liberada mais cedo do trabalho, como faxineira, e quando chega em casa 
encontra o marido na cama com outro. Desesperada, ela pega um facão e 
dá duas facadas na jugular do marido infiel, matando-o. A defensora não 
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pede apenas o privilégio, mas também tenta a absolvição alegando 
inexigibilidade de conduta diversa. Só subsidiariamente pede o 
reconhecimento do privilégio. 
Aliás, há maior probabilidade de vencer a tese da defesa do que da 
acusação. Esse é um júri ganho. Na nossa sociedade, um caso como esse é júri 
de absolvição. 
 
Consequências: 
a) É absolutamente nula a quesitação se o juiz não quesitar a referida tese 
ao argumento de que não teria respaldo legal (S. 156 STF), sendo que o 
art. 483 CPP reforça a plenitude ao estatuir obrigatoriamente o quesitoabsolutório genérico, dispensando a exigência de detalhamento da 
tese absolutória nos quesitos1; 
 
 
1 A S 156 revela que é causa de nulidade absoluta a ausência de um quesito 
absolutório. O juiz estaria cerceando a plenitude de defesa e deixando de formular 
quesito de uma tese que foi suscitada pela defesa no plenário. 
Em reforço à plenitude de defesa, temos hoje obrigatoriamente o quesito absolutório 
genérico. Imaginemos que o defensor faz um plenário em que se restringe a pedir 
desclassificação de imputação dolosa contra a vida para outra não dolosa contra a 
vida. O Conselho pode refutar esse quesito. Ainda assim, o 3º quesito será sobre 
absolvição. 
Não há como descartar o quesito absolutório genérico. Ele hoje é obrigatório. Se não 
for formulado, estará ausente quesito obrigatório, gerando nulidade absoluta. 
 
A ausência de quesito obrigatório e quesitos contraditórios entre si são os dois vícios da 
quesitação passíveis de arguição a qualquer momento. Os demais exigem 
impugnação pela parte que se sentir prejudicada assim que apresentada a 
quesitação pelo juiz-presidente, sob pena de preclusão, nos termos do art. 571, VIII, 
CPP. 
As nulidades no Plenário devem ser arguidas a partir do momento em que forem 
ocorrendo. Quando ocorre a nulidade, ela deve ser prontamente apontada pela 
parte. 
Quando o juiz Presidente apresenta quesitos às partes, se elas tiverem “senãos” aos 
quesitos, isso deve ser prontamente deduzido, do contrário ocorrerá preclusão. Há 
duas exceções a isso – ausência de quesito obrigatório e quesitos contraditórios entre 
si que conduzem a respostas contraditórias. 
Art. 565 CPP – ninguém pode arguir nulidade de um ato para o qual deu causa. 
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Sigilo das Votações 
 
Atualmente, não há necessidade de se revelar o número de votos afirmativos 
e negativos, conforme estabelecia o CPP originário no então art. 487, cuja 
regra foi reproduzida no atual art. 488, sem esta exigência. 
O julgamento se dá todo por maioria, sem mencionar o número de votos 
positivos e negativos. Antes, sempre que havia resultado unânime, o sigilo das 
votações caía por terra, porque sabíamos como votaram os 7 jurados. Isso 
nunca ensejou a nulidade do plenário. 
Mas isso era algo que incomodava muito a doutrina. A crítica doutrinária foi 
implementada na reforma de 2008. 
Diante do atual cenário, a Súmula 206 STF transmuda-se de nulidade relativa 
para absoluta porque não revelado o placar de cada votação, não se pode 
descartar a influência do jurado impedido ou suspeito no resultado final do 
julgamento. 
Os jurados permanecem incomunicáveis. Essa incomunicabilidade não é 
absoluta, versa sobre os fatos que constituem a acusação. Os jurados não 
podem conversar sobre os fatos narrados na denúncia e que foram admitidos 
na pronúncia, nem sobre fatos a ele correlatos. Mas nada impede que 
conversem sobre amenidades, só não pode ser relacionado ao que está 
sendo julgado. 
Qualquer contribuição que o jurado tenha no resultado final do julgamento 
será quantitativa. Não se pode dizer que um jurado influenciou o animo do 
outro, a influência é quantitativa. 
Segundo o STF, a participação de jurado impedido ou suspeito é causa de 
nulidade do plenário. Antes, nulidade relativa. Ainda que excluíssemos o voto 
desse jurado, isso não alteraria o veredito de 7x0, 6x1, 5x2. Se o resultado fosse 
4x3, anularíamos o plenário, porque um dos jurados ser impedido ou suspeito 
foi determinante para o resultado do julgamento, sendo o prejuízo 
escancarado. 
Eventualmente, um 5x2 também poderá ser nulificado por incompatibilidade 
entre os jurados. Por exemplo, marido e mulher integram o mesmo Conselho 
de Sentença e só posteriormente se conhece que eles eram casados à 
época. Haverá 2 jurados incompatíveis / impedidos. Logo, o 5x2 seria 
alcançado pela nulidade nessa hipótese. 
Atualmente, não há mais esse placar, que não é documentado. Apenas diz 
que por maioria se entendeu que a conduta existiu, que por maioria se 
absolve, etc. O MP descobre que um dos jurados era a amante do réu. Posso 
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descartar a possibilidade de esse julgamento ter sido 4x3. Posso descartar a 
possibilidade de esse julgamento ter sido 4x3? Não, porque isso não está 
documentado. A nulidade que era relativa se torna absoluta. 
Haveria uma forma de se conservar a S. 206 STF no seu formato originário, ou 
seja, como nulidade relativa e não absoluta? Sim, porque não deixaríamos de 
respeitar o sigilo das votações. Nada impediria que o Juiz-Presidente 
estabelecesse ao final de cada votação que o resultado NÃO foi 4x3, ou que 
o resultado foi SIM 4x3. Se você diz que o resultado foi 4x3, não há como saber 
quem votou, como se deram os votos, e se preserva o sigilo. Se você diz que o 
resultado NÃO foi 4x3, preserva o sigilo, porque pode ter sido 7x0, 6x1, 5x2. Se 
revelar-se posteriormente impedimento ou suspeição de um jurado, podemos 
ainda trabalhar a S 206 STF como uma nulidade relativa e não absoluta. Se 
não houver essa ressalva pelo magistrado, passamos a trabalhar com nulidade 
absoluta. 
 
Incomunicabilidade 
A quebra da incomunicabilidade é causa de nulidade absoluta do Plenário 
porque não há como precisar até onde o entendimento explicitado 
indevidamente por um jurado teria influenciado os demais, ressalvada a 
hipótese em que o resultado do julgamento tenha sido contrário ao 
entendimento indevidamente externado do jurado, pois comprovadamente 
não influenciou o Conselho. 
Segundo os livros em geral, a quebra da incomunicabilidade é causa de 
nulidade absoluta do Plenário, o que em regra é verdade, uma vez que pelo 
sistema da íntima convicção não temos como precisar até onde essa opinião 
influenciou os demais jurados. Mas se o jurado externa uma opinião e o 
resultado é o contrário dessa opinião, não há prejuízo e, portanto, não há 
nulidade a ser declarada. 
O sigilo das votações perpassa pela incomunicabilidade dos jurados. É um 
sigilo externo e interno, para que os jurados não saibam como os demais pares 
votaram. 
Nosso sistema é o FRANCÊS e não o norte-americano. No norte-americano, há 
troca de ideias entre os jurados. Um jurado mais articulado tende a capitanear 
os demais. Por exemplo, um estudante de Direito pode ser jurado e poderia 
acabar convencendo os demais, o que desnaturaria a ideia de um júri 
POPULAR. O veredito deixará de ser representativo da vontade do povo para 
ser representativo da maior persuasão dum dos 7 jurados. 
A participação do jurado impedido ou suspeito, no sistema norte-americano, 
sempre seria causa de nulidade absoluta. 
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Pt. 02 
Soberania dos Vereditos 
V. aula sobre art. 593, III, CPP (em recursos) e a aula sobre revisão criminal, 
bem como a temática envolvendo reformatio in pejus de ofício no júri (art. 617 
CPP). 
 
