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Administrativo Especial Rafael Oliveira

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Curso Fórum TV 
Carreiras Jurídicas 2015 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL 
Rafael Oliveira 
 
 
 
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ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Intervenção do Estado na Ordem Econômica ............................................................... 4 
Histórico. Modelos de Estado. ................................................................................... 4 
Fundamentos da Ordem Econômica ....................................................................... 13 
Princípios da Ordem Econômica ............................................................................. 13 
Planejamento e Disciplina ....................................................................................... 15 
Regulação ............................................................................................................... 19 
Sentidos de Regulação ........................................................................................ 19 
Diferença entre regulação e regulamentação ...................................................... 21 
Formas de Regulação.......................................................................................... 22 
Fundamentos da Regulação ................................................................................ 24 
Fomento .................................................................................................................. 27 
Características ..................................................................................................... 27 
Limites ................................................................................................................. 29 
Classificação ....................................................................................................... 30 
Direito da Concorrência ........................................................................................... 32 
Intervenção Direta na Ordem Econômica – Atuação do Estado como Empresário .. 34 
Regime Jurídico das Estatais............................................................................... 34 
Agências Reguladoras ................................................................................................ 36 
Fontes Normativas .................................................................................................. 41 
Fontes constitucionais ......................................................................................... 41 
Fontes infraconstitucionais .................................................................................. 42 
Atividade Regulatória .............................................................................................. 44 
Classificações de Agências REguladoras ............................................................... 45 
Quanto ao tipo de atividade regulada .................................................................. 45 
Quanto à quantidade de setores regulados ......................................................... 46 
Quanto à titularidade federativa ........................................................................... 46 
Regime Jurídico Especial ........................................................................................ 46 
 
 
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Poder Normativo .................................................................................................. 47 
Autonomia Administrativa Reforçada ................................................................... 57 
Estabilidade reforçada dos dirigentes ............................................................... 59 
Impossibilidade de recurso hierárquico impróprio ............................................. 63 
Autonomia Financeira .......................................................................................... 66 
PPP – Parcerias Público-Privadas .............................................................................. 69 
Origem e Fontes Normativas ................................................................................... 69 
Justificativa das PPP ............................................................................................... 72 
Comparação entre a Concessão Comum e a Concessão Especial PPP ................. 75 
Distinção entre PPP Patrocinada e Administrativa .................................................. 83 
Sociedade de Propósito Específico (SPE) ............................................................... 86 
FGP – Fundo Garantidor de Parcerias Público-Privadas ......................................... 89 
Natureza Jurídica ................................................................................................. 90 
Constitucionalidade do FGP ................................................................................ 91 
Peculiaridades das Licitações e dos Contratos de PPPs ......................................... 93 
Consórcios Públicos ................................................................................................... 97 
Fundamentos .......................................................................................................... 98 
Histórico Legislativo e Novidades da L. 11.107 ..................................................... 101 
Antes da Lei 11.107/05 ...................................................................................... 101 
Após a Lei 11.107/05 ......................................................................................... 103 
Constitucionalidade da Lei 11.107/2005 ............................................................ 106 
Partícipes ....................................................................................................... 108 
Atos que devem ser praticados para formação e execução do consórcio público . 110 
Celebração do Protocolo de Intenções .............................................................. 110 
Ratificação Legislativa ....................................................................................... 111 
Celebração do Contrato Definitivo ..................................................................... 113 
Instituição de Pessoa Jurídica para Gerir o Consórcio ....................................... 113 
 
 
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Pessoa de Direito Público: Associação Pública .............................................. 113 
Pessoa Jurídica de Direito Privado ................................................................. 120 
Contrato de Rateio e Contrato de Programa ...................................................... 122 
Contrato de Rateio ......................................................................................... 122 
Controle pelo Tribunal de Contas ................................................................... 123 
Contrato de Programa .................................................................................... 124 
Alterações Legislativas .......................................................................................... 125 
 
 
 
 
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ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Aula 01 – pt. 01 
INTERVENÇÃO DO ESTADO 
NA ORDEM ECONÔMICA 
 
HISTÓRICO. MODELOS DE ESTADO. 
 
Ao longo do tempo, o perfil do Estado foi sendo alterado, e assim também a 
sua relação com a economia. 
Para visualizarmos essa evolução no perfil da atuação do Estado, de sua 
intervenção na ordem econômica, partiremos da evolução histórica dos 
constitucionalistas: 
(a) Estado liberal 
(b) Estado social 
(c) Estado democrático de Direito / Estado regulador 
Essa evolução linear não é perfeita. Aliás, é difícil encontrar esses três modelos 
de Estado perfeitos na história brasileira. 
O modelo do Estado liberal de direito surge na França, após a RevoluçãoFrancesa de 1789. Num período próximo, surge nos EUA, modelo do Estado 
liberal de direito. 
Até a Revolução Francesa, vigorava a figura do Estado absolutista. Até então, 
o Estado absolutista não encontrava limites na ordem jurídica. Era um Estado 
arbitrário e não era passível de responsabilização porque não havia limites em 
sua atuação. 
Com a Revolução Francesa e o surgimento do Estado de Direito, colocaram-se 
limites para o Estado. Saiu de cena o Estado absolutista e a burguesia toma o 
 
 
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poder. Teremos agora limites à atuação do Estado, porque as pessoas que 
assumiram o poder tinham medo do Estado. 
Consagram-se limites ao Estado, como o p. da legalidade: reafirma-se a ideia 
de legalidade, com a ideia de que o Estado só pode fazer aquilo que a lei 
autoriza. 
Se o Estado só pode fazer o que a lei autoriza, está-se dizendo que o Estado 
só pode fazer o que a população deixa ele fazer. Teoricamente, quem traz a lei 
é o representante do povo. 
O Poder Legislativo, que representa a vontade geral, traz uma lei que permitirá 
a atuação do Estado. 
Se o Estado só pode atuar de acordo com a lei, é como dizermos que o Estado 
só pode fazer o que a população deixa ele fazer. A legalidade é um limite, um 
freio, ao Estado. 
Consagra-se a ideia de separação de poderes para evitar concentração de 
poderes como existia no absolutismo, nas mãos do monarca. Dilui-se o poder 
entre órgãos e pessoas diferentes, cada órgão controlando o outro, criando-se 
uma limitação. 
Faz-se um catálogo de direitos fundamentais do homem e do cidadão, que 
deverão ser respeitados e promovidos pelo Estado. No surgimento do Estado 
liberal de direito pós-revolução Francesa, vêm os direitos fundamentais de 1ª 
geração: propriedade, liberdade, segurança. 
Com o surgimento do Estado liberal de direito, pós-Revolução Francesa, o 
Estado passa a ser limitado pela ordem jurídica. Sai de cena o Estado 
absolutista e entra o Estado de Direito, limitado pela ordem jurídica. 
O que caracterizava o Estado em relação à economia é que o Estado não fazia 
intervenções fortes e diretas na ordem econômica. Como se afirma na doutrina, 
o Estado liberal, no que toca à ordem econômica e social, seria um Estado 
 
 
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abstencionista (ou, como alguns falam, um “estado guarda noturno”). Ele não 
prestaria atividades na ordem econômica, nem faria intervenções. 
Adam Smith dizia que haveria regulação pelo próprio mercado, que seria 
regulado pela sua mão invisível (“mão invisível do mercado” significaria que o 
próprio mercado se autorregularia, ao invés de o Estado fazer intervenção no 
mercado, apenas olharia de cima, e deixaria o mercado resolver seus 
problemas e estabelecer suas próprias regras). 
Essa falta de intervenção do Estado acabou gerando na prática uma crise. O 
mercado abusou da liberdade e, com isso, concentrou renda e riqueza, 
gerando desigualdades. 
A ausência do Estado do mercado gerou desigualdade entre os mais fortes e 
mais fracos economicamente, além de gerar ineficiências. 
O grande símbolo foi o a grande depressão econômica que culminou em 1929 
na quebra da bolsa de Nova Iorque. Os EUA eram modelo clássico de Estado 
liberal intervencionista. A ausência do Estado não poderia se perpetuar. 
Na Europa, o novo modelo de Estado é o Estado social de direito. 
Especialmente após as grandes guerras mundiais, entrou em cena o Estado 
social de direito, marcado por forte intervenção do Estado na ordem econômica 
e social. 
Se o Estado liberal era abstencionista e deixava o mercado se autorregular, o 
Estado social fez com que o Estado se tornasse o próprio prestador da 
atividade. Ele adota dois caminhos básicos: ou o Estado assume tarefas e 
passa a ser prestador de algumas atividades (Estado empresário, que atua 
prestando o serviço e substituindo o mercado); ou o dirigismo estatal. 
Além de o Estado criar braços para ele prestar a própria atividade, substituindo 
ou concorrendo com o mercado, há forte dirigismo estatal: elaboração de 
normas protetivas dos consumidores, dos trabalhadores... 
 
 
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Enfim, protege-se quem estava desprotegido até então (sobretudo 
trabalhadores e consumidores), o que significa restrição à livre iniciativa e à 
liberdade do mercado. 
Esse 2º modelo também não deu certo. A presença muito forte do Estado na 
ordem econômica foi um problema. 
Esse modelo de Estado social entra em crise especialmente a partir da déc. 80. 
Inglaterra foi o grande exemplo disso, e posteriormente se espalhou para a 
Europa e outros países fora da Europa. 
O Estado estava tão grande, assumira tantas tarefas, tendo que garantir 
educação, saúde e outros direitos sociais que até então não eram direitos 
fundamentais (direitos de 2ª geração), que daí surgiam custos elevados. O 
Estado tinha muitos custos para prestar muitas atividades. O dinheiro não 
nasce em árvore. O Estado tem um limite de gastos, tem um orçamento 
limitado, uma vez que dinheiro não nasce em árvore, as pessoas têm que 
contribuir e elas têm um limite para essa contribuição. 
Se o orçamento é limitado e as atividades geram custos elevados, chega um 
momento em que a conta não fecha e o Estado não terá mais dinheiro para 
essas atividades. Na déc. 80, surgiu a crise fiscal, porque o Estado gastava 
mais do que tinha. 
Ou o Estado quebra, ou adota medidas para não quebrar. Margaret Thatcher 
trouxe uma série de medidas de racionalização do dinheiro público, inclusive 
corte de gastos, legislação que limitava gastos orçamentários e obrigava ao 
planejamento orçamentário. As medidas muitas vezes eram impopulares. 
Grande símbolo desse período foram as Leis de Responsabilidade Fiscal, 
inclusive na Nova Zelândia, em que se inspirou a nossa LRF. 
Nesse movimento, se o Estado Social não tinha dado certo, passou-se a 
prestar novo modelo de Estado. Começou-se a adotar medidas de diminuição 
de gastos e, portanto, do próprio tamanho do Estado. 
 
 
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Chegamos a um dilema: se o Estado Social não deu certo porque assumiu 
muitas tarefas e não deu conta delas; é preciso tomar medidas, mas ao 
diminuir ao tamanho do Estado, corremos o risco de voltar ao Estado liberal 
que não fazia intervenção alguma e que também não deu certo. 
O 3º modelo de Estado tenta encontrar um meio termo, uma intervenção 
indireta do Estado na economia. Ao invés de não fazer nada e ao invés de 
atuar como Estado empresário, vamos trazer um Estado que em regra faz uma 
intervenção indireta na ordem econômica. 
Chamamos esse 3º modelo de Estado de Estado Regulador. Ele faz 
intervenção indireta porque a regulação é intervenção indireta na ordem 
econômica. 
Quem prestará a atividade é o mercado. Mas o Estado também não vai ficar só 
olhando, ele criará órgãos ou entidades regulatórias. Esses órgãos e entidades 
regulatórias vão fiscalizar a atividade econômica, estabelecer regras para ela, 
punir / sancionar os atores econômicos que não cumprirem as regras... 
Basicamente, estamos falando de um Estado regulador cuja grande 
característica é que, ao invés de ser Estado abstencionista ou que faça 
intervenção direta (o próprio Estado assumindo a atividade), ele deixa a 
atividade para o mercado e cria a “mão invisível do Estado”. 
Sai de cena a mão invisível do mercado e entra em cena a mão invisível do 
Estado. O Estado trará normas, fiscalizará, aplicará sanções aos regulados. 
Muitos falam em Estado Regulador, logo um Estado que faz intervenção 
regulatória. 
No Brasil, falamos em Estado regulador especialmente a partirda déc. 90. A 
partir daí, tivemos as agências reguladoras. O Brasil fez uma desestatização, 
diminuindo o tamanho do Estado e devolvendo as atividades para o mercado. 
 
 
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O Estado “não lavou suas mãos”: depois de devolver a atividade econômica 
para o mercado, criou as entidades reguladoras: ANVISA, ANTAC, ANTT, 
ANCINE, etc. 
O Estado Regulador não é apenas a agência reguladora, mas tais agências 
são as protagonistas desse novo modelo. 
Estes 3 modelos trouxeram formas diferentes de intervenção do Estado na 
economia: o Estado liberal praticamente não intervinha; o Estado social atuava 
diretamente no mercado, intervindo em tudo; o Estado regulador intervém 
indiretamente. 
Esses modelos são ideais, porque nunca houve um Estado puramente liberal, 
nem um Estado puramente social, nem um Estado puramente regulador. No 
Brasil, temos um Estado preponderantemente regulador, mas, p.e., o Estado 
não deixou de ter autarquias, SEM ou empresas públicas prestando 
diretamente os serviços. 
 
No Brasil, o Estado Regulador foi criado a partir da déc. 90, quando houve o 
PND, programa nacional de desestatização, cuja ideia era diminuir o tamanho 
do Estado. 
Um dos caminhos foi a devolução da atividade econômica para o mercado. 
O Estado passaria as atividades econômicas à iniciativa privada / mercado, 
extinguindo as estatais. Devolveria porque o mercado é o protagonista da 
atividade econômica. O Estado também delegaria serviços públicos para o 
mercado, por concessão ou permissão. 
O mercado seria o grande prestador, seja de atividade econômica ou serviços 
públicos delegados pelo Estado. 
Se parássemos aqui, iríamos para o Estado Liberal, que não deu certo. Ao 
mesmo momento em que delegou serviços públicos e devolveu a atividade 
 
 
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econômica ao mercado, o Estado criou agências reguladoras, que passariam a 
regular atividades econômicas e serviços públicos delegados aos particulares. 
Na déc. 90, tivemos alterações profundas no texto constitucional, inclusive para 
liberalizar a economia, abrindo caminho jurídico e constitucional para 
investimentos estrangeiros, dando maior espaço para o mercado em algumas 
áreas, inclusive petróleo. 
As alterações promovidas no texto constitucional trouxeram também a 
exigência expressa de criação de órgãos regulatórios (art. 21, XI e 177 CF, por 
exemplo). 
Na prática, foi criada agência autarquia e não órgão; mas de todo modo houve 
entidades regulatórias. Na déc. 90, houve transformações profundas no nosso 
Estado, cujo grande símbolo foi a EC 19/98. 
A EC 19/98 fez a reforma administrativa, inclusive inserindo o p. da eficiência 
expressamente no art. 37, caput, CF. Foi uma alteração com grande 
simbolismo. Inserindo a eficiência como princípio, fora outras alterações 
atreladas à ideia de resultado, a doutrina passou a dizer que sairíamos de uma 
Administração Pública burocrática pautada em formalidades e procedimentos, 
entrando numa AP pautada cada vez mais na eficiência. 
Juridicamente, sai a Administração burocrática e entra em cena a 
Administração Pública gerencial ou de resultados, pautada na eficiência e nos 
resultados da atuação estatal. A preocupação maior da AP não devem ser os 
caminhos e sim efetivar na prática direitos fundamentais. 
Eficiência é alcançar direitos fundamentais com os menores custos 
econômicos, sociais, ambientais... 
 
DESESTATIZAR significaria “retirar do Estado”. Alguns autores, dentre eles 
Marcos Juruena Vilela Souto, diziam que a desestatização seria um título 
 
 
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genérico. Desestatizar seria retirar do Estado, seja total ou parcialmente, 
diminuindo a presença do Estado em alguns setores. 
Enfim, estamos retirando o Estado de algum setor, de alguma atividade 
econômica. 
Nesse gênero, encontramos algumas espécies de desestatização: 
(1) Desregulamentação -> seria a diminuição de normas e restrições legais 
em relação a determinada atividade econômica. Desregulamenta-se 
uma atividade econômica quando o Estado retira ou diminuir restrições 
legais ao seu exercício. 
 
(2) Privatização -> Marcus Juruena dizia que desestatização é gênero e 
privatização é espécie. Esta é hipótese em que o Estado transfere 
controle acionário de uma empresa estatal para o mercado. A empresa 
que era estatal, controlada pelo Estado, passa a ser controlada pelo 
mercado. 
 
(3) Concessões e permissões -> não é atividade econômica stricto sensu, 
sujeita a livre iniciativa, porque é um serviço público titularizado pelo 
Estado, mas nem por isso o Estado precisa ser prestador. O art. 175 CF 
permite que o Estado delegue, via concessão e permissão, o serviço 
público para o mercado. Quando o Estado delega o serviço público para 
o mercado, a execução passa a ser de responsabilidade do mercado. O 
Estado continua titular do serviço, mas o seu executor é o mercado. É 
uma forma de “desestatização”, porque o serviço público, embora 
titularizado pelo Estado, tem menor presença dele, posto que prestado 
pelo particular. 
 
(4) Terceirizações -> por ora, o Estado só pode terceirizar suas atividades-
meio (atividades instrumentais). O Estado precisa fazer a limpeza das 
suas repartições públicas. Poderia realizar concurso público e contratar 
 
 
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diretamente agentes para realizar essa limpeza; mas como regra não faz 
isso: ao invés, desestatiza essa atividade-meio realizando uma licitação 
e contratando empresa privada, que fará a limpeza através dos 
empregados privados. A terceirização é desestatização lato sensu, 
porque ao invés de ser o próprio Estado prestador da atividade, ele 
busca no mercado uma empresa que preste tal atividade para o Estado. 
 