Competência do Tribunal do Júri 
- processar e julgar crimes dolosos contra a vida. 
Este é o núcleo mínimo de competência do Júri. O legislador 
infraconstitucional pode criar outras hipóteses de julgamento pelo Tribunal do 
Júri, o que ampliaria o alcance de uma garantia constitucional. O que o 
legislador não pode é restringir a competência do Tribunal do Júri. 
O STF validou lei catarinense segundo a qual crime doloso contra a vida de 
mulher no âmbito doméstico-familiar tem a 1ª fase julgada no JVD – Juizado 
da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e, sobrevindo a pronúncia, 
vai-se ao Júri. Invocou-se o art. 125, §1º, CF, salientandoque a competência 
do Conselho de Sentença resta preservada. 
Esse precedente merece críticas porque se retirou uma atuação do Júri. 
Apenas SE sobrevier a pronúncia é que o caso irá para o Tribunal do Júri. E SE 
houver a absolvição sumária no JVD? Será uma absolvição sumária pertinente 
a crime doloso contra a vida transitando em julgado num JVD, o que 
inegavelmente representa supressão de competência do Tribunal do Júri. 
Quais foram os argumentos dessa posição? 
- autonomia política administrativa dos Tribunais no que toca à sua própria 
organização (art. 125, §1º, CF); 
- de toda forma a palavra final do crime doloso contra a vida será do 
Conselho de Sentença. 
Essa 2ª fundamentação só se aplica se o réu for pronunciado. Do contrário, 
pode haver trânsito em julgado e CJ de crime doloso contra a vida fora do 
Tribunal do Júri, em JVD. 
Em termos de legislação federal, a competência do Tribunal do Júri não foi 
ampliada. Excluímos os crimes qualificados pelo resultado morte. Até porque o 
dolo não é atentar contra a vida, mas sim contra outro bem jurídico. 
S. 603 STF 
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Potencializaremos essa S 603 STF para qualquer crime qualificado para o 
resultado morte: lesão corporal qualificada pela morte, extorsão mediante 
sequestro qualificada pela morte, estupro qualificado pela morte, latrocínio, 
etc. 
 
Genocídio 
 
Art. 1º, Lei 2.889/56 -> crime de genocídio. O crime de genocídio tem 5 
modalidades. As alíneas b, c, e não envolvem práticas dolosas contra a vida, 
de modo que a competência será de VARA CRIMINAL FEDERAL (grave ofensa 
a direitos humanos, a justificar competência da Justiça Federal). 
Cada alínea remete a pena cominada para certo injusto, sendo fácil 
identificar se há práticas dolosas contra a vida. A alínea ‘b’ se reporta a penas 
da lesão corporal. ‘c’ reporta às penas do art. 270 CP. ‘e’ remete às penas do 
sequestro ou cárcere privado. 
Logo, nessas alíneas não há crime doloso contra a vida, de modo que a 
competência é de VARA CRIMINAL FEDERAL. 
As alíneas ‘a’ e ‘d’ geram dúvidas. ‘a’ remete a penas do homicídio 
qualificado e ‘d’ remete a penas do aborto. 
Uma posição minoritária pondera que a competência é do Júri, porque este é 
garantia fundamental, para a qual se deve conferir a máxima efetividade. 
Enquanto garantia fundamental, que deve receber máxima efetividade, 
incluiríamos o genocídio na competência do Tribunal do Júri. Essa posição 
NÃO prosperou no STJ / STF, por conta do bem jurídico tutelado. No genocídio, 
o bem jurídico perpassa pela subsistência de raça, religião, etnia, etc. Existe 
um especial fim de agir – exterminar total ou parcialmente raça, nação, etnia, 
religião. Por isso, em razão da matéria, também nas alíneas ‘a’ e ‘d’ haverá 
competência de Vara Criminal Federal. 
Como o bem jurídico tutelado no genocídio extrapola a vida, objetivando a 
subsistência de raça, nação, etnia ou religião, a competência será, em razão 
da matéria, da Vara Criminal Federal também nas alíneas ‘a’ e ‘d’ do art. 1º 
da Lei 2.889/56. 
Aplicamos o princípio da consunção? Na alínea ‘a’, temos homicídios; na 
alínea 'd’, temos abortos. Só chegamos ao extermínio total ou parcial de raça, 
nação, etnia ou religião por conta dos homicídios e dos abortos perpetrados 
(art. 1º, L 28898), sendo razoável pensarmos no p. da consunção. Marco 
Aurélio e Sepúlveda Pertence assim entendem. 
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Gritou muito no STF a razoabilidade sob o prisma da proporcionalidade, e isso 
acertadamente. 
O genocídio tem penas remetidas. Se eu aplicasse o p. da consunção, tanto 
faria matar 1 índio ou 100. Se matasse 1 índio por ser índio, a tipificação é 
homicídio qualificado por torpeza. Se mata 100 índios, a pena seria a mesma. 
Seria o mesmo teto para ambas as situações. 
É uma situação em que primeiro vem a conclusão, depois se cria a 
fundamentação. A fundamentação versou sobre o p. da consunção na sua 
dimensão originária, segundo a qual o p. da consunção só se aplica a crimes 
atentatórios ao mesmo bem jurídico. 
Adotou-se a posição de MAURACH, segundo o qual o p. da consunção só se 
aplica a crimes que atentem contra o mesmo bem jurídico. 
Com base nisso, o STF entendeu que os crimes subsistem autonomamente. Os 
homicídios ou abortos atentarão contra a vida, ao passo que o genocídio 
atenta contra a existência da raça, nação, etnia ou religião. 
No dia-a-dia, essa não é a orientação que o STF abraça, tanto que o falso é 
absorvido pelo estelionato quando o falso se exaure no estelionato. Mesmo 
quando o falso se exaure no estelionato, por Maurach não poderíamos falar 
em consunção, já que o falso atenta contra a fé pública, enquanto que o 
estelionato é crime contra o patrimônio. 
Se o STF adotasse Maurach ao pé da letra, não haveria consunção do falso 
pelo estelionato. 
Em apreço à razoabilidade sob o prisma da proporcionalidade, não se aplica 
o p. da consunção entre o genocídio e os ‘n’ abortos ou homicídios, porque 
do contrário seria neutro em termos de escala penal em abstrato matar um ou 
mil. Os homicídios ou abortos subsistem autonomamente em relação ao 
genocídio. 
Teríamos N homicídios ou abortos. Há liame subjetivo entre eles, qual seja, 
exterminar total ou parcialmente a raça, etnia, nação ou religião. Entre os 
homicídios ou abortos, há crime continuado, mais o genocídio. 
Entre o genocídio e tal crime, haverá o concurso formal imperfeito (art. 70, 
caput, 2ª parte, CP), já que geralmente há o mesmo contexto espacial, 
temporal e mecânico. Ao metralhar 100 índios, eu pretendi matar cada um 
dos 100 para com isso exterminar parcialmente a raça indígena. 
Se for hipótese de um serial killer que matou 2 índios por dia durante 2 meses, 
entre os homicídios haverá crime continuado. Entre os homicídios e o 
genocídio, haveria um cúmulo material (art. 69 CP). De todo modo, 
somaríamos a pena do genocídio com a pena dos homicídios ou abortos. 
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Quanto às penas dos homicídios ou abortos, aplicaremos as regras da 
continuação delitiva. 
Isso alterará a competência. Em razão da matéria, o genocídio será julgado 
na VARA CRIMINAL FEDERAL. Mas esse genocídio conviverá com vários 
homicídios ou abortos, que pedem competência do Tribunal do Júri. 
Se houver concurso formal, temos hipótese de continência (art. 77, II, CPP) a 
justificar unidade de processo e de julgamento. Se houver cúmulo material, 
haverá conexão lógica entre os crimes, já que só chegamos ao genocídios 
através dos N homicídios ou abortos. Concorrendo Tribunal do Júri com a Vara 
Criminal Federal, vai tudo para o Tribunal do Júri Federal. 
Ao final, isso será julgado no TRIBUNAL DO JÚRI, mas não em razão da matéria, 
mas por conexão e/ou continência. 
Como os crimes dolosos contra a vida subsistem autonomamente em relação 
ao genocídio, a competência acaba sendo do Tribunal do Júri pelas regras de 
conexão ou continência, e não em razão da matéria. 
- em razão da matéria: Vara Criminal Federal 
- pelas regras de conexão ou continência: Tribunal do Júri 
Pt. 03 
 
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Procedimento do Júri 
O procedimento do júri é bifásico ou escalonado. A 1ª fase do procedimento 
do júri é dirigida ao judicium accusationis, ou seja, o juízo de admissibilidade 
da acusação. A 2ª fase se reserva ao julgamento da causa propriamente dito, 
ou seja, o judicium causae. 
A 1ª fase é idêntica ao rito ordinário, com alguns complementos: 
 São oito testemunhas (art. 406, §3º, CPP), não se computandoaqui 
informantes ou eventual vítima sobrevivente. São oito testemunhas por 
crime e por réu. Cada réu tem direito de arrolar oito testemunhas pro 
crime. 
 Em princípio, a audiência de instrução, interrogatório e julgamento 
deve ser concentrada, sem cisão. Art. 394, §§ 2º e 5º, CPP. O 
procedimento comum é aplicável subsidiariamente aos procedimentos 
especiais. Dentro destes, inclui-se o Júri. O §5º informa que dentre as 
vertentes do procedimento comum, aplicaremos o rito ordinário. No rito 
ordinário, temos a possibilidade de cisão da instrução (arts. 402 e 404 
CPP), mais a possibilidade de serem apresentadas alegações finais 
através de memoriais. Isso se aplica à 1ª fase do júri. Se estamos numa 
audiência de interrogatório, instrução e julgamento complicadíssima e 
um defensor público substituto está ali, pode achar mais pertinente 
requerer, pela aplicação subsidiária do rito ordinário aos demais, com 
previsão de apresentação de alegações finais por memoriais quando a 
causa for complexa, tal apresentação de memoriais. Se tem 1º contato 
na audiência com o preso, o que fica minimizado com as audiências 
de custódia, pedirá a cisão (arts. 402 e 404 CPP). 
 Pode haver videoconferência na 1ª fase do Júri (art. 185, §4º, CPP). 
 