Como regra geral, o Estado vai ao mercado, seja para transferir controle de 
estatal, seja para delegar serviço público, seja para contratar empresa privada 
para prestar serviço ao Estado. Ganha força a ideia de parceria entre mercado 
e Estado. 
O mercado pode parar de enxergar o Estado como um inimigo. Os dois 
buscam parcerias, tendência que consta no nosso ordenamento jurídico não 
apenas na atividade econômica lucrativa, mas também na atividade de caráter 
social. 
As parcerias são o tema da moda, seja porque a legislação está repleta de 
instrumentos de parceria com mercado lucrativo, 3º setor ou uma parceria 
pública (como no consórcio). 
 
 
 
 
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FUNDAMENTOS DA ORDEM ECONÔMICA 
Pt. 03 
Art. 170 CF 
(1) Valorização do trabalho humano 
(2) Livre iniciativa: liberdade para desenvolvimento da atividade econômica 
pelo indivíduo, independentemente de autorização de órgãos públicos, 
salvo nos casos previstos em lei (p. único do art. 170). 
 
Por um lado, o Estado deve se preocupar com valorização do trabalho humano. 
Doutro, deve respeitar a livre iniciativa. Estes valores por vezes aparecem 
conflitantes no caso concreto. 
 
PRINCÍPIOS DA ORDEM ECONÔMICA 
 
Art. 170 CF 
 Soberania nacional 
 Propriedade privada 
 Função social da propriedade 
 Livre concorrência 
 Defesa do consumidor 
 Defesa do meio ambiente 
 Redução de desigualdades regionais e sociais 
 Busca do pleno emprego 
 Tratamento favorecido para empresas de pequeno porte 
Alguns desses princípios se chocarão no caso concreto, inclusive a defesa do 
consumidor e a livre concorrência. Por exemplo, os fornecedores poderiam 
fazer cartel combinando preços, o que prejudica o consumidor. 
 
 
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A rigor, temos dois tipos clássicos de intervenção na ordem econômica: a 
intervenção direta e a intervenção indireta. 
Na intervenção direta, o próprio Estado diretamente exerce a atividade 
econômica. 
Quando o Estado cria EP ou sociedade de economia mista, ele presta a 
atividade econômica, como no caso da Petrobras explorando o petróleo de 
forma monopolizada. 
Outra espécie de intervenção é a intervenção indireta na ordem econômica: ao 
invés de o Estado ser prestador da atividade econômica, ele atua 
indiretamente, fiscalizando, regulando e punindo atores da ordem econômica. 
Na intervenção indireta na ordem econômica, o Estado não é o prestador da 
atividade econômica. Ele fiscalizará, coordenará, regulará a atividade 
econômica exercida pelo mercado. 
Art. 174 CF – intervenção indireta. 
 
Meios de intervenção: 
(1) Planejamento e disciplina 
(2) Regulação (Estado Regulador) 
(3) Fomento 
(4) Repressão ao abuso do poder econômico (Direito da Concorrência ou 
Antitruste) 
(5) Exploração direta da atividade econômica (Estado Empresário) 
Pt. 04 
 
 
 
 
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PLANEJAMENTO E DISCIPLINA 
 
O Estado tem muitas finalidades para cumprir e “dinheiros” (art. 71 CF) 
limitados, então acaba fazendo ponderações e escolhas trágicas. 
O dinheiro não dá para tudo; os gastos superam os custos, então é necessário 
estabelecer prioridades. 
Quem realiza essas escolhas, em regra, é o Estado, por vezes com uma 
participação maior ou menor da população. O Estado precisa fazer 
planejamento, inclusive orçamentário, através do seu plano plurianual, de suas 
leis orçamentárias... Ali, o Estado já faz o seu planejamento, estipulando 
quanto de recurso será estipulado para cada área. 
O Estado pode planejar por orçamentos ou planos nacionais de Governo. 
Analisa o que pretende implementar em cada área, fazendo um plano nacional 
a ser executado nos próximos anos. 
Podemos definir planejamento como a programação que tem por propósito 
selecionar objetivos, indicar meios e definir metas que deverão ser 
implementadas pela atuação estatal. 
O planejamento tem basicamente duas etapas: 
 Diagnóstico – análise da situação existente, com identificação das 
carências e necessidades da sociedade e do mercado. 
 Prognóstico – definição e desenvolvimento das ações necessárias para 
atendimento da finalidade pública. 
Ao diagnosticar uma realidade, o Estado analisa o que será necessário. Nesse 
momento, define as suas metas. Ao definir o prognóstico, traz metas e coloca 
em práticas ações para alcançar a finalidade pública. 
O fundamento constitucional do planejamento é o art. 174 CF. 
 
 
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ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Expressamente, a CF diz que o planejamento do Estado é impositivo para o 
setor público e indicativo para o setor privado. 
Isso significa que quando o Estado faz o planejamento, com seus planos de 
ação, para o setor público não há liberdade: ele deve cumprir o planejamento 
do Estado, sob pena de sanções. 
Para o setor privado, o planejamento do Estado é apenas indicativo. O Estado 
traz incentivos ao lado do planejamento, mas é apenas uma indicação do que o 
Estado espera do setor privado, não há como impor isso. O Estado criará 
incentivos para o setor privado fazer o que o Estado planejou, mas não pode 
lhe impor isso. 
Planejamento impositivo para o setor público. 
Planejamento indicativo para o setor privado. 
O professor Floriano de Marques Neto e o professor Rafael de Oliveira 
entendem que setor público são não apenas a Administração Pública direta e 
indireta, mas também delegatários, permissionários e concessionários de 
serviços públicos, e até mesmo aqueles que prestam atividades privadas de 
relevância social (atividades de caráter social). 
 Administração Pública Direta e Indireta 
 Delegatários (permissionários e concessionários) 
 Atividades privadas de relevância social 
É o Estado que fixa o que espera do serviço público delegado, ele que traça as 
regras do jogo. Daí ser natural que o Estado imponha em seu planejamento 
como se dará essa atividade, uma definição que não é indicativa, mas sim 
impositiva. 
A doutrina chama esse 3º setor como entidades públicas não estatais. Não 
estatais porque não são Estado; mas são públicas pela atividade de relevância 
pública desenvolvida. 
 
 
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ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Setor privado é o setor que envolve a atividade econômica stricto sensu. 
Colocamos aqui não só o mercado, mas também as empresas estatais 
econômicas. 
Art. 173, §1º CF – as empresas estatais se submetem ao mesmo tratamento 
das empresas privadas. 
Art. 7º, DL 200/67 -> são instrumentos do planejamento: 
(a) Plano Geral de Governo 
(b) Programas Gerais, Setoriais e Regionais 
(c) Orçamento-Programa Anual 
(d) Programação Financeira de Desembolso 
 
O PLANO GERAL DE GOVERNO institui prioridades públicas e indica meios 
para concretizá-las em determinado período (art. 84, XI, CF). é um 
planejamento genérico, que envolve definições quanto a toda a execução de 
um orçamento, não só na educação, mas em todos os setores. 
Todo o Governo deve ter um plano geral de governo, que geralmente é anual. 
Há também PROGRAMAS GERAIS, SETORIAIS E REGIONAIS. Planos 
setoriais são aqueles para setores específicos, como planos de educação (art. 
214 CF), ou de saúde. Planos regionais (art. 43 CF) significa um plano para 
trazer desenvolvimento regional. 
ORÇAMENTO-PROGRAMA ANUAL é o planejamento orçamentário. Por meio 
de legislação orçamentária (PPA, LDO e LOA), os entes federados estimam 
receitas e despesas para implementação dos objetivos públicos no respectivo 
período. 
O planejamento orçamentário começa com o plano plurianual (PPA), com 
vigência por 04 anos. Dentro desses 04 anos de metas genéricas do 
orçamento, todo ano haverá lei de diretrizes orçamentárias e lei de organização 
 
 
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ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
orçamentária. Haverá anualmente um orçamento-programa anual, a LDO e 
LOA, que estabelecem uma estimativa para aquele ano de receitas e 
despesas, definindo as metas que serão alcançadas pelo governo. 
A PROGRAMAÇÃO FINANCEIRA DE DESEMBOLSO visa a uma atuação 
mais concreta do Estado. Se atuo na área de saúde, tenho X no Governo para 
saúde, conforme programação orçamentária anual. Se vou criar 3 postos de 
saúde, 2 hospitais e formalizar 3 contratos com OS de gestão para administrar 
hospitais, vou tirar esse projeto do papel. Ao realizar contrato para construções 
ou gestão de administração, terei planejamento mais específico e saberei de 
antemão quais os custos envolvidos em cada uma dessas missões. Farei 
planejamento pensando no momento de desembolsar a verba. 
Se não houver o cumprimento deste planejamento, é possível responsabilizar o 
agente até mesmo por improbidade administrativa. 
 
Aula 02 – pt. 01 
 
 
 
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ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
REGULAÇÃO 
 
SENTIDOS DE REGULAÇÃO 
 
Não há um sentido unívoco para a expressão “regulação”. Pelo contrário, 
constantemente a expressão é usada com sentidos diversos pela doutrina. 
São 3 sentidos: 
 Amplo => regulação seria toda e qualquer forma de coordenação, 
disciplina, fiscalização do Estado na ordem econômica. Nesse sentido 
amplo, poderíamos falar que regulação é o mesmo que intervenção na 
ordem econômica. Afinal, se regulação é toda forma de coordenação, 
disciplina, fiscalização, estamos falando do Estado regulador, aquele 
que intervém na economia. Quando o Estado traz lei em relação a 
atividade econômica, quando fiscaliza e sancionao particular, 
estaríamos tendo um Estado regulador. 
 
 Intermediário => a regulação envolveria uma atividade estatal que fixaria 
normas para um setor econômico, a fiscalização e a aplicação de 
sanções nesse setor econômico, excluída neste ponto a atividade 
empresarial do Estado e, portanto, a figura do Estado-Empresário.O 
Estado exerceria a regulação em sentido intermediário apenas quando 
trouxesse normas para o setor regulado, fiscalização e aplicação de 
sanções. Mas não haveria regulação quando o próprio Estado prestasse 
a atividade econômica. 
 
 Restrito => a regulação é tão somente a edição de atos normativos 
(legais ou infralegais) que condicionariam a atividade econômica. 
Destacaríamos a atividade legislativa e a atividade normativa da 
 
 
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ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Administração Pública, mas afastaríamos outras atuações concretas do 
Estado. 
 
A noção mais utilizada no Brasil e no Direito Administrativo é a 2ª noção, a 
noção intermediária. 
Na noção intermediária do termo, regulação envolve edição de normas, 
implementação concreta de normas e fiscalização do cumprimento das normas, 
com punição dos infratores. 
 Edição das normas 
 Implementação concreta das normas 
 Fiscalização do cumprimento das normas e punição dos infratores. 
 
 
 
 
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ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
DIFERENÇA ENTRE REGULAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO 
Regulação ≠ Regulamentação 
Regulação é atividade através da qual o Estado baixa normas, fiscaliza, 
implementa, sanciona quem violar as normas... Enfim, é a elaboração de 
normas, aplicação concreta, fiscalização e sanções. 
Tem caráter predominantemente técnico. São juízos predominantemente 
técnicos, geralmente implementados por agências reguladoras. 
Regulamentação são atos administrativos normativos (atos regulamentares), 
geralmente com conteúdo político e editados para fiel execução da lei, 
normalmente por agente político. No Brasil, privativamente pelo chefe do 
Executivo. 
Regulação Regulamentação 
Art. 174, CF Art. 84, IV, CF 
Exercida por agências reguladoras ou 
entidades similares. 
Ato privativo do Chefe do Executivo. 
Atividade predominantemente técnica. Caráter predominantemente político. 
 
 
 
 
 
22 
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FORMAS DE REGULAÇÃO 
a) Estatal 
b) Pública não estatal 
c) Autorregulação 
d) Desregulação 
Regulação estatal é feita pelo Estado. No Brasil, por regra geral a regulação é 
feita pelas agências reguladoras. 
Encontramos outras entidades que têm características similares com agências, 
mas não são agências reguladoras, como BACEN e CVM. 
Regulação pública não estatal é uma regulação que não é feita pelo Estado, 
mas sim pelos próprios particulares. Mas o Estado chancela isso 
expressamente. 
A regulação é feita pelo mercado (não estatal), mas é pública porque o Direito 
Público reconhece / admite / prevê essa regulação. 
Um exemplo é a Justiça Desportiva. A regulação do esporte, no que toca às 
controvérsias esportivas, é feita pela Justiça Desportiva, que não é o Poder 
Judiciário, em relativa exceção ao p. da inafastabilidade da jurisdição. A própria 
CF prevê que se houver controvérsia na seara esportiva, os particulares 
resolverão suas questões na Justiça Desportiva, que é uma jurisdição privada 
(art. 217 CF). 
Autorregulação parece com a regulação pública não estatal. Teoricamente, a 
diferença é que o mercado se autorregula independentemente de existir 
chancela ou não do Estado. 
Determinado setor privado se une e estabelece regras que deverão ser 
respeitadas entre esses particulares. 
Ex.: CONAR (no âmbito cível, também é a ideia do condomínio edilício). 
 
 
23 
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Desregulação seria um setor completamente desregulado, sem qualquer tipo 
de regulação estatal ou dos próprios particulares. Os particulares não se 
organizariam para regular a atividade econômica. 
Os livros tradicionalmente indicavam o setor da internet, mas atualmente no 
Brasil temos o Marco Civil da Internet, uma regulação estatal. 
É difícil fornecer exemplo atual de desregulação. 
 
 
 
 
24 
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FUNDAMENTOS DA REGULAÇÃO 
 
Tradicionalmente, há duas escolas que procuraram fundamentar um papel 
mais ativo ou mais passivo do Estado na economia. 
A) ESCOLA DO INTERESSE PÚBLICO => a regulação é necessária 
porque através dela o Estado consegue efetivar e promover o interesse 
público e os direitos fundamentais. A abstenção do Estado, como já 
verificado ao longo do tempo, gerou crise econômica e desigualdades. 
Então é necessária intervenção do Estado na economia via regulação 
para efetivar e promover os direitos fundamentais, e consequentemente 
o interesse público. Ainda que o Estado possa eventualmente cometer 
irregularidades ou ser ineficiente, ele deve regular para atender ao 
interesse público. Não é possível deixar o mercado guiar-se sozinho, 
porque isso já levou a crise e desigualdades. 
 
B) ESCOLA DE CHICAGO / ESCOLA ECONÔMICA / ESCOLA 
NEOCLÁSSICA => a Escola de Chicago é uma das principais escolas 
econômicas e diz que o Estado, em regra, não deve intervir na ordem 
econômica. Propugna uma intervenção menos forte do Estado, que em 
princípio só regulará a economia quando estritamente necessário, para 
resolver as falhas de mercado. A premissa é um Estado Liberal, que não 
deve fazer intervenção na ordem econômica, mas ele não é inteiramente 
abstencionista: admite-se alguma intervenção do Estado na economia 
desde que estritamente necessário para a correção das “falhas de 
mercado”. “Falhas de mercado” significa que o mercado não é perfeito e 
apresenta falhas; a economia não consegue resolver todos os seus 
problemas sozinha. É preciso que o Estado faça intervenção na ordem 
econômica apenas na medida em que necessário corrigir a falha de 
mercado. Na medida em que o Estado corrige as falhas de mercado, o 
 
 
25 
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resto é com o próprio mercado (“mercado, se vira”). São 4 falhas de 
mercado definidas pela Economia: 
 
a. Monopólio ou abuso de poder econômico – apenas uma empresa 
fornece o bem ou serviço; ou existe oligopólio ou concentração de 
mercado nas mãos de poucas empresas – são prejudiciais à 
economia o monopólio e a forte concentração, porque ao invés de 
o preço ser fixado por demanda e procura, é fixado pelo próprio 
fornecedor; em princípio, o monopólio é ruim porque não protege 
o consumidor, nem a concorrência, porque não há concorrência. 
 
b. Externalidades – “o que é externo”, ou seja, consequências que 
não são absorvidas integralmente pelos atores econômicos, ou 
seja, fornecedor do bem ou serviço e consumidor. Na atividade 
econômica entre prestador do serviço e consumidor, outras 
pessoas que não têm nada a ver com essa relação poderão 
sofrer consequências. Na doutrina econômica, diz-se que a 
externalidade pode ser boa ou ruim, positiva ou negativa. 
Exemplo de externalidade boa é a geração de empregos e renda 
num pequeno Município onde a grande empresa se instala, 
inclusive promovendo cursos de capacitação gratuitos (mesmo 
aqueles que não serão contratados terão, no mínimo, uma 
qualificação melhor). Externalidade negativa significa uma 
consequência negativa oriunda de atividade econômica, como 
poluição ambiental gerada por uma fábrica ou empresa. A 
poluição ambiental é consequência da atividade econômica, 
prejudicando não apenas empresários, empregado e consumidor, 
mas também pessoas que nada têm a ver com a atividade 
empresarial.É o caso da barragem de Mariana/MG. 
 
 
 
26 
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c. Bens coletivos – a doutrina econômica fala em “bens públicos” ou 
“bens coletivos”, mas são conceitos econômicos e não jurídicos. 
Significam que algumas atividades ou bens prestados por 
empresas acabam sendo usufruídos por particulares terceiros que 
não contribuíram para aquele bem ou atividade. São bens ou 
serviços prestados para determinados particulares, mas no final 
das contas terceiros necessariamente se beneficiam. São os free 
riders, são “caroneiros” na atividade econômica, que se dão bem 
e você praticamente não tem como evitar isso. Numa rua 
perigosa com 30 proprietários, 28 concordam em contratar 
empresa de vigilância. Eles contratam a empresa de vigilância, 
beneficiando os 2 proprietários que discordaram e não estão 
pagando nada. Estão se beneficiando do bem ou serviço 
contratado por outros particulares. 
 
d. Assimetria de informações – significa que o fornecedor do bem ou 
do serviço e o consumidor têm informações diferenciadas sobre 
ele. Não somos expert em energia elétrica, telecomunicações, 
eletrônica, mas aquele que os está vendendo certamente 
conhece muito mais desses temas. É expert, tem informações 
técnicas, conhecimento que o consumidor leigo não tem. Essa 
assimetria de informações é perigosa, porque o fornecedor pode 
prejudicar o consumidor através da assimetria. 
 