Autores como Nucci propõem a aplicação do art. 409 CPP ao procedimento 
comum ordinário e sumário, para que não seja o MP surpreendido com 
eventual absolvição sumária, fortalecendo o contraditório. 
Tal orientação subverte o princípio da especialidade, sem contar que o 
contraditório já foi observado. 
denúncia recebimento citação 
resposta à 
acusação 
art. 409 CPP: 
pronunciamento 
do MP sobre a 
resposta à 
acusação 
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Essa posição do Nucci não é adotada, porque significaria aplicar regra 
especial ao regramento geral. O que nasceu para ser especial se 
generalizaria. 
O contraditório já foi observado: a denúncia é a tese; a resposta à acusação 
é a antítese; que venha a decisão do juízo com a síntese. 
O STF não exige essa audiência, mas, se for oportunizada, tampouco 
caracterizaria constrangimento ilegal. 
Ou seja, por detrás do discurso do STF não há uma aprovação à proposta do 
Nucci, já que a audiência do MP não é peremptória. Mas os Tribunais 
Superiores também não entendem que o excesso de zelo do magistrado, 
abrindo essa oportunidade de manifestação, enseje alguma nulidade por 
violação a contraditório. 
Como já há absolvição sumária do art. 415 CPP, parte da doutrina pondera a 
inaplicabilidade do art. 397 do CPP, até para não macular a competência 
constitucional do Conselho de Sentença. 
A ideia central é que como há absolvição sumária ao final da 1ª fase do júri, 
seria descabida a absolvição do art. 397 CPP, até para não haver usurpação 
indevida da competência constitucional do Conselho de Sentença. 
Ainda não temos posicionamento dos Tribunais Superiores a esse respeito. 
Em sentido contrário, articula-se a disposição topográfica dos parágrafos 3º e 
4º do art. 394 CPP, bem como o fato de serem absolvições situadas em 
momentos processuais distintos, pautadas em níveis de cognição distintos a 
tornar a do art. 415 CPP, porque exauriente, mais ampla. 
Não há incompatibilidade alguma. A absolvição do art. 397 se dá depois do 
depósito da resposta à acusação, em cognição sumária. Nem começamos a 
colher a prova. Por isso, não podemos ter absolvição para impor medida de 
segurança (art. 397, II). 
Não há previsão expressa de reconhecimento de inexistência do fato e nem 
negativa de autoria. 
Já na absolvição do art. 415, por ser exauriente, ao final da instrução, pode ser 
imprópria (imposição de medida de segurança), abrange o reconhecimento 
de inexistência da conduta e de negativa de autoria. 
São momentos processuais distintos. Há compatibilização. A do art. 397 é 
cognição sumária; a do art. 415 apenas evita a 2ª fase, mas a cognição é 
exauriente haja vista o número de testemunhas (8). O nível de cognição é 
igual ao do rito ordinário. 
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O art. 394, §3º anuncia o procedimento do júri. O §4º diz que a todos os 
procedimentos de 1º grau previstos ou não no Código são aplicados os arts. 
395, 396 e 397 CPP. 
O legislador, com a topografia, deixa clara a possibilidade de absolvição 
sumária do art. 397 CPP também no júri. Aliás, se não houvesse, por que ouvir o 
MP? Ouvimos o MP exatamente para que ele se pronuncie se eventualmente 
houver pedido de absolvição sumária. 
Se não houvesse absolvição do art. 397 CPP no júri, não faria sentido a 
audição do MP nos termos do art. 409 CPP. 
O réu é citado, apresenta resposta à acusação imediatamente posterior à 
juntada do auto de exame cadavérico. A imputação é morte por disparo de 
arma de fogo, mas o laudo diz que quando do disparo, a vítima já estava 
morta, fulminada por um enfarto. Não há crime, o crime é impossível por 
absoluta impropriedade do objeto. 
Realizaremos audiência de instrução e julgamento com 8 testemunhas de 
defesa e 8 testemunhas de acusação? Não, é melhor absolver sumariamente 
por absoluta impropriedade do objeto. Se não houvesse o art. 397 CPP, 
teríamos que realizar a audiência para só ao final absolver com base no art. 
415 CPP. 
 
O art. 410 CPP prevê que a audiência de instrução, interrogatório e 
julgamento deve ser realizada em 10 dias. Se o prazo não for observado, não 
haverá constrangimento ilegal. Este é observado à luz do art. 412: toda a 1ª 
fase deve estar encerrada em 90 dias. Eventual inobservância do prazo do art. 
410 não representa constrangimento ilegal. 
Art. 412 CPP: Se o réu estiver solto, a inobservância do prazo é mera 
irregularidade. O prazo engloba do recebimento da denúncia até a decisão 
final, mas, para os Tribunais Superiores, cabe dilação desde que não excessiva 
e justificável pela complexidade da instrução. 
O art. 411 encerra dizendo que o decisão proferirá decisão em 10 dias (§4º). O 
art. 412 diz que tudo deve estar encerrado em 90 dias. O júri começa já do 
recebimento da denúncia. O dispositivo imediatamente anterior do art. 412 
CPP já fala da sentença, decisão final. 
Para os Tribunais Superiores, cabe dilação desde que seja excessiva e 
justificada pela complexidade da instrução, como grande volume de 
testemunhas a serem ouvidas e necessidade de expedir carta precatória. 
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15 
Sobrevindo a pronúncia, eventual excesso de prazo fica superado, a não ser 
que seja teratológico (S. 21 STJ). Após a pronúncia, é possível o relaxamento 
por excesso posterior, desde que teratológico. 
Se em 90 dias toda a prova acusatória foi colhida, descabe o excesso porque 
causado pela defesa (S. 64 STJ). 
Nos diz a S. 64 STJ que não configura constrangimento ilegal o excesso de 
prazo causado pela defesa. Em sua origem, a súmula quis se referir à prática 
protelatória deliberada da defesa, não o exercício regular do direito de 
defesa. Hoje, não se faz mais essa distinção. 
Hoje, entende-se que se eu tive a colheita probatória no prazo legal no que 
toca à acusação, qualquer excesso será causado pela defesa na produção 
da sua prova, ainda que seja exercício regular de defesa. 
Não é uma situação de exercício abusivo do direito de defesa. Agora o 
excesso é causado pela defesa na colheita da sua prova, o que afasta a 
possibilidade de relaxamento por excesso de prazo. 
Todas essas ponderações são aplicáveis à S. 52 STJ. 
A S 52 STJ se refere ao encerramento da instrução criminal. O parâmetro da S 
21 é a pronúncia; o parâmetro da S 52 é o encerramento da instrução criminal.Após o encerramento da instrução, podemos ter relaxamento por excesso de 
prazo, mas ele deve ser teratológico e posterior. 
Ainda que estejamos diante de exercício regular do direito de defesa, se o 
excesso se operou na hora de apresentação da testemunha de defesa, não 
se reconhece o constrangimento ilegal. 
A 1ª fase do procedimento do júri pode desaguar em PRONÚNCIA, 
IMPRONÚNCIA, DESCLASSIFICAÇÃO OU ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. 
Pt. 04 
 
 
 
 
 
 
 
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16 
Pronúncia 
Natureza Jurídica 
 
Decisão interlocutória mista não terminativa. 
Decisão interlocutória mista porque encerra a 1ª fase do júri. Mas não 
terminativa porque, como é um juízo de admissibilidade positiva, dá início à 2ª 
fase, ao invés de encerrar o processo. 
Obs.: Sobre o excesso de linguagem da pronúncia, ver aula sobre apelação. 
Art. 581, IV, CPP. 
 
Suficiência dos indícios de autoria 
A pronúncia exige indícios de autoria. 
Como o art. 413 CPP se refere a “indícios” de autoria, a possibilidade de o réu 
ser o autor é suficiente para a pronúncia. Daí ser prevalente o entendimento 
de que, na dúvida, pronuncia-se, até para não usurpar a competência 
constitucional do júri. 
O in dubio pro reo norteia o julgamento da causa e não o juízo de 
admissibilidade, haja vista o art. 386 CPP. 
Art. 413, caput e §1º. 
Essa posição é assente nos Tribunais Superiores. Na dúvida, pronuncia-se. 
Como o art. 413 exige apenas INDÍCIOS de autoria, a possibilidade de o réu ser 
autor da infração é suficiente para que ele seja pronunciado, até para não se 
usurpar do Conselho de Sentença a sua competência constitucional. 
O art. 386 é fundamento da SENTENÇA, norteia o judicium causae. Aqui, 
estamos diante de mero juízo de admissibilidade da acusação, e daí 
pronunciar-se quando há dúvida. 
Em sentido contrário, podemos articular o art. 5º, LVII, CF e o art. 414 CPP. 
A solução acima discrepa da presunção de inocência ou não culpabilidade. 
Na dúvida, a solução é a impronúncia, o que não ofende a soberania do 
Conselho ante a formação de coisa julgada apenas formal. 
Não se pode perder de vista que, ao cabo da primeira fase, a cognição já é 
exauriente, o que justifica ainda mais a impronúncia, sob pena de o juiz 
presidente dar margem a uma eventual condenação que ele, se juiz fosse, 
não implementaria. 
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17 
Se assim não fosse, a impronúncia se tornaria letra morta. 
Usar essa 2ª posição para a DP. 
Pelo art. 414, se o juiz presidente não estiver convencido da existência de 
indícios de autoria ou da existência do crime, ele impronunciará. Ou seja, a 
dúvida se resolverá pela impronúncia. 
Isso não compromete a soberania do Conselho de Sentença porque a 
impronúncia só faz CJ formal. As provas materialmente novas permitem 
renovar a demanda. 
Na dúvida, um juiz absolve. A 1ª fase do júri existe para fazer uma filtragem da 
imputação originária, de modo que só seja levado ao Conselho de Sentença 
a imputação que se mostra factível. Se ao cabo da 1ª fase o juiz tem dúvidas, 
caso pronunciasse estaria margem a condenação que o próprio juiz não 
firmaria. 
Não é usurpação do Conselho de Sentença, porque não é decisão que faz 
coisa julgada material, mas formal, exatamente porque não está pautada na 
certeza e sim na dúvida, ao contrário da absolvição sumária. 
No caso de crime não doloso contra a vida, haveria desclassificação. No caso 
de estar convicto de que descabe imputação, absolve-se sumariamente. No 
caso de estar convicto da viabilidade da pretensão, pronuncia. Se na dúvida 
também pronunciasse, nada restaria para a impronúncia. 
Todavia, em provas que não sejam DP, escrever que para a pronúncia in 
dubio pro societate. 
 
Crime Conexo 
O juízo de admissibilidade positivo quanto à imputação dolosa contra a vida 
estende-se, em regra, para os conexos, já que firmada a competência do 
Conselho de Sentença, exceto se absolutamente débil for a imputação a eles 
referente. 
Nada impede que o juiz pronuncie um crime e impronuncie ou absolva em 
relação a outro. Mas isso não significa uma carta branca ao juiz-presidente. 
Qualquer resposta de prova aqui deve dar ênfase que a pronúncia de crime 
doloso contra a vida, em regra, importará em pronúncia dos crimes conexos, a 
não ser que em relação aos conexos a imputação se mostre totalmente débil. 
De todo modo, deve haver fundamentação em relação aos conexos. Isso não 
pode ocorrer automaticamente. Art. 93, IX, CF – há exigência constitucional de 
fundamentação de todos os pronunciamentos jurisdicionais. 
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18 
O art. 413 CPP também fala em fundamentação da pronúncia. 
 
Prova da existência do crime 
Em relação à prova da existência do crime, trabalhamos com os arts. 158 e 
167 CPP. Quando o crime deixar vestígios, deve haver exame do corpo de 
delito direto ou indireto. 
Qualquer prova em direito admitida e não só testemunhal poderá suprir a 
ausência destes vestígios. 
Para fins de pronúncia, qualquer prova admissível em direito vale para 
demonstrar a existência de crime doloso contra a vida, e não apenas a 
testemunhal. Mas, se os vestígios persistirem (corpo encontrado, por exemplo), 
imprescindível será o exame direto. 
Poderia ser uma microfilmagem, por exemplo, ou uma fotografia. Nem precisa 
ser da autoria – basta a prova da existência. Por exemplo, uma microfilmagem 
ou fotografia do corpo esquartejado. É desnecessária a prova testemunhal. 
Mas se o corpo foi encontrado, deve ser feito o exame direto, não fazendo 
sentido o exame indireto. 
 
Prisão decorrente da pronúncia 
A prisão decorrente da pronúncia é cautelar, além de não ser pressuposto de 
admissibilidade do RESE contra a pronúncia. 
O art. 155 CPP, caput, é aplicável à pronúncia. Da mesma forma que não 
pode haver condenação arrimada somente no inquérito, não pode haver 
pronúncia arrimada somente no inquérito. Do contrário, nem faria sentido a 1ª 
fase do júri, que existe para ratificar minimamente o que se apurou durante o 
inquérito. 
Parte da doutrina pondera que após a pronúncia deve ser o inquérito 
desentranhado dos autos, a exceção das provas cautelares, antecipadas e 
irrepetíveis (periciais)2 para evitar que se tenha um eventual veredito 
condenatório pautado no inquérito. Tanto isso seria verdade que o art. 473, 
§3º, CPP não alude ao inquérito. 
Essa proposta foi aventada e descartada em 2008, sendo as restrições ao 
contraditório no plenário apenas as previstas no art. 478 CPP. 
Parte da doutrina sustenta que pós-pronúncia manteríamos nos autos do 
processo as provas cautelares, antecipadas e irrepetíveis. O contrário seria 
 
2 Posição a ser adotada na DP e na polícia civil do RJ caso o Nicolitt esteja lá. 
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19 
desentranhado, sem possibilidade de o MP fazer menção a esses elementos 
quando no júri. A base seria o art. 473, §3º, CPP. 
Há menção a possibilidade de partes aludirem a provas antecipadas, 
irrepetíveis e cautelares, não ao inquérito. 
Isso foi pensado ao longo do processo legislativo que desaguou na reforma de 
2008, mas a hipótese foi descartada. Por isso, cabe interpretação histórica, 
não havendo qualquer restrição à alusão ao inquérito policial, aplicando-se 
apenas as restrições do art. 478 CPP. 
 
 
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20 
Desclassificação 
 
Desclassificação própria x Desclassificação imprópria 
 
Desclassificaçãoprópria é a propriamente dita, prevista no art. 419 CPP. 
Efetivamente temos desclassificação: o juiz presidente reconhece que não 
houve infração dolosa contra a vida, desclassificando a infração para alguma 
não dolosa contra a vida. 
Desclassificação imprópria é aquela prevista no art. 418 CPP. Tenho a 
desclassificação, mas ela é considerada imprópria porque ainda assim 
desaguamos numa pronúncia. A regra do art. 418 CPP remete à emendatio 
libelli, ou seja, restringimo-nos a analisar a causa de pedir, mas mesmo assim 
vislumbramos crime diverso daquele capitulado pelo MP. O juiz classifica 
diversamente do que fizera o MP, mas com isso ocorre desclassificação 
imprópria, já que ainda assim haverá pronúncia. 
Por exemplo, o infanticídio tem causa de pedir mais ampla do que o 
homicídio: são as mesmas elementares do homicídio simples + estado 
puerperal. Um laudo pericial é negativo quanto ao estado puerperal da ré, o 
que não afasta a ação dolosa contra a vida. Migramos de infanticídio para o 
homicídio, do crime menos grave para o crime mais grave. A desclassificação 
é imprópria. 
Noutro exemplo, a denúncia é por homicídio simples, mas o juiz verifica que o 
caso é de infanticídio. É preciso o aditamento pelo MP. Não consta na causa 
de pedir a menção ao estado puerperal. 
O art. 418 CPP é exemplo de emendatio libelli. Se for caso de mutatio libelli, é 
imprescindível o aditamento. 
Aula 02 – 26/10/2015 – pt, 01 
 
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21 
Impronúncia 
Natureza Jurídica 
SENTENÇA TERMINATIVA. Ou, caso se conceitue sentença como provimento 
que examina o pedido e equaciona o mérito, não será o caso da 
impronúncia. Nos termos do art. 414, parágrafo único, CPP, a impronúncia tem 
qualidade de coisa julgada apenas formal. 
Se sobrevierem provas materialmente novas, é possível renovar a mesma 
demanda. 
Logo, por esse viés a impronúncia deixa de ser sentença terminativa e passa a 
ser DECISÃO INTERLOCUTÓRIA MISTA TERMINATIVA. 
De todo modo, a impronúncia põe fim ao processo. 
Se entendermos que sentença é provimento que põe fim ao processo, aí sim é 
sentença terminativa, com formação de coisa julgada formal. Se entendermos 
sentença como provimento que equaciona em definitivo o mérito, falaríamos 
em decisão interlocutória mista terminativa. 
O importante é que se trata de decisão terminativa, extinguindo o processo 
sem julgamento de mérito. 
 
Recurso 
Hoje, a impronúncia desafia apelação (art. 416 CPP). 
 