Pt. 02 
 
 
 
27 
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FOMENTO 
 
Fomentar significa incentivar. Quando falamos em fomento no âmbito do direito 
público, tratam-se de incentivos estatais, positivos ou negativos, que induzem 
ou condicionam a prática de atividades desenvolvidas em determinados 
setores econômicos e sociais, com intuito de satisfazer o interesse público. 
O fomento é uma atividade clássica do Estado. Os autores, ao elencar 
atividades que o Estado deve desempenhar, sempre elencam ali o fomento, 
embora divirjam em relação a outras atividades. 
A própria CF, no art. 174, diz isso: cabe ao Estado exercer o incentivo da 
atividade econômica. 
A CF trouxe o dever de incentivo / fomento por parte do Estado. 
Pt. 03 
O fomento, apesar de ser atividade clássica do Estado, praticamente não é 
objeto de obras doutrinárias. 
 
CARACTERÍSTICAS 
 
Existem 5 grandes características do fomento: 
(1) Consensual. O Estado traz incentivo, que significa que o particular, caos 
queira, faz isso ou aquilo. O Estado está apenas incentivando, daí a 
ideia de fomento ser contrária à ideia de coação, de obrigatoriedade, de 
imposição do Estado a um indivíduo. O fomento é apenas incentivo, por 
isso a doutrina diz que é consensual. 
 
 
 
28 
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(2) Setorial. O Estado deveria trazer incentivo para determinados setores 
econômicos estratégicos. Por exemplo, quando o Estado reduz a carga 
tributária de determinados produtos (como o IPI em automóveis). 
 
(3) Justificativa. É preciso motivar o incentivo para demonstrar que não há 
um tratamento privilegiado e odioso para determinada pessoa ou grupo. 
O fomento deve vir atrelado a justificativa plausível do Estado. 
 
(4) Impessoalidade. Vige a igualdade material: não dá pra tratar igualmente 
todo mundo, incluindo pessoas que estão em situações desiguais. É 
possível tratar desigualmente algumas pessoas, em detrimento de 
outras, para lhes garantir maior equilíbrio na prática, com igualdade 
efetiva e material. Pessoas com situação fática diferenciada devem ter 
tratamento diferenciado. 
 
(5) Transitoriedade. O fomento deve ter caráter transitório para viabilizar 
naquele momento que a pessoa física ou jurídica tenha na prática 
oportunidade de concorrer com outras pessoas físicas ou jurídicas, ou a 
ter acesso a determinado produto ou serviço. Quando houver efetiva 
igualdade prática entre essas pessoas, o tratamento diferenciado deixa 
de ser necessário. 
 
 
 
 
29 
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LIMITES 
 
Limites do fomento: 
(A) LLEEGGAALLIIDDAADDEE. Exige-se lei para alguns instrumentos de fomento, como 
é o caso do art. 150, §6º, CF e 146, III, c e d, CF que exige lei 
complementar para benefícios tributários destinados a cooperativas, 
microempresas e empresas de pequeno porte (LC 123/2006, arts. 42 a 
49). 
(B) PPRRIINNCCÍÍPPIIOOSS DDAA IIMMPPEESSSSOOAALLIIDDAADDEE,, DDAA MMOORRAALLIIDDAADDEE,, DDAA 
RRAAZZOOAABBIILLIIDDAADDEE EE DDAA PPUUBBLLIICCIIDDAADDEE. Em rigor, toda atuação da AP 
deve respeitar esses princípios. 
 
 
 
 
30 
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CLASSIFICAÇÃO 
 
Classificação do fomento: 
I. Quanto ao conteúdo 
a. Fomento positivo -> quando o Estado quer incentivar a prática de 
uma atividade, como a comercialização de um bem. Em matéria 
tributária, fomento positivo seria a isenção a determinado bem ou 
serviço, gerando menor custo na produção do bem, execução da 
atividade, levando a tratamento mais favorável (custo menor para 
fazer a mesma coisa que já fazia). 
 
b. Fomento negativo -> quando o Estado quer inibir a prática de 
determinada atividade. Em matéria tributária, seria o aumento na 
alíquota de um tributo, falando-se no caráter extrafiscal do tributo, 
como ocorre no cigarro. 
 
II. Quanto ao destinatário 
a. Fomento econômico – o destinatário é a atividade econômica. Por 
exemplo, o Estado traz uma linha de crédito com juros reduzidos 
para empresas que invistam em determinada atividade. Para 
incentivar a comercialização de energia eólica, o BNDES faz 
empréstimos com juros baixíssimos à empresa que quiser investir 
nesse ramo, por exemplo. 
 
b. Fomento social – o destinatário é a atividade social. Por exemplo, 
a entidade celebra um termo com o Estado, que se compromete a 
ceder bens públicos, servidores ou repassar dinheiro. Em troca, 
essa entidade sem fins lucrativos desenvolve uma atividade de 
relevância social. É o que comumente se passa com o 3º setor. 
 
 
 
31 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
III. Quanto aos meios 
a. Fomento honorífico – por exemplo, através da concessão de uma 
medalha de honra a um militar. 
b. Fomento econômico 
c. Fomento jurídico 
 
Geralmente o fomento é realizado mediante benefícios tributários (como 
diminuição de alíquota e isenção) ou através de créditos (empréstimo 
subsidiado na CEF e BNDES, p.e.). 
 
 
32 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
DIREITO DA CONCORRÊNCIA 
 
Art. 170, IV, CF – p. da livre concorrência. 
Art. 173, §4º, CF 
Lei 12.529/2011 - dispõe sobre sistema brasileiro de defesa da concorrência. 
Também prevê acordo de leniência; em princípio, se for celebrado e cumprido, 
ocorrerá a extinção da punibilidade. É o CADE que assina o acordo de 
leniência. Se uma empresa assina o acordo com o CADE e o cumpre, não 
poderá ser punida criminalmente por esses fatos. 
Pela lei do CADE, a maioria diz que outros crimes que não econômicos seriam 
extintos. Por exemplo, formação de quadrilha, relacionada à prática do crime 
econômico. 
Essa consequência do acordo de leniência do CADE não aparece na lei 
anticorrupção. 
 
O sistema brasileiro de defesa da concorrência é formada por 1 entidade e 1 
órgão: 
 - CADE – CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA 
 - SEAE – SECRETARIA DE ACOMPANHAMENTO ECONÔMICO DO 
MINISTÉRIO DA FAZENDA 
 
A atuação do CADE é mais administrativa e concreta na prevenção e 
repressão a abuso do poder econômico. 
A Secretaria tem um papel mais político, de planejamento da área econômica. 
Portanto, um papel maisconsultivo. 
 
 
33 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
O CADE atua na prevenção e repressão de atos contra a ordem econômica. 
Ele se manifesta na fusão e incorporação de empresas, analisando se coloca 
em risco o equilíbrio do mercado. Se verificar cartel, combinação de preços, 
preços predatórios, o CADE também aplica sanção. 
O CADE é vinculado ao Ministério da Justiça; a SEAE é ligada ao Ministério da 
Fazenda. 
O CADE tem sede no DF. 
Dentro do CADE, existe o Tribunal Administrativo De Defesa Econômica, que 
julga questões envolvendo prevenção e repressão a atos concorrenciais. Existe 
também a Superintendência Geral, com importante função de chefia na 
autarquia. E o Departamento de Estudos Econômicos, com função mais 
consultiva dentro do CADE. 
O Tribunal Administrativo de Defesa Econômica tem um procurador federal, 
que integra a carreira da AGU e um membro do MPF (que dará pareceres em 
questões submetidas ao CADE). 
 
 
 
 
34 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
INTERVENÇÃO DIRETA NA ORDEM ECONÔMICA – 
ATUAÇÃO DO ESTADO COMO EMPRESÁRIO 
 
A atuação do Estado como empresário é possível, mas excepcional. Um dos 
fundamentos da ordem econômica é justamente a livre iniciativa. Se a iniciativa 
é livre, os particulares têm liberdade de agir e são protagonistas da ordem 
econômica. 
O art. 173 CF admite a intervenção direta do Estado na ordem econômica, 
desde que cumpridos dois requisitos: 
 Casos expressamente previstos na Constituição ou por imperativo de 
segurança nacional ou relevante interesse coletivo; 
 Intervenção ocorrerá por meio de instituição de empresas públicas ou 
sociedades de economia mista (SEM). 
 