Crimes Conexos 
Art. 81, p. único, CPP – imagine que tenhamos crime doloso contra a vida + 
conexo não doloso contra a vida. Em relação ao crime doloso contra a vida, 
há impronúncia ou a absolvição sumária. A imputação que justificava a 
competência do Tribunal do Júri não mais subsiste, seja porque houve a 
impronúncia, seja porque houve absolvição sumária, seja porque se 
reconheceu que a imputação não era mais dolosa contra a vida. Se tivermos 
um desses 3 cenários, o que fazer com o crime conexo? Declínio. 
Deveremos ter declínio da competência em relação ao crime conexo. 
Imaginamos que tenhamos múltiplas imputações dolosas contra a vida. Basta 
que em relação a uma delas haja a pronúncia para fixar a competência do 
Tribunal do Júri para analisar a admissibilidade de todas as demais. 
A partir do momento em que há várias imputações dolosas contra a vida e 
outras conexas, de crimes não dolosos contra a vida, quando numa das 
imputações dolosas contra a vida ocorre a pronúncia, o juízo reconhece a 
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22 
competência do Conselho de Sentença, o que o obriga a fazer juízo de 
admissibilidade em relação a todas as demais. 
Sob esse ângulo, pode haver aqui uma desclassificação imprópria. 
A desclassificação imprópria é quando se tem a migração de imputação 
dolosa contra a vida para outra dolosa contra a vida. Ainda assim, haverá 
pronúncia (art. 418 CPP). 
O que pode ocorrer é termos a pronúncia em relação a imputação dolosa 
contra a vida. Em relação a outra imputação dolosa contra a vida, ocorre a 
desclassificação. O fato duma imputação ter sido desclassificada a outra não 
dolosa não apaga o fato de que é conexa a outra ainda dolosa contra a 
vida. Por isso, essa imputação também será pronunciada. Será 
desclassificação imprópria, aplicando-se a regra da pronúncia, art. 413 CPP. 
 
Coisa Julgada 
Até por se pautar em juízo de dúvida, a impronúncia só faz coisa julgada 
formal, com objetivo de preservar a competência constitucional do Conselho 
de Sentença. Se sobrevierem provas materialmente novas, pode ser 
reproposta a demanda. Não basta novo documento, nova perícia, etc. Há 
necessidade da nova testemunha, perícia ou documento trazerem 
informações até então ignoradas. 
O juízo de admissibilidade que o juiz-presidente exerce é integral, abrangendo 
infrações dolosas contra a vida e as conexas. Se houver pronúncia da 
primeira, a regra é a pronúncia das demais para não haver usurpação 
indevida da competência do Conselho de Sentença. 
Digamos que o crime conexo é impronunciado. A impronúncia em relação ao 
conexo não doloso contra a vida também faz só CJ formal ou faz CJ material? 
A impronúncia também em relação ao crime conexo faz coisa julgada formal 
porque não se pode diferençar onde a lei não o fez, sem contar que o crime 
conexo ao doloso contra a vida também é da competência do Conselho de 
Sentença. 
Essa é a interpretação literal, mais textual. 
Mas não é essa a orientação prevalente, por uma série de razões. A 
impronúncia faz coisa julgada formal para assegurar a competência 
CONSTITUCIONAL do Júri. Mas quando pensamos a competência 
constitucional do Júri, ela é para imputações dolosas contra a vida. 
A competência para os conexos é ditada pela regra do art. 78, I, CPP, que nos 
diz que, havendo competência ou continência entre júri e outro órgão de 
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23 
competência comum, vai para o Júri. Nos crimes conexos, a competência do 
Júri é por conexão ou continência, ou seja, tem matiz infraconstitucional. 
A impronúncia se dá ao final da 1ª fase do Júri, depois de serem ouvidas 8 
testemunhas, mesmo número de testemunhas do rito ordinário. 
Aqui, estamos diante de uma cognição exauriente. A impronúncia nada mais 
é do que uma decisão de improcedência do pedido, mais precisamente por 
insuficiência probatória. 
Toda decisão no processo penal de improcedência do pedido faz coisa 
julgada MATERIAL. Toda exceção há de ser interpretada restritivamente e não 
ampliativamente, por regra básica de hermenêutica. 
A impronúncia em relação ao crime conexo não doloso contra a vida faz 
coisa julgada MATERIAL. 
Imaginemos que a imputação dolosa contra a vida pronunciada seja levada 
ao plenário do Júri e tenhamos o trânsito em julgado. Não há conexão e nem 
continência entre processos findos. Se sobreviessem provas materialmente 
novas a desautorizar a impronúncia em relação ao crime conexo não doloso 
contra a vida, a denúncia iria para uma Vara Criminal qualquer. 
Que preocupação é essa de resguardar a competência do Júri se a 
imputação conexa na maioria das vezes nem é apreciada no Júri? 
A impronúncia do conexo não doloso contra a vida faz coisa julgada material 
porque é uma decisão de improcedência do pedido por insuficiência 
probatória, cuja regra é a formação de coisa julgada material. Exceções a 
essa regra hão de ser interpretadas restritivamente. 
Tampouco está em jogo a Constituição, já que a competência do Júri para os 
conexos é infraconstitucional (art. 78, I, CPP). Tanto isso é verdade que, se 
sobrevieremprovas materialmente novas e a imputação dolosa contra a vida 
já tiver sido sentenciada, esta hipotética nova denúncia não será dirigida ao 
Júri (art. 82, CPP) e sim a uma Vara Criminal respectivamente competente. 
 
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24 
Absolvição Sumária 
Art. 415 CPP 
Esta absolvição sumária difere daquela prevista no art. 397. A cognição do art. 
415 já é exauriente, enquanto que a cognição do art. 397 é sumária. Por isso, a 
absolvição sumária do art. 397 não tem modalidade imprópria, com 
imposição de medida de segurança, que exige exaurimento do devido 
processo legal para desconstituição da presunção de não culpabilidade. 
Já a absolvição sumária do art. 415, como tem cognição exauriente, permite 
absolvição imprópria (p. único). 
Por ser uma cognição exauriente, a absolvição sumária do art. 415 pode ter 
por fundamento a inexistência do fato ou a negativa de autoria (inc. I e II).Não 
há esta correspondência na absolvição sumária do art. 397 CPP, ao menos 
segundo a lei. Parte da doutrina contesta isso. Se a absolvição do art. 397 
permite alcançar excludentes da ilicitude, da culpabilidade e da tipicidade, 
então não há como inadmitir absolvição quando reconhecidamente o fato 
não existiu ou quando obviamente o réu não foi o autor. mas esta é uma 
crítica doutrinária. Em provas objetivas, dizer que na absolvição do art. 397 
NÃO há fundamento na negativa do fato e inexistência de autoria. 
A absolvição sumária do art. 415 CPP previu no seu inc. III a atipicidade da 
conduta, no inc. IV as excludentes da ilicitude e da culpabilidade. 
Temos, em se tratando de absolvição sumária do art. 397, IV, a extinção da 
punibilidade. Isso não vem explicitado no art. 415 CPP, nem é necessário: o 
próprio CPP já anuncia que causas extintivas da punibilidade são cognoscíveis 
de ofício a qualquer tempo (art. 61 CPP). Seria uma redundância inserir isso no 
art. 415. Logo, a extinção da punibilidade pode ser reconhecida pelo juízo de 
ofício a qualquer tempo, o que está naturalmente englobado pelo art. 415 CPP. 
O art. 415 desafia recurso de APELAÇÃO (art. 416 CPP). 
Não há mais reexame necessário em se tratando de absolvição sumária no 
Júri. Nesse ângulo, foi tacitamente revogado o art. 574, II, CPP. 
A absolvição sumária imprópria do art. 415 deve ser preterida em prol da 
pronúncia quando a defesa apontar existência de teses que, embora não 
permitam absolvição sumária, podem ser sustentadas no Plenário do Júri. 
O parágrafo único do art. 415 revela a imprescindibilidade também das 
alegações finais na 1ª fase do Júri porque é a defesa que deve apontar a 
existência ou não de outras teses defensivas passíveis de levar no Plenário à 
absolvição, afinal a evidente inimputabilidade já “garantiria” a absolvição 
imprópria. 
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25 
Não obstante, os Tribunais Superiores insistem no entendimento de que, por ser 
um juízo de mera admissibilidade da acusação e não dedicado ao 
julgamento da causa propriamente dito, é imprescindível a notificação para 
apresentar as alegações. O seu oferecimento ou não traduz questão de 
estratégia. 
Pode ser que a defesa técnica prefira discutir tudo no Plenário do Júri. Em que 
pese as alegações finais terem papel importante na 1ª fase do júri, até porque 
a defesa mostra ao juiz se há ou não teses defensivas articuláveis no Plenário 
do Júri que justificariam uma pronúncia, em que pese evidente 
inimputabilidade mental, os Tribunais Superiores continuam entendendo que a 
1ª fase encerra mero juízo de admissibilidade da acusação e o oferecimento 
das alegações finais seriam facultativo. Imprescindível seria a notificação para 
apresentá-las. 
Trata-se de uma absolvição sumária, que faz COISA JULGADA MATERIAL e, 
portanto, é unívoca a sua natureza de SENTENÇA DEFINITIVA. 
Pt. 02 
 
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26 
Desclassificação 
Art. 419 CPP 
Trata-se de uma DECISÃO INTERLOCUTÓRIA MISTA NÃO TERMINATIVA. Não é 
uma sentença, mas decisão interlocutória. Ocorre o equacionamento do 
elemento subjetivo do tipo, ou seja, reconhece-se que não houve dolo de 
matar. Por conseguinte, ocorre a desclassificação da imputação, sem pôr fim 
ao processo, que apenas prosseguirá perante outro juízo. 
O recurso cabível é o RESE, porque estaremos atacando decisão conclusiva 
da incompetência do juízo (art. 581, II, CPP). 
No caso do art. 419, teremos uma imputação originária não dolosa contra a 
vida. Ocorre o declínio para outra imputação agora não mais dolosa contra a 
vida. Chegando os autos ao novo juízo, o primeiro passo é dar vista ao MP 
para que este providencie o aditamento (art. 384 CPP). 
Se não for promovido o aditamento, estaremos fora do Júri ainda analisando 
imputação dolosa contra a vida, o que gera problema de competência. 
Ademais, o p. da correlação exige o aditamento, porque a denúncia não 
pode narrar crime doloso contra a vida enquanto o juiz julga crime não doloso 
contra a vida. 
 
Art. 419, art. 383, §2º, CPP => houve o declínio da competência para o novo 
juízo. Será que o MP lá oficiante pode se recusar a aditar por discordar dessa 
desclassificação? Por exemplo, o juiz Presidente vislumbrou desistência 
voluntária e houve desclassificação para lesão corporal grave. O promotor em 
atuação na Vara Criminal fica horrorizado, porque para ele fica claríssima a 
tentativa, não desistência voluntária. Ele pode recusar o aditamento? 
Há duas posições: 
1) Afrânio Silva Jardim (MP) => a unidade e a indivisibilidade são do órgão 
e, mesmo assim, projeta-se no plano administrativo, e não processual. 
Logo, o promotor pode invocar a independência funcional, nos termos 
do art. 127, §1º, CF, e recusar o aditamento. Afinal, não está vinculado à 
opinião delitiva do outro órgão. Ele próprio poderia requerer, nos termos 
do art. 115, II, do CPP, conflito de competência.3 
 
3 Quando pensamos no conflito de competência e na possibilidade de ser requerido 
pelas partes (art. 115), pensamos que o juízo reconhece ab ovo sua incompetência e 
remete os autos a outro juízo. Ou seja, algo num estágio embrionário do processo. 
Não seria o caso aqui, porque atravessamos toda uma 1ª fase, testemunhas já foram 
ouvidas. O declínio de competência ocorre a partir de equacionamento de questão 
de mérito contra a qual haveria recurso perante o juízo processante, qual seja, RESE. 
Se não foi interposto RESE, a questão precluiu para as partes, inclusive para o MP que 
lá se fazia presente. 
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27 
2) O processo há de ser uma marcha para frente e não para trás. A 
desclassificação já é, nesses casos, julgamento de uma questão de 
mérito. Logo, eventual discordância não mais versaria sobre um error in 
procedendo e sim in judicando contra o qual cabe recurso adequado. 
Se não interposto, é porque transitou em julgado para o MP, que é uno 
e indivisível. Admitir a rediscussão do tema via conflito negativo de 
competência não deixaria de camuflar uma reformatio in pejus de 
ofício, vedada no art. 617 CPP. Ademais, a alegação de preservação 
da independência funcional do MP é indevida, afinal se o Tribunal, ao 
apreciar o hipotético conflito de competência, reafirmasse o acerto da 
desclassificação, este mesmo promotor teria que aditar, contra a sua 
vontade, sob pena de o juiz processante não ter alternativa senão 
absolver. 
A argumentação em sentido contrário dá ênfase a algumas questões bem 
relevantes, quais sejam: 
- Não estamos, nesse caso, perante error in procedendo.Não é um mau 
processamento da causa pelo juízo, mas o juiz, ao final de cognição 
exauriente, equacionando questão de mérito. Eventual discordância não 
apontaria error in procedendo, mas error in judicando contra o qual, por lei, 
cabe o RESE. Se este não é interposto, isto importa em preclusão. 
- O discurso de independência funcional é indevidamente potencializado. Se 
for suscitado o conflito de competência e o Tribunal apreciá-lo, fixando a 
competência do juízo processante, o mesmo promotor não teria alternativa 
senão aditar mesmo contra a sua vontade. Se não o fizer, a solução será a 
absolvição. Continuaremos diante de imputação dolosa contra a vida. O juiz 
não pode, por sua conta, condenar o réu por crime diverso. Para isso, 
precisaria de aditamento que não existiu, somente lhe restando a absolvição. 
- Embora a solução proposta pela 1ª posição seja bem concatenada, atenta 
contra a instrumentalidade do processo. Ao invés de ser marcha evolutiva, 
seria marcha involutiva. 
 
Usar a 1ª posição para o MP, já que potencializa independência funcional do 
MP. Usar a 2ª posição em prova da DP. 
 
Se pensarmos em unidade e indivisibilidade do MP, estaríamos admitindo que em 
outro juízo questão de mérito já equacionada porque não interposto recurso 
adequado pudesse ser simplesmente reaberta. 
O processo que nasceu para ser marcha para a frente se transformaria em marcha 
para trás. 
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28 
Em termos de jurisprudência, embora reduzida, tem prevalecido o 2º 
entendimento. O 1º dá azo a reviravoltas na persecução penal, em detrimento 
da segurança jurídica.4 
Na prática, geralmente não é questionada a decisão de desclassificação 
proveniente do Júri. Os promotores e juízes da Vara Criminal costumam 
simplesmente seguir com o processo. 
 
Art. 417 CPP 
Art. 4175 => imaginemos as seguintes hipóteses: 
- Houve a pronúncia de A. Ao final do processo, descobrimos a identidade de 
B, coautor. 
- Houve a impronúncia de A. Descobrimos então a identidade de B, coautor. 
Uma das grandes inovações da reforma de 2008 é que a denúncia persiste 
como peça acusatória até o plenário do Júri. Antes de 2008, não persistia, 
porque quando sobrevinha a pronúncia e alcançávamos a preclusão, os 
autos eram encaminhados ao MP para oferecer nova peça acusatória, o 
libelo crime acusatório. 
Este era um espelho da pronúncia. Hoje, isso não existe mais: a denúncia 
subsiste como peça acusatória até o Plenário do Júri. A denúncia é levada ao 
conhecimento do Conselho de Sentença na forma em que admitida na 
pronúncia, mas a denúncia em si é peça acusatória. 
Deve haver um ADITAMENTO para resolver a questão do surgimento de B. é 
certo que haverá toda uma fase separando o réu A do réu B, objeto do 
aditamento. 
A regra, por conta da distância procedimental, é que se aplique o art. 80 CPP, 
ou seja, que se tenha uma cisão do procedimento. 
Ou seja, tiraríamos cópia de todos os autos originais e, em cima das cópias, 
seria processado e julgado B. 
No caso de impronúncia, o processo terminou. A impronúncia é um 
provimento terminativo, extingue o processo. No caso de impronúncia, como 
vamos demandar B? Através de uma nova denúncia. 
 
4 Acompanhar este tema nos informativos, porque são poucos os julgados no tema! 
5 Importante sobretudo para provas do MP. 
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29 
Sabemos que não há conexão e nem continência entre processos já findos. A 
regra seria pensarmos numa nova denúncia contra B com livre distribuição, 
não por dependência. 
Só que o art. 417 nos diz que o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, 
portanto, o próprio Presidente do Júri, determinando o retorno dos autos ao 
MP em 15 dias. Implicitamente, esse artigo determina não a livre distribuição, 
mas que essa denúncia seja encaminhada ao mesmo juízo. 
Como o 1º processo está findo, a nova denúncia será distribuída por 
dependência. 
Pt. 03 
 
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30 
Intimação da pronúncia 
A 2ª fase se inicia quando todas as partes forem intimadas da pronúncia. 
Art. 420 CPP 
O MP e a DP gozam da prerrogativa da intimação pessoal (art. 370, §4º, CPP), 
como também estipula a legislação de regência destas instituições6. 
Em relação ao advogado constituído, a intimação se dá pela imprensa oficial, 
conforme art. 370, §1º, CPP + art. 420, II, CPP. 
Em relação ao réu, a regra é intimação pessoal, conforme prega o art. 351 
CPP + art. 370, caput, CPP. 
O art. 370, que cuida das intimações, diz-nos que elas obedecerão o mesmo 
regramento reservado às citações. E a citação do réu é pessoal. 
Só que o p. único diz que, se frustrada a intimação pessoal, haverá a 
intimação do réu por edital (Lei 11.689/2008). 
Antes da reforma de 2008, o réu tinha que ser pessoalmente intimado da 
pronúncia E, se o crime fosse inafiançável, o processo ficava suspenso até o 
implemento da intimação pessoal. Havia, assim, a chamada crise de 
instância: processo suspenso com fluência do prazo prescricional. 
Nesse caso, a prescrição acabara de ser interrompida com a pronúncia, mas 
de todo modo se operava a crise de instância – o processo ficava suspenso 
indefinidamente até que o réu fosse pessoalmente intimado, mas a prescrição 
fluía. Isso só ocorria para os crimes INAFIANÇÁVEIS pronunciados. 
Hoje, não é mais assim. Frustrada a intimação pessoal, promove-se a 
intimação POR EDITAL, de modo que o processo seguirá. 
A 1ª questão que surge é: essa inovação foi só processual ou foi híbrida 
(processual e material)? 
Se entendermos essa inovação como sendo apenas processual, a incidência 
é imediata, conforme prega o art. 2º CPP. Se entendermos que essa inovação 
foi híbrida (também material), trabalharemos com a CF, art. 5º, XL. 
Ou seja, reconheceríamos que seria inovação híbrida e só alcançaria os 
CRIMES COMETIDOS após entrada em vigor da Lei 11.689/2008. 
Majoritariamente (Tribunais Superiores), entende-se que a inovação seria 
apenas processual, pois repercutiu na marcha do processo e não na 
prescrição, tendo incidência automática. 
 