REGIME JURÍDICO DAS ESTATAIS 
 
Por serem pessoas jurídicas de direito privado da Administração Indireta, terão 
um regime jurídico complexo: RJ privado, com bens privados e servidores 
celetistas, mas como integrantes da Administração Pública, aplicaremos 
normas de Direito Público. Por exemplo, em matéria de licitação (para estatal 
devemos dividir as estatais de serviço público e aquelas que executam 
atividade econômica, sendo que estas têm tratamento diferenciado) e concurso 
público (não importa se presta serviço público ou atividade econômica). 
Aplicam-se normas de direito público para a estatal. 
Como regra geral, quando o Estado cria estatal econômica, esta exerce 
atividade privada em concorrência com outras empresas privadas. Por isso, o 
art. 173, §1º, II, CF diz que as estatais econômicas devem se submeter ao 
 
 
35 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
mesmo tratamento conferido às empresas privadas em geral, para que a 
concorrência seja preservada. 
A regra é a concorrência. Mas a CF trouxe exceções, nas quais admite 
monopólios públicos: 
 Art. 176 CF 
 Art. 177, I a IV, CF 
 Art. 21, XXIII, CF 
 Art. 177, V, CF 
Em tese, lei infraconstitucional não pode criar novos monopólios por violar a 
livre concorrência e livre iniciativa. Os monopólios só podem ser previstos na 
CF. 
O monopólio significa que não haverá concorrência, mas o Estado determina 
como será prestada a atividade, inclusive contratando uma empresa para 
prestar por ele. 
Art. 25 CF – gás natural. Alexandre Santos de Aragão, ao falar de monopólio, 
só cita os monopólios da União, listados acima. Em tese, para ele só haveria 
monopólio federal na CF. O professor discorda, entendendo que o gás natural 
é monopólio estadual (o Diogo de Figueiredo concorda com ele). 
Aula 03 
 
 
 
36 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
AGÊNCIAS REGULADORAS 
A regulação é forma de intervenção indireta do Estado na economia. Aqui, 
focaremos nas agências reguladoras. Não são as únicas entidades 
responsáveis por regulação. 
Compreendida a regulação em seu sentido intermediário, a regulação estatal 
significa disciplina, coordenação, fiscalização, normatização e sanção da 
atividade econômica, seja stricto sensu, seja um serviço público. 
Não estamos falando aqui do Estado empresário, que explora diretamente a 
atividade, mas daquele que disciplina, coordena, fiscaliza, normatiza e 
sanciona. 
Regulação não é sinônimo de agência reguladora. Temos órgãos 
despersonalizados e entidades dotadas de personalidade jurídica que não 
agências reguladoras, que em alguma medida exercem o papel regulatório. 
Di Pietro e outros autores importantes afirmam que nas tendências do Direito 
Administrativo moderno, temos uma tendência à agencificação. Di Pietro usa 
essa expressão para mencionar que desde a déc. 90, o Brasil tem criado 
agências para todos os lados, todos os setores. Começou-se a criar agência 
para todos os lados, portanto seria uma agencificação no Brasil. 
Utiliza-se o termo agência para tratar de PJ que exercerão atividade 
diferenciada, seja regulatória, executiva, de fomento, etc. 
 
No Brasil, a agência reguladora é considerada uma autarquia com regime 
especial. Por opção legislativa, as agências reguladoras são autarquias com 
regime especial – esta é sua natureza jurídica. 
O legislador trouxe personalidade jurídica de direito público para as autarquias. 
Elas são criadas por lei. Logo, há uma lei de criação para cada autarquia. É 
uma lei específica que cria cada agência reguladora. 
 
 
37 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
As leis fizeram a opção, dizendo que estavam criando autarquia com regime 
especial. Quando dizemos que a agência reguladora é autarquia com regime 
especial, esse não é apenas entendimento doutrinário, mas encontra previsão 
legal expressa. 
A agência reguladora baixa normas no setor regulado (autarquia dotada de 
poder normativo). 
A agência reguladora exerce atividades administrativas com independência. É 
o que chamamos de autonomia administrativa reforçada. 
Além disso, a agência reguladora tem uma maior autonomia financeira se 
comparada às outras autarquias. 
O modelo de agência reguladora que conhecemos foi importado dos EUA. Nos 
EUA, o modelo de agência reguladora é muito antigo. A 1ª agência reguladora 
americana de que se tem notícia foi criada em 1887, que regularia o comércio 
por ferrovias entre estados americanos. 
O grande fortalecimento dessas agências se deu na déc. 30. Os EUA sempre 
foram considerados modelo clássico de estado liberal. A ideia do Estado liberal 
clássico é de um estado abstencionista. Esse Estado liberal não intervém na 
ordem econômica e na ordem social. Esse Estado deixa o mercado ser 
regulado por sua mão invisível. Existiria ali a mão invisível do mercado, que 
faria sua autorregulação. 
Em 1929, tivemos a quebra da Bolsa de Nova Iorque. Percebeu-se naquele 
momento que a abstenção do Estado de alguma maneira contribuiu para a 
grande crise econômica. A quebra da Bolsa de Nova Iorque fez os EUA 
repensarem seu modelo de intervenção na economia. 
Eles não se transformaram em um Estado Social intervencionista e prestador 
de serviços, tal como ocorreu na Europa. A saída na época foi começar a fazer 
intervenções que não fossem fortes a ponto de o Estado substituir o mercado e 
virar prestador; mas o Estado começar a fiscalizar mais de perto a economia e 
 
 
38 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
trazer regras mais restritivas para a atividade econômica. A solução foi a 
criação de entidades estatais que fariam esse papel. 
Tais entidades criariam normas, verificariam o descumprimento das normas e 
então sancionariam os atores econômicos. 
Essas entidades criadas a partir da déc. 30, normatizariam e fiscalizariam 
setores, além de aplicar sanções aos atores econômicos que descumprissem 
as normas. Houve o boom de expansão das agências reguladorasamericanas. 
O presidente americano Franklin Roosevelt trouxe o New Deal, em que o 
Estado passaria a fazer mais intervenção na economia. Um modelo que foi 
adotado de maneira muito forte é que, se vamos fazer intervenção mais forte 
na economia, seriam criadas agências reguladoras para normatizar, fiscalizar e 
sancionar. Ao invés da mão invisível do mercado, vem a mão visível do Estado. 
As agências reguladoras americanas são criadas de modo preponderante na 
déc. 30, num período em que o Estado norte-americano queria incrementar sua 
intervenção na ordem econômica, e a consequência foi a criação de agências. 
No Brasil, o modelo foi criado na déc. 90, em período em que o Estado 
brasileiro queria diminuir o seu tamanho e a intervenção direta na economia. 
Pt. 02 
Na déc. 90, por opção política do Governo no sentido de diminuição do 
tamanho do Estado e de maior liberalização da economia, entendeu-se que o 
modelo de Estado adotado naquele momento não era eficiente. O Estado 
brasileiro havia assumido diversas funções, era volumoso, de tamanho enorme 
em termos de entidades e órgãos e servidores públicos. Percebeu-se até por 
uma crise fiscal que existia no Direito Comparado e gerou consequências no 
Brasil, que o modelo de Estado gerava gastos excessivos e comprometia o 
orçamento de modo a não haver recursos financeiros suficientes para 
prestação do serviço de modo eficiente. 
 
 
39 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Nesse movimento de liberalização e diminuição do tamanho do Estado, foram 
feitas diversas alterações no texto constitucional, de EC 05 a 09, que 
relativizaram a questão econômica, liberalizando-a. Essas emendas abriram 
mercados para investimentos estrangeiros. Até então, eram mercados restritos 
a empresas nacionais controladas por brasileiros, como mineração e 
telecomunicações. 
Algumas EC expressamente pediram a criação de órgãos reguladores para 
alguns setores. A CF usou o termo “órgão regulador”. Na prática, foram criadas 
autarquias e não órgãos. 
EC 08 e 09/95. 
No âmbito infraconstitucional, tivemos a criação do Programa Nacional de 
Desestatização – PND, no qual o Estado brasileiro adotou uma série de 
medidas para diminuir seu tamanho, enxugando a máquina administrativa para 
cortar gastos e ganhar em eficiência e efetividade. 
Diversas empresas estatais foram privatizadas e o Estado brasileiro de um lado 
devolveu a atividade econômica para o mercado. 
Pela CF, atividade econômica é livre iniciativa, de modo que o mercado é o 
titular / protagonista dessa atividade econômica. 
Ademais, o Estado também delegou serviços públicos para o mercado, fazendo 
concessões e permissões de serviços públicos. Esta é uma realidade que 
nasce junto com o Direito Administrativo, mas na déc. 90 a nossa lei tradicional 
de permissão e concessão de serviço público foi editada, a L 8987/95. 
O Brasil implementou um modelo de agência reguladora importado dos EUA. 
Isso não significa que ele deixou de fazer uma atuação direta na economia. O 
Estado continua prestando atividades, até hoje existindo estatais para 
intervenção direta na economia. 
 
 
40 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
A intenção de criar agências reguladoras foi diminuir o tamanho do Estado, 
mas ao mesmo tempo garantir normatização e fiscalização no setor econômico 
desempenhado pelo particular. 
As leis que criaram as agências reguladoras disseram que são autarquias com 
regime especial. 
Autarquia com regime especial tem de especial a autonomia normativa (poder 
normativo), autonomia administrativa reforçada e autonomia financeira. 
Ao falar em regime especial de uma autarquia, fazemos contraponto com as 
autarquias mais tradicionais. Destacaríamos aqui que as agências reguladoras 
têm maior autonomia / independência em relação às autarquias tradicionais. 
Por exemplo, numa autarquia tradicional a regra geral é que seu presidente é 
nomeado livremente e exonerado livremente pelo chefe do Executivo. Por isso, 
há uma politização das entidades tradicionais. Se a autarquia tradicional não 
fizer a vontade do agente político que está no poder, o presidente sai. 
Formalmente, na agência reguladora isso não ocorreria. A nomeação do 
dirigente de agência reguladora não é completamente livre. Há alguns 
balizamentos. Depois de nomeado o dirigente, ele tem certa estabilidade. Não 
pode ser mandado embora sem qualquer motivo, sendo vedada a exoneração 
ad nutum. Isso traz maior autonomia para a agência reguladora, porque 
teoricamente seu presidente pode não agradar ao chefe do Executivo, já que a 
lei dá maior autonomia à autarquia. 
Para esses setores (petróleo, transporte, telecomunicações, energia, cinema), 
é criada uma agência reguladora para trazer-lhe maior independência. 
São fundamentos para criar as agências reguladoras: 
(a) Despolitização ou desgovernamentalização -> tratamento técnico e 
maior segurança jurídica ao setor regulado. A mudança de humor do 
agente político ou mesmo a mudança de agente político em trocas de 
mandato não afetariam de maneira direta e automática o dia-a-dia de 
 
 
41 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
uma agência reguladora. E, portanto, não afetariam o dia-a-dia do setor 
regulado pela agência reguladora. 
 
(b) Necessidade de celeridade na regulação de determinadas atividades 
técnicas. A legislação não acompanharia o setor e seria, portanto, uma 
forma de regulação ineficiente. Por escolha do próprio legislador, 
conferiu-se à agência reguladora poder normativo para ela, e não o 
legislador, baixar normas técnicas para o setor regulado. Ao invés de vir 
lei com caráter político e processo moroso de criação, haveria normas 
baixadas pela autarquia. Trata-se de ato administrativo normativo. Como 
a agência não tem agentes políticos, mas agentes técnicos, essas 
normas teriam conteúdo técnico (o que a doutrina chama de 
discricionariedade técnica) e seriam baixadas com maior velocidade que 
a velocidade do legislador. 
Pt. 03 
FONTES NORMATIVAS 
 
FONTES CONSTITUCIONAIS 
 Art. 21, XI, CF – inserido pela EC 08/95 – pede expressamente a criação 
de órgão regulador para o setor de telecomunicações. Na prática, foi 
criada uma autarquia regulatória, dotada de personalidade jurídica 
própria. Ninguém vê qualquer problema nesta discrepância. Nada 
impede que ao invés de órgão despersonalizado, crie-se uma autarquia, 
dotada de personalidade jurídica. Foi criada a ANATEL como 
observância a este artigo. 
 
 Art. 174 CF – o Estado deve atuar como regulador da economia. 
Especialmente por conta deste artigo, fala-se hoje num ESTADO 
REGULADOR. O Estado deve atuar preponderantemente como 
 
 
42 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
regulador da ordem econômica, embora não se impeça a sua atuação 
direta. Como este artigo não menciona um setor específico, mas contém 
previsão genérica, a doutrina diz que este artigo 174 serve como 
fundamento para criação de toda e qualquer agência reguladora no 
Brasil. 
 
 Art. 177, §2º, III, CF – alterado pela EC 09/95 – pede a criação de órgão 
regulador na área do petróleo. Também fala em órgão, mas foi criada 
autarquia, a ANP – Agência Nacional do Petróleo. 
 
FONTES INFRACONSTITUCIONAIS 
 Lei 9427/96 – ANEEL 
 Lei 9472/97 – ANATEL 
 L. 9478/97 - ANP 
 L 9782/99 – ANVISA 
 L. 9961/00 – ANS 
 L 9984/00 – ANA 
 L 10233/01 – ANTT – ANTAQ1 
 MP 2228-1/01 – L. 
Cada ente federado tinha a possibilidade de criar autarquias e fez sua opção, 
trazendo leis específicas de criação para cada agência. 
A rigor, todos os entes federados podem criar agências reguladoras. Qualquer 
ente federado pode criarórgãos, autarquias, EP, SEM e fundações estatais. 
Assim, existem agências reguladoras estaduais, como AGENERSA, 
AGETRANSP, e ainda agências reguladoras municipais. 
Para o ente federado criar uma agência reguladora – ou órgãos, autarquias, 
estatais, fundações... – deve ser para regular uma atividade de sua 
competência. 
 
1 Transporte aquaviário. 
 
 
43 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Se for transporte interestadual, a competência é da União. Se for transporte 
intermunicipal, do Estado. Se for transporte intramunicipal (dentro de um 
Município), do Município. 
Em âmbito federal, temos ao menos 2 agências reguladoras de transporte 
(ANTT e ANTAQ). A ANTT só pode regular uma rodovia interestadual, mas não 
tem competência para fiscalizar transporte intramunicipal. Essa competência é 
do Município. Se a ANTT atuar nesse âmbito, haverá uma 
inconstitucionalidade. 
Obs.: O MRJ não tem agência reguladora. Quem trata do seu trânsito é a 
Secretaria Municipal de Transportes. 
O ERJ tem a agência estadual reguladora, a AGETRANSP, que só pode tratar 
do transporte intermunicipal. 
O STF se deparou com algumas normas estaduais que, com objetivo de 
proteger os consumidores, estabeleceram regras para empresas de telefonia. 
P.e., uma lei estadual determinava que a empresa de telefonia mandasse 
faturas detalhadas quanto às ligações para o consumidor, ou que parassem de 
cobrar tarifa básica de telefonia. 
Teoricamente, para legislar sobre proteção do consumidor o Estado tem 
competência (art. 24 CF), mas o STF declarou todas essas normas 
inconstitucionais, sob o argumento de que o serviço de telefonia é serviço 
público federal, de competência da União (art. 21, XI, CF). 
A entidade regulatória do setor é a ANATEL. As normas estaduais gerariam 
reflexos nos contratos de concessão de telefonia celebrados pela União, na 
regulação feita pela ANATEL, etc. Quem deve falar sobre telefonia para 
proteger o consumidor é a União, não o Estado, por melhor que seja a sua 
intenção. 
 
 
 
44 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
ATIVIDADE REGULATÓRIA 
Dizer que uma agência reguladora exerce atividade regulatória é uma 
redundância. 
Para sabermos o que é atividade regulatória, devemos entendê-la como uma 
ATIVIDADE COMPLEXA. Não é a atividade administrativa clássica / tradicional, 
tal como exercida por órgãos e entidades tradicionais. É uma atividade 
complexa porque envolve 3 atividades dentro do seu conceito: 
(a) Atividades administrativas clássicas, como o exercício do poder de 
polícia (fiscalização). 
 
(b) Atividades normativas, exercidas de maneira ampla. Na prática, a 
agência reguladora tem uma liberdade muito grande para definir o 
conteúdo de uma norma regulatória, o que será permitido ou não no 
setor regulado. Cada lei que criou cada agência reguladora se limitou a 
dizer que ela baixaria normas no setor, sem especificar o conteúdo 
dessas normas. O máximo que a lei diz é fixar parâmetros abertos, 
standards, como “proteção do meio ambiente”, “universalização do 
serviço de telefonia”. São parâmetros objetivos genéricos. Di Pietro diz 
que essa atividade normativa é “quase legislativa”. Não é uma atividade 
legislativa, porque não estamos diante do Poder Legislativo e não se 
trata de uma lei. Mas a agência reguladora tem um poder muito grande 
de definir o conteúdo das suas normas. 
 
(c) Atividade decisória / judicante. Em princípio, as agências reguladoras 
são responsáveis por decisões quanto a conflitos nos setores regulados. 
De regra, essas agências reguladoras decidem conflitos regulatórios, 
como é o caso de o usuário brigar com a concessionária no setor 
regulado. Pela literalidade das leis que as normatizam, essas agências 
reguladoras dariam a palavra final na via administrativa. Pode-se discutir 
a decisão no âmbito judicial porque nenhuma lesão ou ameaça de lesão 
 
 
45 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
pode ser afastada do Judiciário. Mas em princípio a decisão da agência 
seria a palavra final na via administrativa. Não há previsão de recurso 
hierárquico impróprio contra a decisão da agência. Se ela decidiu e o 
administrado não gostou, para a maioria e pela literalidade da lei, o 
administrado não poderia interpor recurso hierárquico impróprio, 
direcionado para o Ministério ou para o PR. A agência reguladora é 
quem daria a palavra final. A decisão pode ser discutida em juízo, mas 
não na via administrativa, segundo a corrente majoritária. 
Pt. 04 
CLASSIFICAÇÕES DE AGÊNCIAS REGULADORAS 
QUANTO AO TIPO DE ATIVIDADE REGULADA 
(a) Agências reguladoras de serviços públicos concedidos - ANEEL, 
ANATEL, ANTT 
(b) Agências reguladoras de atividades econômicas em sentido estrito – 
ANP e ANCINE 
Essa é uma classificação óbvia a partir da origem que vimos anteriormente, de 
criação na déc. 90 em contexto de desestatização. Naquele momento, no PND, 
o Estado devolveu a atividade econômica para o mercado e delegou por 
concessão ou permissão serviços públicos. 
O Estado não poderia parar ali, senão voltaria ao modelo clássico de Estado 
liberal, então foram criadas agências reguladoras para regular tais atividades. 
Elas foram criadas para regular a atividade econômica devolvida e o serviço 
público delegado. Daí os dois tipos de agência reguladora vistos acima. 
Toda classificação é uma redução de complexidade. É tentar transformar tema 
mais complexo num tema mais fácil. Aqui também é complicado, inclusive para 
encaixar agências reguladoras num desses dois tipos. 
A ANATEL, p.e., geraria polêmicas. Em alguns casos não se trata de serviço 
público, tanto que prescinde de concessão ou permissão do Estado. O 
 
 
46 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
particular teria até direito a prestar a atividade. Uma análise da Lei 9472, art. 
131, §2º, mostra autorizações vinculadas. Ora, licença é vinculada e 
autorização é discricionária, ao menos em tese, o que demonstra a 
complexidade da questão. 
 