6 Lei 8.625/93 + LC 75/93 + LC 80/94. 
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31 
A prescrição se interrompia com a pronúncia, continua a ser interrompida com 
a pronúncia e a partir daí continua a fluir. A inovação foi só no processo: se 
antes ele ficava suspenso até que o réu pronunciado em crime inafiançável, 
agora ele fluirá, com o réu sendo intimado por edital. 
P/ DP: 
A inovação foi híbrida porque se eliminou a crise de instância, que é foco para 
a conquista da prescrição. E, por outro lado, permitiu o prosseguimento do 
feito em face de um réu intimado fictamente em detrimento da autodefesa, 
que é uma garantia constitucional e, portanto, material. 
Antes, tínhamos a crise de instância, com possibilidade de conquista da 
prescrição. Hoje, não há mais isso, o que tem repercussão material. Ademais, a 
autodefesa é garantia constitucional. Antes, no crime inafiançável não havia 
a possibilidade de o sujeito ser levado a plenário sem ciência pessoal da 
pronúncia. Hoje, essa possibilidade existe. Essa diminuição na autodefesa 
afeta o direito material, merecendo a irretroatividade. 
Por esse raciocínio, esta inovação só alcançaria os crimes dolosos contra a 
vida cometidos posteriormente à lei 11.689. 
Nessa controvérsia, há posiçãoclaríssima definida pelo 1º entendimento, no 
sentido de que é inovação processual de incidência imediata. 
Art. 366 CPP 
 
Art. 420, p. único, CPP – intimaremos pessoalmente o réu, mas, citada a 
intimação pessoal, intimamos por edital e prosseguimos, porque o réu já 
conhece a imputação. Ele não foi processado e julgado à revelia. Se ele 
tivesse sido citado POR EDITAL, nunca teríamos tido a pronúncia. Não 
aparecendo o réu, teríamos a suspensão do processo e a suspensão da 
prescrição. 
Denúncia 
Réu citado 
pessoalmente ou que 
apareceu 
pessoalmente e 
constituiu advogado 
Pronúncia 
Intimação da 
pronúncia, que será 
pessoal ou, 
subsidiariamente, por 
edital 
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32 
Essa alteração veio com a Lei 9271/1996. Sendo lei que previu a suspensão do 
processo e também da prescrição, ela é irretroativa, só alcançando os crimes 
cometidos APÓS a sua vigência. 
Quando examinamos o art. 366 CPP, estudamos que quanto aos crimes 
anteriores à L 9271, a solução não era a suspensão do processo e da 
execução, mas o prosseguimento do feito. 
Imaginemos que houve uma pronúncia, mas ante um réu CITADO POR EDITAL. 
O processo evoluiu porque o fato era anterior à lei 9271/1996. Quando tivermos 
esse cenário, de réu denunciado, citado por edital, mas por ter sido o crime 
anterior à lei 9271, a premissa do art. 420 cai por terra. Nesse caso, daremos 
uma sobrevida aos então arts. 413 e 414, ou seja, para esses casos não 
podemos abrir mão de intimação pessoal da pronúncia. 
A premissa do parágrafo único do art. 420, CPP é a de um réu citado 
pessoalmente, porque do contrário se aplicaria o art. 366 CPP e o processo 
ficaria suspenso. Ocorre que se o fato delituoso é anterior à Lei 9271/96, 
irretroativa, o réu citado por edital verá o processo prosseguir até a pronúncia, 
hipótese em que o STJ já assentou a necessidade, sob pena de nulidade 
absoluta, de o acusado ser pessoalmente intimado, quando inafiançável a 
imputação, nos termos do preceituado nos então artigos 413 e 414 do CPP 
originário. 
 
 
 
 
ANTES DA LEI 
9.271/1996 
Denúncia Citação por 
edital 
Processo 
segue Pronúncia 
Se o crime for 
inafiançável, 
intimação 
pessoal. Na 
impossibilidad
e, suspensão 
da 
prescrição. 
DEPOIS DA 
LEI 
9.271/1996 
Denúncia 
Citação 
pessoal; na 
impossibilidad
e, citação 
por edital e 
suspensão do 
processo e da 
prescrição. 
Réu aparece 
e apresenta 
defesa. 
Pronúncia. 
Se não for 
possível a 
intimação 
pessoal, faz-
se a 
intimação por 
edital e o 
processo 
segue. 
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33 
Problema prático: 
 
 
Leva-se em conta a inafiançabilidade prevista à época dos fatos. 
Ex.: homicídio simples, reclusão 6 a 20 anos. A essa época, era crime 
inafiançável. Afiançáveis eram crimes reclusivos com pena mínima de até 02 
anos. 
Ou seja, hoje os crimes inafiançáveis são, por mandamento infraconstitucional, 
os constitucionalmente inafiançáveis. Não houve ampliação, mas restrição 
pelo legislador, que deixou apenas as hipóteses da CF. 
Isso significa incluirmos homicídio simples e homicídio qualificado, com penas 
altas e prazo prescricional máximo. Entre a data do fato e a pronúncia, 
sempre há um marco interruptivo da prescrição, o recebimento da denúncia. 
Pt. 04 
 
Prática do 
crime 
Vigência 
da Lei 
9.271/96 
Denúncia 
Citação 
por edital. 
Pronúncia. 
Tentativa 
de 
citação 
pessoal 
frustrada. 
Suspensão 
do 
processo. 
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34 
Segunda Fase do Júri 
Preparação do processo para julgamento em plenário 
Depois que todos forem devidamente intimados da pronúncia, o juiz dará vista 
dos autos ao MP para que, em 05 dias, requeira as diligências probatórias que 
entender necessárias e arrole as suas testemunhas, que podem ser até 05. 
São 05 testemunhas por crime. 
Esse teto se refere a TESTEMUNHA, ou seja, aquela compromissada com a 
verdade. Não inclui vítima sobrevivente e nem informante. 
Depois disso, será vez de a Defesa fazer a mesma coisa, também no prazo de 
05 dias. 
Art. 422 CPP 
Os autos irão para o juiz, que fará uma espécie de despacho saneador (art. 
423). 
O relatório mencionado no inc. II do art. 423 não pode ser valorativo, para não 
sugestionar o Conselho de Sentença. É um relatório estritamente descritivo. 
O juiz saneará, apresentará relatório e já designará data para a realização do 
plenário do júri. 
Fato novo 
Não há mais libelo acusatório. O Conselho de Sentença conhece da denúncia 
na forma em que foi admitida na pronúncia. A pronúncia não tem caráter 
definitivo, até porque é juízo de admissibilidade. Seu caráter é rebus sic 
stantibus, conforme art. 421, §§ 1º e 2º CPP. 
Por exemplo, o sujeito é denunciado por um homicídio tentado, mas 
posteriormente à pronúncia a vítima falece. É um fato novo, superveniente, a 
justificar a mudança de um crime tentado para um crime consumado. 
Como se leva ao Conselho de Sentença a denúncia na forma em que foi 
admitida na pronúncia, o fato novo deve ser objeto de aditamento. O 
recebimento do aditamento não deixa de ter natureza de uma pronúncia 
complementar. 
Art. 421, §1º e §2º - em casos como esse, segundo interpretação textual7, o juiz 
dará vistas ao MP, de modo que o aditamento é PROVOCADO. Formalizado o 
aditamento, o processo vai diretamente para o juiz recebê-lo ou não, sem 
 
7 A ser usada em provas objetivas. 
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35 
previsão de vista prévia à Defesa, como seria normal aos aditamentos em 
geral. 
O art. 421, §§ 1º e 2º CPP excepcionam o novo art. 384 CPP porque ainda 
contemplam hipótese de aditamento provocado e recebimento sem oitiva 
prévia da defesa. 
Como essa regra é anterior ao novo art. 384 CPP, oriundo da lei 11.719, a ele 
deve se adequar, até porque mais consentâneo com o sistema acusatório e 
com a ampla defesa. 
A primeira posição, textual, ganha força porque estamos tratando de duas leis 
bem contemporâneas, que integraram o mesmo bloco de reformas. Em 
provas objetivas em geral, a banca trabalha o art. 384 como regra e o art. 421 
como exceção. 
Aqui, a regra ainda seria o aditamento provocado. 
Ademais, no geral é prevista a vista à Defesa, enquanto que haveria uma 
exceção no âmbito do art. 421, porque o aditamento seria feito sem vista à 
defesa. 
 