QUANTO À QUANTIDADE DE SETORES REGULADOS 
 
(1) Agências reguladoras monossetoriais – agências especializadas num 
determinado setor da economia, como é o caso da ANEEL, ANATEL, 
ANP. 
(2) Agências reguladoras plurissetoriais – uma mesma agência reguladora 
regula dois ou mais setores da economia, como é o caso da Agência 
Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande 
do Sul – AGERGS. 
Para a doutrina, o ideal é a criação de agências monossetoriais, que 
garantiriam maior especialização naquele setor. Quanto maior a 
especialização, teoricamente maior a eficiência e a qualidade regulatória. 
 
QUANTO À TITULARIDADE FEDERATIVA 
(a) Agências reguladoras federais – ANEEL, ANATEL, ANP. 
(b) Agências estaduais – AGETRANSP, AGENERSA 
(c) Agências distritais 
(d) Agências municipais 
REGIME JURÍDICO ESPECIAL 
Passa pela autonomia normativa (possibilidade de baixar normas no setor 
regulado), bem como uma autonomia administrativa reforçada e autonomia 
financeira. 
 
 
 
47 
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PODER NORMATIVO 
As agências reguladoras têm um poder normativo ampliado. A lei que cria a 
agência reguladora não define o conteúdo das normas, apenas diz que a 
agência reguladora pode baixar normas. 
Portanto, a agência reguladora ganha muita liberdade para definir o conteúdo 
da norma. 
A lei confere um poder normativo para a agência e coloca limites amplos, 
genéricos e abstratos para que ele seja exercido. São parâmetros / standards 
para que o poder normativo seja exercido de forma regular pela agência 
reguladora. 
Nos EUA,sempre se questionou as normas baixadas pela agência (é um tema 
polêmico em todo lugar). A doutrina trouxe a ideia de que o legislador pode 
fazer dois tipos de delegação legislativa para agências: delegação em detalhes, 
em que a lei já definiria de maneira detalhada o conteúdo e os objetivos da 
norma, deixando pouco espaço de liberdade para a agência; delegation with 
standards (delegação com parâmetros), em que o legislador delega a atividade 
legislativa e dá grande amplitude para a agência definir o conteúdo. O que a lei 
faz é apenas fixar parâmetros, sem estabelecer um conteúdo prévio. 
O professor acha que não existe delegação legislativa propriamente dita, mas 
essa é uma questão técnica e muito formal acerca de nomenclatura. 
Ao ter poder normativo ampliado, na prática quem estabelece efetivamente 
direitos e deveres para o setor regulado é uma norma da agência reguladora. É 
ato administrativo normativo da agência, e não propriamente a lei. 
Quem define o que pode e o que não pode naquele setor é o ato normativo de 
uma agência, não o legislador. 
Muito se discute se esse poder da agência violaria os p. constitucionais da 
legalidade e da separação de poderes. Para muitos, só a lei poderia 
estabelecer direitos e deveres, conforme art. 5º, II, CF. se na prática quem 
 
 
48 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
define direitos e deveres é ato da agência e não a lei, então haveria violação à 
legalidade. 
Aula 04 – 25/11/2016 – pt. 01 
A agência hoje exerce poder normativo muito ampliado por conta de uma 
técnica legislativa: ao invés de a lei detalhar determinado assunto, deixa 
espaço muito grande de conformação para a agência atuar. 
Juridicamente, existe uma polêmica sobre se esse poder normativo é 
compatível com a CF. 
Um primeiro entendimento sustenta que o poder normativo da agência é 
constitucional, não havendo inconstitucionalidade porque esse poder normativo 
teria fundamento de validade na própria lei e também porque a CF, ao 
mencionar a descentralização e a ideia de regulação, partiu da premissa de 
que se descentraliza a atividade para outra pessoa. Quando a lei cria entidade 
administrativa, no caso agência reguladora, existe uma descentralização legal. 
Normalmente, transfere-se para a autarquia aquilo que normalmente o 
legislador faria, inclusive por poder normativo. 
Seria normal haver poder normativo em agência reguladora porque a lei assim 
determinou expressamente, colocando ali limites, embora abertos; e porque 
seria inerente à própria ideia de descentralização e regulação transferir 
atividade de um poder para o outro. É o que alguns chamam de delegação 
legislativa com parâmetros / com standards. 
Naturalmente, dentro da regulação haveria delegação normativa, já que a 
atividade regulatória também envolve uma atividade normativa. O poder 
normativo seria inerente ao papel da agência reguladora, com sua atividade 
regulatória. 
Muitos autores justificam esse poder normativo ampliado da agência 
reguladora pela técnica da DESLEGALIZAÇÃO. 
Outra expressão com mesmo sentido é DELEGIFICAÇÃO. 
 
 
49 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Conceito de deslegalização: deslegalização é a retirada, pelo próprio Poder 
Legislativo, de determinada matéria do domínio da lei, transferindo-a para o 
domínio do ato administrativo. 
 
O próprio legislador opta que a matéria seja veiculada por ato administrativo de 
uma entidade. Para não ser um cheque em branco, essa entidade deve 
respeitar alguns parâmetros a serem impostos pelo próprio legislador. 
Assim, retira-se a politização da matéria e garante-se maior celeridade na sua 
produção. 
Para a 1ª corrente, o poder normativo ampliado da agência não é um problema, 
nem é eivado de inconstitucionalidade, porque está num tema constitucional e 
na esfera da atividade regulatória. O poder normativo não é exclusivo do 
legislador. Nada impede que entidades administrativas o exerçam, como o 
chefe do Poder Executivo exerce poder regulamentar. Outras entidades do 
Executivo poderiam exercer o poder normativo desde que houvesse previsão 
expressa, como ocorre no caso da agência reguladora. 
Nenhuma lei é completamente exaustiva a ponto de não restar espaço ao 
legislador, mas outras leis são menos detalhadas. Nessas técnicas legislativas, 
havendo lei muito detalhada, praticamente não sobra espaço para o executivo 
e falamos em atuação vinculada. Quando o legislador deixa mais espaço, 
havendo espaço para decisões e escolhas, falamos numa atuação 
discricionária. Mas inexiste uma atuação totalmente discricionária (que seria 
arbitrariedade), nem totalmente vinculada (ou poderíamos fechar o Executivo). 
Uma matéria 
é regulada 
pela lei 
Em determinado 
ponto, por opção do 
legislador essa 
matéria passa a ser 
tratada por ato 
administrativo. 
 
 
50 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Diogo de Figueiredo Moreira Neto, José dos Santos Carvalho Filho, Alexandre 
Santos de Aragão e Rafael Oliveira se posicionam na 1ª corrente. 
A segunda corrente sustenta a inconstitucionalidade desse poder normativo 
das agências reguladoras. Elas não poderiam trazer normas com reflexo para 
os particulares em geral. O poder normativo da agência seria inconstitucional 
por violação ao p. da legalidade e ao p. da separação de poderes. 
Só a lei formalmente falando (ato do legislador) é que poderia criar direitos e 
deveres. É a visão tradicional de que o ato infralegal não cria nada, apenas 
executa o que a lei já disse. 
Se a agência reguladora está criando algo que a lei não criou, seria um poder 
normativo autônomo, eivado de inconstitucionalidade. No máximo, a agência 
reguladora poderia regulamentar a lei, mas não criar algo que não goza de 
previsão legal. 
Ao baixar norma própria, a agência, que se insere no Poder Executivo, estaria 
violando separação de poderes, já que o poder de legislar é colocado para o 
legislativo e não para o Executivo, salvo medida provisória e lei delegada (arts. 
62 e 68 CF). Fora essas exceções, é o Legislativo que cria a norma, o 
Executivo só executa. 
Defendem esta corrente Celso Antônio Bandeira de Mello, Di Pietro, Marçal 
Justen Filho, dentre outros. 
Di Pietro abre exceção para as agências com fundamento constitucional 
específico, como é o caso da ANATEL e ANP. Essas duas poderiam baixar 
normas, graças ao seu fundamento constitucional. Elas foram pedidas pela 
própria CF, então teriam poder normativo. Ela menciona ainda que se a norma 
da agência for elaborada pela agência a partir da participação dos 
destinatários, via consulta ou audiência públicas, a norma teria legitimidade 
suficiente para se impor para esses destinatários. Afinal, eles próprios 
participaram da elaboração da norma. 
 
 
51 
ADMINISTRATIVO ESPECIAL | Rafael Oliveira 
Fora isso, Di Pietro concorda com a 2ª corrente, entendendo o poder normativo 
da agência reguladora como inconstitucional. 
Suponhamos que uma Lei X estabeleça um limite de poluição para os ônibus 
que fazem transporte público de passageiros em determinado território, na 
tentativa de proteger o meio ambiente. Tempos depois, uma Lei Y cria uma 
agência reguladora (normas de competência – apenas criam órgãos e 
entidades, definindo competências), a Agência Reguladora Y, a fim de regular 
transporte público de passageiros. 
A Lei Y diz que a Agência Reguladora Y terá poderes normativos, desde que 
respeite alguns parâmetros abertos. A Agência Reguladora Y edita uma 
resolução pela qual o limite é ainda mais rigoroso, sendo menos tolerável a 
emissão de poluentes. 
Se a Lei X falava em 150 como limite e a Resolução da Agência Reguladora Y 
fala em

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