E se o fato novo for revelado no plenário do Júri? Haveria o confronto entre 
duas regras: o art. 421, §§ 1º e 2º (que assenta o caráter rebus sic stantibus da 
denúncia) e o art. 479 CPP (qualquer prova nova deve ser apresentada 
faltando ao menos 3 dias úteis para o Plenário do Júri, prestigiando-se assim o 
contraditório). 
Se vem a notícia do óbito durante o Plenário, a defesa poderia se preparar 
para isso, inclusive alegando ausência de nexo causal, tentando mostrar que o 
óbito foi causado por razões absolutamente independentes da ação dolosa 
contra a vida. 
Sabemos que é uma tese juridicamente complicada, porque as causas 
supervenientes são relativamente independentes. Mas perante o Conselho de 
Sentença, leigo em Direito, são aumentadas as chances de êxito. 
Ignorar o fato novo significaria negar cumprimento aos parágrafos do art. 421. 
Como equilibrar isso? 
Se a prova nova, ao alterar a pronúncia, vier durante o Plenário do Júri, o juiz 
não pode ignorá-la diante dos parágrafos 1º e 2º do art. 421 do CPP. Contudo, 
dar prosseguimento ao plenário nessas condições maculariao art. 479 CPP, 
logo a solução é dissolvê-lo, abrindo vista ao MP para aditamento, depois à 
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36 
defesa8, inclusive quanto à prova que pretende produzir, e depois receber o 
aditamento designando novo plenário. 
Nesse caso, compatibilizamos os §§ 1º e 2º do art. 421 com o art. 479 CPP. 
Quando se critica os §§ 1º e 2º do art. 421 à luz do art. 484, propõe-se que o 
aditamento a uma pronúncia siga o mesmo procedimento do art. 484, 
ouvindo-se a defesa, recebendo-se o aditamento e oportunizando à 
acusação e à defesa a produção de provas, mudando o rol de prova oral 
inicialmente indicada no art. 422 CPP. 
Aula 03 – 26/10/2015 – pt. 01 
 
Desaforamento 
O desaforamento é uma causa superveniente de modificação da 
competência territorial do Júri. 
O desaforamento do art. 427 CPP objetiva garantir a imparcialidade do 
julgamento, ao passo que o desaforamento do art. 428 CPP objetiva a 
celeridade, ou seja, está inspirado no art. 5º, LXXVIII, CF (duração razoável do 
processo). 
Em relação ao desaforamento do art. 428, podemos anotar o seguinte: 
Parte da doutrina, como Nicolitt, sustenta a inconstitucionalidade do art. 428 
CPP à luz das garantias do juiz natural, devido processo legal, ampla defesa e 
contraditório, porquanto não seria necessário o deslocamento da 
competência em detrimento da oralidade para garantir a celeridade do 
julgamento. 
Por conta da demora na realização do julgamento, desaforamos para outro 
Tribunal do Júri. 
O desaforamento é horroroso para o processo, por inúmeras razões. Quando 
eu desaforo e vou para outra comarca, as testemunhas seguramente estarão 
na comarca de origem. Não há nenhuma regra que obrigue uma testemunha 
a se deslocar de sua comarca para prestar depoimento noutro Plenário do 
Júri. Ou seja, o plenário, ao invés de oral, acabará sendo procedimento 
escrito. Orais mesmo serão apenas os debates. As testemunhas não estarão 
presentes. Toda a sustentação oral acusatória e defensiva se baseará em 
depoimentos, perante Conselho de Sentença que não é o natural, o que 
ofende contraditório e ampla defesa. Ofende-se juiz natural, contraditório e 
ampla defesa. 
 
8 Até porque a defesa pode mudar o seu rol de testemunhas, p.e., pedindo oitiva de 
um médico para afastar o nexo causal. 
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37 
Todavia, essa crítica “não emplacou”. Já havia esse modelo antes da reforma 
de 2008, mas ele foi mantido e aperfeiçoado. 
2ª posição (Tribunais Superiores): 
O art. 428 CPP é inspirado em uma garantia constitucional (art. 5º, LXXVIII, CF), 
a garantia razoável do processo, e não banaliza esta modificação 
superveniente da competência territorial, ao contrário, pois a demora tem que 
ser creditada ao excesso de trabalho, ou seja, pauta de julgamento 
completamente tomada e não mais administrável. 
A demora na realização do julgamento não é o único critério para 
deferimento do desaforamento: há necessidade de um plus, creditar a 
demora a excesso de trabalho, ou seja, pauta de julgamento totalmente 
lotada naquele Tribunal do Júri, tornando-a ao menos temporariamente 
inadministrável. 
Se não for comprovado o excesso de serviço, indefere-se o desaforamento e 
exige-se imediata realização do plenário. 
Por conta disso, o dispositivo é constitucional. 
 
Art. 427 – sua preocupação é a imparcialidade do julgamento. 
- interesse da ordem pública 
- dúvida sobre imparcialidade do júri 
- segurança pessoal do acusado. 
Numa linha textual (p/ provas objetivas), são esses três os fundamentos para o 
desaforamento previsto no art. 427 CPP. 
Se articularmos interesse da ordem pública para justificativa para o 
desaforamento, é porque não temos clima para esse plenário na ordem 
jurídica. O mesmo no caso de risco à segurança pessoal do acusado, em que 
não há clima propício na comarca. Logo, não há clima para se ter um 
julgamento idôneo na comarca de origem, o que justifica o desaforamento. 
 
O desaforamento para a oralidade do júri é terrível, porque dependemos da 
boa vontade das testemunhas e vítimas sobreviventes para saírem de sua 
comarca de origem e irem a outra comarca prestar depoimento. A ideia, 
portanto, é minimizar o deslocamento de testemunhas. 
O art. 427, por isso, diz que devemos sempre preferir a comarca mais próxima, 
sob pena de nulidade absoluta. Só preteriremos comarca mais próxima a 
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38 
outra mais distante se os fundamentos do desaforamento também se 
constatarem na outra comarca. 
Por exemplo, o réu ou vítima é uma pessoa notória em toda a região (ex.: 
Região dos Lagos). 
Não sendo este o caso, deve-se desaforar para uma comarca mais próxima, 
minimizando o deslocamento das testemunhas. 
 
E se for um crime que tenha uma comoção nacional? Não haverá 
desaforamento, porque este seria inútil. 
Se o crime tiver comoção nacional, não será feito o desaforamento, o qual se 
mostraria inútil. 
 
Se um crime é da competência da Justiça do EMG, o desaforamento deve se 
dar dentro do EMG. Descabe desaforar para o ERJ, o que representaria ofensa 
ao pacto federativo. 
No âmbito federal, deve-se respeitar as regiões. 
Art. 427, in fine. 
A legitimidade para requerer o desaforamento é de todas as partes. Antes da 
reforma, não havia previsão para o assistente de acusação desaforar, hoje isso 
é possível. 
As faculdades do assistente em geral vêm listadas no art. 271 CPP. Ali, merece 
uma remissão ao art. 427 CPP. 
O querelante também tem legitimidade para requerer desaforamento. Obs.: 
lembrar da ação penal privada subsidiária da pública e da possibilidade de 
haver crime de ação penal privada conexo ou continente a um crime doloso 
contra a vida. 
O próprio juiz pode representar pelo desaforamento. 
A regra é ouvir o juízo, até para que este diga se há mesmo animosidade a 
justificar o desaforamento. Não será ouvido o juiz, obviamente, se foi ele quem 
representou pelo desaforamento. 
O desaforamento representa decréscimo em termos de juiz natural, à exceção 
de comprovada a parcialidade daquela comunidade. A única justificativa 
para o desaforamento é justamente o resguardo da imparcialidade. O 
desaforamento do art. 427 se abebera do próprio art. 5º, CF, mas deve haver 
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39 
mesmo a parcialidade, sob risco de ofendermos o juiz natural, contraditório e 
ampla defesa. 
Se não foi a defesa quem postulou o desaforamento ao Tribunal, a defesa 
deve ser ouvida. É preciso oportunizar a oitiva da defesa, salvo se foi ela quem 
requereu o desaforamento. 
 
- ouvir o juiz-Presidente, a não ser que tenha representado 
- ouvir a defesa, a não ser que ela tenha representado 
 
S. 712 STF 
Art. 427, §3º, CPP 
O desaforamento é terrível para o processo em si. Ele não se satisfaz com juízo 
de probabilidade, é necessário haver um juízo de quase certeza. Na dúvida, 
não se desafora. 
A defesa requereu o desaforamento. Obviamente, ela não precisa mais ser 
ouvida. Pela regra do §3º do art. 427, deve-se ouvir o juiz. E se o Juiz-Presidente 
trouxer informações que não constam nos autos? Nas suas explicações, 
contrárias ao desaforamento, o juiz articula fatos que até então não estavam 
nos autos do processo. O Tribunal deve ouvir a defesa, sob pena de nulidade 
absoluta. 
 
O desaforamento é enfrentado pelo Tribunal, através de um acórdão. Quais 
os recursos adequados? 
Há uma decisão tomada em última instância pelos Tribunais. Os nossos 
recursos ficam restritos

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